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INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE MINAS GERAIS

GUIA DE BENS TOMBADOS IEPHA/MG 07


PEDRO LEOPOLDO

Quinta do Sumidouro

Acervo IEPHA-MG

Acervo IEPHA-MG
Fig. 1 e 2 – Capela de Nossa Senhora do Rosário e Casa Fernão Dias

O tombamento do conjunto histórico da Quinta do Sumidouro foi realizado por meio do Decreto Estadual nº. 17.729, de 27 de janeiro de 1976 e
é constituído pela Capela de Nossa Senhora do Rosário e pela casa e sítio denominados Quinta do Sumidouro, localizado no Distrito de Fidalgo,
município de Pedro Leopoldo – Minas Gerais. O Decreto determinou ainda a inscrição da Capela no Livro de Tombo nº. II, do Tombo de Belas Artes
e de todo o conjunto formado pela Capela, a casa e o terreno da Quinta do Sumidouro no Livro de Tombo nº. III, do Tombo Histórico, das obras de
Arte Históricas e dos Documentos Paleográficos ou Bibliográficos.

O
conjunto histórico da Quinta1 do Sumidouro possui especial relevância, pois se insere na rota dos primeiros movimentos de
exploração dos sertões do sudeste brasileiro ainda no século XVII. Os caminhos e pousos estabelecidos nesse processo, conjugado
com a exploração das minas recentemente encontradas, permitiram, nos anos seguintes, que o colonizador estabelecesse formas
de vida e de convívio social2, inclusive com os nativos, configurando o que mais tarde iria se denominar como as Minas Gerais.
Além disso, o local é importante, pois é apontado pela historiografia como de possível fundação pelo bandeirante Fernão Dias
Paes. Os trabalhos do historiador Diogo de Vasconcelos, informam que Fernão Dias Paes, partindo de São Paulo, entre 1673 e 1674,
com o intuito de procurar as minas de ouro e diamantes, veio a aportar na região, onde fundou o arraial do Sumidouro, motivado
principalmente pela fertilidade do solo. Ainda segundo os relatos historiográficos, diante das grandes dificuldades dos caminhos e
carência de recursos, Fernão Dias fixou parte da expedição no local denominado “Anhanhonhacanhuva”, que em Tupi significa: água
parada que some no buraco. Foi nesse local onde se construiu o arraial de São João do Sumidouro.
A localidade de Sumidouro permaneceu como um pacato arraial durante muitos anos e, em 1923, com a criação do município
de Pedro Leopoldo, o povoado foi elevado à condição de distrito, com a denominação de Fidalgo. Em 1938, retomou a sua antiga
toponímia de Sumidouro e, por fim, em 1943, voltou a ser chamado Fidalgo.

1
Grosso modo, Quinta é a denominação de uma casa no campo. Segundo o Raphael Bluteau, Quinta é a Casa, ou a fazenda de lavoura no campo com sua casaria. Chamou-se assim, porque de ordinário o
que arrenda a Quinta, dá ao dono dela a quinta parte do que colhe de frutos. O Vocabulário Portuguez & Latino organizado por Bluteau no primeiro quartel do século XVIII é referência nas pesquisas sobre o
vocabulário português e torna-se particularmente importante, pois traz uma interpretação coeva, portanto mais próxima, dos diversos termos pesquisados. Ver BLUTEAU, Raphael. Vocabulário Portuguez &
Latino, áulico, anatômico, architectonico. Coimbra, 1712 – 1728. 8 v.
2
Sobre os caminhos e pousos estabelecidos no Brasil durante o período colonial conferir, entre outros, Formas Provisórias de Existência In.: SOUZA, Laura de Mello E. (Org.). História da vida privada no Brasil:
cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. 523 p.
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O conjunto histórico tombado é constituído pela Capela de Nossa Senhora do Rosário e pela Casa e Sítio da Quinta
do Sumidouro. Ambos os edifícios são datados de período bem posterior à estada do bandeirante Fernão Dias no local, como indica
o parecer do relator Ivo Porto de Menezes referente à casa, realizado durante o processo de tombamento, em 1976:

“A comodulação e a modernatura da Casa indicam tratar-se de construção provavelmente de meados a fim do século XVIII.
As paredes de vedação em adobe indicam mesmo construção posterior, podendo, no entanto, tratar-se de reconstrução.
Trata-se ao que tudo indica, de construção bem posterior à estada do bandeirante paulista” 3.

A Casa da Quinta do Sumidouro trata-se de uma construção em estrutura autônoma de madeira com vedação em adobe e pau-
a-pique, aduelas de marcos, verga curva de centro rebaixado. O telhado em capa de cangalha telha vã curva, possui galbo do contrafeito,
normal em Minas Gerais, beirada encachorrada, com cachorros de perfil peito de pomba. Possui cinco vãos na fachada principal, sendo três
janelas e duas portas, uma destas de maior luz. As janelas têm vedação de calha. O entorno constitui-se do Sítio e por mais 8 moradias; existe
também uma ampla área verde (jardim) a, aproximadamente, 60 metros da casa. Além disto, a construção está inserida em um cruzamento
entre ruas asfaltadas. A Casa da Quinta do Sumidouro passou por várias intervenções ao longo dos anos e atualmente abriga um museu.

A Bandeira de Fernão Dias Paes


A historiografia aponta o bandeirante Fernão Dias Paes (1608 – supostamente 1681) como o primeiro desbravador de origem
européia das terras onde hoje se encontra o Estado de Minas Gerais. À procura de honras e mercês, o bandeirante, que já havia
participado de outras explorações de preamento de índios ao sul de São Paulo, partiu, em 1674, no sentido norte em busca da
famosa “Serra Resplandecente”, local mítico que estaria repleto de esmeraldas. Entre outros desbravadores, acompanharam
Fernão Dias na empreitada seus filhos e seu genro Manuel Borba Gato. A bandeira durou 7 anos e percorreu vastas áreas do sertão,
das cabeceiras do Rio das Velhas, a região do Serro Frio. Por onde andavam erguiam pousos que, posteriormente, tornaram-se
arraiais. Afora o caráter mítico que cerca a vida de Fernão Dias, sua bandeira foi importante, pois estabeleceu uma das primeiras
rotas de colonizadores em um sertão dominado por populações indígenas. Marcou também o imaginário de muitas gerações de
portugueses que migraram para Minas Gerais na expectativa de se enriquecer rapidamente.
Segundo a historiografia, Fernão Dias morreu acreditando ter descoberto as esmeraldas, todavia descobrira apenas turmalinas,
pedras verdes como as esmeraldas, mas sem grande valor na época.
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Fig. 3 – Capela de Nossa Senhora do Rosário, década de 1970 Fig. 4 – Vista atual da Capela

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INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE MINAS GERAIS – IEPHA/MG. Processo de tombamento do Conjunto Histórico constituído da Capela de Nossa Senhora do Rosário e Sítio denominado
Quinta do Sumidouro com a edificação nele existente, Pedro Leopoldo/Fidalgo, MG. Belo Horizonte: IEPHA/MG, 1976.

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Fig. 4 - Casa Fernão Dias

Já a Capela de Nossa Senhora do Rosário dista da Casa cerca de 500 metros e inclui-se na relação das primeiras capelas mineiras. É provável
que tenha origem em meados do século XVIII, por volta de 1750. A data fundida no sino da capela indica o ano de 1786. Assim como, na Casa da
Quinta, não se trata da capela original erigida na época do bandeirante Fernão Dias Paes. Situada em adro murado, com cemitério na lateral direita,
o partido segue os padrões das primeiras capelas mineiras com nave, capela-mor e sacristia lateral, apresenta estrutura autônoma em madeira
com paredes de vedações em tijolo de barro (adobe). As fachadas mostram alterações, porém seus elementos são ainda originais.
O interior está alterado por materiais contemporâneos.

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O forro da capela-mor em abóbada facetada, possui pintura
decorativa em elementos fitomorfos, ao gosto rococó. O
forro está fixado de forma invertida por cima da tesoura do
telhado, suportada por caibros externos ao painel decorado.
Na capela destaca-se o retábulo-mor decorado com ornatos
que remetem à 2ª fase do barroco mineiro, estilo Dom João V,
que se caracteriza pelo coroamento com dossel e anjos, tarjas,
nichos cortinados e colunas com base com cabeças de anjos
entre nuvens ao gosto setecentista.
No arco-cruzeiro está fixada uma tarja em madeira,
ornada com uma coroa fechada dourada, um dos símbolos de
Nossa Senhora do Rosário. As balaustradas do cancelo e do gradil
do coro são em madeira recortadas. A imaginária da capela é
constituída de peças em madeira bem acabadas com destaque
para Nossa Senhora dos Martírios, São Benedito, São João Batista,
Divino Espírito Santo. Existem também imagens em roca de
Nosso Senhor dos Passos, Nossa Senhora e da padroeira Nossa
Senhora do Rosário - que está desaparecida4.
A capela é ponto de referência religiosa e histórica para a
população local e os devotos todos os anos realizam uma grande
festa em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, santa de
devoção. Nos anos seguintes a capela sofreu várias intervenções,
mas sua essência permaneceu intacta.

Fig. 5 - Retábulo-mor da capela

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Em 1981 a capela de Nossa Senhora do Rosário teve sete peças furtadas do seu acervo, dentre elas a padroeira. A imagem de Nossa Senhora dos Martírios, também roubada em 1981, foi restituída ao acervo
da capela, em grande festa organizada pela comunidade, em maio de 2004.

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Fig. 6 - Sino da Capela de Nossa Senhora Fig. 7 - Detalhe da pintura da pomba do Fig. 8 - Imagem de Nossa Fig. 9 - Vista parcial dos fundos da casa da
do Rosário, fundição em 1786 Espírito Santo no interior da capela Senhora dos Martírios Quinta do Sumidouro

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Fig. 10 - Visita histórica de Comissão do IHGMG à casa Fernão Dias na Quinta do Sumidouro em 19-05-19735

Autoria: Ailton Batista da Silva


Fernando Roberto de Castro Veado
Luis Gustavo Molinari Mundim
Junho, 2011

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS:

SOUZA, Laura de Mello E. (Org.). História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia
das Letras, 1997. 523 p.

5
O Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG) enviou correspondência ao governador do estado de MG em 04-06-1973 solicitando o tombamento e outras providências para o conjunto da Quinta do
Sumidouro para “condignas comemorações do tricentenário da bandeira de Fernão Dias Pais, no próximo ano”. (Processo de Tombamento, P. 23)

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