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EXMO(A). SR(A). JUIZ(A).

DA 66ª VARA DO TRABALHO DO RIO DE JANEIRO - RJ

Processo: 0100280-54.2022.5.01.0066

Reclamante: Taiane Simões Marciano


Reclamado: Associação Brasileira de Defesa do Consumidor e Trabalhador - Abradecont
Reclamado: União Federal (AGU)

LAUDO PERICIAL

Renato D’Angello Gonçalves dos Santos, registro CREA - RJ 2017112709 e


endereço eletrônico ajar_hamidbar@poli.ufrj.br, apresenta-se como profissional
devidamente qualificado como Engenheiro de Segurança do Trabalho, como perito do
juízo nos autos do processo.
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SUMÁRIO

1. Introdução 2
1.1. Objeto da perícia 2
1.2. Metodologia e organização do trabalho 2

2. Diligência pericial 2
2.1. Data, hora, local 2
2.2. Participantes 2
2.3. Como transcorreu a diligência 3

3. Análise pericial 3
3.1. A função da reclamante e o ambiente laboral 3
3.2. Análise dos parâmetros laborais 6
3.3. Fundamentação científica e legal 7

4. Conclusão 8

Anexos 9
ANEXO A - Quesitos da parte reclamante e respostas 9
ANEXO B - Quesitos da 1ª reclamada e respostas 9
ANEXO C - Quesitos da 2ª reclamada e respostas 10
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1. Introdução

1.1. Objeto da perícia

Conforme petição inicial do processo, a reclamante alega ter trabalhado em ambiente


insalubre, exposta a agentes biológicos. Logo, o objeto desta perícia é a avaliação pericial, no
ambiente de trabalho, da insalubridade.

1.2. Metodologia e organização do trabalho

As fontes de dados para a análise pericial são: diligência no ambiente laboral da


reclamada - observação do ambiente e registro com fotos; análise dos documentos
acostados aos autos do processo; e os relatos dos participantes da diligência.
Os dados foram analisados e comparados com a legislação cabível e a literatura
científica vigente, formando uma análise qualitativa do objeto da perícia.

2. Diligência pericial

2.1. Data, hora, local

A diligência ocorreu no dia 28 de março de 2023, no Instituto Nacional do Câncer,


Unidade HC - II, Rua Equador 831 - Santo Cristo - Rio de Janeiro - RJ

2.2. Participantes

Este perito foi acompanhado pela reclamante e pelos representantes da parte


reclamada, listados na Tabela 2.2:

Tabela 2.2: representantes da parte reclamada presentes na diligência.

Nome Identificação Função na empresa

Izabel Christina Carvalho Pereira CPF 02153889766 Auxiliar Administrativa*

Antônio José da Silva Neto CPF 11344939709 Analista em Ciência e Tecnologia

* Foi preposta do contrato na época em que a reclamante trabalhou para a empresa.


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2.3. Como transcorreu a diligência

A diligência foi realizada graças a uma remarcação da data. Na primeira vez, a


representante jurídica do Hospital do Câncer (HC), a Advocacia Geral da União - AGU,
alegou que não foi avisada da diligência no tempo devido (documento ID. d704f09 - União) e
solicitou uma nova data.
Um novo dia foi então comunicado no processo por este perito em 8 de fevereiro de
2023 (ID. 955b791 - Indicação de Data de Realização de Diligência Perícia) para o dia 28 de
março, e o presente Tribunal intimou as partes no dia 13 de fevereiro (ID. 9d15be5 -
Intimação), ou seja, com mais de um mês de antecedência.
Ainda assim, no dia da diligência, a reclamante, a representante da primeira reclamada
e este perito, esperaram o representante do HC receber instruções de como proceder para
acompanhar a perícia. O representante ainda pediu a este perito que enviasse a intimação por
mensagem e o pedido foi prontamente atendido.
A perícia então, que estava marcada para 14h, começou somente às 15h15.
As duas partes divergiram bastante em seus relatos. A reclamante foi refutada em
vários pontos apresentados.

3. Análise pericial

3.1. A função da reclamante e o ambiente laboral

Os dados sobre a função e atividades da reclamante foram extraídos dos seguintes


documentos:

ID. 2b4da94 - Atestado de Saúde Ocupacional - ASO;


ID. cb72bab - Termo de Rescisão do Contrato de Trabalho - TRCT;
ID. b283ea1 - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA;
ID. a9ccc58 - Laudo Técnico das Condições Ambientais de Trabalho - LTCAT:

Função: Recepcionista
Período: 23/02/2017 a 07/07/2021 (afastamento)

Segundo relatos da reclamante, ela trabalhou em todos os setores listados nos


documentos PPRA e LTCAT referentes ao cargo de recepcionista, com exceção do setor
“Recepção Arquivo Médico (Térreo)”. São ao todo 18 setores, mas apenas 4 deles são
pertinentes à perícia:
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1 - Setor: Recepção UPA (Térreo)

Atividades: Recepcionam pacientes, acompanhantes e visitantes em geral.


Prestam atendimento telefônico.
Localização e movimentação de prontuários.
Observam normas internas de segurança.

2 - Setor: Recepção Posto Oncologia (Térreo)

Atividades: Recepcionam pacientes, acompanhantes e visitantes em geral.


Prestam atendimento telefônico.
Localização e movimentação de prontuários.
Marcação de consulta extra.
Observam normas internas de segurança.

3 - Setor: Recepção Posto Ginecologia (Térreo)

Atividades: Recepcionam pacientes, acompanhantes e visitantes em geral.


Prestam atendimento telefônico.
Marcação de consulta, exame e marcação extra.
Observam normas internas de segurança.

4 - Setor: Recepção Ambulatório TOC (1º andar - anexo)

Atividades: Recepcionam pacientes, acompanhantes e visitantes em geral.


Prestam atendimento telefônico.
Entrega de número para exame d sangue.
Efetivação de consultas Pré-RXT.
Declaração e liberação de óbito.
Encaminham os pacientes para internação.
Localização de maqueiros para atendimento de deter- minado setor.
Observam normas internas de segurança.

Ainda segundo os relatos da reclamante, ela fazia a recepção da equipe de maqueiros


responsável pela entrega de pacientes pós-óbito, para encaminhar o corpo até a morga
(necrotério). E ainda, que entrava na morga para verificar dados do corpo. A reclamada não
reconhece essa atividade.
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As figuras abaixo ilustram a área do corredor da morga, onde era feita a recepção, a
área interna da morga, e um pedaço da ficha de liberação de corpo, cujo número precisava ser
verificado de dentro da morga, segundo a reclamante.
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3.2. Análise dos parâmetros laborais

Sobre os relatos na diligência pericial, resume-se os pontos importantes:

reclamante alega que fazia a recepção para a morga entre 2 e 3 vezes por
semana e que passava 40 minutos dentro da morga;
reclamada alega que a reclamante não entrava na morga, pois ela teria
recebido treinamento adequado com instruções específicas, além de não ver a
necessidade desse acesso, pois a recepção era feita no corredor e a reclamante
esperava na porta da morga. E, mesmo que entrasse, não faria sentido
permanecer dentro da morga por 40 minutos. A reclamante não reconhece o
treinamento;
reclamante alega que cobria faltas sempre que precisavam;
reclamada alega que a rotatividade entre setores era padrão;
reclamante alega ainda que fazia parte da “mesa redonda”, onde profissionais
como médicos e enfermeiros. A reclamada também não reconhece essa
atividade.

Para além dos relatos conflitantes, este laudo apresenta a análise de documentos
apresentados pela reclamada.
Os ASOs apresentam resultados - válidos por 12 meses - que são corroborativos ou
não com exposição a agentes biológicos, dependendo do período do exame.
Os PPRAs apresentam os 4 setores - mostrados no item 3.1 do laudo - em que foi
atestada a exposição aos agentes biológicos, com suas respectivas fontes geradoras: pacientes,
funcionários, visitantes e material.
Os LTCATs confirmam as informações dos PPRAs e acrescentam a conclusão de que
“...os funcionários da empresa ASSOCIACAO BRASILEIRA DE DEFESA DO
CONSUMIDOR E TRABALHADOR – ABRADECONT., que ocupam o cargo de
RECEPCIONISTA, destes setores [...] FAZEM JUS ao benefício de INSALUBRIDADE DE
GRAU MÉDIO (20%)”.
O que se constata nas informações dos documentos é que a atividade da reclamante
inclui contato com pessoas e materiais que podem ser fontes de agentes insalubres: além dos
pacientes e visitantes, existem os funcionários, como os maqueiros, que tem contato direto
também com pacientes, e os materiais, como os prontuários médicos.
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3.3. Fundamentação científica e legal

Como mostrado nos autos do processo, o ponto controverso é a insalubridade por


agentes biológicos. O texto da NR 15 - Anexo 14 não determina limites de tolerância para
análise de caracterização de insalubridade por agentes biológicos, tem-se o item 9.6.1.1 da NR
9, que determina a seguinte diretriz, destacada abaixo:

“Na ausência de limites de tolerância previstos na NR-15 e seus anexos,


devem ser utilizados como referência para a adoção de medidas de prevenção aqueles
previstos pela American Conference of Governmental Industrial Higyenists* -
ACGIH.”

As medidas preventivas previstas pela ACGIH, em seu documento oficial sobre


limites de tolerância, são um guia para orientar quem tem a finalidade de estabelecer medidas
de controle de risco à saúde. O texto oficial é protegido por direitos e sua reprodução não
pode ser feita, conforme consta em sua política de uso. Também não é usada aqui com o
objetivo de caracterizar ou não a insalubridade, mas sim, para reforçar o entendimento da
mentalidade preventiva que fundamenta uma gestão de saúde e segurança do trabalho
adotada pela comunidade científica atual dos profissionais de áreas ligadas à higiene
ocupacional.
Para tal finalidade, basta atentar para algumas ideias extraídas do documento da
ACGIH:

a) o ser humano está repetidamente exposto a contaminantes de origem


biológica;
b) não há valores estabelecidos de limites de tolerância para microorganismos
(por exemplo, bactérias e fungos) em condições ambiente, pois um conjunto
de microorganismos é frequentemente um conjunto heterogêneo, ou seja,
formado por diferentes espécies, onde cada grupo teria associado a si um valor
diferente para limites de tolerância;
c) pessoas diferentes tem diferentes respostas aos agentes biológicos, o'que
exigiria um estabelecimento de um limite de exposição específico para cada
pessoa, por cada agente;
d) avaliação de diferentes agentes requer diferentes métodos. As informações
atuais disponíveis são insuficientes para o estabelecimento da relação
exposição - resposta;
e) não há menção sobre a utilização de EPI para neutralizar exposição a agentes
biológicos.
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Neste momento, cabe lembrar o texto do Anexo 14, AGENTES BIOLÓGICOS, da


Norma Regulamentadora 15:


Relação das atividades que envolvem agentes biológicos, cuja insalubridade é
caracterizada pela avaliação qualitativa.

Insalubridade de grau médio

Trabalhos e operações em contato permanente com pacientes, animais ou com material


infecto-contagiante, em:
- hospitais, serviços de emergência, enfermarias, ambulatórios, postos de vacinação e outros
estabelecimentos destinados aos cuidados da saúde humana (aplica-se unicamente ao pessoal
que tenha contato com os pacientes, bem como aos que manuseiam objetos de uso desses
pacientes, não previamente esterilizados);

Importante observar que o texto diz que a caracterização da insalubridade por agentes
biológicos é feita por avaliação qualitativa. Logo, não se utiliza medição e comparação com
limites de tolerância.

4. Conclusão

Com esses dados, conclui-se: caracterizada a insalubridade por agentes biológicos.


Grau de insalubridade: médio. Adicional associado: 20%.

Este perito agradece a oportunidade de auxiliar V. Ex.ª com este trabalho e fica à
disposição para esclarecimentos adicionais que se fizerem necessários.

Nestes Termos,
Pede Deferimento.

Rio de Janeiro, 14 de maio de 2023.


RENATO D`ANGELLO GONÇALVES DOS SANTOS
Perito do Juízo
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Anexos

ANEXO A - Quesitos da parte reclamante e respostas

1) Queira o Dr. Perito informar as atividades exercidas pelo Reclamante? Descreva


detalhadamente.
- ver laudo item 3.1

2) Queira o Dr. Perito informar qual o local de trabalho do reclamante? Descreva


detalhadamente.
- ver laudo item 3.1.

3) Queira o Dr. Perito informar se a reclamada forneceu EPI’s no exercício da função?


Quais?
- Quesito prejudicado. Não há fichas de EPI acostadas ao processo.

4) O uso dos equipamentos neutralizava a insalubridade no exercício da função?


- Não.

5) Queira o Dr. Perito informar qual seria o percentual de insalubridade aplicável ao caso
concreto?
- 20%.

6) Caso o Sr. Perito tiver outras considerações técnicas a explanar, serão bem-vinda para
a presente contenda.
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ANEXO B - Quesitos da 1ª reclamada e respostas

1) Incontroverso que a prestação de serviços se dava nas dependências do INCA, queira o


perito informar em qual (ais) setor (es)/unidade (s) a Rte. esteve lotada, e em qual (ais)
períodos?
- ver laudo item 3.1.

2) Quais atividades eram desempenhadas pela Rte em cada uma desses unidades?
- ver laudo item 3.1.
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3) O serviço desempenhado pela Rte. em seu(s) setor(es) de trabalho apresentam


substâncias, agentes físicos, químicos e biológicos no ambiente de trabalho?
- ver laudo item 3.2.

4) Em caso de resposta afirmativa ao quesito supra, informe qual o agente ou agentes


considerados insalubres que envolvem a atividade e o ambiente?
- Agentes biológicos.

5) Estava a Reclamante exposta aos agentes supramencionados e se estavam acima dos


limites de tolerância?
- Análise qualitativa. Não há comparação com limites de tolerância.

6) O I. Perito pode descrever o ambiente (setor (es) de Trabalho) da Rte., quanto a


temperatura, iluminação, ergonomia e arejamento?
- Ver LTCATs.

7) Se dentre as atividades desenvolvidas pela Rte., pode o I. Perito informar se a mesma


tinha contato permanente com algum tipo de material infectocontagioso?
- ver laudo item 3.2.

8) Existe algum risco nas funções da Rte. que possa expô-la a agentes insalubres?
- ver laudo item 3.2.

9) Se positivo, qual tipo de material?


- ver laudo item 3.2.

ANEXO C - Quesitos da 2ª reclamada e respostas

1. Queira o ilustre Perito descrever as tarefas executadas habitualmente pela parte reclamante
em seu local de trabalho;
- ver laudo item 3.1.

1. Queira o ilustre Perito descrever o local de trabalho habitual da parte reclamante;


- ver laudo item 3.1.

1. Queira o Ilustre Perito descrever minuciosamente os eventuais agentes causadores de


insalubridade e a respectiva localização, bem como o raio de atuação do agente causador;
- ver laudo item 3.2.
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1. Queira o Ilustre Perito esclarecer se, durante as suas funções, a parte reclamante era exposta
de forma significativa e permanente a estes agentes insalubres? Caso positivo, queira descrever
em que consistia essa exposição e por quanto tempo ocorria, especificamente?
- ver laudo item 3.2.

1. Queira o Ilustre Perito informar se havia utilização de EPIs que atenuassem ou mesmo
neutralizassem eventuais agentes nocivos?
- Quesito prejudicado. Não foram acostadas fichas de EPI no processo.

1. Preste o ilustre Perito quaisquer outras informações que considerar úteis à elucidação da
demanda.
-

Fim dos Anexos.

Rio de Janeiro, 14 de maio de 2023.


RENATO D`ANGELLO GONÇALVES DOS SANTOS
Perito do Juízo

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