Você está na página 1de 8

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 24ª REGIÃO

PROCESSO Nº 0000916-45.2011.5.24.0005-RO.1

A C Ó R D Ã O
2ª Turma

Relator : Des. RICARDO GERALDO MONTEIRO ZANDONA


Revisor : Des. NICANOR DE ARAÚJO LIMA
Recorrente : EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA
- EMBRAPA
Advogados : Everson Wolff Silva e outros
Recorridos : LUIS CARLOS GAUNA GOMES E OUTROS
Advogados : Jacques Cardoso da Cruz e outros
Origem : 5ª Vara do Trabalho de Campo Grande/MS

EMBRAPA. TRABALHO RURAL. ATIVIDADE EM CAMPOS.


APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS. ADICIONAL DE
INSALUBRIDADE. ATIVIDADE INTERMITENTE.
Constatado pela perícia o exercício de
atividade insalubre pelo contato com
agrotóxicos e agentes não ionizantes, ainda
que de forma intermitente, é devido o
adicional de insalubridade. Recurso não
provido. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. AGENTE
QUÍMICO. CRITÉRIO PARA AFERIÇÃO. AVALIAÇÃO
QUALITATIVA. Em relação ao tempo de
exposição, deve-se considerar que, de acordo
com o anexo 13 da NR-15, a insalubridade
decorrente dos agentes químicos é comprovada
pela inspeção realizada pelo perito no local
de trabalho, não tendo o Ministério do
Trabalho e Emprego fixado limites de
tolerância para os agentes agressivos.
Portanto, a avaliação é qualitativa e não
quantitativa. Recurso não provido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos


(PROC. Nº 0000916-45.2011.5.24.0005-RO.1) em que são partes
LUIS CARLOS GAUNA GOMES, RAFAEL LOBO SABER GUIMARÃES e
PAULINO GAUNA GOMES (reclamantes) e EMPRESA BRASILEIRA DE
PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA (reclamada).
Trata-se de recurso ordinário interposto pela
reclamada em face da r. sentença de f. 414-417, integrada
pela decisão em embargos de declaração de f. 423, proferidas
pela Juíza do Trabalho Substituta Keethlen Fontes Maranhão,

1
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 24ª REGIÃO

PROCESSO Nº 0000916-45.2011.5.24.0005-RO.1

que julgou procedentes em parte os pedidos formulados na


petição inicial.
A reclamada, às f. 424-433, pretende a
reforma da sentença visando eximir-se da condenação que lhe
foi imposta.
Custas processuais e depósito recursal às f.
434 e 435, respectivamente.
Os reclamantes não apresentaram contrarrazões
(certidão de f. 436-verso).
Parecer ministerial dispensado nos termos do
art. 80 do Regimento Interno deste Tribunal.
É o relatório.

V O T O

1 – CONHECIMENTO

Analisados e satisfeitos os pressupostos


legais de admissibilidade: cabimento ou adequação,
legitimação para recorrer, interesse em recorrer,
inexistência de causa impeditiva ou extintiva do poder de
recorrer, tempestividade, regularidade de forma, depósito
garantidor e pagamento de custas.
O recurso está apto ao conhecimento.

2 - MÉRITO

2.1 - NULIDADE DA SENTENÇA – NULIDADE DO


LAUDO PERICIAL

A reclamada afirma que a decisão é nula


porque se baseou em prova pericial nula e porque obrigou a

2
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 24ª REGIÃO

PROCESSO Nº 0000916-45.2011.5.24.0005-RO.1

recorrente a pagar adicional de insalubridade sem que tenha


sido realizada avaliação quantitativa dos agentes insalubres.
O juiz de primeiro grau acolheu a pretensão
de recebimento de adicional de insalubridade, adotando como
fundamento a conclusão expressa no laudo pericial no sentido
de que os reclamantes se ativavam em ambiente insalubre.
Logo, concluiu-se que a decisão está
fundamentada em elementos de prova adunados aos autos,
atendendo ao disposto no art. 93, IX, da Constituição
Federal.
Por essa razão, não há nulidade a ser
pronunciada.
Por outro lado, a existência de vícios no
laudo pericial é matéria de mérito e, se acolhida a alegação
da reclamada, não acarreta a nulidade da decisão, mas tão
somente sua adequação.
Nega-se provimento.

2.2 – ADICIONAL DE INSALUBRIDADE E REFLEXOS

A reclamada foi condenada ao pagamento de


adicional de insalubridade em grau médio com reflexos em
férias acrescidas de 1/3, 13º salários e FGTS.
Inconformada, a recorrente sustenta que os
laudos [referindo-se ao laudo e sua complementação] apresentam
vícios: ausência de avaliação quantitativa, erro no
detalhamento das atividades dos reclamantes, na indicação dos
supervisores presentes durante a perícia e na resposta aos
quesitos e pedidos de esclarecimentos. Assevera que todos os
EPI’s apresentam certificado de aprovação e a exposição era
intermitente.
Os reclamantes alegaram na inicial que no
exercício da função de Assistente A – Técnico Agrícola
3
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 24ª REGIÃO

PROCESSO Nº 0000916-45.2011.5.24.0005-RO.1

estavam expostos a agentes insalubres químicos, biológicos e


físicos. Afirmam que receberam adicional de insalubridade até
julho/2006.
A reclamada alegou que a suspensão do
pagamento do adicional é resultante do laudo do engenheiro de
segurança do trabalho de São Paulo no sentido de que o ambiente
e a atividade que nele é desenvolvida não oferece riscos à saúde dos trabalhadores (f.
228).
Para a apuração da insalubridade foi nomeado
o perito Sergio Maia Miranda (f. 372), que marcou data para a
perícia a ser realizada na sede da reclamada (f. 374). As
partes foram intimadas (f. 375-verso).
A reclamada apresentou quesitos às f. 368-
370. Os reclamantes não apresentaram quesitos. A indicação no
laudo de que os reclamantes teriam apresentado 16 quesitos
(f. 377) não invalida o trabalho, sendo considerado erro
material.
Da mesma forma não invalida o trabalho
técnico o fato de haver indicado supervisor da reclamada
diverso do que se encontrava presente, cabendo a este e mesmo
à reclamada informar quem participou dos trabalhos e
solicitar a correção.
O perito informou que, para a realização da
perícia, utilizou-se de equipamento fotográfico, equipamentos
de quantificação de agentes físicos, vistorias e entrevistas
(f. 378).
Descreveu as atribuições dos reclamantes: 1)
coleta de forragem e sementes no campo; 2) coleta de sangue e
fezes e pesagem de ovinos e bovinos; 3) aplicação de
inseticida, herbicidas, cupinicidas e fungicidas; 4)
preparação do solo para plantio, adubação e controle de
pragas (f. 379). Estas atividades foram informadas pelas

4
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 24ª REGIÃO

PROCESSO Nº 0000916-45.2011.5.24.0005-RO.1

partes (reclamantes: f. 06-09; reclamada: f. 233), além de


outras.
O expert informou que a atividade dos
reclamantes era insalubre devido à presença de radiação não
ionizante (de acordo com a NR-15, Anexo 7, da Portaria nº
3214 do MTE, inexistindo aparelho para quantificação –
resposta complementar às f. 403 – item 3.1.) e agentes
químicos, sem a devida proteção e oferecendo riscos à saúde.
Em relação ao tempo de exposição, deve-se
considerar que, de acordo com o anexo 13 da NR-15, a
insalubridade decorrente dos agentes químicos é comprovada
pela inspeção realizada pelo perito no local de trabalho, não
tendo o Ministério do Trabalho e Emprego fixado limites de
tolerância para os agentes agressivos. Portanto a avaliação é
qualitativa e não quantitativa.
Dentre os EPI’s comprovadamente fornecidos
pela reclamada aos reclamantes (f. 353-355) não estão aqueles
indicados pelo perito como capazes de eliminar os agentes
químicos: respirador purificador de ar tipo peça facial
inteira para realização da pulverização, luvas e óculos de
segurança (f. 382). Houve fornecimento de um par de luvas
“voquita” no ano de 2010 e apenas para Rafael Lobo S.
Guimarães no ano de 2011 (f. 355).
Os EPI’s fornecidos pela reclamada foram
analisados pelo perito que concluiu pela sua ineficiência (f.
384 e f. 403 – item 3.6).
Nesse aspecto, é de ressaltar que, nos termos
do art. 191, II, da CLT, a eliminação da insalubridade
ocorrerá com a utilização de equipamentos de proteção individual ao trabalhador, que
diminuam a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância.
Os quesitos da reclamada e os pedidos de
esclarecimentos foram respondidos (f. 385-387 e f. 402-404).

5
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 24ª REGIÃO

PROCESSO Nº 0000916-45.2011.5.24.0005-RO.1

Por outro lado, o contato intermitente com o


agente agressivo não afasta o direito ao adicional de
insalubridade, conforme entendimento jurisprudencial
pacificado através da Súmula nº 47 do TST.
Assim, a perícia realizada nos autos revela
elementos firmes de convicção no sentido de existência de
condições insalubres de trabalho, tanto no labor na
agricultura quanto na pecuária.
Nega-se provimento.

2.3 – HONORÁRIOS PERICIAIS

A reclamada pretende a redução dos honorários


periciais fixados na origem (R$1.500,00), ao fundamento de
que o laudo pericial e seu complemento não atenderam aos
comandos legais e não foi realizada a avaliação quantitativa
dos agentes insalubres. Entende suficiente o valor de
R$750,00. Se anulado o laudo, requer a exclusão da obrigação
de pagar os honorários periciais.
Conforme análise anterior, o laudo pericial e
seu complemento não apresentam os vícios apontados pela
reclamada, sendo a análise quantitativa dos agentes químicos
desnecessária.
No mais, o perito foi nomeado em 10.04.2012
(f. 372) para apresentar o laudo em 20 dias. Notificado em
11.04.2012 (f. 373), marcou a data de 04.05.2012 para a
realização dos trabalhos (f. 374). Entregou o laudo em
07.05.2012 (f. 376), portanto com seis dias de atraso.
O Perito tem o dever de cumprir o ofício no
prazo que lhe assina a lei (art. 146/CPC).
O art. 3º da Lei 5584/70 determina que os
exames periciais serão realizados por perito e no prazo que o
juiz fixar para a entrega do laudo.
6
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 24ª REGIÃO

PROCESSO Nº 0000916-45.2011.5.24.0005-RO.1

O Juiz tem o dever de controle dos prazos


processuais (art. 658/CLT).
O atraso de 6 dias na entrega do laudo não
causou prejuízo à marcha processual. Verifica-se que o
adiamento da audiência de encerramento da instrução antes
marcada para 12.06.2012 (f. 363) ocorreu por remanejamento da
pauta (f. 389).
Reconhecendo o grau de zelo da profissional,
bem como a ausência de maior complexidade da perícia e o
tempo utilizado para sua realização, tudo direcionado à
inspeção do local de trabalho em data e horário previamente
estabelecidos, tem-se que a digna retribuição ao labor
desenvolvido está garantida com a fixação de honorários no
valor de R$1.000,00 (mil reais).
Recurso parcialmente provido.

2.4 – MULTA POR EMBARGOS DE DECLARAÇÃO


PROTELATÓRIOS

A MMª Juíza a quo considerou protelatórios os


embargos de declaração interpostos pela reclamada e a
condenou ao pagamento de multa de 1% sobre o valor da causa,
em favor do embargado.
A reclamada pretende a exclusão da multa.
Para tanto, aduz que não há na CLT previsão da multa aplicada
e, porque a CLT trata da matéria, não se aplica o art. 538,
parágrafo único, do CPC. Alega que as questões apresentadas
em embargos deveriam ter sido esclarecidas.
Não configura litigância de má-fé a
utilização pela parte de medida processual prevista no
ordenamento jurídico para a defesa de seu suposto direito, no
caso, os embargos de declaração.

7
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 24ª REGIÃO

PROCESSO Nº 0000916-45.2011.5.24.0005-RO.1

O acesso à justiça é um direito previsto


constitucionalmente (art. 5º, XXXV), sendo uma de suas
garantias a utilização dos recursos previstos em Lei.
Não se visualiza, assim, o intuito de atrasar
o andamento do feito.
Ante o exposto, o recurso é provido para
excluir da condenação a multa por embargos protelatórios.

POSTO ISSO

ACORDAM os Desembargadores da Egrégia Segunda


Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Vigésima Quarta
Região, por unanimidade, em aprovar o relatório, conhecer do
recurso e, no mérito, dar-lhe parcial provimento para reduzir
os honorários periciais para R$1.000,00 e excluir a multa por
embargos protelatórios, nos termos do voto do Desembargador
Ricardo Geraldo Monteiro Zandona (relator).
Mantém-se o valor da condenação.
Campo Grande, 6 de fevereiro de 2013.

RICARDO GERALDO MONTEIRO ZANDONA


Desembargador do Trabalho
Relator

Você também pode gostar