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Aula 01 - Transtornos Alimentares: definições

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os transtornos alimentares são um conjunto


de doenças psiquiátricas de origem genética, hereditária, psicológicas e/ou sociais,
caracterizados por perturbação persistente na alimentação.

No Brasil, segundo dados da própria OMS, 4,7% da população sofre de transtorno de


compulsão alimentar (TCA). Esse número é quase duas vezes maior que a média mundial, que
gira em torno de 2,6% da população. No país, a incidência maior é em jovens mulheres de 14 a
18 anos.

De acordo com o DSM-5, os transtornos alimentares são caracterizados por uma perturbação
persistente na alimentação ou no comportamento relacionado à alimentação que resulta no
consumo ou na absorção alterada de alimentos e que compromete significativamente a saúde
física ou o funcionamento psicossocial.

Os transtornos alimentares geralmente apresentam as suas primeiras manifestações na


infância e na adolescência.

Primeiramente, ocorrem transtornos precocemente na infância e que representam alterações


da relação da criança com a alimentação. Estas condições parecem não estar associadas a uma
preocupação excessiva com o peso e/ou a forma corporal, mas podem interferir com o
desenvolvimento infantil. O segundo grupo de transtornos tem o seu aparecimento mais
tardio e é constituído pelos transtornos alimentares propriamente ditos: a anorexia nervosa e
a bulimia nervosa.

Os transtornos alimentares descritos no DSM-5 são: a pica, transtorno de ruminação,


transtorno alimentar restritivo/evitativo, anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno de
compulsão alimentar.

A obesidade não está inclusa no DSM-5 como um transtorno mental. A obesidade (excesso de
gordura corporal) resulta do excesso prolongado de ingestão energética em relação ao gasto
energético.

Desta forma podemos entender os transtornos alimentares como doenças que são
caracterizadas por hábitos alimentares irregulares e sofrimento grave ou preocupação com o
peso ou a forma do corpo. Os distúrbios alimentares podem incluir ingestão inadequada ou
excessiva de alimentos, o que pode, em última instância, prejudicar o bem-estar de um
indivíduo. As formas mais comuns de transtornos alimentares incluem Anorexia Nervosa,
Bulimia Nervosa e Transtorno da Compulsão Alimentar e afetam tanto mulheres quanto
homens. Transtornos alimentares podem se desenvolver durante qualquer fase da vida, mas
geralmente aparecem durante a adolescência ou na idade adulta jovem.

Embora essas condições sejam tratáveis, os sintomas e consequências podem ser prejudiciais e
mortais se não forem abordados. Transtornos alimentares comumente coexistem com outras
condições, como transtornos de ansiedade, abuso de substâncias ou depressão.

Além de extremamente graves, estudos mostram que os transtornos alimentares se


manifestam em grande parte da população mundial. Nos Estados Unidos, aproximadamente
30 milhões de pessoas sofrem com algum tipo de transtorno alimentar. Desses 30 milhões,
70% não contam com assistência de um profissional especializado para ajudar a combater a
doença. Podemos fazer um paralelo no mundo e no Brasil. Segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), 5% da população brasileira sofre com esses transtornos – cerca de 10 milhões de
pessoas. As causas podem ser psíquicas, provocadas por fatores socioculturais, fatores
hormonais ou ainda, genéticos. Já se sabe que pode haver um componente genético em
muitos casos de TA, e estudos estão sendo aprofundados nesse sentido.
Aula 02 - O Comportamento Alimentar

O comportamento alimentar é um conjunto de ações relacionadas ao alimento, que envolve


desde a escolha até a ingestão, bem como tudo a que ele se relaciona. Já o hábito alimentar é
a resposta do indivíduo frente ao alimento ficando caracterizado pela repetição desse ato

O comportamento alimentar está relacionado a tudo o que acontece antes de deglutirmos os


alimentos. Isto significa que nossas emoções, nossas memórias, nossa cultura, nossa rotina, o
nosso corpo, o meio em que estamos inseridos e também o ato de comer estão envolvidos, de
forma consciente ou inconsciente, com nossas escolhas alimentares. Sendo assim, o
comportamento alimentar é caracterizado como um ato particular de cada pessoa.

As escolhas alimentares também são fatores que implicam no comportamento alimentar. Elas
são baseadas no quê, no como, com quem, onde, quando e outras condições
que determinam a seleção e o consumo de bebidas e alimentos, como aparência, cheiro, valor
nutricional, fatores psicológicos, socioculturais e socioeconômicos.

O comportamento alimentar reúne algumas dimensões básicas:

 Dimensão fisiológico-nutritiva: Relaciona-se a aspectos metabólicos, endócrinos,


neuroquímicos e neuronais, que regulam os mecanismos de fome e saciedade, a
demanda e a satisfação das necessidades nutricionais.

 Dimensão afetiva e relacional: A fome e a alimentação vinculam-se à satisfação e ao


prazer. O prazer alimentar oral tem, segundo a psicanálise, uma conotação
nitidamente libidinal. No desenvolvimento da criança, a zona bucal e a amamentação
são os mediadores da primeira relação interpessoal fundamental: a relação mãe-bebê.
O alimentar seu filho, para a mãe, é muito mais que uma tarefa fisiológica: tem sentido
afetivo especial, pode exprimir sentimentos e participar da construção de um dos
vínculos humanos mais importantes.

 Dimensão social e cultural: Ao longo da história da humanidade, todas as sociedades e


culturas estabelecem regras, tabus e rituais em relação aos alimentos e aos
comportamentos alimentares. Por exemplo, é muito comum que se prefira fazer
refeições com pessoas e grupos por quem se tem particular afeição. Os mais
importantes momentos da vida pessoal e social são demarcados por encontros nos
quais a alimentação é ponto central, como jantares de formatura, noivado, almoços de
família, de aniversário, cerimônias de casamento e, em muitas sociedades, mesmo os
funerais são marcados por refeições cerimoniais.

A conduta alimentar é motivada pelas sensações básicas de fome, sede e saciedade. Podemos
também nos deparar com outros 3 níveis de comportamento alimentar: fome, vontade
verdadeira e desejo de comer.
Aula 03 - transtornos alimentares descritos no DSM-5

Os transtornos descritos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM)


são:

 A pica,

 Transtorno de ruminação,

 Transtorno alimentar restritivo/evitativo,

 Anorexia nervosa,

 Bulimia nervosa e

 Transtorno de compulsão alimentar

Paulo Dalgalarrondo, em seu livro Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais


descreve as Síndromes relacionadas ao comportamento alimentar, neste assunto o autor
diferencia DSM em alguns aspectos. Os transtornos alimentares descritas pelo autor são:

 Anorexia nervosa (DSM-5 e CID-11)

 Bulimia nervosa (DSM-5 e CID-11)

 Outros transtornos do comportamento alimentar

 Pica (DSM-5 e CID-11)

 Transtorno de ruminação (DSM-5 e CID-11),

 Obesidade (não seja classificada como um transtorno do comportamento


alimentar, será abordada aqui devido a sua frequência e grande importância
para a saúde física e mental.)

Pica

Em latim, pica é o nome de um pássaro muito comum em parte da Europa, um tipo de corvo
de 45 cm que, por ser extremamente voraz, come quase de tudo. Os sujeitos com essa
síndrome apresentam um comportamento parecido: eles ingerem itens que não são
considerados alimentos de verdade, como moedas, terra, argila, carvão, tecido. Além disso,
entram na descrição os casos de quem engole ingredientes sem nenhum preparo, como
farinhas e batatas cruas.
É normal que crianças pequenas levem à boca muitos desses objetos, pois estão explorando o
mundo à sua volta. A situação fica séria quando isso vira um hábito e perdura por três meses
ou mais.

O transtorno, também conhecido pelo nome de alotriofagia ou alotriogeusia, se distingue de


costumes locais: alguns povos originários da África e das Américas experimentavam terra e
outros elementos estranhos ao paladar em rituais e cerimônias religiosas.

Ou seja, Pica é a ingestão persistente de substâncias não nutritivas, inadequadas para o


desenvolvimento infantil e que não fazem parte de uma prática aceita culturalmente. As
substâncias mais frequentemente consumidas são: terra, barro, cabelo, alimentos crus, cinzas
de cigarro e fezes de animais. Atrasos no desenvolvimento, retardo mental e história familiar
de pica são condições que podem estar associadas. Várias complicações clínicas podem
ocorrer, principalmente relacionadas com o sistema digestivo e com intoxicações ocasionais,
dependendo do agente ingerido.

Paulo Dalgalarrondo, conta a história do transtorno denominado “pica”, já descrito por


Hipócrates, 400 anos antes de Cristo (que a descreveu como “ânsia por comer terra devido a
uma alteração sanguínea”), caracteriza-se pela ingestão persistente e regular de substâncias
não alimentares, muitas vezes bizarras, como geofagia (comer argila, terra) ou comer reboco,
giz, gesso, plástico, metal, papel ou, ainda, ingredientes crus dos alimentos (como grande
quantidade de sal ou farinha), durante o período mínimo de um mês.

Para ser considerado no sentido de diagnostico a ingestão de substâncias deve ser


inapropriada para o estágio de desenvolvimento da criança (para o diagnóstico, a criança deve
ter mais de 2 anos) e não faz parte de uma prática culturalmente sancionada e compartilhada
(a geofagia, sobretudo argila, já foi prática cultural em algumas regiões da África). A pica é um
transtorno observado com maior frequência em crianças pequenas, gestantes, lactantes,
pessoas com deficiência intelectual, autismo ou esquizofrenia.
Aula 04 – Transtorno de ruminação

Inclui episódios de regurgitação (ou “remastigação) repetidos que não podem ser explicados
por nenhuma condição médica. As principais complicações médicas podem ser desnutrição,
perda de peso, alterações do equilíbrio hidroeletrolítico, desidratação e morte. O tratamento
envolve o acompanhamento clínico das complicações e tratamento comportamental.

O sujeito regurgita um pouco do que comeu na última refeição e mastiga novamente. Parte
dos portadores cospe o conteúdo, enquanto outra parcela engole uma segunda vez. Esse
processo se repete praticamente todos os dias e não está relacionado a nenhuma outra
condição médica, como o refluxo gastresofágico.

Se comparado com o vômito provocado na bulimia, o volume de alimentos que volta à boca é
pequeno, o que permite disfarçar a ruminação por meio de tosses e outras táticas. Esse
quadro foi descrito em bebês, crianças, adolescentes e até adultos de 20 a 30 anos.

Além da saúde mental, o transtorno traz outras consequências ao organismo: a ida constante
de ácidos estomacais para o esôfago, a garganta e a cavidade bucal provoca úlceras, mau
hálito e cáries. Muitos sofrem uma perda de peso rápida e desenvolvem outros incômodos,
caso de náuseas, constipação ou diarreia.

A característica essencial do transtorno de ruminação é a regurgitação repetida de alimento


depois de ingerido durante um período mínimo de um mês. O alimento previamente deglutido
que já pode estar parcialmente digerido é trazido de volta à boca sem náusea aparente, ânsia
de vômito ou repugnância. O alimento pode ser remastigado e então ejetado da boca ou
novamente deglutido. A regurgitação no transtorno de ruminação deverá ser frequente,
ocorrendo pelo menos várias vezes por semana, em geral todos os dias. O comportamento não
é mais bem explicado por uma condição gastrintestinal ou outra condição médica associada (p.
ex., refluxo gastroesofágico, estenose do piloro)

Dados de prevalência do transtorno de ruminação são inconclusivos, mas o transtorno é


comumente mais relatado em certos grupos, como indivíduos com deficiência intelectual.

A manifestação inicial do transtorno de ruminação pode ocorrer em lactentes, na infância, na


adolescência ou na idade adulta. A idade da manifestação inicial geralmente fica entre 3 e 12
meses. Nos lactentes, o transtorno cede com frequência de forma espontânea, mas seu curso
pode ser prolongado e resultar em emergências médicas (p. ex., desnutrição grave). O
transtorno pode ser potencialmente fatal, sobretudo em lactentes. Pode ter um curso
episódico ou ocorrer continuamente até ser tratado. Nos lactentes, bem como em indivíduos
mais velhos com deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou outros
transtornos do neurodesenvolvimento, o comportamento de regurgitação e ruminação parece
ter uma função calmante e estimulante semelhante à de outros comportamentos motores
repetitivos, como balançar a cabeça ritmicamente.

O diagnóstico do transtorno de ruminação não é fácil. Muitas vezes, o indivíduo consulta-se,


primeiramente, com o clínico geral ou gastroenterologista, para tentar entender do que se
trata o problema. Em geral, só há um posicionamento final em relação ao quadro, quando são
observados também fatores mentais associados a ele. O distúrbio, quando diagnosticado, em
geral, ocorre a pessoas com depressão, com dificuldades cognitivas e em situações de
estresse. A incidência do problema é mais frequente em bebês, adolescentes ou indivíduos
com atraso cognitivo. No entanto, tem ocorrido cada vez mais em adultos saudáveis também.
Aula 05 – Transtorno alimentar restritivo/evitativo

O Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE) é um distúrbio caracterizado por


persistentes perturbações alimentares que levam a um aporte nutricional e energético
insuficientes. Ou seja, O transtorno alimentar restritivo evitativo é um transtorno
alimentar caracterizado pelo fato de que a pessoa come muito pouco e/ou evita comer
determinados alimentos. Na 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-5), houve a inclusão e caracterização do
TARE.

A evitação ou a restrição alimentar em alguns indivíduos podem se basear em características


como a qualidade do alimento, sensibilidade extrema a aparência, cor, odor, textura,
temperatura ou paladar. Esse comportamento foi descrito como “ingestão restritiva”,
“ingestão seletiva”, “ingestão exigente”, “ingestão perseverante”, “recusa crônica de
alimento” e “neofobia alimentar”.

A pessoa com transtorno alimentar restritivo evitativo come muito pouco e/ou evita comer
determinados alimentos. É possível que ela coma tão pouco que acaba perdendo uma
quantidade significativa de peso. Crianças com esse transtorno podem não crescer tanto
quanto esperado.

Indivíduos com sensibilidades sensoriais mais pronunciadas associadas ao autismo podem


exibir comportamentos semelhantes. A evitação ou a restrição alimentar também podem
representar uma resposta negativa condicionada associada à ingestão alimentar.

O TARE não inclui evitação ou restrição do alimento em virtude da indisponibilidade ou de


práticas culturais (p. ex., jejum religioso ou dieta normal) nem comportamentos normais para
o desenvolvimento (p. ex., crianças pequenas exigentes para comer, ingestão reduzida em
adultos mais velhos).

O transtorno alimentar restritivo/evitativo substitui e amplia o diagnóstico do DSM-IV de


transtorno da alimentação da primeira infância. A principal característica diagnóstica do
transtorno alimentar restritivo/evitativo é a esquiva ou a restrição da ingestão alimentar
manifestada por fracasso clinicamente significativo em satisfazer as demandas de nutrição ou
ingestão energética insuficiente, por meio da ingestão oral de alimentos. Um ou mais dos
seguintes aspectos-chave devem estar presentes: perda de peso significativa, deficiência
nutricional significativa (ou impacto relacionado à saúde), dependência de alimentação enteral
ou suplementos nutricionais orais ou interferência marcante no funcionamento psicossocial.
A perda de peso significativa é um julgamento clínico; em vez de perder peso, crianças e
adolescentes que não concluíram o crescimento não mantêm os aumentos de peso e altura
esperados em sua trajetória do desenvolvimento.

O transtorno alimentar restritivo/evitativo manifesta-se mais comumente em crianças do que


em adultos, e pode haver uma grande demora entre a manifestação inicial e a apresentação
clínica. Fatores que desencadeiam a apresentação variam consideravelmente e incluem
dificuldades físicas, sociais e emocionais.

O transtorno alimentar restritivo evitativo costuma começar na infância e, inicialmente, pode


ser semelhante a uma alimentação seletiva, que é comum durante esta fase da vida. Por
exemplo, é possível que a criança se recuse a comer alguns tipos de alimentos ou alimentos
que têm uma determinada cor, consistência ou odor. No entanto, a alimentação seletiva
geralmente diz respeito a apenas alguns alimentos e, ao contrário das crianças com aquele
transtorno, as crianças que apresentam alimentação seletiva têm apetite normal, em geral
comem o suficiente e crescem e se desenvolvem normalmente.

É possível que a pessoa com transtorno alimentar restritivo evitativo não coma, porque ela
perdeu o interesse em comer ou porque acredita que comer tem consequências prejudiciais. É
possível que ela evite determinados alimentos devido à sua cor, consistência ou odor.
Aula 06 – Anorexia nervosa

A anorexia, também chamada de anorexia nervosa, é um transtorno alimentar capaz de afetar


pacientes de ambos os sexos, causado por um desejo excessivo, ilimitado e sem controle de
emagrecer e se manter em um determinado padrão de beleza.

Quando um paciente possui anorexia, ele para de comer e não consegue ver que seu corpo,
aos poucos, está definhando com a falta de nutrição adequada. O indivíduo anoréxico pode
até mesmo deixar de sentir fome por completo.

Na anorexia, as costelas e os ossos das costas começam a ficar aparentes e a pessoa anoréxica
passa a desenvolver doenças e condições complementares, como a alopecia, que é a queda de
cabelo, causada pela falta de nutrientes no corpo.

Mesmo com uma aparência clara de magreza excessiva, esse transtorno alimentar é capaz de
fazer com que o indivíduo anoréxico se veja com sobrepeso e continue na busca pela magreza
ideal. Muitos médicos indicam que a anorexia é, acima de tudo, um distúrbio de imagem
corporal.

Além de não comer, a pessoa que tem anorexia pode acabar exagerando nos exercícios físicos
e no uso de medicamentos laxantes e diuréticos, sempre com a intenção de perder peso.

A anorexia nervosa tem três características essenciais: restrição persistente da ingesta calórica;
medo intenso de ganhar peso ou de engordar ou comportamento persistente que interfere no
ganho de peso; e perturbação na percepção do próprio peso ou da própria forma. O indivíduo
mantém um peso corporal abaixo daquele minimamente normal para idade, gênero, trajetória
do desenvolvimento e saúde física. O peso corporal dessas pessoas com frequência satisfaz
esse critério depois de uma perda ponderal significativa, porém, entre crianças e adolescentes,
pode haver insucesso em obter o ganho de peso esperado ou em manter uma trajetória de
desenvolvimento normal (enquanto cresce em altura) em vez de perda de peso.

Indivíduos com esse transtorno exibem geralmente medo intenso de ganhar peso ou de
engordar. Esse medo intenso de engordar não costuma ser aliviado pela perda de peso. Na
verdade, a preocupação acerca do peso pode aumentar até mesmo se o peso dimimuir.
Indivíduos mais jovens com anorexia nervosa, bem como alguns adultos, podem não
reconhecer ou perceber medo de ganhar peso.

Muitas vezes, a anorexia – ou outros distúrbios alimentares – surge quando se passa por
momentos conturbados, como separação, perda de emprego, perda de um parente, mudança
de cidade. Isso não quer dizer que sejam a causa da anorexia, mas, sim, que são facilitadores
do aparecimento do transtorno.

No início, os sintomas são pouco perceptíveis, pois o anoréxico finge estar se alimentando e
chega a usar roupas largas. Qualquer ganho de peso apavora e gera angústia. Assim como a
anorexia, a bulimia também é um transtorno que leva à obsessão pela magreza. Porém, nesses
casos, ela provoca refluxos. O anoréxico se recusa a comer, mas não por falta de apetite. Já
quem é acometido pela bulimia come, mas procura "se livrar" da comida, vomitando ou
tomando laxantes e diuréticos como uma forma de punição por não conseguir ficar sem
comer.

Quando o distúrbio atinge um estágio mais avançado, a pessoa, mesmo estando muito abaixo
do peso normal, com os ossos à mostra, ainda se acha gorda e quer emagrecer mais. Este tipo
de transtorno costuma estar ligado à depressão e também provoca reações no organismo e
nas funções fisiológicas, como interrupção do ciclo menstrual.

A anorexia nervosa apresenta a maior taxa de mortalidade ao ano, dentro de todos os


transtornos psiquiátricos. As causas destes óbitos vão desde inanição a suicídio por depressão.

Geralmente, o paciente com anorexia não percebe o problema, pois acha ser normal querer
controlar a alimentação. E, apesar de amigos e familiares insistirem em dizer que está
magro(a) demais e que deve se alimentar melhor, o(a) paciente nega a informação e se
preocupa em como emagrecer ainda mais. Além disso, na maioria das vezes recusa-se a
procurar um especialista.

Acredita-se atualmente que exista uma patologia multifatorial, com hipóteses da influência
combinada da dinâmica familiar, do meio cultural e de aspectos da personalidade do indivíduo
como fatores concorrentes para a predisposição, instalação e manutenção dos distúrbios.

A influência do ambiente familiar sobre os transtornos alimentares é uma das dimensões mais
valorizadas desde que essas enfermidades foram descritas, sendo que fatores familiares
podem contribuir tanto para o desencadeamento como para a manutenção do transtorno.

Alguns autores descrevem a existência de um padrão de confusão de confusão das fronteiras


que definem os subsistemas familiares (parental, filial). Esse padrão seria marcado pela
ausência generalizada de limites entre gerações e pessoas dos diferentes subsistemas,
faltando o senso de identidade e individualidade dos membros familiares, que apresentariam
padrões inadequados de relacionamento interpessoal. Tais famílias exibiriam uma harmonia
aparente que, na verdade, ocultaria graves conflitos subjacentes.

Como características psicológicas salientes esses pacientes tendem a apresentar: baixa


autoestima, sentimento de desesperança, desenvolvimento insatisfatório da identidade,
tendência a buscar aprovação externa, hipersensibilidade à crítica e conflitos referentes às
questões de autonomia versus independência. Outro fator muito marcante é a necessidade de
controle. Além disso apresentam pacientes com anorexia do subtipo purgativo tenderiam a ser
mais impulsivos do que os restritivos, que seriam mais perfeccionistas e obsessivos. Como
características psicológicas salientes esses pacientes tendem a apresentar: baixa autoestima,
sentimento de desesperança, desenvolvimento insatisfatório da identidade, tendência a
buscar aprovação externa, hipersensibilidade à crítica e conflitos referentes às questões de
autonomia versus independência.
Aula 07 – Bulimia Nervosa

Na bulimia, há dois momentos: primeiro, um exagero no consumo de determinados produtos.


Na sequência, o sujeito se sente culpado por ter ingerido tudo aquilo e encontra alguma
maneira de expurgar aquelas calorias.

O método mais utilizado para eliminar esse excesso costuma ser a indução do vômito. Mas
existem outras maneiras encontradas para fazer essa compensação.

Desde a primeira descrição da Bulimia Nervosa (BN) por Gerald Russell22 (1979), o
conhecimento deste quadro como entidade nosológica distinta tem avançado rapidamente,
graças à proliferação de grupos de pesquisa em vários países.

A BN é caracterizada, em sua forma típica, pela ingestão compulsiva e rápida de grande


quantidade de alimento, com pouco ou nenhum prazer, alternada com comportamento
dirigido para evitar o ganho de peso (como vomitar, abusar de laxantes e diuréticos ou
períodos de restrição alimentar severa) e medo mórbido de engordar.

O vômito auto induzido é extremamente comum, sendo encontrado em até 95% dos
pacientes, provavelmente pelo seu efeito de redução imediata da ansiedade. É interessante
lembrar que o comportamento de forçar o vômito é muito antigo e pode ser encontrado
precocemente na história de diferentes povos da Antiguidade.

 No antigo Egito, por exemplo, grande parte do papiro de Eber é dedicado ao estímulo
e às virtudes do ato de vomitar. Segundo Heródoto, os egípcios vomitavam e usavam
purgativos todo mês, por três dias consecutivos, julgando que "todas as doenças dos
homens são oriundas da comida".

 Na medicina grega é sabido que Hipócrates também recomendava a indução de


vômitos por dois dias consecutivos todo mês como um método de prevenir diferentes
doenças.

 Os romanos criaram o vomitorium, que lhes permitia alimentar-se em excesso durante


os banquetes, e posteriormente vomitar em local reservado para esta finalidade, às
vezes usando uma pena de ave para estimular o reflexo do vômito na garganta.

O termo bulimia tem uma história muito antiga; deriva do grego "bous" (boi) e "limos" (fome),
designando assim um apetite tão grande que seria possível a um homem comer um boi, ou
quase.
A BN tem como sintoma principal o episódio de compulsão alimentar e costuma surgir no
decorrer de uma dieta para emagrecer. No início, pode se achar relacionado à fome, mas
posteriormente, quando o ciclo compulsão alimentar-purgação já está instalado, ocorre em
todo tipo de situação que gera sentimentos negativos (frustração, tristeza, ansiedade, tédio,
solidão). Inclui um aspecto comportamental objetivo que seria comer uma quantidade de
comida considerada exagerada se comparada ao que uma pessoa comeria em condições
normais; e um componente subjetivo que é a sensação de total falta de controle sobre o seu
próprio comportamento.

Estes episódios ocorrem às escondidas na grande maioria das vezes e são acompanhados de
sentimentos de intensa vergonha, culpa e desejos de autopunição. A quantidade de calorias
ingerida por episódio pode variar enormemente, muito embora em média oscile entre 2 mil e
5 mil calorias.

O vômito auto induzido ocorre na grande maioria dos casos, sendo portanto o principal
método compensatório utilizado. O efeito imediato provocado pelo vômito é o alívio do
desconforto físico secundário à hiperalimentação e principalmente a redução do medo de
ganhar peso. A sua frequência é variável, podendo ser de um até 10 ou mais episódios por dia,
nos casos mais graves. No começo, a paciente necessita de manobras para induzir o vômito,
como a introdução do dedo ou algum objeto na garganta. Algumas bulímicas mais graves, com
vários episódios de vômitos por dia, podem apresentar até ulcerações no dorso da mão pelo
uso da mesma para induzir a emese (ação de vomitar), o que se chama de sinal de Russell.
Com a evolução do transtorno, a paciente aprende a vomitar sem necessitar mais de
estimulação mecânica.

Há relatos da ocorrência de bulimia nervosa em frequências relativamente similares na


maioria dos países industrializados, incluindo Estados Unidos, Canadá, muitos países europeus,
Austrália, Japão, Nova Zelândia e África do Sul.

A bulimia nervosa é bem mais comum em indivíduos do sexo feminino do que nos do
masculino. Os últimos estão especialmente sub-representados nas amostras que buscam.

O risco de suicídio é alto na bulimia nervosa. A avaliação completa de indivíduos com esse
transtorno deverá incluir determinação de ideação e comportamentos suicidas, bem como
outros fatores de risco para suicídio, incluindo história de tentativas de suicídio.

Pacientes com bulimia nervosa apresentariam pensamentos e emoções desadaptativas,


autoestima flutuante, sendo comum encontrar aqueles que apresentam atitudes caóticas, não
somente no tocante aos hábitos alimentares, mas também em outros aspectos da vida, como
os estudos, a vida profissional e as relações amorosas. Para alguns autores os principais
aspectos emocionais dos pacientes com anorexia nervosa seriam: baixa autoestima; ansiedade
alta, perfeccionismo, pensamento do tipo “tudo ou nada”, incapacidade de encontrar formas
de satisfação, alta exigência e incapacidade de ser feliz.
Aula 08 – Transtorno de Compulsão Alimentar (TCA)

A característica essencial do transtorno de compulsão alimentar são episódios recorrentes de


compulsão alimentar que devem ocorrer, em média, ao menos uma vez por semana durante
três meses.

Um “episódio de compulsão alimentar” é definido como a ingestão, em um período


determinado, de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria das
pessoas consumiria em um mesmo período sob circunstâncias semelhantes.

Ao lado de anorexia e bulimia, a compulsão alimentar faz parte da tríade clássica dos
transtornos alimentares. Nela, a questão é o exagero mesmo: a pessoa devora uma
quantidade enorme de comida. Alguns chegam a ingerir de 4 mil a 15 mil calorias em poucos
minutos — a média recomendada para um adulto saudável são 2 mil calorias por dia.

Aqui, não acontece nenhuma tentativa para eliminar esses alimentos, como vômitos ou
remédios. Esses ataques súbitos de gulodice são motivados por dilemas emocionais, como
ansiedade e estresse.

É importante diferenciar também episódios isolados de algo mais crônico e preocupante:


exagerar vez ou outra no rodízio de pizzas ou na churrascaria não é reflexo de uma doença
psiquiátrica.

O transtorno da compulsão alimentar é um transtorno alimentar caracterizado pelo consumo


repetido de quantidades excepcionalmente grandes de alimentos (comer compulsivamente)
acompanhados de um sentimento de perda de controle durante o episódio de compulsão
alimentar. Os episódios de alimentação compulsiva não são seguidos por tentativas de
compensar a ingestão excessiva de alimentos, por exemplo, livrando o corpo do excesso de
alimento consumido (purgação).

 O transtorno da compulsão alimentar periódica é mais comum em pessoas com


sobrepeso ou obesas.

 A pessoa come grandes quantidades rapidamente, não purga e seu comportamento


lhe causa muita angústia.

 O médico faz o diagnóstico com base no modo pelo qual a pessoa descreve seu
comportamento.
 O tratamento visa ajudar a pessoa a controlar a compulsão alimentar e inclui terapia
cognitivo-comportamental, inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS, um
tipo de antidepressivo) e medicamentos estimulantes.

 Programas de perda de peso, alguns medicamentos para redução de peso e


medicamentos estimulantes podem ajudar a controlar o peso.

Via de regra, aproximadamente 3,5% das mulheres e 2% dos homens têm transtorno da
compulsão alimentar periódica. Mas o transtorno se torna mais comum com o aumento do
peso corporal. Em alguns programas de redução de peso, 30% das pessoas obesas ou mais têm
o transtorno.

A maioria das pessoas com o transtorno da compulsão alimentar periódica é obesa e o


transtorno contribui para o consumo excessivo de calorias. Ao contrário, a maioria das pessoas
com bulimia nervosa tem um peso normal e as pessoas com anorexia nervosa são magras. As
pessoas com transtorno da compulsão alimentar tendem a ser mais velhas que as que sofrem
de anorexia ou bulimia e quase a metade é do sexo masculino.

É possível que a pessoa com transtorno da compulsão alimentar periódica também:

 Coma bem mais rápido que o normal

 Coma até se sentir desconfortável

 Coma grandes quantidades de alimentos, mesmo estando sem fome

 Coma sozinha para não ficar constrangida

 Sinta-se desgostosa, deprimida ou culpada após um episódio de alimentação excessiva

O transtorno da compulsão alimentar periódica causa angústia à pessoa que o tem, sobretudo
se ela estiver tentando perder peso. Essas pessoas estão mais propensas a
ter depressão ou ansiedade em comparação àquelas que não apresentam o transtorno. Além
disso, as pessoas obesas com transtorno da compulsão alimentar periódica são mais propensas
a ter preocupação com a forma física, com o peso ou ambos, que as pessoas obesas que não
comem compulsivamente.
Aula 09 - Transtorno Dismórfico Corporal

No transtorno dismórfico corporal, a preocupação com um ou mais defeitos inexistentes ou


sutis da aparência causa forte angústia e/ou prejudica a capacidade funcional.

De acordo com o DSM-5, os indivíduos com transtorno dismórfico corporal preocupam-se com
a percepção de um ou mais defeitos ou falhas em sua aparência física que não são observáveis
ou parecem leves para os outros; essa preocupação frequentemente causa ansiedade social e
esquiva. Se seus medos e a esquiva social são causados apenas por suas crenças sobre sua
aparência, um diagnóstico separado de transtorno de ansiedade social não se justifica.

A preocupação com a aparência não é mais bem explicada por preocupações com a gordura ou
o peso corporal em um indivíduo cujos sintomas satisfazem os critérios diagnósticos para um
transtorno alimentar.

Os indivíduos com transtorno dismórfico corporal (anteriormente conhecido como


dismorfofobia) são preocupados com um ou mais defeitos ou falhas percebidas em sua
aparência física, que acreditam parecer feia, sem atrativos, anormal ou deformada. As falhas
percebidas não são observáveis ou parecem apenas leves para outros indivíduos. As
preocupações variam desde parecer “sem atrativos” ou “não adequado” até parecer
“hediondo” ou “como um monstro”. Podem focar em uma ou mais áreas do corpo, mais
comumente a pele (por ex., percepção de acne, cicatrizes, rugas, palidez), os pelos (p. ex.,
cabelo “escasso” ou pelo corporal ou facial “excessivo”) ou o nariz (p. ex., o tamanho ou
formato). No entanto, qualquer área do corpo pode ser foco de preocupação (p. ex., olhos,
dentes, peso, estômago, mamas, pernas, tamanho ou formato do rosto, lábios, queixo,
sobrancelhas, genitais).

Algumas pessoas são preocupadas com a percepção de assimetria de áreas corporais. As


preocupações são intrusivas, indesejadas, tomam tempo (ocorrendo, em média, de 3 a 8 horas
por dia) e geralmente são difíceis de resistir ou controlar.

A dismorfia muscular, uma forma de transtorno dismórfico corporal que ocorre quase
exclusivamente no sexo masculino, consiste na preocupação com a ideia de que o próprio
corpo é muito pequeno ou insuficientemente magro ou musculoso. Os indivíduos com essa
forma de transtorno, na verdade, têm uma aparência corporal normal ou são ainda mais
musculosos. Eles também podem ser preocupados com outras áreas do corpo, como a pele ou
o cabelo. A maioria (mas não todos) faz dieta, exercícios e/ou levanta pesos excessivamente,
às vezes causando danos ao corpo. Alguns usam esteroides anabolizantes perigosos e outras
substâncias para tentar deixar seu corpo maior e mais musculoso. O transtorno dismórfico
corporal por procuração é uma forma de transtorno dismórfico corporal em que os indivíduos
são preocupados com defeitos que eles percebem na aparência de outra pessoa.

Uma vez que a pessoa com transtorno dismórfico corporal sente-se constrangida por sua
aparência, é possível que ela evite aparecer em público incluindo faltar ao trabalho, à escola
ou não participar de atividades sociais. Algumas pessoas com sintomas graves só saem de casa
à noite e outras nunca saem. Assim, esse transtorno frequentemente dá origem ao isolamento
social. Em casos muito graves, o transtorno dismórfico corporal é incapacitante. A angústia e a
disfunção causadas pelo transtorno podem causar depressão, problemas com drogas e álcool,
internações hospitalares repetidas, comportamento suicida e suicídio.

Aproximadamente 80% das pessoas com transtorno dismórfico corporal apresentam ideação
suicida em algum momento e entre 25% e 30% cometem tentativa de suicídio.

Muitas pessoas com transtorno dismórfico corporal também têm outros transtornos de saúde
mental, tais como transtorno depressivo maior, transtorno por uso de substância, transtorno
de ansiedade social ou transtorno obsessivo-compulsivo.
Aula 10 – Vigorexia e Ortorexia

Vigorexia não é um transtorno alimentar clássico, mas, sim, uma dismorfia corporal que tem
uma ligação com as fobias, à obsessão aqui está na ideia de um corpo perfeito, com músculos
fortes e torneado. Diferentemente dos tipos sobre os quais já falamos, a vigorexia é mais
comum em homens jovens que se submetem a uma rotina exaustiva e exagerada de exercícios
físicos.

Em paralelo aos treinos na academia, muitos também criam neuras com a comida: só comem
frango com batata-doce ou acham que suplementos proteicos são suficientes para se
manterem de pé.

Vigorexia é o nome dado para o transtorno dismórfico muscular, um problema psicológico que
faz com que os pacientes se enxerguem fracos e sem músculos, quando são fortes e
musculosos.

A distorção da imagem que essas pessoas têm faz com que eles fiquem diversas horas na
academia ou praticando exercícios para chegar ao corpo que eles consideram ideal.

Este tipo de transtorno pode ser semelhante à anorexia, porque seus portadores contam com
imagens distorcidas daquelas que veem no espelho.

Os sintomas da Vigorexia no início são psicológicos. O paciente não se sente confortável em


seu próprio corpo e passa a não se reconhecer em frente ao espelho, buscando sempre os
exercícios físicos como forma de encontrar o corpo ideal.

Conforme o tempo passa, o paciente começa a sentir cansaço, insônia, dores musculares,
queda no desempenho sexual, depressão e desinteresse por atividades que não estejam
relacionadas à prática de exercícios físicos.

Ortorexia como uma fixação pela saúde alimentar caracterizada por uma obsessão doentia
com o alimento biologicamente puro, acarretando restrições alimentares significativas. Trata-
se de indivíduos com escolhas alimentares acompanhadas de uma preocupação exagerada
com a qualidade dos alimentos, a pureza da dieta (livre de herbicidas, pesticidas e outras
substâncias artificiais) e o uso exclusivo de “alimentos politicamente corretos e saudáveis”.

O termo ortorexia nervosa foi criado por Steven Bratman, médico americano, e descreve o
comportamento ortoréxico é ingerir alimentos que contribuam para o bom funcionamento do
organismo e "libertem o corpo e a mente de impurezas" a fim de alcançarem um corpo
saudável e maior qualidade de vida. O autor também associou esse comportamento com o
desprezo pelos que não seguem os mesmos "padrões elevados" de alimentação, a obsessão, a
solidão, o evitar a prática social das refeições, a insatisfação com a própria condição e a
autoimposição para tentar esclarecer outros acerca dos alimentos "saudáveis".

Ortorexia, que ainda não é um transtorno alimentar reconhecido por toda a comunidade
científica, vem da junção dos termos gregos “orexis” (apetite) e “orthos” (correto). O que pega
aqui é a obsessão por alimentos saudáveis, puros e naturais. Pizza sexta à noite? Nem pensar!
Uma sobremesa no almoço de domingo? Pecado mortal.

O quadro, descrito há 22 anos pelo médico americano Steven Bratman, costuma aparecer em
mulheres de classes sociais mais abastadas, bem como em pessoas om traços de
perfeccionismo e que se cobram muito. A questão não está nas calorias de cada prato, mas,
sim, na pureza dos produtos.

O quadro pode gerar grande sofrimento emocional, pois o indivíduo geralmente se recusa a
comer algo que não foi preparado por ele mesmo, e também leva a um isolamento social, já
que muitos evitam refeições ou confraternizações e festas.
Aula 11 – Obesidade

A obesidade não está inclusa no DSM-5 como um transtorno mental. A obesidade (excesso de
gordura corporal) resulta do excesso prolongado de ingestão energética em relação ao gasto
energético. Uma gama de fatores genéticos, fisiológicos, comportamentais e ambientais que
variam entre os indivíduos contribui para o desenvolvimento da obesidade; dessa forma, ela
não é considerada um transtorno mental. Entretanto, existem associações robustas entre
obesidade e uma série de transtornos mentais (p. ex., transtorno de compulsão alimentar,
transtornos depressivo e bipolar, esquizofrenia).

Os efeitos colaterais de alguns medicamentos psicotrópicos contribuem de maneira


importante para o desenvolvimento da obesidade, e esta pode ser um fator de risco para o
desenvolvimento de alguns transtornos mentais (por ex., transtornos depressivos).

Embora a obesidade não seja classificada como um transtorno do comportamento alimentar,


será abordada aqui devido a sua frequência e grande importância para a saúde física e mental.
Ela é uma condição complexa, determinada por fatores genéticos, desenvolvimento
psicológico, familiares e culturais.

A obesidade é mais frequente em indivíduos de baixo nível socioeconômico e do sexo feminino


e em sociedades industrializadas e urbanas, bem como culturas nas quais a atividade física não
é predominante. A pandemia da obesidade, que cresce a cada ano em muitos países, tem tido
marcante impacto na vida contemporânea. Além disso, a condição tem grande importância
para a saúde pública, pois associa-se a taxas elevadas de:

 Morbidade. Aumento na prevalência de diabetes melito tipo 2, hipertensão arterial,


apneia do sono, problemas ortopédicos e dermatológicos. Em mulheres ocorrem
irregularidades menstruais, hiperandrogenismo e infertilidade. Em homens ocorre
diminuição dos níveis de testosterona e disfunção erétil.

 Mortalidade. Ocorre por distúrbios cardiovasculares, respiratórios e endócrinos, assim


como pelo risco aumentado de tumores de mama, útero, ovário, próstata, intestino
grosso e vias biliares.

 Piora na qualidade de vida. A obesidade impacta seriamente na qualidade de vida das


pessoas. Tem sido demonstrado que o tratamento exitoso da obesidade mórbida (com
cirurgia bariátrica ou tratamento clínico) tem importante efeito positivo sobre a
qualidade de vida.
Um dos pontos fundamentais da obesidade é a disfunção dos mecanismos de saciedade do
indivíduo. De modo geral, o indivíduo não se alimenta apenas de forma precipitada ou voraz;
ele faz suas refeições de forma contínua enquanto houver alimento disponível; não é capaz (ou
tem dificuldade) de parar de comer. O indivíduo com obesidade é muito sensível a assuntos
alimentares, preocupado com a comida e com os diferentes sabores dos alimentos, com sua
disponibilidade e aparência, entre outros aspectos.
Aula 12 – Fatores de risco para o desenvolvimento de distúrbios alimentares

Os distúrbios alimentares ocorrem mais frequentemente no sexo feminino, representando


95% dos casos. Estudos têm demonstrado um aumento da incidência nas últimas duas
décadas. O quadro costuma ter como fator desencadeante algum evento significativo como
perdas, separações, mudanças, doenças orgânicas, distúrbios da imagem corporal, depressão,
ansiedade e, até mesmo, traumas de infância, como abuso sexual. No entanto, a forma como
estes fatores vão atuar como causa do distúrbio ainda não está esclarecida.

O sexo feminino de uma maneira geral é muito vulnerável à aceitação das pressões sociais,
econômicas e culturais associadas aos padrões estéticos. A sociedade rejeita, discrimina e
reprova pessoas obesas. Perante esta situação muitas mulheres encontram-se insatisfeitas
com seu corpo. O medo da obesidade faz com que um número cada vez maior de mulheres
faça dieta, controle neuroticamente o peso corporal, exercite-se de maneira exaustiva e faça
uso de laxantes, diuréticos e drogas anorexígenas.

Nas sociedades afluentes, ao mesmo tempo em que observamos uma oferta abundante de
alimentos de alto teor energético e de rápido consumo, a vida cotidiana é cada vez mais
sedentária, tornando mais penosa a tarefa de manter o corpo magro. Modelos e atrizes de
sucesso, representantes dos padrões ideais de beleza feminina, são extremamente magras e
muitas vezes apresentam um corpo de pré-adolescente com formas pouco definidas.
Aula 13 – Como a TCC pode ajudar no tratamento

A TCC tornou-se aceita como uma das principais abordagens para o tratamento dos
transtornos alimentares. Mas mesmo amplamente utilizada atualmente, esse ainda é um
referencial relativamente novo, especialmente no Brasil.

A TCC é uma abordagem de intervenção semiestruturada, objetiva, que busca identificar e


corrigir as condições que favorecem o desenvolvimento e manutenção das alterações
cognitivas e comportamentais. Para este referencial, o sistema de crenças de um indivíduo
exerce papel determinante em seus sentimentos.

Para os transtornos alimentares, os programas de tratamento da TCC baseiam-se


principalmente nas técnicas para a redução da ansiedade, automanejo do comportamento e
modificação de cognições desadaptadas. Comparados com a terapia para alguns transtornos -
por exemplo, a depressão - os componentes comportamentais dos transtornos alimentares
recebem maior ênfase no tratamento. Isto ocorre porque as perturbações comportamentais
(como jejuns ou vômitos) são fatores centrais dessas doenças que devem ser controlados.

Um dos principais representantes do modelo cognitivo-comportamental para os transtornos


alimentares é Fairburn (1991). Sua abordagem relaciona pensamento, emoção e
comportamento manifesto, e o tratamento tem como objetivo fazer com que o paciente
examine a validade de suas crenças no presente e mude comportamentos disfuncionais. Os
processos cognitivos mais frequentes nestes quadros (abstração seletiva, supergeneralização,
magnificação, pensamento dicotômico, personalização e pensamento supersticioso) são
definidos e examinados cuidadosamente, a fim de modificar os pensamentos e pressupostos
automáticos.

Por exemplo, esses pacientes tendem a pensar em termos incondicionais e extremos


(pensamento dicotômico). Assim, adotam regras dietéticas rígidas e inflexíveis, nas quais
pequenos desvios são percebidos como evidência de fracasso e autocontrole pobre e podem
ser seguidos de um abandono temporário do domínio sobre a alimentação. Não é raro que
eles pensem: "se não estou completamente com o controle, isso significa que perdi todo o
controle, que está tudo perdido e que posso então me fartar". Em geral, em vez de perceber
que são as regras que estão distorcidas e considerar outras situações em que demonstram
bom autocontrole, atribuem as falhas de autocontrole a deficiências pessoais, reforçando,
então, a baixa autoestima (Fairburn, 1991).
Atualmente, as estratégias sugeridas pela TCC para o tratamento dos transtornos alimentares
têm como objetivo a diminuição da restrição alimentar, da compulsão alimentar, dos episódios
bulímicos e da frequência de atividade física, a diminuição do distúrbio da imagem corporal, a
modificação do sistema disfuncional de crenças associadas à aparência, peso e alimentação e o
aumento da autoestima.

O compromisso do paciente com a terapia é o objetivo principal no começo do tratamento e


pode ser dividido sinteticamente nos seguintes objetivos: expectativas, intenções e esperança.
Salienta-se a importância de construir as expectativas positivas sobre a terapia, tanto sobre o
papel (o que é esperado do terapeuta e do paciente) como sobre os resultados. Outro objetivo
desta primeira fase consiste no controle da ingestão. Para evitar que o paciente faça o
"movimento pendular" de passar de uma dieta restritiva que lhe provoque fome para um
episódio bulímico, é indicado um programa alimentar fixo, com técnicas comportamentais,
como evitar as situações de estresse, contextos de hábito ou de tentação, geralmente
precipitadores dos empanturramentos.

A segunda fase é voltada para a reestruturação cognitiva, e consiste em procurar modificar as


crenças irracionais que mantêm e reforçam os padrões disfuncionais. Exploram-se então
métodos alternativos de solução de problemas. Segundo Fairburn (1991), para estas pessoas
os valores e crenças não são apenas sintomáticos, mas essenciais para a manutenção deste
transtorno. Dessa forma, modificá-los é pré-requisito para a evolução e recuperação do
paciente.

Também é fundamental que os pacientes entendam a interação entre seus pensamentos,


sentimentos e disfunções de comportamentos. Devem compreender que o peso não é o
problema real, mas que outros problemas mais importantes estão dirigindo e mantendo o
transtorno alimentar.

Por fim, a terceira etapa se preocupa em manter as conquistas das fases anteriores e fazer um
plano de prevenção de recaídas, por meio de antecipação e preparação para o enfrentamento
de situações de estresse que anteriormente ativavam os padrões disfuncionais. Mas além do
seguimento adequado de um plano de tratamento, a TCC considera a qualidade da relação
terapêutica, ou seja, o vínculo entre paciente e terapeuta, como fundamental. Já em um
primeiro momento é importante deixar claro para o doente que há um interesse autêntico em
ajudá-lo, que não se vai enganá-lo e que os sintomas podem ser manejados.
Os terapeutas devem ser empáticos para que estabeleçam um bom vínculo com quem os
procura, para que consigam desenvolver objetivos e tarefas para casa. Enfatiza-se a
importância da demonstração de entendimento e empatia pelos sentimentos do paciente,
principalmente em relação ao terror deste de vir a perder o controle sobre seu peso. Aceitar as
crenças como genuínas para o doente também é fundamental para o bom relacionamento.
Ainda neste ponto, a TCC tem defendido a importância de estabelecer uma forte relação
colaborativa entre as duas partes, onde o profissional tem um papel ativo.

Entretanto, essa não é uma tarefa simples. A insatisfação com o vínculo é o motivo mais
frequente pelo abandono da relação e para uma não-conformidade.

Diversos autores identificaram as dificuldades do trabalho de um terapeuta com pacientes


com transtorno alimentar. Os pesquisadores sugerem que estes indivíduos tendem a produzir
reações emocionais fortes no terapeuta que podem levar a dificuldades importantes durante o
processo terapêutico. Essas reações podem assumir diversas formas. Uma recusa teimosa em
comer frente a um emagrecimento ameaçador à vida pode ser vista pelo terapeuta como um
insulto pessoal. É importante, nessa situação, sentir empatia pelo grau de terror que o
paciente pode estar experienciando diante do prospecto de uma mudança, assim como suas
dificuldades na aceitação de auxílio ou de pessoas confiáveis (Channon & Wardle, 1994).

Em relação ao papel da família no tratamento, a participação desta pode ajudar a criar uma
estrutura de colaboração em que os pais/cônjuges tornem o meio facilitador de mudanças.
Discutir a função que a enfermidade desempenha no sistema familiar colabora para as
mudanças no padrão de interação dos membros. Tanto na anorexia nervosa quanto na bulimia
nervosa, o objetivo terapêutico é de aumentar a capacidade de comunicação entre os
membros, corrigir suas percepções distorcidas, melhorar as estratégias de solução de conflitos
(o ensaio comportamental pode ajudar) e fazê-los estabelecer juntos novos limites com a
aceitação das diferenças individuais e busca da autonomia.

Ainda na mesma linha, outro objetivo é o restabelecimento de uma hierarquia familiar


adequada, com os pais no papel de autoridade e possibilitadores de diálogo. Portanto, deve-se
ajudar o paciente a gradualmente alcançar a liberdade, de acordo com a idade e capacidades.

Todavia, em muitos casos a família é rígida e resistente a mudanças, com dificuldades para se
ajustar às demandas maturacionais de seus membros. Quando acontece de os familiares se
recusarem a participar do tratamento, o paciente deve aumentar seu entendimento desse
funcionamento grupal e modificar suas expectativas em relação ao mesmo, aprendendo a
funcionar de maneira mais independente.

Mas o tratamento dos transtornos alimentares não deve se dar somente através da TCC.
Nessas doenças a equipe interdisciplinar é fundamental devido à possível necessidade de
hospitalização, ganho urgente de peso, problemas físicos causados tanto pela restrição como
pelas orgias alimentares e purgações. Hoje se sabe que os melhores resultados são alcançados
através das equipes multiprofissionais. É ideal que participem desta equipe: educadores
físicos, enfermeiros, dentistas, médicos clínicos, nutricionistas, psicólogos, psiquiatras, entre
outros.
REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS

Transtornos alimentares: fundamentos históricos (Eating disorders: historical background) Táki


Athanássios Cordása e Angélica de Medeiros Claudino

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PERFIL PSICOLÓGICO DE PACIENTES COM ANOREXIA E BULIMIA NERVOSAS: A ÓTICA DO


PSICODIAGNÓSTICO Érika Arantes de Oliveira1 , Manoel Antônio dos Santos

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Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais [recurso eletrônico] : DSM-5 /


[American Psychiatric Association ; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento ... et al.] ; revisão
técnica: Aristides Volpato Cordioli ... [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre :
Artmed, 2014.

Dalgalarrondo, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais [recurso eletrônico]


/ Paulo Dalgalarrondo. – 3. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2019. E-pub. Editado também como
livro impresso em 2019. ISBN 978-85-8271-506-2

Psicoterapias : abordagens atuais [recurso eletrônico]/ Organizadores, Aristides Volpato


Cordioli, Eugenio Horacio Grevet. – 4. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2019. E-pub.

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