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Universidade Zambeze
Faculdade de Ciências de Saúde
Medicina, IV Nivel
Cirurgia
Tema: Sida e Cirurgia.

Discentes
Alzira Lucas Docentes
Elias Artur Dr. Edson Bicoco
Izequiel Matetessa
Jeremias Zembro
Joao Taremba
Dr. Gomes Ziaveia
Latifa Manuel
Marcia Mutsando Dr. Mendive
Silvia Paulo
Tomás Charles

Tete, Junho de 2020


 Objetivos.
 Geral:
• Falar da relação entre o HIV/SIDA e cirurgia.

 Específicos:
• Descrever a epidemiologia do HIV/SIDA;
• Generalidades sobre o HIV/SIDA;
• Falar sobre a exposição ocupacional do HIV/SIDA pelos trabalhadores de
saúde;
• Descrever sobre as medidas de prevenção do HIV/SIDA no ambiente
cirúrgico;
• Abordar sobre as condutas a seguir após exposição ocupacional pelo
HIV/SIDA.
 Introdução.
• A AIDS (síndrome de imunodeficiência adquirida) é uma doença que
ataca o sistema imunológico do indivíduo, causada pelo vírus que hoje
é chamado de vírus da imunodeficiência humana (HIV). Foi observada
clinicamente pela primeira vez em 1981 nos EUA, os primeiros casos
ocorreram em homens homossexuais, ‘GRID, deficiência imunológica
relacionada aos gays’.
• Em 1984 foi reportado o primeiro caso de transmissão ocupacional do
HIV.
 Epidemiologia.
• Estima-se que existam atualmente mais de 40 milhões de pessoas
infectadas com o HIV em todo o mundo.
• A prevalência do HIV entre adultos em Moçambique é de 16.2%
(MISAU, 2004).
• Em países com uma prevalência elevada de HIV como é o caso de
Moçambique, os doentes HIV positivos ocupam mais da metade das
camas nos hospitais.
• O risco médio de transmissão ocupacional depois da exposição a uma
fonte infectada é de aproximadamente: HIV- 0.3%; VHC- 1.8%;
VHB- 23% a 37%.
 Generalidades.
• É estimado que 20 a 25% das pessoas com HIV positivo precisarão de
alguma intervenção cirúrgica em algum momento de suas vidas.
• Estudos demonstraram a incidência de 15% de disfunção cardíaca por
neuropatia autonômica nos pacientes infectados pelo HIV.
• Pacientes com infeção pelo HIV podem ser submetidos a intervenção
cirúrgica mais comumente para drenagem de abscessos, cesariana,
emergências abdominais como sangramento e perfurações, biópsia de
linfonodo, esplenectomias, colectomias, ulceração perianal, fístulas e
linfomas.
 Generalidades.
• Desta forma, a avaliação pré-operatória deve ser cuidadosa, tendo-se
especial atenção às condições cardiológicas, pulmonares, neurológicas
e metabólicas.
• Exames laboratoriais gerais devem ser solicitados, além de ECG, raio-
X de tórax e contagem de CD4 (preferencialmente contagem > 500/
𝑚𝑚𝑚𝑚3 ). Foi relatado aumento de infeção pós-operatória em pacientes
com contagem < 200/𝑚𝑚𝑚𝑚3 .
 Trabalhador de saúde.
• Inclui todo o pessoal clinico, administrativo, limpeza, meio ambiente,
manutenção, estudantes e voluntários, com atividades que envolvem
contato com doentes ou utentes, com sangue, tecido, ou outros fluidos
corporais dos doentes numa unidade sanitária.
• Exposição ocupacional ao HIV: são as lesões percutâneas (p. ex.
picadas de agulha, corte com objetos perfurocortantes, etc.) ou contato
com membranas mucosas ou pele não intacta (p. ex. feridas,
queimaduras, eczemas, dermatites, etc.) com o sangue, tecidos ou
outros fluidos corporais potencialmente infectados.
 Organização do trabalhador de saúde
acordo com o risco de contrair o HIV de
forma laboral(menor risco para maior risco).
• População A: medico de consultas externas, pessoal de enfermaria de
trabalham em consultas externas, estudantes de medicina, Odontologia
e enfermaria, voluntários e empregados em geral.
• População B: médicos que trabalham nas enfermarias (incluindo
estagiários de medicina e residentes)
• População C: médicos que efetuam procedimentos intervencionistas
em pacientes infectados pelo VIH/SIDA (endoscopias, biopsias,
hemodiálises, dialises peritoneais), médicos cirurgiões, pessoal de
enfermaria que possa ter o contato direto com produtos derivados do
sangue de pacientes infectados.
 Sida e Cirurgia.
• Assumindo que um cirurgião pratica umas 350 operações por ano e
sendo o seu exercício de aproximadante de 30 anos, o risco
acumulativo de contrair VIH esta na ordem de 10 em 100, quer dizer
que em um universo de 100 cirurgiões em exercícios por 30 anos 10%
dos cirurgiões contraem VIH ocupacionalmente.
 Sida e Cirurgia.
 O risco de transmissão varia de acordo com:

• O tipo de exposição.

• A profundidade da penetração.

• A concentração do vírus.
 Tipo de exposição.
 Exposição ocupacional.
• É o contato da pele não intacta, membranas, mucosas e a inoculação
percutânea do trabalhador de saúde com fluidos corporais ou com o
sangue contaminado com o VIH.
• A via percutânea é a exposição mais frequente (91%), a maioria das
vezes é autoinflingida e em cuidados de rotina a um paciente.
Excepcionalmente ocorre transmissão cutânea com a pele intacta.
• Em seguida ocorre com frequência a exposição mucocutânea, 0.09%.
 A profundidade da penetração.
• Se relaciona com o trauma e o tipo de instrumento que causa o
trauma.

• Com agulha fina: o risco é maior.

• Se o instrumento se insere numa veia ou artéria se considera que o


risco é maior
 Concentração do vírus.
• As defesas imunológicas desempenham uma função importante
quanto a prevenção da infeção e a eliminação do VIH depois de uma
exposição pelo mesmo vírus.
• Foi comprovado que pacientes pré-expostos se mantem livres da
infeção pela ação das células T auxiliares e os linfócitos T citotóxicos
específicos contra os vírus.
 Sida e Cirurgia.
• O risco de transmissão da Hepatite viral tipo B (VHB) depois da lesão
com uma agulha contaminada com sangue infectado varia entre 6 e
30%, risco correspondente para VIH é apenas de 0.5%.

• Uma só punção, ferida ou contato com a pele lacerada, pode resultar


em infeção pelo VIH e desenvolvimento para o SIDA.
 Sida e Cirurgia.
 Estados clínicos.

• O diagnostico do estado evolutivo é clinico e depende do tipo de


manifestação e complicações presentes em cada paciente e ao estágio
de evolução da enfermidade.
 Estados clínicos.
 Estádio I. • Estádio II.
• Assintomático • Perda de peso inexplicado e
• Linfadenopatia generalizada. moderado (<10% do peso
corporal).
• Infeções recorrentes das vias
respiratórias superiores.
• Herpes zóster
• Queilite angular
• Dermatite seborreica
• Ulcerações oráis
 Estados clínicos.
 Estádio III.
• Perda de peso inexplicada e severa (> 10% do peso corporal total)
• Diarréia persistente inexplicada (>1 mês)
• Febre persistente inexplicada, intermitente ou constante ( > 1 mês)
• Candidíase oral
• Leucoplasia oral pilosa
• Infecções bacterianas severas
• Gengivite ou estomatite ulcerativa necrotizante aguda, ou periodontite ulcerativa
necrotizante aguda
• TB Pulmonar
• Anemia.
 Estadio iv (Sida).
• Pneumonia por Pneumocistis Jiroveci (PCP).
• Pneumonia bacteriana severa e recorrente (≥2 episodios nos ultimos 6
meses).
• Candidíase esofágica.
• Infecção por micobactéria não tuberculosa diseminada.
• TB extrapulmonar ou diseminada.
• Sarcoma de Kaposi.
• Infecção por CMV.
• Nefropatia sintomática associada ao HIV.
• Toxoplasmose do SNC.
• Encefalopatia pelo HIV (complexo demência-SIDA).
 Medidas de prevenção.
 Quanto ao pessoal;

 Quanto ao material;

 Quanto ao ambiente.
 Quanto ao pessoal.
 Cuidados com as mãos:
• Lavar as mãos antes e depois do procedimento cirúrgico.

 Procedimentos técnicos básicos no trans-operatório.


• Todo o pessoal que entra nas salas de operação deve usar sempre
barretes, óculos, máscaras e coberturas para os sapatos, a fim de
impedir as contaminações.
• Os movimentos na sala de operações devem ser reduzidos evitando
assim a contaminação.
• Os pacientes de emergência cirúrgica (ferimentos de arma de fogo e
politraumatizados) requerem maiores precauções.
 Quanto ao material.
 Agulhas.
• A eliminação descuidada de instrumentos afiados, com agulhas
hipodérmicas, de sutura, e lâmina juntamente com o lixo constituem
um risco profissional.
• Em caso de uso de agulhas metálicas, estas devem ser
levadas ao expurgo para o tratamento com álcool 25% por 30
minutos.
• O uso de hipoclorito de sódio 1 % é contra indicado pelo seu efeito
corrosivo.
 Quanto ao material.
 Seringas.
• As seringas descartáveis deverão ser encaminhadas ao expurgo onde
receberão tratamento com álcool 25 % por 30 minutos, antes de serem
desprezadas.

 Instrumental.
• Os instrumentos cirúrgicos devem ser separados em categorias:
perfurantes, cortantes, etc. De seguida deverão ser encaminhados para
a autoclave ou devem ser mergulhados em álcool em 25% por 30
minutos.
 Quanto ao material.
 Roupa.
• Toda roupa dever ser depositada em hampers. Em caso de roupas
muito umedecidas em agentes biológicos, devem ser acondicionadas
em sacos plásticos separadamente.
• As roupas não usadas nas cirurgias são retiradas de operação e
encaminhadas para novamente serem lavadas, por segurança
(SIQUEIRA,1979).

 Lixo.
• O lixo deverá ser separado nas salas de operações cuidadosamente e só
após é encaminhado à incineração ou ao lixeira comum.
 Quanto ao ambiente.
• Manter o ambiente cirúrgico em assepsia rigorosa para garantir a
proteção do paciente e do pessoal cirúrgico;

 Recomenda-se que:
• Na limpeza, deverá ser utilizado etanol 25% em aparelhos e
equipamentos e, hipoclorito de sódio 1 % no piso das salas
operatórias.
 Conduta frente a acidentes ocupacionais.
• A melhor forma de lidar com acidentes ocupacionais é a prevenção.
• O profissional de saúde que sofre uma exposição ocupacional deve
receber atenção médica imediata, que inclui avaliação sorológica,
aconselhamento, quimioprofilaxia (se indicada) além de apoio
psicológico.
 Conduta frente a acidentes ocupacionais .
Os procedimentos recomendados em caso de exposição a material
biológico incluem:
 Cuidados locais:
• Em caso de exposição percutânea a área deve ser rigorosamente lavada
com água e sabão. Após exposição em mucosas, recomenda-se a
lavagem abundante com água ou solução salina.
Avaliação do risco de contágio:
• Após a lavagem da área, o cirurgião deve procurar imediatamente
um infectologista para avaliar a gravidade do acidente e o risco de
transmissão do vírus. Os critérios de gravidade para avaliação dos
riscos de infecção pelo vírus HIV se baseiam no volume de
sangue e na quantidade de vírus presente.
 Indicação do uso de anti-retrovirais:
• A indicação do uso profilático de anti-retrovirais se baseia na avaliação criteriosa
do risco de transmissão do HIV e também na toxicidade das medicações. Na
maioria dos casos em que a quimioprofilaxia é indicada, é usada a combinação de
zidovudina com lamivudina (AZT + 3TC).
• Nos casos em que se opta pela realização da quimioprofilaxia, esta deve ser
iniciada o mais rápido possível, preferencialmente dentro de 1 a 2 horas após o
acidente, para sua maior eficácia, mas podendo ser iniciado até 72 horas do
mesmo. O tempo de duração da profilaxia deve ser de 4 semanas.
 Exames:
• Deve ser feito um acompanhamento sorológico do profissional. O teste
ELISA deve ser realizado logo após o acidente e repetido nos períodos de 6
semanas, 12 semanas e 6 meses.
 Sorologia do paciente-fonte.
• Após um acidente ocupacional envolvendo um portador do vírus HIV
deve-se fazer uma análise da carga viral deste último, já que uma carga
viral alta implica em maiores riscos de contágio.
 Seguimento.
 Os trabalhadores de saúde que inicia a profilaxia deverão
ser acompanhados da seguinte forma:

• Depois da serologia HIV inicial repetir a serologia para o HIV na 6ª


semana, e no 3ᵒ e 6ᵒ mês
• Hemograma completo e transaminase ao dia 0, 2ª e 4ª semana de
tratamento
• Serologia das hepatites inicias e segundo ao risco ao 1ᵒ, 3ᵒ, 6ᵒ, e 9ᵒ mês
• Aconselhamento adicional conforme necessidade.
Os trabalhadores de saúde que não receberam a PPE
segundo a tabela de decisão ou por opção pessoal deverão
ser acompanhados da seguinte forma:

• Depois da serologia HIV inicial, repitir na 6ª semana e no 3ᵒ e 6ᵒ mês

• Transaminase e serologia das hepatites iniciais e segundo o risco, ao


1ᵒ, 3ᵒ, 6ᵒ, e 9ᵒ mês.

• Aconselhamento adicional conforme for necessário.


 Conduta em pacientes seropositivos pós cirurgia

• Antibioticoprofilaxia.

• Suplementos nutricional.
 Complicações pós-cirurgicas em pacientes seropositivos
• Hemorragias
• Infecção do Sítio Cirúrgico
• Choque séptico
• Deiscência de Ferida Operatória
• Dificuldades de cicatrização
 Conclusão.
Os profissionais de saúde são um grupo de alto risco de contrair a
enfermidade. Em teoria, o risco de contrair o vírus através de uma
punção com uma agulha contaminada é de 0.4%. Entre os 35 milhões de
trabalhadores de saúde em todo o mundo, aproximadamente três
milhões sofrem acidentes ocupacionais com exposição a patógenos
sanguíneos. Os acidentes ocupacionais podem resultar em 15 000
infeções com VHC, 70 000 infeções com VHB e 500 infeções com o
HIV. Mais de 90% destas infeções ocorrem em Países em
Desenvolvimento.
 Bibliografia.
• GARRIDO, Paulo Ivo; SAIDE, Mouzinho; et al. Guia para a
prevenção e profilaxia pós exposição ocupacional ao HIV; S/E;
MISAU; Moçambique; 2007.
• GARCIA. Vanessa; MARQUEZ, Leonel; et al. Sida y Cirugia; S/E;
Programa Nacional De Medicina Integral Comunitaria Socopó Estado
Barinas; Bolivia; 2017.
• GRETA. Escalante Hernández; SARAHI. Langarica cortez Andrea.
Sida y Cirugia; S/E; Universidade autônoma de Durango; S/L; 2017.
• BERGAMO. Marcia; MARCELINO. Katia; Procedimentos técnicos
básicos na prevenção da "AIDS“ S/E; Centro cirúrgico da Santa Casa
de Misericórdia de São Paulo; São Paulo; S/A.

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