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Referenciais normativos

Referencial da atividade
inspetiva
Referencial da atividade da atividade inspetiva
inspetiva

Catalogação Recomendada

Referencial da atividade inspetiva / Autoridade para as Condições do Trabalho; Lisboa:


ACT, 2019 – 52 p; 30cm.

Inspeção do trabalho/Relações de trabalho/Segurança e saúde no trabalho/Melhoria


continua/Papel da inspeção do trabalho/Inspetores do trabalho/Investigação de acidentes
de trabalho/Acidentes de trabalho/Doenças profissionais/Portugal

AUTOR
ACT - Autoridade para as Condições do Trabalho

Indexação:

Inspeção do trabalho/Relações de trabalho/Segurança e saúde no trabalho/Melhoria


EDITOR
continua/Papel da inspeção do trabalho/Inspetores do trabalho/Investigação de acidentes
ACT - Autoridade para as Condições do Trabalho
de trabalho/Acidentes de trabalho/Doenças profissionais/Portugal

EDIÇÃO
2ª edição - dezembro de 2019

ISBN
978-989-8076-90-8 (web pdf)

Esta Publicação reproduz um referencial normativo, de natureza jurídica, que apoia e orienta a
realização das atividades previstas.
Índice
1. Introdução ............................................................................................................... 2
2. Compromisso com o referencial ............................................................................... 3
3. Missão, visão, valores e cultura ................................................................................ 4
4. Princípios éticos e deontológicos.............................................................................. 6
5. Autonomia ................................................................................................................ 9
6. Independência ....................................................................................................... 10
7. Sigilo profissional ................................................................................................... 11
8. Funções do inspetor do trabalho ............................................................................ 12
8.1. No âmbito das relações de trabalho (RL) ............................................................ 14
8.2. No âmbito da segurança e saúde no trabalho (SST) ............................................ 15
8.3. Outras funções .................................................................................................... 16
8.4. Atividade administrativa da ACT.......................................................................... 17
9. Atividade inspetiva da ACT ..................................................................................... 18
9.1. Origem e principais destinatários da atividade inspetiva..................................... 18
9.2. Desenvolvimento da ação inspetiva..................................................................... 19
9.2.1. Conceitos e definições ...................................................................................... 19
9.2.2. Impulso da intervenção inspetiva .................................................................... 21
9.2.3. Prioridades de intervenção inspetiva................................................................ 22
9.2.4. Momentos da intervenção inspetiva ................................................................. 23
9.2.4.1. Planeamento ................................................................................................. 23
9.2.4.2. Preparação da ação inspetiva ........................................................................ 24
9.2.4.3. Visita inspetiva .............................................................................................. 25
9.2.4.4. Análise e elaboração de informação .............................................................. 30
9.2.4.5. Decisão do dirigente ...................................................................................... 32
9.2.4.6. Vicissitudes da intervenção inspetiva ............................................................ 34
10. Procedimentos inspetivos .................................................................................... 35
10.1. Outros apoios à atividade inspetiva ................................................................... 47
Resumo ...................................................................................................................... 48
Résumé ...................................................................................................................... 48
Abstract ..................................................................................................................... 49
Referencial da Atividade Inspetiva

1. Introdução
A Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), enquanto serviço central da administração
direta do Estado dotado de autonomia administrativa, assume compromissos estratégicos
assentes num conjunto de pressupostos (missão, visão, valores, objetivos, conhecimento das
envolventes interna e externa, partes interessadas na atuação da ACT, entre outros) que visam
a sua consolidação como entidade pública de referência na promoção da segurança, saúde e bem-
estar no trabalho e da garantia de elevados padrões de cumprimento dos normativos em matéria
laboral.

Constitui propósito do presente documento a melhoria contínua dos padrões de qualidade, eficácia
e eficiência, que devem presidir à gestão pública, com respeito integral pelos referenciais
nacionais e internacionais, nomeadamente as Convenções da Organização Internacional do
Trabalho (OIT).

Os novos desafios colocados à inspeção do trabalho a nível nacional e internacional, decorrentes


da globalização, das novas formas de organização do trabalho, do desemprego, do trabalho não
declarado, dos novos riscos emergentes e da crescente precarização das relações de trabalho,
impõem uma atitude proativa à administração do trabalho.

Considerando a relevância da atuação dos inspetores do trabalho para a prossecução da missão


da ACT e dos objetivos estratégicos que são definidos, entendeu-se criar um referencial que possa
prefigurar as principais linhas de orientação para o exercício da sua atividade.

Neste contexto, pretende-se que este referencial promova a atividade inspetiva através do reforço
da sua credibilização, da harmonização, consistência e coerência do gesto inspetivo, alicerçado
naturalmente na independência e autonomia técnica do inspetor do trabalho - prerrogativas do
exercício da sua atividade - e na definição de um conjunto de opções decorrentes do leque de
competências e de funções, balizadas pelo respeito e limites do princípio da legalidade e demais
princípios da administração pública, nomeadamente os da justiça, da imparcialidade e da
proporcionalidade.

Objetiva-se que as linhas de orientação constantes deste referencial simplifiquem, facilitem,


harmonizem e sistematizem critérios, saberes, práticas e procedimentos relativos à atividade
inspetiva, questionando rotinas e condutas, focando a atenção nos destinatários e partes
interessadas na ação inspetiva e no valor percebido pelos cidadãos-destinatários, num serviço
público que legitimamente representa uma mais-valia social, nomeadamente:

 Facilitar, sistematizando um quadro conciso e atualizado de orientações técnicas,


úteis para o desempenho da atividade inspetiva;
 Harmonizar, reforçando a segurança jurídica e a previsibilidade da ação inspetiva.

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Referencial da Atividade Inspetiva

O presente referencial tem como pressupostos:

 O enquadramento da atividade inspetiva no leque geral de competências da ACT,


fundamentadas em normas de direito internacional e nacional, nomeadamente,
assegurando a aplicação das disposições legais relativas às condições do trabalho
e à proteção dos trabalhadores no exercício da sua profissão em matéria de relações
de trabalho e de segurança e saúde no trabalho;
 A necessidade de interligação de processos entre os inspetores do trabalho e
demais profissionais da rede nacional de prevenção de riscos profissionais, da
administração do trabalho, da justiça e outras, com a certeza que o nível de adesão
de todos determinará melhorias significativas na prossecução do interesse público.

Este referencial e os seus conteúdos têm, naturalmente, por principais destinatários os inspetores
do trabalho.

2. Compromisso com o referencial


Com este referencial a ACT assume o empenho de mobilizar os seus dirigentes e inspetores do
trabalho na prossecução e difusão dos seus princípios e fundamentos, os quais se baseiam em:

 Agir em consonância com os princípios e regras que regulam internacional e


nacionalmente os sistemas de inspeção do trabalho;
 Harmonizar a prática da ação inspetiva através de grandes linhas orientadoras;
 Implementar melhorias contínuas nos processos, eliminando os custos de contexto
que se revelem desnecessários e inúteis, adequando as metodologias de
intervenção às novas realidades;
 Adequar a forma de intervenção aos interlocutores, situações e fins visados;
 Obter os melhores resultados adequados à missão e fins que prossegue;
 Valorizar os recursos humanos da ACT, garantindo que detêm as competências
necessárias ao desempenho da sua atividade;
 Ser persistente na realização da missão da ACT.

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Referencial da Atividade Inspetiva

3. Missão, visão, valores e cultura


Como serviço central da administração direta do Estado dotado de autonomia administrativa, a
ACT tem as suas orientações estratégicas em plena consonância com a sua missão de promoção
da melhoria das condições do trabalho, tendo presente um conjunto de referenciais estratégicos
nacionais e internacionais.

•Promoção da melhoria das condições de trabalho através da fiscalização do


cumprimento das normas em matéria laboral e do controlo do cumprimento da
legislação relativa à segurança e saúde no trabalho, bem como a promoção de
MISSÃO políticas de prevenção dos riscos profissionais, quer no âmbito das relações
laborais privadas quer no âmbito da Administração Pública.

•Consolidação da ACT como uma entidade pública de referência na promoção da


segurança, saúde e bem-estar no trabalho e da garantia de elevados padrões
de cumprimento dos normativos em matéria laboral, no quadro de uma
VISÃO globalização justa e de desenvolvimento sustentável e de igualdade de
oportunidades.

•Quer a missão quer a visão estão suportadas nos valores organizacionais que
são a base da identidade coletiva da ACT (de partilha comum a todos os
trabalhadores, independentemente da carreira em que se integrem), de entre
CULTURA E os quais sobressaem referenciais de progresso e de boa governação pública,
VALORES nomeadamente:

A promoção do
O reconhecimento
diálogo social e da
do direito das
participação como
mulheres e dos
essência e
homens a um
metodologia para o
trabalho digno e
respeito, promoção
produtivo, em
e aplicação dos
condições de
princípios e dos
liberdade, equidade,
direitos
segurança e
fundamentais do
dignidade humana.
trabalho.

Os princípios éticos O empenho


consignados na constante, com base
“Carta Ética da na perspetiva
Administração estratégica da
Pública”, mormente organização, em
a imparcialidade, a encontrar um
igualdade, a compromisso entre
lealdade e a a pertinência,
integridade. eficiência e eficácia.

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Referencial da Atividade Inspetiva

A identidade e a cultura de uma organização constituem um conjunto de caraterísticas


diferenciadoras que a tornam única perante outras. Essa identidade e cultura são expressas,
interna e externamente, pela adoção de um modo de ser, estar e fazer idênticos, assegurando a
utilização de suportes documentais cujo conteúdo e grafismo potenciam a afirmação institucional
junto dos seus interlocutores e destinatários (serviço informativo, requerimentos e autorização
administrativa, comunicações, solicitações, entre outros) e se projetam na qualidade dos serviços
prestados aos destinatários da atividade inspetiva da ACT.

A ACT, por força da missão e atribuições que lhe estão legalmente cometidas, cultiva um conjunto
de valores associados ao bem-estar no trabalho e ao facto de ser o único organismo responsável
por ativamente contribuir - por si só ou congregando as parcerias necessárias para o efeito, para
a melhoria das condições do trabalho.

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Referencial da Atividade Inspetiva

4. Princípios éticos e deontológicos


A legitimação da ACT enquanto entidade pública detentora de um conjunto de poderes e
atribuições, determina a vinculação dos seus profissionais a uma responsabilidade relacionada
com o interesse público e o bem comum, assumindo as questões éticas e deontológicas uma
relevância acrescida.

A atuação da inspeção do trabalho deve ser suportada por um conjunto de referenciais e de


comportamentos congruentes com o interesse público, impondo-se aos inspetores do trabalho,
enquanto funcionários públicos, uma pluralidade de deveres que encontram expressão na Carta
Ética da Administração Pública e um conjunto de valores assumidos no Código Global de
Integridade para a Inspeção do Trabalho da Associação Internacional da Inspeção do Trabalho
(AIIT), editado pela ACT.

Serviço público

•Os funcionários encontram-se ao serviço da comunidade e dos cidadãos,


prevalecendo sempre o interesse público sobre os interesses particulares ou
de grupo.

Princípio da legalidade

•Os funcionários atuam em conformidade com os princípios constitucionais e


de acordo com a lei e o direito.

Princípio da justiça e da imparcialidade

•Os funcionários, no exercício da sua atividade, devem tratar de forma justa


e imparcial todos os cidadãos, atuando segundo rigorosos princípios de
neutralidade.

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Referencial da Atividade Inspetiva

Princípio da Igualdade

•Os funcionários não podem beneficiar ou prejudicar qualquer cidadão


em função da sua ascendência, sexo, raça, língua, convicções
políticas, ideológicas ou religiosas, situação económica ou condição
social.

Princípio da proporcionalidade

•Os funcionários, no exercício da sua atividade, só podem exigir aos


cidadãos o indispensável à realização da atividade administrativa.

Princípio da colaboração e da boa fé

•Os funcionários, no exercício da sua atividade, devem colaborar com


os cidadãos, segundo o princípio da boa fé, tendo em vista a
realização do interesse da comunidade e fomentar a sua participação
na realização da atividade administrativa.

Princípio da informação e da qualidade

•Os funcionários devem prestar informações e/ou esclarecimentos de


forma clara, simples, cortês e rápida.

Princípio da lealdade

•Os funcionários, no exercício da sua atividade, devem agir de forma


leal, solidária e cooperante.

Princípio da integridade

•Os funcionários regem-se segundo critérios de honestidade pessoal e


de integridade de caráter.

Princípio da competência e responsabilidade

•Os funcionários agem de forma responsável e competente, dedicada


e crítica, empenhando-se na valorização profissional.

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Referencial da Atividade Inspetiva

A AIIT elaborou o Código de Integridade, de aplicação mundial, no sentido de sustentar o


profissionalismo das atividades desenvolvidas pela inspeção do trabalho. Simultaneamente, o
compromisso com os valores consagrados no Código assegurará o funcionamento das inspeções
do trabalho segundo os princípios da transparência e da responsabilidade, constituindo-se como
uma salvaguarda para todos os funcionários da inspeção do trabalho no exercício das suas
funções.

Considerando que os funcionários das inspeções do trabalho devem prestar serviços que
promovam os mais elevados níveis de integridade, correspondam às expetativas da comunidade
e reforcem a sua confiança na organização e na sua autoridade, o Código propõe um quadro ético
que compreende seis valores gerais.

•CONHECIMENTOS E COMPETÊNCIAS
Adquiridos através da aprendizagem contínua e do empenho no reforço
Valor 1 das capacidades.

•HONESTIDADE E INTEGRIDADE
Uma conduta que inspire respeito e confiança.
Valor 2

•CORTESIA E RESPEITO
Demonstração de empatia, compaixão e compreensão, reconhecimento
Valor 3 da diversidade da comunidade.

•OBJETIVIDADE, NEUTRALIDADE E JUSTIÇA


Conduta imparcial, objetiva e sem preconceitos.
Valor 4

•COMPROMISSO E CAPACIDADE DE RESPOSTA


Compromisso para com os objetivos e valores da inspeção do trabalho.
Valor 5 Eficácia no planeamento e calendarização das atividades.

•COERÊNCIA ENTRE O COMPORTAMENTO PESSOAL E PROFISSIONAL


Aplicação destes princípios tanto no trabalho como na vida privada.
Valor 6

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Referencial da Atividade Inspetiva

5. Autonomia
Os referenciais internacionais que tutelam a autonomia orgânica da inspeção do trabalho devem
ser interpretados num sentido integrador com as demais disposições legais que enquadram a
atividade dos inspetores do trabalho na prossecução do interesse público e das políticas nacionais
relativas à melhoria das condições do trabalho, de acordo com o plano de ação inspetiva definido
pela Direção da ACT.

Os princípios éticos da administração pública e os valores consignados no Código Global de


Integridade para a Inspeção do Trabalho consagram a conformação da autonomia do inspetor do
trabalho com o princípio da legalidade e demais obrigações, assumindo-se como limitadores ao
livre arbítrio.

De facto, o princípio da legalidade da administração consignado no artigo 266.º, n.º 2 da


Constituição da República Portuguesa estabelece a matriz fundamental da atuação de todos os
serviços públicos, daí decorrendo a obediência aos princípios da igualdade, proporcionalidade,
objetividade, imparcialidade, colocando, desta forma, claras orientações quanto a juízos ou
critérios de mera oportunidade.

O funcionamento da administração pública concretiza-se através do cumprimento de um conjunto


de regras e formalidades, decorrentes da especificidade resultante de um quadro próprio de
competências, poderes e atribuições, padronizando o relacionamento com os cidadãos e
defendendo-os de eventuais arbitrariedades.

Dessa forma, a atuação do inspetor do trabalho surge balizada pela obrigação inerente à
salvaguarda do interesse público e pelo princípio da legalidade, bem como pela delimitação e
restrição dos poderes de autoridade que lhe assistem – não obstante a sua autonomia técnica
decorrente do contexto da intervenção inspetiva.

É neste contexto que deve ser enquadrada a autonomia técnica dos inspetores do trabalho
(artigos 13.º e 17.º da Convenção n.º 81 e artigos 18.º e 22.º da Convenção n.º 129, ambas da
OIT).

Este conceito encontra expressão – sem prejuízo do contexto de planeamento a que o inspetor
do trabalho está obrigado - na sua capacidade de identificação de situações passíveis de
intervenção inspetiva, bem como para delimitar os respetivos âmbitos e matérias a apreciar.

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Referencial da Atividade Inspetiva

De acordo com a doutrina e jurisprudência dominantes, ao inspetor do trabalho é atribuído um


poder de cariz discricionário, que lhe permite a opção entre instrumentos legais mobilizáveis,
fundamentando e justificando a seleção do procedimento que legalmente respeite os pressupostos
da sua utilização, mas que, em simultâneo, o vincula à adoção daquele que melhor responda aos
interesses protegidos pela norma. Estamos, portanto, perante uma autonomia legalmente
vinculada.

O efetivo exercício da autonomia profissional implica assegurar níveis de qualificação,


responsabilidade, coerência, consistência e consequência na harmonização do gesto profissional,
enquanto vertente que contribui para garantir um entendimento lógico e previsível da
intervenção, assegurando que os procedimentos adotados (atos praticados no processo) são os
que melhor contribuem para a melhoria das condições do trabalho com observância das regras
legais.

6. Independência
As Convenções da OIT sobre a Inspeção do Trabalho (artigo 6.º da Convenção n.º 81 e artigo 8.º
n.º 1 da Convenção n.º 129) estabelecem que o pessoal da inspeção do trabalho será composto
por funcionários públicos, cujo estatuto e condições de serviço lhes assegurem a estabilidade no
seu emprego, os tornem independentes de qualquer mudança de governo e de qualquer influência
exterior.

Por outro lado, compete exclusivamente à autoridade central o controlo direto e exclusivo da
atividade de inspeção do trabalho, a qual não deverá estar sujeita ao controlo das autoridades
locais, nem depender destas para o exercício de nenhuma das suas funções (ponto 10 da
Recomendação n.º 20 da OIT, de 1923, sobre os Princípios Gerais de Organização dos Sistemas
de Inspeção).

Estes instrumentos consagram o princípio de que a inspeção do trabalho é uma função de


natureza pública e, por conseguinte, o inspetor do trabalho goza do estatuto e independência de
funcionário público, exercendo os seus poderes e funções de uma forma imparcial, compatível
com o seu cargo público e livre de pressões e limitações indevidas.

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Referencial da Atividade Inspetiva

Enquanto representante do poder público no mundo laboral, o inspetor do trabalho está investido
de poderes, mas também obrigado a observar um conjunto de deveres relativamente ao modo
como exerce as suas funções. O exercício adequado de tais poderes e deveres é fundamental
para garantir a autoridade do inspetor, a sua equidistância face aos interesses presentes no
mundo do trabalho e a confiança pública no próprio sistema de inspeção do trabalho.

A sua independência é assegurada, desde logo, pelos princípios da legalidade, da igualdade, da


proporcionalidade, da justiça, da imparcialidade e da boa-fé, que devem enformar a sua atuação
e que têm tutela constitucional (artigo 266.º da Constituição da República Portuguesa) e legal
(artigos 3.º a 10.º do Código do Procedimento Administrativo).

Tais imperativos de independência justificam os especiais deveres, quanto a incompatibilidades e


impedimentos, a que os inspetores do trabalho se encontram sujeitos no exercício das suas
funções (artigo 22.º do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho).

7. Sigilo profissional
Importa clarificar e delimitar o sigilo profissional dos inspetores do trabalho e suas implicações.
Este dever de sigilo está também consagrado no artigo 15.º da Convenção n.º 81 e no artigo 20.º
da Convenção n.º 129, ambas da OIT, que estabelecem, sob reserva das exceções que a
legislação nacional possa prever, que o inspetor do trabalho:

 Está vinculado, sob pena de sanções penais ou de medidas disciplinares adequadas, a


não revelar, mesmo depois de ter deixado o serviço, os segredos de fabrico ou de
comércio, ou os processos de exploração de que possa ter tido conhecimento no
exercício das suas funções;
 Deve considerar como confidenciais todas as fontes de denúncia que lhe assinalem
um defeito na instalação, um perigo nos processos de trabalho ou uma infração às
disposições legais e deve abster-se de revelar à entidade patronal, ou ao seu
representante, que a visita de inspeção foi consequência de uma denúncia.

De facto, nos termos do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho os inspetores do trabalho (…)


estão sujeitos às disposições legais relativamente ao segredo de justiça e devem guardar sigilo
profissional, mesmo depois de deixarem o serviço.

A observância do sigilo profissional é uma condição indispensável à garantia da confiança pública


e ao sucesso da prossecução dos valores sociais subjacentes à função de inspeção do trabalho,
na promoção da melhoria das condições do trabalho.

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Referencial da Atividade Inspetiva

O sigilo profissional impede o inspetor, mesmo depois de deixar a profissão, de revelar a origem
de denúncias, processos de fabrico e outros dados confidenciais de que teve conhecimento em
virtude do desempenho das suas funções.

O cumprimento do dever de sigilo concorre significativamente para a eficácia da ação inspetiva


na medida em que constitui garantia das partes da relação laboral e responsabilização do inspetor
e da própria ACT.

O sigilo profissional está salvaguardado nos termos dos artigos 135.º, 136.º e 182.º do Código
de Processo Penal, por força do artigo 1.º, n.º 2 alínea a) do Código de Processo do Trabalho.
Nos termos destas normas, o inspetor ou os demais funcionários a quem a lei impõe que guardem
sigilo, podem escusar-se a depor sobre os factos por ele abrangidos e não fornecer documentos
ou informações sigilosas.

De acordo com o artigo 135.º do Código de Processo Penal:

 Havendo dúvidas fundadas sobre a legitimidade da escusa, a autoridade judiciária perante


a qual o incidente se tiver suscitado procede às averiguações necessárias. Se, após estas,
concluir pela ilegitimidade da escusa, ordena, ou requer ao tribunal que ordene, a
prestação do depoimento.
 Se o incidente da escusa for suscitado em tribunal, será o tribunal superior àquele onde o
incidente tiver sido suscitado, ou, no caso de o incidente ter sido suscitado perante o
Supremo Tribunal de Justiça, o pleno das secções criminais, que poderá decidir da
prestação de testemunho com quebra do segredo profissional sempre que esta se mostre
justificada, segundo o princípio da prevalência do interesse preponderante,
nomeadamente tendo em conta a imprescindibilidade do depoimento para a descoberta
da verdade, a gravidade do crime e a necessidade de proteção de bens jurídicos. A
intervenção é suscitada pelo juiz, oficiosamente ou a requerimento.
 Nos casos supra referidos a decisão da autoridade judiciária ou do Tribunal é tomada
ouvido o organismo representativo da profissão relacionada com o segredo profissional em
causa.

8. Funções do inspetor do trabalho


Constituem principais atribuições do inspetor do trabalho, as seguintes:

 Promover, controlar e fiscalizar o cumprimento das normas legais, regulamentares e


convencionais respeitantes às relações e condições do trabalho;
 Prestar informações e conselhos técnicos com vista ao esclarecimento dos sujeitos das

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Referencial da Atividade Inspetiva

relações laborais e das respetivas associações;


 Sugerir as medidas adequadas em caso de falta ou inadequação de normas legais ou
regulamentares;
 Cooperar com os parceiros sociais e institucionais e com as instituições públicas e
privadas que exerçam atividades análogas.

Estas atribuições pressupõem o exercício de um conjunto de competências que se consubstanciam


na realização de uma série de atividades que permitam a sua consecução.

A atividade inspetiva consiste, assim, na realização de procedimentos tendentes a examinar uma


determinada situação à luz do quadro legislativo a que está, ou poderá estar sujeita, de forma a
avaliar da conformidade ou não dessa situação, determinando, sendo o caso, as medidas a adotar
para efetivar o cumprimento das normas legais, convencionais e regulamentares aplicáveis.

Nesse sentido, tendo como referência a missão da ACT e o seu plano de atividades, o inspetor
deve, relativamente a cada situação com que se depara, refletir sobre a mais-valia das opções e
procedimentos que assume e dos instrumentos e meios que utiliza, agindo no quadro legal, com
racionalidade (distinguindo o essencial do acessório), zelo, disponibilidade e espírito de
cooperação.

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Referencial da Atividade Inspetiva

8.1. No âmbito das relações de trabalho (RL)


 Assegurar o controlo da igualdade de direitos e oportunidades;
 Prevenir e combater situações de assédio no local de trabalho;
 Verificar e assegurar o cumprimento das regras de proteção da parentalidade, do cumprimento do estatuto
do trabalhador-estudante e da conformidade da admissão e condições de execução do contrato de trabalho
com trabalhador estrangeiro;
 Verificar e assegurar o cumprimento das regras aplicáveis ao destacamento de trabalhadores;
 Verificar os requisitos de admissão e condições de execução do contrato de trabalho de menores;
 Avaliar das condições do trabalho de regimes de contrato de trabalho especiais (trabalho doméstico, trabalho
Disposições no domicílio, teletrabalho, entre outras) e de novas formas de relações de trabalho na era digital, bem como
gerais relativas verificar os requisitos de contratação de trabalhadores nas diversas modalidades de contrato de trabalho por
ao contrato de tempo determinado, trabalho a termo, trabalho temporário, cedência ocasional, comissão de serviço;
trabalho  Avaliar do cumprimento do dever de informação e consulta aos trabalhadores;
 Verificar da existência de prestação de trabalho dissimulado, da regularidade da contratação e de trabalho
total ou parcialmente não declarado;
 Avaliar a política de formação profissional da empresa;
 Verificar da regularidade do exercício da atividade das agências privadas de colocação de candidatos a
emprego;
 Avaliar a política de recrutamento da empresa;
 Identificar e caracterizar situações de discriminação no acesso a emprego e na execução do contrato de
trabalho.

 Assegurar o cumprimento dos requisitos inerentes à transferência de local de trabalho e à mobilidade


funcional;
 Verificar a duração e a organização dos tempos de trabalho nos locais de trabalho;
Prestação do
trabalho
 Verificar o cumprimento das normas respeitantes aos limites à duração do período normal de trabalho,
intervalo de descanso, descanso diário e descanso semanal;
 Aferir do cumprimento das normas relativas à prestação de trabalho suplementar;
 Verificar o gozo do direito a férias remuneradas.

 Verificar da regularidade da retribuição e da pontualidade do seu pagamento;


Retribuição e  Controlar a conformidade dos componentes da retribuição por reporte aos recibos de vencimento e registos
outras ou outros elementos recolhidos;
prestações  Verificar a regularidade da declaração de remunerações à segurança social;
patrimoniais  Determinar o pagamento das quantias em dívida aos trabalhadores e das contribuições à segurança social;
 Participar das eventuais infrações à segurança social e à administração tributária

Vicissitudes  Avaliar do cumprimento dos requisitos legais em caso de transmissão de empresa ou estabelecimento,
cedência ocasional de trabalhadores, redução da atividade e suspensão do contrato de trabalho
contratuais
(nomeadamente do recurso a medidas previstas em situação de crise empresarial).

Incumprimento
do contrato de  Verificar os requisitos da suspensão de contrato de trabalho por não pagamento pontual da retribuição e os
limites da aplicação de sanções disciplinares.
trabalho

Cessação do
contrato de  Verificar a regularidade dos requisitos e formalidades inerentes às várias modalidades de cessação do contrato
de trabalho.
trabalho

 Avaliar do cumprimento dos deveres legais relativos às condições de informação, consulta e participação dos
Direito coletivo trabalhadores e seus representantes;
 Avaliar das condições de exercício do direito à greve.

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Referencial da Atividade Inspetiva

8.2. No âmbito da segurança e saúde no trabalho (SST)


Verificar se o empregador:

 Identifica e avalia os fatores de risco de acidente ou doença profissional associados ao local de


trabalho;

 Identifica e avalia os fatores de risco físico, químico, biológico, psicossocial (assédio, burn out, etc.),
entre outros;
Obrigações gerais do  Hierarquiza os riscos pela sua gravidade/frequência;
empregador e do
trabalhador  Avalia as medidas técnicas e organizativas adequadas à prevenção dos riscos identificados;

 Determina as medidas de prevenção e de proteção adequadas aos riscos verificados;

 Transfere a responsabilidade civil pela reparação de danos emergentes de acidentes de trabalho e de


doenças profissionais para entidade legalmente autorizada a realizar este seguro;

 Declara à seguradora todos os trabalhadores e respetivas retribuições.

 Verificar as condições de acesso à informação e do cumprimento da obrigação de consulta;

Consulta, informação
 Verificar a existência de formação adequada, tendo em atenção o posto de trabalho e o exercício de

e formação dos atividades de risco;


trabalhadores
 Verificar a existência de formação permanente pelos trabalhadores designados para se ocuparem de
todas ou algumas atividades de segurança e saúde no trabalho.

 Verificar as garantias da constituição da estrutura de representação coletiva dos trabalhadores para


Representantes dos
a segurança e saúde no trabalho;
trabalhadores para a
segurança e saúde no  Verificar o cumprimento das regras de funcionamento das atividades dos representantes dos
trabalho
trabalhadores para a segurança e saúde no trabalho.

 Verificar a existência de serviços de segurança e saúde no trabalho;

 Avaliar a adequabilidade da modalidade de serviços de segurança e saúde no trabalho adotada;

 Avaliar os requisitos formais relativos ao exercício da atividade de segurança e saúde no trabalho;

 Avaliar o exercício das atividades dos serviços de segurança e saúde no trabalho da empresa;

 Avaliar a adequabilidade dos recursos humanos afetos às atividades de segurança e saúde no


trabalho;

 Verificar a existência de avaliação de riscos;

 Avaliar a adequabilidade da avaliação de riscos e de medidas de prevenção existentes ao posto de


Serviços de trabalho e/ou processo produtivo verificado;
segurança e saúde
no trabalho  Avaliar a adequabilidade dos equipamentos de prevenção e/ou proteção utilizados;

 Verificar a realização de exames de vigilância da saúde;

 Verificar a realização de atividades proibidas ou condicionadas por trabalhadoras grávidas, puérperas


ou lactantes e por menores;

 Verificar a realização de atividades proibidas ou condicionadas a menores;

 Avaliar a operacionalidade da coordenação de segurança em caso de desenvolvimento de atividade


por diferentes entidades no mesmo espaço físico;

 Verificar a comunicação de acidentes de trabalho mortais ou que evidenciem uma situação


particularmente grave.

Inquéritos de  Desenvolver ação inspetiva no domínio dos acidentes de trabalho, elaborando inquérito de acidente
acidentes de trabalho de trabalho nos termos da lei.

Doenças profissionais  Desenvolver ação inspetiva no domínio das doenças profissionais.

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Referencial da Atividade Inspetiva

8.3. Outras funções


Pode ainda ser solicitado ao inspetor do trabalho, entre outros, o desenvolvimento de funções
nos seguintes domínios:

 Programação e coordenação de ações inspetivas;


 Programação e coordenação da atividade inspetiva em contexto de grupo de trabalho;
 Elaboração e acompanhamento da execução do plano anual da ação inspetiva e do
relatório de atividades;
 Instrução de processos de contraordenação laboral;
 Desenvolvimento de procedimentos de acompanhamento, avaliação e harmonização
do sistema de contraordenações laborais, bem como do registo individual dos sujeitos
responsáveis pelas mesmas;
 Definição de metodologias, procedimentos e orientações sobre exercício do gesto
profissional e harmonização e avaliação da atividade inspetiva;
 Emissão de pareceres e elaboração de estudos de natureza técnica no âmbito das
competências da ACT;
 Elaboração e preparação de documentos e suportes de informação, com vista à
sensibilização e esclarecimento dos destinatários da ação da ACT;
 Recolha e tratamento da informação relativa à atividade inspetiva, nomeadamente
para efeitos estatísticos e para resposta a solicitações de outras entidades;
 Identificação de lacunas ou de normas legais desadequadas e propostas de adequação
do quadro jus laboral;
 Cooperação com os serviços de fiscalização das condições do trabalho de outros
Estados-membros do espaço económico europeu;
 Elaboração de estudos sobre sinistralidade laboral e doenças profissionais e
monitorização da evolução da taxa de acidentes de trabalho e das doenças
profissionais;
 Avaliação dos pedidos de intervenção apresentados tendo em vista melhorar a
eficácia, eficiência e qualidade do serviço prestado;
 Elaboração de documentos de suporte a comunicações públicas;
 Representação da ACT em fóruns de discussão pública – congressos, seminários,
jornadas, workshops – garantindo o discurso institucional;
 Avaliação de necessidades de formação inicial e contínua do pessoal da área inspetiva;
 Programação de ações de formação e elaboração de conteúdos formativos;
 Avaliação da qualidade e dos resultados dos cursos de formação;

16
Referencial da Atividade Inspetiva

 Desenvolvimento de projetos inovadores, que promovam:


− A melhoria da eficiência e da eficácia da intervenção da ACT por via da
simplificação e desburocratização dos procedimentos administrativos e
contraordenacionais;
− A melhoria dos sistemas de informação da ACT, designadamente em matéria
de gestão e acompanhamento da atividade inspetiva e da atividade de
promoção da segurança e saúde no trabalho, bem como no domínio da gestão
dos processos de contraordenação laboral;
− A simplificação do acesso aos serviços da ACT - nomeadamente através da
intensificação do recurso às novas tecnologias;
− Campanhas setoriais e parcerias estratégicas e de cooperação com parceiros
sociais, dinamizando a autorregulação;
− O conhecimento das leis laborais por parte dos empregadores e trabalhadores;
− A partilha de experiência e de informação com congéneres internacionais da
ACT;
− A promoção e divulgação de boas práticas;
 Desenvolvimento de ações de monitorização no âmbito de auditorias;
 Elaboração de instrumentos de autoavaliação que permitam aos interlocutores da ACT
verificar o cumprimento da legislação laboral.

8.4. Atividade administrativa da ACT


Alguns dos processos que se tramitam na ACT, insertos na legislação reguladora das relações de
trabalho e da segurança e saúde dos trabalhadores têm natureza administrativa. A resposta a
requerimentos ou a outras solicitações no âmbito da atividade administrativa da ACT não requer
o uso de poderes inspetivos (artigo 55.º do Código de Procedimento Administrativo).

Consequentemente, mesmo que o procedimento seja executado por um inspetor do trabalho,


mantém-se inalterada a natureza administrativa do processo.

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Referencial da Atividade Inspetiva

9. Atividade inspetiva da ACT

9.1. Origem e principais destinatários da atividade


inspetiva
O desenvolvimento e implementação do plano de ação inspetiva enquadra as solicitações e
pedidos de intervenção dirigidos à ACT, através de diversas vias disponibilizadas para o efeito
(sítio na internet, via postal, correio eletrónico, serviço informativo).

Para além dos pedidos que provêm dos principais destinatários da intervenção inspetiva
(trabalhadores, empregadores e seus representantes), existe um conjunto de solicitações que
decorre do cumprimento de obrigações legais.

A atividade inspetiva pode ainda ter origem no planeamento do serviço desconcentrado


considerando a identificação das necessidades de intervenção ao nível regional/ local, desde que
devidamente fundamentada nos princípios éticos e deontológicos da Administração Pública e
enquadrada na estratégia definida pela Direção da ACT.

Conhecer o universo dos destinatários da sua ação torna-se fundamental para selecionar e
priorizar necessidades de intervenção, adequar metodologias que potenciem a eficácia da ação e
reforçar a credibilidade da instituição como entidade de referência no mundo do trabalho.

Podemos sistematizar os principais destinatários da intervenção inspetiva da seguinte forma:

 Os trabalhadores individualmente considerados e/ou coletivamente organizados ou


representados;

 Os empregadores de todos os setores privado e público - este último apenas quanto à


matéria de segurança e saúde no trabalho - individualmente considerados, mas também
representados em associações de empregadores, na exata medida dos pedidos de
intervenção ou, estrategicamente enquadrados pelo plano de ação inspetiva, agrupados
por setores de atividade, ou através de outros critérios considerados pertinentes e
adequados aos fins propostos (por ex: dimensão da empresa, localização geográfica, etc.);

 Outros destinatários (tribunais, entidades coordenadoras, outros serviços inspetivos


nacionais e internacionais, etc.).

18
Referencial da Atividade Inspetiva

9.2. Desenvolvimento da ação inspetiva

9.2.1. Conceitos e definições


A atuação do inspetor do trabalho nos locais de trabalho pressupõe o domínio e a utilização de
um conjunto de conceitos transversais que, de forma harmonizada, permitem o exercício e a
concretização de uma linguagem comum aos referenciais nacionais e internacionais.

Processo
inspetivo
Visita
Doença inspetiva
profissional (1.ª, 2.ª e
outras)

Acidente
de trajeto
Empregador
ou in
itinere

Conceitos
Acidentes de
Trabalhador
trabalho

Estabeleci- Local de
mento trabalho

Posto de
Estaleiro
trabalho

Tais conceitos permitem representar a atividade inspetiva em resultados passíveis de tratamento


estatístico, designadamente para efeitos de cumprimento dos compromissos de informação e
comunicação internacionais, bem como da realização do relatório anual sobre o trabalho dos
serviços de inspeção. Mas sobretudo para permitir uma avaliação integrada do trabalho
desenvolvido e dos resultados alcançados que apoiarão a ACT na estratégia e planeamento futuro
e na melhoria continua da prestação do serviço público que lhe está confiado.

Nestas circunstâncias, devem ser considerados e utilizados nas atividades de controlo inspetivo e
no sistema de recolha e tratamento de dados dos sistemas de informação da ACT os conceitos a
seguir identificados.

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Referencial da Atividade Inspetiva

Conceito Definição
Processo Conjunto sequencial de atos devidamente documentados e organizados,
inspetivo praticados por inspetor no âmbito de uma intervenção inspetiva que visam
verificar o cumprimento da legislação laboral e SST, promovendo a melhoria
das condições do trabalho quer no âmbito das relações laborais privadas
quer no âmbito da Segurança e Saúde na Administração Pública.
Visita inspetiva Deslocação a um local de trabalho efetuada por inspetor do trabalho no
exercício das suas funções, tendo em vista inspecionar os locais de trabalho
verificando, avaliando e controlando o cumprimento de normas legais,
convencionais e regulamentares integradas no âmbito de competências da
inspeção do trabalho. Podem ser primeira ou segundas visitas.
Primeira visita Deslocação efetuada pela primeira vez a um local de trabalho no âmbito de
um processo inspetivo.
Segunda e Deslocação (ou deslocações) necessária à verificação do cumprimento dos
outras visitas procedimentos determinados, acompanhamento de situações laborais,
consolidação da recolha de dados necessários e concretização da
intervenção inspetiva que não tenha sido possível realizar na primeira visita.

Empregador Entidade jurídica (pessoa singular ou coletiva), com pessoas ao seu serviço,
sob sua autoridade e direção que se dedica à produção de bens e/ou
serviços.
Trabalhador Pessoa singular que se obriga, mediante retribuição, a prestar a sua
atividade a outra ou outras pessoas no âmbito da organização e sob
autoridade e direção destas.
Estabelecimento Unidade organizacional que goza de autonomia de decisão, designadamente
quanto à afetação dos seus recursos, e que compreende uma estrutura
organizativa com todos os elementos do ativo, materiais ou imateriais,
imobilizados necessários ao desenvolvimento da atividade económica,
principal ou acessória. O estabelecimento compreende um ou vários locais
de trabalho.
Local de Espaço onde o trabalhador desenvolve a sua atividade, incluindo os lugares
trabalho por onde se desloca no desempenho das suas tarefas.

Posto de Local onde o trabalhador desenvolve a sua atividade, bem como o veículo
trabalho utilizado por causa e no decurso do exercício de qualquer tarefa inerente às
funções desempenhadas.
Estaleiro Local onde se efetuam trabalhos de construção de edifícios ou outros no
domínio da engenharia civil, nomeadamente trabalhos de escavação,
terraplenagem, montagem e desmontagem de elementos pré-fabricados,
demolição, bem como os locais onde se desenvolvem atividades de apoio
direto aos mesmos.
Acidente de Aquele que se verifique no local e no tempo de trabalho e produza direta ou
trabalho indiretamente lesão corporal, perturbação funcional ou doença de que
resulte redução na capacidade de trabalho ou de ganho ou a morte.
É também considerado acidente de trabalho o ocorrido em viagem,
transporte ou circulação e motivado por causa ou no decurso do trabalho.

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Referencial da Atividade Inspetiva

Conceito Definição
Acidente de Acidente que ocorre no trajeto normalmente utilizado pelo trabalhador,
trajeto ou in qualquer que seja a direção na qual se desloca, entre qualquer dos seus
itinere locais de trabalho no caso de ter mais de um emprego, entre o seu local de
trabalho ou de formação ligado à sua atividade profissional e a sua residência
principal ou secundária, o local onde toma normalmente as suas refeições,
o local onde recebe normalmente o seu salário, o local onde ao trabalhador
deva ser prestada qualquer forma de assistência ou tratamento por virtude
de anterior acidente ou o local onde por determinação do empregador presta
qualquer serviço relacionado com o seu trabalho, do qual resulte redução na
capacidade de trabalho ou de ganho ou a morte.
Doença Perturbação da saúde contraída em consequência de uma exposição,
profissional durante um dado período de tempo, a fatores de risco decorrentes de uma
atividade profissional. De acordo com a legislação nacional são doenças
profissionais as constantes de lista codificada, bem como as lesões,
perturbações funcionais ou doenças não incluídas na lista (…) desde que se
prove serem consequência necessária e direta da atividade exercida e não
representem normal desgaste do organismo.

9.2.2. Impulso da intervenção inspetiva


A intervenção inspetiva desenvolve-se no âmbito dos planos estratégico e de atividades
aprovados, resultando também de pedidos de intervenção.

Esse enquadramento deverá privilegiar, sempre que possível, a planificação prevista nas
respetivas fichas de projeto, nomeadamente quanto aos períodos aí definidos ou que venham a
ser estipulados pela direção da ACT e/ou pelos serviços desconcentrados.

O tratamento dos pedidos de intervenção deve considerar a legitimidade do requerente, a


credibilidade da fonte e a relevância do objeto da reclamação:

 Quanto à legitimidade do requerente, esta decorre do facto de este ser ou representar o


principal destinatário da atividade inspetiva (trabalhador, entidade empregadora,
estrutura representativa de trabalhadores, associação de empregadores, ou advogado em
representação do seu cliente), ou consistir em outro organismo ou entidade da
Administração Pública com legitimidade para tal;
 No que concerne ao objeto da reclamação ou do pedido de intervenção, a priorização das
eventuais intervenções inspetivas a realizar deve obedecer aos critérios de prioridade que,
a propósito, são definidos no ponto seguinte;
 Relativamente à fonte da reclamação, a mesma deve estar identificada; podem
excecionar-se as reclamações que evidenciem claros indícios factuais de infrações laborais
e não apenas meras considerações, suspeitas e conjeturas.

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Referencial da Atividade Inspetiva

9.2.3. Prioridades de intervenção inspetiva


A priorização dos pedidos de intervenção e da consequente programação das visitas inspetivas
obedecerá a critérios objetivos e transparentes, tendo em conta os interesses em causa,
designadamente:

 Gravidade das situações;


 Número de trabalhadores abrangidos;
 Relevância dos valores sociais a promover;
 Possível efeito multiplicador gerado pela intervenção.

Devem ser objeto de prioridade, nomeadamente, as seguintes matérias:

 Acidentes de trabalho mortais ou graves;


 Situação causadora de probabilidade séria de lesão da vida ou da saúde física ou
mental dos trabalhadores;
 Assédio e discriminação;
 Trabalho não declarado, subdeclarado, irregular ou dissimulado;
 Trabalhadores vulneráveis;
 Violação do dever de ocupação efetiva;
 Redução temporária do período normal de trabalho ou suspensão do contrato de
trabalho por facto respeitante ao empregador, salários em atraso, encerramento,
despedimento por extinção de posto de trabalho e despedimento coletivo;
 Falta de pagamento pontual da retribuição;
 Proteção de direitos coletivos;
 Outras matérias que venham a ser consideradas prioritárias em sede de plano
estratégico ou de plano de atividades.

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Referencial da Atividade Inspetiva

9.2.4. Momentos da intervenção inspetiva


Identificam-se cinco momentos essenciais da ação inspetiva, apresentando-se cada um deles com
etapas próprias, cuja sucessão e desenvolvimento favorecem o resultado final da intervenção do
inspetor do trabalho.

Registo e
informação da
ação inspetiva
Preparação da
Realização da [Registos
ação inspetiva
Planeamento da ação inspetiva informáticos, Decisão do
ação inspetiva [pesquisa; dirigente
[visita(s) comunicação aos
organização;
inspetiva(s)] interessados e
contactos prévios]
elaboração da
Informação/
Relatório

Adoção de instrumentos e procedimentos inspetivos


[Transversal a todos os momentos da intervenção inspetiva]

Em cada um dos momentos de ação inspetiva o referencial permite o acesso a hiperligações que
foram desenvolvidas no sentido de agilizar o acesso aos recursos criados, em sede de preparação
da visita inspetiva na recolha de elementos na entidade visitada ou na concretização de
procedimentos, cujos modelos são disponibilizados na intranet ou no Sistema de Informação (SI)
da ACT.

O recurso ao mapeamento de processos permite a identificação de um tronco comum e


transversal à maioria das ações inspetivas, constituindo, desta forma, uma orientação de atuação
para os diversos momentos ou fases de intervenção do inspetor do trabalho.

9.2.4.1. Planeamento
Num mundo laboral em permanente mutação e adaptação às constantes e novas exigências
económicas, laborais e sociais, o planeamento deve traduzir a articulação entre a estratégia de
intervenção definida, os recursos disponíveis e os diferentes pedidos dirigidos aos serviços,
considerando os fenómenos emergentes que careçam de resposta por parte da ACT.

Numa intervenção inspetiva, a realização de visita, sendo a regra, pode, contudo, ser ponderada
e avaliada após juízo de adequabilidade e oportunidade, tendo em conta os meios disponíveis e
os resultados que se visam alcançar.

Numa perspetiva macro, este será o momento onde são equacionadas eventuais situações de
articulação com outros serviços desconcentrados ou com outras entidades, com programação de
visitas conjuntas, as quais podem ocorrer por iniciativa ou solicitação de qualquer das partes.

23
Referencial da Atividade Inspetiva

O conhecimento de diversas situações de desregulação no mesmo setor de atividade, na mesma


entidade ou na mesma área de intervenção, pode determinar o planeamento de ações específicas
que garantam resultados com efeito multiplicador.

9.2.4.2. Preparação da ação inspetiva


Na preparação da visita inspetiva, identificam-se duas etapas essenciais: pesquisa e organização
(com contactos prévios que assegurem e facilitem maior adesão e recetividade à ação inspetiva).

O planeamento e a preparação adequados da visita inspetiva são cruciais para o seu sucesso,
uma vez que o inspetor deve conhecer bem a situação e todo o seu enquadramento para definir
a metodologia mais eficaz de atuação, considerando que cada matéria a verificar poderá
pressupor conhecimentos e abordagens diferentes.

Nas ações reativas o inspetor deve equacionar um prévio contacto com o requerente da
intervenção, para lhe permitir estabilizar a informação necessária para o sucesso da intervenção
inspetiva.

Nas intervenções inspetivas impulsionadas por pedidos que relatam uma situação individualizada
- como os casos de violação do dever de ocupação efetiva, assédio no local de trabalho ou
discriminação - deve ser assegurado um contacto prévio de forma a que o inspetor conheça todos
os detalhes necessários à intervenção mas também para que o requerente seja plenamente
informado de todas as consequências e expectativas de resultados.

Por regra, a visita inspetiva realiza-se sem aviso prévio, ou seja, não é anunciada, de forma a
garantir ao inspetor a observação e verificação das condições que efetivamente existem no local
de trabalho, facilitando a evidência da prova.

Sempre que exista justificação para o efeito, a visita pode ser anunciada, no sentido de garantir
a presença de interlocutores específicos, ou no quadro de intervenções com metodologias
específicas que aconselhem esse tipo de procedimento.

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Referencial da Atividade Inspetiva

Organização
Pesquisa

Arquivo/processo da empresa
Registo no SI (antecedentes, registos de Realização da visita sem ou
procedimentos, registo acidentes de trabalho) com aviso prévio, a definir
Existência de representantes sindicais e para de acordo com o impulso e
a SST, comissão de trabalhadores) matérias objeto de
intervenção
Relatório único
Articulação com outras
Base dados Instituto Segurança Social, IP entidades sempre que
(ISS, IP) adequado ou quando
Portal da justiça estejam previstas ações
conjuntas
Legislação de enquadramento
N.º de inspetores do
Instrumento de Regulamentação Coletiva de trabalho a envolver devendo
Trabalho (IRCT) aplicável as equipas ser constituídas,
N.º de trabalhadores em regra, por dois
Código de Atividade Económica (CAE) elementos
Fluxogramas disponíveis Seleção dos recursos a
utilizar (fluxogramas, fichas
Localização da empresa e identificação do de identificação, listas de
interlocutor privilegiado, se possível verificação, policopiativos,
Matérias-primas e processo produtivo etc.)
Partilha de informação com inspetores que Seleção dos equipamentos
tenham desenvolvido (ou estejam a de proteção individual
desenvolver) ação inspetiva na mesma (EPI´s) a utilizar
entidade Ponderar o alargamento das
Outras consultas matérias

9.2.4.3. Visita inspetiva


A visita inspetiva, efetuada em regra por uma equipa de dois inspetores, é um momento
importante para verificação e recolha dos elementos necessários à ação.

Antes de iniciar a visita o inspetor do trabalho decide (dependendo da natureza e objetivos da


intervenção) quais os interlocutores essenciais ao desenvolvimento da sua intervenção, podendo
fazer-se acompanhar, se estrategicamente adequado, pelo empregador, representante dos
trabalhadores e/ou trabalhador afeto a determinado departamento/serviço, representante
sindical, técnico de segurança e saúde no trabalho e/ou médico do trabalho e perito indicado pela
ACT.

A visita deve ser feita sem acompanhamento se o inspetor do trabalho entender que a presença
de qualquer das pessoas referidas no parágrafo anterior pode impedir a recolha de informação ou
constranger a audição dos trabalhadores no local de trabalho.

25
Referencial da Atividade Inspetiva

O representante de estrutura de representação coletiva dos trabalhadores, sindical ou comissão


de trabalhadores, e o representante dos trabalhadores para a segurança e saúde no trabalho
devem ser ouvidos durante a visita.

i) Início da visita

Em regra, o inspetor deve identificar-se e informar da sua presença o empregador ou seu


representante e o(s) representante(s) dos trabalhadores na empresa, desde que tal não
prejudique o propósito da investigação. Se não se identificar no início da visita devido àquela
estratégia de investigação, o inspetor deverá sempre fazê-lo em momento posterior.

Sem prejuízo do rigoroso cumprimento do dever de sigilo, o inspetor deve identificar o objeto e
o contexto que envolve a visita a efetuar.

Deve também e desde que não se mostre contrário ao objetivo da visita, clarificar o percurso
inspetivo que vai ser realizado, o acompanhamento que é requerido e a documentação a
consultar.

Nos casos de recusa de acesso ou obstrução ao exercício da ação inspetiva, o inspetor pode
solicitar a colaboração das autoridades policiais, tomando as medidas preventivas e as
recomendações desenvolvidas no ponto relativo às vicissitudes da intervenção inspetiva.

ii) Desenvolvimento da visita

Dependendo da natureza e objetivos da intervenção, o inspetor do trabalho desenvolve a visita


pela deslocação a um ou mais postos de trabalho, verificando situações, identificando
trabalhadores, obtendo informação junto das organizações representativas de trabalhadores e/ou
solicitando/requisitando e analisando a documentação considerada pertinente e proporcionada,
no quadro dos poderes legalmente conferidos.

No decurso da visita, e sempre que seja relevante para o desenvolvimento da ação inspetiva o
inspetor pode, nomeadamente, efetuar registos fotográficos, imagens vídeo e medições, dando
do facto conhecimento ao empregador ou ao seu representante.

Visita no âmbito das relações laborais/ da segurança e saúde no trabalho

Na visita, o inspetor deve obter o máximo de elementos possíveis relativamente à situação objeto
da intervenção, devendo também verificar a afixação dos documentos obrigatórios.

O inspetor deve utilizar os métodos, instrumentos e procedimentos que, no caso concreto, forem
considerados adequados, nomeadamente os disponíveis na área de recursos partilhados da ACT
- fluxogramas, listas de verificação e outros.

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Referencial da Atividade Inspetiva

Na visita de segurança e saúde no trabalho, o inspetor deve efetuar o percurso pelo local de
trabalho de forma sistemática, de preferência seguindo o processo produtivo.

Visita no âmbito de um acidente de trabalho/doença profissional

As visitas no âmbito de inquérito de acidente de trabalho ou no âmbito de doença profissional


visam o apuramento das situações e circunstâncias que estiveram na origem do acidente de
trabalho ou da doença profissional, desencadeando o estudo das condições do trabalho na
empresa/organização em causa e uma análise global da situação de trabalho, devendo seguir as
regras e procedimentos em vigor, bem como as orientações de serviço relativas à sua realização
e registo no SI da ACT.

O inquérito destina-se a conhecer o conjunto de causas (próximas e distantes) do acidente de


trabalho. A intervenção no âmbito de doença profissional destina-se a conhecer o conjunto de
causas que contribuíram para a origem ou o agravamento da doença profissional. Ambas visam
criar condições para que aquelas causas não se repitam, designadamente através do estudo e
análise das medidas de prevenção e de proteção mais adequadas, bem como através da
implementação de medidas preventivas ou corretivas.

Destas intervenções deve resultar a proposta de aplicação e acompanhamento da implementação,


pelo empregador, das medidas de controlo dos riscos profissionais que se revelarem necessárias
à sua eliminação ou minimização.

Visita no âmbito do licenciamento industrial

As vistorias e auditorias no contexto de licenciamento industrial decorrem de acordo com a


respetiva disciplina legal.

Com efeito e no quadro das competências do inspetor do trabalho poderá este emitir parecer (de
acordo com os procedimentos previstos na plataforma da Autoridade para a Modernização
Administrativa - AMA) e realizar vistorias conjuntas com outros organismos no âmbito de
processos de licenciamento relativos à instalação, alteração e laboração de estabelecimentos,
tendo em vista a prevenção de riscos profissionais.

As visitas conjuntas efetuadas integram-se num processo de vistoria/auditoria em matéria de


segurança e saúde no trabalho e, como tal, todas as medidas de segurança determinadas pelo
inspetor são formalizadas no auto de vistoria.

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Referencial da Atividade Inspetiva

Salvaguardando-se as situações de perigo grave e iminente que exijam uma atuação imediata
por parte do inspetor do trabalho, nestas situações, terminada a visita no âmbito do licenciamento
industrial, o inspetor do trabalho deverá iniciar ação inspetiva, devendo ser tramitada como tal.

Visita conjunta

Sempre que seja identificada a necessidade de intervenção conjunta com outras entidades
(Instituto da Segurança Social - ISS, Guarda Nacional Republicana -GNR, Polícia de Segurança
Pública - PSP, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras - SEF, Autoridade Tributária - AT, …), deve
ser seguido o planeamento e preparação previamente efetuados, garantindo a articulação e
respeitando o gesto profissional de todas a entidades intervenientes, tal como:

 Conhecer e respeitar as competências e formas de intervenção de cada entidade;

 Assegurar a articulação de valências, em função da estratégia do ato inspetivo, por forma


a garantir o efeito útil da intervenção.

Sempre que sejam envolvidos profissionais de outros serviços desconcentrados da ACT, deve ter-
se em atenção:

 As estratégias definidas para a intervenção e os procedimentos a adotar perante as


irregularidades detetadas;

 A harmonização do gesto inspetivo e dos instrumentos a adotar, por forma a garantir um


entendimento lógico e previsível da intervenção.

iii) Termo da visita

No termo da visita ao local de trabalho, o inspetor do trabalho, assegurando que não coloca em
causa o objetivo da ação, deve informar:

 O empregador, ou o seu representante, sobre os resultados obtidos, os procedimentos


aplicados ou a aplicar e/ou a perspetiva sobre a atuação subsequente;

 O(s) representante(s) dos trabalhadores na empresa (elemento da comissão de


trabalhadores, delegado sindical, dirigente sindical, representante para a segurança e
saúde no trabalho) sobre os resultados obtidos e/ou perspetiva sobre a atuação
subsequente;

 Outros intervenientes, designadamente o coordenador de segurança, o técnico de


segurança, o médico do trabalho, entre outros.

28
Referencial da Atividade Inspetiva

Para esse efeito pode, nomeadamente:

 Enumerar as boas práticas relevantes verificadas, solicitando autorização para


divulgação das mesmas junto de outros empregadores e das entidades integrantes da
rede de prevenção de riscos profissionais;

 Resumir o nível de cumprimento detetado, em matéria de relações de trabalho e de


segurança e saúde no trabalho;

 Enunciar as irregularidades detetadas, o seu fundamento legal e as respetivas


consequências;

 Prestar informação sobre a forma mais adequada de regularizar/corrigir as


irregularidades identificadas;

 Assegurar que o empregador dispõe da informação necessária à consciencialização da


importância do cumprimento dos normativos em vigor;

 Fornecer informação que detenha sobre as soluções técnicas existentes que possam
facilitar o cumprimento cabal das regras legais ou elevar a melhoria das condições de
trabalho.

Etapas da visita inspetiva


Início

Termo
Desenvolvimento

O inspetor deve identificar- Dependendo da natureza e O inspetor deve informar os


se pela apresentação do objetivos da intervenção o interlocutores pertinentes
original do cartão inspetor desloca-se a um (empregador,
profissional no início da ou mais postos de trabalho representantes dos
visita. verificando as condições do trabalhadores e/ou outros)
trabalho, identificando sobre os resultados
Sempre que identifica outro
trabalhadores e obtendo obtidos, os procedimentos
interlocutor deve proceder
informação junto das aplicados ou a aplicar e/ou
da mesma forma.
organizações a perspetiva sobre a
representativas dos atuação subsequente, sem
trabalhdores (ORTs) prejuízo do objetivo da
intervenção.
Solicita/analisa a
documentação considerada
pertinente e proporcionada.

29
Referencial da Atividade Inspetiva

9.2.4.4. Análise e elaboração de informação


No seguimento da visita inspetiva, o inspetor do trabalho analisa, sistematizando, os factos
apurados e o respetivo enquadramento jurídico-legal.

Esta etapa permite determinar a eventual necessidade da realização de outros procedimentos, de


notificação para apresentação de documentos ou para determinação de nova visita inspetiva para
verificação do cumprimento de medidas anteriormente determinadas.

i) Registo da atividade inspetiva

A atividade inspetiva é obrigatoriamente objeto de registo no sistema informático existente para


o efeito.

Considerando que é necessário, a todo o momento, informação atualizada sobre a atividade


inspetiva, a inserção de dados deve ser realizada o mais próximo possível da data da ocorrência
do evento que justifica o próprio registo.

O registo dos dados respeitantes à atividade inspetiva levada a cabo pelo inspetor do trabalho,
designadamente sobre visitas, procedimentos adotados, entidades empregadoras
intervencionadas, número e natureza dos trabalhadores abrangidos pela intervenção, matérias,
apuramentos efetuados, etc., assume especial relevância, na medida em que a informação
constante do sistema de informação é essencial para, entre o mais:

 Recolha de informação necessária à definição de estratégias de intervenção por setor de


atividade, região, tipologia de irregularidades, etc.;
 Permitir a realização de análises e estudos diversos sobre o cumprimento da lei;
 Apoiar a tomada de decisões por parte da respetiva direção;
 Avaliar os resultados das atividades desenvolvidas pela ACT no quadro das estratégias
nacionais de intervenção que as enquadram;
 Avaliar o desempenho dos serviços e dos respetivos dirigentes e funcionários;
 Dar resposta às necessidades de produção de informações e estatísticas decorrentes de
imperativos legais ou de compromissos internacionais assumidos pelo Estado português;
 Fornecer informação relevante ao inspetor do trabalho sobre as entidades empregadoras,
no âmbito do processo de recolha de informação, previamente à realização de visita
inspetiva.

ii) Realização de segunda ou outras visitas

Quando no âmbito do processo inspetivo o inspetor do trabalho suspenda trabalhos em curso ou


determine a adoção de medidas de prevenção - quer em matéria de relações de trabalho, quer

30
Referencial da Atividade Inspetiva

de segurança e saúde no trabalho - deve realizar uma segunda visita inspetiva, para verificar o
nível de cumprimento e regularização das medidas que tenha determinado, a não ser que a
verificação do cumprimento se possa realizar por meios que, sem prejuízo para a efetividade da
ação inspetiva, dispense nova presença do inspetor no local de trabalho.

iii) Formato e conteúdo do relatório da informação

O relatório/informação de intervenção inspetiva constitui uma importante fonte de informação e


deve conter todos os dados relevantes que sustentam a tomada de decisão.

O relatório é o reporte escrito dos resultados obtidos na(s) visita(s) inspetiva(s) efetuada(s) e na
análise documental, no qual se relata a situação denunciada (se for o caso), a situação
encontrada, o que foi averiguado, os procedimentos adotados (ou não) e a sua fundamentação,
bem como a avaliação final da intervenção inspetiva, considerando os objetivos predefinidos e os
resultados alcançados, isto é, o grau de transformação do local de trabalho onde ocorreu a ação,
salientando, também, as irregularidades voluntariamente corrigidas e a consequente melhoria
das condições do trabalho.

Salienta-se a importância da adoção de um formato padronizado para os relatórios de intervenção


inspetiva, na medida em que só assim é possível assegurar a orientação do processo de
apuramento dos factos e, concomitantemente, agregar, interpretar e comparar as respetivas
informações.

O relatório deve ser claro, objetivo, concreto e sucinto, seguindo a estrutura constante do SI:

0. Gestão

1. Empregador

2. Impulso da ação inspetiva (Plano de atividades/solicitação externa/outra);

3. Objetivo da ação (domínio das relações de trabalho e/ou de segurança e saúde no trabalho
com identificação concreta das matérias);

4. Caracterização da ação (sua abrangência, metodologia e interlocutores, descrição factual


e análise);

5. Procedimentos;

6. Conclusão (menção do resultado obtido, nomeadamente do grau de transformação do local


de trabalho).

A este propósito importa salientar que os procedimentos de ação inspetiva adotados devem
constar em anexo à respetiva informação.

31
Referencial da Atividade Inspetiva

9.2.4.5. Decisão do dirigente


Após a análise do relatório/informação do processo inspetivo, elaborado no SI da ACT, este é
objeto de decisão pelo dirigente, ao qual incumbe, designadamente:

 Apreciar da suficiência, coerência e da adequação da investigação realizada;

 Apreciar da legalidade dos procedimentos adotados;

 Assegurar a comunicação institucional entre a ACT e as entidades externas ao processo


(tribunais, entidades e autoridades públicas, etc.) e, em sede de conclusão do processo
inspetivo, com as entidades que o impulsionaram bem como com a entidade empregadora
alvo da intervenção.

As decisões do dirigente, relativamente ao relatório/informação do processo inspetivo, podem


ser:

 Concordância com as propostas efetuadas;

 Correção ou esclarecimento;

 Regresso ao inspetor do trabalho para acompanhamento;

 Envio do resultado final aos destinatários propostos, ou outros;

 Encerramento do processo e subsequente arquivamento.

Disponibilização do relatório/informação

Enquanto não for proferida decisão final o relatório de intervenção inspetiva não pode ser
divulgado.

Trata-se de uma forma de assegurar, simultaneamente, a procura da verdade material, a


proteção relativamente a influências externas indevidas e a preservação da confidencialidade de
eventuais fontes de denúncia e de segredos de comércio e fabrico.

Muita da informação contida no relatório diz respeito a condições/factos particulares de


determinado local de trabalho, que foram recolhidos pelo inspetor, considerando a sua pertinência
e utilidade para a boa resolução de situações concretas – circunstância que tende a limitar a
possibilidade de utilização da informação por outros.

O mesmo se diga da importância do cumprimento legal relativamente à proteção de dados


pessoais (dos trabalhadores e outros) decorrentes da intervenção inspetiva, documentação
analisada, etc.

32
Referencial da Atividade Inspetiva

Após decisão final e arquivamento do processo, o acesso ao relatório de intervenção inspetiva


far-se-á ao abrigo da lei de acesso aos documentos administrativos. Assim, este documento é de
acesso livre e generalizado, desde que expurgado de informação legalmente reservada. A referida
lei, mesmo nos documentos administrativos de acesso restrito, permite a sua comunicação parcial
sempre que seja possível expurgar a informação relativa à matéria reservada.

O expurgo de todos os elementos e informações reservadas, nos termos dos normativos


mencionados, deve ser efetuado de forma a garantir a total confidencialidade dos interlocutores
e pessoas visadas com a ação inspetiva, os segredos de fabrico ou de comércio ou de processos
de exploração, bem como das fontes de denúncia.

No final do processo inspetivo (ou durante a sua execução se tal se justificar) deve ser prestada
informação escrita nos seguintes termos:

 À entidade empregadora sobre a conclusão e arquivamento do processo inspetivo,


referindo a adoção de procedimentos coercivos se existirem e nesse caso, informação
sucinta sobre a sequencia e tramitação que os mesmos seguirão;
 Ao denunciante/queixoso nos termos do Despacho n.º 45/IGT/2011.

A informação a pessoas ou entidades, que não o empregador ou o seu representante, sobre os


procedimentos inspetivos a aplicar, não pode:

- Ser transmitida em momento anterior àquele em que o empregador ou o seu


representante dela possa ter conhecimento (por exemplo, só deve ser dada informação
sobre a adoção de procedimento coercivo depois de o infrator ser informado do mesmo);
- Causar prejuízo à autoridade ou à imparcialidade dos inspetores do trabalho que devem
estar salvaguardados de influências externas inconvenientes (artigos 3.º, n.º 2 e 6.º da
Convenção n.º 81 da OIT).

Concluído o processo inspetivo deve ser devolvida a documentação original solicitada, devendo
ficar arquivada no processo cópia da documentação que sustente todas as decisões tomadas no
âmbito da intervenção inspetiva.

33
Referencial da Atividade Inspetiva

9.2.4.6. Vicissitudes da intervenção inspetiva

Prevenção de incidentes durante a inspeção

 Estudo do processo documental da empresa, incluindo o registo de incidentes no SI.


 Identificação de potenciais empresas de risco e obrigação de registo imediato de qualquer
incidente.
 Âmbito ou natureza das questões suscitadas: inspeções noturnas, empresas isoladas e
trabalho totalmente não declarado determinam cuidados acrescidos.
Face aos indícios recolhidos na preparação da visita inspetiva deve equacionar-se:
 Equipas, em regra, com um mínimo de 2 inspetores do trabalho;
 Utilização de telemóvel com o contacto do superior hierárquico e da autoridade policial
mais próxima do local da intervenção;
 Recolha de informações junto de outros serviços públicos;
 Contatos com autoridade policial para agendar intervenção conjunta.

Atitude a adotar durante a inspeção

 Estacionar a viatura de forma a assegurar uma partida rápida.


 Ao chegar ao local, identificar-se de forma clara, exibindo o cartão de identificação.
 Perante dificuldades injustificadas de entrada, esclarecer o interlocutor sobre o seu poder
para visitar e inspecionar qualquer local de trabalho, a qualquer hora do dia ou da noite e
sem necessidade de aviso prévio.
 Mantendo-se a oposição, a empresa deve ser informada sobre as consequências penais que
tal comportamento implica.
 Persistindo a recusa, deve solicitar-se o apoio das autoridades policiais e contactar o
superior hierárquico.
 Durante a visita, em situações aparentemente suspeitas, ter em mente a configuração das
instalações e não se deixar conduzir para locais isolados.
 Adequar o gesto, a linguagem e a postura ao interlocutor.
 Interromper a visita inspetiva e abandonar o local, se considerar que as circunstâncias em
que se encontra a realizar a sua missão (agressividade, linguagem ofensiva, insultos,
violência, ameaças, etc.) não permitirem efetuar a inspeção em condições normais e
poderem conduzir à violação da sua integridade física ou moral.

Diligências a adotar no seguimento de visita inspetiva não concretizada

 Se adequado, recorrer de imediato às autoridades policiais, dando conhecimento ao


superior hierárquico e realizar nova visita inspetiva.
 Não sendo adequado, regressar ao serviço, elaborar relatório detalhado dirigido ao superior
hierárquico, com vista a definir os procedimentos para uma nova inspeção, sem prejuízo
de outras ações que venham a ser consideradas oportunas.

34
Referencial da Atividade Inspetiva

10. Procedimentos inspetivos

A ação inspetiva, em qualquer das suas modalidades, tem sempre como objetivo a promoção da
melhoria das condições do trabalho, em todas as suas vertentes.

No decurso de uma ação inspetiva, o inspetor do trabalho promove a melhoria das condições do
trabalho, adotando o procedimento inspetivo mais adequado à situação concreta, de acordo com
os critérios legais enquadradores de cada procedimento tendo por base os princípios da
legalidade, imparcialidade, proporcionalidade e igualdade no tratamento das diversas situações.

Advertência

Auto de
Suspensão
advertência

Trabalho digno
Trabalho seguro
Legalidade
Igualdade
Coerência Auto de
Participação
Consistência notícia
Equidade
Eficácia
Prevenção
Dissuasão

Notificação
para Notificação
apuramento para tomada
de quantias medidas
em dívida
Inquérito de
acidentes de
trabalho

Todos os procedimentos inspetivos devem ser formalizados e assinados pelo inspetor que os
assume.

35
Referencial da Atividade Inspetiva

Os procedimentos de ação inspetiva não constituem um fim em si mesmos - antes, devem ser
entendidos como meras ferramentas ou instrumentos cuja adoção se destina exclusivamente a
assegurar a consecução da função de inspeção do trabalho em cada local de trabalho.

Devem, pois, ser entendidos como meios através dos quais o inspetor do trabalho procura garantir
a melhoria das condições do trabalho nos locais de trabalho objeto da sua ação e incluem:

 Recomendação;
 Advertência;
 Autos:
− Auto de advertência;
− Auto de notícia.
 Notificações:

− Notificações com prazo:

- Notificação para apresentação de documentos;


- Notificação para apuramento de quantias em dívida aos trabalhadores;
- Notificação para apuramento de quantias em dívida à segurança social;
- Notificação para tomada de medidas de segurança e saúde no trabalho.

− Notificações imediatamente executórias

- Notificação para fazer cessar de imediato a atividade de menor;


- Notificação para suspensão imediata de trabalhos;
- Notificação de autorização para recomeço de trabalhos.
 Participações:

− Participação;

− Participação a entidade externa:

- Participação ao Ministério Público;


- Participação-crime;
- Participação a outras entidades.
 Procedimentos específicos em caso de inadequação do vínculo que titula a prestação
de uma atividade em condições correspondentes às do contrato de trabalho
− Auto por inadequação do vínculo que titula a prestação de uma atividade em
condições correspondentes às do contrato de trabalho;
− Notificação para regularização da situação do trabalhador identificado em
caso de inadequação do vínculo que titula a prestação de uma atividade em
condições correspondentes às do contrato de trabalho;

36
Referencial da Atividade Inspetiva

− Participação da inadequação do vínculo que titula a prestação de uma


atividade em condições correspondentes às do contrato de trabalho;
 Inquéritos:

− Inquérito de acidente de trabalho.

Recomendação

A recomendação é um procedimento de natureza não coerciva, utilizado no âmbito da atividade


de controlo inspetivo, suportado em referenciais técnicos reconhecidos, relativamente a
factualidades omissas - não previstas especificamente na lei ou não tipificadas como
contraordenação -, traduzindo uma atividade de conselho sobre a melhor forma de lhes dar
cumprimento (artigos 3.º, n.º 1, alínea b) e 17.º, n.º 2 da Convenção n.º 81 da OIT, artigos 6.º,
n.º 1, alínea b) e 22.º, n.º 2 da Convenção n.º 129 da OIT e artigo 5.º, n.º 1 do Estatuto da
Inspeção-Geral do Trabalho).

Advertência

A advertência encontra-se prevista no artigo 17.º, n.º 2 da Convenção n.º 81 da OIT e no artigo
22.º, n.º 2 da Convenção n.º 129 da OIT, nos quais é consagrada a possibilidade do inspetor do
trabalho fazer advertências ou dar conselhos em lugar de intentar ou recomendar quaisquer
procedimentos.

A adoção deste procedimento deve ter em consideração o comportamento do infrator e a eficácia


esperada quanto aos resultados e prioridades da ação inspetiva, podendo ser adotado sempre
que:

− a contraordenação consista em irregularidade sanável da qual não resulte já consolidado,


de forma irrecuperável, um prejuízo sério para os trabalhadores ou para terceiros, para a
administração do trabalho ou para a segurança social;
− não existam indícios que permitam inferir da existência de conduta dolosa no
incumprimento da lei;
− fundar-se num juízo de prognose sobre a adesão ao cumprimento da lei por parte da
entidade inspecionada .

Caso haja incumprimento das medidas advertidas devem ser adotados procedimentos coercivos.

37
Referencial da Atividade Inspetiva

Auto de Advertência

O auto de advertência é aplicável relativamente a infrações classificadas como leves e das quais
ainda não tenha resultado prejuízo grave para os trabalhadores, para a administração do trabalho
ou para a segurança social (artigo 10.º, n.º 1, alínea d) do regime processual das
contraordenações laborais e da segurança social).

Deve conter a indicação da infração verificada, as medidas recomendadas ao infrator e o prazo


para o seu cumprimento.

Caso não sejam cumpridas as medidas recomendadas devem ser adotados procedimentos
coercivos.

No caso de levantamento de auto de notícia por desrespeito das medidas recomendadas em auto
de advertência, a coima pode ser elevada até ao valor mínimo do grau que corresponda à infração
praticada com dolo.

A medida do incumprimento das recomendações constantes de auto de advertência é atendível


na determinação da medida da coima.

Notificação para apresentação de documentos

No exercício da sua atividade o inspetor pode requisitar com efeitos imediatos ou notificar para
apresentação nos serviços da ACT (presencialmente, via postal ou via correio eletrónico – esta
última privilegiando a celeridade e economia processual) , para examinar e copiar, documentos e
outros registos que interessem para o esclarecimento de factos relevantes no domínio das
relações de trabalho e da segurança e saúde no trabalho (artigo 11.º, n.º 1, alínea e) do Estatuto
da Inspeção-Geral do Trabalho).

A notificação para apresentação de documentos é um procedimento de apoio à investigação,


devendo o número de documentos solicitados restringir-se ao estritamente necessário e que não
seja possível obter através de outra forma, nomeadamente, mediante documentação já entregue
nos serviços da ACT no âmbito de outros processos inspetivos e informação prestada através de
comunicações obrigatórias aos serviços da administração pública e a que a ACT tenha
possibilidade de aceder.

O incumprimento da notificação para apresentação de documentos, para além de se constituir


como uma contraordenação leve, prevista no artigo 552.º, n.º 2 do Código do Trabalho e no
artigo 13.º, n.º 2 do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho, é também suscetível de configurar
a prática de um crime de desobediência qualificada, nos termos previstos, designadamente, no
artigo 547.º, alíneas a) e b) do Código do Trabalho e no artigo 348.º, n.º 2 do Código Penal.

O incumprimento da notificação para apresentação de documentos traduz-se, em regra, no

38
Referencial da Atividade Inspetiva

levantamento de um auto de notícia pela prática da correspondente contraordenação leve e,


concomitantemente, no envio de participação ao Ministério Público, acompanhada do respetivo
auto de notícia e da notificação para apresentação de documentos em causa.

Notificação para apuramento de quantias em dívida aos trabalhadores e/ou à


segurança social

Trata-se de um procedimento de ação inspetiva que visa assegurar o pagamento de quantias


devidas a trabalhadores ou à segurança social (artigo 7.º, ns. 4, 5 e 6, do Estatuto da Inspeção-
Geral do Trabalho).

O apuramento de quantias em dívida é obrigatório quando estejam em causa créditos dos


trabalhadores, podendo também ser efetuado relativamente a créditos da segurança social (artigo
7.º, n.º 5 do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho), devendo, neste caso, ser a situação
comunicada ao ISS.

No entanto, tratando-se de créditos à segurança social relativos a falso trabalho independente,


falta de comunicação obrigatória da admissão de trabalhadores à segurança social ou trabalho
não declarado, tal apuramento é obrigatório (artigo 7.º n.º 6 do Estatuto da Inspeção-Geral do
Trabalho).

O apuramento de quantias em dívida deve atender ao prazo de prescrição da infração que estiver
em causa, indicar as disposições legais ou convencionais infringidas, o(s) trabalhador(es)
concretamente afetado(s), o período a que respeita, e sendo caso disso, as medidas
recomendadas ao infrator e o respetivo prazo.

Em caso de incumprimento pelo empregador da notificação referida, o apuramento realizado pelo


inspetor constitui título executivo (artigo 16.º, ns. 4 e 5, do Estatuto da Inspeção-Geral do
Trabalho).

Notificação para tomada de medidas de segurança e saúde no trabalho

Constitui o procedimento inspetivo adequado à determinação das modificações necessárias a


assegurar, nos postos de trabalho, o cumprimento das disposições relativas à segurança e saúde
dos trabalhadores, dentro de um prazo fixado pelo inspetor (artigo 13.º, n.º 2, alínea a) da
Convenção n.º 81 da OIT e artigo 10.º, n.º 1, alínea c) do Estatuto da Inspeção-Geral do
Trabalho).

Na notificação para tomada de medidas devem constar, entre outras, as seguintes indicações:
número de trabalhadores afetados, descrição das situações irregulares verificadas, medidas de

39
Referencial da Atividade Inspetiva

prevenção e proteção da segurança e saúde dos trabalhadores a implementar e o respetivo prazo


para cumprimento (artigo 10.º, n.º 4 da Lei n.º 107/2009).

O inspetor deve, sempre que possível, referir quais as situações que darão origem ao
levantamento de auto de notícia.

Notificação para a suspensão imediata de trabalhos

A notificação para suspensão imediata de trabalhos destina-se, no essencial, a fazer cessar, de


imediato, os trabalhos em curso que representem um perigo grave ou probabilidade séria da
verificação de lesão da vida, integridade física ou saúde dos trabalhadores.

Tem sustentação jurídica no artigo 10.º, n.º 1, alínea d) do Estatuto da Inspeção-Geral do


Trabalho, no artigo 10.º, n.º 1, alínea c) da Lei n.º 107/2009, no artigo 13.º, n.º 2, alínea c) da
Convenção n.º 81 da OIT e no artigo 18.º, n.º 2, alínea b) da Convenção n.º 129 da OIT.

Da notificação para a suspensão imediata de trabalhos deve constar a identificação:

− do empregador, do local de trabalho e da sede;

− do número de identificação fiscal do empregador;

− da data e hora da adoção do procedimento inspetivo;

− das situações verificadas causadoras da probabilidade séria de lesão da vida,


integridade física ou saúde dos trabalhadores;

− dos trabalhos imediatamente suspensos.

A notificação de suspensão imediata de trabalhos deve ser assinada pelo notificado que deve
também indicar a qualidade em que assina e o número de identificação civil.

O infrator deve ser advertido que o incumprimento da notificação é suscetível de configurar a


prática de um crime de desobediência, nos termos do artigo 348.º, n.º 1, do Código Penal.

Tendo em conta a gravidade dos riscos em termos de probabilidade de ocorrência e severidade


dos danos a que estiveram sujeitos os trabalhadores, as infrações subjacentes a uma notificação
para suspensão imediata de trabalhos devem ser objeto de levantamento do competente auto de
notícia.

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Referencial da Atividade Inspetiva

Notificação de autorização para recomeço de trabalhos

Os trabalhos que tenham sido suspensos por via de uma notificação para suspensão imediata de
trabalhos só podem ser retomados com autorização expressa do inspetor do trabalho, nos termos
previstos no artigo 10.º, n.º 2 do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho.

Tal autorização é formalizada através da adoção, pelo inspetor do trabalho, de uma notificação
de autorização para recomeço de trabalhos, após análise e avaliação favorável das medidas de
prevenção e proteção propostas pelo infrator - constantes do requerimento por este apresentado
à ACT a requerer a autorização para a retoma dos trabalhos - e após nova visita inspetiva para
comprovar essas medidas, caso necessário.

Notificação para fazer cessar de imediato a atividade de menor

O inspetor do trabalho deve notificar o empregador para fazer cessar de imediato a atividade de
menor, quando verificar:

1. A prestação de trabalho por parte de menor que não tenha completado a idade mínima de
admissão (16 anos de idade), não tenha concluído a escolaridade obrigatória e não disponha
de capacidades físicas e psíquicas adequadas ao posto de trabalho.
2. A prestação de atividade por menor, em trabalhos que, pela sua natureza ou pelas condições
em que são prestados, sejam prejudiciais ao seu desenvolvimento físico, psíquico e moral
e, como tal, sejam proibidos ou condicionados, nomeadamente no que concerne às
atividades, agentes, processos e condições de trabalho proibidos ou condicionados a menor,
previstos nos artigos 61.º a 72.º do regime jurídico da promoção da segurança e saúde no
trabalho.
Importa notar que a prática dos factos acima descritos, para além de constituir contraordenação
muito grave (no caso do exercício, por menor, de qualquer das atividades proibidas previstas nos
artigos 61.º a 66.º do referido regime jurídico, nos termos do artigo 67.º do mesmo regime), é
também suscetível de configurar a prática do crime de utilização indevida de trabalho de menor
(artigo 82.º do Código do Trabalho).

Neste contexto, quando verificados os factos acima referidos, e sem prejuízo da elaboração e
entrega ao empregador da notificação para fazer cessar de imediato a atividade de menor, o
inspetor do trabalho deverá também levantar os competentes autos de notícia, elaborar e remeter
ao Ministério Público a competente participação-crime (juntamente com os autos de notícia
referentes às contraordenações cometidas), ao mesmo tempo que deverá também remeter a
competente participação à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens do município no qual
ocorreu a referida prática.

41
Referencial da Atividade Inspetiva

Da notificação para fazer cessar de imediato a atividade de menor deve constar, designadamente,
a identificação do empregador e do respetivo representante legal, data, hora e local da verificação
da infração, identificação completa do menor e respetiva escolaridade, descrição da atividade
concreta que se encontrava a realizar o menor, quadro normativo sustentador da notificação e
cominação de que se o empregador não fizer cessar de imediato a atividade do menor, incorre
no crime de desobediência qualificada (conforme disposto no artigo 83.º do Código do Trabalho
e no artigo 348.º n.º 2 do Código Penal).

Auto de notícia

O auto de notícia é um procedimento coercivo que, também ele, visa assegurar o cumprimento
da lei no sentido de promover a melhoria das condições do trabalho.

Sustentado juridicamente no artigo 17.º, n.º 1 da Convenção n.º 81 da OIT, no artigo 22.º, n.º
1 da Convenção n.º 129 da OIT, nos artigos 6.º, n.º 1 e 7.º, n.º 1 do Estatuto da Inspeção-Geral
do Trabalho e nos artigos 10.º, n.º 1, alínea d) e 13.º, ns. 1 e 3 da Lei n.º 107/2009, o auto de
notícia deve ser levantado pelo inspetor do trabalho quando, no exercício das suas funções,
verificar ou comprovar, pessoal e diretamente, ainda que por forma não imediata, qualquer
infração a normas integradas no âmbito de competência da ACT punível com coima.

É essencial que o auto contenha todos os factos que permitam caracterizar, como
contraordenação, o comportamento praticado ou omitido.

Do auto de notícia deve constar, designadamente:

− a data e hora do levantamento do auto;


− o nome e a categoria do autuante;
− a identificação e a residência do infrator;
− a sede da pessoa coletiva e a identificação e residência de todos os respetivos
gerentes, administradores ou diretores (quando o responsável pela
contraordenação for uma pessoa coletiva ou equiparada);
− a identificação e a residência do subcontratante e do contratante principal (no caso
de subcontrato);
− as disposições legais infringidas;
− a moldura sancionatória aplicável;
− os factos que constituem a contraordenação e que foram verificados pelo inspetor
do trabalho, incluindo os referentes à imputação subjetiva;
− a data, a hora, o local e circunstâncias em que foram praticados;
− os elementos de prova disponíveis.

42
Referencial da Atividade Inspetiva

O levantamento do auto de notícia deve ser efetuado, por regra, em período de tempo próximo
da data do inicio da intervenção inspetiva, marcada pela visita à entidade empregadora, que
decida pela adoção de procedimentos coercivos.

Participação

Procedimento adotado para a prática de infrações que constituem contraordenações laborais mas
que, não obstante se inscreverem no âmbito das atribuições e competências do inspetor do
trabalho, este não verificou nem comprovou pessoalmente a sua prática (artigos 6.º, n.º 1 e 8.º,
n.º 1 do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho e artigos 10.º, n.º 1, alínea d) e 13.º, nºs 1 e 4
do regime processual das contraordenações laborais e da segurança social).

Deve ser instruído com os seguintes elementos: provas de que disponha; identificação e
residência de, pelo menos, duas testemunhas e o máximo de cinco, independentemente do
número de contraordenações em causa; nome e categoria do participante; disposições legais
infringidas; factos que constituem a contraordenação (incluindo os respeitantes à imputação
subjetiva); dia, hora, local e circunstâncias em que foram cometidos; identificação e residência
do infrator (se for uma pessoa coletiva, sede, identificação e residência dos respetivos gerentes,
administradores ou diretores e, no caso de subcontratado, identificação e residência do
subcontratante e do contratante principal) e de eventuais responsáveis solidários e em
comparticipação.

Participação a outras entidades

Comunicação através da qual se dá informação a outras entidades de situações irregulares


relacionadas com as condições do trabalho que se enquadrem no âmbito das suas competências
(artigo 10.º n.º 1 alínea i) do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho).

Nesta participação devem constar, nomeadamente, os seguintes elementos: norma legal ao


abrigo da qual é efetuada; nome e categoria do participante; factos que constituem a infração e
normas legais violadas; dia, hora, local e circunstâncias em que a infração foi praticada; elemento
subjetivo, suscetível de permitir aquilatar o grau de culpa ou dolo do agente; a identificação dos
agentes (nome/denominação social, número de identificação fiscal (NIF), morada/sede social,
representantes legais, etc.); e, bem assim, as provas de que o participante disponha e a
identificação e residência de eventuais testemunhas.

Participação-crime (Denúncia obrigatória)

Nos termos dos artigos 241.º e 242.º, n.º 1, alínea b) do Código de Processo Penal, é obrigatória
a denúncia ao Ministério Público dos factos suscetíveis de configurar algum crime, previsto e

43
Referencial da Atividade Inspetiva

punido no Código Penal ou outra legislação, nomeadamente no Código do Trabalho, quando o


inspetor deles tomar conhecimento no exercício das suas funções ou por causa delas.

Desta participação devem constar, designadamente, as seguintes indicações: norma legal ao


abrigo da qual é efetuada; nome e categoria do participante; factos que constituem o crime;
normas legais violadas; dia, hora, local e circunstâncias em que o crime foi cometido; elemento
subjetivo suscetível de indiciar ou comprovar a consciência do agente relativamente à ilicitude do
ato e à censurabilidade da sua prática, bem como a sua intenção de realizar o facto, a previsão
do facto como consequência necessária da sua conduta, ou a conformação da realização do facto
como consequência possível da sua conduta; e tudo o mais que tiver sido apurado acerca da
identificação dos agentes (nome/denominação social, NIF, morada/sede social, representantes
legais, etc.) e dos ofendidos, bem como os meios de prova conhecidos, nomeadamente das
testemunhas que puderem depor sobre os factos.

São comunicadas ao Ministério Público, para efeitos de instauração de procedimento criminal,


nomeadamente, as seguintes situações (cfr. artigo 10.º, n.º 1, alínea i) do Estatuto da Inspeção-
Geral do Trabalho:

- Utilização indevida de trabalho de menor (artigo 82.º do Código do Trabalho);


- Atos proibidos em caso de encerramento temporário (artigos 313.º e n.º 2 do 316.º do
Código do Trabalho);
- Encerramento ilícito (artigo 316.º n.º 1 do Código do Trabalho);
- Crimes contra autonomia e independência das estruturas representativas dos
trabalhadores (artigos 405.º e 407.º do Código do Trabalho);
- Retenção de quota sindical (artigo 459.º do Código do Trabalho);
- Substituição de grevistas (artigos 535.º e 543.º do Código do Trabalho);
- Coação, prejuízo ou discriminação de trabalhador por motivo de adesão ou não à greve
(artigos 540.º e 543.º do Código do Trabalho);
- Burla relativa a trabalho ou emprego (artigo 222.º do Código Penal);
- Violação de regras de segurança (artigo 152.º-B do Código Penal);
- Escravidão e Tráfico de Pessoas (artigos 159.º e 160.º do Código Penal);
- Insolvência dolosa e negligente (artigos 227.º e 228.º do Código Penal);

Participação-crime por desobediência

São comunicadas ao Ministério Público, para efeitos de instauração de procedimento criminal, as


seguintes situações:

 Desobediência à notificação de suspensão imediata de trabalhos (artigo 348.º do

44
Referencial da Atividade Inspetiva

Código Penal conjugado com artigo 10.º, n.º 1, alínea d) do Estatuto da Inspeção-
Geral do Trabalho, e artigo 10.º, n.º 1, alínea c) do regime processual das
contraordenações laborais e da segurança social);
 Desobediência à notificação para cessação imediata do trabalho de menor com idade,
habilitação ou capacidade física e psíquica inferior à legal ou que realize trabalhos
proibidos (artigo 348.º do Código Penal conjugado com o artigo 83.º do Código do
Trabalho);

 Falta deliberada de apresentação à ACT dos documentos e outros registos por esta
requisitados que sejam essenciais para o esclarecimento de quaisquer situações
laborais e/ou que sejam ocultados, destruídos ou danificados (artigo 348.º do Código
Penal conjugado com artigo 547.º do Código do Trabalho).

Da participação-crime por desobediência devem constar os mesmos elementos que em qualquer


outra participação-crime.

Procedimentos específicos em caso de inadequação do vínculo que titula a prestação


de uma atividade em condições correspondentes às do contrato de trabalho

No quadro do combate à ocultação ou dissimulação de relações de trabalho subordinado foi criado


um instrumento que permite à ACT desencadear um processo com vista ao reconhecimento pelo
tribunal da situação do trabalhador e consequente alteração da sua qualificação jurídica.
Para tal foi definido o conjunto de procedimentos e circuitos infra descritos por forma a permitir
a operacionalização deste novo regime e a prossecução eficaz do objetivo pretendido.

Auto por inadequação do vínculo que titula a prestação de uma atividade em


condições correspondentes às do contrato de trabalho

Procedimento previsto no artigo 15.º-A do regime processual das contraordenações


laborais e da segurança social a utilizar quando o inspetor considere estarem reunidas as
condições para adoção de procedimento coercivo relativamente a uma situação de
inadequação do vínculo que titula a prestação de uma atividade em condições
correspondentes às do contrato de trabalho.

Do auto devem constar os factos verificados que indiciem a existência de uma relação de
trabalho, dando particular relevo/ênfase ao elemento da subordinação jurídica.

Notificação para regularização da situação do trabalhador identificado em caso


de inadequação do vínculo que titula a titula a prestação de uma atividade em

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Referencial da Atividade Inspetiva

condições correspondentes às do contrato de trabalho

Notificação da entidade beneficiária da atividade para, no prazo de 10 dias, demonstrar a


regularização da situação do trabalhador, apresentando documentos que provem o
reconhecimento da existência de contrato de trabalho por tempo indeterminado desde a
data do início da relação laboral ou se pronunciar dizendo o que tiver por conveniente.

Participação ao MP por inadequação do vínculo que titula a prestação de uma


atividade em condições correspondentes às do contrato de trabalho

Esta participação permite ao Ministério Público dar início ao processo de natureza urgente,
relativo à ação de reconhecimento da existência de contrato de trabalho (artigo 26.º, n.º
6 do Código de Processo do Trabalho.

A participação deve remeter para o auto elaborado pelo inspetor, que assume o caráter de
participação e deve ser enviada ao Ministério Público se a situação do trabalhador em
causa não for devidamente regularizada pela entidade beneficiária da atividade dentro do
prazo concedido.

Diferentemente de outros procedimentos inspetivos, os previstos no artigo 15.º-A da Lei


n.º 107/2009 têm um caráter de dupla instrumentalidade uma vez que têm a função de
desencadear uma ação de reconhecimento do contrato de trabalho.

Inquérito de acidente de trabalho

O inquérito de acidente de trabalho é um instrumento de prevenção por excelência.

O inquérito consubstancia a investigação levada a cabo sobre as circunstâncias em que ocorrem


acidentes de trabalho com vista ao desenvolvimento de medidas de prevenção adequadas nos
locais de trabalho.

Estes inquéritos são efetuados:

− Nos casos determinados legalmente (artigo 10.º, n.º 1, alínea e) do Estatuto da


Inspeção-Geral do Trabalho);
− A pedido do Ministério Público junto dos Tribunais, caso em que têm como
característica serem urgentes e sumários.

As regras e metodologias a adotar na ação inspetiva, no domínio dos acidentes de trabalho,


constam de orientações internas da ACT.

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Referencial da Atividade Inspetiva

10.1. Outros apoios à atividade inspetiva


O inspetor do trabalho, quando necessário, propõe ao dirigente o apoio de outras entidades,
existindo o dever recíproco de estas prestarem a colaboração que lhes for solicitada, dentro dos
limites legais (artigo 17.º do Estatuto da Inspeção-Geral do Trabalho), designadamente no que
concerne:

 Ao apoio de peritos externos – p. ex., em caso de acidente, ou outras ocorrências


potenciadoras de acidente ou doença profissional;
 À colaboração das autoridades policiais (PSP e GNR) no sentido de assegurar a
realização das ações inspetivas em condições de segurança pessoal, nomeadamente
quando existam circunstâncias indiciadoras de ambiente hostil, bem como, sempre que
a natureza das ações inspetivas a levar a cabo assim o exijam;
 À colaboração de outros serviços da administração pública com funções inspetivas, para
participação em ações inspetivas conjuntas, em razão da transversalidade das matérias
em análise (caso da Segurança Social e da Inspeção Tributária, no caso do trabalho não
declarado; do SEF, no caso de estrangeiros extracomunitários; etc.);
 Ao apoio de outros serviços da administração pública, no fornecimento de informação
essencial à análise e avaliação das relações de trabalho, com os limites previstos na lei;
 À colaboração das entidades policiais na disponibilização de relatórios de ocorrências e
registos fotográficos;
 Ao apoio de outras entidades, públicas ou privadas, na elaboração e disponibilização de
relatórios de peritagem de máquinas e equipamentos de trabalho;
 Ao apoio do Instituto de Seguros de Portugal e das companhias de seguros, no
fornecimento de certidões, declarações e informações relevantes, respeitantes a
seguros de acidentes de trabalho, respetivos beneficiários, segurados e coberturas;
 Ao apoio do Instituto de Medicina Legal, médicos e hospitais, no fornecimento dos
relatórios das autópsias realizadas.

Relativamente ao apoio das autoridades policiais (PSP ou GNR), para garantir a realização da
intervenção inspetiva em condições de segurança pessoal, o inspetor do trabalho pode solicitar
essa colaboração diretamente àquelas entidades, quando existam razões imediatas e
imprevisíveis que assim o justifiquem.

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Referencial da Atividade Inspetiva

Resumo
A Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) é um serviço do Estado que visa a promoção
da melhoria das condições de trabalho através do controlo do cumprimento do normativo laboral
no âmbito das relações laborais e pela promoção da segurança e saúde no trabalho.

Os novos desafios colocados à inspeção do trabalho a nível nacional e internacional, decorrentes


da globalização, das novas formas de organização do trabalho, do desemprego, do trabalho não
declarado, dos novos riscos emergentes e da crescente precarização das relações de trabalho,
impõem a adoção de estratégias harmonizadas e concertadas de intervenção para garantir uma
maior eficácia nos resultados.

Neste contexto, foi desenvolvido o referencial de atividade inspetiva, que contém um quadro
conciso e atualizado de orientações técnicas, úteis para o desempenho da atividade inspetiva e
para a harmonização de procedimentos, focando a atenção nos destinatários e partes
interessadas na ação inspetiva e no valor percebido pelos cidadãos-destinatários, num serviço
público que legitimamente representa uma mais-valia social.

Este referencial e os seus conteúdos têm naturalmente por principais destinatários os inspetores
do trabalho.

Résumé
L’Autorité pour les Conditions du Travail (ACT) est un service de l’Etat qui vise la promotion de
l’amélioration des conditions du travail par le contrôle de l’application des lois du travail dans le
cadre des relations de travail et par la promotion de la sécurité et santé au travail.

Les nouveaux défis placés à l’inspection du travail, soit au niveau national, soit au niveau
international, découlant de la globalisation, des nouvelles formes d’organisation du travail, du
travail non déclaré, des nouveaux risques émergents et de la précarisation croissante des
relations de travail imposent l’adoption de stratégies d’intervention harmonisées et concertées a
fin d’assurer une plus grande efficacité dans les résultats.

Dans ce contexte, nous avons développé ces lignes directrices de l’activité d’inspection qui
contiennent un cadre concis et mis à jour d’orientations techniques, utiles à l’exercice de l’activité
d’inspection et à l’harmonisation de procédures, focalisant l’attention sur les destinataires et les
parties prenantes à l’action d’inspection et à la valeur perçue par les citoyens-destinataires, dans
un service public qui représente légitimement un atout social.

Ces lignes directrices et leur contenu ont naturellement comme principaux destinataires les inspecteurs du
travail.

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Referencial da Atividade Inspetiva

Abstract
The Authority for Working Conditions (ACT) is a service of the State that aims to promote the
improvement of working conditions through the enforcement of labour normative under labour
relations and the promotion of safety and health at work.

The new challenges to labour inspection at national and international level arising from
globalization, new forms of work organization, unemployment, undeclared work, new emerging
risks and the increasing precariousness of labour relations, impose the adoption of harmonized
and concerted intervention strategies to ensure greater efficiency in the results.

In this context, the guidelines of the inspection activity were developed, containing a concise and
updated framework of technical guidelines, useful for the performance of inspection activity and
for the harmonization of procedures, focusing attention on the recipients and stakeholders and
value perceived by citizens-recipients, in a public service that legitimately represents a social
asset.

These guidelines and their contents are, of course, primarily addressed to labour inspectors.

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