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O conceito de Auditoria não tem sido estático ao longo do tempo e das instituições. Concebida
originalmente como mera técnica contábil, por volta do século XV, objetivava atender à
necessidade de pessoas que, como investidores ou empresários propriamente ditos,
desejavam saber a situação em que se encontrava um dado empreendimento (ATTIE, 1998).
Essa relevância de produzir informações confiáveis para os donos do negócio está presente na
origem do termo auditoria, que advém do vocábulo latino audire (audição, ouvinte), ou
mesmo, como entendem alguns autores, do verbo inglês to audit (certificar). Em ambas as
acepções, tem-se de fundo a ideia de que auditar significa ouvir o gestor (aquele que detém
responsabilidade sobre os bens e direito do proprietário), tomar ciência das atividades
desempenhadas e, então, classificar se suas ações estão alinhadas ao que o proprietário
esperaria que fosse feito (BRITTO; FONTENELLE, 2013).
Embora, nessa origem, a ideia de auditar fosse restrita à técnica contábil, com o passar dos
anos, a Auditoria ganhou caráter interdisciplinar, abrangendo diversas áreas, de forma que,
atualmente, é possível até mesmo falar em auditoria de políticas públicas (tal como veremos
adiante).Dada a extrema relevância do órgão no estudo da presente matéria, convém adotar o
exposto pelo TCU (Tribunal de Contas da União), em suas NAT (Normas de Auditoria). Eis a
definição: "Auditoria é o processo sistemático, documentado e independente de se avaliar
objetivamente uma situação ou condição para determinar a extensão na qual critérios são
atendidos, obter evidências quanto a esse atendimento e relatar os resultados dessa avaliação
a um destinatário predeterminado." (BRASIL, 2011). Impõe destacar, de imediato, os principais
guias para a atividade de Auditoria: as Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC). Editadas
pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), são um conjunto de princípios, regras e
processos afins a um tema específico, devendo ser observadas quando da execução dos ofícios
do contabilista. Elas serão melhor exploradas adiante, bastando saber agora, contudo, acerca
da existência desta espécie.A Auditoria se diferencia em auditoria privada (ou empresarial, ou
ainda de demonstrações contábeis) e a auditoria pública (ou governamental - objeto de nosso
estudo).A auditoria privada é aquela que oferece demonstrações contábeis sobre empresas
privadas, observando a adequação destas às normas gerais e específicas. A NBC TA 200,
norma-base da Auditoria, é clara ao definir seus objetivos:
[...]
17. O ambiente da auditoria do setor público é aquele no qual governos e outras entidades do
setor público são responsáveis pelo uso de recursos provenientes de tributação e outras
fontes, para a prestação de serviços aos cidadãos e outros beneficiários. Essas entidades
devem prestar contas de sua gestão e desempenho, assim como do uso dos recursos, tanto
para aqueles que proveem os recursos como para aqueles que dependem dos serviços
prestados com a utilização de tais recursos, incluindo os cidadãos. A auditoria do setor público
ajuda a criar condições apropriadas e a fortalecer a expectativa de que as entidades do setor
público e os servidores públicos desempenharão suas atribuições de modo efetivo, eficiente,
ético e em conformidade com as leis e os regulamentos aplicáveis.
18. Em geral, a auditoria do setor público pode ser descrita como um processo sistemático de
obter e avaliar objetivamente evidências para determinar se as informações ou as condições
reais de um objeto estão de acordo com critérios aplicáveis. A auditoria do setor público é
essencial, pois, fornece aos órgãos legislativos e de controle, bem como aos responsáveis pela
governança e ao público em geral, informações e avaliações independentes e objetivas acerca
da gestão e do desempenho de políticas, programas e operações governamentais. [grifos
nossos]
[...]
a) integridade;
O trabalho a ser desempenhado pelo auditor depende da posição que ele ocupa em relação ao
ente auditado. Daí ser necessário, então, distinguir as auditorias em interna e externa.A
auditoria externa é aquela realizada por auditores que não estão inseridos na estrutura da
empresa, admitidos por contrato de serviço (BRITO; FONTENELLE, 2013). O auditor externo
tem como missão conferir credibilidade às demonstrações financeiras frente ao público em
geral, e operacionaliza esta atribuição emitindo opiniões acerca daquelas.
[...]
12.1.1.1 -– Esta norma trata da atividade e dos procedimentos de Auditoria Interna Contábil,
doravante denominada Auditoria Interna.
[...]
[...]
Vale frisar que, mesmo subordinado hierarquicamente, o auditor interno possui o dever de
preservação de sua independência técnica, sem, contudo, abster-se de sua função de auxiliar
da administração – não lhe cabendo, por exemplo, a identificação de erros e punição dos
responsáveis. E como se iniciam os trabalhos de uma Auditoria? A primeira fase da auditoria é
o Planejamento. Trata-se de função pela qual se determina antecipadamente quais os
objetivos a serem alcançados e quais os meios para atingi-los. As NBASP Nível 2 classificam de
forma clara a fase:
[...]
Planejamento
80. O auditor deve desenvolver uma estratégia global de auditoria que inclua o alcance, a
época e direção da auditoria, bem como um plano de auditoria.
82. O auditor deve planejar a auditoria adequadamente para assegurar que ela seja conduzida
de uma maneira eficaz e eficiente.
83. O auditor deve preparar um plano de auditoria, que deve incluir a descrição:
de outros procedimentos de auditoria planejados que são necessários para que o trabalho
esteja em conformidade com as normas aplicáveis. Tais procedimentos podem incluir ou
descrever: uma revisão do marco legal para a auditoria; uma breve descrição da atividade,
programa ou entidade a ser auditada; as razões para realizar a auditoria; os fatores que afetam
a auditoria, incluindo os que determinam a materialidade de assuntos a ser considerada; os
objetivos e o alcance da auditoria; a abordagem da auditoria; as características da evidência de
auditoria a ser obtida, e os procedimentos necessários para obter e analisar a evidência;
forma, o conteúdo e os usuários do relatório do auditor e da carta da administração.
84. A estratégia global e o plano de auditoria devem ser documentados. Eles também devem
ser atualizados, conforme necessário, durante o curso da auditoria. [grifos nossos]
[...] (INSTITUTO RUI BARBOSA, 2017)
(c) considerar os fatores que no julgamento profissional do auditor são significativos para
orientar os esforços da equipe do trabalho;
(e) determinar a natureza, a época e a extensão dos recursos necessários para realizar o
trabalho.
Especificada a estratégia global de auditoria, desenvolve-se o plano de auditoria, que irá tratar
de forma mais específica o caminho necessário para o alcance do objetivo do auditor. Nos
termos da IN CGU n. 03-2017 (BRASIL, 2017a), ele deve descrever:
NBC PA: aplicadas, especificamente, aos contadores que atuam como auditores
independentes;
NBC PI: aplicadas especificamente aos contadores que atuam como auditores internos, e
NBC PP: aplicadas especificamente aos contadores que atuam como peritos contábeis.
NBC TG: convergentes com as normas internacionais emitidas pelo International Accounting
Standards Board (Iasb); e as Normas Brasileiras de Contabilidade editadas por necessidades
locais, sem equivalentes internacionais;
NBC TSP: normas aplicadas ao Setor Público, convergentes com as Normas Internacionais de
Contabilidade para o Setor Público, emitidas pela International Federation of Accountants
(Ifac); e as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas ao Setor Público editadas por
necessidades locais, sem equivalentes internacionais;
NBC TR: normas aplicadas à Revisão convergentes com as Normas Internacionais de Revisão
emitidas pela Ifac (Revisão de Informação Contábil Histórica);
NBC TSC: normas aplicadas aos Serviços Correlatos convergentes com as Normas
Internacionais para Serviços Correlatos emitidas pela Ifac;
Emitidas pelo IRB (Instituto Rui Barbosa), que congrega todos os Tribunais de Contas em
território nacional, elas têm por foco a adoção de padrões internacionais para condução de
auditorias governamentais. O objetivo, a longo prazo, é a substituição das tradicionais NAG
(Normas de Auditoria Governamental) e NAT (Normas de Auditoria do TCU) pelas NBASP.
Essas normas são de conhecimento obrigatório por todos que exerçam ou desejem exercer o
papel de auditor, somadas às normas que rege cada entidade.
Tanto a NBASP Nível 2 (INSTITUTO RUI BARBOSA, 2017), quanto a NBC TA 01 (CONSELHO
FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2003) identificam, definem e discutem os cinco elementos
presentes em trabalhos de asseguração: (i) o relacionamento entre as três partes da auditoria
(auditor independente, a parte responsável e os usuários previstos), (ii) o objeto, (iii) os
critérios, (iv) as evidências e (v) o relatório de asseguração.
Ao discorrer sobre o assunto, as normas optam pelo termo “relacionamento entre três
partes”. Em prol da clareza, parece ser mais conveniente o uso do termo “agentes”.
A auditoria do setor público envolve três partes: o auditor independente, a parte responsável e
os usuários previstos. Observe abaixo o papel de cada um deles.
Auditor
Parte Responsável
Usuários Previstos
Objeto
Conforme expõe a NBASP Nível 2, o objeto de auditoria é a informação, condição ou atividade
que é mensurada ou avaliada de acordo com critérios estabelecidos. As formas e as
características do objeto variam de acordo com o objetivo da auditoria, podendo vir a ser:
histórico de desempenho ou condição financeira, projeção de desempenho ou financeira,
características físicas, sistemas eletrônicos e, até mesmo, o comportamento dos agentes
pertencentes ao ente auditado.
Critérios
Os critérios de auditoria são referências utilizadas para mensurar ou avaliar um objeto. São
variáveis de acordo com os objetivos e o tipo de auditoria, podendo ser específicos ou mais
gerais, e terem origem em uma ou várias fontes (leis, padrões, princípios, guia de prática etc.).
[...]
(a) Relevância: Critérios relevantes resultam na informação do objeto que auxilia a tomada de
decisões dos usuários previstos.
(b) Integralidade: Critérios são plenos quando a informação do objeto preparada de acordo
com eles não omite fatores relevantes que poderiam se esperar, razoavelmente, que afetem
decisões dos usuários previstos feitas com base nessa informação. Critérios plenos incluem,
quando relevantes, referências para apresentação e divulgação.
(d) Neutralidade: Critérios neutros resultam em informação do objeto que está livre de
tendências como apropriado nas circunstâncias do trabalho. (e) Compreensibilidade: Critérios
compreensíveis resultam em informação do objeto que pode ser compreendida pelos usuários
previstos. [grifos nossos]
[...]
Critérios adequados são aqueles sensíveis ao contexto, que realmente guardem pertinência
com o que se deseja observar, guardados, além disso, todos os pré-requisitos dispostos acima.
Evidências
Evidências de auditoria são as informações que subsidiam a opinião do auditor - que será
veiculada em relatório próprio.
Em outros termos, pode ser entendida como a informação utilizada pelo auditor para
comprovar a conformidade (ou não) do objeto aos critérios previamente estabelecidos.
Supletivamente, calha trazer a maior exposição dada pela NBC TA 200 (CONSELHO FEDERAL DE
CONTABILIDADE, 2009a):Evidências de auditoria são as informações utilizadas pelo auditor
para fundamentar suas conclusões em que se baseia a sua opinião. As evidências de auditoria
incluem informações contidas nos registros contábeis subjacentes às demonstrações contábeis
e outras informações. Para fins das NBCs TA:
(i) suficiente: sendo concreta, adequada e convincente, a evidência suficiente permite que
qualquer pessoa prudente e informada chegue às mesmas conclusões que o auditor interno
governamental;
(ii) confiável e fidedigna: a melhor possível de ser obtida por meio da utilização de técnicas de
auditoria apropriadas, tendo sidas conservadas a validade e capacidade de representar de
forma precisa os fatos, sem erros ou tendências;
(iv) útil, na medida em que informação registrada deve auxiliar a entidade auditada a atingir os
seus objetivos (i.e., agregar valor e permitir a melhoria das operações organizacionais) (BRASIL,
2017a).
(i) legais
(i.1) evidência direta, que comprova diretamente um fato, sem que seja necessário elaborar
suposições;
(i.2) evidência circunstancial, ou indício, que demonstra um fato que pode levar a um outro
fato; (i.3) evidência conclusiva, que constitui sozinha prova absoluta dos fatos e das
circunstâncias que informa, e
(i.4) evidência corroborativa, que serve de suporte para outras evidências, tornando-as mais
confiáveis, relevantes e úteis.
(ii) de auditoria
(ii.1) evidência física, obtida por meio das técnicas de inspeção física ou de observação direta.
Ex.: fotografias, vídeos, mapas, gráficos, tabelas etc.
(ii.2) evidência testemunhal, constituída por informações prestadas por terceiros via
declarações verbais ou escritas ou, ainda, por meio de informações colhidas por meio de
técnica de entrevista ou questionário.
Relatório de asseguração
Planejar uma auditoria é essencial: (i) em primeiro lugar, porque a auditoria envolve custos
para o ente auditado - daí a importância dela ser efetiva, realmente capaz de identificar falhas
e produzir informações relevantes; (ii) em segundo, porque a auditoria é um processo
complexo e sofisticado.
Asseguração Razoável
Asseguração Limitada
Dadas as grandes dimensões e relações que as empresas possuem hoje em dia, são frequentes
os casos em que se torna operacionalmente inviável a apreciação de todos os documentos, a
vistoria presencial em todos os objetos auditáveis e, ainda, o cálculo de todos os processos de
produção. Para regular este aspecto é que surge a NBC TA 530 (CONSELHO FEDERAL DE
CONTABILIDADE, 2009d), que trata sobre o uso de amostras.
A fim de diminuir o risco de amostragem (isto é, o risco de que a conclusão, com base em
amostra, seja diferente caso toda a população fosse sujeita ao mesmo procedimento de
auditoria), o auditor deve respeitar a regra de que unidades de amostragem tenham a mesma
chance de serem selecionadas, sempre considerando a finalidade da auditoria e as
características da população.
[...]
(a) no caso de teste de controles, em que os controles são considerados mais eficazes do que
realmente são ou no caso de teste de detalhes, em que não seja identificada distorção
relevante, quando, na verdade, ela existe. O auditor está preocupado com esse tipo de
conclusão errônea porque ela afeta a eficácia da auditoria e é provável que leve a uma opinião
de auditoria não apropriada.
(b) no caso de teste de controles, em que os controles são considerados menos eficazes do
que realmente são ou no caso de teste de detalhes, em que seja identificada distorção
relevante, quando, na verdade, ela não existe. Esse tipo de conclusão errônea afeta a
eficiência da auditoria porque ela normalmente levaria a um trabalho adicional para
estabelecer que as conclusões iniciais estavam incorretas.
[...]
A NBC TA 200 (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2009a) define como risco de auditoria
“o risco de que o auditor expresse uma opinião de auditoria inadequada quando as
demonstrações contábeis contiverem distorção relevante”, e se apresenta como produto de
outros dois: faz-se referência ao risco de detecção e o risco de distorções relevantes.
O risco de detecção é o risco de que os procedimentos executados pelo auditor, para reduzir o
risco de auditoria a um nível aceitavelmente baixo, não detectem uma distorção existente que
possa ser relevante, individualmente ou em conjunto com outras distorções. Em outras
palavras, um desvio falso-negativo, relacionado mormente com o trabalho do auditor.
(ii) risco de controle, entendido como o risco de que uma distorção, que possa ocorrer em uma
afirmação sobre uma classe de transação, saldo contábil ou divulgação e que possa ser
relevante, individualmente ou em conjunto com outras distorções, não seja prevenida,
detectada e corrigida tempestivamente pelo controle interno da entidade.
O fato de o risco de auditoria ser produto dos riscos de detecção e de distorção relevante
possui um efeito prático: quanto maior o risco de distorção relevante, menor há de ser o risco
de detecção aceito pelo auditor. Consequência direta, e agora em um aspecto macro, se
determinado item ou grupo auditado for considerado pelo auditor como relevante, deverão
ser aplicados mais testes de auditoria, a fim de que se diminua o risco de detecção (BRITO;
FONTENELLE, 2013).
Materialidade
2.4 Fraude e erro Conforme expõe a NBC TA 240 (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE,
2009b), as distorções relevantes podem se originar por fraude ou erro, sendo a divisa entre
ambos os conceitos, respectivamente, a presença ou não de dolo - isto é, o fato de ser
intencional ou não intencional a ação subjacente que resulta em distorção nas demonstrações
contábeis.
Vale trazer também o explicativo conceito esboçado pela IN SFC n. 03-2017 (BRASIL, 2017a),
que define como fraude qualquer ato ilegal caracterizado por desonestidade, dissimulação ou
quebra de confiança.
Embora a fraude constitua um conceito jurídico amplo, para efeitos das normas de auditoria, o
auditor está preocupado com a fraude que causa distorção relevante nas demonstrações
contábeis. São elas (i) as distorções decorrentes de informações contábeis fraudulentas e (ii)
da apropriação indébita de ativos.
[...]
A54. Em decorrência das limitações inerentes de uma auditoria, há um risco inevitável de que
algumas distorções relevantes das demonstrações contábeis não sejam detectadas, embora a
auditoria seja adequadamente planejada e executada em conformidade com as normas de
auditoria. Portanto, descoberta posterior de uma distorção relevante das demonstrações
contábeis, resultante de fraude ou erro, não indica por si só, uma falha na condução de uma
auditoria em conformidade com as normas de auditoria. Contudo, os limites inerentes de uma
auditoria não são justificativas para que o auditor se satisfaça com evidências de auditoria
menos que persuasivas. Se o auditor executou ou não uma auditoria em conformidade com as
normas de auditoria é determinado pelos procedimentos de auditoria executados nas
circunstâncias, a suficiência e adequação das evidências de auditoria obtidas como resultado
desses procedimentos e a adequação do relatório do auditor com base na avaliação dessas
evidências considerando os objetivos gerais do auditor.
[...]
Controle e fiscalização são conceitos que, a rigor, não podem ser tomados como sinônimos.
Fiscalização pode ser entendida como a concessão deste poder a um determinado agente, a
fim de que ele dê eficácia ao controle.
Na inteligência de Evandro Martins Guerra (2019), o ato de fiscalizar diz respeito à verificação
e análise, ao passo que controlar diz respeito à fixação de um juízo de valor a respeito: quem
fiscaliza, aprecia; quem controla, decide.
Auditoria e inspeção, no âmbito do estudado, são verbetes que não se confundem. Os arts.
239 e 240, do Regimento Interno do Tribunal de Contas da União (BRASIL, 2018), fazem a
distinção necessária. A seguir, uma apresentação didática deles.
Para uma noção inicial, usemos o clássico exemplo de uma campanha de vacinação: a
economicidade indica se o preço para a aquisição de vacinas foi o menor possível; a eficiência
se relaciona com a produtividade, e busca analisar a relação entre o número de crianças
atendidas por profissional; a eficácia diz respeito ao atingimento de meta, isto é, se todo o
público foi atingido; e a efetividade busca analisar se, com a campanha de vacinação, houve
redução no número de crianças que contraíram a doença em um dado período.
Eficiência diz respeito à relação entre o esforço despendido e o resultado alcançado (ainda que
dissonante daquele planejado). Em outros termos, é dizer que os recursos disponíveis
(insumos, tempo, capital humano, capital financeiro etc.) foram utilizados da melhor maneira
para a consecução de um dado objetivo.
É perfeitamente possível que um auditor aja com eficiência, mas não com eficácia (e vice-
versa):
Economicidade, por fim, é o vetor relacionado ao custo dos recursos trabalhados - isto é, se
eles foram obtidos da maneira menos custosa, a preços mais vantajosos. Em analogia ao
ilustrado, haveria respeito à economicidade se o capital financeiro empregado para a
realização de todo o processo tivesse sido o mínimo possível (para alcançar o máximo
resultado).
Glossário
Eficiência: é a medida da relação entre os recursos efetivamente utilizados para a realização de
uma meta de um projeto, atividade ou programa frente a padrões de referência estabelecidos.
Eficácia: é a medida do grau de atingimento das metas fixadas para um determinado projeto,
atividade ou programa em relação ao previsto.
[...]
(i) Auditoria financeira: analisa se a informação financeira de uma entidade está adequada à
estrutura de relatório financeiro e ao marco regulatório aplicável;
A auditoria financeira é a que possui mais literatura disponível e é largamente utilizada pelos
contadores. Ela se presta a basicamente analisar as informações financeiras das instituições.
Em seguida, foi desenvolvida a auditoria de conformidade voltada a analisar diversos outros
fatores que contribuem para o cumprimento da missão institucional, não apenas pela ótica
financeira.
Por fim, tem-se a auditoria operacional, com o foco no alcance dos resultados esperados. Em
auditoria pública, as auditorias operacionais estão relacionadas ao desempenho institucional,
com o foco bastante voltado para os resultados das ações. Nessa espécie de auditoria, verifica-
se a exacerbação do papel orientativo do auditor e da pactuação de metas com o gestor,
sempre com foco no resultado.
Por ter fulcro na avaliação de riscos, é mandatório, para o próprio funcionamento do modelo
econômico, que a auditoria se debruce extensamente sob a temática do SFN (Sistema
Financeiro Nacional). A imprescindibilidade, contudo, vai além, e tem profundos reflexos
sociais: não se trata apenas da regulação das relações financeiras, mas também dos sistema de
preços, do incentivo à produção de bens e serviços, dos investimentos e das receitas e
despesas. Em termos concretos, a disciplina da atividade do SFN visa a resguardar a economia
popular, a poupança nacional, a estabilidade do sistema financeiro e dos agentes econômicos
que o integram (MIRAGEM, 2013).A finalidade do SFN é disposta no art. 192 da Constituição
Federal (BRASIL, 2016), a saber: "Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma
a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade,
em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por
leis complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas
instituições que o integram. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 40, de 2003)".
Art. 1º O sistema Financeiro Nacional, estruturado e regulado pela presente Lei, será
constituído:
O SFN possui entidades de caráter (i) normativo, responsáveis pela definição de diretrizes
dentro de seu nicho; (ii) supervisor, que se ocupam da fiscalização e regulamentação da
atividade afim; e (iii) operacional, que trabalham na intermediação financeira - bancária ou
não.
O orçamento é o meio pelo qual são consolidadas ações de obtenção receita e geração
despesa (ou a previsão de ambas) em um intervalo de tempo. Ele pode ser elaborado pelo
Poder Executivo, Legislativo ou pelos dois poderes, podendo se apresentar como instrumento
meramente contábil (analisando a conformidade de fatos passados) ou integrador de
planejamento (analisando objetivos e metas de programas executados, apreciando também a
eficiência, eficácia, efetividade e economicidade dos programas sociais).
É especialmente relevante, para o momento, entender que, a rigor, a literatura atribui três
funções para um orçamento: (i) alocativa, porque deve visar ao atendimento de necessidades,
cujo atendimento, total ou parcialmente eficiente, não é feito pela iniciativa privada; (ii)
distributiva, porque deve promover o equilíbrio na distribuição de renda entre os cidadãos, e
(iii) estabilizadora, porque deve manter o equilíbrio econômico, através de medidas que
favoreçam a empregabilidade, a estabilidade de preços e a sustentabilidade das despesas e da
taxa de crescimento econômico.
Como vimos, a viabilização do atendimento das necessidades sociais é gerada pelo dispêndio
de recursos arrecadados pelo Estado. As ações de arrecadação devem, por regra, obedecer às
funções alocativas, distributiva e estabilizadora.
(i) congresso nacional, a quem compete, semestralmente, avaliar o Banco Central do Brasil no
tocante ao cumprimento dos objetivos e metas das políticas monetária, creditícia e cambial,
evidenciando o impacto e o custo fiscal de suas operações e os resultados demonstrados nos
balanços - art. 9º, da Lei Complementar n. 101-2000 (BRASIL, 2000b);
(iv) auditoria independente, especialmente contratada para exame do Banco Central e de seus
Fundos, com o fito de, entre outras atribuições, elaborar, como resultado dos trabalhos de
auditoria realizados, o parecer e relatório sobre as demonstrações financeiras semestrais
examinadas e relatório semestral circunstanciado de avaliação da qualidade e adequação dos
controles internos - Voto CMN 048/2000 (BRASIL, 2002).
No âmbito de controle interno do SFN, importa ressaltar as previsões do Bacen, que incluem a
elaboração PAAAI (Plano Anual de Atividades de Auditoria Interna , do MPR (Manual de
Procedimentos e Rotinas) e do ADM (Manual de Organização Administrativa, e adoção do
Código de Transparência nas Políticas Monetária e Financeira adotado pelo FMI (Fundo
Monetário Internacional).
explorar elementos do Sistema Financeiro Nacional e a relação deste com a auditoria pública.