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«No que se refere à metafísica, os sagrados livros não oferecem nenhuma tentativa de
explicação racional das coisas, elaborada através da reflexão abstrata e que possa
desembocar na construção de um sistema coerente como o de Platão, Aristóteles ou Fílon.
Deste ponto de vista técnico, a Bíblia nada ensina. Em compensação, traz em si a
afirmação, explícita ou difusa de certas realidades ou de certos valores que não caem sob
os sentidos e que, de certa forma, regem toda a metafísica: a unicidade do DEUS vivo, a
relação do mundo com DEUS definida em termos de criação, a antropologia imune de
qualquer dualismo etc.; afirmando-os, a Revelação retifica dados racionais que se haviam
obscurecido, relacionando-os ao mesmo tempo com o desígnio salvífico»
Já vimos que a Bíblia não pretende instruir-nos sobre a conformação física das coisas; os
autores sagrados falam disto seguindo as opiniões comuns da sua época, como já haviam
intuído Santo Agostinho e São Tomás. As idéias podem mudar, a ciência pode e deve
progredir, sem que a mensagem bíblica venha a sofrer com isto. Ao enfrentar estes
problemas, é fundamental que não se cometam extrapolações. O biblista e o teólogo devem
vigiar para que não se emprestem à Bíblia afirmações que ela não faz; mas também o
cientista deve estar atento a não introduzir, na sua teoria, de maneira sub-reptícia, alguma
afirmação metafisicamente errônea. «Por exemplo, a idéia de criação, corretamente
entendida, deixa intacta a questão de como DEUS cria, quais as partes que ele confia às
causas segundas na produção dos efeitos devidos ao seu ato criador, das etapas através
das quais passou a história evolucionista da criação etc.»185. Também na delicada questão
da afirmação bíblica da unidade do gênero humano e da nossa universal solidariedade «em
Adão», comparada com o problema paleontológico do «monofiletismo» ou «polifiletismo»
(estes, mais do que «monogenismo» ou «Poligenismo», são os termos científicos do
problema), é necessária muita cautela. A Própria Encíclica Humani generis de Pio XII, de
1950, usava uma linguagem matizada, em forma negativa: «... Ora não aparece de algum
modo como estas afirmações se possam harmonizar (não diz: «De modo algum se podem
harmonizar») com o que as fontes da Revelação e os atos do Magistério da Igreja nos
ensinam sobre o pecado original ...» (DS 3897). E, com efeito, a reflexão dos teólogos
empenhou-se em explicar a doutrina bíblica e católica do pecado original também num
contexto de hipótese «filetística» da criação do homem.
Assim, a mensagem bíblica sempre será válida, pois sua base fundante independe de
eventuais descobrimentos científicos.
No âmbito da história