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DIREITO

CONSTITUCIONAL 2
PROF. IGOR DIAS
2023.2 – FACULDADE METROPOLITANA DO CARIRI
UNIDADE 1: DIREITOS SOCIAIS, DIREITOS DA
NACIONALIDADE E REGIME JURÍDICO DO
ESTRANGEIRO
2
Considerações Iniciais

 Bem-vindos ao nosso curso de Direito Constitucional 2!


 Neste curso, conforme ementa da disciplina,
trabalharemos assuntos ligados ao quotidiano do Direito
Constitucional Brasileiro, com os seguintes temas:
 Direitos Sociais;
 Direitos da Nacionalidade e Regime Jurídico de
Estrangeiros;
 Direitos Políticos;
 Organização do Estado brasileiro;
 Organização dos Poderes (Tripartição de Poderes);
 Defesa do Estado e Instituições democráticas;
3
Considerações Iniciais

 Neste curso, conforme ementa da disciplina,


trabalharemos assuntos ligados ao quotidiano do
Direito Constitucional Brasileiro, com os seguintes
temas:
 Administração Pública;
 Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário;
 Funções Essenciais à Justiça;
 Tributação e Orçamento;
 Ordem Econômica e Financeira;
 Ordem Social e Disposições Gerais Transitórias
Considerações Iniciais 4

 Nossas avaliações serão feitas, nos termos do Estatuto e Regimentos


da IES, devendo o aluno alcançar, ao final do semestre, nota
média 7,0.
 As avaliações serão aplicadas em 3 momentos, conforme calendário
acadêmico, sendo denominadas AvP1, AvP2 e AvP3;
 Nas 3 avaliações, a nota para cada uma delas será de 0 a 10 pontos;
 Para se verificar a média, será efetuado o seguinte cálculo: AvP1 +
AvP2 + AvP3 = X/3 = X. Exemplo: 7 + 10 + 5,50 = 22,5  22,5/3 = 7,50.
Considerações Iniciais 5

 2ª Chamada de prova – deverá ser requerida com, pelo menos,


48h de antecedência;
 Caso o discente não tenha aproveitamento (nas AvP1, AvP2 e
AvP3):
 AvF (nota superior a 4,00 e inferior a 7,00) – deverá efetuar o exame e
obter nota 7,00 para ser aprovado;
 Reprovado se sua média for inferior a 4,00.
Considerações Iniciais 6

 ATENÇÃO: Cuidado com a quantidade de faltas no semestre!


 De acordo com a Lei nº 9394/96 (LDB), o máximo de faltas que um
aluno poderá ter é 25% de todas as aulas ministradas.
 A cada dia de ausência, são computadas 2 (duas) faltas, pois temos,
por dia de aula, 2 aulas. Assim, ao se ausentar numa determinada
semana inteira, computar-se-á o montante de 4 (quatro) faltas.
Considerações Iniciais 7

 CALENDÁRIO ACADÊMICO – O calendário acadêmico prevê os


dias em que poderão ser realizadas as atividades acadêmicas e os
dias de realização de provas.
 Ele está/estará disponível a todos, dentre outros locais, fixados na
parede de cada uma das salas.
 Semana de Provas:
 AvP1: de 02 a 06 de outubro;
 AvP2: de 13 a 20 de novembro;
 AvP3: de 06 a 12 de dezembro.
 2ª Chamada: de 13 a 15 de dezembro;
 AvF: de 20 a 22 de dezembro.
Considerações Iniciais 8

 Algumas dicas importantes para o semestre. ATENÇÃO!


 Organizem-se desde o primeiro dia para as atividades da faculdade:
aulas, provas, simpósios, Semana do Direito, entre outras.
 Atenção às orientações dadas em sala de aula. Repeti-las todas as
aulas se torna algo cansativo tanto para vocês como para todos nós
(sempre haverá lembretes no decorrer das aulas, mas não mais todas
as aulas).
 ANOTE, escreva, revise os conteúdos. Isso ajuda a fixar todo o
conteúdo que trabalharemos.
 NÃO SE LIMITE A TIRAR FOTO DAS ANOTAÇÕES CONTIDAS NO QUADRO.
 Pesquise livros nas BIBLIOTECAS!
 É imprescindível que, em todo o momento, estejam em constante leitura.
Portanto, criar o hábito facilitará muito a atividade de estudos.
Considerações Iniciais 9

 PROVAS
 AvP1 – Leitura obrigatória:
 Jurídicos:
 Pedro Lenza – Direito Constitucional Esquematizado;
 Luiz F. Martins – Curso de Direito Constitucional;
 Luiz Roberto Barroso – Curso de Direito Constitucional Contemporâneo.

 AvP2 – repete-se o quadro de leitura jurídica;


 Soma-se – Literatura Brasileira:
 Quarto de Despejo, diário de uma favelada – Carolina Maria de Jesus.

 AvP3 – repete-se o quadro de leitura jurídica;


Considerações Iniciais 10

 Nossa AvP2 será embasada com base em leituras dos livros de


nossa bibliografia básica e complementar e de nossa literatura
brasileira.
 Criação de perfil em redes sociais (pelo menos 2 – mínimo), no qual os
grupos deverão fazer inserções contendo vídeos e imagens, tratando
sobre direitos sociais, direitos de nacionalidade, direitos políticos,
organização do Estado e temas correlatos à disciplina. A base dos
perfis serão trabalhadas com inserções e correlações com o livro
“Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus.
 As inserções deverão ser com recorrência de, pelo menos, 1 vez por
semana.
BIBLIOGRAFIA DESTA UNIDADE 11

 Lenza, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado.


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UNIDADE I
a. Direitos Sociais
UNIDADE I – Direitos Sociais 13

 Os Direitos Sociais estão explicitados a partir do Art. 6º da CRFB/88 e


prosseguindo até o Art. 11 do Diploma Constitucional.
 Mas, antes de quaisquer considerações, o que são DIREITOS SOCIAIS?
 São direitos que são inerentes aos contextos da vida e ao bem-estar comum
de uma sociedade, que se manifestam dentro de uma prestação positiva
estatal, a fim de se evitar que a igualdade formal não se manifeste em seus
aspectos materiais.
 Noutras palavras, é garantir o bem-estar comum, de forma que a igualdade
prevista no papel se concretize a todos, inclusive aos mais pobres e
vulneráveis, cujo acesso ao mais básico não se garante apenas com a força
de trabalho.
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UNIDADE I – Direitos Sociais

Assim, podemos dizer que os direitos sociais, como dimensão dos


direitos fundamentais do homem, são prestações positivas
proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas
em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de
vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de
situações sociais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao
direito de igualdade. Valem como pressupostos do gozo dos direitos
individuais na medida em que criam condições materiais mais
propícias ao auferimento de igualdade real, o que, por sua vez,
proporciona condição mais compatível com o exercício efetivo da
liberdade.
José Afonso da Silva, 2008
UNIDADE I – Direitos Sociais 15

 Interessante perceber e notar que estão os direitos sociais intimamente


ligados com os objetivos explicitados pela Constituição da República
Federativa do Brasil, formando uma base principiológica nesse sentido:
 Art. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;


II - garantir o desenvolvimento nacional;

erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as


III -
desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.
UNIDADE I – Direitos Sociais 16

 José Afonso da Silva, ainda, classifica os direitos sociais em 6 classes,


sendo direitos sociais relativos ao(a):
 Trabalhador;
 Seguridade (incluindo saúde, previdência e assistência social);
 Educação e Cultura;
 Moradia;
 Família, criança, adolescente e pessoa idosa;
 Meio ambiente.
 Observação: O autor ainda esclarece que merecem ligeira menção os
direitos do homem como produtor e como consumidor.
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UNIDADE I – Direitos Sociais

Há, porém, uma classificação dos direitos sociais do homem


como produtor e como consumidor, que merece uma
referência ligeira, por ser útil à compreensão do leitor e,
também, porque vamos intitular o capítulo referente aos
direitos sociais previstos no art. 6º com base nela.

José Afonso da Silva, 2008


UNIDADE I – Direitos Sociais 18

 Historicamente, surge de uma construção.


 A concepção da necessidade não se restringe apenas ao Século XX, mas
tem importantes pontos de discussões nele. A própria Revolução Industrial
e o regime de trabalho nesse período (1760-1860), manifestam esses
pontos, mas, de fato, somente no Séc. XX é que vemos esse
reconhecimento, como muito bem elenca Barroso (2023, p. 1081).
 No Século XX, as discussões sobre a necessidade eclodiram e
proporcionaram a criação de mecanismos de Proteção Social já na
Constituição do México (1917) e a Constituição de Weimar (1919).
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UNIDADE I – Direitos Sociais

"Os direitos econômicos, sociais e culturais, identificados abreviadamente


como direitos sociais, não se reconduzem, diretamente, às revoluções
liberais e suas declarações de direitos. Seu reconhecimento é mais
recente, remontando à Constituição mexicana, de 1917, e à Constituição
alemã de Weimar, de 1919. A consagração dos direitos sociais marca a
superação de uma perspectiva estritamente liberal do Estado." (BARROSO,
2023, p.1081) – grifo nosso.
UNIDADE I – Direitos Sociais 20

 Houve, assim, questionamentos acerca da liberdade dentro dos


contornos do liberalismo econômico e até que ponto aceitá-lo: até a
dignidade humana.
 E isso evidenciado está dentro do corpo dogmático constitucional: Art.
1º, III, CRFB/88 – FUNDAMENTO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
 Mesmo hoje, há profundas discussões acerca do tema, sob a ótica da
possibilidade de oferta pelo Estado dos Direitos Sociais; essas discussões
são feitas em âmbito nacional e em esfera internacional.
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UNIDADE I – Direitos Sociais

"Seguramente, os Direitos Sociais consistem no mais relevante e complexo tema


constitucional da atualidade. Sua natureza, sua eficácia e seus eventuais limites são
temas discutidos por todo o mundo.
Até mesmo a Europa, cujas Constituições muitas vezes não consideram os direitos
sociais como sendo direitos fundamentais, no ano de 2021 deu um grande passo
para a concretização de tais direitos: em março de 2021, a Comissão Europeia
apresentou um plano de ação para a aplicação do “Pilar Europeu dos Direitos
Sociais, de 2017”. O Plano de Ação traz uma série de iniciativas e fixa três objetivos
principais para se atingir na Europa até 2030: a) uma taxa de emprego, de pelo
menos, 78% na União Europeia; b) uma participação de, pelo menos, 60% dos
adultos em cursos de formação todos os anos; c) uma redução do número de
pessoas em risco de exclusão social ou de pobreza, de pelo menos 15 milhões de
pessoas, incluindo 5 milhões de crianças. Foi elaborada a “Carta do Porto” ou
“Compromisso Social do Porto”, de 2021." (MARTINS, 2023, p.2752)
UNIDADE I – Direitos Sociais 22

 Podemos afirmar que nossa Constituição é socialista?


 Não! Precisamos compreender que o fato de nossa Constituição Federal prever
direitos sociais não torna o Estado brasileiro socialista.
 A Constituição brasileira prevê o bem-estar social. E, diante disso, não se
confunde com o Estado Socialista.
 IMPORTANTE: é necessário entender que a Constituição prever essa condição
de aceitação pelos direitos sociais não torna o Estado brasileiro um Estado
Socialista. São condições diferentes, como muito bem observa Canotilho apud
Araújo e Júnior (2014, pp. 35-37), vejamos:
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UNIDADE I – Direitos Sociais

 Constituição Social:
 O referente é Estado e sociedade;
 Compromisso conformador ou constitutivo (visando assegurar formas dignas de
existência social), democratização da sociedade e do Estado de Direito formal
(limitação da intervenção estatal, obedecendo os preceitos das liberdades
individuais);
 Busca-se harmonia e equilíbrio entre liberdades individuais, sob às exigências do
bem-estar social (bem-estar coletivo);
 Imposição de estruturação constitucional que conforme Estado-sociedade em
relação harmônica, impondo aos Poderes públicos fins e taregas;
 “mensagem social, econômica e cultural, ‘através de formulação explícita dos
fins e princípios social e economicamente significativos, embora sem ‘subversão’
das estruturas econômicas capitalistas”.
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UNIDADE I – Direitos Sociais

 Constituição Socialista:
 O referente é o Estado e a sociedade;
 Principiologia classista, onde o Estado é máximo e não neutro;
 Conformação socialista;
 Estrutura constitucional positiva em sua mais pura essência, sobretudo nos
aspectos de direitos econômicos, culturais e sociais.
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UNIDADE I – Direitos Sociais

 Vejamos, pois, os direitos sociais elencados pela Constituição da


República:
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o
trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Parágrafo único. Todo brasileiro em situação de vulnerabilidade
social terá direito a uma renda básica familiar, garantida pelo poder
público em programa permanente de transferência de renda, cujas
normas e requisitos de acesso serão determinados em lei, observada
a legislação fiscal e orçamentária.
UNIDADE I – Direitos Sociais 26

 Neste ponto, é preciso compreender e se extrair alguns pontos


importantes:
 TEXTO ORIGNÁRIO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: Educação, saúde, trabalho,
lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância,
assistência aos desamparados;
 E.C. nº 26/2000: Moradia;
 E.C. nº 64/2010: Alimentação;
 E.C. nº 90/2015: Transporte;
 E.C. nº 114/2021: Renda Básica Familiar (parágrafo único).
UNIDADE I – Direitos Sociais 27

 Ponto de debate fundamental é a questão do mínimo


existencial versus a reserva do possível:
 Contudo, a reserva do possível não se aplica em alguns casos,
dentre eles a Educação básica de qualidade e a sobrevivência
digna.
 O mínimo do mínimo existencial;
 Teoria que surge na Alemanha na década de 1970, limitando
fática e juridicamente a concretização dos Direitos Sociais.
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UNIDADE I – Direitos Sociais

"De fato, os direitos sociais são formalmente


fundamentais (estão previstos no texto constitucional
como direitos fundamentais) e materialmente
fundamentais. Segundo Ana Carolina Lopes Olsen, “a
fundamentalidade material está relacionada à
correspondência havida entre os direitos fundamentais
e o núcleo de valores que informa a Constituição [...]
dentre os quais vale destacar a dignidade da pessoa
humana”" (MARTINS, 2023, p.2782)
UNIDADE I – Direitos Sociais 29

 A reserva do possível, em sua concepção original refere-se


àquilo que é razoavelmente concebido como prestação
social devida, em decorrência da interpretação dos
direitos fundamentais sociais, eliminando as demandas
irrazoáveis, desproporcionais e excessivas. Nas palavras de
Ingo Wolfgang Sarlet, “mesmo em disposto o Estado dos
recursos e tendo o poder de disposição, não se pode falar
em uma obrigação de prestar algo que não se mantenha
nos limites do razoável”, como nos aponta Martins (2023).
UNIDADE I – Direitos Sociais 30

 Noutras palavras, o mínimo possível é algo dentro de uma


razoabilidade, que não se coloque em risco aspectos
outros previstos na CF.
 A ponderação de razoabilidade é de suma importância, a
fim de se perpetuar exageros.
 Todavia, este sentido deturpou-se, onde o Estado buscou
não cumprir determinadas normas cogentes da Constituição
brasileira.
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UNIDADE I – Direitos Sociais

Com o passar do tempo, o conceito de reserva do


possível foi sendo depurado e acabou por se direcionar
no sentido originalmente referido pela doutrina, ou seja,
enfatizando as condições financeiras e orçamentais do
Estado – ‘reserva do financeiramente possível’. A
‘dependência de recursos’ (Ressourcenabhändigkeit)
ou a ‘escassez de recursos’ (Ressourcenknappheit)
surge, portanto, como um ‘limite constitucional’
(verfassungsrechtliche Schranke) ao Estado social”.
(Martins, 2023)
UNIDADE I – Direitos Sociais 32

 Importante lembrar que o Poder Público não pode se furtar em


fazer uso da Reserva do Possível para inviabilizar POLÍTICAS
PÚBLICAS de Estado naquilo que já é trazido pelo corpo
dogmático constitucional: Agravo Regimental no Recurso
Extraordinário com Agravo (ARE 639.337 AgR/SP), de 23-8-2011:
 A cláusula da reserva do possível – que não pode ser invocada,
pelo Poder Público, com o propósito de fraudar, de frustrar e de
inviabilizar a implementação de políticas públicas definidas na
própria Constituição – encontra insuperável limitação na garantia
constitucional do mínimo existencial, que representa, no contexto
de nosso ordenamento positivo, emanação direta do postulado
da essencial dignidade da pessoa humana.
UNIDADE I – Direitos Sociais 33

 Vedação do Retrocesso – um importante mecanismo dentro do


Ordenamento Jurídico, com discussões de cunho doutrinário e
jurisprudencial.
 O que é?
 A proibição do retrocesso consiste na vedação aplicada ao
legislador e ao administrador de reduzir o nível dos direitos
econômicos, sociais e culturais de que goza a população. (Martins,
2023)
 Uma das manifestações está dentro do que se entende como
cláusulas pétreas dentro de nossa Constituição.
 Art. 5º, XXXVI e Art. 60, §4º, IV, CRFB/88
UNIDADE I – Direitos Sociais 34

 LEITURA
 MARTINS, F. Curso de direito constitucional. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2023. E-book.
 CAP. 15 – DIREITOS SOCIAIS
 CAP. 16 – DIREITOS POLÍTICOS
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UNIDADE I
b. Direitos da
Nacionalidade
UNIDADE I – Direitos da Nacionalidade36

 Conceitos:
 Segundo Lenza (2023), “Nacionalidade pode ser definida como vínculo
jurídico-político que liga um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que
esse indivíduo passe a integrar o povo desse Estado e, por consequência,
desfrute de direitos e se submeta a obrigações.”
 Para Martins (2023), “Nacionalidade é o vínculo jurídico e político de uma
pessoa com um Estado.”
 É, ainda, necessário compreender que a ausência de nacionalidade gera a
apatridia que, segundo Martins (2023), são pessoas que nascem “sem
nacionalidade ou que perderam a nacionalidade posteriormente ao
nascimento.” – Conv. ONU sobre apatridia de 1961 (clique aqui).
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UNIDADE I –Direitos da Nacionalidade

 Conceitos: Lenza nos esclarece alguns conceitos importantes.


 Povo: conjunto de pessoas que fazem parte do Estado — o seu elemento
humano —, unido ao Estado pelo vínculo jurídico-político da nacionalidade;
 população: conjunto de residentes no território, sejam
eles nacionais ou estrangeiros (bem como os apátridas ou heimatlos);
 cidadania: tem por pressuposto a nacionalidade (que é mais ampla que a
cidadania), caracterizando-se como a titularidade de direitos políticos de
votar e ser votado;
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UNIDADE I – Direitos da Nacionalidade

 Conceitos: Lenza nos esclarece alguns conceitos importantes.


 nação: conjunto de pessoas ladeadas pela mesma língua, cultura,
costumes, tradições, adquirindo identidade sociocultural, tendo
consciência e sentimento da mesma, na medida em que partilham dos
mesmos valores culturais e espirituais que os une;
 nacionalidade: como vimos, é o vínculo jurídico-político que liga um
indivíduo a determinado Estado, fazendo com que esse indivíduo passe
a integrar o povo desse Estado e, por consequência, desfrute de
direitos e se submeta a obrigações. Como diria Pontes de Miranda, a
nacionalidade faz da pessoa um dos elementos componentes da
dimensão pessoal do Estado;
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UNIDADE I – Direitos da Nacionalidade

 Como se adquire cidadania?


 São espécies de aquisição de nacionalidade:
 Primária – Adquirida pelo indivíduo por critérios estabelecidos pelo Estado e que
independe da vontade do indivíduo;
 Ius sanguinis;
 Ius solis;
 Secundária – Adquirida pelo querer do indivíduo, observados os regramentos
estatais. Neste caso, podendo ser por pessoa com uma determinada
nacionalidade ou, ainda, por quem não possuir nacionalidade (heimatlos).
 Como se adquire a nacionalidade brasileira?
 Critério de nascimento em território brasileiro (jus solis) – regra geral de aquisição;
 Critério de ascendência brasileira (jus sanguinis).
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UNIDADE I – Direitos da Nacionalidade

 Quem são considerados brasileiros natos e quem são naturalizados?


 Natos: (jus solis) nascidos no Brasil (Art. 12, I, a, CF/88); (jus sanguinis) nascidos
no estrangeiro, com pai/mãe a serviço do governo brasileiro (Art. 12, I, b,
CF/88); (jus sanguinis) nascidos no estrangeiro, desde que registrados em
repartição brasileira ou que escolha, após atingida a maioridade, a
nacionalidade brasileira (Art. 12, I, c, CF/88).
 Naturalizados: adquirem nacionalidade brasileira, na forma da lei, cidadãos
lusófonos, com, pelo menos 1 ano de residência ininterrupta e idoneidade
moral (Art. 12, II, a, CF/88); estrangeiros de qualquer nacionalidade, com
residência há mais de 15 anos ininterruptos e sem condenação criminal (Art.
12, II, b, CF/88).
 A condição do Português: tratado de reciprocidade (quase
nacionalidade)
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UNIDADE I – Direitos da Nacionalidade
"Outrossim, temos a hipótese dos portugueses com residência
permanente no Brasil que queiram continuar com a
nacionalidade portuguesa (estrangeiros) e não façam a
opção pela naturalização brasileira.

Havendo reciprocidade em favor de brasileiros, serão


atribuídos aos portugueses com residência permanente no
Brasil os mesmos direitos inerentes aos brasileiros, salvo os casos
em que houver expressa vedação constitucional." (LENZA,
2023, p.3449)
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UNIDADE I – Direitos da Nacionalidade

 Existe distinção entre brasileiros natos e naturalizados?


 Em questões de direitos fundamentais, a Constituição Federal é clara e
cristalina, garantindo a igualdade de tratamento para brasileiros natos e
naturalizados, estendendo-os também aos estrangeiros residentes no Brasil.
 Liberdade, vida, segurança, etc.
 Porém, quanto a algumas atribuições, somente brasileiros natos podem
ocupar:
 Art. 12, §3º, I a VII, CF/88: Presidente da República e vice, Presidentes da Câmara e
do Senado, Ministros do Supremo Tribunal Federal, Diplomatas (carreiras), Oficial
das FAB e Ministro de Estado da Defesa
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UNIDADE I – Direitos da Nacionalidade

 Nacionalidade poderá ser perdida?


 Sim, conforme §4º do Art. 12, CF/88:
 Cancelamento da naturalização por sentença judicial (nocividade ao interesse
nacional);
 Aquisição de outra nacionalidade (com ressalvas às legislações originárias da
nacionalidade adquirida, que permita haver o mantenimento da nacionalidade
brasileira)
 ATENÇÃO: Projeto está em tramitação para que a nacionalidade se mantenha, alterando
o texto constitucional - https://www.camara.leg.br/noticias/808904-CCJ-APROVA-PEC-QUE-
MANTEM-NACIONALIDADE-DO-BRASILEIRO-QUE-OBTEM-OUTRA-NACIONALIDADE
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UNIDADE I
c. Regime Jurídico
do Estrangeiro
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UNIDADE I – Regime Jurídico do Estrangeiro

 Antes de qualquer consideração: o estrangeiro tem direito aos direitos


previstos na Constituição brasileira?
 Sim! O STF tem reconhecido isso e já existe até mesmo entendimento de
direito aos remédios constitucionais (STF - HC: 94404 SP, Relator: Min.
CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 18/11/2008, Segunda Turma, Data
de Publicação: DJe-110 DIVULG XXXXX-06-2010 PUBLIC XXXXX-06-
2010 EMENT VOL-02406-02 PP-00364).
46
UNIDADE I – Regime Jurídico do Estrangeiro
47
UNIDADE I – Regime Jurídico do Estrangeiro

 A condição do estrangeiro, ainda, é regida pela Lei de Migração (Lei


13445/2017), que substituiu o Estatuto do Estrangeiro;
 Quem é quem? (Art. 1º)
 imigrante: pessoa nacional de outro país ou apátrida que trabalha ou reside
e se estabelece temporária ou definitivamente no Brasil;
 emigrante: brasileiro que se estabelece temporária ou definitivamente no
exterior;
48
UNIDADE I – Regime Jurídico do Estrangeiro

 residente fronteiriço: pessoa nacional de país limítrofe ou apátrida que


conserva a sua residência habitual em município fronteiriço de país vizinho;
 visitante: pessoa nacional de outro país ou apátrida que vem ao Brasil para
estadas de curta duração, sem pretensão de se estabelecer temporária ou
definitivamente no território nacional;
 apátrida: pessoa que não seja considerada como nacional por nenhum
Estado, segundo a sua legislação, nos termos da Convenção sobre o Estatuto
dos Apátridas, de 1954, promulgada pelo Decreto nº 4.246, de 22 de maio de
2002 , ou assim reconhecida pelo Estado brasileiro.
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UNIDADE I – Regime Jurídico do Estrangeiro

 Princípios (Lei de Migração):


 I - universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos;
 II - repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de
discriminação;
 III - não criminalização da migração;
 IV - não discriminação em razão dos critérios ou dos procedimentos pelos
quais a pessoa foi admitida em território nacional;
 V - promoção de entrada regular e de regularização documental;
50
UNIDADE I – Regime Jurídico do Estrangeiro

 Princípios (Lei de Migração):


 VI - acolhida humanitária;
 VII - desenvolvimento econômico, turístico, social, cultural,
esportivo, científico e tecnológico do Brasil;
 VIII - garantia do direito à reunião familiar;
 IX - igualdade de tratamento e de oportunidade ao
migrante e a seus familiares;
 X - inclusão social, laboral e produtiva do migrante por
meio de políticas públicas;
Obrigado! 51

 Continuaremos na próxima aula, nos aprofundando um pouco;


 Dúvidas? Além de nossos encontros, temos outros meios de saná-
las, como meu email (igordias.professor@gmail.com) e pelo
WhatsApp (88 99874-2739);

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