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Procedimentos para aplicação da teoria
fundamentada em dados nas pesquisas em
enfermagem
Procedures for application of grounded theory in
nursing researches
Maria da Graça Oliveira Crossetti
Escola de Enfermagem,
Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Porto Alegre, Brasil
mgcrossetti@gmal.com
Marta Georgina Oliveira de Goes
Programa de Pós Graduação da Escola de Enfermagem
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Resumo — A Teoria fundamentada em dados é um método de
pesquisa qualitativa para a coleta e análise dos dados e resulta
em uma teoria substantiva que é uma interpretação teórica de
um problema delimitado em uma área específica do
conhecimento. Na enfermagem é um caminho para compreender
o processo da interação social e o modo como a equipe de
enfermagem atua nas situações cotidianas. Neste estudo
propomos, baseados em um referencial teórico, apresentar os
procedimentos para aplicação da teoria fundamentada em dados
nas pesquisas em enfermagem. Dentre estes encontram-se a
coleta e análise dos dados concomitante, comparação constante
em todos os níveis de análise, codificação a partir dos dados,
elaboração de conceitos, a realização de memos, entre outros
recursos, construção das categorias e elaboração da teoria.
Palavras Chave – teoria fundamentada em dados;
enfermagem; metodologia de pesquisa
Abstract — The Grounded theory is a qualitative research
method for gathering and data analysis and it results into a
substantive theory that is a theoretical interpretation of a
delimited problem in a specific area of knowledge. In nursing it’s
a way to understand the process of social interaction and the way
the team of nursing acts in everyday situations. In this study we
propose, based on a theoretical referential, present the
procedures for application of grounded theory in nursing
researches. Among these are the collection and data analysis
concomitant, constant comparison at all levels of analysis,
codification from the data, formulation of concepts, realization of
memos, in between other resources, building of categories and
elaboration of theory.
Keywords – grounded theor; nursing; research methodology
Porto Alegre, Brasil
mgogoes@gmail.com
Crhis Netto de Brum
Curso de Graduação em Enfermagem, Universidade
Federal da Fronteira Sul
Chapecó, Brasil
crhisdebrum@gmail.com
I. INTRODUÇÃO
A teoria fundamentada em dados foi desenvolvida por
Barney G. Glaser e Anselm Strauss durante suas pesquisas
sobre o processo de morte em hospitais e apresentada no livro
The Discovery of Grounded Theory em 1967, onde os autores
articularam as estratégias e defenderam o desenvolvimento de
teorias a partir da pesquisa baseada em dados, ao invés da
dedução de hipóteses analisáveis a partir de teorias existentes
[1][2][3].
A consolidação do método prosseguiu com os estudos de
Strauss e Juliet Corbin ao incluir a verificação,
desenvolvimentos de novos procedimentos técnicos, em
oposição aos métodos comparativos. Glaser permaneceu com
o princípio inicial do método, a teoria fundamentada em dados
(TFD) enquanto método de descoberta, enfatizando que as
categorias surgem a partir dos dados, baseada no empirismo
objetivo e restrito em um processo social básico [1][2][3].
A TFD propicia um modo de desvelar o entendimento
comum sobre determinado fenômeno e suas relações, na
perspectiva dos envolvidos e possibilita emergir o que for
teoricamente relevante[4].
O referencial teórico na TFD é estabelecido após a análise
dos dados obtidos pelo pesquisador e é utilizado para explicar
a sua lógica e orientação conceitual, destacar as ideias
principais, reconhecer os estudos anteriores, situar a nova
Teoria em relação a estes estudos e justificar o significado dos
conceitos elaborados pelo pesquisador [2][3].
A teoria decorrente dos estudos que utilizam a TFD é
denominada teoria substantiva a qual é uma interpretação ou a
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explicação teórica de um problema delimitado em uma área
específica do conhecimento [3].
A teoria substantiva deve incorporar conceitos que estão
relacionados com o que está ocorrendo aos participantes. Estes
conceitos devem "trabalhar" para interpretar e explicar o que
está acontecendo e oferecer uma previsão do que irá ocorrer
[4].
Na teoria fundamentada busca-se desvendar o que ocorre
em ambientes de pesquisa nos quais o pesquisador está
integrado, a forma que os participantes do estudo explicam
seus enunciados e ações, além de questionar a compreensão
analítica que o pesquisador pode obter a partir destes dados,
ou seja, a compreensão teórica da experiência estudada. Esta
metodologia difere de outras por implicar no
comprometimento do pesquisador na análise dos dados ao
mesmo tempo em que realiza a coleta [3].
Dentre seus os traços característicos encontram-se a
exploração dos processos subjacentes aos fenômenos
estudados com o objetivo de evidenciar quais processos
sociais e psicológicos embasaram estes fenômenos [5].
Outras características incluem a simultaneidade da coleta e
análise dos dados, a utilização do método da comparação
constante em todos os níveis de análise, a codificação a partir
dos dados, elaboração de conceitos ao invés de descrições, a
realização de memos, diagramas, mapas conceituais,
ilustrações para auxiliar na compreensão e construção das
categorias. A amostragem teórica, outra importante
característica da TFD está ligada aos pressupostos analíticos e
metodológicos da teoria fundamentada, a amostra não se
forma “a priori”, mas ao longo do estudo, seguindo as lacunas
da teoria emergente para fortalecer e saturar as categorias [5].
Entre os critérios de avaliação da teoria fundamentada
destacam-se: credibilidade, originalidade, ressonância e
utilidade [1][2][3].
A credibilidade exige que o investigador ofereça
evidências suficientes para que por meio das suas afirmações,
possibilite a formação de uma opinião independente para
concordar ou não com as afirmações. Para tanto podem ser
utilizados experts na área de atuação pesquisada. Os dados
devem ter alcance, número e a profundidade necessários para
sustentar as afirmações.
A originalidade pressupõe que os elementos de análise
devem apresentar categorias originais, que propiciem novas
interpretações conceituais dos dados e evidenciem a relevância
social e teórica do trabalho.
No critério ressonância as categorias devem retratar a
totalidade da experiência estudada e explicitar significados
explícitos, ocultos ou mutáveis. Os informantes devem
reconhecer-se na história narrada e perceber como razoável a
explicação dada. Além disso, é importante destacar as
conexões entre os indivíduos, grupos ou instituições, quando
identificadas.
No critério utilidade, a análise deve oferecer interpretações
que podem se empregadas no cotidiano e as categorias
analíticas necessitam apresentar os processos genéricos e ter
suas implicações tácitas ponderadas. Além de estimular novas
pesquisas e agregar conhecimento. Outros critérios também
são destacados como o mérito estético e o impacto analítico
[1][3].
Na abordagem Construtivista a ênfase recai sobre o
fenômeno estudado a invés do método, adota uma postura
reflexiva sobre os modos de conhecer e representar este
fenômeno, além de explorar e interpretar as afirmações ou
atitudes implícitas. As teorias fundamentadas são construídas
por meio do envolvimento e das nossas interações com os
indivíduos, perspectivas e as práticas de pesquisa anteriores e
atuais [2][3].
O construtivismo é um movimento que se consolidou no
início do século XX e possui as suas raízes na filosofia. Os
construtivistas mais proeminentes foram Piaget, Wallon e
Vygotsky estes autores possuíam em comum a premissa de
que a construção do conhecimento acontece sob o prisma da
interação do sujeito-objeto com o meio ambiente. Apesar de
esses estudiosos possuírem visões de mundo e posições
teóricas diferentes, eles defenderam o valor do social na
construção do processo do conhecimento [6].
O construtivismo no contexto da TFD pressupõe que as
pessoas, até mesmo os pesquisadores constroem as realidades
das quais compartilham. A averiguação construtivista parte da
experiência e indaga como os participantes a criaram, desse
modo ambos (pesquisador e participante) interpretam os
significados e ações desta experiência. Os pesquisadores na
TFD construtivista têm como pressuposto que tanto os dados
quanto as análises caracterizam-se como construções sociais.
Assim toda a análise está situada no tempo, espaço, cultura e
condição experienciada [1][2][3].
A abordagem construtivista como método de pesquisa
possibilita a geração de conhecimentos, acredita no potencial
do ser humano, atribuindo-lhe a capacidade de apreciação das
situações cotidianas e a seleção das melhores alternativas na
busca pela solução dos problemas em foco. Além disso, este
método apresenta-se como um processo ativo de
aprendizagem, faz uso da discussão como instrumento, a
reflexão dialógica, é capaz de transformar o modelo mental
dos indivíduos e construir novos modos de ponderar e atuar. É
um processo construído com um esforço inventivo que pode
fortalecer o relacionamento entre e dentro dos grupos e
incentivar a remodelação da estrutura institucional [7].
Na pesquisa construtivista o ser humano, enquanto ser
histórico e social é responsável por conservar ou transformar o
contexto no qual está inserido. Além disso, busca a
flexibilidade e a adaptação e mostra a relação entre o
pesquisador e os indivíduos que participam do estudo [8]. É o
entendimento do modo como os indivíduos criam, modificam
e interpretam o mundo em que vivem e visa à compreensão
principalmente dos sujeitos, enfatiza que a análise dos dados
emergirá dos relatos, onde os indivíduos manifestam sua
natureza e características no decorrer do processo
investigativo [9].
O Interacionismo Simbólico na teoria fundamentada em
dados é resultante da influência da escola de Chicago sobre
Strauss, a qual via os seres humanos como agentes ativos em
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suas vidas e ao seu redor, e que não são passivos às forças
sociais que os envolvem. Strauss trouxe para TFD as noções
da atividade humana, dos processos emergentes, das
significações sociais e subjetivas, das técnicas e soluções de
problemas e do estudo integral da ação. Em sua perspectiva
teórica o Interacionismo Simbólico entende a sociedade, a
realidade e o indivíduo como estabelecidos por meio da
interação e desse modo conta com a linguagem e a
comunicação. Esse ponto de vista pressupõe que a interação é
fundamentalmente dinâmica e interpretativa, e trata-se de
como as pessoas criam, representam e alteram os significados
e ações [3]. A TFD construtivista em uma perspectiva
interacionista simbólica proporciona uma imagem
interpretativa do mundo estudado e não uma reprodução fiel
deste [2][3].
Nos estudos da Enfermagem permite o entendimento das
respostas humanas por desvelar os significados que o
indivíduo atribui às situações vividas, valoriza a linguagem do
discurso, como também a linguagem simbólica a partir de seu
comportamento [10].
Como referencial teórico para a Enfermagem é adequado
em razão do contínuo relacionamento humano, que acontece
entre pacientes e a equipe de enfermagem, a qual necessita do
processo interativo para o exercício pleno de seu ofício[11].
Além disso, a construção de um corpo de conhecimentos na
enfermagem acontece a partir da sua prática ao observar as
variações nesta realidade, possibilitando a compreensão da
diversidade de experiências do ser humano, o que é
fundamental ao se buscar construir um modelo de cuidado
espiritual a partir dos pressupostos, significados e ações
atribuídos pelos enfermeiros e técnicos de enfermagem [11].
Contudo, o que se constata na literatura de enfermagem
tem sido a predominância na aplicação do referencial teórico
preconizado pelos autores Glaser, Strauss, Corbin[5], todavia
em nosso meio ainda são escassos os trabalhos que utilizam
Charmaz cuja abordagem construtivista acredita-se adequa-se
à natureza dos estudos na enfermagem, que buscam
compreender as complexas interações construídas pelos
sujeitos do cuidado.
Assim visando ampliar a possibilidade de aplicação deste
método desenvolveu-se este artigo, que tem por objetivo
descrever os procedimentos metodológicos da teoria
fundamentada em dados para as pesquisas em enfermagem,
baseados no referencial teórico de Charmaz [1][2][3].
II. PROCEDIMENTOS PARA APLICAÇÃO DA TFD NA
ENFERMAGEM
Na primeira etapa da TFD são realizadas entrevistas
semiestruturadas, com dados de identificação dos
participantes. A entrevista recomendada é a do tipo intensiva,
caracterizado por perguntas amplas e abertas, não valorativas,
na qual o entrevistador manifesta o interesse de aprofundar
determinado tema. Este tipo de entrevista possibilita examinar
de forma minuciosa detalhes do discurso de um entrevistado
com experiências relevantes [2][3].
Desse modo, com vistas à elaboração dos três tipos de
codificação inicial, focalizada e axial propostas pelo método,
após a transcrição de cada entrevista são recomendadas as
seguintes etapas [1][2][3]:
A. Codificação inicial a qual fragmenta os dados das
entrevistas, nas palavras, linhas ou segmentos de
dados, implica em transcrever todo o material
coletado e as frases analisadas e selecionar as
palavras-chave. Ao longo de todas estas fases são
construídos os memorandos ou “memos” similares
aos diários de campo, os quais detêm os pensamentos
do pesquisador, registram as comparações e conexões
realizadas, e indicam as questões e as direções a serem
seguidas. Outros recursos como diagramas, mapas
conceituais também podem ser utilizados.
B. Codificação focalizada a qual utiliza os códigos
iniciais, ou categorias iniciais mais significativas ou
frequentes para classificar, sintetizar, integrar e
organizar quantidades enormes de dados.
C. Codificação axial que especifica as propriedades e as
dimensões de uma categoria, ao relacionar as
categorias com as subcategorias e reagrupar os dados
que foram fragmentados durante a codificação inicial
para dar coerência à análise emergente.
Nessa categorização são incluídos três
componentes:
Condições, circunstâncias ou situações, ou
seja, os pressupostos sobre os quais são
construídos os significados e ações
atribuídos ao fenômeno em estudo.
Ações/interações que são as estratégias
conferidas ao fenômeno estudado.
Consequências, efeitos das ações/interações
que são as resultantes das ações e estratégias
atribuídas ao fenômeno estudado.
A Teoria é estruturada a partir dos significados e ações,
estratégias e resultantes das ações relativas ao fenômeno
pesquisado e a partir das experiências e vivências dos
indivíduos envolvidos.
A resultante destas etapas constituirá nos pressupostos da
teoria os quais ainda podem ser validados em um Grupo Focal
(GF) composto por experts sobre o fenômeno em estudo para
atender os critérios da TFD: credibilidade, originalidade,
ressonância e utilidade. Os dados provenientes deste(s)
encontro(s) podem ser processados de acordo com os
princípios da TFD.
III. CONCLUSÕES
Os procedimentos para aplicação da TFD na pesquisa em
enfermagem consistem na coleta de dados por meio de
entrevista do tipo intensiva, a elaboração de memos, entre
outros recursos que possam contribuir na construção das
categorias. A codificação a partir dos dados é realizada em três
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níveis inicial, focalizada e axial. A coleta e a análise dos dados

ocorrem concomitantes, a comparação é constante em todos os
níveis de análise com vistas à elaboração de conceitos,
construção das categorias e elaboração da teoria.
A relevância na utilização deste método consiste na
construção ou desenvolvimento de fundamentos teóricos que
possam orientar a prática de enfermagem a partir das
experiências e vivências dos pacientes e seus familiares,
enfermeiros e técnicos de enfermagem nos diferentes
cenários de cuidado.

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