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Texto Complementar

RODRIGUES, A.P.; RODRIGUES, F.I.A.; SILVA, S.B.; DA SILVA, D.S.; LEITE,


L.R. “Produtos sem química?”. In: Anais V CONEDU – Congresso Nacional
da Educação. CECON-PE, 2018 , disponível em
http://www.editorarealize.com.br/revistas/conedu/trabalhos/TRABALHO_EV117
_MD1_SA16_ID21_12092018135736.pdf , acessado em 15/08/2019

“PRODUTOS SEM QUÍMICA?”


Acássio Paiva Rodrigues1; Francisco Igor Alves Rodrigues2; Séfora Bezerra
Silva3; Dráulio Sales da Silva4; Luciana Rodrigues Leite5.

Resumo: A forma como os educadores abordam os conceitos químicos em sala


de aula mostra-se de extrema relevância na efetivação dos processos de ensino
e aprendizagem, haja vista que mediante o atual contexto de memorização de
fórmulas e teorias é necessário que os educadores busquem estratégias de
ensino pautadas no uso da contextualização. Desta forma, nesse trabalho,
utilizou-se dessa estratégia de ensino, abordando assuntos envoltos na
“vilanização” da química, buscando analisar, juntamente com os alunos, os lados
positivos e negativos que essa ciência possui. Nesse intento, o projeto “Produtos
sem Química?” foi aplicado a 40 alunos do 2º ano de uma escola de Ensino
Médio localizada no município de Sobral-CE, no segundo semestre de 2017, em
um período de duas aulas. Inicialmente foram promovidas discussões a respeito
de imagens e frases em que a química é evidenciada como ‘vilã’. Quando
indagados a respeito dessas situações cotidianas, os alunos apresentaram
respostas variadas apontando pontos positivos e negativos em relação ao seu
uso. Em um segundo momento aplicou-se um questionário com a finalidade de
sondar os conhecimentos adquiridos. Nessa atividade foi possível realizar
debates e discussões, promovendo reflexões a respeito do tema. Foi constatado
que os alunos foram capazes de discutir e desenvolver pensamentos positivos a
respeito da ciência química, assim como destacar seus pontos negativos. Além
disso, pôde-se perceber que a referida atividade contribuiu para o
desenvolvimento do senso crítico dos mesmos.
Palavras-chave: Contextualização. Ensino de Química, Produtos sem Química.

INTRODUÇÃO
A frase “Produto sem Química” é comum em anúncios de revistas e propagandas
na televisão. Essa afirmação pode gerar uma imagem negativa, principalmente,
para o ser humano que não conhece o significado e o papel que esta ciência
representa para o desenvolvimento social, econômico, tecnológico e ambiental.

A “vilanização” da química vem acontecendo há muito tempo, resultante do


conhecimento dessa ciência ser utilizado de forma imprudente em algumas
situações, como nos bombardeios das cidades de Hiroshima e Nagasaki, no
Japão, durante a Segunda Guerra Mundial. Após esse e outros acontecimentos,
à exemplo de grandes derramamentos de petróleo ou a utilização exacerbada
de agrotóxicos, as pessoas comumente relacionam o nome química a algo ruim
ou prejudicial à saúde.

Amparo (2017) destaca que essa imagem de antagonista seja atribuída à


Química por causa de alguns problemas ocasionados pelo uso inadequado
deste conhecimento. Os autores Marques et al. (2007) corroboram essa
perspectiva e relatam que os problemas ambientais oriundos da utilização dos
produtos químicos em atividades industriais e agrícolas têm um papel
determinante nesse processo.

Diante desses fatos, algumas empresas aproveitam para lançar no mercado


anúncios sobre produtos que alegam estarem isentos de química. Na falta de
conhecimento, as pessoas dão credibilidade a esse tipo de propaganda e
acabam atribuindo paulatinamente e sem perceber um caráter de vilã à Química.

No contexto escolar, Miranda e Costa (2007) destacam que o fato da escola dar
maior ênfase à transmissão e memorização de conteúdos, acaba distanciando
os alunos do conhecimento químico. Além disso, a falta de contextualização
prejudica no estabelecimento de relações, por parte dos discentes, entre o que
se estuda em sala de aula e o que é visto fora da escola. Sobre essa realidade,
Malafaia (2008) conclui que a ênfase dada a abstração dos conhecimentos
químicos compromete os processos de ensino e aprendizagem.

Zuliani (2006), por sua vez, destaca a importância da contextualização em sala


de aula, sobretudo a investigação como um dos fatores essenciais no processo
de evolução conceitual dos discentes. Santos e Mortimer (1999), destacam que
tanto a ideia de cotidiano quanto a de contextualização podem ser entendidas e
aplicadas à simples exemplificações do conhecimento químico, presentes em
fatos cotidianos. Esse tipo de trabalho pode contribuir para a desmistificação do
lado negativo atribuído a essa ciência.

Segundo Santos (2007, p. 21) “[...] o ensino da química precisa ser


contextualizado, onde o foco do conhecimento é a formação consciente do
cidadão”. Desse modo, com o objetivo de proporcionar aos alunos momentos de
contextualização, interdisciplinaridade e investigação sobre o conteúdo Química
no cotidiano, o presente projeto teve como objetivo discutir e encontrar possíveis
respostas a respeito do tema “vilanização” da Química, partindo da perspectiva
de que essa disciplina apresenta índice elevado de rejeição entre os educandos,
pois estes acreditam que os conceitos são extremamente abstratos e de difícil
compreensão (LIMA et al., 2000; SILVA, 2007).

METODOLOGIA

O projeto intitulado “Produtos sem Química?” foi elaborado e aplicado na


E.E.M.T.I. Carmosina Ferreira Gomes, situada na cidade de Sobral-CE. As
atividades do projeto foram realizadas com 40 (quarenta) alunos de uma turma
de 2º ano do Ensino Médio, subdivididas em dois momentos: no primeiro
abordou-se o tema através de slides com manchetes e propagandas sobre
produtos de beleza, cremes, xampus e alimentos que alegam estarem isentos
de química, e tratam a química como “vilã”. A cada manchete apresentada aos
estudantes um debate era realizado, conduzido por 04 (quatro) bolsistas do
Programa de Iniciação à Docência do curso de Licenciatura em Química da
Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) – PIBID/UVA.

No segundo momento foi aplicado um questionário para avaliação da atividade


e sondagem da opinião dos discentes sobre as aprendizagens adquiridas acerca
do tema. Esse questionário misto, composto de 04 (quatro) questões, abordou
aspectos sobre a visão desses alunos sobre a ciência Química e a avalição dos
mesmo em relação à metodologia empregada. Ressalta-se que essa atividade
foi desenvolvida durante duas aulas de Química, no período de novembro a
dezembro de 2017. Os procedimentos de análise dos dados foram realizados a
partir da análise de conteúdo proposta por Bardin (2009).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente foi realizada uma discussão sobre a presença da Química no dia a


dia. Esse momento foi conduzido através de uma apresentação de slides
contendo imagens, manchetes e propagandas retiradas da internet sobre
produtos de beleza, cremes, xampus e alimentos que alegam estarem isentos
de química, para discutir a ‘vilanização’ da Química (Figura 01).
Abaixo seguem dispostas alguma das imagens apresentadas aos alunos:

Buscou-se trazer para a discussão um aspecto relevante do contexto


mercadológico, no qual os produtos de higiene são os que mais propagam essa
imagem deturpada sobre a Química. São apresentadas também, abaixo,
algumas das manchetes retiradas de sites da internet que foram apresentadas
aos alunos.
Após a discussão dessas imagens e manchetes, conduzida pelos bolsistas, foi
aplicado o questionário aos estudantes. E a seguir serão apresentados e
discutidos os resultados obtidos com essa aplicação.

Na primeira pergunta do questionário os estudantes foram indagados se a


química era prejudicial à saúde. Foi solicitado aos mesmos que justificassem
suas respostas. No gráfico 01 pode-se observar que mesmo após a explanação
do tema 15% (06) dos estudantes ainda possuíam a opinião de que a química é
prejudicial à saúde. Dentre esses alunos, 03 discentes alegaram em suas
respostas que a química era prejudicial devido causar impactos ao meio
ambiente e influenciar na saúde da população. Os outros 03 relataram que a
química ocasionava tragédias, por isso era prejudicial.

É possível identificar que alguns estudantes ainda apresentaram a visão de que


a Química é prejudicial à saúde sem distinguir seus benefícios e malefícios.
Amparo (2017) relata que a popularidade da Química em relação as outras
matérias é inferior devido ao fato de os estudantes não enxergarem sua
importância.

Na segunda questão foi solicitado aos discentes que avaliassem a metodologia


que os bolsistas utilizaram para abordar o tema. Analisando a figura 02 nota-se
que 90% (38) da turma aprovou a metodologia. Alguns dos estudantes que
responderam positivamente afirmaram que temas como estes devem ser mais
trabalhados em sala de aula, valendo ressaltar que despertam o interesse e
possibilitam que a aprendizagem ocorra de forma mais dinâmica.
Os autores Filho et al. (2011) relatam que o estudante só vê significado no que
está estudando quando consegue compreender e reproduzir aquele
conhecimento. Aquino (2007) corrobora essa ideia, conforme disposto a seguir:
Aprendizagem refere-se à aquisição cognitiva, física e
emocional, e ao processamento de habilidades e conhecimento
em diversas profundidades, ou seja, o quanto uma pessoa é
capaz de compreender, manipular, aplicar e/ou comunicar esse
conhecimento e essas habilidades. A aprendizagem está,
portanto, intimamente relacionada à profundidade do
processamento de habilidades e conhecimento, ou seja, ao nível
que representa o quanto estamos engajados em pensar sobre o
que está sendo aprendido. (AQUINO, 2007, p. 6)

Nesse intento, utilizar metodologias alternativas pode contribuir para que a


aprendizagem aconteça de forma efetiva, levando o aluno a construir, produzir e
pensar sobre inúmeros caminhos. Realizando uma pesquisa sobre concepções
de professores de Química à respeito de contextualização, Santos e Mortimer
(1999) destacam que uma alternativa eficaz de ensino é utilizar exemplos do
cotidiano em sala de aula, pois contribui para um bom aprendizado. Em pesquisa
sobre a mesma temática, os autores Almeida et al. (2007) relatam que utilizar-
se da contextualização de conteúdos em sala de aula permite ao aluno
compreender melhor os conteúdos.

Na terceira pergunta os alunos deveriam citar exemplos negativos do uso da


química. Os exemplos mais citados foi o rompimento da barragem em
Mariana/MG com a contaminação por metais pesados no solo em 2015, a
produção de bombas atômicas na Segunda Guerra Mundial e o caso de
contaminação com Césio-137 em Goiânia/GO, em 1987. Exemplos que ilustram
o quão destrutivo o uso indevido do conhecimento químico pode ser. Esses
exemplos são difundidos através da mídia, através de manchetes de revistas e
jornais, em que a Química acaba se tornando a ‘vilã’ da história.
Em uma quarta pergunta os alunos deveriam citar os exemplos do bom uso da
química no cotidiano e os seus benefícios. Dentre os mais citados destacou-se
a produção de alimentos, de medicamentos, de energia, no desenvolvimento
econômico e tecnológico, na saúde, entre outros. É importante ressaltar que este
antagonismo é atribuído à Química devido às recorrentes situações nas quais o
conhecimento científico foi utilizado de forma inadequada.

CONCLUSÕES

Através da atividade proposta, os alunos reconheceram a importância da


química, bem como os pontos positivos e negativos deste conhecimento
científico na sociedade, enquanto o debate proporcionou a produção de
pensamentos positivos a respeito do uso correto e responsável da ciência
química na comunidade. Desta forma, foi possível realizar debates e discussões,
buscando promover reflexões a respeito do tema, não encontrando empecilhos
no cumprimento da atividade. Nos debates propostos os alunos foram capazes
de discutir e desenvolver seu senso crítico, mediante o reconhecimento das
potencialidades da ciência química para possibilitar melhorias na qualidade de
vida das pessoas, assim como identificar os riscos oriundos de uma má utilização
desse conhecimento científico.

REFERÊNCIAS

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