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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

CURSO DE DIREITO

HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS

COMPARAÇÃO ENTRE TUTELA E CURATELA NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO E DIREITO ROMANO

Nome: Amanda Vedana

Professor(a): Maria das Graças

Pelotas

2023
INTRODUÇÃO

É de amplo consentimento entre os estudiosos do Direito, a influência exercida


pelo sistema jurídico romano e suas visíveis contribuições nos códigos, legislações
e doutrinas do mundo atual. Compilado pelo Imperador Justiniano, o sistema jurídico
romano serviu como fonte principal para a estruturação tanto do direito em âmbito
privado quanto público, tornando-se assim uma influência direta e quase literal para
a elaboração das leis.
Entre os países que utilizaram como fonte quase literal as contribuições
estabelecidas pelo Imperador Justiniano, encontra-se o Brasil. Além disso, é válido
ressaltar que as influências não foram direcionadas somente ao processo de
elaboração das normas, mas também, ao conteúdo que preenche os códigos em
que os operadores do direito baseiam-se para exercer o mesmo.
Dessa forma, dois institutos atribuídos pelo Código Civil, a tutela e a curatela,
serão comparadas diante do Direito Civil brasileiro e romano, a fim de evidenciar a
importante ascendência dos romanos no âmbito jurídico atual brasileiro.
Tutela e curatela: semelhanças e diferenças entre as Institutas de Justiniano e o
Código Civil Brasileiro
A tutela e curatela são institutos que estão presentes no Código Civil brasileiro, eles
possuem um objetivo em comum embora sejam independentes, pois ambos
objetivam a proteção dos considerados incapazes - de fato e de direito - os quais
necessitam estar na companhia de outrem para realizar as atividades da vida civil.

A tutela é um mecanismo designado para outrem agir em nome de um menor, dado


e permitido pelo direito civil, para proteger, administrar os bens e reger a vida
daquele que pela idade não pode se defender e não se encontra no poder do pai
nem da mãe, sendo os tutores os que detém esse poder de autoridade.
Há algumas semelhanças e divergências dentre os institutos como já supracitado,
por exemplo, quem pode ser o tutor, como se nomear um tutor, quem não pode ser
um tutor, quem pode se escusar, qual a autoridade do autor e como a tutela pode
ser extinguida nos dois âmbitos.
Dessa forma, nas Institutas se nomeia um tutor, por meio de um testamento do
paterfamílias em favor do filho ou descendente impúbere, que se tornava suijuris
com a sua morte; por meio da tutela legítima, que era a tutela ab intestato que
ocorria quando o paterfamilias não tivesse feito testamento, ou mesmo tendo-o feito
não designava tutor para seu filho ou filha impúberes e, desse modo, a tutela era
dada aos parentes pelo lado masculino, pelo lado paterno; ou pela tutela dativa, que
era determinada pelo magistrado, quando não existia tutela legitima nem
testamentária, visando suprir uma situação de fato. Já no Direito Civil brasileiro,
pode ser nomeado um tutor por meio de um testamento dos pais em disposição de
última vontade; de modo legítimo, quando recai sobre parentes consanguíneos em
decorrência da lei e na falta de tutor nomeado pelos pais e de modo dativo, quando
o tutor for nomeado pelo juiz. Em relação à possibilidade de ser ou não ser tutor,
nas Institutas só podem ser tutores os maiores de 21 anos, os quais deixam, por
isso, de serem filhos de família. Também o escravo pode ser nomeado tutor,
tornando-se livre nesse momento. O louco ou menor de 25 anos, quando nomeado
tutor em testamento, assumirá a tutela quando se curar ou atingir a idade. Além
disso, os antigos romanos denominavam que quando há uma diminuição da
capacidade do responsável, ele não poderia obter o título de tutor, sendo ela
máxima, ou também quando alguém perde a cidadania e a liberdade ao mesmo
tempo; média, quando alguém perde a cidadania, mas conserva a liberdade ou
mínima, quando alguém conserva a cidadania e a liberdade mas muda o seu
estado, como um sui juris se tornar alieni juris. Porém, no Direito Civil brasileiro,
podem ser admitidos tutores quem tiver idade superior a 18 anos, para o caso da
tutela, pode assumir este papel qualquer pessoa conhecida do assistido, sendo a
preferência dada a cônjuges e demais familiares. Caso não haja um parente
próximo, uma pessoa conhecida será nomeada para ocupar este papel. Já, os quais
não podem admitir esse papel, são inimigos do menor, de seus pais ou pessoas
expressamente excluídas da tutela; quem não estiver na livre administração de seus
bens; quem tem alguma obrigação ou direito para com o menor; condenados por
crime contra o patrimônio, a família e os costumes; pessoas de maus procedimentos
ou culpadas em abuso de tutorias anteriores e quem tem função pública
incompatível com a tutoria. Ainda relacionando as semelhanças, nas Institutas quem
poderia se escusar eram, o primeiro que cedesse o encargo a outra pessoa, por
meio da in iurecessio, o segundo que declara-se solenemente, perante
testemunhas, não desejar exercê-la. Ou, o tutor que mesmo entendendo que não
podia exercer a tutela teria que apresentar motivos justos como: pobreza extrema,
saúde precária, ser veterano das legiões romanas, ser analfabeto entre outros. No
direito brasileiro, a lista de quem pode se escusar é um pouco maior, tratando-se I -
mulheres casadas; II - maiores de sessenta anos; III - aqueles que tiverem sob sua
autoridade mais de três filhos; IV - os impossibilitados por enfermidade; V - aqueles
que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a tutela; VI - aqueles que já
exercerem tutela ou curatela; VII - militares em serviço. Ademais, quanto à
autoridade do tutor, consta nas Institutas que os pupillos não podem aderir herança,
demandar posse de bens, muito menos receber herança sem a intervenção do tutor,
ainda que sejam vantajosas e não causem perda. Também o tutor deve estar
presente no negócio e sua imediata autorização, se for útil ao pupillo. Além disso, se
houver demanda entre pupillo e tutor, este não pode intervir em sua causa. Mas, no
direito brasileiro, o tutor possui autoridade quanto à administração dos bens, os
cuidados com a pessoa do menor e sua representação para os atos e negócios da
vida civil. Por fim, em relação ainda a tutela e as suas possibilidades de extinção,
nas Institutas, poderiam se extinguir quando atingissem a puberdade ou quando o
pupillo, ainda impúbere, é adrogado, deportado, se torna escravo ou prisioneiro do
inimigo. Também se o tutor fosse dado em testamento até determinada condição,
deixasse de ser tutor pela realização da condição, ou pela morte do tutor ou do
pupilo, pela diminuição da capacidade do tutor que acarretasse a perda da liberdade
ou cidadania (máxima ou media) ou diminuição da capacidade do pupillo, em
qualquer grau. Também, tutores dados em testamento até certo ponto, quando
decorrido esse tempo, colocava-se fim a tutela, e deixavam também de ser tutores
os que eram removidos da tutela por serem suspeitos. Portanto, no direito brasileiro,
a tutela pode ser cessada, quando não existir mais a condição de tutelado, ou seja,
quando o pupilo obtiver a sua maioridade, quando o menor for emancipado, além
disso, quando o indíviduo for adotado ou tenha a filiação reconhecida. Também, a
tutela pode ser extinguida se as funções do tutor chegarem ao fim, como nos casos:
ao expirar o termo, em que era obrigado a servir; ao sobrevir escusa legítima; ao ser
removido.

A curatela é um instituto protetivo (caráter protetivo e assistencial) dos maiores de


idade, mas incapazes, ou seja, sem condições de zelar por seus próprios
interesses, reger sua vida e administrar seu patrimônio.
Dessa forma, as semelhanças e divergências em relação a curatela estruturada nas
Institutas e a que consta atualmente no Código Civil brasileiro, estão baseadas nas
questões de, como nomear um curador, a quem se destina um curador, quem pode
ser curador e por fim, quem pode se escusar do cargo.
Então, no compilado dos antigos romanos, para nomear um curador, necessitava
que fossem os mesmos magistrados que nomearam os tutores, também, não
poderiam ser nomeados em testamento, mas sua nomeação por testamento se
confirmava por decreto do pretor ou do presidente. Entretanto, no direito brasileiro,
para que ocorra efetivamente a interdição e a perda de capacidade de uma pessoa,
é necessário que seja por via judicial e que respeite o devido processo legal, além
disso, também realiza-se perícia médica para determinar se o indivíduo realmente é
incapaz de realizar os atos de uma vida civil e somente após, será nomeado um
curador. Ademais, na questão de quem estará submetido a um curador, as Institutas
sustentavam que um curador seria destinado aos que fossem púberes, homens e
mulheres, até 25 anos; aos loucos e pródigos, ainda que maiores de 25 anos; aos
mentecaptos, surdos, mudos e aos doentes terminais e aos pupilos, quando o tutor
não pode prosseguir com sua tutela de modo digno. Já, no Código Civil atual, o
curador é destinado aos considerados incapazes de realizar os atos da vida civil,
mesmo que sejam civilmente maiores. Em relação ainda as semelhanças dos dois
institutos separados por mais de mil e quinhentos anos, quem poderia ser curador
de acordo com os antigos romanos, eram os homens maiores de 21 anos, os quais
deixam, por isso, de serem filhos de família. Entretanto, atualmente no Brasil, a
figura do curador, via de regra, é destinada a algum parente ou amigo da pessoa em
interdição. Mas, em alguns casos ocorre a escolha do curador pelo juiz. Por fim,
quem poderia se escusar do cargo de acordo com as Institutas, eram aqueles que
administravam o fisco do império; os ausentes a serviço da república; os que se
achavam investidos de algum poder; os que pelo número de filhos que já possuíam;
pela pobreza; os analfabetos; quando há inimizade; os maiores de 70 anos; os
gramáticos, os médicos e os retóricos. Portanto, no Código Civil brasileiro, não há
recusa no caso de curatela uma vez que, o curador é quem normalmente entra com
o pedido de interdição.
CONCLUSÃO

Diante do exposto, são perceptíveis as semelhanças e contribuições cedidas pelos


antigos romanos a mais de mil e quinhentos anos atrás para o Código Civil brasileiro
atual, o mesmo que os operadores do direito baseiam-se para exercê-lo, um século
e meio depois. Nesse sentido, os institutos curatela e tutela associam-se quase que
literalmente ao que estava instituído nas Institutas, sendo somente um exemplo das
diversas outras contribuições que o compilado do imperador Justiniano cedeu ao
direito do mundo atual, nesse caso, ao brasileiro. Portanto, fica evidenciado o
quanto o direito romano influencia fortemente as ramificações do direito civil em
questão, nesse caso do ramo de família.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARDOSO, Regis de Andrade et al. A HERANÇA DO DIREITO ROMANO NO


DIREITO BRASILEIRO. CIENTÍFICA. REVISTA DA FACULDADE EVANGÉLICA DE
GOIANÉSIA., [S. l.], p. 1-9, 11 jul. 2023. DOI
https://doi.org/10.29247/2358-260X.2014v1i2. Disponível em:
http://periodicos.unievangelica.edu.br/index.php/cientifica/issue/view/105. Acesso
em: 25 ago. 2023.

O QUE é a Tutela e a Curatela no Código Civil. [S. l.], 28 ago. 2022. Disponível em:
https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/tutela-curatela/. Acesso em: 25 ago.
2023.

VAMPRE, SPENCER. INSTITUTAS DO IMPERADOR JUSTINIANO TRADUZIDAS E


COMPARADAS COM O DIREITO CIVIL BRASILEIRO. [S. l.]: LIVRARIA MAGALHÃES,
1915. 302 p.

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