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SEMÂNTICA

DO
INGLÊS

Daisy Batista Pail


U N I D A D E 2
Lexical semantics of verbs
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir a semântica lexical.


„„ Identificar o limite da semântica lexical em relação à semântica.
„„ Reconhecer as questões semânticas inerentes aos verbos.

Introdução
Semântica lexical é um subcampo da semântica linguística e seu objeto é
o significado linguístico, ou seja, está centrado na palavra e nos diferentes
tópicos relacionados a ela. Entretanto, outros campos de estudo também
têm como objeto o significado, o que torna necessária a delimitação entre
essas possibilidades. Além de não haver uma única semântica, também
não há uma única semântica lexical. Existem diferentes abordagens, e
cada uma tratará o significado de uma forma, assim como fará interface
com diferentes campos de conhecimento.
Independente da abordagem a se adotar, a semântica lexical permite
uma compreensão mais aprofundada, ou mais fina, dos verbos. O trata-
mento dos verbos dentro da semântica lexical permite que se relacione
a sua estrutura argumental com a estrutura sintática e as propriedades
sintáticas das sentenças.
Neste capítulo, você estudará o que é semântica lexical, principal-
mente no viés de sua contribuição para a análise e entendimento de
verbos.
2 Lexical semantics of verbs

Semântica lexical
A semântica lexical permite compreender certos detalhes da língua. De modo
geral, é possível dividir a semântica lexical em dois grandes grupos, de acordo
com Cruse (2003), holismo e localismo. Na abordagem holística, o significado
de uma palavra é essencialmente relacional, isto é, a relação de uma palavra
com as demais é contextual. Na abordagem localista, também chamada de
atomista, o significado de uma palavra está contido nela mesma, sendo passível
de descrição independentemente de outras palavras.
Conforme afirma Cançado (2013), em semânticas lexicais há diferentes
abordagens, desde as que enfocam nas mudanças no sentido de uma palavra em
uma relação histórico-filológica, até as que enfocam em protótipos, metáforas
conceituais e semântica de frames em uma relação cognitiva (e que seriam
holísticas). Ainda de acordo com essa autora, o que essas abordagens têm em
comum quanto ao significado é a relação entre a língua e sua representação
mental, sem se preocupar com o aspecto extralinguístico (“mundo público”)
envolvido na comunicação linguística.
Léxico é o conjunto de palavras com informação necessária para sua
aplicação adequada às regras gramaticais. Apesar de palavra ser de identi-
ficação intuitiva para o falante de uma língua, na teoria não há uma única
definição, muito menos uma que seja satisfatória para as diferentes línguas.
Em sentido amplo, as palavras consistem em unidades básicas que têm forma
e significado. Como o nome sugere, a semântica lexical aborda o léxico, das
palavras aos afixos, às relações entre palavras, a relação entre os significados
e os conceitos, entre outros, sem, entretanto, se limitar à noção de “depósito
de palavras” (JACKENDOFF, 2013).
Uma dessas possibilidades é a análise da relação de sentido das palavras
com a sintaxe, como é o caso da decomposição lexical em predicados pri-
mitivos. Nela “os conceitos lexicais devem ter uma estrutura composicional,
e a f-mente do aprendiz da palavra junta significados de partes menores”
(JACKENDOFF, 2003, p. 334), algumas das quais podem servir como possíveis
significados de palavras.
Assim, é possível que sejam identificados certos elementos que compõem
o significado de uma palavra, o significado desses elementos e sua relação
com a sintaxe.
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A f-mente (f-mind) é caracterizada como a organização e atividade funcional do cérebro,


nas quais pode ou não haver consciência.

Considere, por exemplo, os verbos break e shatter nas frases a seguir.


1. a) Daisy broke her arm.
b) The car is broken.
c) Daisy broke the glasses.

2. a) Daisy shattered her arm.


b) The car is shattered.
c) Daisy shattered the glasses.

Nesses conjuntos de exemplos, há ambiguidade e diferença de graduação


fina nos significados de ambos. No que diz respeito a esta, break e shatter
estão em uma relação de graduação, uma vez que o segundo denota um estrago
maior e mais violento do que o primeiro. Ambos predicam dois argumentos,
um argumento externo, causador de uma mudança de estado; e um argumento
interno, afetado por essa mudança, como indicado na análise de decomposição
no quadro de exemplos a seguir. O argumento externo corresponde à posição
de sujeito e o argumento interno de complemento do verbo. Em (1c) e (2c),
Daisy é o agente, isto é, o elemento que causa a mudança física de estado em
uma coisa, glasses, o paciente. Portanto, os verbos trazem informações sobre
componentes semânticos (tornar em pedaços e em muitos pedaços pequenos)
e sobre a estrutura sintática (número de argumentos) e a relação entre eles
(agente e paciente).
Ainda sobre esses conjuntos de exemplos, há ambiguidade em (1a), quanto
ao papel semântico de Daisy, podendo ser agente e paciente ou apenas pa-
ciente. No primeiro caso, Daisy teria causado a si mesmo a mudança, já no
segundo, seria apenas o elemento afetado por ela. Em (1b) nota-se a mesma
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característica, mas que se difere no significado. Já (2a) e (2b) são possíveis,


ainda que possam parecer estranhos.

A seguir, você encontra exemplos desse tipo de análise.


„„ Kill [CAUSE [BECOME [DEAD]]]
„„ Boy [HUMAN [MALE [YOUNG]]]
„„ Break1 [CAUSE [BECOME [PIECES]]]
„„ Break2 [CAUSE [BECOME [NOT [WORKING]]]]
„„ Shatter [CAUSE [BECOME [PIECES] WITH [VIOLENCE]]]

Além dessa interface entre léxico, semântica e sintaxe, há outros temas


de interesse da semântica lexical, como polissemia e homonímia, hiponímia,
hiperonímia e meronímia, sinonímia e antonímia, conforme descrito a seguir.

„„ Polissemia: diz respeito à possibilidade de um mesmo item lexical


apresentar diferentes sentidos, mas que são relacionados.
„„ Homonímia: apresentam a mesma forma ou formas parecidas, mas
sentidos não relacionados.
„„ Hiperonímia: é quando a relação entre palavras parte da mais genérica
para a mais específica, há uma relação de grande, elevado + ónoma –
nome, em grego, como em flower<tulip.
„„ Hiponímia: quando de parte da mais específica para a mais genérica,
a relação é de menor, baixo + ónoma, como em tulip<flower.
„„ Meronímia: meros = parte + ónoma, é quando um elemento é parte
de um todo.
„„ Sinonímia: também é uma relação de identidade entre palavras.
„„ Antonímia: é uma oposição de identidade.

Semânticas
A semântica pode ser estudada por diferentes abordagens e, embora tenha como
objeto o significado, nem todas são linguísticas, por exemplo, web semântica
ou semântica na semiótica. Enquanto subcampo da linguística, a semântica é
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o estudo do significado das línguas. Ela pode ter como unidade de análise o
conteúdo proposicional da sentença ou o léxico. Quando seu objeto é o conteúdo
proposicional, pode-se adotar a abordagem da semântica referencial, também
chamada de semântica formal ou semântica das condições de verdade. Alguns
dos tópicos que você viu na seção anterior encontram paralelos no estudo do
significado da proposição, como a relação de hiponímia com acarretamento,
sinonímia com paráfrase, antonímia com contradição.
A semântica referencial tem como objeto a relação entre o conteúdo propo-
sicional (significado da sentença) e seu referente no mundo. Essa abordagem
se aproxima da lógica, pois mantém interesse sobre raciocínio válido, isto é,
se a conclusão é verdadeira ou não, diferentemente da semântica lexical em
que não há relevância sobre a verdade ou falsidade de uma proposição e nem
sobre o referente no mundo.
Uma das noções importantes dentro da semântica é a de implicação, que é
um processo pelo qual, a partir de premissas, se pode chegar a uma conclusão.
Implicação está associada ao raciocínio e pode, portanto, também ser estudada
por uma perspectiva cognitiva. Há três tipos de implicação: acarretamento, pres-
suposição e implicatura. A primeira é estritamente semântica, não considerando
conhecimentos extralinguístico e nem contexto; a segunda é uma implicação
que liga conteúdo lexical com conhecimento extralinguístico; e a terceira é
uma implicação pragmática e depende de conhecimento extralinguístico.
As noções descritas fazem parte da semântica referencial (ou formal),
para qual é fundamental a noção de referente no mundo, aquilo (ou quem) a
que a palavra se refere. De acordo com Chierchia (2003, p. 37), “à referência
contrapõe-se significado e sentido. Por significado ou sentido entende-se
aquilo que tem a ver com o conteúdo informativo do signo, a maneira como
ele é interpretado (qualquer que seja a sua interpretação)”. Ela se difere, assim,
da semântica lexical que se volta sobre a palavra.
Por ser uma abordagem formal, a semântica referencial se aproxima mais da
lógica, estabelecendo relações por meio das condições de verdade. Condições
de verdade dizem respeito à possibilidade de se dizer se algo é verdadeiro ou
falso, como ocorre com acarretamento e pressuposição. Já a semântica lexical
não se compromete com a noção de verdade, pois se volta para significado
cognitivo (uma vez que trata de conceitos) em torno da relação entre a língua
e construtos mentais que integram o conhecimento semântico do falante, con-
forme Cançado (2013). Veja no Quadro 1 uma comparação entre a semântica
e a semântica lexical.
6 Lexical semantics of verbs

Quadro 1. Semântica versus semântica lexical

Semântica Semântica lexical

Estuda o significado Estuda a relação entre lexema,


conceitos e estrutura sintática

Tem como objeto proposições Tem como objeto lexemas,


características lexicais e sua
projeção na sentença.

Tem como objeto implicações -

Importa condições de verdade Não tem preocupação com


condições de verdade

Tem como objeto a -


validez do raciocínio

Semântica lexical dos verbos


Nesta seção, você estudará questões relevantes sobre o aspecto semântico
lexical dos verbos e como ela se relaciona com a estrutura sintática. Ao estudar
o aspecto semântico dos verbos, é importante estudar o que eles denotam,
mas não somente isso. A interface entre semântica, sintaxe e léxico permite
explorar a relação entre a estrutura argumental dos verbos e a estruturação
de propriedades sintáticas das sentenças, como Jackendoff (2013, p. 139)
argumenta. Em outras palavras, as características lexicais dos verbos irão
impactar o restante da sentença:

Estudando a semântica das palavras, imediatamente somos forçados a nos


confrontar com a forma como as palavras impõem sua estrutura ao resto
da sentença em que ocorrem. O caso clássico são os verbos, cuja estrutura
argumental semântica (Agente, Paciente, Objetivo, etc.) tem um maior papel
na determinação dos padrões sintáticos nos quais as palavras aparecem.
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1. a) We helped our parents to build a new home.


b) They wish to built their dream home.
c) I built some cupboards in my garage.
d) We want to build a solid relationship.
e) It was so cold he had to build a fire.

O verbo build precisa de sujeito e objeto. Nos exemplos (1a) a (1e), apenas
em (1c) o sujeito está expresso (marcado na sentença pelo pronome “I”), nos
demais, ele está no infinitivo (por uma questão sintática de integrar uma sen-
tença complexa). A princípio, é preciso que alguém inicie por vontade a ação
expressa pelo verbo, gerando, como consequência, um produto, isto é, “someone
builds something”. Esse produto é o objeto (complemento verbal). ‘Build’ é
um verbo de dois lugares, isto é, ele predica (pede/precisa) dois argumentos.
A estrutura argumental dos verbos consiste no número de argumentos
que um verbo predica, se é um verbo pessoal (que pede sujeito), se é um
verbo intransitivo (que não tem objeto), se é um verbo transitivo (que pede
um objeto ou mais). Há dois tipos de argumentos verbais: argumento externo
e argumento interno. O argumento externo corresponde ao sujeito, o que
significa que o verbo é pessoal. O argumento interno corresponde ao com-
plemento verbal (objeto), o que significa que é um verbo transitivo. Assim,
no exemplo de (1c), temos dois argumentos — argumento externo “I”, sujeito;
e argumento interno, “some cupboards”. Nos demais, apenas o argumento
interno está expresso — (1a) “a new home”; (1b) “their dream home”; (1d) “a
solid relationship”; (1e) “a fire”.
A classificação dos verbos se dá a partir de quantos argumentos ele predica,
bem como o tipo deles. Os verbos podem ser classificados em: acusativos
(accusative), inacusativos (unaccusative), ergativos (ergative) e inergativos
(unergative).

„„ Verbo acusativo: é aquele que normalmente predica um objeto, mas que


pode ser usado como intransitivo sem que o significado seja afetado.
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1. a) Mike ate a pie.


b) Mike ate.

2. a) Emily read the Stephen King’s new book.


b) Emily reads a lot.

3. a) I see you at the beach.


b) I see.

4. a) My team won the homecoming.


b) My team won.

„„ Verbo inacusativo: é aquele que não predica um objeto (intransitivo)


e cujo sujeito não é agente, ou seja, o sujeito não inicia a ação ou não é
responsável por ela. Para esse tipo de verbo, é fundamental a ausência
de volição, isto é, a pessoa ou animal não inicia voluntariamente algo.
Quando o sujeito é expresso por coisas, será sempre inacusativo.

1. O verbo “be” com adjetivos.


■■ She is tall.
■■ The bag is heavy.

2. Verbos cujo sujeito é paciente.


■■ Burn, fall, sink, float, flow, slip, slide, shake, stumble, succumb, boil, dry, sway, wave,
lie (involuntary), bend (involuntary).
■■ Melt, freeze, evaporate, solidify, darken, rot, wither, collapse, break, increase, germinate,
die, suffocate, crack, split, disappear, disperse, explode.
■■ The leafs fell.
■■ The new guy died.
■■ The sun burned my skin.
■■ The ice melted.
■■ The car broke.
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3. Predicados de existência e acontecimento.


■■ Exist, happen, occur, arise, ensue, turn up.
■■ The meeting happened last Thursday.

4. Verbos involuntários de aparência, som, cheiro, etc.


■■ Shine, sparkle, clink, snap (involuntary), pop, smell (bad), stink.
■■ The room stinks.

5. Predicados aspectuais.
■■ Begin, start, stop, continue, end.
■■ The show began.
■■ The rain stopped.

6. Durativos.
■■ Last, remain, stay, survive.
■■ I will survive.

„„ Um verbo ergativo é aquele que pode ser transitivo ou intransitivo, e


cujo sujeito, quando intransitivo, corresponde ao objeto quando transi-
tivo. A importância de verbos ergativos é que eles possibilitam que não
apenas que se omita o agente como também que se represente a parte
afetada como causa de forma da ação pela qual é afetada.

1. The sauce is cooking.


2. The vase was broke.
3. The problem solved itself.

„„ Verbo inergativo: é um verbo transitivo, cujo sujeito é agente, isto é,


inicia voluntariamente a ação.
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1. Mary ran.
2. He talks to much.
3. He resigned last week.

Essa estrutura argumental é, conforme Chierchia (2003), impactada por


outra, a estrutura de evento. A estrutura de eventos de verbo distingue
estados, processos, transições e adota uma análise sub-eventual, de acordo
com Chishman (2000). Ela se refere a argumentos implícitos, que permitem
explicar propriedades acionais, temporais e aspectuais.
Conforme Pustejovsky (1991), estado (state) indica um único evento, que
não é avaliado em relação a nenhum outro evento, como nos verbos be sick (be
+ adjective), love, know; processo (process) indica uma sequência de eventos
identificando a mesma expressão semântica, como nos verbos run, push,
drag; transição (transition) indica um evento identificando uma expressão
semântica, que é avaliada em relação à sua oposição, como em give, open,
build, destroy. Cançado (2013) acrescenta que essa estrutura apresenta noções
de movimento e locação, estrutura causal e estrutura aspectual, conforme
você pode observer a seguir.

1. I got flu last week. — State


2. I got my glasses on. — Process → Durativo: for an hour, an entire day
3. I received your message. — Transition → Delimitado: in an hour

Em (1), é indicado o estado e não há uma ação. Eventos de processo, como


em (2), podem ser modificados por advérbios durativos, ao passo que os de
transição não. Eventos de transição, como em (3), podem ser modificados
por advérbios que delimitam sua duração. De acordo com Chierchia (2003,
p. 279), alguns desses processos lexicais “(i) afetam uma ampla classe de
palavras, (ii) são interlinguisticamente recorrentes e (iii) apresentam uma
contrapartida sintática”.
Lexical semantics of verbs 11

Cançado, Godoy e Amaral (2013) destacam quatro classes de verbos: de


mudança (transition) de estado, de mudança de estado locativo, de mudança
de lugar e de mudança de posse, que podem ser expressas nas seguintes
representações de predicados primitivos:

„„ mudança de estado — [ [X (VOLITION)] CAUSE [ BECOME Y


<STATE>] ]
„„ mudança de estado locativo — [ [X VOLITION ] CAUSE [ BECOME
Y <STATE> IN Z] ]
„„ mudança de lugar — [ [X VOLITION ] CAUSE [BECOME Y IN
<PLACE>]
„„ mudança de posse — [ [X VOLITION ] CAUSE [BECOME Y WITH
<THING>] ]

Cada par de colchetes indica um subevento (enquanto o conjunto é o evento),


assim, no primeiro temos o subevento cause e, dentro dele, o subevento be-
come. Cause, become, state, thing são metapredicados (predicados dentro de
predicados). X, Y e Z representam argumentos que se projetam na estrutura
sintática. X representa o argumento externo e ocupa a primeira posição argu-
mental do metapredicado cause. Cause está associado à mudança, por exemplo,
fill, break, store, install, ou seja, há um certo estado inicial que será alterado
por algo. Esse argumento é, ou pode ser, associado ao modicador volition, e,
nesse caso, indica uma característica agentiva (capacidade de agir por vontade
própria) do argumento externo.

Veja os exemplos a seguir, em que o sujeito inicia voluntariamente um processo.


1. Mary filled the glass with wine.
2. He broke the code.
3. He stored the box in the garage.
4. He installed the grill near the house.

Y ocupa a posição de argumento externo (objeto), assim como Z, sendo,


nesse caso, bitransitivo. O metapredicado become (ficar/tornar-se) indica o
sentido de mudança. Considere os exemplos dados anteriormente.
12 Lexical semantics of verbs

„„ Em (1), a estrutura de eventos seria a seguinte: fill: [Mary VOLITION ]


CAUSE [BECOME glass <full> WITH <WINE>] ], ocorrendo mudança
de estado e de posse.
„„ Em (2), essa estrutura seria: broke [ [He VOLITION ] CAUSE [ BECOME
code <broked> ]], um caso de mudança de estado.
„„ Em (3), store: [ [He VOLITION ] CAUSE [BECOME box IN <garage>]], é
um caso de mudança de lugar.
„„ Em (4), install: [ [HeVOLITION ] CAUSE [ BECOME grill <locate and ready
for use> IN near the house]], é um caso de mudança de estado locativo.

Além de afetar o número de argumentos, essa construção determina os pa-


péis que seus argumentos desempenharão, como você já viu, que são chamados
de papéis temáticos. “Papel temático pode ser definido, grosso modo, como
a relação semântica que se estabelece entre um predicado e seus argumentos”
(CANÇADO; GODOY; AMARAL, 2013, p. 114).
Considere as variáveis X, Y e Z, já apresentadas. O argumento que tiver
como modificador a propriedade volição terá a função de agente, ou seja, a
pessoa ou animal iniciou voluntariamente algo, como no argumento X (Se X
VOLITION => X é agente). Se um argumento X não tiver esse modificador, terá
o papel de causa, como em The wind broke the window (Se[X]CAUSE =>X é
causa). O argumento que é afetado ou alterado é paciente, como o argumento
Y nos exemplos (Se BECOME Y => Y é paciente). O último papel temático,
considerando os tipos de verbos de mudança citados por essas autoras, é
locativo. O papel temático locativo indica um local (Se [IN Z] => Z é locativo).

Há outros papéis temáticos, mas alguns não são relevantes para a análise argumental
dos verbos.
Instrumento: o meio pelo qual a ação é desencadeada.
1. Paul broke the vase with a hammer.
■■ Tema: a entidade deslocada por uma ação.

2. The ball hit my head.


■■ Experienciador: ser animado que mudou ou está em determinado estado mental,
perceptual ou psicológico.
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3. Paul loves Mary.


■■ Beneficiário: a entidade que é beneficiada pela ação descrita.

4. Paul paid Mary for the broken vase.


■■ Objetivo (ou objeto estativo): a entidade a qual se faz referência, sem que ela
desencadeie algo ou seja afetada por algo.

5. Emily read the Stephen King’s new book.


■■ Alvo: a entidade para onde algo se move, tanto no sentido literal como no
metafórico.

6. Paul told Mary a joke.


■■ Fonte: a entidade de onde algo se move, tanto no sentido literal como no sen-
tido metafórico.

7. I came from my parents’ house.


Fonte: Cançado (2012, p. 107-108).

A estrutura aspectual tem relação temporal e apresenta pelo menos três


tipos: state, process e events, que pode ser subdividido em accomplishment e
achievement events (PUSTEJOVSKY, 1991).
State é o aspecto em que não há mudança, nem referência a um período
inicial ou final. Process é o aspecto denotado por atividade cuja duração é
indefinida, como os hábitos. Accomplishment events tem um início, meio e
fim, nesse tipo há uma informação que restringe sua duração. Achievement
event denota uma mudança que ocorre instantaneamente.

1. State — Mary got sick in the weekend.


2. Process — Mary drinks wine.
3. Accomplishment events — Mary read for an hour.
4. Achievement event — The new guy died.
14 Lexical semantics of verbs

Pustejovsky (1991, p. 52) apresenta os exemplos a seguir para resumir a estrutura


aspectual.
a) Processes: walk, run
b) Accomplishments: build, destroy
c) Achievements: die, find, arrive
d) States: sick, know, love, resemble

1. A decomposição lexical em c) The touch of the touch screen was


predicados primitivos é uma different from others. → transition
das possibilidades de análise da d) The center of the circle
semântica lexical. Sobre esse tipo was red. → process
de análise é correto afirmar que: e) They watch over the
a) trata-se de decomposição crowd. → state
de uma palavra em 3. A estrutura aspectual está ligada
traços semânticos. ao tempo. Marque a frase em
b) trata-se da decomposição que foi indicado corretamente o
de sentenças em funções aspecto do verbo em destaque.
sintáticas de orações simples. a) I love listen to music
c) trata-se da decomposição while I’m studying. →
da palavra em predicados Accomplishment event
menores que ela demanda. b) He understood what his parents
d) trata-se da decomposição have said. → Achievement event
de palavra em morfemas. c) She reads when
e) trata-se da decomposição em travelling. → State
predicados nominais e verbais. d) They invited few people to
2. A estrutura de eventos diz respeito the wedding. → State
a argumentos implícitos. Marque e) He ruined my movie
a frase em que foi indicado night by giving spoiler. →
corretamente o tipo de evento Accomplishment event
do verbo em destaque. 4. A decomposição lexical em
a) We discussed a decisive point of predicados primitivos permite
the lecture for an hour. → state relacionar os níveis lexical, semântico
b) He broke the silence e sintático. Considere o verbo
after his girlfriend broke a remove na frase He removed the
glass. → transition
Lexical semantics of verbs 15

label, e assinale a representação e) V: [[X] CAUSE [ BECOME Y


adequada em predicados primitivos. <removed> WITH <THING>]]]
a) V: [[X] CAUSE [ BECOME 5. O argumento externo de um
Y <removed>] ]] verbo inacusativo não tem papel
b) V: [[X VOLITION] CAUSE [ BECOME temático de agente. Marque a frase
Y <moved> IN Z]]] em que há um verbo inacusativo.
c) V: [[X] CAUSE [ BECOME a) She look Andrew in the yes.
Y <moved> IN Z]]] b) The door was opened.
d) V: [[X VOLITION] CAUSE c) The dog jumped in the bed.
[BECOME Y <removed>]]] d) He get out the house to early.
e) The cat sounds funny.

CANÇADO, M. Manual de semântica: noções básicas e exercícios. São Paulo: Contexto,


2012. 192 p.
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CANÇADO, M.; GODOY, L.; AMARAL, L. Predicados primitivos, papéis temáticos e
aspecto. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL, [s.l.], v. 11, n. 20, p. 104-125,
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CHIERCHIA. G. Semântica. Campinas: Editora da UNICAMP, 2003. 683 p.
CHISHMAN, R. L. O léxico gerativo de James Pustejovsky. Letras de Hoje: estudos e
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CRUSE, D. A. The lexicon. In: ARONOFF, M.; REES-MILLER, J. The handbook of linguistics.
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16 Lexical semantics of verbs

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Leituras recomendadas
GROPEN, J. et al. Affectedness and direct objects: The role of lexical semantics in the
acquisition of verb argument structure. Cognition, [s.l.], v. 41, n. 1-3, p. 153-195, Dec. 1991.
Disponível em: <https://ac.els-cdn.com/0010027791900353/1-s2.0-0010027791900353-
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ILARI, R.; GERALDI, J. W. Semântica. São Paulo: Ática, 1987. 96 p.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:

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