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CUIDADO DE

ENFERMAGEM EM
EMERGÊNCIA E
TRAUMAS

Leandro Domingos Pereira


Atendimento ao trauma
no pré-hospitalar
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer as três etapas do atendimento pré-hospitalar em situações


de urgência e emergência.
„„ Identificar os tipos de ambulância de acordo com a legislação.
„„ Descrever a legislação que regulamenta o fluxo de funcionamento
das centrais de regulação de urgências e emergências.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar as principais características do atendi-
mento pré-hospitalar (APH), diferenciar as situações de urgência e emer-
gência, bem como tomar conhecimento sobre os tipos de ambulância
utilizados em transporte pré-hospitalar e a legislação que regulamenta
a central de atendimento de urgência e emergência.
O APH foi reconhecido em sua essência no período pós-guerra, no
século XVIII. Com o passar dos séculos, houve a evolução do processo
de capacitação das equipes especializadas em atendimento a vítimas.
Considera-se de extrema importância o APH, pois é por intermédio dele
que é possível minimizar os impactos das lesões causadas no sinistro, dimi-
nuindo os índices de morbimortalidade de pacientes vítimas de trauma. É
importante que os profissionais de saúde sejam devidamente capacitados
e treinados para realizar a avaliação primária de forma assertiva, garantindo,
assim, o reconhecimento das lesões para posterior controle/tratamento.
De acordo com o perfil das vítimas, com base na descrição da
ocorrência, será previamente definido, pela central de regulação, qual
melhor recurso despender para o atendimento da ocorrência. Para me-
lhor controle e regulação dos serviços, faz-se necessária uma legislação
regulamentadora que norteie as diretrizes de funcionamento das bases
operacionais (SATO, 2017).
2 Atendimento ao trauma no pré-hospitalar

Urgência e emergência: etapas de atendimento


no pré-hospitalar
No contexto do APH, os termos urgência e emergência ainda são utilizados
de maneira equivocada.
Como profissional da saúde, é importante ter bem definidas as situações
de urgência e emergência para que, de forma adequada, seja prestado um
atendimento de qualidade, priorizando os atendimentos que exigem priori-
dade e minimizando os riscos e danos desnecessários por uma classificação
inadequada quanto ao grau de complexidade da vítima assistida.
De acordo com Oliveira, Silva, Martuchi (2013), a emergência é definida
como uma situação que normalmente requer avaliação e tratamento de forma
imediata, pois a vítima está inserida em uma situação que lhe oferece risco
de morte. Já a urgência é conhecida como uma situação que necessita de
atendimento prioritário, mas com possibilidade de espera, pois a vítima não
corre risco iminente de morte.
Diante desse cenário, é importante que os profissionais estejam aptos a
conduzir as etapas de atendimento que ocorrem na avaliação do paciente
ainda na cena.
Os objetivos da aplicação do atendimento das três principais etapas de
atendimento são:

„„ não causar mais danos ao paciente;


„„ reverter lesões possivelmente letais;
„„ realizar o transporte do paciente de forma segura para que este possa
receber o tratamento definitivo.

Conforme o protocolo de APH do Suporte Avançado à Vida, o APH se


divide em algumas etapas: recebimento do chamado, durante o deslocamento,
na cena do atendimento e durante o transporte da vítima até o hospital. A
seguir, serão destacados os principais pontos de cada etapa.
Atendimento ao trauma no pré-hospitalar 3

Recebimento da chamada
„„ Receber e anotar o chamado.
„„ Atentar para a ordem de transmissão dada pela central reguladora, com
as seguintes informações: endereço da ocorrência, nome do solicitante
e das vítimas e outras informações cabíveis.
„„ Para agilizar a chegada ao local, enquanto o registro da informação é
feito, o condutor deve realizar a busca pelo endereço no guia/GPS para
garantir a chegada o quanto antes no destino.

Durante o deslocamento até o local


„„ O condutor deve zelar respeitosamente pelas regras de trânsito, conforme
Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
„„ Deve ser escolhida uma via de deslocamento segura e que garanta maior
agilidade no percurso.

Na cena do atendimento
„„ Garantir a segurança da equipe envolvida no atendimento, tanto pelo
uso de EPIs (equipamentos de proteção individual) adequados quanto
pelo controle dos riscos ambientais.
„„ Identificar uma possível necessidade de reforço e acioná-lo se necessário.
„„ Identificar as vítimas, sempre que possível.
„„ Iniciar o atendimento das vítimas de acordo com a identificação de
prioridades (ver protocolo de atendimento a múltiplas vítimas).
„„ No atendimento inicial de cada vítima, o profissional deve se utilizar da
sigla ABCDE (airway, breathing, circulation, disability, exposition) do
trauma (Quadro 1) para definir as etapas do processo de atendimento.
Nessa avaliação, em cada etapa que houver uma situação de emergência,
as ações para a estabilização devem ocorrer imediatamente (p.ex., uma
vítima com obstrução de via aérea deve receber atendimento para deso-
bstrução dessa via aérea antes mesmo de passar para as demais etapas).
„„ Remover a vítima do local somente depois de ela ser estabilizada de todas
as situações que coloquem sua vida em risco imediato (emergência).
„„ Realizar contato com a central reguladora, fornecendo as informações
completas, seguindo as orientações de transferências para a instituição
indicada.
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Quadro 1. A sigla ABDCE

B C E
A (airway) D (disability)
(breathing) (circulation) (exposition)

Via aérea e Respiração Circulação Alterações Exposição


estabilização neurológicas da vítima
da coluna
vertebral

Durante o transporte da vítima até o hospital


„„ Transportar a vítima para o hospital indicado pela central de regulação.
„„ Trafegar com cinto de segurança afivelado.
„„ Realizar o transporte de forma rápida e segura.
„„ Manter observação e cuidado constante da vítima.
„„ Fazer o preenchimento da ficha de atendimento em duas vias, com o
objetivo de manter uma via na unidade destino e a outra no serviço
de APH.
„„ Manter o tempo preconizado para atendimento e remoção da vítima
até o centro de referência, que é de 10 minutos. Para isso, é necessário
realizar na cena apenas o essencial para o transporte com segurança.

No hospital
„„ Repassar à equipe do hospital as informações sobre o tipo de ocorrência,
os dados pessoais da vítima, a situação na chegada e os atendimentos
realizados na cena e no transporte.
„„ Anotar os pertences da vítima e entregar na unidade de destino.
„„ Organizar a equipe e a unidade móvel de atendimento e comunicar a
central reguladora quando a equipe e o meio de transporte estiverem
prontos para dar sequência ao atendimento de um novo chamado.
Atendimento ao trauma no pré-hospitalar 5

Transporte da vítima com os diferentes


tipos de ambulância
Para garantir o transporte de forma segura, é importante fazer a escolha
adequada do tipo de ambulância a ser utilizada na transferência da vítima
até o hospital.
Esses veículos de transporte devem atender minimamente aos requisitos,
conforme orientação do item 2.1 da Portaria nº. 2048, de 05 de novembro de
2002, do Ministério da Saúde (MS), e do Protocolo de Referência nº. 07, de
15 de junho de 2011, da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária),
que aborda a adequação dos veículos utilizados no transporte de viajantes
enfermos ou suspeitos (BRASIL, 2002; ANVISA, 2011).

„„ Tipo A — ambulância de transporte: transporte realizado em decúbito


horizontal de paciente que não apresenta risco de morte. Transporte
de caráter eletivo.
„„ Tipo B — ambulância de suporte básico: destinado ao transporte
inter-hospitalar de pacientes com risco de morte conhecido e no pré-
-hospitalar de pacientes com risco de morte desconhecido.
„„ Tipo C — ambulância de resgate: atendimento de urgência pré-
-hospitalar em locais de difícil acesso. Deve conter equipamentos de
resgate terrestre, aéreo e aquático
„„ Tipo D — ambulância de suporte avançado: transporte de pacientes de
alto risco em situações de emergência e/ou transporte inter-hospitalar de
pacientes que necessitam de cuidados médicos intensivos. É conhecida
como UTI (unidade de terapia intensiva) móvel.
„„ Tipo E — aeronave: aeronave de asas fixas usada no transporte entre
unidades hospitalares e aeronave de asas móveis utilizadas em situações
de resgate.
„„ Tipo F — embarcação de transporte médico: veículo motorizado
aquaviário, destinado ao transporte de vítima marinha ou fluvial.

Na Figura 1, você pode conferir os elementos internos disponíveis nas


ambulâncias de transporte conforme a necessidade das vítimas atendidas.
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Figura 1. No interior da ambulância estão os equipamentos e materiais importantes para


o transporte de vítimas.
Fonte: Corumbá... (2010, documento on-line).

Tripulantes necessários de acordo com tipo de


transporte
„„ Ambulância tipo A: essa ambulância deve conter dois profissionais
— um motorista e um técnico ou auxiliar de enfermagem.
„„ Ambulância tipo B: esse tipo de ambulância deve ter dois profissionais
— um motorista e um técnico ou auxiliar de enfermagem
„„ Ambulância tipo C: a equipe é composta por militares ou outros pro-
fissionais reconhecidos pelo gestor público, sendo 1 um condutor e mais
dois socorristas com treinamento em salvamento e suporte básico de vida.
„„ Ambulância tipo D: nesse tipo de ambulância deve haver três profis-
sionais — um motorista, um enfermeiro e um médico.
„„ Ambulância tipo E: essa ambulância deve conter três profissionais —
um piloto, um enfermeiro e um médico.
„„ Ambulância tipo F: esse tipo de ambulância deve conter dois ou três
profissionais. Em caso de dois profissionais, deve conter um condutor
e um técnico ou auxiliar de enfermagem, no caso de três profissionais,
será um condutor, um enfermeiro e um médico.
Atendimento ao trauma no pré-hospitalar 7

Para ler na íntegra a Portaria nº. 2048/2002, acesse o link


ou o código a seguir.

https://qrgo.page.link/VJtrv

Regulamentação e fluxo de funcionamento


da central de regulação de atendimento de
urgências e emergências
A regulação das necessidades de atendimento, referência para os atendimentos,
é utilizada devido ao seu potencial de garantir organização do funcionamento
geral junto aos usuários.
A regulação médica de urgência e emergência é executada pelas centrais
de regulação, a qual é capaz de manter atendimento durante 24 horas com pelo
menos um médico regulador para acolher todos os pedidos de ajuda direciona-
dos à central. O médico regulador avalia, em cada situação, o grau de urgência
ou emergência, destinando a resposta mais adequada para atendimento.

Regulamentação da regulação médica de urgência


A Portaria nº. 2048/2002, do MS, é quem também norteia toda a atuação
desses profissionais no momento de organizar e direcionar o melhor cuidado
aos chamados (BRASIL, 2002).

Ferramentas para um bom funcionamento da


central de regulação
Existem algumas ferramentas que são essenciais para garantir o bom funcio-
namento da central de regulação.
8 Atendimento ao trauma no pré-hospitalar

„„ Mapa do município e da região de cobertura. É importante ter o mapa


do município e da região de cobertura atualizado para poder garantir a
visualização de onde estão localizados os serviços de saúde, principal-
mente da rede pública, as bases descentralizadoras do SAMU (Serviço
de Atendimento Móvel de Urgência), o corpo de bombeiros, a polícia
rodoviária, entre outras.
„„ Mapa municipal com as principais estradas e vias de acesso. Este é de
suma importância para que seja possível a atualização de dados, como
desvios e ou manutenção de vias, bem como bloqueios e ações realizadas.
„„ Lista de telefone contendo todos os números dos serviços de saúde do
município.
„„ GPS e rádio de comunicação.

Etapas da regulação médica


Conforme descrito na Portaria nº. 2048/2002, do MS, a comunicação e a
tranquilidade são de extrema importância no momento do acionamento do
socorro para a equipe de regulação. Algumas etapas devem ser seguidas para
facilitar o entendimento da ocorrência e para que se tenha agilidade e êxito
no atendimento (BRASIL, 2002).

Etapa 1: recepção do chamado

Ao receber a solicitação, a central de regulação se apresenta e solicita infor-


mações básicas relacionadas ao responsável pelo acionamento. Orienta-se
que sejam utilizados termos claros e objetivos e de fácil entendimento. É
necessário utilizar entonação de voz agradável, demonstrando acolhimento
e tranquilidade.
Em um segundo momento, serão questionadas informações mais precisas
sobre o motivo pelo qual foi realizado o chamado, bem como endereço, loca-
lização e ponto de referência.
É nessa etapa que se deve descartar qualquer possibilidade de trote para
garantir uma maior agilidade no atendimento por parte do médico regulador.
Se o paciente está inconsciente e/ou com dificuldade respiratória ou sem
respirar, fica caracterizada uma situação de emergência, sendo assim, o caso
deve ser comunicado e repassado imediatamente ao médico regulador, após
registrar nome, telefone e endereço completo.
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Etapa 2: abordagem do caso — regulação médica

O chamado será recebido e avaliado pelo médico controlador de acordo com


a relevância da queixa ou o potencial impacto do que foi verbalizado no
acionamento do evento.
A fim de tentar estabelecer o diagnóstico, alguns sinais serão essencial-
mente analisados: serão solicitadas, ao responsável pelo contato, informações
acerca da presença ou ausência de movimentos respiratórios. Por se tratar
de um público leigo, na maioria das situações será necessário ensinar como
verificar essa informação. Exemplo: “verifique se o peito ou barriga da vítima
sobe e desce”.
Devem ser solicitadas informações acerca do nível de consciência, pergun-
tando se a vítima está respondendo ou não quando é chamado.
Para cada tipo de situação, existe uma checklist específica para que se tenha
o maior número de informações possíveis para nortear a central de regulação.

Etapa 3: decisão e acompanhamento

A partir das informações disponibilizadas no chamado, a decisão sobre qual


perfil de atendimento é necessário é de total responsabilidade do médico
regulador.
Caso as informações o deixem em dúvida quanto à escolha do serviço, o
médico sempre deverá disponibilizar o maior recurso disponível no momento.
Quando existe ineficiência de recursos para atendimento imediato de uma
solicitação, isso deve ser registrado e encaminhado às autoridades competentes.
Após a chegada ao local e o início do atendimento por parte da equipe, um
dos profissionais membros da equipe deverá reportar à central de regulação a
real situação no local, inclusive para que seja encaminhado reforço ou serviço
adicional se houver necessidade.
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ANVISA. Protocolo de referência nº. 07: adequação dos veículos utilizados no transporte
de viajantes enfermos ou suspeitos. Brasília, DF: ANVISA, 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria no. 2.048, de 5 de novem-
bro de 2002. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 nov. 2002. Disponível em: http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2002/prt2048_05_11_2002.html. Acesso em:
28 maio 2019.
CORUMBÁ recebe ambulância de suporte avançado do Samu-192. Prefeitura de Corumbá,
Corumbá, 23 dez. 2010. Disponível em: http://www.corumba.ms.gov.br/noticias/
corumba-recebe-ambulancia-de-suporte-avancado-do-samu-192/9244/. Acesso em:
28 maio 2019.
OLIVEIRA, A. C. (org.); SILVA, E. S.; MARTUCHI, S. D. Manual do socorrista. São Paulo:
Martinari, 2013.
SATO, E. I. (coord.). Atualização terapêutica de Prado, Ramos e Valle: diagnóstico e trata-
mento. 26. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2017.

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