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Félix H. D. González
Sérgio Ceroni da Silva
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Extraído do livro
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Os autores
Félix H. Diaz González é médico veterinário formado pela Universidade Nacional da Colômbia
(Bogotá, 1979), com mestrado em Fisiologia Animal pela Escola de Pós-Graduação ICA/UNC
(Colômbia, 1985) e doutorado em Bioquímica Animal pela Universidade Federal de Viçosa
(Brasil, 1990). De 1983 a 1995 foi professor e pesquisador da Faculdade de Medicina Veterinária
e Zootecnia da Universidade Nacional da Colômbia, nas áreas de Bioquímica e Fisiologia Animal,
onde participou como orientador no Programa de Pós-Graduação em Saúde e Produção Animal.
Desde 1996 atua em docência, extensão e pesquisa na Faculdade de Veterinária da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, onde atualmente é Professor Titular. É orientador
do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias na área de metabolismo e transtornos
metabólicos em animais domésticos, onde já orientou 50 alunos de mestrado e/ou doutorado. Foi
professor convidado na Universidade de Los Llanos (Colômbia), na Universidade Federal do
Espírito Santo, na Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), na Universidade Nacional
da Colômbia, na Universidade da República (Uruguai) e na Universidade Federal de Santa Maria.
Autor de 14 livros e coeditor em outros 10, publicou 138 artigos científicos. É bolsista de
produtividade em pesquisa do CNPq.
Sérgio Ceroni da Silva é médico veterinário formado pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (Porto Alegre, 1982), com mestrado em Genética e Biologia Molecular pela UFRGS (Porto
Alegre, 1986) e doutorado em Biologia Molecular pela Universidade de Glasgow (Reino Unido,
1993). Desde 1987 é professor de Bioquímica Clínica Veterinária na Faculdade de Veterinária da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuando também como pesquisador no Laboratório de
Biologia Molecular Aplicada desta mesma faculdade.
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Dedico com amor: Laurita, Lupita, Rezinha, Rosita
FHDG
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Prefácio
As vitaminas são moléculas orgânicas essenciais com múltiplas funções no metabolismo animal.
Frequentemente este grupo de biomoléculas é estudado de forma tangencial nos cursos de
bioquímica, o que deixa a impressão, nos estudantes de ciências veterinárias e biomédicas em geral,
que não seriam tão importantes. É por isso que o presente livro tem seu foco nesses compostos, tão
essenciais como fundamentais no contexto das rotas e processos de controle metabólico. A revisão
prioriza conceitos em animais domésticos relativos às funções e às deficiências dessas
biomoléculas. A publicação pretende servir como texto de apoio nas disciplinas de bioquímica,
nutrição e transtornos metabólicos para alunos de Medicina Veterinária e Zootecnia.
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Sumário
Introdução 1
Vitamina A 4
Funções da vitamina A 6
Deficiência de vitamina A 8
Toxicidade 8
Vitamina D 10
Funções da vitamina D 13
Deficiência de vitamina D 14
Toxicidade 15
Vitamina E 16
Funções da vitamina E 18
Deficiência de vitamina E 19
Toxicidade 20
Oxidação e antioxidantes 20
Vitamina K 25
Funções da vitamina K 26
Deficiência de vitamina K 28
Toxicidade 29
Tiamina (vitamina B1) 30
Funções da tiamina 31
Deficiência de tiamina 32
Toxicidade 33
Riboflavina (vitamina B2) 34
Funções da riboflavina 35
Deficiência de riboflavina 36
Toxicidade 37
Niacina (vitamina B3) 38
Funções da niacina 39
Deficiência da niacina 40
Toxicidade 41
Piridoxina (vitamina B6) 42
Funções da piridoxina 42
Deficiência da piridoxina 43
Toxicidade 44
Ácido pantotênico 45
Funções do ácido pantotênico 45
Deficiência do ácido pantotênico 46
Toxicidade 47
Biotina 48
Funções da biotina 48
Deficiência de biotina 49
Toxicidade 50
Folacina (ácido fólico) 51
Funções do ácido fólico 52
Deficiência do ácido fólico 53
Toxicidade 53
Cianocobalamina (vitamina B12) 54
Funções da vitamina B12 56
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Deficiência da vitamina B12 57
Toxicidade 58
Colina 59
Funções da colina 60
Deficiência da colina 60
Toxicidade 61
Ácido ascórbico (vitamina C) 62
Funções da vitamina C 63
Deficiência de vitamina C 63
Toxicidade 64
Carnitina 65
Funções da carnitina 65
Deficiência da carnitina 66
Toxicidade 66
Bibliografia 67
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Introdução
No último século ficou evidenciada a necessidade de alguns fatores que eram necessários em
pequenas quantidades para as funções vitais e assim foram sentadas as bases do metabolismo das
vitaminas. As vitaminas são biomoléculas que sobressaem no metabolismo animal por estarem
comprometidas como cofatores enzimáticos. Diferem dos minerais por serem moléculas orgânicas,
mas compartilham algumas características funcionais, como estarem no organismo em quantidades
pequenas, e por algumas delas participarem como cofatores enzimáticos. As deficiências de
vitaminas podem levar a doenças comprometidas com o metabolismo. Embora a maioria das
vitaminas deva ser consumida na dieta, algumas delas podem ser sintetizadas no organismo
(vitamina C, vitamina D, niacina, carnitina) e uma grande parte pode ser sintetizada por bactérias
intestinais.
A primeira doença reconhecidamente devido a deficiências nutricionais foi a cegueira
noturna, que no antigo Egito e na China ancestral era tratada com aplicações tópicas de fígado sobre
os olhos. No século 18, o médico James Lynn, da marinha britânica, demonstrou os efeitos
curativos de frutas e vegetais frescos sobre o escorbuto que afetava os marinheiros em longas
viagens. No século 19 foi descoberta a relação entre pelagra e dieta de milho. Esses três exemplos
plantaram as bases do conhecimento do que posteriormente foi chamado de vitaminas
(respectivamente, vitamina A, C e niacina). Em 1911, Casimir Funk, um jovem bioquímico polonês
do Lister Institute de Londres, isolou, da casca do arroz, uma substância cristalizada que possuía
uma função amina, e que se revelou capaz de prevenir e curar o “beribéri” (polineurite)
experimental em frangos, razão pela qual Funk a chamou de “vitamina”, para salientar que era uma
amina indispensável à vida. Tratava-se do que posteriormente foi identificado como tiamina.
Embora nem todas as vitaminas sejam aminas, o termo prevaleceu.
Não existe uma definição totalmente satisfatória das vitaminas. A definição de substâncias
orgânicas presentes em quantidades muito pequenas nos alimentos e essenciais para o metabolismo,
cuja deficiência provoca doenças, pode não ser específica, pois se pode aplicar a outros compostos.
As vitaminas são um grupo de compostos orgânicos que não se ajustam à classificação de
macronutrientes. Não são quimicamente relacionadas entre si, estando distribuídas nos reinos
vegetal e animal. Embora necessárias em pequeníssimas quantidades na alimentação, as vitaminas
são consideradas essenciais, ou seja, que o organismo não as sintetiza ou as sintetiza em baixas
quantidades, sendo necessário seu consumo na alimentação. Algumas vitaminas podem ser
sintetizadas pelo organismo, como é o caso da niacina (a partir de triptofano), ácido ascórbico (a
partir de glicose, exceto em primatas) e vitamina D (a partir de colesterol). Assim, estes compostos
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em algumas espécies e condições fisiológicas podem não preencher, a rigor, a definição clássica de
vitamina.
As vitaminas são classificadas quanto à solubilidade, em vitaminas lipossolúveis e
hidrossolúveis. Onze vitaminas (tiamina, riboflavina, niacina, piridoxina, ácido pantotênico,
biotina, ácido fólico, cianocobalamina, colina, ácido ascórbico e carnitina) são classificadas como
hidrossolúveis, enquanto quatro vitaminas (A, D, K e E) são lipossolúveis. As vitaminas
hidrossolúveis constituem um grupo de compostos estrutural e funcionalmente independentes que
compartilham a característica de serem essenciais para o metabolismo animal, participando como
coenzimas. De maneira geral (salvo a cianocobalamina), não são armazenadas em quantidades
significativas no organismo, sendo o excesso rapidamente excretado via urinária, o que leva muitas
vezes a necessidade de um suprimento diário dessas vitaminas.
As vitaminas lipossolúveis são compostos constituídos de unidades de isopreno e
desempenham papéis essenciais no metabolismo ou na fisiologia dos animais. São encontradas na
fase lipídica nos alimentos e sua absorção intestinal está regulada pelos mesmos mecanismos de
absorção de lipídeos. Exceto pela vitamina K, as vitaminas lipossolúveis podem ser armazenadas,
principalmente no fígado. A vitamina A fornece o pigmento fotossensível dos olhos dos vertebrados
e é um regulador de expressão gênica durante o crescimento das células epiteliais. A vitamina D é
precursora de um hormônio que regula o metabolismo do Ca. A vitamina E funciona na proteção
dos lipídeos de membrana contra o dano oxidativo, e a vitamina K é essencial no processo de
coagulação sanguínea. Estas vitaminas podem se acumular e, ocasionalmente em casos de excesso,
podem causar transtornos. Na Tabela 1 constam as principais vitaminas, suas funções essenciais e
fontes alimentares.
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Tabela 1. Principais vitaminas, suas funções e fontes e nível plasmático de deficiência
Vitamina Função Fontes Nível plasmático
de deficiência
Vitamina A Visão, transcrição gênica, Plantas contendo
manutenção dos epitélios, carotenos, fígado < 20 µg/dL
desenvolvimento ósseo
Vitamina D Manutenção da calcemia (absorçãoPeixes, ovos, fígado,
< 25 ng/mL
de Ca) carne
Vitamina E Antioxidante Óleos vegetais, sementes,
< 0,5 µg/mL
folhas verdes, castanhas
Vitamina K Coagulação sanguínea, formação de Plantas verdes, gema do
< 0,5 ng/mL
osteocalcina ovo, leite
Tiamina Metabolismo de glicídeos, Sementes, castanhas,
decarboxilação do piruvato, carne, leveduras < 2 µg/dL
transmissão nervosa
Riboflavina Cofator enzimático de reações de Leite, carne, ovos,
óxido-redução (coenzimas FAD, castanhas, sementes < 0,1 µg/dL
FMN)
Niacina Cofator enzimático de reações de Alimentos ricos em
óxido-redução (coenzimas NAD, triptofano, leite, carne < 0,5 µg/mL
NADP), poliadenilação
Piridoxina Transaminação, decarboxilação, Leveduras, carne, germe
< 0,5 µg/dL (PLP)
síntese de heme de trigo
Ácido Transporte e transferência de Leveduras, plantas, grãos,
pantotênico grupos acila (formação de ovos, carne < 100 µg/dL
coenzima A)
Biotina Carboxilação, desaminação Leveduras, gema de ovo,
< 100 ng/dL
carne, grãos
Folacina Transferência de unidades de Plantas verdes, carne,
carbono, síntese de purinas e ovos, queijo < 0,3 ng/mL
pirimidinas, hematopoiese
Cianocobalamina Coenzima de enzimas mutases, Leite, peixe, ovos, carne
hematopoiese, transferência de < 150 pg/mL
grupos metila
Colina Transporte de lipídeos, fator Cereais, carne,
lipotrópico, neurotransmissão, leguminosas, gema de < 1 µg/mL
síntese de metionina e creatina ovo
Ácido ascórbico Antioxidante, síntese de colágeno, Frutas cítricas, vegetais
< 0,5 mg/dL
proteção de membranas
Carnitina Transporte de ácidos graxos na Carne, fígado
< 30 µmol/L
célula (intramitocondrial)
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Vitamina A
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O retinol é um álcool primário que contém um anel β-ionona com cadeia lateral insaturada,
sendo encontrado em tecidos animais como éster retinila com ácidos graxos de cadeia longa. O
retinal é o aldeído derivado da oxidação do retinol. O retinal e o retinol podem ser facilmente
interconvertidos. O ácido retinoico é o ácido derivado da oxidação do retinal. Este ácido não pode
ser reduzido no organismo e, assim, não pode originar retinal ou retinol.
A maior concentração de vitamina A nos animais é no fígado, principal órgão armazenador
(90% do total), no qual o retinol e seus ésteres são as principais formas presentes. A vitamina A
como tal não está presente nas plantas, porém elas contêm seus precursores, os carotenoides, os
quais podem ser convertidos em vitamina mediante reação enzimática no intestino dos animais. Os
carotenoides contribuem significativamente para a atividade da vitamina A em alimentos tanto de
origem animal como vegetal. Frutas, plantas e vegetais amarelos e verde-escuros são boas fontes
dietéticas de carotenos. Dos 600 carotenoides conhecidos, cerca de 50 apresentam alguma atividade
de pró-vitamina A. Alimentos de origem vegetal contêm β-caroteno, que pode ser clivado
oxidativamente no intestino em duas moléculas de retinal. Entre todos os carotenoides, o β-caroteno
é o que apresenta maior atividade pró-vitamínica A (Figura 2).
Para ocorrer a conversão metabólica de caroteno para vitamina A, o β-caroteno deve ter o
anel β-ionona livre. A conversão ocorre por ação de duas enzimas: a primeira (β-caroteno-15, 15´-
dioxinase) cliva o β-caroteno produzindo duas moléculas de retinal. A segunda enzima
(retinaldeído redutase) converte o retinal em retinol. Gatos não possuem a enzima clivante e,
portanto, não podem usar carotenos como fonte de vitamina A. O potencial de pró-vitamina A em
plantas é mais bem preservado quando pastagens são conservadas sob a forma de feno, porém há
declínio quando a armazenagem é realizada na ausência de oxigênio. Grãos, com algumas exceções
(por exemplo, milho amarelo), são menores fontes de pró-vitamina A. Dentre os grãos de
leguminosas, o grão-de-bico tem a melhor fonte carotenoide. A fonte mais rica de carotenos é o
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óleo de palma vermelha. Fontes ricas de vitamina A estão nos óleos de peixe. Embora haja a
possibilidade de serem produzidas duas moléculas de vitamina A, por cada molécula de β-caroteno,
a ineficiência desse processo contribui para que o β-caroteno exiba apenas 50% de atividade da
vitamina A.
Na maioria dos animais, a absorção da vitamina A varia de 70 a 90%, mas a eficiência na
absorção de carotenoides adicionados à dieta é de 40 a 60%, dependendo do carotenoide. As
espécies que absorvem carotenos (bovinos, equinos, aves, humanos) podem apresentar tecido
adiposo amarelo, uma vez que os carotenos se armazenam no fígado e na gordura. As espécies que
clivam totalmente os carotenos no intestino (ovinos, caprinos, suínos, caninos) possuem gordura
branca. As vacas da raça Holandesa têm mais eficiência na clivagem de carotenos no intestino,
tendo gordura e leite de cor branca, enquanto as raças Jersey e Guernsey absorvem mais carotenos
e possuem leite e tecido adiposo amarelados.
Nos animais, a vitamina A está presente, em grande quantidade, como ésteres lipídicos no
fígado e no rim, mas também é encontrada na gordura do leite e na gema de ovo. No plasma, a
vitamina A é transportada desde seus estoques no fígado até os tecidos na sua forma álcool (retinol)
ligada a uma proteína ligante de retinol (RBP). Quando há deficiência de vitamina A, ocorre
bloqueio da secreção de RBP hepática e os níveis plasmáticos desta proteína diminuem. Os
requerimentos e vitamina A na dieta estão em torno de 3.000 UI/kg (matéria seca). Caprinos e
felinos têm requerimentos maiores (cerca de 5.000 U/kg). Os requerimentos aumentam em animais
expostos a condições estressantes e a doenças.
Funções da vitamina A
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pigmento visual e a liberação de trans-retinal e opsina. A energia deste processo origina um impulso
nervoso, que é transmitido pelo nervo óptico para o encéfalo, provocando o efeito da visão. A
deficiência de vitamina A causa cegueira noturna (nictalopia), típico sinal clínico em animais. A
regeneração da rodopsina necessita da isomerização do trans-retinal, formando novamente o 11-
cis-retinal. O transretinal, após ser liberado da rodopsina, é isomerizado a 11-cis-retinal, que se
combina espontaneamente com a opsina, para formar a rodopsina, completando o ciclo.
A vitamina A é necessária para a manutenção dos epitélios, de forma que sua deficiência
causa falhas de queratinização e de funcionalidade principalmente nas células epiteliais dos tratos
gastrointestinal, respiratório e urogenital, além do olho. A possível relação da vitamina A com a
manutenção dos epitélios pode estar no papel desta vitamina na formação de glicosamina, composto
que faz parte dos mucopolissacarídeos, componentes do muco epitelial.
A vitamina A também tem um papel no desenvolvimento normal dos ossos, através da
atividade exercida sobre os osteoclastos do epitélio da cartilagem. Na deficiência de vitamina A, a
atividade osteoclástica é reduzida e podendo causar crescimento desorganizado dos ossos e
inflamação das articulações. Na reprodução, a vitamina A tem importante função na manutenção
do epitélio germinativo e nos túbulos seminíferos nos machos e na sobrevivência embrionária. Em
algumas espécies, a deficiência de vitamina A pode causar retenção de placenta. Nas vacas, a
vitamina A e os carotenos têm importante função na proteção contra numerosas infecções,
incluindo mastite.
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Deficiência de vitamina A
Toxicidade
A vitamina A pode ser problema tanto em sua deficiência como em seu excesso. Os
ruminantes são mais tolerantes a altas doses de vitamina A devido à degradação desta vitamina no
rúmen. Os principais sinais da hipervitaminose A incluem malformações ósseas, fraturas
espontâneas, hemorragia interna, perda de apetite e de peso, engrossamento da pele, incremento do
tempo de coagulação, anemia e conjuntivite. A toxicidade da vitamina A pode ser classificada sob
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três categorias: aguda, crônica e teratogênica. Quando uma única dose de vitamina A (maior do que
100 mg) é injetada em animais de 20-50 kg de peso corporal, aparecem sinais como náusea, vômito,
aumento de pressão do fluido espinhal e fragilidade muscular. A toxicidade crônica pode ser
induzida por doses 10 vezes acima do recomendado. Essa dose pode levar à alopecia, ataxia, dores
ósseas e musculares e prurido.
Embora gatos tenham alta tolerância a doses excessivas de vitamina A, ocorre
hipervitaminose A em animais que possuam dieta baseada em fígado. Gatos afetados apresentam
deformação no esqueleto, particularmente exostose de vértebras cervicais. A vitamina A é também
um poderoso teratogênico. Uma dose excessiva única (100 mg), durante a gestação, para animais
que pesem entre 20 e 50 kg, pode resultar em malformação fetal. No caso dos humanos, a
hipervitaminose A está relacionada ao abuso das suplementações e às automedicações. Ao contrário
dos retinoides, os carotenoides geralmente não são tóxicos, e muitos animais os ingerem sem efeitos
deletérios. A eficiência da conversão de caroteno em vitamina A diminui quando há aumento da
vitamina, o que se considera um mecanismo de controle homeostático que protege de um excesso
de caroteno.
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Vitamina D
Desde a antiguidade, o raquitismo era conhecido como uma doença que causava deformação
dos ossos e que estava relacionada com o fato de não receber sol. Sniadecki, em 1822, foi o primeiro
a propor que o raquitismo ocorria pela falta de exposição à luz solar. A maioria dos cientistas à
época não acreditavam que uma doença podia ser curada apenas pela exposição ao sol. Em 1921,
Sir Edward Mellanby reportou a indução de raquitismo em cães através da manipulação da dieta (a
base de farinha de aveia e – sem que ele o planejasse – em ausência de luz solar). Ele descobriu
que a doença podia ser revertida com óleo de fígado de bacalhau, pelo qual erroneamente pensou
se tratar de deficiência de vitamina A. McCollum, em 1922, reportou que o fator curativo do óleo
de fígado de bacalhau não era a vitamina A, mas sim outra substância lipossolúvel, que
posteriormente foi identificada como vitamina D. A observação de que a irradiação de alimentos
(leite, manteiga) resultava na produção de um fator antirraquitismo, levou à identificação da
vitamina D2 a partir da pró-vitamina ergosterol e da vitamina D3 a partir da pró-vitamina 7-
deidrocolesterol. Em 1932, a estrutura da vitamina D2 foi determinada simultaneamente por
Windaus, na Alemanha (quem a chamou vitamina D2) e por Askew, na Inglaterra (quem a chamou
ergocalciferol). Em 1936, Windaus também determinou a estrutura da vitamina D3.
A atividade da vitamina D está associada a vários esteroides, incluindo o colecalciferol, de
fontes animais, e o ergocalciferol, uma forma exclusivamente sintética de vitamina D, a qual é
formada pela irradiação do fitoesterol (esterol vegetal), com luz ultravioleta, comumente
adicionada ao leite e à manteiga como suplemento alimentar para humanos. O ergocalciferol e o
colecalciferol são fontes de vitamina D pré-formada e diferem pela presença de uma ligação dupla
adicional e de um grupo metila no esterol vegetal (Figura 4).
Na década de 1960 começou um novo patamar no estudo da vitamina D, quando se
reconheceu que ela é o precursor do hormônio esteroide 1,25-di-hidroxi-colecalciferol (1,25-
DHCC). De Luca, em 1966, demonstrou que o colecalciferol é convertido em 25-hidroxi-
colecalciferol (25-HCC) no fígado, e no início dos anos 1970 se determinou que o 1,25-DHCC era
produzido no rim. A partir daí, a vitamina D e seus derivados adquiriram a categoria de hormônios.
O colecalciferol é formado na pele mediante a exposição à luz solar. Esse processo é constituído
de várias etapas, as quais envolvem a modificação fotoquímica do 7-dehidrocolesterol seguida por
isomerização não enzimática. Por esse motivo, na síntese in vivo, as exigências de vitamina D da
dieta dependem da exposição à luz solar. Apesar de a maioria das espécies animais possuírem o 7-
dehidrocolesterol, de forma abundante na pele, gatos, cães e outros carnívoros contêm apenas
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pequenas quantidades deste composto, o que não permite uma adequada síntese de vitamina D,
fazendo com que dependam quase que exclusivamente da dieta.
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excesso de P e de 1,25-DHCC. Outra enzima do rim pode hidroxilar o 25-HCC na posição 24,
formando o composto 24, 25-di-hidroxi-colecalciferol (24,25-DHCC), composto inativo, quando a
atividade da 1α-hidroxilase está reduzida, isto é, quando há níveis plasmáticos normais de Ca e de
P.
A vitamina D é suscetível à degradação pela luz. Nos alimentos, essa degradação pode
ocorrer durante o armazenamento. De modo geral, no entanto, a estabilidade da vitamina D em
alimentos, em especial em condições anaeróbicas, não é uma preocupação importante. A vitamina
D é encontrada em maiores quantidades em peixes, particularmente, de água salgada, como salmão,
sardinhas e no óleo de fígado de peixe. No plasma, a vitamina D é transportada por uma proteína
hepática específica, denominada proteína ligante de vitamina D (DBP) ou transcalciferina. A
maioria dos animais, salvo os carnívoros, não tem requerimento de vitamina D desde que tenham
disponível suficiente luz solar. Os requerimentos na dieta estão entre 200-400 UI/kg (base seca).
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Funções da vitamina D
Inicialmente, a vitamina D foi identificada como um cofator para reações que serviam para
manter os níveis de Ca e P. Nas décadas de 1960 e 1970 uma série de descobertas levou a ampliar
o conhecimento do metabolismo da vitamina D. A vitamina D pertence a um grupo de esteroides
que apresentam funções semelhantes às dos hormônios e sua ação precípua é na estimulação da
absorção intestinal de Ca e de P. A vitamina D regula a expressão gênica interagindo com receptores
nucleares específicos das células epiteliais do intestino, que induzem a síntese de transportadores
de Ca e P.
O 1,25-DHCC entra na célula intestinal e liga-se a um receptor citosólico. O complexo 1,25-
DHCC-receptor move-se para o núcleo, onde interage seletivamente com o DNA celular
estimulando a síntese de calbindina, proteína ligadora de Ca específica, que atua estimulando a
absorção intestinal de Ca. O 1,25-DHCC também estimula a produção de ATPases dependentes de
Ca e Na, que facilitam o movimento vetorial de Ca para fora da célula intestinal e para dentro da
circulação. Além disso, o 1,25-DHCC é indiretamente requerido para a mineralização óssea durante
o crescimento do esqueleto. Receptores de vitamina D nos ossos estão localizados nos osteoblastos,
que controlam a síntese e secreção de proteínas específicas nos osteoblastos como osteocalcina,
osteopontina, colágeno e fosfatase alcalina. Sobre os ossos, os efeitos da vitamina D são similares
ao PTH, mobilizando Ca e P da matriz óssea e da fração mineral através de um efeito osteolítico.
Aparentemente, o hormônio requer a presença do PTH para atuar no osso (efeito permissivo). Como
sua ação é bloqueada pela actinomicina D, acredita-se que a transcrição para formar mRNA e
sintetizar proteína é um requerimento para poder causar seu efeito. Sobre o rim, o 1,25-DHCC
diminui a excreção renal de Ca e P, poupando esses minerais no organismo.
Os receptores de vitamina D são encontrados em um grande número de células, desde células
do músculo esquelético até células importantes para a imunidade e funções fagocíticas, como os
macrófagos. No raquitismo dependente de vitamina D, doença genética causada pela alteração de
um gene autossômico recessivo, observada em suínos e em humanos, ocorre falha na síntese da
enzima 1α-hidroxilase, não podendo sintetizar 1,25-DHCC, embora o organismo tenha as
moléculas precursoras. As recentes pesquisas sobre receptores da vitamina D em diferentes órgãos
revelam que os metabólitos desta vitamina podem estar exercendo outras funções, além das
reguladoras sobre o metabolismo do Ca e do P. Existem, por exemplo, evidências de regulação de
crescimento e diferenciação de vários tipos de células, bem como de regulação da hematopoiese e
dos sistemas imunes. Em humanos tem sido relatado que a deficiência de vitamina D pode
promover câncer de próstata por mecanismos não esclarecidos.
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Deficiência de vitamina D
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Toxicidade
A vitamina D é a mais tóxica das vitaminas. Como composto lipossolúvel, a vitamina D pode
ser armazenada no organismo, sendo metabolizada lentamente. A maioria dos animais requer no
máximo 5 μg de vitamina D por 1.000 Kcal da dieta. Quando a ingestão excede 5 a 10 vezes essa
quantia, há risco de toxicidade. A hipervitaminose D se caracteriza por hipercalcemia e calcificação
de tecidos moles, particularmente articulações, membranas sinoviais, pulmões, rins, artérias, córnea
e miocárdio. A hipervitaminose D pode causar calcificação ectópica, como consequência do
aumento da desmineralização óssea. Os ossos tornam-se frágeis e suscetíveis de fraturas. São
observadas hipercalcemia e hipercalcinúria, com concentrações normais ou diminuídas de P. Os
efeitos da hipervitaminose D são devidos ao 25-HCC, pois o 1,25-DHC está regulado de forma
rigorosa, a menos que seja diretamente administrado no organismo via parenteral. Doses muito
altas de vitamina D (100 vezes o requerimento) podem resultar em balanço negativo de Ca, porque
a ressorção óssea é acelerada, além de sinais como perda de apetite, náuseas, sede e estupor.
Apesar de que os vegetais não contêm vitamina D2, algumas plantas (Solanum malacoxylon
[espichadeira], Cestrum diurnum [dama-da-noite] e Trisetum flavescens [aveia amarela]) contêm
compostos com atividade de vitamina D (um glicosídeo hidrossolúvel de 1,25-DHCC) e o seu
consumo por animais herbívoros pode levar a toxicidade, causando calcinose, manifestada por
deposição de Ca nos tecidos moles, que em casos severos pode levar a insuficiência cardíaca e
pulmonar agudas. A toxicidade da vitamina D3 é 10 a 20 vezes mais tóxica que a vitamina D2.
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Vitamina E
Em 1922, Herbert Evans e Kathryn Bishop observaram que ratos desenvolviam problemas
reprodutivos quando alimentados com dieta contendo gordura rançosa, a menos que fossem
suplementados com alface, alfafa ou gérmen de trigo. Mais tarde, foi descoberto que óleo de gérmen
de trigo continha um princípio ativo que parecia ser responsável por melhorar o desempenho
reprodutivo. O composto foi designado como vitamina E por Sure (1924) e Evans (1925), e mais
tarde foi batizado como α-tocoferol, do grego tokos que significa nascimento. Ao longo da década
de 1920, a vitamina E foi reconhecida apenas como um fator que era necessário para a reprodução
dos ratos, mas em 1931, Pappenheimer e Goettsch observaram que a vitamina E também era
requerida para evitar degeneração muscular em coelhos e cobaias e encefalomalacia em frangos.
Posteriormente, outros sinais foram identificados na deficiência de vitamina E, incluindo diátese
exudativa em frangos, e necrose hepática e anemia hemolítica em outros animais. Com a elucidação
da estrutura do α-tocoferol por Fernholz, em 1938, estudos demonstraram que a deficiência de
vitamina E podia resultar em falha embrionária. Em 1957, Schwartz descobriu que levedura de
cerveja (que não contém vitamina E) era efetiva, assim como a vitamina E, em prevenir necrose
hepática. Após este descobrimento, se encontrou que o Se era o ingrediente ativo da levedura de
cerveja nesta função e para prevenir a diátese exudativa em frangos e a degeneração muscular em
bezerros.
Os tocoferóis e os tocotrienóis, que são os principais compostos com atividade de vitamina
E nos alimentos, são derivados do composto original tocol, que apresenta um ou mais grupos metila
nas posições 5,7 ou 8 da estrutura do anel cromano (Figura 6). As formas α, β, γ e δ de tocoferol e
tocotrienol diferem conforme o número e a posição dos grupos metila e, portanto, diferem
significativamente quanto à atividade de vitamina E. O α-tocoferol apresenta a maior atividade de
vitamina E tendo função antioxidante. Os três carbonos assimétricos (2´, 4´ e 8´) da molécula de
tocoferol e a configuração estereoquímica dessas posições na vitamina E influenciam na atividade
vitamínica do composto. Os tocoferóis e os tocotrienóis são muito apolares, existindo
principalmente na fase lipídica dos alimentos. Todos os tocoferóis e tocotrienóis, quando não
esterificados, têm a capacidade de agir como antioxidantes. Eles desativam radicais livres, doando
um H+ fenólico e um elétron. Os tocoferóis são constituintes naturais de todas as membranas
biológicas. Acredita-se que eles contribuam para a estabilidade da membrana devido a sua atividade
antioxidante. Os tocoferóis e os tocotrienóis de ocorrência natural também contribuem para a
estabilidade de óleos vegetais altamente insaturados, por meio de sua ação antioxidante. Os
compostos vitamínicos E apresentam estabilidade razoável na ausência de oxigênio e lipídeos
16
oxidantes. Tratamentos anaeróbicos no processamento de alimentos, como os enlatados
autoclavados, exercem pouco efeito sobre a atividade de vitamina E. Em contrapartida, a taxa de
degradação da vitamina E aumenta na presença de oxigênio molecular, podendo ser particularmente
rápida quando radicais livres também estão presentes.
17
natureza, mas as fontes mais ricas são óleos vegetais, óleos de cereais particularmente no gérmen,
ovos e fígado.
Funções da vitamina E
18
sulfurados aparecem na 3ª linha de defesa como precursores da GPx. Consequentemente, enzimas
como superóxido dismutase e catalase e outros sistemas de defesa contra a oxidação podem
moderar a necessidade por vitamina E. A vitamina C também atua como antioxidante por regenerar
a forma reduzida do α-tocoferol: no processo de inibição da oxidação de ácidos graxos, o tocoferol
é oxidado a radical livre de tocoferol e o ácido ascórbico pode doar um elétron a este radical para
regenerar a forma antioxidante (reduzida) do tocoferol.
Deficiência de vitamina E
A deficiência de vitamina E mostra uma grande variedade de sinais clínicos nas diferentes
espécies. O grau de severidade da deficiência depende da ingestão de ácidos graxos poli-insaturados
e da disponibilidade de Se, antioxidantes e aminoácidos sulfurados. A distrofia muscular
nutricional é uma síndrome comum em todas as espécies quando há deficiência de vitamina E,
sendo também chamada de degeneração de Zenker, no qual ocorrem lesões nos músculos
esqueléticos e cardíacos e substituição do tecido muscular por conectivo, originando estrias
esbranquiçadas nas fibras musculares. A condição responde a tratamento com vitamina E / Se. Em
ruminantes, o transtorno é conhecido como doença do músculo branco, ocorrendo em animais
jovens primariamente por deficiência de Se, mas influenciado pelo status de vitamina E. Esta
doença pode se apresentar em animais neonatos ou na idade de 3 a 4 semanas em cordeiros ou de
1 a 4 meses em terneiros. Caracteriza-se por fraqueza e deterioração muscular, dificuldade de ficar
em pé e de amamentar (os músculos da língua podem ser afetados). A morte pode ocorrer por dano
severo no miocárdio. Fatores estressantes como transporte ou movimentação, ou mudanças bruscas
na alimentação podem precipitar a doença. Embora a doença seja mais descrita em animais jovens,
também pode afetar adultos com deficiência de vitamina E / Se, ocasionando miopatia
degenerativa, aborto, natimortos e síndrome de vaca caída.
A relação entre a vitamina E com a reprodução adquiriu interesse devido aos primeiros
relatos de que a deficiência desta vitamina afetava esta função em ratos machos e fêmeas.
Entretanto, em outras espécies não têm sido encontradas evidências desta relação, salvo em casos
de diminuição da toxicidade do gossipol em touros. O gossipol é uma substância encontrada na
farinha de algodão (sementes), que tem efeitos tóxicos sobre a reprodução (azoospermia).
Suplementação de vitamina E foi efetiva na prevenção de retenção de placenta em vacas. A
deficiência de vitamina E também causa aumento da sensibilidade dos eritrócitos a peróxidos e o
aparecimento de membranas celulares anormais. Por este motivo, o teste de hemólise in vitro é
considerado um indicador de deficiência de vitamina E. Necrose hepática e síndrome mastite-
19
metrite-agalactia têm sido relatadas em suínos por deficiência de vitamina E / Se. Em frangos a
deficiência de vitamina E pode resultar em diátese exudativa, um edema subcutâneo severo causado
por aumento da permeabilidade capilar, encefalomalácia (doença do frango louco), que resulta de
hemorragia e edema do cerebelo, muito influenciada pela quantidade de ácido linoleico na dieta, e
distrofia muscular.
Toxicidade
Oxidação e antioxidantes
20
Figura 7. Redução do O2 em água durante a cadeia de transporte de elétrons
As principais ERO são radicais, como hidroxila (HO∙), íon superóxido (O2∙-), peroxila
(ROO∙) e alcoxila (RO∙), e não radicais (sem elétrons desemparelhados), como oxigênio singlet
(1O2) e peróxido de hidrogênio (H2O2). O radical hidroxila (HO∙) é o mais deletério ao organismo
por possuir curta meia-vida, o que dificulta o sequestro in vivo. É formado no organismo
principalmente por dois mecanismos (Figura 8): reação do peróxido de hidrogênio (H2O2) com
metais de transição e homólise da água por exposição à radiação ionizante. Causa danos a DNA,
RNA, proteínas, lipídeos e membranas celulares. Nos aminoácidos e proteínas, o radical pode reagir
na cadeia lateral, onde ataca preferencialmente cisteína, histidina, triptofano, metionina e
fenilalanina, gerando danos com consequente perda de atividade enzimática, dificuldades no
transporte ativo através das membranas celulares, citólise e morte celular. A forma mais deletéria
do oxigênio ao organismo é o oxigênio singlet (1O2), forma excitada de oxigênio molecular que não
possui elétrons desemparelhados em sua última camada. Podem atuar de forma benéfica, na defesa
contra infecção, quando a bactéria estimula os neutrófilos a produzirem ERO com a finalidade de
destruir o micro-organismo. O peróxido de hidrogênio (H2O2) é gerado in vivo pela dismutação do
ânion-radical superóxido (O2∙-) por enzimas oxidases ou pela β-oxidação de ácidos graxos. O
peróxido de hidrogênio é pouco reativo frente às moléculas orgânicas na ausência de metais de
transição. No entanto, exerce papel importante no estresse oxidativo por ser capaz de transpor
facilmente as membranas celulares e gerar radical hidroxila.
No organismo, os metais de transição mais importantes para a ocorrência dessa reação são
Cu1+ e Fe2+. O peróxido de hidrogênio é utilizado pelos fagócitos do organismo para combater vírus,
bactérias e outros corpos estranhos, muito embora apresentem também efeitos deletérios às
moléculas biológicas. O radical superóxido (O2∙-), ao contrário da maioria dos radicais livres, é
inativo, e sua reação principal é a dismutação, na qual é produzida uma molécula de peróxido de
hidrogênio e uma molécula de oxigênio. Apesar dos efeitos danosos no organismo, o radical O2∙-
possui importância vital para as células de defesa, protegendo contra infecções causadas por vírus,
bactérias e fungos, sendo produzido in vivo pelos fagócitos ou linfócitos e fibroblastos, durante um
processo inflamatório.
21
Figura 8. Formação das espécies reativas de oxigênio (ERO) e ação dos antioxidantes
SOD: superóxido dismutase, Cat: catalase, GSH: glutation reduzido, GSSH: glutation oxidado
22
como antioxidante no organismo. O sistema glutation catalisa a dismutação do H2O2 em O2 e H2O,
operando em ciclos entre a sua forma oxidada e reduzida.
Outros compostos antioxidantes são os carotenoides, o ácido ascórbico, o α-tocoferol, a
ubiquinona, ácido úrico, a bilirrubina e os flavonoides. Os carotenoides agem in vivo como
desativadores do O2 singlet ou como sequestradores dos radicais peroxila, reduzindo a oxidação do
DNA e lipídeos, que está associada a doenças degenerativas. Dentre eles, o β- caroteno é a mais
importante fonte de vitamina A, e formam um tipo incomum de agentes redutores biológicos. O
ácido ascórbico é agente redutor e pode poupar a oxidação de vários antioxidantes, entre eles a
vitamina E. O α-tocoferol é o principal antioxidante lipossolúvel nas membranas celulares, sendo
responsável pela remoção dos radicais livres na membrana eritrocitária e tendo importante papel
em inibir a propagação da lipoperoxidação, atuando assim na prevenção da hemólise, por manter a
estabilidade das membranas. A ubiquinona possui grande poder oxidante através do sequestro dos
radicais livres e na desativação do radical ânion superóxido.
Outra importante função é a regeneração do tocoferol na membrana mitocondrial, onde exerce
a mesma função regenerativa que o ácido ascórbico. O ácido úrico é a principal forma de excreção
de nitrogênio das aves e dos répteis; nos mamíferos é um produto secundário de excreção, derivado
das bases purínicas. Encontra-se, na maioria dos tecidos, na forma de ânion urato, que é um
antioxidante efetivo nos sistemas biológicos, capaz de proteger o DNA e lipídeos de ERO, mediante
a reação com os radicais peroxila (ROO∙). Além disso, é capaz de recuperar estruturas já atacadas
que se tornaram radicais livres, e é responsável por estabilizar o ascorbato. Tanto a biliverdina
quanto a bilirrubina, produtos do catabolismo do grupo heme, possuem propriedades antioxidantes.
A atividade antioxidante da bilirrubina ocorre principalmente quando se encontra ligada à albumina
plasmática. Os flavonoides são substâncias polifenólicas, pigmentos naturais amplamente
distribuídos em plantas, frutas, verduras e em diversas bebidas. Já foram identificados mais de
5.000 flavonoides diferentes. Possuem um ou mais núcleos aromáticos, contendo substituintes
hidroxilados e/ou derivados funcionais, como ésteres, glicosídeos e outros. Os flavonoides têm
apresentado importância farmacológica em função da descoberta de seus efeitos antitumorais, anti-
inflamatórios, antioxidantes, antivirais e antimicrobianos.
Além do oxigênio, o nitrogênio também participa da estrutura dos radicais livres, em especial o
óxido nítrico (NO2). Entre suas principais funções, destacam-se a regulação da pressão arterial e a
sinalização intercelular. Seu efeito tóxico, como radical livre, pode levar a lesão tecidual em
processos inflamatórios crônicos. O NO2 é sintetizado a partir da arginina por ação da enzima óxido
nítrico sintetase, presente no endotélio e nos macrófagos. O NO2 promove vasodilatação com
23
redução da resistência periférica, inibe a agregação plaquetária e desempenha um papel importante
na síndrome de lesão por isquemia-reperfusão.
24
Vitamina K
Em 1929, Henrik Dam notou que aves alimentadas com dietas em que foram utilizados
solventes apolares para remover esteróis, em um estudo para determinar a capacidade de sintetizar
colesterol, desenvolviam hemorragias musculares e subcutâneas. Estes estudos foram estendidos
por MacFarland, que observou que defeitos de coagulação em aves alimentadas com dietas
baseadas em extrato lipídico de peixe ou farinha de carne não podiam ser revertidos com o uso das
vitaminas conhecidas até então, e a doença hemorrágica em frangos foi associada com um novo
fator, designado de vitamina K, a vitamina da coagulação, tornando-se assim a última vitamina
lipossolúvel a ser descoberta. Mais tarde, em 1935, Almquist e Stokstad demonstraram que a
doença hemorrágica em frangos podia ser revertida com extrato de alfafa. Em 1940, se tornou claro
que substâncias sintetizadas por bactérias também possuíam atividade de vitamina K. Informações
também se tornaram disponíveis a respeito de um composto em trevo e gramíneas estragadas que
pareciam ser causa de desordens hemorrágicas em bovinos e serviam como antagonista da vitamina
K. Mais tarde, este composto foi identificado como dicumarol. Foi apenas em 1974 que foi
esclarecido o papel metabólico da vitamina K, quando se descobriu que γ-carboxiglutamato estava
presente em todas as proteínas dependentes de vitamina K.
A vitamina K existe em diversas formas (Figura 9), por exemplo, nas plantas como
filoquinona (vitamina K1) e nas bactérias da flora intestinal como menaquinona (vitamina K2). Para
a terapia, está disponível um derivado sintético, a menadiona (vitamina K3).
25
Grande parte da vitamina K é sintetizada por bactérias intestinais, e várias espécies animais
conseguem incorporar esta vitamina mediante coprofagia. Os micro-organismos ruminais
sintetizam grandes quantidades de vitamina K, de forma que os ruminantes não necessitam de
fontes externas. Dietas de frangos e suínos são regularmente suplementadas com menadiona, mas
a necessidade de suplementação na dieta para outras espécies é controversa. Os frangos não
conseguem suficientes quantidades de menaquinona a partir da síntese microbiana intestinal.
Aproximadamente metade do estoque de vitamina K – principalmente filoquinona e menaquinona
– do organismo está no fígado. A menadiona, por ser mais hidrossolúvel, tem distribuição mais
abrangente em todos os tecidos, sendo rapidamente excretada.
Existem compostos antagonistas da vitamina K, como os derivados cumarínicos (Figura 10),
originados a partir de fungos contaminantes de trevo. Micotoxinas e sulfonamidas também são
antagonistas da vitamina K. O dicumarol é utilizado farmacologicamente como anticoagulante para
prevenir a formação de coágulos intravasculares. A warfarina é usada como potente rodenticida. A
vitamina K é encontrada em vegetais escuros e frescos, principalmente na alfafa, couve-flor,
repolho verde, alface, brócolis e espinafre. Também se encontra na gema do ovo, no tomate e no
fígado. Os requerimentos de vitamina K estão na ordem de 0,5-1,0 ppm (base seca), sendo que os
ruminantes não requerem consumir esta vitamina, que é produzida em quantidade suficiente pelos
micro-organismos ruminais.
Funções da vitamina K
26
(Fator Christmas) e X (Fator Stuart-Prower) (Figura 11). Essas proteínas são sintetizadas como
moléculas precursoras inativas.
27
conversão proteolítica de protrombina em trombina. A protrombina é uma enzima proteolítica que
quebra ligações peptídicas no fibrinogênio para convertê-lo em fibrina, a proteína fibrosa insolúvel
que mantém unidos os coágulos sanguíneos. O Gla está também presente em outras proteínas, por
exemplo, na osteocalcina, envolvida na remodelação dos ossos.
Deficiência de vitamina K
28
diminui, por exemplo, pelo uso de antibióticos, a quantidade de vitamina formada endogenamente
diminui e pode levar a hipoprotrombinemia em indivíduos subnutridos. Certas cefalosporinas de
segunda geração podem causar hipoprotrombinemia. Em função disso, seu uso geralmente é
associado à suplementação de vitamina K. A deficiência de vitamina K costuma estar associada a
síndromes de má absorção ou ao uso de anticoagulantes farmacológicos. Recém-nascidos possuem
intestinos estéreis e, inicialmente, não possuem as bactérias que sintetizam a vitamina K. Em
ruminantes alimentados com trevo contaminado com fungos pode haver alto consumo de dicumarol
causando intoxicação hemorrágica devido ao antagonismo da vitamina K. Outra causa de
deficiência de vitamina K induzida é pelo consumo acidental de warfarina, cumarina sintética usada
como rodenticida. Filoquinona, assim como menadiona, devem ser usadas parenteralmente para
tratar animais que ingeriram warfarina e outros anticoagulantes. Alguns cavalos chamados
“sangradores”, que sofrem hemorragias após o exercício, geralmente respondem a tratamento de
suplementação de vitamina K. Profilaticamente, a administração intramuscular de vitamina K pode
ser indicada contra doenças hemorrágicas, mas não como tratamento farmacológico em condições
hemorrágicas.
Toxicidade
Poucos perigos são atribuídos à ingestão de vitamina K por longo tempo e em doses de 10-
100 ppm na dieta sob a forma de filoquinona. As formas naturais de vitamina K, filoquinona e
menaquinona, não são tóxicas em doses elevadas. Porém, a forma sintética da vitamina K, a
menadiona, em doses de 100 ppb na dieta pode agir como pró-oxidante, e sua alta concentração na
dieta pode produzir hemólise. Doses de menadiona de 2-8 mg/kg de peso corporal podem ser letais
em cavalos, provocando sinais de cólico, hematúria, azotemia e falha renal aguda. A administração
prolongada de vitamina K pode produzir anemia hemolítica e icterícia em filhotes, devido a efeitos
tóxicos na membrana dos eritrócitos.
29
Tiamina (Vitamina B1)
Existem compostos sintéticos que são antagonistas da tiamina por possuir similar
composição e atuam por inibição competitiva, interferindo em diferentes pontos do metabolismo.
Assim, a piritiamina bloqueia a esterificação da tiamina com o ácido fosfórico, impedindo a ação
da coenzima co-carboxilase (que contém tiamina); a oxitiamina também inibe a ação da co-
carboxilase e o amprólio (usado como coccidiostático), inibe a absorção intestinal e a fosforilação
de tiamina. As plantas também podem conter antagonistas da tiamina estáveis ao calor, como os
polifenóis, que se encontram em algumas samambaias, no pasto festuca e no chá. Os polifenóis
servem como agentes antioxidantes, mas, no caso do antagonismo à tiamina, oxidam o anel tiazol
para produzir um dissulfeto não absorvível. Algumas samambaias também contêm tiaminase,
enzima que quebra a estrutura da tiamina na ponte metileno em tiazol e pirimidina, inativando-a. A
tiaminase também tem sido identificada em certos peixes, e animais que os consomem podem sofrer
transtorno neurológico conhecido como paralisia de Chastek.
30
A tiamina é uma das vitaminas com menor capacidade de armazenamento e por isso uma
deficiência pode manifestar sinais clínicos em pouco tempo. Em condições de alimentação
costumeira (cereais, hortaliças tuberosas) os animais monogástricos dificilmente terão deficiência
desta vitamina, a menos que os alimentos contenham antagonistas da tiamina (tiaminase, por
exemplo, na samambaia) ou sofram inativação por calor. A tiamina é encontrada principalmente
em cereais e milho, levedura de cerveja, vegetais, frutas, batata, fígado animal, gema de ovo e leite.
Os animais ruminantes e equinos adultos podem obter a vitamina B1 através das bactérias do rúmen
ou do ceco, respectivamente, enquanto coelhos e ratos dependem da coprofagia como fonte desta
vitamina. Nos ruminantes praticamente não se consideram requerimentos de tiamina devido a sua
síntese pelas bactérias ruminais, porém deve-se levar em consideração a possibilidade de
deficiência em ruminantes jovens que ainda não tem um rúmen funcional. Requerimentos em
animais monogástricos rondam 1,0 a 3,0 ppm (matéria seca), sendo os felinos os que possuem
maiores requerimentos. Tendo a tiamina importante participação no metabolismo dos glicídeos, o
aumento deste nutriente na dieta aumenta os requerimentos da vitamina. Gestação, lactação e idade
aumentam os requerimentos de tiamina.
Funções da tiamina
31
sendo requerida na biossíntese de acetilcolina e nas reações de translocação de íons na estimulação
nervosa. Também tem sido postulada a ação da tiamina na síntese de insulina.
Deficiência de tiamina
32
Toxicidade
Grande ingestão ou administração parenteral de tiamina não produz efeitos tóxicos, uma vez
que a vitamina é rapidamente excretada pelo rim. Entretanto, repetidas e grandes doses parenterais
podem causar reação anafilática, com sinais como convulsões, paralisia, arritmia cardíaca e
respiratória e depressão.
33
Riboflavina (vitamina B2)
A riboflavina foi uma das primeiras vitaminas B identificadas. Em 1932, Warburg e Christain
isolaram uma enzima oxidativa de leveduras que continha uma fração proteica e outra não proteica,
sendo a primeira identificação de um grupo prostético (ativador) de uma enzima. Assim, a
riboflavina foi encontrada em uma coenzima antes de ser descoberta na sua forma livre. Em 1933,
Kuhn isolou um pigmento amarelo da clara do ovo que tinha propriedades oxidativas e funcionava
como fator de crescimento em ratos. Ele deu o nome de flavina (ovoflavina por ser do ovo). Mais
tarde se descobriu que continha ribose e foi dado o nome de riboflavina. A riboflavina consiste em
um núcleo de dimetilisoaloxazina ligado à ribose através de um grupo álcool (Figura 14).
34
são da ordem de 2,0 a 4,0 ppm (matéria seca). Fontes de riboflavina se encontram nas plantas
verdes, em leveduras, fungos e algumas bactérias.
Funções da riboflavina
35
reações de transferência de elétrons. As 40 flavoenzimas conhecidas têm sido classificadas nos
seguintes três grupos: (1) NADH2 desidrogenases que tem como substrato NAD reduzida e como
aceptor de elétrons enzimas do sistema citocromo, na cadeia de transporte de elétrons, sendo
fundamental na geração de ATP. (2) Oxidases que aceitam elétrons de substratos reduzidos e os
transferem ao oxigênio, para depois reduzir o O2 a H2O2. (3) Desidrogenases que aceitam elétrons
de substratos reduzidos e os transferem para o sistema citocromo. A riboflavina participa como
fator essencial no metabolismo dos aminoácidos, sendo parte das oxidases que oxidam α-
aminoácidos e os convertem em seu correspondente α-cetoácido, liberando amônia. Uma FMN-
oxidase é necessária para a conversão de piridoxina fosforilada (vitamina B6) em uma coenzima
funcional. Isto significa que uma deficiência de riboflavina pode também causar deficiência de
vitamina B6. A riboflavina tem papel importante na absorção intestinal de Fe. Riboflavina é
necessária no metabolismo dos ácidos graxos, tanto para a oxidação (FAD acil-CoA-desidrogenase)
como para a síntese a partir de acetato (FMN flavoproteína). Parece que a riboflavina é necessária
para a regeneração de glutation reduzido nas hemácias, fazendo que a deficiência torne as
membranas das hemácias mais vulneráveis ao estresse oxidativo.
Deficiência de riboflavina
Tanto humanos como animais não podem sintetizar riboflavina nos tecidos, devendo,
portanto, ingerir na alimentação ou adquirir por síntese microbiana intestinal. Neste sentido, os
ruminantes são muito mais eficientes que os monogástricos, não tendo requerimentos nutricionais,
pois os micro-organismos do rúmen sintetizam quantidades adequadas de riboflavina. Os lactentes
em geral não sofrem de deficiência, pois o leite constitui uma boa fonte de riboflavina. Em todas
as espécies, a deficiência se manifesta por uma taxa de crescimento diminuída, inflamação da
mucosa oral, perda de pelo e produção excessiva de lágrimas e saliva. Outros sinais incluem
anorexia, diarreia, dermatite, queilose (fissuras nos cantos da boca) e glossite (a língua parece lisa
e púrpura). As dietas típicas fornecidas a suínos e frangos, principalmente a base de grãos, as tornam
marginais na deficiência de riboflavina. Porcos jovens em crescimento são mais vulneráveis e
apresentam anorexia, baixo crescimento, pelo áspero, alopecia e manqueira. Em ocasiões também
acompanham neutrofilia e diminuição da resposta imune. Nas porcas, a deficiência de riboflavina
se manifesta por falhas reprodutivas. Em frangos aparece uma típica condição denominada
paralisia de dedos tortos, em casos de severa deficiência, em que o animal caminha sobre os jarretes
com os dedos curvados para dentro. Também em frangos de corte a deficiência de riboflavina causa
atraso no crescimento, diarreia e alta mortalidade nas primeiras semanas de vida. Em galinhas de
36
postura diminui a eclodibilidade e a produção de ovos. Nesta espécie, a dosagem de riboflavina na
ovoalbumina é um excelente indicador do status de riboflavina (deve estar entre 2-3 ppm). O
método bioquímico mais adequando para detectar deficiência de riboflavina é medir a atividade da
FAD-enzima glutation redutase nas hemácias.
Toxicidade
A riboflavina é uma vitamina que tem muito pouca toxicidade. Quantidades de riboflavina
na dieta de até 100 vezes os requerimentos diários em ratos podem ser toleradas sem problema.
Quando doses elevadas são fornecidas por via oral, apenas uma pequena fração se absorve e a
maioria é excretada pelas fezes. Isto ocorre porque o sistema de absorção de riboflavina via
intestinal é rapidamente saturado, além de que a capacidade para armazenar a vitamina nos tecidos
é limitada. A administração parenteral de riboflavina pode atingir toxicidade com doses de 600
mg/kg de peso em ratos. Nesses casos ocorre anúria e acúmulo de cristais nos túbulos renais.
37
Niacina (vitamina B3)
38
Assim em termos práticos, tanto a niacina quanto o Trp são essenciais e precisam estar na dieta. Os
requerimentos de niacina variam amplamente dependendo da disponibilidade de Trp e da
capacidade de converter Trp em niacina. Nos ruminantes não se consideram requerimentos, pois
obtém a niacina através da síntese microbiana ruminal, salvo nos ruminantes jovens e em vacas
leiteiras de alta produção, que requerem consumo de fontes de niacina e Trp (6 g de
niacina/vaca/dia). Os cavalos também não têm requerimentos, pois sintetizam a niacina nas
bactérias do trato digestivo inferior e possuem boa capacidade de síntese de niacina a partir do Trp.
Nas demais espécies, os requerimentos de niacina variam entre 20 a 40 ppm na dieta (MS).
Funções da niacina
A principal função da niacina é na formação das coenzimas NAD e NADP, as quais atuam
em reações de oxidação-redução, comprometidas no fornecimento de energia dentro do
metabolismo animal. Nessas reações, a coenzima sofre redução do anel piridina, pela incorporação
de um íon hidreto (átomo de hidrogênio + um par de elétrons). As formas reduzidas do NAD e do
NADP são NADH e NADPH, respectivamente (Figura 18). Elas participam ao menos de 200
reações no metabolismo de glicídeos, ácidos graxos e aminoácidos, de fundamental importância,
principalmente nos tecidos cutâneo, gastrointestinal e nervoso. NAD é uma coenzima aceptora de
39
elétrons nas reações de oxidação dos nutrientes, e depois serve como doadora de elétrons na cadeia
de transporte de elétrons na mitocôndria, onde se realiza a síntese de ATP. Isto significa que NAD
é um composto intermediário entre os processos de oxidação, no catabolismo dos nutrientes, e os
processos de transferência de elétrons até o O2, na produção de ATP. Muitas enzimas que
participam de processos de óxido-redução são específicas em utilizar a coenzima NADP, como no
caso da via das pentoses-fosfato e na síntese dos ácidos graxos. Tanto NAD como NADP estão
envolvidas na síntese e degradação de aminoácidos. Poli(ADP-ribose) são moléculas niacina-
dependentes que participam da modificação pós-traducional de proteínas nucleares. As proteínas
poli ADP-ribosiladas parecem funcionar na reparação e na replicação de DNA e na diferenciação
celular. A deficiência severa de niacina pode aumentar a suscetibilidade ao dano oxidativo sobre o
DNA, devido a pouca disponibilidade de NAD.
Deficiência da niacina
40
Toxicidade
Podem ocorrer efeitos tóxicos de niacina em níveis muito além dos seus requerimentos (10
a 20 vezes). A nicotinamida é 2 a 3 vezes mais tóxica que o ácido nicotínico. Administração de
elevadas doses de ácido nicotínico em humanos podem causar vasodilatação, coceira, sensação de
calor, náusea, vômito e lesões cutâneas. Em cães, doses de 2 g de ácido nicotínico por dia produzem
sinais de fezes sanguinolentas, convulsões e morte.
41
Piridoxina (vitamina B6)
Funções da piridoxina
Todos os três compostos podem servir como precursores da coenzima biologicamente ativa,
o PLP, o qual funciona como uma coenzima para um grande número de enzimas (em torno de 60),
particularmente aquelas que catalisam reações envolvendo aminoácidos, como coenzima de
reações de transaminação, descarboxilação e racemização de aminoácidos. A maioria das enzimas
dependentes de vitamina B6 são as transaminases, as quais usam α-cetoglutarato como o composto
aceptor de grupos amina. As aminotransferases são específicas para pares específicos de
aminoácidos e cetoácidos (nas reações chamadas de “pingue-pongue”). Elas representam uma
42
importante ligação entre o metabolismo de aminoácidos, glicídeos e ácidos graxos, bem como no
ciclo de Krebs. Também PLP participa em reações de descarboxilação não oxidativa convertendo
aminoácidos em suas aminas correspondentes (por exemplo, histamina, serotonina, taurina, γ-
aminobutírico, etanolamina), as quais atuam em eventos fisiológicos relacionados ao metabolismo
hormonal e como componentes de fosfolipídeos e sais biliares. Adicionalmente, a vitamina B6
participa nas seguintes funções: síntese de niacina (a partir de Trp), formação de ácido δ-
aminolevulínico (primeiro passo da síntese de porfirina), conversão de ácido linoleico em
araquidônico, síntese de adrenalina e noradrenalina, incorporação de Fe no grupo heme, transporte
de aminoácidos e formação de anticorpos.
Deficiência da piridoxina
43
Toxicidade
Como as demais vitaminas do complexo B, a vitamina B6 exibe uma toxicidade muito baixa.
Entretanto, doses excessivas de vitamina B6 podem causar sinais clínicos relacionados com o
sistema nervoso periférico, tais como alterações na marcha, incoordenação motora, convulsões,
paralisia e morte. Piridoxal é duas vezes mais tóxica que piridoxina ou piridoxamina.
44
Ácido pantotênico
O ácido pantotênico foi descoberto em 1933 por Roger Williams. Em 1937, Snell observou
que era um fator essencial para o crescimento de leveduras e de bactérias ácido-lácticas e ácido-
propiônicas. Mais tarde, Elvehjen, Jukes e outros demonstraram que o ácido pantotênico era
essencial para os animais e, em 1940, Williams isolou e determinou a estrutura e deu o nome ao
ácido pantotênico, inspirado na palavra grega pantos, que significa “encontrado em toda parte”.
Lipmann e Kaplan, em 1947, descobriram no fígado que a forma ativa do ácido pantotênico é a
coenzima A. Os ovos, o fígado e as leveduras são as mais importantes fontes de ácido pantotênico,
embora a vitamina seja amplamente distribuída em todos os alimentos. Não se reconhecem
deficiências de ácido pantotênico em ruminantes devido a sua síntese no rúmen. Em monogástricos
são mais frequentes as deficiências em suínos e aves. Os requerimentos nestas espécies são da
ordem de 10 a 12 ppm na dieta (MS). O ácido pantotênico é uma amida composta de ácido pantoico
unido a β-alanina (Figura 20).
Ele pode ser encontrado na forma livre ou unido, principalmente como coenzima A ou como
transportadora de grupos acila (ACP). Para ser absorvido no intestino, deve estar na forma livre.
Em todos os tecidos, o ácido pantotênico pode ser convertido em coenzima A ou em outros
compostos em que a vitamina é grupo funcional. A maioria do ácido pantotênico no sangue é
encontrada nas hemácias como coenzima A, mas no plasma existe na sua forma livre.
45
extremo. Esta última possui um grupo tiol (SH) que constitui o sítio ativo da vitamina, atuando na
transferência de grupos acila. O grupo tiol da coenzima A (CoA) transporta compostos acila como
ésteres do tiol ativados. Exemplos de enzimas que têm as coenzimas do ácido pantotênico como
cofator (com sua respectiva forma ativa) incluem: piruvato desidrogenase (CoA), α-cetoglutarato
desidrogenase (CoA), ácido graxo oxidase (CoA), ácido graxo sintetase (ACP), propionil-CoA
carboxilase (CoA) e acetil-CoA sintetase (fosfopanteteína). Essas coenzimas participam em mais
de 100 vias metabólicas, envolvendo o catabolismo de glicídeos, proteínas e lipídeos, e a síntese de
lipídeos, neurotransmissores, hormônios esteroidais, porfirinas e hemoglobina. A função mais
importante da CoA é atuar no transporte de ácidos carboxílicos, que têm o potencial de se transferir
a outros grupos e estando na forma ligada à CoA se tornam “ativos”. A forma mais comum é a que
liga o ácido acético para formar acetil-CoA, composto comum de rotas catabólicas e anabólicas,
tendo atividade fundamental no ciclo de Krebs. A proteína transportadora de grupos acila (ACP)
substitui a CoA durante o processo de síntese de ácidos graxos. O ácido pantotênico também
estimula a formação de anticorpos através da incorporação de aminoácidos às imunoglobulinas.
46
porcas ocorre falha na fertilidade. Nas aves, a deficiência de ácido pantotênico se reflete em baixa
produção e eclodibilidade de ovos, além de dermatite, problemas de locomoção, anomalias na
plumagem e inflamação das pálpebras, fazendo com que os olhos fiquem grudados. Em cães se
observa apetite errático, perda de peso, baixa resposta imune e diminuição de colesterol e de
lipídeos no sangue.
Toxicidade
Como a maioria das vitaminas do complexo B, o ácido pantotênico não apresenta toxicidade
conhecida em doses relativamente elevadas. Em ratos se observa dano hepático com doses de 100
vezes o requerimento nutricional.
47
Biotina
O nome biotina foi dado por Kögl e Tönnis em 1936 a um fator de crescimento isolado da
gema de ovo necessário para leveduras. Por muitos anos acreditou-se que a biotina não era um
composto essencial devido a sua ampla distribuição nos alimentos e a sua síntese pela microflora
intestinal. Entretanto, o achado de lesões de pele e perda de pelo em animais e pessoas que
consumiam grandes quantidades de ovo cru levou à identificação de um composto antagonista da
biotina (avidina) e à revisão da essencialidade desta vitamina. A avidina é uma proteína termolábil,
secretada pelo oviduto das aves, que se encontra na clara do ovo. A biotina é uma molécula orgânica
nitrogenada com um núcleo de enxofre e grupo funcional carboxílico (Figura 22). Pode existir em
forma livre (biotina) ou ligada a proteínas (biocitina) através do grupo carboxila a um aminoácido,
geralmente lisina. Está presente em muitos alimentos e deve ser absorvida na forma livre no
intestino, para o qual conta com uma enzima de origem pancreática e intestinal chamada
biotinidase, que rompe a ligação presente na biocitina. Ruminantes e equinos não possuem
requerimentos de biotina devido à síntese desta vitamina pelas bactérias do trato intestinal. Nas
demais espécies os requerimentos rondam 0,1-0,2 ppm na dieta (MS). Perus têm maiores
requerimentos do que frangos.
Funções da biotina
A biotina é uma coenzima nas reações de carboxilação, nas quais ela serve como carregador
do dióxido de carbono ativado. A biotina liga-se covalentemente ao grupo ε-amino de resíduos de
lisina nas enzimas dependentes de biotina. A biotina constitui um grupo prostético de várias
enzimas que participam em reações de carboxilação. As mais importantes dessas enzimas são a
48
piruvato carboxilase (que catalisa a conversão do piruvato em oxalacetato, participando de forma
essencial na via de gliconeogênese), a acetil-CoA carboxilase (que catalisa a conversão do acetil-
CoA em malonil-CoA, participando na biossíntese de ácidos graxos), e a propionil-CoA carboxilase
(produzindo metil-malonil-CoA, essencial no aproveitamento de propionato para a gliconeogênese
nos ruminantes e de ácidos graxos de número ímpar de carbonos em todas as espécies animais). No
metabolismo dos glicídeos, a biotina participa como coenzima nas seguintes reações: carboxilação
de piruvato a oxalacetato, conversão de malato a piruvato, interconversão de succinato a propionato
e conversão de oxalosuccinato a α-cetoglutarato. No metabolismo nitrogenado, a biotina participa
em reações de síntese proteica, desaminação de aminoácidos, síntese de purina e metabolismo dos
ácidos nucleicos. No metabolismo dos ácidos graxos participa da primeira reação de síntese como
coenzima da acetil-CoA carboxilase que converte acetil-CoA em malonil-CoA. A biotina é
requerida na síntese de ácidos graxos insaturados de cadeia longa. Na deficiência de biotina está
comprometida a síntese de ácido araquidônico e, portanto, de prostaglandinas.
Deficiência de biotina
Apesar de a biotina ser essencial para o funcionamento normal de adrenal, tireoide, trato
reprodutivo e sistema nervoso, o sinal clínico mais característico da sua deficiência é a dermatite.
Os casos de deficiência são raros porque a vitamina está amplamente distribuída nos alimentos e
uma grande proporção das necessidades de biotina é suprida por bactérias intestinais. Em vacas
leiteiras, casos de deficiência são relatados esporadicamente, onde se observam lesões nos cascos
devido à falha na síntese de proteína da camada granular na sola do casco. Em suínos foram
relatados casos de deficiência de biotina por uso de sulfatalidina ou clara de ovo cru. No primeiro
caso por depressão da microflora intestinal e no segundo por efeito antagônico da avidina sobre a
biotina. Também pode ocorrer deficiência na presença de streptavidina, proteína proveniente da
actinobactéria Streptomyces avidinii, que liga a biotina com muita avidez, inviabilizando sua
utilização. A bactéria está presente no solo, em alimentos mofados e em excrementos. Os sinais
clínicos de deficiência de biotina em suínos se caracterizam por alopecia, dermatite, úlceras
cutâneas, inflamação da mucosa oral e lesões dos cascos (rachaduras), além de crescimento
retardado e prejuízo na conversão alimentar. Em aves, os sinais de deficiência são crescimento
reduzido e ineficiente conversão, além de dermatite, problemas de plumagem (penas quebradas),
deformações em pernas e bicos e inflamação das pálpebras. Os sinais em aves são similares à
deficiência de ácido pantotênico, mas na deficiência de biotina primeiro aparecem as lesões nas
pernas e depois em bico e olhos, enquanto na deficiência de ácido pantotênico aparecem antes os
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problemas nos olhos e só em casos severos se observam problemas nas pernas. A deficiência de
biotina em aves pode causar perose, sinal típico da deficiência severa de Mn. Em cães, a deficiência
de biotina se manifesta por pelo sem brilho e quebradiço, dermatite e prurido. Em gatos se observa
diarreia sanguinolenta, anorexia e emaciação, além de dermatite, alopecia e hipersalivação.
Toxicidade
A biotina aparentemente não é tóxica, mesmo em grandes doses. Em suínos e aves, espécies
em que se acostuma suplementar esta vitamina, são indicados níveis de tolerância de até 10 vezes
os requerimentos. A suplementação desta vitamina deve ser realizada de forma muito criteriosa,
devido a ser uma das vitaminas mais caras.
50
Folacina (ácido fólico)
51
Figura 23. Estrutura do ácido fólico
A forma ativa do ácido fólico é o ácido 5, 6, 7, 8-tetra-hidrofolato (Figura 24), o qual está
envolvido com a transferência de unidades de carbono em várias reações de síntese de lipídeos,
proteínas, ácidos nucleicos, hormônios e neurotransmissores.
As unidades de C podem ser grupos metila, metilene e formila. Uma importante reação é a
transferência de unidades simples de C da serina ao THF para formar 5-metilTHF. Este composto
fornece os grupos metila para a homocisteína, passo necessário para a síntese de metionina. Outras
transferências de grupos metila são essenciais na síntese de purinas e pirimidinas, na formação de
ácidos nucleicos, ressaltando a importância da folacina na reprodução e multiplicação celular, efeito
52
que é mais notório em tecidos de rápido crescimento. O THF também participa na interconversão
de serina e glicina, na degradação de histidina e na síntese de grupos metila para compostos como
metionina, colina e timina. A atividade desta vitamina é necessária na hematopoiese, na
manutenção do sistema imune e na função exócrina do pâncreas. A vitamina B12 está estreitamente
ligada à ação da folacina, pois regula a proporção de grupos metila a serem transferidos pelo THF
e também é necessária para o transporte de metil-THF através das membranas.
Uma dieta sem folato pode causar uma deficiência em poucas semanas. O principal resultado
da deficiência de ácido fólico é a anemia megaloblástica (macrocítica) e leucopenia, causadas pela
diminuição na síntese de purinas e pirimidinas, que leva a uma incapacidade das células sanguíneas
precursoras em produzir DNA e, portanto, se dividir.
Os tecidos mais afetados na deficiência de ácido fólico são aqueles de rápida taxa de
crescimento ou regeneração, como epitélio gastrointestinal, epiderme e medula óssea. Nos
ruminantes, as bactérias ruminais preenchem as necessidades de folacina. Porém, animais jovens
podem sofrer deficiências, as quais se manifestam por leucopenia, com predisposição a sofrer
infecções que podem causar diarreia, pneumonia e morte. Em porcas gestantes com deficiência de
folacina ocorre mortalidade embrionária ou diminuição da leitegada. As aves são talvez a espécie
que sofre mais com dietas deficientes de folacina. Nesses casos ocorre uma severa anemia
megaloblástica, baixo crescimento e eficiência alimentar, além de problemas na plumagem, a qual
sofre descoloração, baixa produção de ovos e eclodibilidade e até perose. Em humanos, a
deficiência de folacina é a deficiência vitamínica mais comum, estando muito associada a condições
de pobreza e má nutrição.
Toxicidade
53
Cianocobalamina (vitamina B12)
A vitamina B12 foi a última vitamina a ser descoberta em 1948 por Rickes e colaboradores,
e possui algumas características que a fazem única entre as demais vitaminas: é a mais potente das
vitaminas com baixas quantidades requeridas, é sintetizada somente por micro-organismos, de
forma que não se encontra nos vegetais, e tem na sua estrutura um núcleo de cobalto (Co). Os
animais obtêm a vitamina pré-formada, a partir de sua flora bacteriana natural ou pela ingestão de
alimentos derivados de outros animais. A cianocobalamina está presente em quantidades
apreciáveis no fígado, no leite, em ovos, camarões frescos, carne de porco e de galinha. A história
da cianocobalamina se remonta a início do século 19, quando Combe descreveu uma anemia fatal
em humanos, que foi chamada de anemia perniciosa. Vários pesquisadores procuravam um fator
hepático que fosse efetivo no tratamento da anemia perniciosa, que inicialmente foi confundido
com o ferro. Em 1929, Castle postulou que a anemia perniciosa era devida a uma interação entre
um fator extrínseco (na dieta) e um fator intrínseco (no suco gástrico). Após a descoberta da
vitamina B12 por Rickes, foi elucidada a sua complicada estrutura em 1956 e em 1961 foi relatada
a forma coenzimática da vitamina (coenzima B12) por Lenhert e Hodgkin. Esta última pesquisadora
recebeu o prêmio Nobel pela elucidação da estrutura da vitamina B12 mediante cristalografia de
raios X.
54
A estrutura da vitamina B12 lembra a da porfirina, com 4 núcleos pirrólicos unidos entre si
com átomos de N em cada núcleo coordenados a um átomo de Co (Figura 25). A estrutura básica
tetrapirrólica aqui recebe o nome de núcleo de corrina, acoplada em baixo com um nucleotídeo e
em cima com um cianeto (CN), o que lhe dá o nome de cianocobalamina. A forma ativa da vitamina
B12 é a coenzima B12, que pode estar em duas formas: a cobamamida ou adenosilcobalamina, na
qual o CN é substituído pela 5’-desoxiadenosina e a metilcobalamina, na qual o CN é substituído
por um grupo metila.
A vitamina B12 precisa de compostos que se unem a ela para poder ser absorvida no intestino.
Inicialmente, no estômago, por efeito do baixo pH e as peptidases, a B12 é liberada e posteriormente
ligada a um fator não intrínseco, secretado pela saliva, conhecido como cobalofilina. Dessa forma
ingressa no intestino, onde o meio alcalino e as proteases pancreáticas liberam a B12 da cobalofilina
para se unir a um fator intrínseco. Insuficiência pancreática pode causar baixa absorção e
deficiência de B12. O fator intrínseco é uma glicoproteína secretada pelas células parietais do
estômago e a ligação da vitamina B12 a este fator é indispensável para a sua absorção no íleo. Depois
de absorvida, a vitamina B12 é transportada pelo sistema portal por outras proteínas conhecidas
como transcobalaminas, das quais foram identificados os tipos I, II e III. De forma sucinta, para a
correta absorção de vitamina B12 são necessários os seguintes requisitos: adequada quantidade de
vitamina B12 na dieta, normal função gástrica para liberar a vitamina B12 das proteínas da dieta,
normal produção de cobalofilina na saliva, normal produção de fator intrínseco no estômago,
normal função pancreática para liberar a vitamina B12 do fator intrínseco e normal função absortiva
do íleo (receptores). Nos ruminantes, a produção de vitamina B12 é garantida pelas bactérias
ruminais, desde que tenham fonte de Co. Apenas 3% do Co da dieta é convertido em vitamina B12
no rúmen, e do total desta vitamina produzida, apenas 1 a 3% é absorvida no íleo, mas é quantidade
suficiente para as necessidades do animal. O principal órgão de armazenamento da vitamina B12 é
o fígado, onde também é realizada a transformação para as formas ativas coenzimáticas.
Os requerimentos da vitamina B12 são muito baixos (da ordem de ppb na dieta), o que a faz
a mais potente vitamina. Em geral, os requerimentos em animais monogástricos rondam os 9 a 26
ppb na dieta (MS), sendo maiores em cão e gato e menores nas aves. Nos ruminantes, é essencial a
disponibilidade de Co no alimento. Concentrações de Co no solo menores de 2 ppm são
consideradas deficitárias para ruminantes. Devem-se considerar situações de alta pluviosidade e
rápido crescimento das plantas como fatores que podem diluir a quantidade de Co nas plantas e
chegar a ser deficitário para os animais. Sabe-se também que o Co é necessário para as bactérias
fixadoras de N nas raízes das leguminosas.
55
Funções da vitamina B12
56
membranas celulares, incluindo as do sistema nervoso. Isso pode contribuir para algumas
manifestações neurológicas da deficiência da vitamina B12. Os efeitos da deficiência de cobalamina
são mais pronunciados em células que se dividem rapidamente, tais como o tecido eritropoiético
da medula óssea e as células da mucosa intestinal. Esses tecidos necessitam das formas N5-N10-
metileno e N10-formil do tetra-hidrofolato (THF) para a síntese de nucleotídeos, necessários para a
replicação do DNA. Na deficiência da vitamina B12, a forma N5-metil-THF não é usada
eficientemente. Uma vez que a forma metilada não pode ser convertida diretamente em outras
formas de THF, a forma N5-metil acumula, enquanto os níveis das demais formas diminuem.
Assim, pode ocorrer uma deficiência de formas de THF necessárias para a síntese de purinas e de
timina, resultando em sinais de anemia megaloblástica (anemia perniciosa), sinal característico em
humanos, mas não em animais. O derivado metil da coenzima B12 é requerido na conversão de
homocisteína em metionina. Outra função importante da vitamina B12 é na manutenção dos grupos
sulfidrilo (-SH) do glutation na forma reduzida.
Nos animais, diferentes dos humanos, não são encontrados os sinais mais importantes da
deficiência de vitamina B12 como são anemia megaloblástica (anemia perniciosa) e lesões
neurológicas, muito embora possa ser observada uma anemia moderada em suínos e ruminantes.
Os sinais neurológicos na deficiência de B12 ocorrem por deficiência de derivados de H4folato,
necessários para a síntese de purinas e dTMP (e, portanto, DNA). A deterioração neurológica deve-
se à desmielinização progressiva do tecido nervoso. Na deficiência de B12 ocorre interferência com
a formação da mielina devido ao acúmulo de metil-malonil, o qual é inibidor competitivo do
malonil-CoA, interferindo, portanto, na síntese de esfingomielina. Em humanos, a deficiência de
vitamina B12 está relacionada à deficiência de fator intrínseco ou a dietas estritamente vegetarianas.
Nos ruminantes, a deficiência de Co é determinante em casos de deficiência de vitamina B12,
situação conhecida como marasmo enzoótico, caracterizado por anorexia, pelo áspero,
engrossamento da pele, anemia, emaciação e, eventualmente, morte, caso não haja tratamento ou
mudança de alimentação. A deficiência de Co tem sido associada a fotossensibilização em
cordeiros, situação caracterizada por cabeça inchada, que responde a tratamento parenteral com
vitamina B12. Em ocasiões, a deficiência de Co pode levar a cetose e fígado gorduroso por causa da
extrema deficiência de energia, uma vez que está bloqueada a via gliconeogênica a partir de
propionato ruminal. Em suínos, a deficiência de vitamina B12 leva a anorexia, perda dramática do
crescimento e anemia tipicamente microcítica embora moderada. Também pode aparecer pelo
57
áspero, vômito e diarreia, bem como sinais neurológicos, como excitabilidade, incoordenação e
vocalização. Em fêmeas, a deficiência se manifesta por reprodução alterada, principalmente falhas
no estro, aborto, diminuição de leitegadas e mortalidade neonatal. Em aves, a deficiência de B12
reduz crescimento e consumo de alimento e piora a conversão alimentar. Também pode haver sinais
nervosos e plumagem defeituosa. Perose pode ocorrer de forma secundária devido à falta de colina
ou metionina como fontes de grupos metila. Outros sinais encontrados incluem anemia, erosão de
moela e infiltração de gordura no coração, fígado e rins. Em poedeiras, a eclodibilidade se vê
seriamente reduzida. Em cães e gatos, a deficiência de B12 se manifesta principalmente por anemia
não regenerativa, baixo crescimento, emaciação, letargia, reprodução comprometida e, em gatos,
também se observa alta excreção de ácido metilmalónico. Em cavalos não se relata deficiência de
vitamina B12 devido a sua síntese pelas bactérias intestinais e sua posterior absorção.
Toxicidade
58
Colina
Embora a colina não preencha as condições totais de uma vitamina (nutriente essencial
requerido em pequenas quantidades que deve ser obtido na dieta) tem sido classificada como
vitamina do complexo B. Pode ser sintetizada pelo fígado e é requerida em grandes quantidades,
uma vez que faz parte da estrutura da maior parte dos fosfolipídeos (> 50%) das membranas animais
e do neurotransmissor acetilcolina. Não é requerida como coenzima. A colina foi isolada por
Streker, em 1849, na bile de porcos a partir da lecitina (fosfatidil-colina). Mais tarde, em 1867, foi
estabelecida a sua estrutura química por Bayer e em 1929 foi determinado o seu papel essencial na
formação da acetilcolina. Na década de 1920 foi observado o potencial da colina na prevenção de
lipidose hepática em cães, com privação de insulina, atribuindo desde então sua característica como
“fator lipotrópico”. A colina é uma amônia ligada a 3 grupos metila que lhe conferem sua
capacidade como doadora de grupos metila, além de estar unida a um grupo hidroxietila. A
acetilcolina é um ácido acético com ligação éster de colina e a lecitina é um fosfoglicerídeo com
uma colina ligada no C3 (Figura 27).
Embora a colina possa ser sintetizada nos tecidos animais, principalmente no fígado, pode
não haver quantidades suficientes às necessidades do organismo quando seus precursores e/ou
mediadores (metionina, vitamina B12 e folacina) estão deficitários. A colina é sintetizada como
59
lecitina nos tecidos pela metilação sequencial da fosfatidil-etanolamina, com participação de uma
N-metiltransferase e com S-adenosilmetionina como doador de grupos metila. A colina pode ser
obtida na dieta a partir do consumo de fosfolipídeos que a contenham. Os requerimentos são bem
maiores do que a maioria das vitaminas, estando em torno de 2.000 ppm na dieta. A colina está
presente em todos os tecidos como componente dos fosfolipídeos de membrana e sua liberação nas
células ocorre por ação da fosfolipase C, que quebra a lecitina para render diacilglicerol e
fosfocolina. Apenas uma pequena quantidade da colina é acetilada com acetil-CoA para produzir
acetilcolina, por ação da enzima colina-acetiltransferase, presente em terminações nervosas
colinérgicas. A acetilcolina deve ser hidrolizada de novo, após o estímulo nervoso, mediante a
enzima acetilcolinesterase.
Funções da colina
A colina participa das seguintes funções: (1) na forma de lecitina faz parte da estrutura das
membranas celulares e das lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL), que transportam
triglicerídeos no sangue, além de ser fator essencial no amadurecimento da cartilagem óssea; (2) é
um “fator lipotrópico” evitando a esteatose hepática mediante a promoção do transporte de ácidos
graxos na forma de lecitina ou a utilização dos ácidos graxos no próprio fígado; (3) é precursora da
acetilcolina, neurotransmissor do sistema nervoso parassimpático; e (4) é fonte de grupos metila
participando da síntese de metionina e creatina. O envolvimento das vitaminas folacina e B12, bem
como da metionina, no metabolismo dos grupos metila, faz com que estas substâncias possam
substituir parcialmente as necessidades de colina. Esta última função (doador de grupos metila)
constitui o principal fator que determina a patologia em casos de deficiência de colina. Para ser
fonte de grupos metila, a colina é convertida em betaína (composto produzido por oxidação da
colina).
Deficiência de colina
60
recomendado suplementar com até 750 ppm de colina na dieta. Em vacas leiteiras de alta produção
é comum a suplementação de colina como preventivo de lipidose hepática, embora tenha pouco ou
nenhum efeito sobre a produção ou sobre o percentual de gordura no leite. Em suínos, a deficiência
de colina produz leitões de conformação alterada (pernas curtas e barrigudos), incoordenação de
movimentos, lipidose hepática, oclusão renal e, em recém-nascidos, uma condição de pernas
estendidas que pode ser prevenida com suplementação de colina nas fêmeas gestantes. Esta última
condição aumenta quando é reduzida a quantidade de alimento fornecido às porcas gestantes (de
3,2 a 1,5 kg/dia), o que resulta em menor consumo de colina e metionina. A deficiência de colina
também se manifesta nas porcas por baixa taxa de concepção e diminuição da leitegada. Em aves
jovens (frangos e perus), a deficiência de colina causa retardo no crescimento e perose,
provavelmente em função do papel da colina no processo de maturação da cartilagem óssea. Em
galinhas poedeiras, a suplementação de colina previne a esteatose hepática. Em cavalos não se
conhecem evidências de deficiência de colina.
Toxicidade
Intoxicação experimental com colina pode resultar em sinais clínicos como salivação,
tremores, puxadas musculares, cianose, convulsões e paralise respiratória. Fornecimento de colina
em quantidades que dobrem os requerimentos diários (2.000 ppm) não tem maiores efeitos em
suínos, porém pode causar efeitos em frangos, tais como menor crescimento e piora na eficiência
alimentar.
61
Ácido ascórbico (vitamina C)
A forma oxidada pode sofrer outra oxidação, se convertendo na forma inativa, denominada
ácido dicetogulônico, evento que pode ser acelerado pela luz e calor. Este fato faz da vitamina C a
62
mais instável das vitaminas. Os animais domésticos não têm requerimentos nutricionais de vitamina
C, pois podem sintetizar as quantidades necessárias, existindo requerimentos apenas naquelas
espécies com deficiência da enzima gulonolactona oxidase.
Funções da vitamina C
Apesar de a vitamina C não ter forma coenzimática conhecida, ela participa em diversas
reações. Um papel muito bem documentado é seu envolvimento na síntese de colágeno, proteína
fibrosa componente da pele e do tecido conectivo. A vitamina C participa das reações de
hidroxilação da lisina e da prolina, para produzir hidroxi-lisina e hidroxi-prolina, as quais são
necessárias na síntese do colágeno, sendo essencial tanto para a manutenção normal do tecido
conectivo, como para recompor tecidos danificados. Dessa forma, a vitamina C participa na
cicatrização de feridas e fraturas e no controle de sangramentos gengivais. O requerimento da
vitamina C nesses processos tem a ver com um efeito protetor da hidroxilase, através da oxido-
redução de núcleos de Fe e grupos tiol presentes na enzima. A vitamina C mantém o estado ferroso
(Fe2+) do Fe ligado à enzima, e mantém os grupos tiol no seu estado reduzido (-SH).
Adicionalmente, a vitamina C facilita a absorção do Fe da dieta no intestino.
O ácido ascórbico tem a capacidade de ceder e receber elétrons, o que lhe confere um papel
essencial como antioxidante, estabilizando as células mediante a proteção dos lipídeos das
membranas, evitando sua peroxidação pelos radicais livres. Assim, o ácido ascórbico torna-se
essencial na resposta imune do organismo. Os principais mecanismos contra o dano dos radicais
livres envolvem, além da vitamina C, o β-caroteno (vitamina A) e a vitamina E, como as principais
vitaminas antioxidantes, além das metaloenzimas glutation peroxidase (Se), catalase (Fe) e
superóxido dismutase (Cu, Zn, Mn). A vitamina C também tem efeito estimulador da atividade
fagocítica dos leucócitos, da função do sistema retículo-endotelial, da formação de anticorpos e da
produção de interferon, contribuindo assim na defesa contra as infecções. Por outra parte, a
vitamina C reduz a quantidade de glicocorticoides circulantes, os quais têm efeito supressor sobre
a função dos neutrófilos, e tem efeito poupador da vitamina E mediante a regeneração da forma
reduzida do α-tocoferol.
Deficiência de vitamina C
63
desbalanceadas, transtornos metabólicos, ou em deficiência de vitaminas A e/ou E, pode haver
sinais de deficiência de vitamina C, que incluem escorbuto, principalmente em ruminantes jovens
sob condições estressantes (frio, umidade, baixo consumo de colostro). Nestes animais, a síntese
de vitamina C começa a funcionar a partir das 2 a 3 semanas de vida, tendo os níveis adultos até os
3 meses de idade. Os ruminantes são a espécie que mais poderia sofrer de deficiência de vitamina
C, em comparação com os monogástricos, porque não tem acesso a fonte exógena, uma vez que o
ácido ascórbico da dieta é destruído pela flora ruminal. Em suínos recém-desmamados, sob
condições ambientais adversas, pode ocorrer deficiência de vitamina C, principalmente se existe
um balanço energético negativo. Nesses casos, podem se observar sinais como fraqueza, dor óssea
e hemorragias cutânea e muscular. Situação similar pode ser observada em pintinhos recém-
nascidos, principalmente se há condições de manejo estressantes, tais como frio ou calor excessivo,
subnutrição, vacinações e presença de doenças como a coccidiose. Nessas condições, a
suplementação de vitamina C (150 ppm na dieta) melhora o desempenho dos frangos. Em galinhas
poedeiras, recebendo 100 ppm de vitamina C pode haver melhoria na vida de postura, na qualidade
da casca e na produção de ovos. Suplementos de 200 ppm de vitamina C em frangos sob condições
de estresse por calor podem melhorar as respostas de ganho de peso e conversão alimentar.
O porquinho-da-índia, espécie que não pode sintetizar vitamina C, pode manifestar a
deficiência em anorexia, perda de peso, anemia e hemorragias dispersas. A típica deficiência de
vitamina C resulta em humanos no escorbuto, uma doença caracterizada por gengivas doloridas e
esponjosas, dentes frouxos, fragilidade dos vasos sanguíneos, edemas nas articulações e anemia. A
maioria dos sinais pode ser explicada por uma deficiência na síntese do colágeno, resultando em
tecido conectivo defeituoso.
Toxicidade
Em geral, altas doses de vitamina C são bem toleradas, tendo se relatado efeitos tóxicos em
megadoses, que incluem acidose, problemas gastrointestinais e glicosúria. Como a vitamina C
melhora a absorção intestinal de Fe, pode ocorrer acúmulo de Fe (hemocromatose), que afeta a
função hepática.
64
Carnitina
Para a maioria das espécies animais, a carnitina não é considerada uma vitamina, uma vez
que pode ser sintetizada pelo próprio organismo. Porém, em circunstâncias em que a síntese está
diminuída devido à falta dos seus aminoácidos precursores (metionina e lisina) pode haver
situações deficitárias. A carnitina é essencial em alguns insetos, como o bicho-da-farinha (Tenebrio
molitor) e a mosca das frutas (Drosophila melanogaster), nas quais constitui uma verdadeira
vitamina. A carnitina foi isolada de extratos de carne e identificada em 1905. Fraenkel estudou os
requerimentos nutricionais do bicho-da-farinha, o qual é utilizado em alimentação animal, e propôs
o reconhecimento de uma vitamina do complexo B, a qual foi identificada como carnitina em 1932.
A carnitina é uma amina quaternária (β-hidroxi-γ-trimetilaminobutirato), similar à colina, bastante
solúvel em água, que pode estar na forma livre (Figura 29) ou como éster.
Funções da carnitina
A carnitina participa do transporte dos ácidos graxos de cadeia longa desde o citoplasma até
o interior da mitocôndria, onde sofrem β-oxidação. Os ácidos graxos esterificados com a coenzima
A (grupos acil-CoA) não podem atravessar a membrana da mitocôndria e devem ser transferidos à
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carnitina, no citoplasma, por ação da enzima carnitina-acil transferase I, transformando-os em
grupos acil-carnitina, que entram na matriz mitocondrial, onde são retransferidos à coenzima A
mediante a enzima carnitina-acil transferase II. Dessa forma, os ácidos graxos (como grupos acil-
CoA) são oxidados dentro da mitocôndria para a geração de ATP. Portanto, o papel da carnitina é
considerado essencial para a utilização desses substratos energéticos. A carnitina também serve de
agente protetor das células contra o efeito tóxico de um possível acúmulo de compostos acil-CoA,
captando os grupos acila como ésteres de carnitina, os quais são depois transportados ao fígado
para serem catabolizados ou ao rim para serem excretados. Também são atribuídas funções à
carnitina em processos como lipólise, cetogênese e detoxificação de amônio.
Deficiência de carnitina
O principal evento que ocorre na deficiência de carnitina é a falha na oxidação dos ácidos
graxos, o que ocasiona um desvio desses compostos para a síntese de triglicerídeos, particularmente
no fígado, podendo levar a uma esteatose hepática. Além do balanço negativo de energia que a falta
de utilização de ácidos graxos pode ocasionar, quantidades acumuladas de grupos acil-CoA afetam
o ciclo de Krebs, a gliconeogênese e o ciclo da ureia, incrementado o déficit de energia e levando
a sinais clínicos que incluem encefalopatia e icterícia. Em ruminantes e outros animais, o uso de
carnitina é recomendado em casos de intoxicação por amônia por estimular a síntese de ureia e
consequentemente a incorporação de amônia. Estudos na patogenia da cetose das vacas e da
toxemia da gestação de ovelhas e cabras, têm levado à hipótese de uma desrepressão que sofreria a
enzima carnitina-acil transferase I, o que permitiria a entrada descontrolada de ácidos graxos ao
interior da mitocôndria e a geração excessiva de corpos cetônicos. Em outras espécies, como suínos,
a suplementação de carnitina produziu melhora no ganho de peso e diminuição de gordura na
carcaça. Em certas famílias de cães com cardiomiopatia dilatada têm sido encontrados baixos
valores de carnitina no miocárdio.
Toxicidade
Em animais não existem estudos que mostrem a tolerância máxima de carnitina. Apenas em
humanos foi relatada diarreia em casos de suplementação bem acima das quantidades consumidas
na dieta normal. O isômero D-carnitina interfere com a função normal do isômero L-carnitina, que
é o composto natural.
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