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Suki:

- Bom dia, senhor! - a voz doce diz, enquanto sua dona passava em uma bicicleta
amarela pelo caminho até a cidadezinha próxima. O sorriso era sincero, grande, os
dentes perfeitamente brancos portando um aparelho quase imperceptível. Quando ela
enfim passa, e o deixa para trás, fica apenas o cheiro de pães e bolos, um tanto
doce, a trança igualmente amarela balançando com o vento e dando um ar ainda mais
infantil para a pequena menina de macacão marrom e blusa de girassóis.

BoredMai:
Enquanto isso, a outra garota parava na frente de uma casa um tanto mal cuidada,
escondida no meio da floresta. Ela tinha cabelos castanhos, num corte simples e
neutro, o sobretudo fechado cobrindo boa parte de seu corpo, deixando visível
apenas parte da calça e da bota de trilha.
- ...bem... é aqui. - ela sussurra pra si, pousando a mão sobre um dos bolsos antes
de suspirar, dando dois toques firmes na porta.

Suki:
Silêncio. Ao menos por alguns segundos, até que uma mulher abra a porta,
completamente vestida de preto, a franja repicada sendo metade vermelha, a única
cor em toda a estranha figura.

- Bom dia. - diz, a voz bastante suave, neutra, as mãos sujas de vermelho, assim
como uma pequena e afiada espátula em sua mão esquerda. - Posso ajudar?

BoredMai:
"...eu não sei se foi uma boa ideia, mas agora já era," ela pensa, engolindo em
seco.
- Bom dia. Meu nome é Ash, e eu estou trabalhando numa investigação com a polícia.
Você é a bruxa da floresta, eu presumo? - murmura.

Suki:
Ela suspira, claramente cansada.

- A bruxa vive do outro lado da estrada. - diz, indicando a casa de madeira branca
do outro lado, os jardins e janelas cheias de flores, uma placa de confeitaria na
fachada. - Ela se chama Ophelia, e deve estar fazendo as entregas do dia.

BoredMai:
- A... a bruxa mora ali? - Ash murmura, um tanto confusa. "Na _confeitaria_?"

Suki:
- É. Ela sempre sai assim que amanhece, e volta perto da hora do almoço. - explica,
limpando a espátula nas costas de uma das mãos. - Ainda deve demorar um pouco. Quer
uma cadeira, um chá, alguma coisa?

BoredMai:
- ...sim, aceito. Obrigado. - sussurra.

Suki:
- Só entrar. - diz, deixando a porta aberta antes de caminhar para dentro. A casa
era escura, as janelas cobertas por cortinas vermelhas e pretas, todos osmóveis em
madeira escura. Nas paredes, vários e vários quadros clássicos, góticos, o único
contraste sendo a cozinha de pisos e paredes brancas - e todo o resto preto -.

- Alguma preferência de chá?

BoredMai:
"...e ela não é a bruxa. Claro."
- Nenhuma preferência. - murmura, observando o ambiente enquanto a seguia pra
dentro.

Suki:
- Chá preto com hortelã, então. - diz, indo fazer como falara, os utensílios pretos
e temáticos de caveiras, morcegos, ossos, dentre outros

BoredMai:
"...........claro."

- Qual é o seu nome? - Ash pergunta, puxando uma pequena caderneta do bolso.

Suki:
- DarkLady. - diz, sem titubear, preparando tudo de costas para ela.

BoredMai:
Silêncio.

- ...p... perdão. Pode repetir? - sussurra. "Só pode ser mentira."

Suki:
- DarkLady. - diz, neutra.

BoredMai:
"...só... escreve, Ash," pensa, anotando o nome e um pequeno resumo da aparência da
mulher.Suki:
- No que eu posso te ajudar? Além do chá, é claro. - diz, servindo as xícaras
fumegantes, cuidadosa.

BoredMai:
- Você conhece um rapaz chamado Jacob West? - pergunta, antes de pegar a xícara,
tomando um gole delicadamente.

Suki:
- É o moço que foi esfaqueado? - e suspira, se sentando diante de Ash e tomando a
própria xícara entre as mãos.

BoredMai:
- Ele mesmo. - murmura. - Conhecia?

Suki:
- Não exatamente. - murmura, neutra, bebendo um gole do próprio chá. - Só ouvi
falar o que estavam falando.

BoredMai:
- Ah, sim, as notícias. - ela assente com a cabeça. - Ainda estamos investigando,
mas é impossível parar a mídia.

Suki:
- Entendo. - e suspira. - Eu não assisto muito, mas os efeitos são bastante
intensos.

BoredMai:
- Nem me fale. - ela sussurra, um certo incômodo na voz. - Se não se importa, que
notícias chegaram até aqui?

Suki:
- Nada de mais. A Ophelia, como sempre, dizendo que chegaram novidades na cidade e
contando os boatos. - e dá de ombros, sem se alterar com a coruja que invade a
cozinha voando, indo se ajeitar no ombro da dona e para beliscar-lhe a orelha.

BoredMai:
Ash se sobressalta com a coruja, os olhos se abrindo em surpresa enquanto encarava
o animal.
- E... entendi. - murmura. - Não foi muita coisa, então.

Suki:
- As informações não me alcançam. - diz, aproximando a xícara para que a mascote
bebesse. - Sendo mais exata, eu não as busco.

BoredMai:
"Pude notar."
- E a Ophelia? Pode me falar mais dela?

Suki:
- A Ophelia é um delivery de raio de sol de bicicleta. - e dá de ombros de leve, ao
que a coruja se arrepia e reclama. - Não tem muito o que dizer.

BoredMai:
- ...isso... não explica muito. - murmura.

Suki:
- Não há muito o que se explicar. Vocês pedem doces e pães, ela os faz e os
entrega.

BoredMai:
- ...é só isso? Ela é padeira, então?

Suki:
- Não. - e suspira, bebendo um gole do chá antes de repousar a xícara sobre o pires
e encarar a investigadora, ofendida. - Ela é confeiteira, também.

BoredMai:
Ash apenas a encara, a expressão neutra. "Como. Diabos. Eu. Ia. Saber?!"
- ...me perdoe. Padeira e confeiteira, então.

Suki:
- Obrigada. Não é justo ocultar partes importantes da formação das pessoas. Como as
suas, imagino.

BoredMai:
Ela pausa as anotações, hesitando.
- Como..? Me perdoe, mas acho que não entendi.

Suki:
- As suas formações. Não é justo ocultá-las.

BoredMai:
- Eu não sei o que quer dizer com 'as minhas formações'.

Suki:
-Suas formações. O que te fez quem você é.

BoredMai:
Ela suspira, negando com a cabeça.
- Eu não sei nada das suas. Além disso, não temos intimidade pra este tipo de
conversa.
Suki:
- Eu sou formada em Oxford em História, Mestra de História das Artes, e segunda
violinista da Décima Segunda Orquestra Filarmônica, e no momento estou sob tutoria
direta de um legítimo descendente de Monet para aprender a pintar. - diz, neutra,
bebericando o próprio chá novamente. - E você?

BoredMai:
Mais alguns longos segundos de neutralidade, Ash inspirando e expirando devagar.
- ...eu não vou compartilhar informações pessoais só porque você o fez.

Suki:
- Não são informações pessoais. São profissionais. Formações. - diz, neutra, como
se não fosse nada de mais.

BoredMai:
- ...qual o seu objetivo... 'DarkLady'? Se é que esse é seu nome, de fato.

Suki:
- Objetivo nenhum. Só conversar, como vocês mortais costumam fazer.

BoredMai:
- Eu não estou aqui pra conversar, e sim a trabalho.

Suki:
- Qual trabalho?

BoredMai:
- ...a investigação. Do assassinato.

Suki:
- Que assassinato?

BoredMai:
Outra respiração lenta.
- Jacob West. O rapaz esfaqueado.

Suki:
- Ah. Sim.

Ela hesita, colocando as mãos sobre a mesa.

- Dê-me sua mão direita.

BoredMai:
- ...pra quê? - pergunta, desconfiada.

Suki:
- Ver suas linhas. Elas abrem caminhos e desfazem muitos nós.

BoredMai:
"...pelos céus..."
- Como quiser. - murmura, estendendo a mão pra ela.

Suki:
- Mm. - ela murmura, traçando as linhas da mão de Ash com a ponta do indicador,
cuidadosa. Vez ou outra murmuravam palavras desconexas, confusas, até soltar um
"Ah!" bastante chocado, a coruja em seu ombro piando e balançando as asas várias
vezes antes de voar pra longe.
BoredMai:
A garota franze a testa, encarando DarkLady.
- O que você viu? - pergunta. "Minha morte. Aposto."

Suki:
- Problemas. Problemas muito graves. Aqui, vê? - murmura, indicando uma das linhas.
- Ela normalmente vai até o final, atravessando a palma da mão. - explica,
indicando uma das próprias. - Mas a sua é interrompida. Vai ser doloroso, sem
aviso, e quando você perceber, vai ser tarde demais.

BoredMai:
"Sabia."
- Eu não me assusto tão fácil. - ela sussurra, tomando o próprio chá.

Suki:
- Que bom. A morte costuma ser pior quando tentamos fugir dela. - explica, voltando
à própria xícara.

Era impressão de Ash, ou havia algo escrito no fundo da xícara dela...?

BoredMai:
"O que..?" ela franze a testa, terminando a bebida pra ler.

Suki:
"Você foi envenenado.", diziam as letras rebuscadas, pretas, como se tivessem
acabado de ser feitas, conforme o chá parecia grudar nelas.

BoredMai:
O rosto de Ash se avermelha, a investigadora largando a xícara sobre a mesa antes
de ficar de pé.
- Eu não aprecio a brincadeira. - ela sibila, irritada. "Eu _espero_ que seja só
brincadeira..."

Suki:
- Que brincadeira? - pergunta, neutra, erguendo o olhar para ela. - Eu te disse. A
linha da sua mão previu.

BoredMai:
- Você _me envenenou_?! - exclama.

Suki:
- Eu jamais faria isso.

- Ciiiiiirce...! - uma voz doce se faz ouvir, enquanto a menina da blusa de


girassóis entrava por uma outra porta, indo envolver o pescoço de DarkLady com os
braços. - Você não pode assustar todo mundo assim...!

BoredMai:
A garota abre a boca pra reclamar mais, porém se segura ao ver a outra entrando.
"Ophelia, imagino." pensa, resmungando baixinho.
- _Circe_, então.

Suki:
- Pra você é DarkLady. - diz, de imediato, fuzilando-a com o olhar.

BoredMai:
- Minha conversa com você já acabou. - ela retruca, se virando pra outra. -
Ophelia, eu presumo.
Suki:
- A Circe falou de mim? - pergunta, erguendo as sobrancelhas, ainda sorridente.

BoredMai:
- Falou. Você é a bruxa, então?

Suki:
- Sim, senhor. - diz, gentil. - Em que posso ajudá-lo?

BoredMai:
- Eu estou investigando a morte de Jacob West. - Ash responde. - O que sabe sobre o
caso?

Suki:
- Jacob West, Jacob West... Tem uma foto? - pede, levando o indicador ao lábio
inferior.

BoredMai:
- Tenho sim. - diz, pegando uma foto do bolso interno do sobretudo e mostrando-a.

Suki:
Ophelia hesita, e hesita, até enfim suspirar.

- Pode me acompanhar até a confeitaria? Eu tenho um chá que talvez me ajude a


reconhecer.

BoredMai:
Ash hesita, encarando-a.
- ...um... chá?

Suki:
Ela assente com a cabeça.

- Um chá. E biscoitos, se também quiser, eu fiz uma fornada hoje cedinho.

Suki:
Su vecita

BoredMai:
- O... O que isso tem a ver com o caso?

Suki:
- Eles me ajudam a pensar. Clareiam as minhas memórias. - explica, sorridente -
Talvez eu consiga lembrar melhor com eles.

BoredMai:
"...pelas cinzas..."
- ...tudo bem. Eu a acompanho até a sua casa.

Suki:
- Não é longe. Eu moro em cima da confeitaria. - explica, indo fazer um afago nos
cabelos de Circe antes de beijá-los. - Passa lá depois prum café, amor. - diz,
suave, antes de chamar Ash com a cabeça e se afastar.

BoredMai:
- ...certo. Vamos. - sussurra, acompanhando-a. "E eu espero que _Circe_ não invente
mais nenhuma brincadeira sem graça."

Suki:
- Pode me falar um pouco mais sobre o que, exatamente, está tentando descobrir? -
pergunta, baixinho, passando os dedos pela porta ao que se escuta um clique e ela
se abre.

BoredMai:
- Qualquer informação seria de ajuda. - ela murmura. - Mas vamos começar do começo.
O que sabe sobre o caso?

Suki:
- Que um rapaz foi esfaqueado várias vezes e deixado pra sangrar até a morte. -
diz, indo para trás do balcão recheado de pães, salgados e doces, o cheiro
encantador, quase entorpecente...

BoredMai:
"Nota mental, nunca vir aqui com fome." pensa, engolindo em seco.
- É, os fatos divulgados foram esses. Conhecia a vítima?

Suki:
Ela nega com a cabeça.
- Mas talvez já conheça de vista. Por isso pedi que me acompanhasse, talvez eu
tenha um chá que me ajude nisso.

BoredMai:
- ...que mal lhe pergunte, como um chá pode ajudar?

Suki:
- Algumas plantas e ervas fazem bem para a memória. - diz, simples, preparando uma
pequena bandeja cor-de-rosa com duas xícaras de chá e alguns biscoitos com ervas. -
Aqui. - e se senta diante de Ash, cuidadosa com a própria roupa.

BoredMai:
Ash abre a boca pra responder, mas morde a língua. "Só bebe a porcaria do chá."
pensa, tomando um gole pequeno.
- O caso está sendo divulgado como um acidente. - ela murmura, o tom neutro. - Eu
estou tentando provar o contrário.

Suki:
- Eu não acho que alguém se esfaqueia por acidente. - murmura, dando um risinho que
se abre depois do primeiro gole de chá, os pensamentos mais claros e conectados.

BoredMai:
- ...não nesse sentido. - ela suspira. - A teoria atual é que foi um roubo que deu
errado. Ele reagiu, o ladrão revidou, e estamos onde estamos.

Suki:
- Improvável, não acha? - pergunta baixinho, o riso suave se repetindo pelo
ambiente.

_"Improvável, não acha?"_

O que mais havia ao redor? E se a arma do crime não fosse aquela? E se tudo tivesse
sido armado?

_"Improvável, não acha?"_

Onde estavam os sinais de arrombamento? De onde o suposto criminoso veio e por onde
saiu?

_"Improvável, não acha?"_


BoredMai:
- ...eu tenho certeza. - sussurra, encarando-a, o olhar afiado. - O que você fez?

Suki:
- Como assim o que eu fiz? - pergunta, levemente confusa, encarando Ash de volta.

BoredMai:
- O que tinha nesse chá? - sibila.

Suki:
- Gengibre, essência de mirtilo e capim-limão. - responde, ainda mais confusa.

BoredMai:
- E o que mais? - insiste. "Deve ter algum estimulante. Merda. Se me pegarem
assim..."

Suki:
- Mais nada, eu juro. - ela assente com a cabeça, enfim parecendo entender enquanto
unia as palmas das duas mãos e entrelaçava os próprios dedos. - ...te fez pensar
com mais clareza, não foi?

BoredMai:
- Fez. E é por isso que eu preciso saber: _o que diabos tem nesse chá?_

Suki:
- Gengibre, essência de mirtilo e capim-limão. - repete, ainda com o mesmo sorriso.
- Não se preocupe.

BoredMai:
- Um chá de "gengibre, essência de mirtilo e capim-limão" não tem esse efeito.

Suki:
- Magia não vem sempre dos ingredientes, às vezes vem do preparo, ou de quem faz. -
explica, o sorriso gentil ainda no rosto enquanto ela fechava os olhos e movia a
cabeça um pouco para a direita. - Se puder recomendar, acredito que os biscoitos
vão ser bastante úteis na investigação. Posso embalar uma caixa, se assim o senhor
quiser. - diz, enquanto reabria os olhos.

BoredMai:
- Tem _magia_, então. Pode não ser um ingrediente físico, mas ainda é parte do
processo. - ele resmunga, negando com a cabeça. - Nenhuma substância a mais nos
biscoitos. Certo?

Suki:
- Magia. - diz, sucinta. - Devo embalar uma caixa, ou só alguns são suficientes? -
pergunta, ainda no mesmo tom amável.

BoredMai:
"...foda-se."
- Uma caixa. - responde, tomando mais um gole do chá antes de pegar um dos
biscoitos pra si.

Suki:
- Sim, senhor. - ela sorri, prontamente fazendo como Ash pedira, o papel-manteiga
florido e o papel pardo de bordas decoradas a mão deixando bem claro todo o
processo artesanal por trás de cada centímetro do lugar.

Enquanto isso, todo o ambiente parecia ter cores mais vividas, os pães e doces
brilhando em cores impossíveis de se encontrar na natureza, contrastando com os
próprios membros e o resto dos móveis...

BoredMai:
Por um instante, a postura mais séria dá lugar a uma expressão de curiosidade quase
infantil, os olhos de Ash passeando pelas cores. E então, ele engole em seco,
piscando algumas vezes antes de voltar à expressão de antes.
- O que esse biscoito fez comigo?

Suki:
- Te ajudou a ver as coisas como elas _realmente são_. - explica, suave, dando um
laço de barbante na caixa de biscoitos devidamente embalada. - Uso cravo, açúcar
mascavo, açúcar cristal, e óleo de uma pétala de rosa pra cada unidade. - explica,
como se não fosse nada de mais. - Recomendo evitar dirigir assim, mesmo que na
cidade as coisas não mudem muito.

BoredMai:
- Cravo, açúcar mascavo, açúcar cristal, óleo de pétala de rosa. - ele repete. -
Como assim, "como as coisas realmente são"?

Suki:
- Mágicas. - ela sorri, enfim estendendo a embalagem ao detetive. - Vinte e dois e
cinquenta, senhor.

BoredMai:
- Ma...

Uma breve pausa, e os olhos de Ash parecem ganhar ainda mais foco, o investigador
tirando algo de dentro do bolso interno do sobretudo: era um cristal longo,
irregular, num roxo semi translúcido com um leve degrade.

E brilhava. Ah, aos olhos de Ash, o cristal brilhava..!


- Eu sabia. - ele esboça um sorriso de canto.

Suki:
- É uma ametista mista? - pergunta. - Parece ter a base natural e ter sido alongada
com uma sintética. - explica, sem entender a empolgação dele. - Eu acho que não
existem diferenças condutoras mágicas entre elas, mas os anciãos discordam. - e dá
de ombros, como se não fosse nada de mais, ainda sorrindo.

BoredMai:
- Eu não analisei a origem geológica da pedra, mas deve ser. - murmura. - Esse tipo
de pedra é comum?

Suki:
Ophelia nega com a cabeça.

- Ametistas são bastante, bastante caras.

BoredMai:
- Foi o que imaginei. Não faz sentido alguém que não é usuário de magia ter isso em
casa. - sussurra.

Suki:
- Não é comum, ao menos. Menos ainda desse tamanho. Algumas pessoas colecionam
cristais e pedras, mas é bem visível que esse não é o caso.

BoredMai:
- Definitivamente não. Era a única pedra no apartamento. - murmura, soltando um
resmungo. - Eu vou precisar descobrir o que essa pedra é, o que ela faz ou fez, de
quem é...

Suki:
- Acredito que você deveria voltar ao lugar, com esses biscoitos e chás, e refazer
a sua investigação. - diz, gentilmente, como se não fosse nada de mais.

BoredMai:
Ash hesita, mas acaba por guardar o cristal, terminando o chá e pegando a caixa de
biscoitos antes de ficar de pé.
- Obrigado pela ajuda. - e se afasta, apressado.

Suki:
"Eu não faço favores.", pensa, abrindo um sorriso um tanto menos inocente quando o
investigador se afasta.

BoredMai:
O resto do dia não traria mais nenhuma notícia de Ash, e o dia seguinte também
seria silencioso. Apenas no terceiro dia é que o investigador retorna, dando dois
toques na porta de Ophelia.

O Ash do outro lado da porta parecia... _exausto_. Haviam olheiras no rosto, os


cabelos menos alinhados que de costume, a camisa de botão e a calça parcialmente
sujos, uma jaqueta amarrada na cintura de qualquer jeito.

Suki:
Demora um longo tempo até que a bruxa entreabra a porta, vestida com um robe de
cetim verde-claro bastante delicado, amarrado na cintura com uma fita do mesmo
material.

Assim que ela o encara, porém, as sobrancelhas se erguem em surpresa, os olhos


bastante arregalados.

- Ash...! O que aconteceu com você?! - pergunta, prontamente puxando-o para dentro
pelos ombros, guiando o investigador até uma mesa mais próxima da bancada, com
poltronas confortáveis. - Você se machucou? Precisa que eu chame alguém?! -
pergunta, de agachando diante dele e segurando-lhe o rosto com as duas mãos.

BoredMai:
Ele se deixa levar, apesar de tentar descartar as preocupações dela com um gesto de
mão.
- Nada de mais. Só muitas coisas a fazer. - murmura. - Ainda tem biscoitos? Ou chá?
Ambos, se possível.

Suki:
- Pra você continuar nesse estado? Nenhum dos dois, sinto muito. - resmunga. - Meus
serviços custam caro, mas eu tenho uma ética de trabalho muito rígida também.

BoredMai:
- Eu estou trabalhando, posso descansar depois. - ele resmunga. - Não há traços
relevantes de magia no apartamento dele, _exceto_ no lugar onde ele sangrou. O
corpo dele tem traços de magia. Tem magia envolvida nisso, e eu preciso descobrir
de onde veio.

Suki:
- Você precisa descansar. - retruca, já soltando a jaqueta dele de sua cintura, e
movendo as mãos para tirar os sapatos dele também. - A poltrona é reclinável, dá
pra dormir.
BoredMai:
- Eu não tenho tempo pra dormir, já disse! - resmunga outra vez, apesar de não
resistir.

Suki:
- Humanos _precisam dormir_! - retruca, abrindo dois botões da camisa dele antes de
ajeitar e afagar seus cabelos. - Descanse, e amanhã eu te ajudo depois das
entregas.

BoredMai:
Ash afasta as mãos de Ophelia quando ela encosta em sua camisa, ficando de pé.
- Eu estou bem..! - exclama. Apesar disso, ele estremece, levando a mão ao rosto, a
tontura derrubando-o de volta na cadeira. "...ah... ah, merda... agora não..."
pensa, sentindo a visão embaçar.

Suki:
- Durma. - insiste, sem fazer menção em tocar sua camisa novamente, ajeitando-o
numa posição mais confortável. - Deixe a sua consciência ir embora. - diz, a voz
mais suave, quase etérea. - Feche os olhos, sinta seu corpo relaxar. Seus músculos,
seus membros, seu coração. Os pulmões se abrem e se fecham sem resistência,
respirar é fácil e confortável, e você está em uma nuvem que te envolve e te
convida a dormir...

BoredMai:
Ele sequer consegue refutar ou argumentar, os olhos pesando demais pra que pudesse
fazer qualquer coisa. Ash acaba por adormecer pouco depois, o único sinal de vida
sendo a respiração, de tão pesado o sono.

Os raios da tarde já adentravam a casa quando enfim a investigadora se move,


resmungando baixinho e passando a mão no rosto. "...eu caí no sono..."

Suki:
E diante dele estava Ophelia lendo um livro sobre ervas e flores em uma língua
desconhecida, os olhos de cores diferentes indo até Ash assim que percebem o
primeiro sinal de consciência.

- Finalmente...! - diz, fechando o livro com uma das mãos enquanto levava a outra
ao peito, aliviada. - Você apagou!

BoredMai:
- ...é normal... - ela sussurra, ainda um pouco tonta, sentando devagar na
poltrona. - Que horas..?

Suki:
- Não deveria ser. - reclama, tirando um relógio do bolso da camisa de botões
branca. - Três e quarenta e alguma coisa. - diz, fechando-o e colocando-o de volta
ao seu devido lugar.

BoredMai:
- ...muito mais tarde do que eu queria. - murmura, negando com a cabeça. - Me
perdoe. Não era minha intenção alugar sua poltrona.

Suki:
- Mais importante que isso: como você se sente? Está com fome? Eu fiz almoço a mais
contando que uma hora você ia acordar, e deixei as panelas dentro do forno por
precaução.

BoredMai:
Ele ergue uma sobrancelha, encarando-a.
- O... obrigado. - murmura, sem jeito. - Eu nem sei como te agradecer de verdade.

Suki:
- Pagando os vinte e dois e cinquenta dos biscoitos e sucos, e lavando o rosto
enquanto eu esquento a comida. - diz, simples, se afastando por uma porta lateral.
- O banheiro fica do lado das placas, por sinal! - avisa.

BoredMai:
- Os-- é claro, eu não paguei. - ele resmunga, ficando de pé. Ash se aproxima do
balcão, deixando duas notas de vinte sobre ele, e então se afasta para o banheiro.
"Que papelão..."

Suki:
Ophelia não demora a retornar com um prato bem servido de macarrão e molho de ervas
em uma mão, e um copo generoso de suco de manga na outra, colocando-as sobre a mesa
antes de ir até o balcão, cantarolando.

- Vou ficar te devendo uma parte do troco, tem problema? - pergunta, educada, já
separando algumas notas. - Eu não troquei dinheiro pro caixa, hoje.

BoredMai:
- Não precisa do troco. - ele nega com a cabeça, puxando o prato pra si ao sentar.
- É o mínimo que posso fazer.

Suki:
- Eu sigo regras, e uma delas é não aceitar nenhum presente. Faes te enganam assim.
- diz, devolvendo uma das notas de vinte para Ash.

BoredMai:
- Eu pareço fae, pra você? - ele pergunta, negando com a cabeça.

Suki:
Ela dá de ombros.

- Não cabe a mim julgar.

BoredMai:
- Como quiser. - murmura. - O que acontece se aceitar presente de fae?

Suki:
- Você fica em dívida. E nunca é sábio fazer dívidas.

BoredMai:
- Como eu acabei de fazer com você? - murmura.

Suki:
Ela dá de ombros novamente.

- Seu dinheiro.

BoredMai:
Ash suspira.
- Eu estou pagando pela comida, e pelos cuidados.

Suki:
- Não foi nada de mais. Mas tudo bem. - Ophelia sorri, indo colocar o dinheiro de
volta no caixa. - Como está a comida, por sinal?

BoredMai:
- Deliciosa. - responde. "Ela não precisa saber que eu tava vivendo de donut e fast
food."

Suki:
- Quer mais? - pergunta, fechando a gaveta sob o balcão com um suspiro.

BoredMai:
- Não, não precisa. Se eu comer demais, meu cérebro não funciona, e eu preciso
muito dele. - murmura. - Eu não tenho tempo a perder.

Suki:
- Assumo que devo fazer mais chá e biscoitos...? - pergunta, erguendo uma
sobrancelha.

BoredMai:
- Por favor. - diz, suspirando. - E, se puder, eu preciso de mais ajuda.

Suki:
- Claro. - responde, gentil, esboçando um sorriso enquanto começava a revirar
gavetas e armários. - No que mais posso ajudar?

BoredMai:
- Eu... - ele suspira. - ...eu acho que queriam o *sangue* dele.

Suki:
Isso faz Ophelia franzir a testa de leve.

- O sangue...? - estranha.

BoredMai:
- O sangue. Ou... Ou algo no sangue. - ele murmura. - Eu examinei a casa, e o
corpo. Na casa, só tinha magia nos lugares que o sangue manchou. No corpo, a magia
parecia vir de "dentro", como se... Como se não fosse parte dele. Eu não sei
explicar bem.

Suki:
- Você acompanhou a necropsia? - pergunta, erguendo uma sobrancelha antes de voltar
ao que fazia.

BoredMai:
- ...não. - ela engole em seco. "Não deixaram." - Por quê? O que eu perdi?

Suki:
- Eu não sei. - diz, franca. - Mas se você disse que veio de dentro, faria sentido
ver de dentro _onde_.

BoredMai:
- Parecia... Parecia ser o corpo todo, mas... - ele estremece, ficando de pé. - Eu
preciso ir lá de novo.

Suki:
- Acha que ainda consegue enxergar algo? Os biscoitos ainda demoram meia hora, isso
se eu me apressar bastante.

BoredMai:
- ...não. - admite, se largando na poltrona de novo.

Suki:
- Eu vou me apressar, então. - diz, adiantando o que fazia, resmungando baixinho
consigo mesma. - Ao menos o suficiente pra um biscoitinho eu faço em pouquíssimos
minutos!

BoredMai:
- Não precisa ter pressa. - ele nega com a cabeça. - Eu espero. Eu posso pensar,
nesse meio tempo.

Suki:
- Armário da esquerda, tem um banquinho embaixo da bancada. Tem vários sacos de chá
prontos e encantados. - explica. - O que você quer é o terceiro da última
prateleira, da direita para a esquerda, de cima pra baixo.

BoredMai:
Ele assente com a cabeça, indo pegar o chá, cuidadoso.
- Quer que eu prepare pra você também? - pergunta.

Suki:
Ela nega com a cabeça.

- Mas agradeço, de qualquer forma. - diz, gentil, uma das mãos mexendo a massa
enquanto a outra adicionava os ingredientes.

BoredMai:
- Como quiser. Com licença. - murmura, indo para a cozinha e procurando o bule pra
esquentar a água.

Suki:
- Fique a vontade. - murmura, dando um risinho para si antes de colocar uma bolinha
de massa em uma forma e prontamente colocá-la no forno na maior temperatura. - O
biscoito vai queimar bastante, mas o efeito vai estar presente.

BoredMai:
- Precisa assar pra fazer efeito? Eu posso comer a massa crua. - murmura.

Suki:
- ...não, não precisa. - diz, indicando a vasilha de massa. - Pode levar.

BoredMai:
- Obrigado. - murmura, pegando um pouco da massa com a mão e comendo antes de
servir o chá. - Pode assar os outros, eu vou comprar.

Suki:
- Tudo bem. - responde, assentindo com a cabeça. - Vou preparar tudo com calma.

BoredMai:
- Mais uma vez, obrigado. - murmura, se afastando, apressado.

Mais uma vez, o rapaz retornaria só à noite, dando dois toques na porta. "Espero
que ela esteja acordada..."

Suki:
E, novamente, longos segundos demoram até que ela apareça, ainda terminando de
amarrar o robe ao redor do corpo.

- Em que--Ah. - ela murmura, prontamente dando passagem para o detetive entrar.

BoredMai:
- Com licença. - murmura. Dessa vez, Ash parecia ter ao menos tomado um banho, as
roupas limpas e mais bem arrumadas. - Espero não estar incomodando.
Suki:
Ophelia apenas nega com a cabeça, encostando a porta assim que Ash passa.

- Conseguiu alguma coisa?

BoredMai:
- Consegui. - murmura, sério. - O coração dele sumiu.

Suki:
- O coração...? - pergunta, surpresa. - Arrancado, ou só sumiu?

BoredMai:
- Retirado. - diz. - O relatório inicial da necropsia dizia que estava lá, e o
médico responsável tem fotos comprovando, mas agora...

Suki:
Isso faz Ophelia franzir a testa.

- Alguém entrou lá, roubou um coração, e não tem nada nas câmeras de segurança?

BoredMai:
- Exatamente. - murmura. - Haviam traços fortes de magia na câmera de segurança.

Suki:
- Isso não é coisa boa... - murmura, enrolando melhor o robe ao redor do corpo.

BoredMai:
- Mesmo sem saber de magia, eu tenho certeza que não é. - ele nega com a cabeça. -
O que sabe sobre isso?

Suki:
- Eu pareço saber algo sobre isso? - pergunta, erguendo uma das sobrancelhas.

BoredMai:
- Você sabe magia. É um começo. - e a encara.

Suki:
- Só me perguntar o que quer saber, que eu vou te responder o que der.

BoredMai:
- Você conhece alguma magia que envolva um coração?

Suki:
- Que tipo de coração? - pergunta, passando a mão nos cabelos. - Isso é vago.

BoredMai:
- ...como assim, 'que tipo de coração'? - ele franze a testa. - Um coração humano.

Suki:
- Bom, sim, existem inúmeras mágicas que envolvem corações, principalmente humanos.

BoredMai:
- ...ótimo. - ele engole em seco. - Algo que possa envolver a ametista?

Suki:
- Boa pergunta. Não que eu lembre de imediato. - e suspira. - Você pode tentar
achar algo nos livros, a minha biblioteca é extensa.
BoredMai:
- Mais uma madrug...

Ash hesita, observando Ophelia antes de corar, desviando o rosto.


- ...ahem. Me desculpe o horário e o jeito.

Suki:
- Não tem problema. - murmura, balançando a cabeça de leve. - Eu só preciso avisar
à Circe, pedi que ela ficasse no quarto enquanto eu descia.

BoredMai:
"...ainda interrompeu o casalzinho."
- É claro que tem. - suspira. - ...eu posso voltar amanhã.

Suki:
- Como você preferir. - diz, gentil, sorrindo. - Mesmo, eu quase não durmo.

BoredMai:
- Tem certeza? Não quero atrapalhar seu sono.

Suki:
- Eu quase não durmo. - insiste.

BoredMai:
- Então, se não se importar, eu queria poder começar a pesquisa. - murmura. -
Obrigado.

Suki:
- Sente-se por um minuto, então. - pede. - Eu vou avisar à Circe e já volto. - e se
afasta, logo subindo as escadas.

BoredMai:
Ela assente com a cabeça, suspirando ao se sentar na poltrona. "Eu preciso resolver
isso, e logo. Danem-se as consequências."

Suki:
Alguns minutos se passam até que Ophelia retorne, carregando alguns livros e
deixando-os sobre a mesa diante de Ash.

- Acredito que vão te ajudar bastante. - diz, suave, indo para trás do balcão.

BoredMai:
- Obrigado. Se eu puder fazer algo pra retribuir, por favor, não hesite em pedir.

Suki:
O sorriso se abre mais, sem que Ash veja enquanto Ophelia se abaixava para preparar
uma bandeja de biscoitos e chá.

- Pode deixar, obrigada por isso.

BoredMai:
- Eu que agradeço. - murmura, indo pegar o primeiro livro.

Suki:
- É só um pequeno favor. - diz, levando os biscoitos antes de voltar para esquentar
a água para o chá.

BoredMai:
- É um grande favor. - sussurra. "Você não sabe o quanto."
Suki:
-Se assim você diz, quem sou eu pra discordar? - e ri, suave.

BoredMai:
O rapaz ainda solta um risinho antes de se concentrar na leitura, focado e imerso,
tomando notas dos pontos interessantes...

Suki:
E Ophelia sempre mantinha a xícara de chá cheia e os biscoitos quentinhos,
servindo-o sem pedir nada em troca, gentil e dedicada enquanto aproveitava para
preparar as entregas que faria pela manhã...

- Ash, eu vou à cidade e volto a tempo de fazer o almoço. - diz, enchendo as cestas
de transporte. - Caso saia antes de eu voltar, é só acordar a Circe para entregar a
chave. - explica, indo ajeitar tudo na bicicleta.

BoredMai:
E o rapaz constantemente beliscava ambos em meio à pesquisa, quase que por reflexo,
sem sequer notar o que fazia. É apenas quando ela chama seu nome que Ash ergue o
rosto, já tendo espalhado várias folhas sobre a mesa.
- Ah, tudo bem. Obrigado. - ele murmura. - Eu posso sair quando a Circe acordar.

Suki:
- Pode ficar a vontade. A loja fica aberta durante a tarde, talvez só seja melhor
puxar a poltrona e a mesa pra um dos cantos pra evitar bisbilhoteiros. - diz,
piscando um dos olhos para ele antes de sair.

BoredMai:
Ela hesita, confusa. "...de tarde? Que horas essa mulher acorda..?" pensa, voltando
aos estudos.

Suki:
Menos de duas horas se passam até que Circe desça as escadas e apareça no cômodo,
os pés descalços praticamente se arrastando enquanto ela ia até a garrafa de café,
sem sequer notar Ash.

BoredMai:
"Ótimo, ela não dorme até o meio da tarde," pensa, ficando de pé e limpando a
garganta.
- Circe. A Ophelia pediu que eu deixasse as chaves com você.

Suki:
- Mm hmm. Só deixar no balcão e me avisar, se sair, que eu tranco tudo. - murmura,
bocejando enquanto se servia. - Eu preciso terminar o quadro da Ophelia.

BoredMai:
Ela assente como a cabeça, suspirando.
- Até a próxima. - murmura, deixando a chave sobre o balcão antes de se afastar.

Um, duas, dez horas, a noite chega e vai embora, o sol nascendo e se pondo no
horizonte outra vez. Já era o terceiro dia e ainda assim, não havia sinal algum do
retorno de Ash...

Suki:
A cada dia que se passava, a preocupação de Ophelia também crescia.

Até que, enfim, ela resolve sair para as entregas matinais diárias, e decide
perguntar para cada um de seus clientes onde o investigador estava, ou se alguém o
tinha visto...

BoredMai:
E enfim, alguém parece ter uma notícia do rapaz.

- Ash... Ah, aquele garoto de Baldwyn, meio metido a detetive? - uma das garotas
responde, erguendo uma sobrancelha. - Ele tava ficando naquele hotel ali. - e
indica o prédio com a mão. - Eu vi ele saindo mais cedo com as malas, mas não pegou
táxi nem nada, só foi descendo a rua...

Suki:
- Obrigada, Maxine. - ela diz, gentil, recusando a nota da menina. - Agora é melhor
eu ir abrir a confeitaria. - e ri baixinho, se impulsionando na bicicleta para se
afastar enquanto buscava Ash com os olhos...

BoredMai:
Quando Ophelia passasse pelo parque, enfim encontraria Ash: a investigadora estava
sentada num banco, uma mochila largada no chão ao seu lado, o olhar perdido
adiante, as mãos segurando um copo de café, provavelmente frio a essa altura.

Suki:
- Finalmente te achei. - a confeiteira diz, parando a bicicleta diante dele, e indo
se sentar ao seu lado. - O que aconteceu?! - pergunta, tocando-lhe o rosto com as
duas mãos, preocupada.

BoredMai:
Ash a encara, o olhar um tanto perdido fitando o dela antes de desviar.
- ...acabou. - sussurra. - Eu perdi tudo.

Suki:
- Do que você tá falando? - pergunta, confusa, tentando fazê-lo focar os olhos nos
dela.

BoredMai:
- Eu perdi tudo. *Tudo*. - sussurra. - Eu não sou mais parte da investigação. Meu
cartão foi bloqueado. Minha conta, encerrada. Meu celular, cancelado, e remotamente
trancado. Nem meu nome eu tenho mais.

Suki:
Ela franze a testa.

- Do que você está falando? Como assim _nem o seu nome_?

BoredMai:
- Nem o meu nome. - sussurra. - Eles vão cancelar todos os meus documentos.

Suki:
Ophelia hesita, mordendo o lábio inferior.

- Tem algum nome que você goste? Eu posso te batizar. - diz, num tom brincalhão.

BoredMai:
- O meu..? - ele ri, fraco. - *Era* meu, né. Agora eu... Eu não sei.

Suki:
- Nomes são como presentes. Você aceita, mas nada te impede de trocar ou devolver e
pegar algo melhor. - ela dá de ombros.

BoredMai:
Ele franze a testa, negando de leve com a cabeça.
- Que... Diferente. Eu nunca ouvi algo assim.

Suki:
- Mas faz sentido, não faz? - Ophelia ri, confortável, quase como uma criança
maquinando algo.

BoredMai:
- Sim, eu... Acho. - murmura. - No que está pensando?

Suki:
- Em te dar um nome~

BoredMai:
Ele dá de ombros, suspirando.
- Ao menos eu teria *alguma* coisa.

Suki:
- Posso decidir por você, então ~?

BoredMai:
Ele assente com a cabeça.
- Como quiser.

Suki:
- Então a partir de agora você é Ash Von Britannia, e jamais terá sido conhecido
por outro nome~ - encanta, pomposa.

BoredMai:
- ...Ash Von Britannia. - ele franze a testa de leve. - Bem... pomposo.

Suki:
- Digno da realeza. - e ri. - Foi de uma majestade há muito, muito, muito tempo
atrás. Achei que podia ser um bom presente. - brinca, abrindo um sorriso.

BoredMai:
- Eu não sou majestade ou realeza. Longe disso. - suspira. - Mas... obrigado.

Suki:
- De nada. Você é importante, merece um nome igual. - diz, se levantando e
segurando o guidao da bicicleta com uma das mãos antes de oferecer a outra para
Ash. - Vamos? Eu ainda preciso abrir a confeitaria.

BoredMai:
Ele suspira, segurando a mão dela e ficando de pé. "Importante pra quem?"
- Vamos. Pode ir na frente com a bicicleta, eu vou andando.

Suki:
- Eu não tenho pressa. Terminei as entregas mais cedo que o normal. - diz, gentil.

BoredMai:
- ...como preferir. - murmura, caminhando devagar.

Suki:
- Quer colocar sua bolsa na cesta? Tá vazia, eu já fiz todas as entregas.

BoredMai:
- Alivia o peso. Obrigado. - ela murmura.
Suki:
- De nada, Ash. - e sorri, abrindo a cesta e ajudando-o a colocar as coisas ali.

BoredMai:
Ele termina de ajeitar a bolsa dentro da cesta, suspirando.
- ...obrigado. De verdade. - sussurra.

Suki:
- De nada. - responde, no mesmo tom gentil.

BoredMai:
Ash se cala, apenas acompanhando Ophelia, silencioso. Vez ou outra, levava a mão ao
rosto, secando uma lágrima silenciosa, absorto em seus próprios pensamentos...

Suki:
- Prontinho. - ela sorri ao parar a bicicleta no jardim, pegando a bolsa de Ash com
facilidade. - O quarto de hóspedes está vazio. A Circe está no meu, pintando, mas
pode ficar a vontade ainda assim.

BoredMai:
Ash hesita, suspirando.
- Eu... Eu não posso aceitar. Você já me deu muita coisa.

Suki:
- Você não tem pra onde ir, tem? - pergunta, ainda com o sorriso gentil no rosto.

BoredMai:
- Não, não tenho, mas...

Suki:
- Mas nada, então. - e dá de ombros, já entrando na confeitaria.

BoredMai:
- ...me diga como retribuir, ao menos. - murmura, acompanhando-a pra dentro.

Suki:
- São só favores. - ela repete o ato. - Eu vou lavar as minhas mãos e passar pano
nas mesas, enquanto ninguém chega. Porque não vai ajeitando suas coisas lá em cima?

BoredMai:
- Não são *só* favores. - suspira, apesar de negar com a cabeça, pegando a mala e
subindo as escadas.

Suki:
"Eu sei.", pensa, suspirando.

-=-

E assim que Ash termina de subir os degraus, ele se vê diante de um quarto bastante
decorado em tons claros, várias plantas nas janelas. Mas o que chamaria sua atenção
não seria a fluidez dos tecidos e decorações, tampouco a cama já arrumada.

Seria o quadro que Circe pintava.

Ali, Ophelia dançava, completamente nua, os cabelos naturalmente crespos cheio de


flores, uma flor copo-de-leite cobrindo-lhe os genitais.

BoredMai:
Ash pausa, os olhos se abrindo em surpresa, observando a pintura curiosamente.
- Que linda. - ela murmura, impressionada.

Suki:
- A minha técnica é impecável, de fato. - Circe responde, sem nem desviar o olhar
do que fazia, as vestes pretas desbotadas e sujas de tinta. - Mas a modelo ajuda
bastante.

BoredMai:
- De fato. Ela é muito bonita. - murmura. - Boa tarde.

Suki:
- Fica ainda mais linda nua, andando pela casa. Boa tarde. - responde, ainda com a
mesma impassividade.

BoredMai:
- ...ela costuma fazer isso? - Ash franze a testa. "Eu vou ter que tomar
cuidado..."

Suki:
- Às vezes, durante as madrugadas. Ela não dorme muito. - explica.

BoredMai:
- Entendi. Vou evitar sair do quarto nessas horas. - murmura.

Suki:
- É uma boa ideia. É uma suíte, mas cabe levar uma jarra d'água pra não ter que
descer.

BoredMai:
- Mm. - ele murmura. - Você mora aqui, ou só vem com frequência?

Suki:
- Minha casa é do outro lado da estrada. - explica. - Mas eu geralmente durmo aqui,
com a Circe. Lúcifer faz muito barulho durante a noite, e eu acabo não conseguindo
descansar em casa.

BoredMai:
A garota ergue uma sobrancelha.
- Lúcifer? É a coruja?

Suki:
Ela nega com a cabeça.

- Como se eu fosse ter _uma coruja_ chamada Lúcifer.

BoredMai:
"E como eu saberia?"
- O que é, então?

Suki:
- Um coelho. Resgatei de umas crianças, depois do festival de Ostara. - murmura.

BoredMai:
- ...quantos animais você tem?

Suki:
- Dois. Não conseguiria ter mais do que isso e ainda manter a Ophelia nos trilhos.
- brinca, a voz mais suave, quase sorrindo.
BoredMai:
- Você a mantém nos trilhos, é? - Ash solta um risinho.

Suki:
- O que foi? Parece o contrário? - pergunta, encarando-o por cima dos ombros, a
franja agora cor-de-rosa conforme o vermelho desbotava.

BoredMai:
- Um pouco. É mais porque ela não parece ser do tipo que sai dos trilhos... Mas
talvez eu esteja enganada.

Suki:
Circe hesita, encarando Ash como se não acreditasse...

...e então indica o quadro com as duas mãos, tentando indicar o óbvio.

BoredMai:
- ...eu estou enganada. Melhor? - e ri.

Suki:
- Visivelmente. Obrigada. - ela sorri, suave, negando com a cabeça antes de ajeitar
alguns fios atrás da orelha esquerda, a mão suja de tinta.

BoredMai:
Ash hesita, e então se aproxima, estendendo um lenço com a mão.
- Vai sujar seu cabelo, assim.

Suki:
Ela hesita, surpresa, erguendo as sobrancelhas com a atitude.

- ...eu... Eu estou acostumada. Mas obrigada. - murmura, sem aceitar o lenço,


limpando a tinta nas roupas de qualquer jeito

BoredMai:
- De nada. - diz, guardando o lenço e suspirando. - Eu vou guardar as coisas no
quarto. A Ophelia me deixou ficar aqui por um tempo.

Suki:
- Entendo. - Circe assente com a cabeça. - Ela sempre mantem o quarto limpo e
arrumado. Pode ficar a vontade com as roupas, lençóis e toalhas dos armários. -
explica.

BoredMai:
- Obrigada. - Ash murmura, se afastando para o quarto. "Eu não posso simplesmente
ficar aqui de graça..." pensava cuidadosamente arrumando as poucas posses que
tinha.

Suki:
Não demora para que ele perceba Circe descendo apressadamente, provavelmente
chamada por Ophelia, sem que Ash tenha ouvido...

BoredMai:
"O que..?" ele franze a testa, deixando o que fazia antes de seguir a outra escada
abaixo...

Suki:
- --um problema imenso! - a bruxa exclama, apoiando um homem desacordado nos
braços, um corte transversal em seu peito enojando e apavorando os consumidores que
se encolhiam longe dos três.
- Eu vou pegar algumas coisas em casa! - Circe diz de imediato, se afastando
correndo.

BoredMai:
"Ah, merda," pensa, engolindo em seco ao ver o sangue.
- Eu ajudo com o corte. - ele sussurra, se apressando pra perto de Ophelia,
arrancando a jaqueta pra usá-la pra tentar estancar o sangue.

Suki:
- Muito obrigada. - Ophelia diz de imediato, as mãos sujas tentando ajudar Ash.

- N-nem pensa em... e-em me curar... - ele geme, quase desacordado.

BoredMai:
"Curar..?" pensa, franzindo a testa.
- Liga pra ambulância, rápido. Se eles demorarem...

Suki:
- Eu já liguei! - uma jovem avisa, do fundo da multidão. - Eles disseram que vão
vir o mais rápido possível!

- O mais rápido possível pode não ser o suficiente... - ela resmunga.

BoredMai:
- ...é. Especialmente com um ferimento grande desses. - sussurra, engolindo em
seco.

Suki:
- N-não adianta, garota, nem... nem pense....

- Eu sei, e eu não vou. - diz, mais séria, comprimindo o ferimento com mais
intensidade.

- Primeiros socorros chegando! - Circe anuncia, se aproximando com uma maleta


bastante grande e pesada, se ajoelhando ao lado dos três.

BoredMai:
"...eu vou precisar perguntar mais depois," pensa, olhando de relance pra Circe e a
maleta.
- Consegue fazer sutura? - pergunta. - Senão, eu posso fazer.

Suki:
- Pode deixar comigo! - ela responde de imediato, já começando a limpar o machucado
enquanto o homem gemia de dor nos braços de Ophelia.

BoredMai:
Enquanto isso, Ash focava em tentar diminuir o sangramento, preocupado.
- Tente respirar devagar. Se concentre na minha voz, e respire devagar. - sussurra,
numa tentativa de acalmar o rapaz.

Suki:
- N-não dá...! - o homem reclama, apesar de uma das mãos se agarrar no braço do
detetive. - E-essa merda dói...!

BoredMai:
- Dá, dá sim. - murmura. - Pode apertar o quanto quiser, e tenta respirar aos
poucos.
Suki:
O homem grunhe de dor conforme Circe começa a suturar-lhe o ferimento, as mãos
precisas muito mais fortes e firmes do que sua aparência dava a entender.

- Tem certeza que não quer que eu ajude? - Ophelia pergunta, gentil, afastando-lhe
os cabelos do rosto para secar o suor.

- M-mais que absoluta, vaca de merda. - rosna, a voz oscilando.

BoredMai:
- Ela está te _ajudando_. - ele reclama, lançando um olhar afiado ao rapaz. - Meça
suas palavras.

Suki:
- Eu falo dela como eu quiser! - retruca, sem se afetar.

- Não se preocupa com isso, Ash. - ela suspira, continuando a secar o rosto do
homem ferido.

BoredMai:
- É muito desrespeito para com a pessoa que está _salvando sua vida_. - resmunuga.

Suki:
- Cala a boca você também, seu merda. - resmunga.

- Ash, _deixa pra lá._ - insiste, mais firme.

BoredMai:
- ...hmpf. - ele resmunga, apesar de assentir com a cabeça.

Suki:
- ....obrigada. - a bruxa diz baixinho, esboçando um sorriso.

BoredMai:
- De nada. - murmura, espiando o progresso de Circe.

Suki:
A artista terminava de fechar o corte, os pontos exatos e bem feitos.

BoredMai:
"...ela é boa nisso," pensa, secando o resto do sangue como podia.
- Onde posso pegar pano pra limpar isso? - pergunta, deixando a jaqueta encharcada
de lado.

Suki:
- Embaixo das escadas é onde fica todo o material de limpeza. - explica, se
levantando e limpando o sangue das próprias mãos no avental antes de ir falar com
os clientes que ainda estavam no local...

BoredMai:
- Não demoro. - diz, se afastando pra pegar alguns panos, preocupado.

Suki:
Quando Ash retornasse, a confeitaria já teria se esvaziado, sobrando apenas as duas
mulheres e o homem ferido em um silêncio quase palpável...

BoredMai:
- Como se sente? - ele pergunta, começando a limpar o chão, cuidadoso.
Suki:
- Melhor. - diz, rouco.

- A dor vai passar aos poucos, quando te sedarem. - Circe suspira.

BoredMai:
- Ótimo. - murmura. - O que houve? Quem te atacou?

Suki:
- Eu não sei. - resmunga. - Foi uma sombra e... e desapareceu depois. Surgiu, me
rasgou, molhou alguma coisa, e desapareceu.

- Oh. Um vampiro, talvez...? - Ophelia pergunta, surpresa.

BoredMai:
Ele franze a testa, hesitando.
- ..."molhou alguma coisa"? - pergunta, se aproximando pra ver o ferimento com mais
cuidado.

Suki:
- É-é. - resmunga, o corte perfeitamente alinhado, claramente feito com uma lâmina
bastante afiada e uma mão ainda mais precisa.

BoredMai:
- ....merda. - ele engole em seco. - Quem fez isso sabia o que estava fazendo. Eu
suponho que queria apenas o sangue, e mais nada.

Suki:
- Por isso suspeitei de um vampiro, mas ele teria bebido mais e desperdiçado menos.

- V-vampiros não fazem essas c-coisas... - e ri, tossindo de leve, a mão indo
instintivamente ao lugar do corte.

- Aguenta mais um pouco. - Ophelia insiste. - A ambulância já tá chegando, tô


ouvindo as sirenes.

BoredMai:
- E quem faz? Você sabe? - pergunta. - Eu estou... _estava_ investigando um caso
similar.

Suki:
Ele nega com a cabeça.

- N-nunca vi nada assim. - resmunga.

- Aqui, é aquele rapaz ali! - Circe chamada, abrindo as portas para os paramédicos

BoredMai:
- Podemos conversar melhor depois. - diz, dando espaço para os paramédicos. Apesar
disso, a mente estava a mil, pensando em diferentes cenários e possibilidades...

Suki:
O homem apenas ignora Ash, se deixando levar, lançando um último olhar para Ophelia
antes de ser carregado para fora.

- Eu vou colocar o aviso de fechado e me trocar pra limpar isso tudo direito. - ela
diz, enfim, suspirando quando o último cliente se retira.

BoredMai:
- Eu vou terminar de limpar a loja. - sussurra.

Suki:
- E eu vou em casa me trocar e tomar banho. - Circe avisa, já saindo sem dar tempo
de uma resposta, o que faz a outra suspirar.

- Eu vou pegar o resto dos materiais. Eu ia me trocar, mas essa roupa já tá suja,
então não faz mais diferença.

BoredMai:
- Claro, claro. Sem problema. - diz, ainda um tanto absorto enquanto começava a
limpar.

Suki:
"Ele vai se meter em mais encrenca...", pensa, incomodada, não demorando a retornar
para ajudá-lo.

BoredMai:
O rapaz parecia ser habilidoso com a limpeza, já bem adiantado no processo, o chão
ficando limpo e sem nenhum traço do sangue que o manchara anteriormente. Ash se
movia quase que automaticamente, eficiente, cuidadoso...

Suki:
E Ophelia não dizia nada, se limitando a acompanhá-lo, mantendo os panos e a água
limpa, respirando aliviada quando a dupla enfim termina de ajeitar tudo.

- ...cheirinho de capim limão é tudo de bom... - diz baixinho, aliviada,


aproveitando a fragrância.

BoredMai:
- ...huh? - ele murmura, encarando-a. - Ah, sim, claro... é bem mais agradável.

Suki:
- ...o que foi? Pensando em quê? - pergunta, esboçando um sorriso suave.

BoredMai:
- No ferimento daquele rapaz, e no que aconteceu. É... Muita coincidência.

Suki:
- ...é. Duas pessoas atacadas atrás de sangue tão perto uma da outra é... suspeito.

BoredMai:
- ...É. Exatamente. - sussurra. - É preocupante.

Suki:
- Melhor a cidade ficar de olho... - ela suspira, negando de leve com a cabeça.

BoredMai:
- A polícia precisa saber disso, e ficar alerta. - murmura. - Eu vou na estação
mais tarde.

Suki:
- É uma boa ideia. - murmura, assentindo com a cabeça. - Se quiser, posso ajudar.
Eles confiam bastante em mim

BoredMai:
- ...aceito. - sussurra. - Eles não confiam em _mim_.

Suki:
- Isso vai ser fácil de corrigir, não se preocupe.

BoredMai:
- Acho difícil. - e nega com a cabeça.

Suki:
- Pode confiar. - insiste.

BoredMai:
- ...como quiser. - e nega outra vez. - Eu vou tomar um banho, se não se importar.

Suki:
- Não me importo. Na sua suíte tem toalhas, e o que mais precisar. - diz, gentil,
ficando de pé devagar. Eu vou terminar de guardar as coisas, e tomar meu próprio
banho também.

BoredMai:
- Mm. Obrigado. - sussurra, se afastando, soltando um suspiro baixinho.

Suki:
Quando Ash enfim retornasse, quem estaria lá seria Circe, olhando ao redor bastante
surpresa, o nariz se movendo suavemente como se farejasse o ar.

BoredMai:
Ele franze a testa, encarando-a.
- Algum problema?

Suki:
- Não tem nenhum vestígio de sangue. - explica.

BoredMai:
- Claro que não. Eu limpei.

Suki:
- Bom, eu nunca vi ninguém limpar sangue tão bem assim. - diz, franzindo a testa de
leve. - Como você aprendeu isso?

BoredMai:
- ...ah. Foi parte do treinamento. - murmura.

Suki:
- Que treinamento....? - insiste, curiosa.

BoredMai:
- De investigador. - responde. - Foi uma das várias coisas que nos aprendemos.

Suki:
- Isso parece mais um treinamento de assassino, isso sim. - resmunga.

BoredMai:
- ...é parte do treinamento. - sussurra. - Não pra executar, mas pra conhecer os
métodos que as pessoas usam.

Suki:
Isso faz Circe negar com a cabeça.

- Faz zero sentido. Isso forma assassinos ainda melhores.

BoredMai:
- Talvez. - murmura. - Mas foi o que me ensinaram.

Suki:
Circe nega novamente com a cabeça, bufando baixinho.

- Ao menos o cheiro se foi. É isso que importa.

BoredMai:
- É, é sim. Eu vou tomar o meu banho e descansar um pouco antes de ir na delegacia.

Suki:
- Eu vou esperar pela Ophelia aqui. - murmura, concordando.

BoredMai:
- Ela foi se limpar também, imagino que não demore. Com licença. - diz, se
afastando.

Suki:
Isso a faz franzir a testa antes de erguer uma das sobrancelhas e suspirar sem
dizer mais nada.

-=-

A primeira coisa que Ash vê enquanto subia os degraus finais é o corpo de Ophelia,
nu, enquanto a bruxa se secava diante do espelho, os cabelos crespos naturais enfim
visíveis, bastante grandes, em uma formação melhor descrita como uma coroa ao redor
de sua cabeça.

Ali, ainda úmida e sem perceber o investigador, ela parecia ainda mais em paz que o
normal, o sorriso ainda mais suave do que Ash costumava ver, enquanto ela se secava
e se observava delicadamente, o toque suave descendo por seu corpo.

BoredMai:
Ash hesita ao ver a mulher desnuda, os olhos se abrindo em surpresa. Por um
instante, era impossível tirar os olhos de Ophelia, a beleza encantadora, o rosto
da investigadora se ruborizando.
- ...a-ahem. - ela limpa a garganta, desviando o olhar. - Me desculpe.

Suki:
Isso a faz hesitar por um segundo, o olhar perdendo o foco antes que Ophelia
virasse o rosto para encarar Ash por cima do ombro.

- Não precisa se desculpar. - murmura baixinho, o riso um tanto atraente. - Você


mora aqui, agora.

BoredMai:
- É claro que preciso. É uma invasão de privacidade.

Suki:
- Você está dentro dela, a partir do momento que veio morar aqui. - explica, enfim
deixando a toalha de lado e se virando para encarar o investigador, ainda sem
roupa. - Não se preocupe. - insiste.

BoredMai:
- É claro que n--

Ele hesita ao ver Ophelia nua de frente, engasgando nas próprias palavras por um
instante.
- P-perdão. - sussurra, encarando o chão.
Suki:
- Não precisa desviar o olhar. - ela ri, suave, encantadora. - Meu corpo é uma obra
de arte e o mundo inteiro deveria apreciá-lo.

BoredMai:
- Eu... s-se não se importa, então... - murmura, voltando a olhar na direção dela.
- Eu p-preciso ir tomar meu banho.

Suki:
- Fique à vontade. - diz, indicando a direção da suíte dele com a cabeça, o olhar
parecendo hipnotizá-lo, invadindo-lhe a alma e os pulmões como se o único ar que
conseguia respirar fosse aquele que saía dos lábios carnudos e sorridentes de
Ophelia.

BoredMai:
- O que... o que você..? - ele sussurra, sequer conseguindo se mover, a respiração
mais pesada, os pensamentos se formando com dificuldade e logo se dissipando.

Suki:
- Eu...? Não, não eu. - sussurra, dando um passo na direção dele, os lábios quase
tocando os de Ash. - Você. O que você _quer_?

BoredMai:
Os olhos não deixam os lábios de Ophelia nem por um segundo, a nuca arrepiada.
- ...você. - sussurra. "...o... que..?"

Suki:
- Me ter... - pergunta, passando as costas de uma das mãos pelo rosto dele,
inspirando como se tirasse ainda mais o ar de Ash. - ...ou ser meu~?

BoredMai:
- ...ambos são... boas opções. - sussurra.

Suki:
- Então vamos explorar as duas. - responde, enfim colando os lábios aos dele em um
beijo quente, desesperador, os braços que o envolviam parecendo garras que puxavam
sua consciência para o oblívio.

BoredMai:
Ele estremece, os próprios braços puxando-a pra si enquanto a beijava de volta,
qualquer traço de resistência que pudesse ter se esvaindo naquele momento.
"Ophelia..."

Suki:
E o beijo continua, a mulher recuando alguns passos antes de começar a despir Ash,
sedenta.

BoredMai:
As mãos de Ash se juntam às dela, ajudando a arrancar a blusa e jogá-la de lado, os
seios pequenos já desnudos sob ela. O corpo tinha curvas suaves, sutis, numa
androginia quase perfeita.

Suki:
Isso faz Ophelia sorrir, ainda com os lábios ocupados, as mãos descendo para
arrancar também sua calça, a carícia macia e envolvente.

BoredMai:
A calça logo vai ao chão, assim como a roupa de baixo, revelando o corpo de Ash por
completo. "Eu não... não consigo parar... e nem _quero_..." pensava, respirando por
um instante antes de colar o corpo ao de Ophelia, voltando a beijá-la.

Suki:
A bruxa a envolve novamente com os braços, puxando-a consigo enquanto se largava
para trás na cama. Assim que os corpos caem, as mãos de Ophelia começam uma carícia
suave, uma das mãos passeando pelo pescoço e cabelos de Ash enquanto a outra descia
por seu corpo, lentamente puxando o quadril dele contra o seu próprio.

BoredMai:
Uma das pernas se entrelaça à de Ophelia, os lábios enfim se afastando dos dela pra
descer até o pescoço em beijos, mordidas e carícias, o hálito quente.
- Ophelia... - ele sussurra baixinho, sedento.

Suki:
- Hmm~? - suspira baixinho, o corpo arrepiado com o toque. - Ash... Ah, Ash, faz o
que quiser de mim~ - provoca, o afago ainda gentil, quase indefeso, mas ainda assim
hipnotizante, sutilmente guiando os movimentos dele sem que precisasse realmente
fazê-lo.

BoredMai:
- Eu quero *muita* coisa... - ele sussurra, aproveitando o corpo da bruxa, os
quadris roçando nos dela, arrancando pequenos suspiros de prazer dos próprios
lábios.

Suki:
- Eu posso te dar tudo o que você quiser... - sussurra, uma das mãos guiando-lhe o
quadril e encaixando-o ao próprio com um gemido satisfeito.

BoredMai:
- Ah..! - ela geme, arrepiada, as unhas arranhando a pele de Ophelia. - Eu quero,
eu quero *tudo*...

Suki:
- Cuidado com o que pede... - sussurra, os lábios voltando a se aproximar dos dela.
- Pode ser mais do que você aguenta.

BoredMai:
- Eu sou... Sou mais r-resistente do que pareço... - sussurra.

Suki:
- ...vamos descobrir o quanto, então. - ri, beijando-a.

BoredMai:
Longas, longas horas se passam, mas Ash eventualmente cede, perdendo a consciência
nos braços de Ophelia, exausta, mas satisfeita. A noite chegaria, e é apenas na
madrugada que ela enfim desperta outra vez, estremecendo, o prazer ainda latente no
corpo. "Uau..."

Suki:
Ao seu lado, no criado mudo, uma bandeja com pães e chá, visivelmente servida para
ela, sem sinal de Ophelia ou Circe no quarto...

BoredMai:
"Eu ainda vou sentir o gosto dela nos lábios enquanto como, mas..." pensa, rindo
baixinho enquanto se servia.

Suki:
E conforme Ash comia, podia sentir as dores e o cansaço desaparecendo, restando
apenas o conforto e o êxtase da noite anterior...

BoredMai:
Ela ergue uma sobrancelha, encarando a comida por um instante. "Deve ter magia...",
pensa, terminando a refeição antes de ficar de pé. É só então que ela nota o corpo
ainda nu, as bochechas corando enquanto Ash rapidamente se vestia, descendo as
escadas com cuidado em seguida.

Suki:
E ele logo sentiria o cheiro agradável de pães e bolos vindo do lado contrário ao
da confeitaria, a cozinha extremamente grande e bem equipada assando várias coisas
ao mesmo tempo enquanto Ophelia preparava e confeitava outras.

BoredMai:
- Com licença. - ele murmura, se aproximando. - Bom... dia? Boa noite?

Suki:
- Ainda é boa noite. - ela sorri, respondendo-o sem nem sequer encará-lo,
concentrada nos docinhos que decorava. - Dormiu bem?

BoredMai:
- Dormi, muito bem. - murmura. - Eu... obrigado por ontem.

Suki:
- Não precisa agradecer. Estou sempre a disposição. - Ophelia ri baixinho,
confortável.

BoredMai:
- ...isso é perigoso. - ele sussurra, estremecendo.

Suki:
- ...é~? Por quê~? - pergunta, encarando-o por um segundo antes de voltar ao que
fazia.

BoredMai:
- Porque eu perdi o controle. - suspira.

Suki:
- Não tem problema nenhum nisso. Ao menos não de vez em quando. - e ri.

BoredMai:
- É claro que tem. - ele nega com a cabeça.

Suki:
- Não, não tem. - insiste.

BoredMai:
- Pra mim, tem. - murmura. - Precisa de ajuda?

Suki:
- Se não te feriu, nem a ninguém, não tem problema algum. - insiste.

BoredMai:
- *Dessa vez*.

Suki:
- Enquanto continuar assim, não vai ter problema. - ela ri, suave.

BoredMai:
- Sem controle, não há como garantir.

Suki:
- Eu não perdi o controle. Eu garanto. - e ri de novo. - Tomou café?

BoredMai:
- Sim, claro. Estava delicioso. - murmura. - E revigorante, também.

Suki:
- A intenção foi essa. - diz, gentil.

BoredMai:
- Imaginei. - ele ri baixinho. - Obrigado.

Suki:
- De nada. Não precisa me agradecer por cuidar de você. É o mínimo~

BoredMai:
- É claro que não é. - suspira. - Eu preciso retribuir, ao menos.

Suki:
- Não se preocupe, na hora certa eu tenho certeza que vai. - e sorri.

BoredMai:
- Não é bem assim... - suspira.

Suki:
- É exatamente assim. - ela ri.

BoredMai:
"Não, não é. Não comigo," pensa, suspirando.
- Precisa de alguma ajuda? Senão, eu vou passar na cidade pra falar com a polícia,
e tentar conseguir um emprego.

Suki:
- Se puder me esperar, eu te acompanho quando for fazer as entregas. Eu tenho
bolinhos e pães pra levar na delegacia, de qualquer forma!

BoredMai:
- Hmm... Acho que não é problema. - murmura.

Suki:
- Então é melhor se banhar, e se quiser, descansar um pouco mais. Eu te chamo
quando estiver pronta para sair. - ela sorri.

BoredMai:
- Tudo bem. Eu vou descer quando terminar. - murmura, se afastando.

Suki:
"Tão bonitinho, tão suscetível, tão meu~", pensa, observando Ash por alguns
instantes até voltar ao que fazia.

BoredMai:
"Eu preciso arranjar um emprego e ir embora logo, antes que isso acabe em
problema..." pensa, entrando no banho pra se limpar, cuidadosa.

Suki:
E quando Ash enfim retornasse, Ophelia ainda enchia as imensas cestas da bicicleta,
tudo bem embalado e decorado, o nome de cada um escrito em um cantinho no papel
pardo.

BoredMai:
- Precisa de ajuda? - ele oferece mais uma vez, se aproximando.

Suki:
Ela nega com a cabeça, sorrindo ao encará-lo.

- Eu estou acostumada. - diz, gentil.

BoredMai:
- Como preferir. - suspira.

Suki:
- Não se preocupe, mesmo. - Ophelia sorri.

BoredMai:
- É claro que me preocupo. - resmunga.

Suki:
- Com o que, exatamente?

BoredMai:
- Não é justo que eu fique me apoiando em você.

Suki:
- Como eu falei, não se preocupe. Na hora certa eu tenho certeza que você vai
retribuir.

BoredMai:
- É claro que me preocupo. Eu não gosto de ficar em dívidas.

Suki:
Ophelia apenas suspira, negando de leve com a cabeça antes de fechar as cestas.

- Vamos?

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