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DivertidaMente

A volta da boa e velha Pixar


NATÁLIA BRIDI
18.06.2015, ÀS 18H25
ATUALIZADA EM 28.05.2020, ÀS 21H32
Divertida Mente (Inside Out), nasceu de uma frustração. A Pixar trabalhava em Newt,
a história de duas salamandras raras que se odeiam, mas são a salvação da espécie. O
conceito era muito parecido com o de Rio (2011), que seguia a mesma trama, só que
com ararinhas-azuis no lugar de anfíbios. Foi quando Ed Catmull, presidente do
estúdio, chamou Pete Docter e Jonas Rivera, o diretor e o produtor de Up - Altas
Aventuras (2009), para salvar o projeto. A dupla, porém, começou a brincar com outras
ideias.
“E se personificássemos emoções?”, sugeriu Docter, pensando em compreender o que
se passava com sua filha, uma criança feliz e ativa que começou a ficar introspectiva.
No filme, Riley é uma garotinha guiada pela Alegria (voz de Amy Poehler no original e
de Miá Mello no Brasil), que comanda o “quartel-general” da mente, catalogando
acontecimentos, criando sonhos e coordenando outras emoções fundamentais: Tristeza
(Phyllis Smith/Katiuscia Canoro), Medo (Bill Hader/Otaviano Costa), Nojo (Mindy
Kaling/Dani Calabresa) e Raiva (Lewis Black/Léo Jaime). Quando a família se
muda, os sentimentos de Riley entram em conflito e a Tristeza começa a tomar conta
das suas memórias-centrais, os eventos que definem a sua personalidade.
Tudo isso é traduzido cuidadosamente em formas, cores e texturas. As memórias
especiais levam à grandes parques-temáticos, como a Terra da Amizade, a Terra da
Família e a Terra do Hóquei. Outras lembranças são guardadas em bolas de gude
coloridas, que correm por canaletas de máquinas de pinball. Uma acertada combinação
de design e roteiro, que materializa conceitos como o subconsciente (uma grande
caverna povoada por medos e outros fatos bem guardados), desejo (um mundo de
nuvens e doces com uma fábrica de paixonites pré-adolescentes), sonhos (com uma
produção de esquetes ao vivo), e até mesmo o esquecimento (um grande vazio que
absorve as memórias, ou bolas de gude, que não são mais usadas).
Interior e exterior coexistem perfeitamente. Toda a confusão criada por Alegria e
Tristeza - perdidas dentro da consciência enquanto as outras emoções tomam conta do
centro de comando - reflete a crise existencial de Riley. É como se dois filmes tratassem
da mesma história com técnicas diferentes, arte realista e arte abstrata sob a mesma
moldura.
Essa é a balança clássica da Pixar, com temas complexos em embalagens singelas, cujo
equilíbrio resulta em personagens multifacetados e extremamente fofos (com destaque
para o amigo imaginário Bing Bong). Uma lição ensinada pelo Estúdio Ghibli e
aprendida com louvor: a autoconsciência. Entender a si mesmo (suas qualidades e seus
defeitos) para compreender o mundo que o cerca. Foi assim que a Pixar criou uma obra-
prima como Divertida Mente em meio a crise que fez com que ficasse empacada em
continuações e deixasse de lançar um filme em 2014. Abrace o caos, desabafe e siga em
frente.
FONTE: https://www.omelete.com.br/filmes/criticas/divertida-mente

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