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Modelagem e Solução

de Problemas
Modelagem e Solução de Problemas

Conteúdo

Engenharia: resolução de problemas ............................................ 03

Aplicações das Leis de Newton ..................................................... 10

Tipos de Forças ............................................................................. 19

Equilíbrio e estabilidade ................................................................. 25

Derivadas: definição ...................................................................... 31

Regra da Cadeia ............................................................................ 46

Problemas de maximização e minimização ................................... 56

Interpretação geométrica da derivada - Regras de derivação e suas


aplicações ...................................................................................... 70
8.2 Definição do problema ou da tarefa
“A necessidade de definir claramente a tarefa ou o problema” é um tema
abordado pelos outros capítulos, com a ideia de que a repetição é absolutamente neces-
sária a fim de se aprender propriamente uma habilidade. É preciso seguir o processo de
“definir”-e-“apresentar” para quem quer que tenha designado a tarefa ou problema até
que estejamos certos de que entendemos claramente o problema ou tarefa. Precisamos
seguir esse processo em cada nível para garantir que nada tenha mudado, ou, se algo
tiver mudado, que tenhamos feito os ajustes apropriados. Uma das características dos
seres humanos, especialmente dos engenheiros, é o desejo de completar tarefas. Quer
seja a pintura de uma cadeira, a escrita de um livro ou a resolução de uma lição de casa,
queremos só começar a fazer o mais rápido possível. Quantas vezes você já começou a
resolver problemas de uma prova sem antes parar para pensar no problema e no resto
da prova? Garanto que você sempre se sairá melhor se parar por um minuto e pensar
sobre o que precisa fazer para ter sucesso.
Em todos os casos, um pouco de esforço no começo resultará em uma enorme
redução de esforço (sem nem mencionar frustração) no final das contas. Você realmen-
te precisa desenvolver uma habilidade e um processo de claramente definir cada tarefa
em que você for trabalhar. Isso é uma coisa realmente simples e fácil de se fazer, e
ainda assim muitos de nós a evitam rotineiramente. Primeiramente, é importante saber
que a definição clara de algo geralmente exige um processo iterativo. Você obtém o
delineamento do problema verbalmente ou, melhor ainda, de forma escrita. É necessá-
rio, então, converter isso em uma forma possível de se entender. Usando suas próprias
palavras e interpretações, pergunte se essa é uma compreensão clara do problema de-
lineado. Otimistamente, você terá isso escrito em algum lugar.
Vamos começar com alguns exemplos simples.

EXEMPLO 8.2.1

A definição do problema é “Venha me buscar na estação de trem”.

Visivelmente, muitas informações estão faltando. As mais óbvias são quando e


onde. Além disso, há informações secundárias que poderiam ser importantes, como
“você está sozinho ou em grupo?” Se for em um grupo, “quantos de vocês devo buscar?”
“Você está carregando bagagem?” “Para onde vou levar você?”
Muitas vezes, podemos inferir algumas dessas respostas por meio do contexto
em que a definição do problema é apresentada. Um exemplo seria saber se o trem está
se deslocando pela cidade ou se é interurbano. Também, a questão do “onde” pode já
ser de seu conhecimento se o indivíduo estiver vindo para sua casa.Vamos agora ana-
lisar sua primeira experiência de trabalho como engenheiro ou como aluno de estágio
curricular. Na maioria das vezes, seu supervisor lhe dará uma tarefa. Frequentemen-
te, ele pensará na tarefa rapidamente, sem refletir muito sobre definir o problema de
forma clara. Agora você precisa trabalhar com o supervisor para definir o problema
de forma clara. Em algum momento, você sabe que terá de agradecer ao supervisor e
voltar à sua mesa.

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Uma vez que você estiver na mesa, o que deve fazer? Você provavelmente tem
um delineamento do problema que cai em uma das duas categorias:
1. O delineamento é razoavelmente bem definido e você pode prosseguir para
desenvolvê-lo mais completamente. Comentaremos esse processo mais
adiante.
2. Você ainda não tem um delineamento claro. Logo, ainda precisa saber mais
antes de prosseguir.

Para começar, vamos analisar o segundo caso. Você deveria vê-lo como uma ver-
dadeira oportunidade de demonstrar o quão bom você é! Eu sugiro que você escreva
exatamente o que você entende a respeito do delineamento atual do problema. Depois,
escreva o que você acredita que precisa saber antes de prosseguir. Você também pode
realizar uma pausa neste momento e enviar o que você já tem a seu supervisor, mas eu
não recomendo; minha experiência demonstrou que você realmente precisa desenvol-
ver suas ideias primeiro e, só então, enviar o delineamento reescrito a ele. Você pode
ficar surpreso quando o supervisor aceitar suas ideias como uma reflexão das ideias
dele, dizendo que era isso o que ele estava esperando, ou quando ele parabenizá-lo por
ter tomado iniciativa. Neste caso, o supervisor ou lhe dará permissão para continuar,
ou lhe dará um novo delineamento de problema, desta vez muito mais específico que o
original. Em ambos os casos, você sairá ganhando.

EXEMPLO 8.2.2

Expanda o delineamento de problema do Exemplo 8.2.1.

Em todos os casos, não pare por aqui. Primeiramente, continue a trabalhar no


problema em consonância com o seu atual delineamento e, então, reúna seus conheci-
mentos e expanda o delineamento do problema para que se torne um plano de traba-
lho. Uma vez feito isso, apresente-o a seu supervisor para garantir que vocês tenham o
mesmo entendimento do que precisa ser feito.

Delineamento original, “Venha me buscar na estação de trem”.


Primeira iteração (perguntas que precisam ser respondidas)
Segunda iteração (seu novo delineamento do problema original)
Delineamento completamente desenvolvido (inclui todas as respostas direcionadas ao
novo delineamento do problema)

Outra consideração importante desta parte do processo é que se houver uma


interface entre essa tarefa ou subsistema e outras tarefas ou subsistemas, temos de ser
extremamente claros sobre a interface e tudo o que interage com ela. Em outras pala-
vras, devemos especificar as interfaces de módulos (como os módulos decompostos se
conectam uns aos outros e “quais são os valores a serem recebidos e transferidos”) e
garantir que suas especificações sejam seguidas.

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8.3 Decomposição do problema ou da tarefa
Uma vez que o problema esteja claramente definido, você precisa decompô-lo
em módulos simples e bem definidos. Nesse momento, já teremos o problema deline-
ado. O processo pode ser executado usando-se a abordagem sistêmica e, no caso dos
problemas mais complicados, a abordagem que estamos definindo deve ser seguida.

8.4 Definição dos elementos do processo de resolução


Agora que o problema está decomposto em blocos (ou módulos) de problemas
mais manejáveis, podemos prosseguir no desenvolvimento de soluções para esses blocos.
O processo que seguimos agora é a definição dos elementos do processo de resolução de
problemas. Os elementos do processo de resolução são cobertos nas Seções 8.5 a 8.9.

8.5 Metas
A compreensão do que é uma meta é razoavelmente simples: é o que queremos
fazer ou o que queremos alcançar. Contudo, ao usar a abordagem sistêmica, uma meta
torna-se muito mais do que isso. Temos metas relativas ao sistema em geral e, quando
dividimos um problema complicado em unidades menores, tais unidades também têm
suas metas, que são diferentes das metas do nível superior.
Esse conceito se tornará claro ao progredirmos neste capítulo e no decorrer do
resto do livro. Adotaremos as seguintes definições:

Uma meta é algo que você deseja realizar ou alcançar.

Um bom exemplo de meta é resolver um problema em particular. Outro exemplo


pode ser escrever um livro.
Isso levanta a pergunta “como determinar uma meta”? Também nos leva à abor-
dagem sistêmica. Retornemos ao exemplo de resolução de um problema em particular.
À primeira vista, essa parece ser uma meta simples o bastante. Entretanto, de onde ela
veio? Claramente, como estudantes, temos a meta de nos formarmos. E, para nos for-
marmos, temos de passar nas disciplinas. Para passar nas disciplinas, precisamos estudar
o livro e os problemas propostos. É possível perceber que o objetivo de resolver um pro-
blema vem, na realidade, de uma meta muito maior que é receber um diploma. Essa é a
abordagem sistêmica: você parte de um problema muito maior e o divide em unidades
cada vez menores até que tenha uma unidade suficientemente simples que possa ser re-
solvida prontamente em um espaço de tempo razoável e com uma quantidade razoável
de esforço. Claramente, você consegue ver como isso lhe permitirá obter seu diploma.
Metas também podem ser o resultado do uso da abordagem sistêmica em um
nível mais alto. Outro exemplo seria “realizar uma viagem de Filadélfia a Washing-
ton”. Essa é uma meta, mas o meio de transporte não está determinado. Pode-se fazer
esse trajeto facilmente de carro, avião ou trem. Cada meio tem seus próprios méritos
e, dependendo das suas restrições e preferências pessoais, pode ser o meio que você

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escolherá usar. A propósito, você aprenderá que chamamos esses diversos modos de
transporte de “alternativas”. Trabalharemos nesse exemplo mais adiante neste capítulo.

EXEMPLO 8.5.1

Planeje uma viagem de Filadélfia a Washington.

Continuando com esse exemplo, no processo de avaliação dessas alternativas, o


meio de transporte se torna uma meta para esse módulo. Uma das metas para o módulo
também pode ser a viagem de Filadélfia a Washington de carro.
Vamos analisar um exemplo de resolução de problema. É importante e neces-
sária a avaliação de diversas técnicas para se determinar qual é a melhor delas. Nesse
processo de avaliação, devemos escolher cada técnica específica, então a resolução do
problema com a técnica escolhida surgiria como meta.
Uma última consideração relativa às metas: selecione uma que esteja sob o seu
controle. Por exemplo, uma boa meta para uma disciplina é aprender tanto quanto pos-
sível sobre o material apresentado em sala. Uma meta ruim seria receber conceito “A”.
Obviamente, é o professor que controla as notas que você recebe, então as notas são
boas métricas, mas não boas metas.

8.6 Restrições
Restrições são extremamente importante nesse processo. Elas limitam o uso de téc-
nicas e processos de resolução de problema e limitam as técnicas e processos de projeto.
Adicionalmente, elas também limitam ou impõem exigências sobre o resultado.
Quais são as restrições mais óbvias para a resolução de problemas? No meu caso,
seria o tempo. Se um único problema de uma disciplina tomaria mais de 100 horas
do meu tempo para resolvê-lo (e não fosse parte de um trabalho principal), eu defini-
tivamente não trabalharia no problema. O resultado poderia ser que eu prepararia o
processo de resolução de problema e entregaria a descrição do processo ao professor,
partindo para o próximo problema.
Outra restrição poderia ser a técnica de resolução. Por exemplo, é possível que pe-
çam que resolvamos um problema de circuitos elétricos usando análise nodal. Essa res-
trição eliminaria a análise de malhas da lista de alternativas que poderíamos empregar
na resolução do problema. Isso também leva à preocupação de quão grande é o circuito.
Mesmo que você tenha apenas cinco nós no circuito, já não será fácil resolver o problema
manualmente, então as alternativas podem ser o uso de software para resolver seu pro-
blema (MATLAB, por exemplo) no lugar de um conjunto demorado de cálculos manuais.
Adicionalmente, pacotes de análise de circuito como PSpice poderiam ser usados.

EXEMPLO 8.6.1

Quais são as restrições mais óbvias do Exemplo 8.5.1?

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Quais são as restrições mais óbvias do Exemplo 8.5.1? A mais óbvia seria que
estamos restritos a considerar apenas carro, avião ou trem. Isso elimina outros meios,
como viajar a pé, a cavalo ou de ônibus. Outra restrição pode ser econômica, ainda que
em alguns casos isso não seja uma consideração. A duração da viagem também pode ser
uma restrição, ou a hora de chegada ao destino – por exemplo, se você precisar estar em
São Paulo até o meio-dia de uma data específica. Essas seriam as restrições mais óbvias.

8.7 Alternativas
Como se pode ter concluído na seção anterior, as alternativas são os diversos
métodos de alcançar suas metas. Metas indicam que um problema deve ser resolvido
e levam a um projeto de execução em particular. Alternativas são a forma como você
resolve os problemas (que técnicas deve usar) e como realizar um projeto específico
(novamente, que técnicas e/ou processos deve usar).
Quais são as alternativas para a resolução de um problema? Algumas alternati-
vas óbvias que podemos ter para todos os problemas seria utilizando técnicas manuais
(essa é, a propósito, a forma ainda usada em muitas disciplinas), técnicas com calcula-
doras ou usando um pacote de software específico. Alternativas adicionais seriam espe-
cíficas ao problema, como no caso dos circuitos, por exemplo. Aqui você poderia usar
uma combinação de técnicas manuais e MATLAB ou um pacote específico de análise de
circuitos como PSpice.

EXEMPLO 8.7.1

Quais são as alternativas para o Exemplo 8.5.1?

No nosso exemplo, quais são as alternativas? As mais óbvias já foram apresen-


tadas: carro, avião e trem. Você pode pensar que já tem suas alternativas. Entretanto,
mais alternativas surgem quando cada uma das alternativas originais é dividida e trans-
formada em metas, que terão então suas próprias alternativas. Vamos analisar breve-
mente o uso do carro como uma alternativa. Se nossa meta for viajar de Filadélfia a
Washington de carro, as alternativas podem ser ir com o seu próprio carro, com o carro
de um amigo ou vizinho, ou alugar um.

8.8 Avaliação e prós e contras


Na maioria das vezes, não desejamos executar cada alternativa (ainda que,
quando razoável fazê-lo, poderíamos fazer isso). Aqui nós precisamos avaliar cada
alternativa e escolher aquela que usaremos para alcançar nossa meta. É aqui que
começam os conflitos de escolhas.
Por que dizemos que há prós e contras quando estamos avaliando que alterna-
tiva usar? Isso vem do fato de que não existe uma alternativa perfeita. Geralmente,
cada alternativa tem suas características positivas e negativas. Uma vez que acaba-
remos por escolher uma alternativa, sabemos que as outras terão propriedades dese-

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jáveis que a selecionada não tem, ou que tem em um nível mais fraco. Por exemplo,
podemos escolher um processo de resolução mais rápido que não seja tão exato
quanto um mais demorado. Vejamos os nossos exemplos.
Dado o problema do Exemplo 8.5.1, quais são os prós e contras óbvios? No cál-
culo da solução de um sistema complicado de equação manualmente versus usando um
computador, podemos tentar identificar os prós e contras. Antigamente, as soluções de
computador tendiam a não ser tão precisas ou tão precisamente realizadas quanto os
cálculos manuais. Atualmente, entretanto, cálculos no computador podem ser muito
mais precisos que os cálculos manuais mais cuidadosos, além de mais precisos que os
resultados gerados pelas calculadoras mais precisas. Então, os prós e contras óbvios en-
tre cálculo manual e cálculo em computadores consistem em cálculos manuais menos
precisos e extremamente mais lentos de executar. Na verdade, a partir de uma certa
complexidade, os cálculos manuais começam a nunca produzir resultados corretos.
Consequentemente, se você estiver disposto a arcar com perda de precisão e
velocidade de cálculo, você pode decidir resolver o problema manualmente. Nem todos
os problemas têm prós e contras simples. Às vezes, isso pode confundir mais que escla-
recer. Quando isso acontece, você deve procurar outras pessoas que possam ajudá-lo
com o processo de avaliação.
Obviamente, no processo de decisão informada com base em prós e contras,
precisamos conhecer todas as questões relevantes para cada uma das alternativas. Isso
significa que precisamos avaliar todos os pontos fortes e todas as limitações de cada
alternativa. A melhor forma de fazer isso é aderindo às restrições relevantes.

EXEMPLO 8.8.1

Avalie cada alternativa para o Exemplo 8.5.1 e, então, escolha um conjunto


apropriado de prós e contras.

Para o exemplo 8.5.1, avalie cada alternativa na Figura 8.2 e escolha um conjun-
to apropriado de prós e contras.
Se sua meta ou restrição é viajar para outra cidade em uma quantidade mínima
de tempo, a viagem por trem pode ser a melhor opção se você morar perto da estação
de trem. Se não for esse o caso, você deve considerar o tempo de ida até a estação e de
retorno para casa. Isso pode aumentar o tempo da viagem em 3 horas ou mais em relação
aos outros modos de viagem. Se sua meta é redução de custos, a viagem de carro pode ser
a mais vantajosa. Deve ser considerado o desgaste do carro e o cuidado extra de dirigir
em estradas. Alugar um carro exige mais esforço do que o uso do seu próprio carro, sem
mencionar a dificuldade de encontrar um estacionamento na cidade de destino.

8.9 Resultados e feedback


Você alcançou os resultados desejados? Se não, precisa se perguntar se é necessá-
rio modificar alternativas, prós e contras, restrições, etc. Uma vez que você tenha feito
essas modificações, determine se elas levam ao resultado desejado.

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Exemplo 8.5.1

Custo Horário de chegada Duração


Carro pessoal $135 Qualquer horário 3 horas
Carro alugado $150 Qualquer horário 3 horas
Trem $160 A cada hora, aos trinta minutos 1 hora e 15 minutos
Avião $250 A cada hora em ponto 3 a 4 horas
Os custos da viagem com carro foram calculados como $0,45 por milha, por 300 milhas.
A duração para o avião leva em conta o tempo adicional necessário por questões de segurança
no aeroporto.

Figura 8.2 Tabela comparando custos, momentos de chegada e duração de cada alternativa.

Na verdade, essa parte do processo é um ciclo que não termina até que você al-
cance os resultados ou sinta que eles nunca serão alcançados. Na nossa experiência, a
maioria de nós acaba encontrando um resultado desejado, mas não necessariamente o
que buscávamos inicialmente.

8.10 Brainstorming
Esse é o processo pelo qual se determinam os diversos elementos da abordagem
sistêmica.
Uma pergunta óbvia, agora, é como poderemos determinar todas essas coisas se
elas não nos forem dadas inicialmente. A solução é uma técnica que provavelmente será
familiar a muitos dos leitores. Brainstorming é nada mais do que o desenvolvimento de
muitas ideias em um ambiente “livre”. A palavra-chave aqui é “livre”. No brainstorming,
permitimos que as ideias fluam livremente sem qualquer restrição. Começamos com
uma meta e, então, são apresentadas alternativas de como alcançá-la. A parte “livre”
vem de não discutir ou explicar as alternativas, que deve ser feita posteriormente. O
processo de apresentação de alternativas é bem similar a esse, podendo começar len-
tamente, chegar a um pico e desaparecer lentamente ao se exaurir a lista de possíveis
alternativas.

Brainstorming é um processo em que muitas ideias são desenvolvidas em um


ambiente “livre”. As ideias precisam poder fluir livremente sem estarem sujeitas a
avaliação ou crítica!

O mesmo processo pode ser usado para o desenvolvimento de restrições. Al-


gumas de suas restrições são obtidas da apresentação das metas, mas outras também
podem surgir de uma sessão de brainstorming.

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Aplicações das leis
de Newton
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Identificar as três leis de Newton.


„ Analisar as três leis de Newton para a solução de problemas que
envolvam força, massa e aceleração.
„ Construir desenhos e croquis que possibilitem a análise, o cálculo e a
resolução de situações que envolvam as três leis de Newton.

Introdução
O conhecimento das leis de Newton nos permite solucionar vários ti-
pos de problemas envolvendo força, massa e aceleração. Por exemplo,
como é possível demonstrar nos foguetes e nas sondas espaciais, que
se fundamentam na inércia — mesmo sem fazer uso de combustível,
continuam se movimentando no espaço.
Neste capítulo, estudaremos as aplicações das leis de Newton.

As leis de Newton
As três leis de Newton são ditas leis porque regem uma gama de aplicações
que envolvem força e aceleração de objetos massivos. Se você parar para
pensar, verá que as leis de Newton estão presentes em praticamente todas as
situações físicas do seu dia a dia. A partir do entendimento dessas leis, foi
possível construir um conhecimento muito maior acerca do que se conhece do
universo. As leis de Newton puderam ser aplicadas e refinadas em vários dos
equipamentos usados no nosso dia a dia, e muitas vezes acoplados a outros
mecanismos, formando uma vasta aplicação nas mais diversas áreas.
Vamos destacar cada uma das três leis de Newton separadamente. Ainda,
veremos onde esse conhecimento se aplica nos mais diversos problemas e

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situações físicas, bem como de que forma acontece o movimento de objetos
a partir de uma força resultante.

Primeira lei de Newton


“Todo objeto em repouso tende a permanecer em repouso e todo
objeto em movimento tende a permanecer em movimento, a não ser
que uma força externa resultante atue sobre o objeto.”

Esse enunciado implica em algumas situações interessantes nas quais você


pode pensar. Imagine que você acorde de um sono profundo dentro de um vagão
de trem. As janelas e vidros desse trem estão escurecidos, de modo que você
não consegue olhar para fora. O seu universo visível é composto somente do
interior desse vagão. Digamos, ainda, que o trem, quando em movimento, não
produza nenhum tipo de trepidação (lembre, estamos fazendo um exercício
mental). Você consegue inferir se o trem está parado ou em movimento? A
não ser que você tenha alguma dica externa, você não consegue inferir sobre
o movimento ou não do trem. Se ele estiver parado ou em movimento e não
existir a ação de uma força externa causando uma aceleração no trem, você
não consegue inferir sobre a situação.
Essa situação é análoga quando você viaja de carro. Quando o carro está
com uma velocidade constante ou quando está em repouso, você não nota
nenhuma força atuando sobre você. Agora, se o carro partir do repouso e
for aumentando a velocidade com o tempo, você facilmente nota que o carro
está acelerando.

Nós, humanos, somos acelerômetros biológicos. Notamos facilmente a mudança


induzida na velocidade por meio de uma força externa.

Vamos ver mais um exemplo. Você deve estar sentado confortavelmente


enquanto lê este material. Você está em movimento ou parado? Bom, a res-
posta não é uma nem outra, pois ela depende de qual referencial estamos
considerando. Para você, que está em repouso em relação à cadeira (ou sofá), à
casa e ao planeta Terra, pensa que está parado. Já em relação a um referencial

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fora do nosso planeta, digamos para um astronauta em órbita na Lua, você
estará se movimentando com velocidade constante em relação a ele. Nesse
caso, o referencial adotado também importa. Você está em repouso ou em
movimento em relação a quem? Essa pergunta é sempre importante de ser
feita para análise de situações físicas.
Por fim, imagine uma mosca que se encontra dentro do carro que está a
80 km/h e com os vidros fechados. Digamos que ela vá do banco traseiro ao
banco dianteiro a uma velocidade de 5 km/h. Para você, que está dentro do
carro, a velocidade de 5 km/h é a velocidade que você vê a mosca se movendo.
Porém, para um observador externo ao carro, essa mosca está se movendo
com uma velocidade incrível de 85 km/h. Como isso é possível? Uma mosca
consegue realmente se mover com uma velocidade dessas? Claro que não!
Porém, para a mosca dentro do carro que está a uma velocidade constante de
80 km/h, o universo dela consiste do interior do carro. O ar que está dentro
do carro também se move a 80 km/h, juntamente com o carro. Logo, a velo-
cidade de 5 km/h é relativa em relação ao carro, e não relativa em relação a
um observador parado do lado da estrada. A situação muda se o carro estiver
acelerado. A mosca, assim como o passageiro do carro, notará a mudança de
velocidade que o carro é submetido, por meio da aceleração imposta sobre o
veículo. E essa é a ideia por trás da segunda lei de Newton.

Segunda lei de Newton


“A força resultante em um corpo é igual à massa multiplicada pela
aceleração.”

Essa talvez seja a lei mais importante, pois é com base nela que toda mate-
mática de problemas físicos é aplicada. Ela está vinculada à primeira lei, pois
um corpo que sai do repouso e adquire uma velocidade teve a influência de uma
força externa atuando sobre ele, de modo a adquirir uma aceleração não nula.
Pense em uma mesa em repouso em relação a um chão liso. Quando você
aplicar uma força sobre ela, sairá do repouso e adquirirá uma velocidade, que
vai aumentando se a força aplicada permanecer a mesma durante o movimento.
Vamos voltar ao exemplo fictício do trem. Se uma força externa atuar no
trem, de modo a acelerá-lo para um dos lados, você vai notar essa aceleração,
independentemente de se o trem estava em movimento retilíneo uniforme ou
parado. Novamente, você nota perfeitamente esse conceito sendo aplicado
quando está viajando de carro. Se a velocidade do carro mudar, você notará
a aceleração imposta. A força responsável por esse efeito pode ser a força de

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torque nas rodas, de modo a acelerar o carro, ou ainda a força de fricção nos
discos de freio do carro, de modo desacelerar o carro.
Algebricamente, a segunda lei de Newton se traduz na seguinte equação:

onde o somatório de todas as forças atuando sobre um objeto de massa m


é igual à multiplicação da massa pela aceleração.
O enunciado da segunda lei diz que teremos uma aceleração não nula de
um objeto de massa m se o somatório das forças atuando sobre o objeto não
for nula. Ou seja, poderemos ter um objeto sob influência de várias forças
que simplesmente não se move. Nesse caso, o somatório de todas as forças
atuando sobre o objeto é zero. De fato, é isso que acontece com todos os objetos
presentes no planeta Terra e que estão em repouso em relação ao chão. Todos
os objetos com massa estão sob efeito da atração gravitacional terrestre, que
acelera os objetos na direção do centro da Terra com uma aceleração de 9,8
m/s2. Mas como os objetos, então, não estão todos sendo sugados para dentro
da Terra? Para responder a essa pergunta, vamos à terceira lei de Newton.

Terceira lei de Newton


“Quando dois corpos interagem, as forças de interação em cada um
dos corpos tem mesma magnitude de intensidade, porém em direções
opostas.”

Você pode resumir essa lei como “A toda ação corresponde uma reação
de mesma intensidade, mas em sentido contrário”. Por que um livro sobre
uma mesa, se está sob efeito da gravidade, não acelera em direção ao centro
da Terra? Bom, o livro está sobre a mesa, exercendo uma força sobre a mesa,
e a mesa corresponde com uma força contrária no livro, isto é, no sentido
oposto, mas de igual intensidade, de modo que a força resultante sobre o
livro seja nula. E assim salvamos o planeta! Os objetos não caem em direção
ao planeta Terra com uma aceleração de 9,8 m/s2 porque existe uma força de
contato que oferece uma força de mesma intensidade, mas no sentido contrário.
Eventualmente, poderemos ter objetos que aceleram em direção ao chão, sendo
que, assim, a força de contato entre o objeto e a superfície que o apoia tem
uma força de intensidade menor do que a força gravitacional, acelerando o
objeto na vertical. Um bloco sobre um plano inclinado acelera tanto horizontal
quanto verticalmente.

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Até aqui, você teve uma rápida abordagem das três leis de Newton. Vamos,
agora, aplicar esse conhecimento em problemas físicos, em que a discussão
será mais aprofundada. Em cada um dos exemplos, vamos dar um enfoque
especial na questão conceitual e no tratamento algébrico.

Problemas físicos que envolvem forças,


massa e aceleração
Vamos analisar algumas situações físicas que envolvem os conceitos apre-
sentados pelas leis de Newton, traduzindo-as em força, massa e aceleração.
Começamos com um exemplo simples: o Papai Noel da Figura 1 está
sentado sobre o seu trenó e é puxado pelas suas renas, que exercem uma força
F sobre o sistema trenó + Papai Noel.

Figura 1. Diagrama de corpo livre do sistema trenó + Papai Noel sendo puxado por uma
rena, bem como o sistema de coordenadas adotado.

Como o trenó está sobre uma superfície lisa formada por gelo, podemos
assumir, em uma primeira abordagem, que o atrito do trenó com o gelo é
desprezível. Assim, temos uma força atuando na horizontal, dada pelo vetor
F. Porém, essa não é a única força presente. Uma outra força nesse sistema é
a força peso P do sistema, que tem módulo:
P ímg
onde m é a massa do sistema e g é a aceleração da gravidade. A direção
da força peso é direcionada no sentido negativo do sistema de coordenadas
adotado, como pode ser visto na figura, e por isso o sinal negativo na equação.
O vetor da força peso pode ser representado com a sua origem no centro de
massa do sistema. Como o trenó é puxado horizontalmente, deve existir mais
uma força no sentido vertical de modo a contrabalancear a força peso. É aí que a

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força normal entra, oriunda da terceira lei de Newton. A toda ação corresponde
uma reação. Nesse caso, como o trenó está se movendo na horizontal e a força
peso é direcionada no sentido negativo de y, a força normal N contrabalança
a força peso com mesma intensidade, porém com sentido contrário à força P.
A força normal também pode ser representada no centro de massa do sistema
do trenó. A magnitude da força normal nessa situação é:
N íP = mg
Existem mais duas forças escondidas no sistema. Como o trenó é puxado
pelas renas por uma corda, ainda teremos a força de tração na corda. Como
estamos considerando uma força constante F sendo oferecida pelas renas, uma
força de igual magnitude, porém com sentido contrário, aparece no ponto final
da corda presa às renas. Chamamos essa força na corda de força de tensão, T1,
com magnitude T1 íF, pelo fato de estar na mesma direção de F, porém com
sentido contrário. Nesse exemplo, desconsideramos a massa da corda. Como
a toda ação corresponde uma reação em um objeto, no início da corda presa
ao trenó aparecerá outra força de tração, T2, com mesma direção e magnitude
de T1, porém com sentido contrário. Desse modo, T2 íT1 = F. Assim como as
forças P e N estão na mesma direção e possuem a mesma magnitude, porém
sentido contrário, as forças T1 e T2 também estão na mesma situação, porém na
horizontal. Nesse caso, ambos os conjuntos de forças se cancelam aos pares,
e ao final temos uma força resultante igual a F, direcionada no sentido do
movimento do trenó. Dessa forma, temos:

Para facilitar o entendimento do que está acontecendo no problema físico


em questão, é interessante um desenho simplificado do problema. Esse tipo de
desenho simplificado também é chamado de croqui, em que uma representa-
ção gráfica fácil e simples ignora detalhes que não são pertinentes na análise
do problema, focando nos parâmetros importantes que devem ser levados
em conta. Na física, esse tipo de desenho ajuda a representar as variáveis e
parâmetros de interesse na resolução de problemas, de modo a elucidar melhor
a situação física.
Suponha que você queira desenhar a situação física que represente o lança-
mento de um foguete para o espaço. Nesse caso, como se trata de um problema
físico de dinâmica envolvendo também as três leis de Newton, você estará
interessado em representar as forças atuando no foguete, bem como os vetores
aceleração, velocidade e posição. Um desenho simples do foguete com estas

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representações é o suficiente para se ter as informações necessárias que gerem
um melhor entendimento do que está acontecendo. Você pode ignorar outros
detalhes, como a representação fidedigna do panorama como um todo. O céu
azul ou com nuvens, árvores, pessoas ou até mesmo a estrutura suportando o
foguete podem ser ignorados, pois são itens que não implicam uma mudança
na questão física do problema em questão. Claro, dependendo do que está acon-
tecendo, esses parâmetros poderiam entrar na análise e cálculos, e, portanto,
deveriam também ser desenhados. Esse tipo de representação não único da
física, estando presente em várias áreas do conhecimento com determinado
enfoque em uma dada situação específica.
No caso do exemplo anterior, que é um problema envolvendo a dinâmica
de movimento de um trenó sendo puxado por uma rena, podemos fazer a
representação gráfica por meio de um desenho chamado de diagrama de
corpo livre, ilustrado na Figura 1.

O diagrama de corpo livre é uma representação simplificada das forças atuando no


sistema e ajuda a visualizar melhor o que está acontecendo, bem como facilita o
entendimento do problema e do cálculo solicitado.

No exemplo acima, consideramos um movimento acontecendo somente


na horizontal. Agora, vamos considerar um movimento que acontece tanto na
horizontal quanto na vertical, que é o caso de um bloco em um plano inclinado
sem atrito, como ilustrado na Figura 2a.

Figura 2. Diagrama de corpo livre de um bloco sobre um plano inclinado sem atrito.

16
Nessa situação, consideramos um bloco de massa m descendo um plano
LQFOLQDGRFRPLQFOLQDomRDQJXODUș&RPRQmRHVWDPRVWUDWDQGRDLQGDGHXP
movimento com atrito, as únicas forças presentes nessa situação são a força
peso, P, e a força normal, N. A força normal é decorrente do contato do bloco
com o plano inclinado, oriunda da terceira lei de Newton. Rigorosamente, essa
força normal deveria estar ilustrada no ponto de contato entre o bloco e o plano,
mas, como essa força é uma reação à força peso e está sendo aplicada ao bloco,
podemos representá-la no centro de massa do bloco, como ilustrado na Figura
2. De fato, a força peso também está ilustrada no centro de massa do bloco,
mas é o resultado do somatório da força peso de cada pedaço infinitesimal
de massa do bloco. Dessa forma, cada pedaço infinitesimal de massa acaba
tendo uma força peso infinitesimal que contribui para a força normal no bloco.
Para estudar o movimento do bloco descendo o plano inclinado, precisa-
mos, primeiramente, adotar um referencial adequado ao movimento. Como
o movimento acontece na direção do plano inclinado, adotamos um sistema
em que um dos eixos esteja nessa direção. No caso da figura, adotamos o eixo
x na direção do movimento. A força normal acaba por estar sobre o eixo de
movimento em y. Já a força peso está decomposta em torno dos dois eixos,
uma vez que aponta na direção do centro de massa da Terra, representado
pelo vetor P na vertical. Dessa forma, a força peso pode ser decomposta nas
direções x e y, como ilustrado na Figura 2B. Agora podemos descobrir o
valor das componentes da força peso em cada uma das direções. Devido à
JHRPHWULDGRSUREOHPDRkQJXORșDSDUHFHHQWUHRVHL[RVYHUWLFDOGHP e Py,
como ilustrado na Figura 2B e 2B. Sabemos que a soma dos vetores Px e Py
nos dá o vetor P:

Usando trigonometria, podemos obter os módulos de Px e Py:

Como o movimento do bloco acontece na direção do eixo x do sistema de


coordenadas adotado, o somatório de forças atuando em y é nulo, de modo que:

17
Já o somatório das forças na direção y é igual à massa multiplicada pela
aceleração do bloco:

Como a única força atuando na direção x é a componente da força peso


na direção x, Px, temos que:

Assim obtemos o valor da aceleração do bloco:

Note que a aceleração imposta ao bloco no plano inclinado é a componente


da aceleração gravitacional direcionada no plano de movimento, ou seja, na
direção positiva de x. A aceleração é independente da massa do bloco.

Nos links abaixo, você encontrará mais situações físicas interessantes em que as leis de
Newton são aplicadas. É fortemente aconselhável que você observe essas situações
físicas simples, que estão presentes nos mais diversos mecanismos do nosso cotidiano
e na área da engenharia.
Isaac Newton e a Gravitação Universal: https://goo.gl/yg8gZz

Força centrípeta: https://goo.gl/8hWims

Força elástica de uma mola: https://goo.gl/PaJFHk

Sistema de roldanas: https://goo.gl/KFSoFC

https://goo.gl/ZlR2NP

Sistemas de blocos: https://goo.gl/Nr55M0

BEER, P. F. et al. Vector mechanics for engineers: statics and dynamics. 9. ed. New York:
McGraw-Hill, 2010.
HIBBELER, R. C. Statics and dynamics. 14. ed. New Jersey: Pearson, 2016.
WALKER, J.; HALLIDAY, D.; RESNICK, R. Fundamentals of physics. 10. Ed. New Jersey:
John Wiley & Sons, 2014.

18
5.1 Força
Se você chutar uma bola com pouca força, ela rolará pelo chão. Se você puxar uma
maçaneta, a porta abrirá. De muitos anos de experiência, você sabe que é necessário
algum tipo de força para mover estes objetos. Nosso objetivo é compreender por que o
movimento ocorre, e a constatação de que força e movimento estão relacionados é um
bom ponto de partida.
Os dois principais assuntos deste capítulo são:

■ O que é uma força?


■ Qual é a relação entre força e movimento?

Começaremos com o primeiro tópico na tabela abaixo.

O que é uma força?

Uma força é um empurrão ou um puxão.

A idéia comum que temos de uma força é que ela é um empurrão ou um puxão. Iremos aperfeiçoar esta idéia mais
adiante, todavia ela é apropriada agora como ponto de partida. Note nossa escolha cuidadosa das palavras: nos
referimos a “uma força”, em vez de, simplesmente, a “força”. Desejamos conceber uma força como um caso muito
específico de ação, de modo que podemos falar a respeito de uma única força ou, talvez, sobre duas ou três forças
individuais que podem ser claramente diferenciadas entre si. Daí a idéia concreta de “uma força” como uma ação
sobre um objeto.

Objeto Uma força representa uma ação sobre um objeto.

Está implícito em nosso conceito de força que uma força é exercida sobre um objeto. Em outras palavras,
empurrões e puxões são aplicados em algo – um objeto. Do ponto de vista do objeto, uma força foi exercida sobre
ele. Forças não existem isoladas dos objetos que as experimentam.

Uma força requer um agente.


Cada força possui um agente, algo que atua ou exerce poder, isto é, uma força possui uma causa específica e
identificável. Quando você arremessa uma bola, o agente ou a causa da força é sua mão, enquanto fica em contato
com a bola. Se uma determinada força está sendo exercida sobre um objeto, deve-se ser capaz de identificar a causa
específica (i.e., o agente) para ela. Alternativamente, uma força não é exercida sobre um objeto a menos que se
Agente possa especificar uma causa ou agente. Embora esta idéia possa parecer expressar o óbvio, você verá que ela será
uma ferramenta poderosa para evitar algumas concepções errôneas comuns acerca do que seja e do que não seja
uma força.

Uma força é um vetor.


Se você empurrar um objeto, pode fazê-lo suave ou fortemente. De forma análoga, você poderia empurrá-lo para a
esquerda ou para a direita, para cima ou para baixo. Para qualificar um empurrão, você precisa especificar um
módulo e uma orientação. Não surpreende o fato de uma força ser uma grandeza vetorial. O símbolo geral de uma
força é . O “tamanho” ou intensidade de uma força é o seu módulo F.

Uma força pode ser de contato ...

Existem dois tipos básicos de forças, dependendo se o agente toca ou não o objeto. Forças de contato são aquelas
exercidas sobre um corpo através do contato com algum ponto do mesmo. O bastão deve tocar na bola a fim de
rebatê-la. Uma corda deve ser amarrada a um objeto para poder puxá-lo. A maioria das forças que abordaremos são
forças de contato.

... ou de ação a distância.

Forças de ação a distância são aquelas exercidas sobre um corpo sem haver contato físico. A força magnética é um
exemplo de força de ação a distância. Sem dúvida você já viu um ímã colocado acima de um clipe conseguir
erguê-lo. Uma xícara de café solta de sua mão é puxada pela Terra pela força de ação a distância da gravidade.

19
Vamos resumir estas idéias como nossa definição de força:

■ Uma força é um empurrão ou um puxão sobre um objeto.


■ Qualquer força é um vetor. Ela possui módulo e orientação.
■ Qualquer força requer um agente. Algo que empurre ou puxe.
■ Qualquer força é de contato ou de ação a distância. A gravidade é a única força de
ação a distância que abordaremos até bem mais adiante no livro.

NOTA  No modelo de partícula, os objetos não podem exercer forças sobre si mes-
mos. Uma força sobre um objeto terá um agente ou uma causa externa ao objeto.
Agora, certamente existem objetos que possuem forças internas (pense nas forças
dentro do motor de seu carro!), porém o modelo de partícula já não é válido se você
precisa levar em conta forças internas. Se você for considerar seu carro como uma
partícula e se concentrar no movimento global dele como um todo, este movimento
será uma conseqüência das forças externas exercidas sobre o carro. 

Vetores força
Podemos usar um diagrama simples para visualizar como as forças externas são exercidas
sobre os corpos. Uma vez que estamos usando o modelo de partícula, no qual os objetos são
considerados como pontos, o processo de desenhar um vetor força é direto. Eis como:

BOX TÁTICO
5.1 Desenhando vetores força

Represente o objeto como


uma partícula.
Localize a cauda do vetor
força sobre a partícula.
Desenhe o vetor força como uma seta
com a orientação apropriada e com um
comprimento proporcional à intensidade
da força.
Denote o vetor adequadamente.

A etapa 2 parece contrária ao que um “empurrão” deveria fazer, mas recorde-se de


que um vetor não é alterado se seu comprimento e seu ângulo de orientação não mudam.
O vetor é o mesmo, não importa se sua cauda ou sua ponta está localizada sobre a
partícula. A razão para usarmos a cauda sobre a partícula se tornará clara quando consi-
derarmos como combinar várias forças.
A FIGURA 5.1 ilustra três exemplos de vetores força. Um corresponde a um empurrão,
outro a um puxão e o terceiro a uma força de ação a distância, mas nos três a cauda do
vetor força está localizada sobre a partícula que representa o objeto.

A corda é o agente. A mola é o agente.


Caixote

Força de
ação a
distância da
gravidade

Caixote Caixote
A Terra é o agente.
Força de puxão da corda Força de empurrão da mola

FIGURA 5.1 Três exemplos de forças e suas representações vetoriais.

20
Combinando forças (a)

A FIGURA 5.2a mostra uma caixa sendo puxada por duas cordas, cada qual exercendo uma
força sobre a caixa. Como reagirá a caixa? Experimentalmente, constatamos que quando
várias forças , , … são exercidas simultaneamente sobre um corpo, elas se combi-
nam para formar uma força resultante, dada pelo vetor soma de todas as forças: Caixa vista
de cima
(5.1)

Recorde-se de que o símbolo significa “é definido como”. Matematicamente, esta


soma é chamada de uma superposição de forças. A força resultante às vezes também é
chamada de força total. A FIGURA 5.2b mostra a força resultante sobre a caixa.
(b)

Forças de puxão
PARE E PENSE 5.1Duas das três forças exercidas sobre um objeto são mostradas à esquerda das cordas
na figura abaixo. A força resultante aponta para a esquerda. Qual das alternativas repre- Esta é a força
resultante sobre
senta a terceira força exercida?
a caixa.
A caixa é
res
representada
como uma
partícula.
Duas das três
forças exercidas
sobre um objeto FIGURA 5.2 Duas forças exercidas sobre
(a) (b) (c) (d) uma caixa.

5.2 Um curto catálogo de forças


Existem muitas forças com as quais trabalharemos repetidas vezes. Esta seção o intro-
duzirá a algumas delas. Muitas dessas forças possuem símbolos especiais. Quando você A força gravitacional puxa o
estudar as principais forças, deverá memorizar o símbolo usado para cada uma delas. caixote para baixo.

Gravidade
Uma pedra em queda é puxada para baixo pela Terra através da força de ação a distância
da gravidade. A gravidade ⫺ o único tipo de força de ação a distância que encontraremos
nos próximos capítulos ⫺ mantém você sobre uma cadeira, mantém os planetas em suas
órbitas em torno do Sol e determina a forma da estrutura de larga escala do universo.
Veremos a gravidade mais detalhadamente no Capítulo 13. Por ora, nos concentraremos
em corpos sobre a superfície da Terra ou próximos dela (ou de outro planeta). Solo
O puxão gravitacional de um planeta sobre um corpo em sua superfície ou próximo
FIGURA 5.3 Gravidade.
dela é chamada de força gravitacional. O agente da força gravitacional é o planeta intei-
ro que puxa o objeto. A gravidade é exercida sobre todos os corpos, estejam eles se mo-
vendo ou parados. O símbolo para a força gravitacional é . O vetor força gravitacional
sempre aponta verticalmente para baixo, como ilustrado na FIGURA 5.3.

NOTA  Freqüentemente nos referiremos ao “peso” de um objeto. Para um corpo em


repouso sobre a superfície de um planeta, seu peso é, simplesmente, o módulo FG
da força gravitacional. Todavia, peso e força gravitacional não são a mesma coisa,
assim como peso não é a mesma coisa que a massa. Examinaremos a massa mais
adiante neste capítulo, e exploraremos as ligações sutis entre a gravidade, o peso e a
massa no Capítulo 6. 

Força elástica de uma mola


As molas exercem uma das forças de contato mais comuns. Uma mola pode empurrar
(quando comprimida) ou puxar (quando esticada). A FIGURA 5.4 mostra a força elástica,
para a qual usaremos o símbolo . Em ambos os casos, empurrando ou puxando, a Uma mola esticada exerce uma força sobre
cauda do vetor força está localizada sobre a partícula no diagrama de força. um objeto em contato com ela.

21
Uma mola comprimida exerce um Uma mola esticada exerce um
empurrão sobre um objeto. puxão sobre um objeto.

elast
(a) elast (b)

FIGURA 5.4 A força elástica de uma mola.

Embora você possa estar pensando em uma mola como um uma espiral metálica que
pode ser esticada ou comprimida, isto é somente um tipo de mola. Segure pelas extre-
midades uma régua de madeira, ou qualquer outro pedaço fino de madeira ou metal, e
dobre-a ligeiramente. Ela flexiona. Quando você a libera, ela retorna á forma original.
Isso é exatamente o que uma mola de espiral metálica faz.

Força de tensão
A corda exerce uma força de Quando um barbante, uma corda ou um arame puxa um objeto, ele exerce uma força de
tensão sobre o trenó. contato que chamamos de força de tensão, representada pela letra maiúscula . A orien-
tação da força de tensão é a mesma do barbante ou da corda, como se pode ver na FIGURA
5.5. A referência usual à “tensão” em um barbante é uma maneira informal de expressar
o que se denota por T, o tamanho ou módulo da força de tensão.

NOTA  A tensão é representada pelo símbolo T. Isso é lógico, mas existe o risco
FIGURA 5.5 Tensão.
de se confundir o símbolo T da tensão com o símbolo T de período do movimen-
to circular. O número de símbolos usados em ciência e engenharia excede em
muito o número de letras do alfabeto latino. Mesmo tomando emprestadas as
letras do alfabeto grego, os cientistas inevitavelmente acabam usando algumas
letras diversas vezes para representar grandezas inteiramente diferentes. O uso
de T é a primeira ocorrência deste problema, mas não será a última. Você deve
ficar alerta para o contexto em que um símbolo é usado para poder deduzir seu
significado. 

Corda Se usássemos um microscópio muito poderoso para olhar o interior de uma corda,
“veríamos” que ela é formada por átomos mantidos juntos por meio de ligações atômi-
cas. As ligações atômicas não são conexões rígidas entre átomos. Elas se parecem mais
Visualização com minúsculas molas mantendo os átomos juntos, como na FIGURA 5.6. Puxando-se as
de uma corda extremidades de um barbante ou de uma corda, estica-se ligeiramente as molas atômi-
em nível atô-
mico, onde as cas. A tensão dentro da corda e a força de tensão experimentada por um objeto em con-
Ligações
moleculares ligações são tato com uma das extremidades da corda são, de fato, a força resultante exercida por bi-
representadas lhões e bilhões de molas microscópicas.
Átomos por molas. Esta visão da tensão em escala atômica introduz uma nova idéia: a de um modelo
atômico microscópico para a compreensão do comportamento e das propriedades dos
objetos macroscópicos. Trata-se de um modelo porque átomos e ligações atômicas não
FIGURA 5.6 Um modelo atômico da tensão. são, realmente, pequenas bolas e molas. Estamos usando conceitos macroscópicos ⫺
bolas e molas ⫺ para entender fenômenos em escala atômica que não podemos ver ou
sentir diretamente. Este é um bom modelo para explicar as propriedades elásticas dos
materiais, mas ele não seria necessariamente um bom modelo para explicar outros fenô-
menos. Com freqüência usaremos modelos atômicos para obter uma compreensão mais
profunda do que observamos.

Força normal
Se você sentar em um colchão de molas, estas serão comprimidas e, em conseqüência
disso, exercerão uma força orientada para cima sobre você. Molas mais duras sofreriam
menor compressão, mas ainda assim exerceriam forças orientadas para cima. Pode ser
que a compressão de molas extremamente duras seja mensurável apenas por instrumen-
tos sensíveis. Apesar disso, as molas seriam comprimidas ainda que ligeiramente e exer-
ceriam uma força orientada para cima sobre você.

22
A FIGURA 5.7 mostra um objeto estacionário sobre o tampo duro de uma mesa. A mesa
pode não flexionar ou encurvar visivelmente, mas ⫺ da mesma forma como você fez com
o colchão de molas ⫺ o objeto comprime as molas atômicas da mesa. O tamanho da com-
PHYSICS
pressão é muito pequeno, mas não é nulo. Como conseqüência, as molas atômicas compri- Knight

Knight
Jones
Field
midas empurram para cima o objeto. Dizemos que “a mesa” exerce uma força para cima,
mas é importante que se compreenda que o empurrão é, de fato, realizado pelas molas As molas atômicas
atômicas. Analogamente, um objeto em repouso sobre o solo comprime as molas atômicas comprimidas empurram
que o mantêm íntegro e, conseqüentemente, o solo empurra o abjeto para cima. o objeto para cima.
Podemos ampliar esta idéia. Suponha que você encoste sua mão sobre uma parede e a
empurre, como ilustrado na FIGURA 5.8. A parede exercerá uma força sobre sua mão? Quando Átomos
você empurra, comprime as molas atômicas da parede e, como conseqüência, elas empurram Ligações atômicas
sua mão de volta. Logo, a resposta é sim, a parede realmente exerce uma força sobre você.
A força exercida pelo tampo da mesa é vertical; a força que a parede exerce é hori-
zontal. Em todos os casos, a força exercida sobre um objeto que pressiona uma superfí-
cie tem uma direção perpendicular à superfície. Os matemáticos se referem a uma reta
FIGURA 5.7 Um modelo atômico da força
que é perpendicular a uma superfície como sendo normal a esta. Mantendo esta termi-
exercida por uma mesa.
nologia, definimos a força normal como aquela exercida por uma superfície (o agente)
contra um objeto que a está pressionando. O símbolo para a força normal será . As molas atômicas
Não estamos empregando a palavra normal para significar que se trata de uma força comprimidas da
“comum” ou para diferenciá-la de uma “força anormal”. Uma superfície exerce uma parede empurram
a mão da moça
força perpendicular (i.e., normal) a si mesma quando as molas atômicas empurram para
para fora.
fora. A FIGURA 5.9 mostra um objeto sobre uma superfície plana inclinada, uma situação
inteiramente comum. Note que a força normal é perpendicular à superfície.
Gastamos um bocado de tempo descrevendo a força normal porque muitas pessoas
levam tempo para entendê-la. A força normal é uma força real que surge da compressão
real das ligações atômicas. Ela é, em essência, uma força elástica de uma mola, mas
exercida por um número enorme de molas microscópicas agindo juntas. A força normal
é responsável pela “solidez” dos corpos sólidos. É ela que impede você de atravessar
direto através da cadeira onde está sentado e é ela que causa dor e que o machuca quando
você bate sua cabeça em uma porta. Sua cabeça pode, então, dizer-lhe que a força exer- FIGURA 5.8 A parede empurra para fora.
cida sobre ela pela porta é bem real!

Força de atrito
Certamente você já observou que um objeto rolando ou escorregando, se não for em-
purrado ou propelido, desacelera até parar. Provavelmente você já descobriu que pode
deslizar mais sobre uma camada de gelo do que sobre o asfalto. Você também sabe que a
maioria dos objetos ficam parados sobre uma mesa, sem deslizar para fora dela, mesmo
se a mesa não estiver perfeitamente nivelada. A força responsável por este tipo de com-
portamento é o atrito. O símbolo para o atrito é a letra minúscula .
A superfície empurra para fora a
O atrito, como a força normal, é exercido por uma superfície. Mas enquanto a força parte inferior do corpo do sapo.
normal é perpendicular à superfície, a força de atrito é sempre tangente à superfície. Ao O empurrão é perpendicular à
nível microscópico, o atrito surge quando os átomos do objeto e da superfície movem-se superfície.
uns em relação aos outros. Quanto mais rugosa for a superfície, mais estes átomos serão
FIGURA 5.9 A força normal.
forçados a se aproximar e, como resultado, surgirá uma grande força de atrito. No próxi-
mo capítulo, desenvolveremos um modelo simples para o atrito que será suficiente para
nossas necessidades. Por ora, é útil distinguir entre dois tipos de atrito:

■ O atrito cinético, denotado por , aparece quando um objeto desliza ao longo de


uma superfície. É uma força “oposta ao movimento”, o que significa que o vetor
força de atrito tem sentido oposto ao do vetor velocidade (i.e., “o movimento”).
■ O atrito estático, denotado por , é a força que mantém um objeto “grudado” sobre
uma superfície e que o impede de se mover. Determinar a orientação de é um
pouco mais complicado do que encontrar a de . O atrito estático aponta no sentido
oposto àquele em que o objeto se movimentaria se não existisse o atrito, ou seja, ele
tem a orientação necessária para impedir a ocorrência do movimento.

A FIGURA 5.10 mostra exemplos de atrito cinético e estático.

NOTA  Uma superfície exerce uma força de atrito cinético quando um objeto se move
em relação à superfície. Uma mala sobre uma esteira rolante encontra-se em movi-
mento, mas não experimenta uma força de atrito cinético por não estar se movimentan-

23
e

O atrito estático
O atrito cinético se atua com uma orien-
opõe ao movimento. tação tal que impede
o deslizamento.
c

FIGURA 5.10 Atritos cinético e estático.

do em relação à esteira. Para sermos precisos, deveríamos dizer que a força de atrito ci-
nético tem sentido oposto ao do movimento de um objeto com relação à superfície. 

Força de arraste
A resistência do ar é uma força significativa no A força de atrito em uma superfície é um exemplo de força de resistência ou resistiva, uma
caso da queda de folhas. Ela aponta em sentido força que se opõe ou resiste ao movimento. Forças resistivas também são experimentadas
oposto ao do movimento. por objetos que se movem no interior de um fluido ⫺ um gás ou um líquido. A força resisti-
va de um fluido é chamada de força de arraste e simbolizada por (D de drag, que quer
dizer arraste). A força de arraste, como o atrito cinético, tem sentido oposto ao do movimen-
to. A FIGURA 5.11 mostra um exemplo de força de arraste.
A força de arraste pode ser grande para objetos que se movem com altas velocidades ou
em fluidos densos. Mantenha sua mão fora da janela de seu carro em movimento e sinta a
resistência do ar contra ela quando a velocidade do carro aumenta rapidamente. Solte um
objeto leve em uma bacia com água e observe como ele afunda até o fundo. Em ambos os
casos, a força de arraste é muito significativa.
FIGURA 5.11A resistência do ar é um Para objetos pesados e compactos, movendo-se no ar e com velocidade não muito gran-
exemplo de força de arraste. de, a força de arraste do ar é muito pequena. Para manter as coisas tão simples quanto
possível, você pode desprezar a resistência do ar em todos os problemas a menos que
lhe seja pedido explicitamente para incluí-la. O erro introduzido nos cálculos por esta
aproximação geralmente é muito pequeno. Este livro não abordará o caso de objetos se
movendo em líquidos.

Força de empuxo
Durante a decolagem, um avião a jato obviamente é impulsionado para a frente por uma
força. Da mesma forma ocorre com o foguete mostrado durante o lançamento na FIGURA
A força de empuxo é empuxo 5.12. Esta força, chamada de empuxo, ocorre quando o motor de um jato ou de um foguete
exercida sobre o foguete expele moléculas de gás em altas velocidades. O empuxo é uma força de contato, com os
pelos gases de gases da exaustão correspondendo ao agente que empurra o motor. O processo pelo qual o
exaustão.
empuxo é gerado é bastante sutil, e adiaremos sua discussão até que estudemos a terceira lei
de Newton no Capítulo 7. Por ora, abordaremos o empuxo como sendo uma força de sentido
contrário ao dos gases expelidos. Não existe um símbolo especial para o empuxo, de modo
que o denotaremos por .
FIGURA 5.12 A força de empuxo de um
foguete. Forças elétricas e magnéticas
A eletricidade e o magnetismo, como a gravidade, exercem forças de ação a distância. As
forças elétricas e magnéticas são exercidas sobre partículas eletricamente carregadas. Estu-
daremos as forças elétricas e magnéticas detalhadamente na Parte VI deste livro. Por ora,
não é relevante que as forças que mantêm juntas as moléculas ⫺ ligações moleculares ⫺
não sejam realmente como as de pequenas molas. Os átomos e as moléculas são constituí-
dos de partículas carregadas ⫺ elétrons e prótons ⫺, e o que chamamos de ligação mole-
cular é realmente uma força elétrica entre tais partículas. Assim, quando dissermos que a
força normal e a força de tensão devem-se a “molas atômicas” ou que o atrito se deve ao
movimento de uns átomos sobre os outros, o que realmente estaremos querendo expressar é
que estas forças, no nível mais fundamental são, de fato, forças elétricas entre as partículas
carregadas no interior dos átomos.

24
11.1 Condições de equilíbrio
No Capítulo 4, vimos que a condição necessária para o equilíbrio estático é a ausência de força
resultante externa. Nesse caso, a Primeira Lei de Newton estipula que um corpo permanece em
repouso ou se move com velocidade constante. Porém, frequentemene queremos encontrar as
condições necessárias para um corpo rígido permanecer em repouso em equilíbrio estático.
Um corpo (ou conjunto de corpos) está em equilíbrio estático se ele estiver em repouso e não
experimentar movimentos translacionais ou rotacionais. A Figura 11.2 mostra um famoso
exemplo de um conjunto de corpos em equilíbrio estático. Parte do que faz esta instalação tão
espantosa é que o olho não quer aceitar que a configuração seja estável.
A condição para nenhum movimento translacional ou rotacional é que as velocidades li-
Figura 11.2 Essa instalação de
near e angular de um corpo em equilíbrio estático sejam sempre zero. O fato de as velocidades 440 kg, criada por Alexander Calder,
linear e angular não variarem com o tempo, implica que as acelerações linear e angular também pende do teto na National Gallery
sejam nulas todo o tempo. No Capítulo 4, vimos que a Segunda Lei de Newton, of Art (Washington, DC) em perfeito
equilíbrio estático.
(11.1)
implica o fato de que, se a aceleração linear, , é zero, a força externa resultante, , deve
ser zero. Além disso, no Capítulo 10 observou-se que a Segunda Lei de Newton para rotação,
(11.2)
implica o fato de que, se a aceleração angular, , é zero, o torque, , deve ser zero. Esses fatos
conduzem a duas condições de equilíbrio estático.

Condição de equilíbrio estático 1


Um corpo pode permanecer em equilíbrio estático somente se a força resultante atuando
sobre ele for zero:
(11.3)
Continua

25
N
Pino de
Condição de equilíbrio estático 2
sustentação Um corpo pode permanecer em equilíbrio estático somente se o torque resultante atuando
sobre ele for zero:
Centro de
massa
(11.4)
Fg
Mesmo se a Primeira Lei de Newton for satisfeita (nenhuma força resultante atua sobre o
corpo) e um corpo não tenha movimento translacional, ele ainda irá girar, se experimentar
(a) um torque resultante.

É importante lembrar que o torque é sempre definido em relação a um ponto de pivô (o ponto
N onde o eixo de rotação cruza o plano definido por e , também chamado de ponto de rota-
ção). Quando calculamos o torque resultante, o ponto de pivô dever ser o mesmo para todas
as forças envolvidas no cálculo. Se tentarmos resolver um problema de equilíbrio estático com
torque resultante tendendo a zero, para qualquer ponto de pivô escolhido, o torque resultante
deve ser zero. Assim, temos a liberdade de selecionar um ponto de pivô que melhor se adapte a
␪ Fg nosso propósito. Uma seleção inteligente de um ponto de pivô é, frequentemente, a chave para
uma rápida solução. Por exemplo, se força desconhecida está presente no problema, podemos
selecionar o ponto onde a força atua como ponto de pivô. Então, aquela força não entrará na
equação do torque, porque ela tem o braço de alavanca de comprimento zero.
(b) Se um corpo é suportado por um pino localizado diretamente acima de seu centro de
massa, como na Figura 11.3a (onde o ponto vermelho marca o centro de massa), então, o corpo
Figura 11.3 (a) Este corpo experimen-
permanece equilibrado; isto é, ele não começa a girar, Por quê? Porque, nesse caso, somente
ta torque resultante zero, porque ele
duas forças atuam sobre o corpo – a força da gravidade, (seta azul), e a força normal (seta
está sustentado por um pino localizado
exatamente acima do centro de massa. verde), do pino – e elas ficam sobre a mesma linha (linha amarela na Figura 11.3a). As duas
(b) Um torque é resultante quando o forças se cancelam reciprocamente e não produzem torque resultante, resultando em equilíbrio
centro de massa do mesmo corpo está estático; o corpo está em equilíbrio.
em uma localização não exatamente Por outro lado, se um corpo é suportado, da mesma maneira, por um pino, mas seu centro
abaixo do ponto de suporte. de massa não está abaixo do ponto de suporte, então, a situação é aquela mostrada na Figura
11.3b. Os vetores força gravitacional e força normal ainda apontam em direções opostas, po-
rém, um torque resultante diferente de zero, agora, atua, porque o ângulo ␪ entre o vetor força
gravitacional, , e o braço de alavanca (direcionado ao longo da linha amarela) não é mais zero.
Esse torque viola a condição de que o torque resultante deve ser zero para o equilíbrio estático.
Contudo, suspender um corpo por diferentes pontos é um método prático para encontrar o
centro de massa do corpo, mesmo um corpo de formas estranhas, como o da Figura 11.3.

Localizando experimentalmente o centro de massa


Para localizar experimentalmente o centro de massa de um corpo, podemos pendurar o corpo
por um pino de tal maneira que ele possa girar livremente ao redor do pino e, então, deixá-lo
vir ao repouso. Uma vez que o corpo esteja em repouso, seu centro de massa é localizado sobre
a linha diretamente abaixo do pino. Suspendemos um peso (um fio de prumo, na Figura 11.4)
(a) pelo mesmo pino usado para suportar o corpo e ele identifica a linha. Marcamos essa linha so-
bre o corpo. Se fizermos isso para dois pontos de suporte, a intersecção das duas linhas marcará
a localização exata do centro de massa.
Você pode usar outra técnica para determinar a localização do centro de massa para mui-
tos corpos (veja Figura 11.5). Você simplesmente apoia o corpo entre sobre dois dedos coloca-
dos de tal maneira que o centro de massa esteja localizado em algum lugar entre eles. (Se esse
não é o caso, você saberá logo, porque o corpo cairá.) Então, vagarosamente, escorregue os de-
dos para mais perto um do outro. No ponto onde se encontram, eles estão diretamente abaixo
do centro de massa e o corpo está em equilíbrio sobre as pontas dos dedos.
Por que essa técnica funciona? O dedo que está mais perto do centro de massa exerce uma
força normal maior sobre o corpo. Assim, quando em movimento, este dedo exerce uma força de
atrito maior sobre o corpo do que o dedo que está mais longe. Consequentemente, se os dedos
(b) deslizam um em direção ao outro, o dedo que está mais perto do centro de massa levará o corpo
Figura 11.4 Encontrando o centro suspenso junto com ele. Isso continua até o outro dedo ficar mais perto do centro de massa,
de massa para um corpo de formas quando o efeito é revertido. Desse jeito, os dois dedos sempre mantêm o centro de massa locali-
arbitrárias. zado entre eles. Quando os dedos estão próximos um do outro, o centro de massa está localizado.

26
Na Figura 4.6, mostrando a mão sustentando um laptop, o vetor força , exercido pela
mão sobre o laptop, atuou no centro do computador, exatamente como o vetor força gravitacio-
nal, mas em direção oposta. É preciso que a mão seja colocada diretamente abaixo do centro de
massa do computador. De outro modo, se o centro de massa não fosse sustentado diretamente
abaixo, o computador tombaria.

Equações de equilíbrio
Com um entendimento qualitativo dos conceitos e condições para o equilíbrio estático, pode-
mos formular as condições de equilíbrio para mais uma análise quantitativa. No Capítulo 4,
verificamos que a condição de força resultante zero se traduz em três equações independentes
no espaço tridimensional, uma para cada componente cartesiana da força resultante zero (refi-
ra-se à equação 11.3). Além disso, a condição de torque resultante zero nas três dimensões tam-
bém implica em três equações para as componentes do torque resultante (refira-se à equação
11.4), representando rotações independentes sobre os três possíveis eixos de rotação, os quais
são todos perpendiculares entre si. Neste capítulo, não trataremos de situações tridimensionais Figura 11.5 Determinando experi-
(envolvendo seis equações), em vez disso, nos concentraremos em problemas de equilíbrio mentalmente o centro de massa de
um taco de golfe.
estático no espaço bidimensional, isto é, no plano. No plano, existem dois independentes graus
translacionais de liberdade para um corpo rígido (nas direções x e y) e uma possível rotação,
ou no sentido horário ou anti-horário, ao redor de um eixo de rotação, que é perpendicular ao
plano. Assim, as duas equações para as componentes da força resultante são

(11.5)

(11.6)

No Capítulo 10, o torque resultante sobre um eixo fixo de rotação foi definido como a diferença
entre a soma dos torques anti-horários e a soma dos torques horários. A condição de equilíbrio
estático de torque resultante zero sobre cada eixo de rotação pode, assim, ser

(11.7)

Essas três equações (11.5 até 11.7) formam a base para a análise quantitativa do equilíbrio está-
tico nos problemas deste capítulo.

11.2 Exemplos envolvendo equilíbrio estático


As duas condições para equilíbrio estático (força e torque resultantes zero) são as que preci-
samos para resolver uma grande variedade de problemas envolvendo equilíbrio estático. Não
precisamos do cálculo para resolver esses problemas; todos os cálculos usam somente álgebra
e trigonometria. Vamos iniciar com um exemplo para o qual as respostas parecem óbvias. Isso
fornecerá a prática com o método e mostrará que isso conduz à resposta certa.

EXEMPLO 11.1 Gangorra


Uma gangorra em uma praça de recreação consiste em um pivô e de uma barra, de massa M, a
qual está posta sobre o pivô, de maneira que as extremidades podem mover-se para cima e para
baixo livremente (Figura 11.6a). Um corpo de massa m1 é colocado sobre uma extremidade da
barra, a uma distância r1 do ponto de pivô, como mostrado na Figura 11.6b, que desce, simples-
mente, devido à força e do torque que o corpo exerce sobre ela.

PROBLEMA 1
Onde temos que colocar um corpo de massa m2 (assumida igual à massa m1) para que a gangorra
fique em equilíbrio, com a barra na horizontal e nenhuma das extremidades toque o chão?
Continua →

27
SOLUÇÃO 1
A Figura 11.6b é um diagrama de queda livre da barra, mostrando as forças atuantes sobre ela e
os pontos onde elas atuam. A força que m1 exerce sobre a barra é simplesmente m1g, atuando para
baixo, como mostrado na Figura 11.6b. O mesmo é verdadeiro para a força que m2 exerce sobre a
barra. Além disso, em função de a barra ter massa própria M, ela experimenta uma força gravita-
cional, Mg. A força gravitacional atua no centro de massa, no meio da barra. A força final atuando
sobre a barra é a força normal, N, exercida pelo suporte da barra. Ela atua exatamente no eixo da
gangorra (marcado com um ponto laranja).
A equação de equilíbrio para as componentes y das forças conduz à expressão para o valor
(a) da força normal:

x
N
Os sinais à frente das componentes individuais das forças indicam se elas
r1 r2
atuam para cima (positivo) ou para baixo (negativo).
m1 m2
M Em virtude de todas as forças atuarem na direção y, não é necessário escrever
as equações para as componentes da força resultante nas direções x e z.
m1gyˆ Podemos, agora, considerar o torque resultante. A seleção do apropriado
Mgŷ m2 gŷ ponto de pivô pode fazer nossos cálculos ficarem simples. Para uma gangorra,
a seleção natural está no eixo, o ponto marcado com um ponto laranja no centro
(b)
da barra, na Figura 11.6b. Em função da força normal, N, e do peso da barra, Mg,
Figura 11.6 (a) Uma gangorra de praça de atuarem exatamente através desse ponto, seus braços de alavanca tem compri-
recreação; (b) Diagrama de queda livre mos- mento zero. Assim, essas duas forças não contribuem para a equação do torque, se
trando forças e braços de alavanca. este é selecionado como ponto de pivô. As forças F1 = m1g e F2 = m2g são somente
aqueles torques contribuintes: F1 gera um torque anti-horário e F2 gera um torque
horário. A equação do torque é, então

Mesmo que eles se igualem a 1 e, assim, não tenham efeito, os fatores sen90º estão incluídos como
um lembrete de que o ângulo entre a força e o braço de alavanca geralmente afeta o cálculo dos
torques.
A questão foi onde colocar m2 para o caso em que as duas massas fossem as mesmas: a res-
posta é r1 = r2, nesse caso. Este resultado esperado mostra que nosso caminho sistemático de apro-
ximação da solução funciona nesse caso facilmente verificável.

PROBLEMA 2
Quão grande m2 precisa ser para equilibrar m1, se r1 = 3r2, isto é, se m2 está três vezes mais perto
do ponto de pivô do que m1?

SOLUÇÃO 2
Usamos o mesmo diagrama de queda livre (Figura 11.6b) e chegamos à mesma equação geral para
as massas e distâncias. Resolvendo a equação (i) para m2, temos

Usando r1 = 3r2, obtemos

Para esse caso, achamos que a massa m2 deve ser três vezes m1 para estabelecermos equilíbrio
estático.

28
PROBLEMA 3
O que acontece à medida que o estudante sobe mais alto na escada?

SOLUÇÃO 3
Da equação (ii), vemos que R cresce mais com o aumento de r. Eventualmente, essa força supera a
força máxima de atrito estático e a escada irá escorregar. Você pode, agora, compreender por que
não é uma boa ideia subir tão alto numa escada nesse tipo de situação.

11.3 Estabilidade de estruturas


Para um arranha-céu ou uma ponte, projetistas e construtores precisam preocupar-se sobre a
habilidade da estrutura em permanecer de pé sob influência de forças externas. Por exemplo,
após resistir por 40 anos, a ponte que levava a Interstate 35W, por sobre o rio Mississipi, em
Minneapolis, mostrada na Figura 11.13, ruiu em 1º de agosto de 2007 provavelmente por cau-
sas relacionadas ao projeto. O colapso desta ponte e outros desastres arquiteturais são doloro-
sas lembranças de que a estabilidade das estruturas é uma preocupação primordial.
Vamos tentar quantificar o conceito de estabilidade olhando a Figura 11.14a, que mostra
uma caixa em equilíbrio estático, repousando sobre uma superfície horizontal. Nossa expe-
riência nos diz que se você usa um dedo para empurrar com uma pequena força, da maneira
mostrada na figura, a caixa permanece na mesma posição. A pequena força que exercemos
sobre a caixa é exatamente equilibrada pela força de atrito entre a caixa e a superfície que a
apoia. A força resultante é zero e não há movimento. Se aumentarmos constantemente o mó-
dulo da força que aplicamos, então, existem dois possíveis resultados: se a força de atrito não é
suficiente para contrabalançar a força exercida pelo dedo, a caixa começa a escorregar para a
direita. Ou, se o torque da força de atrito sobre o centro de massa da caixa for menor do que o
torque por causa da força aplicada, a caixa começa a inclinar, como mostrado na Figura 11.14b.
Figura 11.13 A ponte que levava a Assim, o equilíbrio estático da caixa é estável em relação a pequenas forças externas, mas uma
Interstate 35W, por sobre o rio Mis- força externa suficientemente grande destrói o equilíbrio.
sissipi, em Minneapolis, ruiu em 1º Esse simples exemplo ilustra a característica da estabilidade. Engenheiros precisam ser
de agosto de 2007, durante a hora do capazes de calcular as forças externas máximas e os torques que podem estar presentes sem
rush. abalar a estabilidade de uma estrutura.

Condição quantitativa para estabilidade


Com o intuito de quantificar a estabilidade de uma situação de equilíbrio, iniciamos com a
relação entre energia potencial e força, do Capítulo 6:

Em uma dimensão, isso é

(a)
Uma força resultante tendendo a zero é uma das condições de equilíbrio, que podemos escre-
ver como , ou como em uma dimensão,

em um dado ponto no espaço. Até aqui, a condição de tender a zero a primeira derivada não
adiciona nova informação. Entretanto, podemos usar a segunda derivada da função energia
potencial para distinguir três casos diferentes, dependendo do sinal da segunda derivada.

Caso 1 equilíbrio estável

(b) (11.8)
Figura 11.14 (a) Empurrando com
uma pequena força a borda superior
de uma caixa. (b) Exercendo uma for- Se a segunda derivada da função energia potencial em relação à coordenada é positiva em um
ça maior sobre a caixa a faz inclinar. ponto, então, a energia potencial tem um mínimo local nesse ponto. O sistema está em equi-

29
líbrio estável. Nesse caso, um pequeno desvio da posição de equilíbrio cria uma força restau- U(x)
radora que leva o sistema de volta ao ponto de equilíbrio. Essa situação é ilustrada na Figura d2U(x)
⬎0
11.15a: se o ponto vermelho é movido para longe de sua posição de equilíbrio, em x0, ou na dx2 x0
direção positiva ou na direção negativa e solto, ele retornará à posição de equilíbrio.
x
Caso 2 Equilíbrio instável x0

(a)
(11.9)
U(x)

d2U(x)
Se a segunda derivada da função energia potencial em relação à coordenada é negativa em um ⬍0
dx2 x0
ponto, então, a energia potencial tem um máximo local nesse ponto. O sistema está em equilíbrio
instável. Nesse caso, um pequeno desvio da posição de equilíbrio cria uma força que leva o siste- x
x0
ma para longe do ponto de equilíbrio. Essa situação é ilustrada na Figura 11.15b: se o ponto ver-
melho é movido, mesmo que levemente, para longe de sua posição de equilíbrio, em x0, ou na di- (b)
reção positiva ou na direção negativa e solto, ele será movido para longe da posição de equilíbrio.
U(x)
Caso 3 Equilíbrio neutro d2U(x)
⫽0
dx2 x0

(11.10)
x
x0
O caso em que o sinal da segunda derivada da função energia potencial em relação à coordena-
(c)
da não é nem positivo nem negativo em um ponto é chamado de equilíbrio neutro, também
referido como indiferente ou marginalmente estável. Essa situação é ilustrada na Figura 11.15c: Figura 11.15 Forma local da fun-
se o ponto vermelho é deslocado por uma pequena quantidade, ele nem retornará e nem se ção energia potencial em um ponto
de equilíbrio: (a) equilíbrio estável;
moverá para longe de sua posição original de equilíbrio. Em vez disso, ele simplesmente per-
(b) equilíbrio instável; (c) equilíbrio
manecerá na nova posição, que é também uma posição de equilíbrio.
neutro.

30
Derivadas: definição
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Definir derivada de uma função como o limite de uma razão


incremental.
„ Analisar geometricamente o conceito de derivada.
„ Determinar a equação da reta tangente a partir do conceito de
derivada.

Introdução
Pensando na função de uma variável, temos a abscissa (x) e a função
f(x) ou y, cujo valor depende da variável x. Por definição, o incremento
da variável x é dado por x – a, e o incremento da função f(x) é dado por
f(x) – f(a). Portanto, a razão incremental é . O estudo se dá por
meio de representações gráficas e exemplos detalhados, ou seja, você
acompanhará uma noção mais intuitiva e, em seguida, a formalização
em rigor matemático.
Veremos como as retas secantes tendem para a reta tangente,
a inclinação da reta tangente, além das interpretações de derivada.
As derivadas são bastante utilizadas na otimização de problemas – por
exemplo, quando se tem interesse em obter a maximização ou minimiza-
ção de um determinado fenômeno – e em aplicações na física, biologia
e administração.
Neste capítulo, você estudará o limite como uma razão incremental –
a saber, incremento em linguagem matemática significa variação. Análises
geométricas são propostas com as devidas interpretações e exemplifi-
cações. Além disso, chama-se atenção para as diferentes notações com
as quais você pode se deparar.

31
Derivada de uma função
3DUDLQLFLDUPRVRHVWXGRGDGHULYDGDFRQYpPUHFRUGDUDGH¿QLomRGHUHWD
WDQJHQWHDXPJUi¿FRHFDOFXODUDVXDLQFOLQDomRFRPRPRVWUDPRVQD)LJXUD
5HWDVHFDQWHpTXDOTXHUUHWDTXHSDVVDSRUGRLVSRQWRVGHXPDFXUYDRXXP
JUi¿FRFXMDLQFOLQDomRSRGHVHUFDOFXODGDVXSRQGRGRLVSRQWRVP e Q do
JUi¿FRGHy = f(x 2EVHUYHD)LJXUD6HP = (a, f(a)) e Q = (x, f(x)) com xa,
WHPRV D LQFOLQDomR GD UHWD VHFDQWH SRU P e Q = , em que
¨f = f(x) – f(a H¨x = x – a$UD]mRLQFUHPHQWDOpGDGDSHODH[SUHVVmR
52*$:6., 

Figura 1. Inclinação das retas secante e tangente.


Fonte: Rogawski (2008, p. 97).

$VUHSUHVHQWDo}HVJUiILFDVGD)LJXUDDVHJXLUPRVWUDPRTXHDFRQWHFH
FRPRSRQWRQ quando tende a P, ou quando x tende a a.

32
(a) (b)

(c) (d)

Figura 2. As retas secantes tendem para a reta tangente quando Q tende a P.


Fonte: Rogawski (2008, p.98).

1RWHTXHDVUHWDVVHFDQWHVWHQGHPDILFDUFDGDYH]PDLVSUy[LPDVGDUHWD
WDQJHQWH6XSRQKDTXHQHVWiVHPRYHQGRHPGLUHomRDPHQWmRSDUHFHTXH
DVUHWDVVHFDQWHVJLUDPSDUDDUHWDWDQJHQWHFRPRGHPRQVWUDGRQD)LJXUDG
3RGHPRVHQWmRHVSHUDUTXHDVLQFOLQDo}HVGDVUHWDVVHFDQWHVWHQGDPjLQFOL-
QDomRGDUHWDWDQJHQWH6HQGRDVVLPDGHULYDGDfƍ(a SRGHVHUGHILQLGDFRPR
R OLPLWHfƍ(a) =  52*$:6., 

33
Outra forma de escrever a razão incremental é usando a variável h:

h=x–a

Temos x = a + h e x ≠ a, conforme a Figura 3:

Figura 3. Reta secante e razão incremental em termos de h.


Fonte: Rogawski (2008, p. 98).

A variável h tende a 0 quando x ĺ a. Portanto, podemos reescrever a derivada como:

Fonte: Rogawski (2008, p. 98).

34
5RJDZVNL S GHILQHIRUPDOPHQWHDGHULYDGDFRPRDGHULYDGD
GHXPDIXQomRf em x = apROLPLWH VHH[LVWLU GDVUD]}HVLQFUHPHQWDLV

4XDQGRH[LVWLUROLPLWHGL]HPRVTXHfpGHULYiYHOHPx = aRXHQWmRTXH
pGLIHUHQFLiYHOHx = a8PDGHILQLomRHTXLYDOHQWHp

Exemplo
(QFRQWUHDGHULYDGDGDIXQomRy xSHODGH¿QLomRGHOLPLWH

f ´(a) = 2

1DSUy[LPDVHomRLQWHQVLILFDUHPRVRHVWXGRGDGHULYDGDSRUPHLRGD
DQiOLVHJHRPpWULFDGHVHXFRQFHLWRFRPH[HPSORVGHWDOKDGRVSDUDHOXFLGDU
R FRQWH~GR

35
Análise geométrica de derivada
$QWRQ%LYHQVH'DYLV  XWLOL]DPXPDQRWDomRPXLWRVHPHOKDQWHj
TXHDFDEDPRVGHHVWXGDUSDUDDQDOLVDUJHRPHWULFDPHQWHRFRQFHLWRGHGHUL-
YDGD2VDXWRUHVGH¿QHPDUHWDWDQJHQWHDXPDFXUYDy = f(x HPXPSRQWR
P(x, f(x GDFXUYDFRPRPRVWUDDVHJXLQWH)LJXUD

Figura 4. A reta secante tende para a reta tangente quando


Q tende a P.
Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 132).

1HVVHFDVRFRQVLGHUHXPSRQWRQ(x, f(x QDFXUYDTXHVHMDGLVWLQWRGHP e


YHULILTXHDLQFOLQDomRmPQGDUHWDVHFDQWHSRUP e QmPQ = 4XDQGR
x tende a xHQWmRRSRQWRQDSUR[LPDVHGRSRQWRP6HDLQFOLQDomRmPQ da
UHWDVHFDQWHSRUP e QWHQGHUDXPOLPLWHTXDQGRxĺx, consideramos esse
OLPLWHFRPRDLQFOLQDomRmtg da reta tangente em P(QWmRVXSRQKDTXHxVHMD
XPSRQWRQRGRPtQLRGDIXQomRf$UHWDWDQJHQWHjFXUYDy = f(x QRSRQWR
P(x, f(x pDGHHTXDomRy – f(x) = mtg(x – x), em que
VHPSUHTXHH[LVWLUROLPLWH $1721%,9(16'$9,6 

36
Exemplo 1

(QFRQWUHDLQFOLQDomRGDUHWDWDQJHQWHjSDUiERODy = xQRSRQWR3  

Exemplo 2

(QFRQWUHDLQFOLQDomRGDUHWDWDQJHQWHjFXUYD QRSRQWRP   )LJXUD 

37
Figura 5. Inclinação da reta tangente à curva .
Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 133).

Exemplo 3

(QFRQWUHDVLQFOLQDo}HVGDVUHWDVWDQJHQWHVjFXUYD em x x 


e x 
3DUDWRUQDUDEXVFDPDLVHILFLHQWHHQFRQWUDUHPRVDLQFOLQDomRSDUDXP
YDORUDUELWUiULRGHxHGHSRLVVXEVWLWXLUHPRVRVYDORUHVQXPpULFRVHVSHFtILFRV

5DFLRQDOL]DQGRDH[SUHVVmRSDUDDMXGDUDHOLPLQDUDIRUPDLQGHWHUPLQDGD
GROLPLWH

38
$JRUDDVLQFOLQDo}HVHPx x Hx SRGHPVHUREWLGDVVXEVWL-
WXLQGRHVVHVYDORUHVQDIyUPXODJHUDOGHmtg )LJXUD 

,QFOLQDomRHP

,QFOLQDomRHP

,QFOLQDomRHP

Figura 6. Inclinações das retas tangentes à curva y = em x0


= 1, x0 = 4 e x0 = 9.
Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 133).

39
1RWHTXHjPHGLGDTXHxVHDSUR[LPDGH]HURSHODGLUHLWDRJUiILFRYDL
ILFDQGRPDLVYHUWLFDOWDQWRTXHDWDQJHQWHDRJUiILFRHPx pXPDUHWD
YHUWLFDOHRHL[RypXPDDVVtQWRWDYHUWLFDOSDUDDIXQomRDQWHULRU,VVRRFRUUH
SRUTXH

2XVHMDTXDQWRPDLVSHUWRGH]HURPDLVDLQFOLQDomRDXPHQWDHWHQGHDR
LQILQLWRXPDYH]TXHXPDUHWDYHUWLFDOID]ƒFRPDKRUL]RQWDOHQHVVHFDVR
QmRpSRVVtYHOREWHURYDORUGDLQFOLQDomR
3RURXWURODGRQDPHGLGDHPTXHx aumenta, isto é, xĺ’RJUiILFRYDL
ILFDQGRPDLVKRUL]RQWDO,VVRDFRQWHFHSRUTXHDLQFOLQDomRYDLVHDSUR[LPDQGR
GH]HURTXHpDLQFOLQDomRGRHL[RKRUL]RQWDO HL[Rx 

1HPWRGDVDVIXQo}HVFRQWrPGHULYDGDVHPWRGRVRVSRQWRVeSRVVtYHOTXH
ROLPLWHTXHGHILQHDGHULYDGDGHXPDIXQomRfQmRH[LVWDHPFHUWRVSRQWRVGR
GRPtQLRGHf3RUH[HPSORYLPRVTXHDIXQomR QmRSRVVXLGHULYDGD
em x 1HVVHVSRQWRVDGHULYDGDQmRHVWiGHILQLGD
%UDJD S GHVWDFDGXDVLQWHUSUHWDo}HVGHGHULYDGD

„ a derivada fƍGHXPDIXQomRfpDIXQomRFXMRYDORUHPxpDLQFOLQDomR
GDUHWDWDQJHQWHDRJUiILFRGHy = f(x) em x
„ a derivada fƍGHXPDIXQomRfpDIXQomRFXMRYDORUHPxpDWD[DGH
YDULDomRLQVWDQWkQHDGHy = f(x HPUHODomRxQRSRQWRx

1DSUy[LPDVHomRYHUHPRVFRPRGHWHUPLQDUDHTXDomRGDUHWDWDQJHQWH
DSDUWLUGRFRQFHLWRGHGHULYDGD

Equação da reta tangente


1HVWDVHomRYRFrDSUHQGHUiFRPRHQFRQWUDUXPDHTXDomRGHXPDUHWDWDQ-
JHQWHXVDQGRDGHULYDGD$OpPGLVVRYHUiUHSUHVHQWDo}HVJUi¿FDVFRQFHLWRV
HQRWDo}HVXVXDOPHQWHXWLOL]DGRVHPGHULYDGDV

40
5RJDZVNL  GHVWDFDTXHQDIRUPDSRQWRLQFOLQDomRDHTXDomRGDUHWD
WDQJHQWHSRUP = (a, b GHLQFOLQDomRmpGDGDSRUy – b = m(x – a (WDPEpP
GHILQHXPDUHWDWDQJHQWHGDVHJXLQWHPDQHLUD
³6XSRQKDTXHf(x VHMDGHULYiYHOHPx = a$UHWDWDQJHQWHDRJUiILFRGH
y = f(x) em P = (a, f(a pDUHWDSRUPGHLQFOLQDomRfƍ(a 8PDHTXDomRGDUHWD
tangente é y – f(a) = fƍ(a)(x – a ´ 52*$:6.,S 

Exemplo 1

(QFRQWUHXPDHTXDomRGDUHWDWDQJHQWHDRJUi¿FRGHf(x) = x em x 
3UHFLVDPRV FDOFXODU fƍ   ,VVR SRGH VHU IHLWR D SDUWLU GD HTXDomR


(PVHJXLGDDSOLFDPRVDHTXDomRy – f(a)(x – a) com a &RPRf   


XPDHTXDomRGDUHWDWDQJHQWHpy±  x± RXQDIRUPDLQFOLQDomR-
-corte, y x±FRPRPRVWUDGRQD)LJXUDDVHJXLU

Figura 7. Reta tangente a y = x2 em x = 5.


Fonte: Rogawski (2008, p. 99).

41
5RJDZVNL  DILUPDTXHWDPEpPFRQYpPYHUDGHULYDGDFRPRXPD
IXQomRfƍ(x HPTXHRYDORUHPXPSRQWRx = aSDUWLFXODUpfƍ(a $IXQomRfƍ(x)
DLQGDpGHILQLGDFRPRXPOLPLWHPDVRQ~PHURapVXEVWLWXtGRSHODYDULiYHO
x 6HQGRDVVLP

6Hy = f(x WDPEpPFRVWXPDPRVHVFUHYHUyƍ ou yƍ(x HPYH]GHfƍ(x 6mR


DSHQDVQRWDo}HVGLIHUHQWHVSDUDH[SUHVVDURPHVPRFRQFHLWR&DEHGHVWDFDU
TXHRGRPtQLRGHfƍ(x FRQVLVWHHPWRGRVRVYDORUHVGHxGRGRPtQLRGHf(x)
SDUDRVTXDLVH[LVWHROLPLWH3RGHVHDILUPDUTXHf(x pGHULYiYHOHP a, b)
RXHQWmRTXHpGLIHUHQFLiYHOHP a, b VHH[LVWLUfƍ(x SDUDFDGDx em (a, b 
4XDQGRGL]HPRVTXHfƍ(x pGHULYiYHO RXGLIHUHQFLiYHO VHPHVSHFLILFDUXP
LQWHUYDORTXHUHPRVLQGLFDUTXHfƍ(x H[LVWHSDUDWRGRxQRGRPtQLRGHf(x),
LQFOXVLYHQDVH[WUHPLGDGHVTXDQGRKRXYHU 52*$:6., 

Exemplo 2

Prove que f(x) = x3±xpGHULYiYHO&DOFXOHfƍ(x HHQFRQWUHXPDHTXDomRGD


reta tangente em x ±
3DUDFDOFXODUfƍ(x  )LJXUD VHJXLUHPRVWUrVSDVVRV

1. (VFUHYHUSRUH[WHQVRRQXPHUDGRUGDUD]mRLQFUHPHQWDO

f(xK ±f [   xh)3± xh)) – (x3±x)


f(xh) – f(x) = (x3xhxhh3±x±h) – (x3±x)
f(xh) – f(x) = 3xhxhh3±h
f(xh) – f(x) = h(3xxhh±

2. 'LYLGLUSRUhHVLPSOLILFDUDUD]mRLQFUHPHQWDO

42
3. &DOFXODUDGHULYDGDWRPDQGRROLPLWH

1HVVHOLPLWHxpWUDWDGRFRPRXPDFRQVWDQWHSRLVQmRYDULDTXDQGR
hĺ9HPRVTXHROLPLWHH[LVWHSDUDWRGRxSRUWDQWRf(x)pGHULYiYHOH
fƍ(x) = 3x±$JRUDFDOFXODVH

f(–3) = (–3)3± ±   fƍ(–3) = 3(–3)± 

8PDHTXDomRGDUHWDWDQJHQWHHPx – 3 é y±  x 2XVHMD

y x
y x

Figura 8. Gráfico de f(x) = x3 – 12x.


Fonte: Rogawski (2008, p. 108).

43
Exemplo 3

Prove que y = x±pGHULYiYHOHFDOFXOHyƍ


2GRPtQLRGHy = x± é {xx`3RUWDQWRVXSRPRVTXHx&DOFXODPRV
diretamente fƍ(x VHPID]HUDVHSDUDomRGRVWUrVSDVVRVGRH[HPSORDQWHULRU

&DQFHODQGRh

2OLPLWHH[LVWHSDUDWRGRx3RUWDQWRypGHULYiYHOHy ±x–3

Notação de Leibniz
A notação “linha” yƍ e fƍ(x) foi introduzida pelo matemático francês Joseph Louis La-
grange (1736 – 1813). Há outra notação-padrão para a derivada, introduzida por Leibniz:

44
No Exemplo 2, mostramos que a derivada de y = x–2 é yƍ = –2x–3. Na notação de
Leibniz, esse resultado é escrito como:

Para especificar o valor da derivada num valor fixado de x, digamos, x = 4, escrevemos:

A notação não deve ser entendida como quociente (dy dividido por dx), pois as
expressões dy e dx são denominadas diferenciais, aqui, tratadas simplesmente como
símbolos sem significado independente.
Fonte: Rogawski (2008, p. 108–109).

ANTON, H.; BIVENS, I.; DAVIS, S. Cálculo. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014. 2 v. 1352 p.
BRAGA, R. O. Cálculo I: estudo da derivada. São Leopoldo: Unisinos, 2012. 190 p.
ROGAWSKI, J. Cálculo, volume 1. Porto Alegre: Bookman, 2008. 624 p.

45
Regra da cadeia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Identificar fenômenos naturais que envolvam funções compostas.


„ Descrever o fenômeno natural como função composta.
„ Aplicar a regra da cadeia na derivação de funções compostas.

Introdução
Muitas das funções que utilizamos para resolver problemas são com-
postas. Afinal, muitas variáveis dependem de outras em problemas reais.
Assim, para entendermos essas funções mais profundamente, é necessário
compreender suas derivadas. Para tal, deve-se utilizar a regra da cadeia.
Neste capítulo, você verá como aplicar as funções compostas em
problemas reais, descrever um fenômeno natural como função composta,
além de aplicar a regra da cadeia na derivação desse tipo de funções.

Fenômenos naturais e funções compostas


Funções compostas estão presentes em diversas modelagens de fenômenos que
observamos, como em equações que descrevem a movimentação de um projétil
ou a energia cinética de um automóvel. Coloquialmente, podemos dizer que
uma função composta é aquela em que a variável independente é substituída
por alguma função. Veja o seguinte exemplo, supondo as duas funções:

f(x) = x3 e g(x) = x + 10.

Agora, vamos substituir o x de f(x) por g(x). A nova função obtida é a


função composta:

f(g(x)) = (x + 10)3

46
A definição formal para função composta está apresentada na Figura 1,
a seguir (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014).

Figura 1. Definição de função composta.


Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 17).

Sejam f(x) = x3 + 2 e , encontre (fog)(x) e (gof )(x).


Para encontrarmos (fog)(x), escrevemos que:

Agora, para (gof )(x), escrevemos que:

Note que as funções compostas (fog)(x) e (gof )(x), em geral, não resultam em funções
iguais. A ordem da composição gera resultados diferentes. No caso particular em que
a função g for a inversa de f, temos que (fog) = (gof ).

47
Como comentado no início da seção, muitos fenômenos podem ser mode-
lados por meio do uso de funções compostas. Geralmente, esses fenômenos
apresentam variáveis independentes para uma função que é dependente de
outra variável. Por exemplo, no caso de associação de molas, a força elástica
produzida por uma mola pode ser descrita como:

F = kx

onde x é o deslocamento, e k é a constante da mola. No caso da associação de


molas, conforme Figura 2, a constante k é substituída por o que chamamos
de constante efetiva da mola. Então, temos que:

k = 2k'

A nova função composta passa a ser:

F = 2k'x

Figura 2. Associação de molas em paralelo.


Fonte: Adaptada de Bocafoli (2019).

A partir do exemplo anterior, você pode perceber que muitos outros fenô-
menos podem ser modelados como funções compostas.

48
Fenômeno natural como função composta
Funções compostas, como vimos, são usadas para descrever diversos fenô-
menos naturais que podemos observar – não só as funções, como também as
suas derivadas. Nesta seção, veremos um exemplo de modelagem usando as
funções compostas e suas derivadas.
Suponha um veículo que faça 20 km por litro de combustível. Nesse caso,
temos que a quilometragem alcançada é uma função da quantidade de litros
que o tanque do carro contém. Digamos que a quilometragem seja y, e a
quantidade de litros seja u, então y = f(u). Agora, suponha que cada litro de
combustível custe 4 reais. A quantidade de litros de combustível é uma função
do valor gasto para a sua compra. Digamos que o valor gasto em reais seja x,
assim, temos que u = g(x). Portanto, a quantidade de quilômetros que o carro
anda em relação ao valor gasto é uma função composta:

y = f(u) = f(g(x)).

Agora, pensemos em termos de taxas de variação: temos que 20 km por


litro é a taxa de variação da quilometragem pela quantidade em litros de
combustível. Ou seja:

Da mesma maneira, 4 reais por litro resultam em uma taxa de variação da


quantidade de combustível em litros por preço do combustível de 1/4. Ou seja:

Suponha que você está interessado em saber a quilometragem rodada pelo


carro por real pago. Essa taxa é equivalente à dy/dx. Intuitivamente, podemos
escrever que:

49
ou seja:

A Figura 3, a seguir, mostra um resumo do problema, cujo procedimento


é chamado de regra da cadeia.

Figura 3. Variação do custo do percurso de um veículo.


Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 174).

Nesta seção, você viu mais um exemplo de modelagem usando as funções


compostas e suas derivadas. A generalização desse exemplo para qualquer
função será apresentada a seguir.

50
Aplicação da regra da cadeia
A regra da cadeia é utilizada para derivarmos funções compostas, conforme
Figura 4, a seguir.

Figura 4. Regra da cadeia.


Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 174).

Suponha que v = cos(x) e x = t2 + 3t – 4. Encontre dv/dt.


Segundo a definição da regra da cadeia, temos que:

Como queremos v em relação a t, substituímos a função em x. Assim:

51
Até agora, vimos exemplos cujas funções estavam definidas separadamente.
Todavia, nem sempre os problemas serão apresentados dessa maneira. Veja
o seguinte exemplo.

Dada a função y = cos(x4 + 2), encontre dy/dx.


Nesse caso, podemos considerar que u = x4 + 2, e y = cos(u). Assim, podemos escrever
que:

Portanto:

Uma maneira alternativa de pensar a regra da cadeia é a seguinte:

52
Essa reformulação pode ser interpretada da seguinte maneira: a derivada
da composta é a derivada da função “de fora” multiplicada pela função “de
dentro”. No caso do último exemplo, a função “de fora” é o cosseno, enquanto
a “de dentro” é x4 + 2. Assim, poderíamos escrever que:

Essa maneira de escrever a regra da cadeia facilita a resolução, principal-


mente se tivermos diversas variáveis ou funções compostas mais complexas.

Dada a função , encontre .


Usando a maneira alternativa de pensar a regra da cadeia, temos que:

Portanto:

53
Existe, ainda, uma terceira maneira de escrever a regra da cadeia. Usando
u = g(x), a fórmula generalizada da derivada da função f é dada por:

A Figura 5, a seguir, mostra alguns exemplos de derivadas generalizadas


para a função potência e as trigonométricas.

Figura 5. Fórmula generalizada da derivada de algumas f(u).


Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 176).

Encontre a derivada da função y = sen(2x).


Usando as fórmulas generalizadas, encontramos que:

54
Portanto:

O nome “cadeia”, em regra da cadeia, refere-se à “corrente”, a qual mais links podem
ser adicionados.
Por exemplo, se tivermos y = f(u), u = g(x), e x = h(t), nas quais f, g e h são diferenciáveis,
a derivada de y em relação a t é (STEWART, 2008):

Ou seja, a cada nova função, um novo link é adicionado à derivada. Veja o exemplo
a seguir:

Note que, nesse exemplo, a regra da cadeia foi usada duas vezes.

ANTON, H.; BIVENS, I.; DAVIS, S. Cálculo. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014. 2 v. 1352 p.
BOCAFOLI, F. Associação de molas. Física e Vestibular: aulas grátis de física, [S. l.], 2019.
Disponível em: http://fisicaevestibular.com.br/novo/mecanica/dinamica/mhs/asso-
ciacao-de-molas/. Acesso em: 2 out. 2019.
STEWART, J. Single variable calculus: early transcendentals. 6. ed. Belmont: Thomson
Brooks/Cole, 2008. 912 p.

55
Problemas de maximização
e minimização
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Definir máximos e mínimos absolutos.


„ Identificar quando um ponto é máximo ou mínimo de uma função.
„ Resolver problemas de otimização aplicada.

Introdução
Quando plotamos uma função, é possível observar como ela varia seu
valor ao longo do eixo x, ou seja, à medida que a variável independente
muda seu valor. Olhando em certo intervalo, a função pode apresentar
picos e vales — o que se chama de máximo ou mínimo absoluto —, ou
seja, o maior pico ou o menor vale. Esses pontos são muito importantes,
pois revelam o valor máximo e mínimo que a função pode chegar e
quando eles ocorrem. Além disso, são muito úteis em problemas de oti-
mização, em que se quer maximizar ou minimizar o valor de uma função.
Neste capítulo, você estudará como definir os pontos de máximo e
mínimo absolutos e como os encontrar. Além disso, verá exemplos de
problemas de otimização.

Máximos e mínimos absolutos


As funções podem apresentar pontos com maiores ou menores valores ao
ORQJRGHVHXGRPtQLRFRQIRUPHD)LJXUDFRPH[HPSORVGHJUi¿FRVGH
dados ou funções.

56
Figura 1. Exemplo de gráficos de dados ou funções.
Fonte: robuart/Shutterstock.com.

Embora as funções possam variar seus valores, é possível que exista um


ponto em seu domínio, cujo valor da função é o maior ou o menor. Esses seriam
o seu máximo ou mínimo absolutos, ou seja, a função possui um extremo
absoluto, definido por Anton, Bivens e Davis (2014, p. 266):

Considere um intervalo no domínio de uma função f e um ponto x0 nesse


intervalo. Dizemos que f tem um máximo absoluto em x0 se f(x ”f(x0) com
qualquer x no intervalo, e que f tem um mínimo absoluto em x0 se f(x0 ”f(x)
com qualquer x do intervalo. Se f tiver em x0 qualquer um dos dois, máximo
absoluto ou mínimo absoluto, dizemos que f tem em x0 um extremo absoluto.

Dado um intervalo no domínio da função, não necessariamente a mesma


apresentará extremos absolutos nesse intervalo. Alguns exemplos disso são
mostrados na Figura 2, a seguir.

57
Figura 2. Exemplos de funções que contêm ou não pontos extremos em um dado intervalo.
Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 267).

Esses exemplos mostram funções que contêm ou não pontos extremos. Nos
casos cujos intervalos são abertos, às vezes, a função contém ou não pontos
extremos. Mas, se o intervalo for fechado, a função necessariamente tem, pelo
menos, um ponto de máximo e um de mínimo. A seguir, o teorema do valor
extremo, segundo Anton, Bivens e Davis (2014, p. 267):

Se uma função f for contínua em um intervalo fechado finito [a, b], então f
tem um máximo e um mínimo absolutos em [a, b].

O teorema do valor extremo afirma a existência dos pontos de extremo


absoluto, mas não diz muito em relação a como os achar. Na próxima seção,
você verá como encontrar os pontos de máximo e mínimo absolutos de uma
função.

Identificação de pontos de máximo e mínimo


6HDIXQomRIRUFRQWtQXDFRPLQWHUYDOR¿QLWRIHFKDGRRVSRQWRVH[WUHPRV
DEVROXWRVSRGHPRFRUUHUQR¿QDOGRLQWHUYDORRXGHQWURGHOH&DVRRVSRQWRV
se encontrem dentro do intervalo, eles ocorrem nos pontos críticos da função.
A seguir, o teorema segundo Anton, Bivens e Davis (2014, p. 267):

Se f tiver um extremo absoluto em um intervalo aberto (a, b), então ele deve
ocorrer em um ponto crítico de f.

58
Na Figura 3, veja alguns exemplos de pontos máximos de funções: (a) o
máximo absoluto encontra-se no extremo do intervalo, em b; (b) o ponto de
máximo ocorre um ponto estacionário, em x0; (c) o ponto de máximo ocorre
onde a função não é diferenciável, em x0.

Figura 3. Exemplos de pontos de máximo ab-


soluto de funções.
Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 268).

59
Para se encontrar os pontos de extremo absoluto, você pode seguir o pro-
cedimento para chegar aos extremos absolutos de uma função contínua f em
um intervalo finito fechado [a, b], conforme a seguir (ANTON; BIVENS;
DAVIS, 2014):

1. Encontre os pontos críticos de f em (a, b);


2. encontre o valor de f em todos os pontos críticos e nas extremidades a e b;
3. o maior entre os valores do Passo 2 é o valor máximo absoluto de f em
[a, b], e o menor valor é o mínimo absoluto.

Primeiro, encontra-se os pontos críticos da função, depois, os valores da


função nos pontos críticos e nos pontos de extremo. O ponto cujo valor da
função for maior é considerado o ponto de máximo absoluto, e o ponto cujo
valor da função for mínimo é considerado o ponto de mínimo absoluto.

Determine os extremos absolutos da função f(x) = 6 x4/3 – 3 x1/3 no intervalo [–1,1].


Primeiro, vamos encontrar os pontos críticos da função. Para isso, temos que dife-
renciar a função e igualar a zero. Assim:

Igualando a derivada a zero, encontramos que:

Portanto, f'(x) = 0 em x = 1/8, e é não diferenciável em x = 0.

60
Agora, vamos calcular os valores da função para os pontos críticos encontrados e
para os extremos do intervalo dado. Assim, temos que:
„ x = –1 ՜ f(x = –1) = 9
„ x = 0 ՜ f(x = 0) = 0
„ x = 1/8 ՜ f(x = ) = –9/8
„ x = 1 ՜ f(x = 1) = 3

Assim, podemos concluir que o valor de mínimo absoluto é –9/8 e ocorre em


x = 1/8, e o valor de máximo absoluto é 9 e ocorre em x = –1.

Extremos absolutos quando os intervalos são infinitos


&DVRRLQWHUYDORGHLQWHUHVVHGHXPDIXQomRVHMDLQ¿QLWRHODSRGHRXQmRWHU
extremos absolutos. Se a função fIRUFRQWtQXDHP ±’’ SRGHVHGHGX]LU
alguns comportamentos da mesma, conforme a Figura 4.

Figura 4. Extremos absolutos para o caso de intervalo infinito.


Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 269).

Extremos absolutos quando os intervalos são abertos


Caso o intervalo de interesse de uma função seja aberto, ela também pode
ou não ter extremos absolutos. Dada uma função f no intervalo aberto (a, b),
pode-se tirar algumas conclusões de seu comportamento, conforme a Figura 5.

61
Figura 5. Extremos absolutos para o caso de intervalo aberto.
Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 270).

Extremos absolutos quando a função contiver


um extremo relativo
3RGHPRVD¿UPDUTXHVHDIXQomRFRQWLYHUXPH[WUHPRUHODWLYRHPXPLQWHU-
YDOR¿QLWRRXLQ¿QLWRHVVHH[WUHPRUHODWLYRQHFHVVDULDPHQWHVHUiXPH[WUHPR
absoluto, conforme o teorema (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014, p. 271):

Suponha que f seja contínua e tenha exatamente um extremo relativo em um


intervalo, digamos em x0.
1. Se f tiver um mínimo relativo em x0, então f(x0) é o valor mínimo absoluto
de f no intervalo.
2. Se f tiver um máximo relativo em x0, então f(x0) é o valor máximo absoluto
de f no intervalo.

Você sabe a diferença entre extremo relativo e extremo absoluto?


Os máximos e mínimos relativos são pontos de máximo e mínimo que ocorrem em
um intervalo. Ou seja, x0 é máximo relativo se houver um intervalo aberto contendo
x0, no qual f(x0) ≥ f(x) para cada x no intervalo. E x0 é mínimo relativo se houver um
intervalo aberto contendo x0, no qual f(x0) ≤ f(x) para cada x no intervalo. Lembre-se
de que, nesses pontos, a derivada é zero ou não existe.
Já os extremos absolutos são os máximos absolutos ou mínimos absolutos. Ou seja,
dentre os pontos de extremo relativo e de extremo de intervalo, o máximo absoluto
é aquele cujo valor da função é o maior dentre todos, enquanto o mínimo absoluto
é aquele cujo valor da função é o menor dentre todos.

62
Problemas de otimização
Os métodos apresentados neste capítulo podem ser usados para resolver pro-
blemas de otimização, que são aqueles em que se pretende maximizar ou
minimizar alguma função contínua em certo intervalo.

Problema 1
Suponha que você está construindo um jardim retangular. Se você dispuser
apenas de 100 m de cerca, qual é a maior área possível?
Como o jardim é retangular, ele possui 4 lados com comprimentos x e y
em metros, como mostrado na Figura 6.

Figura 6. Esquema de um jardim retangular, com


lados x e y.
Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 275).

Como você dispõe apenas de 100 m de cerca, o seu perímetro será:

2xy = 100

Já a área do jardim, em m2, pode ser escrita como:

A=xy

63
As duas equações estão relacionadas. Podemos isolar uma variável em
uma delas e substituir na outra. Assim, isolaremos a variável y na equação
do perímetro, ficando com:

Agora, substituiremos na equação da área:

A = x(50 – x)
A = 50x – x2

A variável x é um comprimento e não pode ser negativa. O perímetro


também não deve ser ultrapassado, e, assim os dois lados que medem x não
devem ultrapassar 100 m. Assim, a variável x deve satisfazer:

”x”

Agora, o problema se resume em achar o máximo absoluto de A no intervalo


[0, 50] de x. Assim, vamos derivar a área A em relação a x:

Igualando a derivada a zero, encontramos:

64
Portanto, o ponto de máximo absoluto ocorrerá em algum dos extremos
ou em x = 25. Vamos checar cada um deles:

„ x ĺA ±2 = 0
„ x ĺA ±2 = 1.250 – 625 = 625
„ x ĺA ±2 = 2.500 – 2.500 = 0

Pode-se ver que a área máxima será 625 m2 e ocorre quando x = 25 m. Você
pode verificar esse resultado, plotando a função área (Figura 7).

Figura 7. Gráfico da função da área no intervalo [0, 50].


Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 276).

Para encontrarmos o valor da variável y, basta substituir o valor de x na


equação do perímetro, ou o valor da área máxima na equação da área. Assim,
temos que:

y = 50 – x
= 50 – 25
= 25

Ou seja, podemos concluir que a maior área ocorre quando se tem um


quadrado de lado 25.

65
A partir do exemplo que você acabou de ver, pode-se definir alguns passos
para resolver problemas de otimização (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014):

1. faça uma figura apropriada e identifique as quantidades relevantes ao


problema;
2. obtenha uma fórmula para a quantidade a ser maximizada ou minimizada;
3. usando as condições dadas no problema para eliminar variáveis, ex-
presse a quantidade a ser maximizada ou minimizada como função
de uma variável;
4. encontre o intervalo de valores possíveis para essa variável a partir das
restrições físicas do problema.

Às vezes, os intervalos considerados nos problemas de otimização não


necessariamente serão fechados.

Problema 2
Suponha que você esteja planejando confeccionar uma lata, cujo volume interno
seja de 1 litro (1.000 cm3). Qual é a altura e o raio da lata para minimizar a
quantidade de material utilizado em sua confecção?
Vamos supor que o material utilizado seja exatamente igual à área de su-
perfície do cilindro. A lata consiste em dois discos circulares e um retângulo
lateral, como mostrado na Figura 8.

Figura 8. Lata cilíndrica e suas áreas das bases e lateral.


Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 279).

66
$ViUHDVGDVEDVHVVHUmRGDGDVSRUʌr2, e a área lateral por 2 ʌ r h. A área
total de sua superfície será:

S ʌr2ʌ r h

A área depende de duas variáveis, r e h. Assim, temos de encontrar alguma


relação para eliminar uma delas. Outra informação que temos do problema
é o volume, dado por:

V ʌr2 h

Assim, temos que:

Agora, podemos substituir a equação de h na equação da área. Assim,


ficamos com:

O problema passa a se resumir em encontrar o mínimo absoluto da função


SQRLQWHUYDOR ’ GHr. Analisando os limites do intervalo, obtemos que:

67
Como visto na Figura 5, é esperado que SWHQKDXPPtQLPRHP ’ 
Então, derivaremos S em relação a r e igualaremos a zero para encontrar o
mínimo. Assim:

Igualando a zero, obtemos:

Substituindo na equação de S, encontramos a área:

68
Já o valor de h será:

Veja o plote de S por r na Figura 9, a seguir.

Figura 9. Plote de S por r mostrando o ponto


de mínimo.
Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 280).

Referência

ANTON, H.; BIVENS, I.; DAVIS, S. Cálculo. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014.

69
Interpretação geométrica
da derivada — Regras de
derivação e suas aplicações
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Interpretar a derivada como coeficiente angular da reta tangente a


uma curva em um dado ponto.
„ Introduzir técnicas de derivação.
„ Utilizar as regras de derivação em problemas aplicados.

Introdução
Ao estabelecer uma relação entre duas variáveis em forma de função,
é possível avaliar a variação de uma variável, à medida que outra varia,
por meio da derivada. Essa interpretação remete às taxas de variação.
A derivada pode ser interpretada de modo geométrico. Quando
observamos a representação gráfica de uma função — uma curva qual-
quer —, a derivada tem um sentido particular em relação a uma curva
e um ponto local.
Neste capítulo, você vai estudar a forma como uma derivada pode ser
interpretada geometricamente, além das regras aplicadas em operações
matemáticas que facilitam o seu cálculo.

Derivada como coeficiente angular da reta


tangente a uma curva em um dado ponto
$RGH¿QLUDGHULYDGDSRGHPRVXWLOL]DUWUrVFRQFHLWRVLJXDOPHQWHLPSRUWDQWHV
$GHULYDGDSRGHVHUHQWHQGLGDFRPRDLQFOLQDomRGDUHWDWDQJHQWHDXPD
FXUYDFRPRXPDWD[DGHYDULDomRHFRPRROLPLWHGHXPDUD]mRLQFUHPHQWDO

70
52*$:6.,$'$06 1HVWHFDStWXORYDPRVLGHQWL¿FDUDGHULYDGD
FRPRDLQFOLQDomRGDUHWDWDQJHQWHHFRQKHFHUDOJXPDVUHJUDVGHGHULYDomR
$GHULYDGDpGHILQLGDFRPRDLQFOLQDomRGHXPDUHWDWDQJHQWHjFXUYDRX
VHMDRFRHILFLHQWHDQJXODUGDUHWDWDQJHQWHHSRGHPRVLQLFLDURFiOFXORFRP
EDVHQHVVDGHILQLomR'DGDVXPDFXUYDf(x HXPD UHWD rWDQJHQWHDHVVDFXUYD
TXHSDVVHSHORSRQWRP = (xy RXP = (xf(x WHPRVDVHJXLQWHLOXVWUDomR
)LJXUD 

y y = f(x)

Reta r,
P = (x1,y1)
tangente a f(x)

y1

x
x1
Figura 1. Reta tangente a uma curva.
Fonte: Adaptada de Rogawski e Adams (2018, p. 113).

$SHQDVFRPXPD~QLFDLQIRUPDomRGDUHWDWDQJHQWHRSRQWRPQmRFRQ-
VHJXLUHPRVGHILQLURFRHILFLHQWHDQJXODUGHVVDUHWD3DUDFKHJDUPRVDRYDORU
GRFRHILFLHQWHDQJXODUGDUHWDWDQJHQWHSUHFLVDPRVGHDRPHQRVGRLVSRQWRV
(QWmRYDPRVFRQVLGHUDUXPVHJXQGRSRQWRRSRQWRQSHUWHQFHQWHjFXUYD
y = f(x RQGHQ = (xy RXQ = (xf(x $RWUDoDUXPDQRYDUHWDDUHWD V
TXHSDVVHSHORSRQWRPHSHORSRQWRQHQFRQWUDQGRDLQFOLQDomRGHVVDUHWD
FRQVHJXLUHPRVSRUPHLRGRFRQFHLWRGHOLPLWHFKHJDUjLQFOLQDomRGDUHWD r
$VHWDSDVSDUDRFiOFXORGDLQFOLQDomRGDUHWDrVmR

1. WUDoDUXPDUHWDVHFDQWHDUHWDs;
2. FDOFXODUDLQFOLQDomRGDUHWDs;
3. FKHJDUjLQFOLQDomRGDUHWDr

71
Acesse o link a seguir para aprender mais sobre a reta tangente e sobre a reta secante
a uma curva.

https://goo.gl/QNgC4a

$RHVFROKHUXPSRQWRQVREUHDFXUYDHWUDoDUXPDQRYDUHWDWHPRVD
VHJXLQWHFRQILJXUDomR )LJXUD 

y y = f(x) Reta s,
reta secante a f(x)
Q = (x2,f(x2))
f(x2) Reta r,
P = (x1,f(x1))
tangente a f(x)
f(x1)

x1 x2 x

Figura 2. Reta tangente e reta secante à curva.


Fonte: Adaptada de Rogawski e Adams (2018, p. 113).

2EVHUYHTXHDUHWDsTXHSDVVDSHORVSRQWRVP e QpXPDUHWDVHFDQWHj
FXUYDy = f(x 3DUDREWHUDLQFOLQDomRGDUHWDsEDVWDFDOFXODURFRHILFLHQWH
DQJXODUGHVVDUHWDGDGDSRU

72
4 Interpretação geométrica da derivada — Regras de derivação e suas aplicações

3RGHPRVUHHVFUHYHUHVVDHTXDomRHPIXQomRGDYDULDomRGHxGDVHJXLQWH
PDQHLUD

9HMDTXHRxpRxVRPDGRDRLQWHUYDORHQWUHx e xTXHGHQRWDPRV¨x
6XEVWLWXLQGRxQDHTXDomRx ¨x + xWHPRV

$VVLPGHILQLPRVRFRHILFLHQWHDQJXODUGDUHWDsDUHWDVHFDQWHjFXUYD
1mRSRGHPRVHVTXHFHUGHTXHRQRVVRREMHWLYRpFKHJDUjLQFOLQDomRGDUHWD
WDQJHQWH
$YDOLHRVHJXLQWHHQWUHRSRQWRPHRSRQWRQWHPRVXPDYDULDomRHPx de
¨x6HPRYLPHQWDUPRVRSRQWRQDSUR[LPDQGRRGRSRQWRPR¨xHQWUHHVVHV
SRQWRVVHUiPHQRU6HPRYLPHQWDUPRVRSRQWRQSDUDXPDGLVWkQFLDFDGDYH]
PHQRUGRSRQWRPR¨xWHQGHUiDGLPLQXLUFDGDYH]PDLVID]HQGRFRPTXH
DUHWDVHFDQWHVHDSUR[LPHSURJUHVVLYDPHQWHGDUHWDWDQJHQWH 52*$:6.,
$'$06 2EVHUYHD)LJXUD
6HFDOFXODUPRV¨xWHQGHQGRD]HURHDSOLFDUPRVQDIyUPXODGDLQFOLQD-
omRGDUHWDsFKHJDUHPRVDRYDORUGDLQFOLQDomRGDUHWDr,VVRVHGHILQHGD
VHJXLQWHPDQHLUD

3RGHPRVREVHUYDUTXHDRFDOFXODUDLQFOLQDomRGDUHWDWDQJHQWHHVWDPRV
XWLOL]DQGRRFRQFHLWRGHGHULYDGD

73
y y
Q
Q
P P

x x
x1 x2 x1 x2
y y
Q
Q
P
P

x x
x1 x2 x1 x2
Figura 3. As retas secantes tendem para a reta tangente quando Q tende para P.
Fonte: Rogawski e Adams (2018, p. 113).

A derivada de uma função y = f(x), em um ponto x0, pode ser definida, se o limite
existir, como:

(QWHQGHQGRR¨xFRPRXPLQFUHPHQWRQRxHVVDGHILQLomRWDPEpPp
FRQKHFLGDFRPROLPLWHGDUD]mRLQFUHPHQWDO

74
3DUDUHSUHVHQWDUDGHULYDGDy = f(x DVVHJXLQWHV QRWDo}HVVmRFRPXPHQWH
XWLOL]DGDV

$VHJXLUYHMDXPH[HPSORFRQWH[WXDOL]DGR

O gráfico a seguir representa a função y = x 2. Observe que temos uma reta tangente
em x = 1.

y = x2

–2 1 3 x
Note que, se quisermos descobrir a lei de formação da reta tangente, ou simplesmente
calcular a sua inclinação, podemos utilizar o conceito da derivada no cálculo.
O coeficiente angular da reta tangente ao ponto x = 1 é a derivada no ponto x = 1. Veja:

Sendo x0 = 1, temos:

75
Veja que o coeficiente angular da reta tangente à curva no ponto x = 1 é a = 2.

Técnicas de derivação
([LVWHPDOJXPDVWpFQLFDVGHGHULYDomRTXHIDFLOLWDPRFiOFXORGDGHULYDGD
(VVDVWpFQLFDVVmRIDFLOPHQWHGHPRQVWUDGDVDSDUWLUGDGH¿QLomRGHGHULYDGD
XWLOL]DQGRRFRQFHLWRGHOLPLWHV1HVWHFDStWXORDERUGDUHPRVDOJXPDVWpF-
QLFDVGHGHULYDomRTXHSHUPLWHPFDOFXODUGHULYDGDVGHIXQo}HVDOJpEULFDV
&RQWXGRDSDUWLUGDGH¿QLomRGHGHULYDGDWDPEpPpSRVVtYHOGHGX]LUUHJUDV
GHGHULYDomRSDUDDVIXQo}HVWULJRQRPpWULFDVH[SRQHQFLDLVHORJDUtWPLFDV

Regra da constante
'DGDXPDIXQomRFRQVWDQWHf(x  FRQVWDQWHDGHULYDGDGHVVDIXQomRp]HUR
$YDOLHTXHDGHULYDGDUHSUHVHQWDDLQFOLQDomRGHXPDUHWD6HXPDIXQomRp
FRQVWDQWHHODpSDUDOHODDRHL[RGDVDEVFLVVDVORJRQmRKiLQFOLQDomR

Teorema: dada uma função constante y = c, c representa um número real qualquer,


e a derivada de y é 0.

f’(c) = 0

Exemplos:

76
Regra da potência
'DGDXPDIXQomRf(x  xQRQGHxpXPH[SRHQWHTXDOTXHUDUHJUDGHGHULYDomR
SDUDHVVHVFDVRVpDVHJXLQWH

Teorema: dada uma função f(x) = xn, a derivada dessa função será:

f(x) = xn
f’(x) = nxn – 1

Exemplos:

f(x) = x3
f’(x) = 3x2

f(x) = x4
f’(x) = 4x3

77
Regra da linearidade: soma e diferença
9DPRVVXSRUTXHf e gVHMDPGXDVIXQo}HVGLIHUHQFLiYHLV+iXPDUHJUDGH
VRPDHGLIHUHQoDTXHSURS}HRVHJXLQWH

Regra da soma e diferença: f + g e f – g são deriváveis e:

(f + g)’ = f’ + g’
(f – g)’ = f’ – g’

Regra constante vezes uma função: sendo f uma função diferençável e c um número
real qualquer, temos que:

(cf(x))’ = c ∙ f’(x)

Exemplos:

Regra do produto e do quociente


9DPRVVXSRUTXHf e gVHMDPGXDVIXQo}HVGLIHUHQFLiYHLV+iXPDUHJUD
GHSURGXWRHTXRFLHQWHTXHSURS}HRVHJXLQWH

78
Regra do produto: sendo (f · g),

Regra do quociente: sendo ,

Exemplos:

Aplicando a regra, temos:

Regras de derivação em problemas aplicados


2FRQFHLWRGHGHULYDGDSRGHVHUDSOLFDGRHPGLYHUVDVVLWXDo}HV6HPSUHTXH
FRQVHJXLUPRVHVWDEHOHFHUXPDIXQomRHTXLVHUPRVDYDOLDUDYDULDomRGHXPD
YDULiYHOjPHGLGDTXHRXWUDYDULDXWLOL]DPRVRFRQFHLWRGHGHULYDomR

79
Um corpo tem sua temperatura medida em Fahrenheit em função do tempo, em
minutos. A função que descreve essa relação é a seguinte:

T(t) = 2t 2 – 15t + 250

A taxa de resfriamento, em um dado tempo t, é dada por meio da derivação da


função T em relação ao tempo. Observe:

Calculando para t = 10 minutos, temos:

O corpo resfria em 25°F a cada minuto.

A Terra exerce uma força gravitacional de (em newtons) sobre


um objeto com uma massa de 75 kg, onde r é a distância (em metros) do centro da
Terra. Encontre a taxa de variação da força em relação à distância r na superfície da
Terra, supondo que o raio da Terra seja de 6,77 × 106 m.
Ao falar em taxa de variação, estamos falando de derivada. Logo, a questão quer
saber qual é a derivada da função F em relação a r, no ponto r = 6,77 × 106 m.
Vamos derivar a função:

80
Utilizando o teorema da derivada de um quociente,

Temos:

Em r = 6,77 × 106 m,

Assim, definimos a força F a uma distância de r = 6,77 × 106 m.

Referência

ROGAWSKI, J.; ADAMS, C. Cálculo. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2018. v. 1.

Leituras recomendadas
ANTON, H.; BIVENS, I.; DAVIS, S. Cálculo. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014. v. 1.
PROFESSOR FERRETO. Relações métricas na circunferência. [2018]. Disponível em: <http://
www.professorferretto.com.br/relacoes-metricas-na-circunferencia/>. Acesso em: 2
dez. 2018.

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