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JOÃO

CABRAL
DE
MELO
NETO

ANTOLOGIA POÉTICA

Organização
Ivila Karen Pereira da Silva
Jurandir Barboza da Silva Filho
Dinâmica
"E as vinte palavras
recolhidas nas águas
salgadas do poeta e
de que se servirá o
poeta em sua
JOGO COM PALAVRAS máquina útil."

Escritório

Canteiro de obras

Físico-química da água

Processos fisiológicos

Terror/horror

Construção de palavras

A partir das palavras encontradas, construa


vinte novas palavras que façam parte do
vocabulário da língua portuguesa,
utilizado-se dos processos de composição
e/ou derivação. Observe que uma única
palavra pode dar origem a várias; logo, não
é preciso utilizar todas as palavras do caça- 2
palavras.
Introdução
João Cabral de Melo Neto

Conheça um pouco
mais sobre o autor:

Na contramão da maioria dos autores da


Nascido em Recife (PE), em 6 de janeiro de
Geração de 45, João Cabral rejeitou a
1920, João Cabral de Melo Neto passou um
sentimentalidade, a irracionalidade ou o verso
bom período da infância longe da capital,
subjetivo, adotando uma postura de reflexão
nos engenhos da família, nas zonas rurais de
crítica (e também autorreflexiva e autocrítica)
São Lourenço da Mata e de Moreno. Voltou
e um rigor formal ímpar na literatura
ao Recife com dez anos de idade, onde
brasileira. Sua poesia é um exercício de
permaneceu até 1938, quando sua família se
linguagem, calcado no intenso trabalho com as
mudou para o Rio de Janeiro.
palavras e em um permanente estado de
tensão.

CRONOLOGIA DE SUA OBRA POÉTICA

PAISAGENS COM
PEDRA DO SONO O ENGENHEIRO O CÃO SEM PLUMAS FIGURAS UMA FACA SÓ LÂMINA

1943 1946 - 1947 1953 1954 - 1955

1940 - 1941 1942 - 1945 1949 - 1950 1954 - 1955 1955

PSICOLOGIA DA O RIO MORTE E VIDA


OS TRÊS MAL- SEVERINA
AMADOS COMPOSIÇÃO

QUADERNA SERIAL MUSEU DE TUDO CRIME NA CALLE


AUTO DO FRADE
RELATOR

1958 - 1960 1962 - 1965 1975 - 1980 1981 - 1985 1987 - 1993

1956 - 1959 1959 - 1961 1946 - 1972 1984 1985 - 1987

A EDUCAÇÃO PELA A ESCOLA DAS AGRESTES SEVILHA ANDANDO


DOIS PARLAMENTOS
PEDRA FACAS

3
1º Poema

O funcionário
1 No papel de serviço 19 fome à boca negra
2 escrevo teu nome 20 das gavetas, sede
3 (estranho à sala 21 ao mata-borrão;
4 como qualquer flor) 22 a mim, a prosa
5 mas a borracha 23 procurada, o conforto
6 vem e apaga. 24 da poesia ida.

7 Apaga as letras, João Cabral de Melo Neto: Poesia completa.


Rio de Janeiro: Alfaguara, 2020. p. 99
8 o carvão do lápis,
9 não o nome,
10 vivo animal,
11 planta viva
12 a arfar no cimento.

13 O macio monstro
14 impõe enfim o vazio
15 à página branca;
16 calma à mesa,
17 sono ao lápis,
18 aos arquivos, poeira;

2º Poema

O poema
1 A tinta e a lápis 10 Como o ser vivo
2 escrevem-se todos 11 que é um verso,
3 os versos do mundo. 12 um organismo

4 Que monstros existem 13 com sangue e sopro,


5 nadando no poço 14 pode brotar
6 negro e fecundo? 15 de germes mortos?

7 Que outros deslizam 16 O papel nem sempre


8 largando o carvão 17 é branco como
9 de seus ossos? 18 a primeira manhã.

4
19 É muitas vezes
20 o pardo e pobre
21 papel de embrulho;

22 é de outras vezes
23 de carta aérea,
24 leve de nuvem.

25 Mas é no papel,
26 no branco asséptico,
27 que o verso rebenta.

28 Como um ser vivo


29 pode brotar
30 de um chão mineral? João Cabral de Melo Neto: Poesia completa.
Rio de Janeiro: Alfaguara, 2020. p. 100-101

3º Poema

A lição de poesia
1
1 Toda a manhã consumida 17 Monstros, bichos, fantasmas
2 como um sol imóvel 18 de palavras, circulando,
3 diante da folha em branco: 19 urinando sobre o papel,
4 princípio do mundo, lua nova. 20 sujando-o com seu carvão.

5 Já não podias desenhar 21 Carvão de lápis, carvão


6 sequer uma linha; 22 da ideia fixa, carvão
7 um nome, sequer uma flor 23 da emoção extinta, carvão
8 desabrochava no verão da mesa: 24 consumido nos sonhos.
3
9 nem no meio-dia iluminado, 25 A luta branca sobre o papel
10 cada dia comprado 26 que o poeta evita,
11 do papel, que pode aceitar, 27 luta branca onde corre o sangue
12 contudo, qualquer mundo. 28 de suas veias de água salgada.
2
13 A noite inteira o poeta 29 A física do susto percebida
14 em sua mesa, tentando 30 entre os gestos diários;
15 salvar da morte os monstros 31 susto das coisas jamais pousadas
16 germinados em seu tinteiro. 32 porém imóveis — naturezas vivas.
5
33 E as vinte palavras recolhidas
34 nas águas salgadas do poeta
35 e de que se servirá o poeta
36 em sua máquina útil.

37 Vinte palavras sempre as mesmas


38 de que conhece o funcionamento,
39 a evaporação, a densidade
40 menor que a do ar.
João Cabral de Melo Neto: Poesia completa.
Rio de Janeiro: Alfaguara, 2020. p. 103-104

4º Poema

Catar feijão
1
1 Catar feijão se limita com escrever:
2 jogam-se os grãos na água do alguidar
3 e as palavras na da folha de papel;
4 e depois joga-se fora o que boiar.
5 Certo, toda palavra boiará no papel,
6 água congelada, por chumbo seu verbo:
7 pois, para catar esse feijão, soprar nele,
8 e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

2
9 Ora, nesse catar feijão entra um risco:
10 o de que entre os grãos pesados entre
11 um grão qualquer, pedra ou indigesto,
12 um grão imastigável, de quebrar dente.
13 Certo, não quando ao catar palavras:
14 a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
15 obstrui a leitura fluviante, flutual,
16 açula a atenção, isca-a com o risco.
João Cabral de Melo Neto: Poesia completa.
Rio de Janeiro: Alfaguara, 2020. p.. 441

6
Produção final

AS PALAVRAS, OS SENTIDOS, AS IMAGENS


Dentre os poemas estudados, escolha uma palavra, um verso, uma estrofe ou até um poema
completo de que você mais gostou para representar por meio de um desenho. Se preferir, você
pode fazer essa representação de outra forma, através de um poema, de um miniconto, de uma
música etc. Após a representação, desenvolva um breve comentário justificando a sua escolha.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRANDINO, Luiza. "João Cabral de Melo Neto"; Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/joao-cabral-melo-neto-sua-engenhosidade-
poetica.htm.
MELO NETO, João Cabral de. Poesia completa. 1 ed. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2020.

7
teu nom

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