Você está na página 1de 9

de 2006-2011) e com Ronald Ferreira dos Santos

(Presidente do CNS no período de 2015-2018).


A luta do controle social é infindável, mas segui-
mos fortes. O tema do financiamento está na nossa
agenda, com grande destaque, na medida em que
representa investimentos na vida e na qualidade
da saúde de cada um e cada uma. O SUS é nosso

3
e precisamos cuidar dele com segurança de finan-
ciamento estável e suficiente. Para isso, é muito O

relevante que esse tema deixe de ser apenas a Emician appnntaca


produção técnica de especialistas e estudiosos e
transborde para todas as pessoas que atuam no
controle social, nos conselhos de saúde municipais
e estaduais e, sobretudo, nas conferências de saú-
de. A saúde não é dádiva, é dever do estado, e os e
governantes não são autônomos na execução dos
recursos, como se o financiamento público fosse
3 Patrimonialismo
ensure
pivado
8
-

nee
compute

Manybeen
a o
assunto privado, mas devem obedecer às políticas e

públicas que regem o Estado Democrático de Di- versico


P
reito. A boa política é a produção do bem comum à afiome e
sociedade, com a redução das desigualdades e a
superação das injustiças sociais.
Por isso comemoro muito a publicação do livro. Os
textos são densos e acessíveis. Antevejo que cir-
culem pela rede de controle social e participação
como os livros de ciências sociais e humanas na
ditadura anterior, como forma de resistência à po-
lítica de morte e como combustível para os movi-
mentos de retomada da democracia. Em ambas as
situações, a defesa do SUS e de fontes estáveis e
suficiente de financiamento público é fundamental.
Sigamos nessa luta.
AbraSUS
Brasília, novembro de 2021.

9
O CONSELHO NACIONAL DE INTRODUÇÃO
Em meio a um cenário de crise sanitária derivada
SAÚDE NA LUTA DO FINAN- da pandemia de COVID-19 que no Brasil assumiu
contornos terríveis de imensa tragédia social, a luta

CIAMENTO: A DEFESA DO pelo direito à saúde, que tem como uma das con-
signas fundamentais a defesa do Sistema Único

SUS E DA DEMOCRACIA
de Saúde (SUS), atravessou este início de segun-
da década do século XXI tendo que defrontar-se
com o acúmulo de velhos e novos problemas que,
se por um lado exigiram um grande esforço de re-
sistência política das organizações e movimentos
sociais, por outro, reforçaram a necessidade e a
importância da construção de sistemas universais
de saúde de caráter público-estatal, assentados na
Claudio Ferreira do Nascimento1
mobilização e participação democrática da socie-
Ruth Ribeiro Bitencourt2
dade e em princípios e diretrizes que tenham como
Lizandra Nunes Coelho Conte3
objetivo primordial a defesa da vida. Um dos ele-
mentos fundamentais da garantia do direito à saú-
Financiamento das
de que tem sido caracterizado por este acúmulo
political, agou e
de ataques estruturais e conjunturais é o financia-
senvicon do sus
~O elementos mento das políticas, ações e serviços do SUS que,
da além de enfrentar um processo crônico de subfi-
fundamentain nanciamento estatal, viu-se mergulhado, a partir
gareria do da situação política reacionária aberta em 2016,
dirito a sade.
em intenso processo de desfinanciamento com a
aprovação da Emenda Constitucional 95 (EC 95).
Com o objetivo de tematizar a questão do financia-
mento da saúde pública, a Rede Unida em parce-
ria com o Conselho Nacional de Saúde (CNS) e a
Organização Panamericana de Saúde (OPAS) lan-
çam este e-book intitulado “O FINANCIAMENTO
1 Cirurgião dentista, coordenador do Sindicato dos Odontologistas DO SUS: UMA LUTA DO CONTROLE SOCIAL”
do Estado do Ceará - SINDIODONTO. Conselheiro Nacional de Saú-
que, a partir da compreensão da relevância do es-
de e Mestre em Saúde da Família pela RENASF / UECE.
2 Graduada em Serviço Social pela UFRJ, mestre em Políticas paço do controle social para a mobilização e orga-
Sociais e Serviço Social pela UFPE, professora aposentada da nização dos movimentos sociais no Brasil, busca
Universidade Estadual do Ceara- UECE. Conselheira nacional do
Conselho Federal de Serviço Social - CFESS. Compõe a Comissão
resgatar as experiências e construções técnico-po-
Intersetorial de Recursos Humanos e relações de trabalho (CIRHRT) líticas do CNS derivadas de um de seus espaços
e a Comissão de Orçamento e Financiamento do Conselho Nacional de reflexão e debate sobre o tema, no caso, a Co-
de Saúde (CNS).
3 Graduada em Administração de Empresas, pós-graduada em Ges- missão de Orçamento e Finanças (COFIN).
tão de Pessoas e Bioética pela UNB, assessora técnica do Conselho
Nacional de Saúde.

15
rios(as) nos conselhos de saúde deverá ser paritá- -
nais (EC 86 e EC 95) promotoras de uma brutal
ria em relação ao conjunto dos demais segmentos. ofensiva ou até mesmo um estrangulamento da

uni
Assim, os conselhos de saúde se inserem como sustentabilidade orçamentário-financeira do siste-
instrumento democrático de controle social das ma público de saúde, percebe-se um cenário de
atividades do gestor, inclusive fiscalizando o gasto “desfinanciamento” progressivo e grave dessa po-
público. lítica pública e caótico na manutenção dos direitos
Emp! -
sociais no país.

E
A COMISSÃO DE FINANCIAMENTO E ORÇAMENTO DO CNS Sabendo que a grande maioria da população de-

E
pende das unidades do SUS e da educação pú-
No que concerne o CNS, especificamente, é uma blica para ter o atendimento dessas necessidades
instância colegiada, de caráter permanente, propo- básicas, e considerando que saúde e educação
sitivo e deliberativo, do Sistema Único de Saúde são direitos fundamentais inscritos na nossa Cons-
(SUS), conforme previsto na Lei nº 378 de 13 de tituição Federal, percebe-se uma situação de que
janeiro de 1937, integrante da estrutura legal do deixarão de ser cumpridos pela falta de recursos
Ministério da Saúde, em consonância com o esta- imposta pela EC 95/2016, apesar de o acesso à
belecido no inciso III, do artigo 198, da Constitui- saúde e educação serem obrigações do Estado e
ção Federal de 1988, na Lei n.º 8.080/1990 e na deveriam estar acima de quaisquer divergências
Lei n.º 8.142/1990, lembrando que, anteriormente político-ideológicas para a construção de uma so-
a 1990, o CNS constituía-se em um órgão consul- ciedade mais justa e fraterna.
tivo do Ministério da Saúde, cujos membros eram
indicados pelo próprio Ministro de Estado (BRA- A retirada de recursos para o financiamento do SUS
SIL, 1937; BRASIL, 1990a; BRASIL, 1990b). e da educação pública está inserida no contexto da
redução da capacidade de financiamento dos direi-

E 7
O CNS é uma das instâncias máximas de delibe-
- tos sociais, e particularmente da seguridade social
ração do Sistema Único de Saúde (SUS) e tem (saúde, assistência e previdência social), imposta
como missão a deliberação, fiscalização, acompa-
-
- - pela EC 95/2016, com o objetivo de transferir re-
nhamento e monitoramento das políticas públicas
- e cursos dessas áreas para o pagamento dos juros e
de saúde no Brasil. É competência dos Conselhos da amortização da dívida pública, despesas essas
de Saúde, dentre outras, propor monitorar e ava-
- que, diferentemente das sociais, não tiveram uma
liar o processo de planejamento e execução orça-
- imposição de limite máximo de realização.
mentária e financeira do SUS, inclusive, aprovar os
- - - -

instrumentos de planejamento e o orçamento do A questão do “desfinanciamento” federal do SUS e


e n

I
- -
Ministério da Saúde. a questão da fragilidade fiscal dos Municípios (pois
-
-
67% da arrecadação tributária no Brasil são de tri-
O Sistema Único de Saúde (SUS) representa uma butos federais e 59% da Receita Disponível depois
das maiores conquistas sociais no Brasil dos últi- das transferências ainda ficam na União) estão as-
mos tempos. Mas, com as inúmeras fragilidades sociadas, uma vez que uma das diretrizes consti-
em sua aplicação à imensa parcela da população tucionais do SUS é a descentralização das ações
brasileira, como: limitado acesso aos serviços; ca- e serviços de saúde, com comando único em cada
rência e má distribuição de profissionais; gestão


esfera de governo e financiamento tripartite, mas
frágil e até fragilizada; financiamento insuficiente os recursos estão centralizados na esfera federal
e com a aprovação de duas Emendas Constitucio-
- - 2/3 do orçamento do MS são transferências para

Emparse "Definanciamento
22
do SUS
-
do susgragizidade
e
mumicipior
Importante!
doc
fiscal
E
Estados e Municípios, ou seja, o “desfinanciamen-
to” federal do SUS atinge também Estados, Distrito
Federal e Municípios (IDISA, 2021).
3 do CNS, aprovado pela Resolução n° 407, de 12
de setembro de 2008 (BRASIL, 2008).
A atuação dos conselhos de saúde é autônoma e
A EC 95/2016 está representando o fim do SUS e independente das autoridades governamentais e,
das políticas públicas pelo “desfinanciamento” pro- por isso, a sua existência e o seu funcionamento
gramado até 2036. Com isso, a COFIN/CNS bus- possibilitam a participação autônoma e sistemáti-
ca aprofundar o tema do financiamento, para que ca da comunidade no debate e busca de soluções
o debate em torno dos documentos e propostas para as questões da saúde pública. Desse modo,
aprovadas pelo pleno do CNS, sejam incorporadas os conselhos de saúde constituem importante
nas políticas públicas de saúde, na perspectiva do mecanismo de efetivação do SUS e, portanto, de
fortalecimento da mobilização nacional na defesa garantia do direito à saúde a todos(as), porquanto
de mais recursos, adequados e suficientes, para podem intervir, direta ou indiretamente, nas polí-
o Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2016). ticas públicas referentes à saúde, exigindo que o
Estado exerça o seu papel de maneira efetiva e

i
Ainda, no âmbito dos conselhos de saúde, o Con- mais presente.
selho Nacional de Saúde é o mais atuante com rea-

I
lização de reuniões ordinárias mensais; com apoio O CNS, além de amplo acompanhamento às diver-
técnico e administrativo, por meio da Secretaria sas áreas temáticas na área da saúde, é também
Executiva; 18 (dezoito) comissões intersetoriais responsável por realizar as conferências e os fó-
(sendo a COFIN uma delas) e 3 (três) câmaras runs e plenárias de participação social nacionais
técnicas (que, dentre outras atribuições, analisa as de saúde, aprovar ou não o orçamento da saúde
políticas e os programas de suas respectivas áre- e acompanhar a sua execução, avaliando a cada
as, emitindo pareceres e relatórios para subsidiar quadrimestre o Relatório Quadrimestral de Pres-
posicionamento do Pleno do CNS) e autonomia no tação de Contas (RQPC), a cada ano o Relatório
seu funcionamento e estrutura, além de dotação Anual de Gestão (RAG), além de acompanhar e
orçamentária própria. monitorar as políticas de saúde, no Plano Nacional
de Saúde e no Plano Plurianual (a cada 4 anos),
A cada 3 (três) anos o CNS realiza eleições para tudo com vistas a garantir que o direito à saúde in-
escolher entidades e movimentos sociais nacio- tegral, gratuita e de qualidade seja efetivado a toda
nais de usuários do Sistema Único de Saúde; a população brasileira, nos termos da Constituição
entidades nacionais de profissionais de saúde, in- Federal vigente.
cluída a comunidade científica da área da saúde;
entidades nacionais de prestadores de serviços de A Comissão de Orçamento e Financiamento do
saúde e entidades empresariais nacionais com ati- Conselho Nacional de Saúde (COFIN/CNS) é um
vidades na área da saúde. Com a posse dos repre- importante instrumento para o controle social, no
sentantes (titulares e ou suplentes) das referidas exercício de seu papel de acompanhar, fiscalizar
entidades eleitas no processo eleitoral do CNS, e participar da formulação das políticas de saúde,
há uma escolha interna para a composição de sua principalmente nos assuntos ligados a orçamen-
mesa diretora e a presidência do CNS, eleitos en- to e financiamento, bem como no planejamento e
tre os(as) próprios(as) conselheiros(as), de acordo avaliação do SUS, em subsídio e assessoria per-
com as regras estabelecidas no Regimento Interno manentes ao Pleno do CNS.
20 FiN instrumento para
compote so cial;
23
A comparee,
participa
ficcaliza e
das
da joumveago
de saude.
political
As comissões têm por finalidade subsidiar as ativi- além de prestar assessoria permanente às demais
dades específicas de promoção e apoio ao proces- comissões de “orçamento e finanças” existentes
so de Controle Social, pelos Conselhos de Saúde nos demais níveis de instância do Controle Social
das demais esferas do poder e a COFIN, em es- (Estadual e ou Municipal), como nos Conselhos
pecial, na disseminação das atividades relativas à Estaduais e Municipais de Saúde, garantindo o
questão orçamentária e financeira, colaborando na bom desempenho na formulação e proposição de

h
formulação de diretrizes para o processo de Plane- estratégias e no controle da execução das políticas
jamento e Avaliação do SUS a luz da Lei Comple- de saúde, inclusive em seus aspectos econômicos
mentar nº 141, de 13 de janeiro de 2012. e financeiros em seus respectivos âmbitos de atu-
ação.

E
A sistematização de análise por esta comissão tem

3
como premissa básica a informação dos valores Essas atribuições e responsabilidade previstas
orçamentários disponibilizados para cada item de em lei para a atuação dos Conselhos de Saúde
despesa da planilha de execução orçamentária e no país, especialmente diante do aspecto da go-
financeira em formato específico e próprio, a par- vernança do SUS, vem sendo fruto de auditorias
tir dos limites estabelecidos pela área econômica, nos últimos anos e os órgãos de controle apontam
e n

além de solicitar esclarecimentos do MS para to- claramente a necessidade de aprimoramento das


-

dos os itens classificados com níveis inadequados, ações


-
desenvolvidas pelo controle social, cobran-
intoleráveis e inaceitáveis de execução, incluindo do dos Conselhos e Conselheiros um papel mais
ainda os itens classificados com nível preocupan- ativo diante destas inúmeras atribuições.
te, uma vez que, para esses casos, a despesa
projetada anualizada com base na execução do Os apontamentos e recomendações também fo-
período analisado é maior que o valor da dotação ram direcionadas ao Conselho Nacional de Saú-
atualizada. de, que se posicionou a partir das recomendações
previstas no Acórdão nº 1130/2017 e nº 2.888/2015
Avaliar a possibilidade de atendimento das emen- do TCU. Esses acórdãos recomendaram ações
das parlamentares até o final de cada ano a partir de fortalecimento dessa governança ao Ministério
da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LOA) também da Saúde, Conselho Nacional de Saúde, Comis-
faz parte do escopo de trabalho dessa comissão in- são Intergestores Tripartite, Conselhos Estaduais
tersetorial do CNS, buscando promover um acesso e Municipais de Saúde, Comissões Intergestores
mais viável e facilitado na compreensão popular da Bipartite, Secretarias Estaduais e Municipais de
sociedade em geral na análise do Relatório Anual Saúde e outros, reafirmando essas atribuições,
de Gestão (RAG) fornecido pelos gestores de saú- mas ao mesmo tempo cobrando ações mais proa-
de, sensibilizando a todos contra um “subfinancia- tivas e qualificadas no acompanhamento das con-
mento” do SUS. tas públicas da saúde nas diferentes instâncias da
gestão e do controle social do SUS.
A COFIN/CNS ainda acompanha a previsão, pa-
gamento ou cancelamento dos restos a pagar, De forma subsidiária a este Acórdão expedido
considerando os baixos níveis de pagamento ob- pelo mesmo órgão supracitado, avaliou-se ainda
servado no período e colabora na formulação de as determinações e recomendações apontadas no
diretrizes para o processo de Planejamento e Ava- Acórdão 2.888/2015 que descreveu como objetivo
liação do SUS, sistematizando o assessoramento geral da auditoria a avaliação da governança das
e a qualificação do Conselho Nacional de Saúde, pactuações intergovernamental no SUS, com foco

24
nos componentes da institucionalização, da coor- pelo gestor do SUS no respectivo nível
denação e coerência e da gestão de riscos e con- de governo (Relatórios Quadrimestral de
trole interno, segundo o Referencial de Avaliação Prestação de Contas – RQPC), propondo
de Governança em Políticas Públicas do TCU. A alguma(s) medida(s) corretiva(s) ao Che-
equipe de auditoria considerou à época que esses fe do Poder Executivo no sentido de se
três componentes seriam os mais críticos para a buscar uma adequada correção ou reali-
pactuação intergovernamental. nhamento de prioridades na boa execução
orçamentário-financeira;
Em resposta ao acórdão da Corte de Contas, o
CNS reafirmou sua prioridade no fortalecimento c) esclarecer e analisar minuciosamente,
das ações desenvolvidas para fortalecer o con- com a isenção devida, sobre as peculiari-
trole, social, apesar de discordar em parte de al- dades e informações imprescindíveis para
gumas das recomendações exaradas pelo TCU, a deliberação do Pleno do CNS, com vis-
entendendo por exemplo que a governança no tas à análise e apreciação (com aprova-

E ↳
âmbito do SUS não poderia ser confundida com ção ou reprovação) sobre a prestação de
a lógica corporativa privada, mas deveria ser es- contas apresentada no Relatório Anual de
tabelecida como uma governança balizada na Gestão (RAG) pelo gestor do SUS no res-
participação social como previsto na legislação do pectivo nível de governo, conforme estru-
SUS. Porém, nos pontos acatados do acórdão o tura, conteúdo, formato e prazos definidos
CNS deflagrou uma série de ações para fortalecer na Portaria MS nº 3.176, de 24 de dezem-
essas atribuições, deliberando pela aprovação da bro de 2008;
Resolução nº 554, de 15 de setembro de 2017 que
estabelece diretrizes para a estruturação e funcio- d) motivar e tratar continua e oportunamente
namento dos Conselhos de Saúde a serem apli- o tema do financiamento adequado e su-
cadas em conjunto com o previsto na Resolução ficiente das políticas públicas em saúde e
CNS nº 453/2012. suas repercussões deletérias às diversas
áreas temáticas afins;
Dessa maneira, primordialmente, as contribuições
das “comissões de orçamento e finanças” para as e) colaborar ativamente com a formação
tomadas de decisões ao pleno dos respectivos permanente na área do financiamento e
conselhos de saúde e a construção dos instrumen- execução orçamentária, no tocante às pe-
tos normativos seguem a seguinte metodologia: culiaridades do “ciclo orçamentário”, com
os conselheiros(as) nacionais, estaduais
a) acompanhar, controlar e fiscalizar os re- e municipais de saúde, garantido uma as-
cursos financeiros gastos com saúde, sessoria permanente também aos respec-
oriundos de fonte própria (do Tesouro res- tivos conselhos de saúde;
pectivo) e das transferências intergoverna-
mentais (no caso de estados e municípios f) promover uma sensibilização e uma luta
que recebem recursos fundo a fundo ou permanentes ao processo de subfinancia-
em forma convênio); mento crônico e até “desfinanciamento” do
Sistema Único de Saúde, principalmen-
b) analisar e deliberar sobre as prestações te em tempos de vigência da EC 95, na
de contas quadrimestrais apresentadas busca por um financiamento adequado e

25
suficiente ao sistema público de saúde, do processo de planejamento do SUS, tendo em
em defesa prioritária de uma das maiores atenção os prazos estabelecidos e os subsídios
conquistas sociais do povo brasileiro, en- gerados pelos demais instrumentos de gestão e de
quanto direito da sociedade. controle.
E para uma boa condução dos vários processos O Ciclo Orçamentário de qualquer área governa-
que permeiam a coisa pública, faz-se necessário mental, especialmente do setor saúde, deve ser
realizar uma boa articulação e um bom planeja- entendido a partir da interdependência existente
mento das ações e serviços públicos, nas 3 (três) entre os instrumentos básicos do planejamento do
esferas de governo (federal, estadual e municipal). setor público brasileiro e os instrumentos básicos
Para tanto, no campo da saúde, temos a essen- do planejamento das ações e serviços públicos da
cial e contínua integração dos diversos instrumen- área específica. Para um melhor entendimento da
tos que compõem o que denominamos de “Ciclo dinâmica e do processo de discussão e construção
Orçamentário”, com o respectivo Plano de Saúde de vários instrumentos que compõem um ciclo or-
(PS) ao Plano Plurianual (PPA) e da respectiva çamentário, vamos tomar como exemplo o setor
Programação Anual de Saúde (PAS), à Lei de Di- da saúde pública. Este setor, como acontece nas
retrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária demais políticas públicas, possui um conjunto de
Anual (LOA), que deverão ser submetidos à apre- normas e diretrizes que delineiam o que denomi-
ciação e à aprovação dos Conselhos de Saúde namos de Sistema Único de Saúde (SUS) e en-
(Participação Social ou da Comunidade) antes do contra-se definido com base no “marco constitucio-
encaminhamento ao Poder Legislativo, dado seu nal-legal e infralegal” e seguir destacados:
caráter deliberativo estabelecido na Lei 8142/90
e reiterado na Lei Complementar 141/2012 (BRA- a) PPA (Plano Plurianual, quadrienal), LDO (Lei de
SIL, 1990b; BRASIL, 2012). Diretrizes Orçamentárias, anual), LOA (Lei Orça-
mentária Anual) e os relatórios RREO (Relatório
O processo de planejamento no âmbito do SUS Resumido da Execução Orçamentária, bimestral)
tem como base diversos referenciais legais e nor- e RGF (Relatório de Gestão Fiscal, quadrimestral):
mativos, tais como a Lei nº. 8.080/90, a Lei Com- Constituição Federal; Lei Complementar nº 101/00
plementar nº. 141/2012 e, em particular, a Por- (também conhecida como Lei de Responsabilida-
taria nº. 2.135 de 2013, incorporada na Portaria de Fiscal, atualizada pela Lei Complementar nº
de consolidação nº 1, de 2017, que estabeleceu 131/2009); e Lei Federal nº 4320/64 (que disciplina
as diretrizes e indicou os instrumentos responsá- o orçamento e a contabilidade pública): e
veis pela sua operacionalidade, destacadamente o
Plano Nacional de Saúde (PNS), a Programação b) PS (Plano de Saúde, quadrienal), PAS (Pro-
Anual de Saúde (PAS), o Relatório Quadrimestral gramação Anual de Saúde) e os relatórios RQPC
de Prestação de Contas (RQPC) e o Relatório de (Relatório Quadrimestral de Prestação de Contas)
Gestão (RAG) (BRASIL, 2013; BRASIL, 2017). e RAG (Relatório Anual de Gestão); e RREO (ci-
tado no item “a”) bimestral específico para a saú-
Tão importante quanto definir os resultados prio- de: Constituição Federal; a Lei Federal nº 8080/90;
ritários que se pretende alcançar nos próximos a Lei Federal nº 8142/90; a Lei Complementar nº
quatro anos é estipular como será desenhada a 141/2012; e os decretos e portarias que regula-
gestão do Plano que, entre outras questões, deve mentam o Sistema Único de Saúde (SUS).
obedecer à dinâmica da administração federal e

26
“O maior embaraço para a implantação
HISTÓRICO DO FINANCIA- do SUS constitucional foi, e é, o financia-
mento da saúde. Bastaria o governo cum-
MENTO DO SUS: EVIDÊNCIAS prir as leis, pois já estavam garantidos
30% da seguridade social para a saúde”.

JURÍDICO-ORÇAMENTÁRIAS Gilson Carvalho, 2012.

DO DESINTERESSE GOVER- INTRODUÇÃO

NAMENTAL FEDERAL SOBRE


Nenhum governo, após a caminhada civilizatória
da humanidade que culminou com a Declaração

A GARANTIA DO DIREITO
Universal de Direitos Humanos (1948), pode dei-
xar de lado a sua responsabilidade social. Isso não
significa o abandono da responsabilidade fiscal ne-
FUNDAMENTAL À SAÚDE4 cessária ao equilíbrio das contas públicas; ambas
devem andar juntas, o equilíbrio fiscal e o bem es-
e

womben to BobbiO :
tar da população. O Estado de bem-estar social é
-

Sec. XX
fruto da-concepção Bobbio (1992) de que não bas-
-

ta proclamar direitos, é preciso efetivá-los. E para


-

efetivá-los,-
- -
recursos financeiros são necessários.

b
A responsabilidade social é um freio estatal ao ins-

I
tinto predatório do capital visando à diminuição das
Lenir Santos5 desigualdades sociais, mediante a garantia aos
Francisco R. Funcia6 cidadãos de seus direitos fundamentais, como a
saúde, intrinsecamente ligada à vida; à educação,
ao desenvolvimento da ciência, pesquisa e tecno-
logia.
No nosso país, infelizmente, o Estado social nem
4 Artigo revisto e atualizado pelos autores, cuja primeira edição foi sempre foi uma prioridade, ainda que a Constitui-
publicada na Revista Domingueira da Saúde nº 20, de 19 de maio de ção tenha essa feição; a frase que embalou diver-
2020 (disponível em http://idisa.org.br/domingueira/domingueira-n-
-20-maio-2020).
sas gerações era a de que primeiro fazer o bolo
5 Lenir Santos é advogada, especialista em Direito Sanitário pela crescer para depois dividi-lo. Um bolo que cresceu
Universidade de São Paulo (USP), doutora em Saúde Pública pela para algumas elites, com a pobreza colocando o
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), presidente do
Instituto de Direito Sanitário Aplicado (Idisa) e conselheira nacional Brasil no final fila no quesito distribuição de renda
de saúde. e IDH.
6 Francisco R. Funcia é economista e mestre em Economia Política
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), A saúde pública, pelo histórico de seu financia-
Doutorando em Administração pelo PPGA/Universidade Municipal de
São Caetano do Sul (USCS), Professor e Coordenador-Adjunto do mento, nunca encontrou suficiência para atender
Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjun- as necessidades das pessoas; não fora a luta de
tura da USCS Consultor-Técnico do Conselho Nacional de Saúde
e Vice-Presidente da Associação Brasileira de Economia da Saúde
determinadas autoridades públicas, especialistas
(ABrES).

31
e da sociedade, o SUS poderia ter se transformado Para a efetivação do direito à saúde, o SUS pas-
num sistema de saúde pobre para pobres. sou a ser organizado nacionalmente, mediante a

uni
integração de ações e serviços de saúde de âm-
Queremos com os dados históricos a seguir de- bito federal, estadual e municipal, em rede nacio-
monstrar que a saúde, ainda que garantida pela nal, estadual, regional e municipal, tendo, ao longo
Constituição, nunca foi, por nenhum governo, em desses anos, 47 políticas públicas, definidas pelo
32 anos, priorizada na alocação de recursos orça- Ministério da Saúde, em execução pelas três esfe-
mentários e financeiros (SANTOS, 2020). ras de governo, nem sempre de modo satisfatório
Elaboramos, neste trabalho, uma linha do tempo pela falta de financiamento adequado (SANTOS;
do financiamento da saúde, a partir da Constituição CARVALHO, 2018).
de 1988, para demonstrar que o direito à saúde no Suas dificuldades se devem, quase que integral-
Brasil, concebido de modo humanitário na Consti- mente, ao seu baixo financiamento, sem ignorar
tuição, não foi até os dias de hoje, assim reconhe- as próprias da gestão, sempre em menor escala
cido pela área econômica federal ainda que saúde que as do financiamento, e muitas vezes, por ele
universal espelhe uma evolução que engrandece agravado. Além do mais, a ineficiência da gestão
a Nação. não exclui a insuficiência orçamentária. É preciso,
pois, combater as duas de modo igual pelo fato de
que a eficiência administrativa não suprirá o seu
O TRIPÉ CONSTITUCIONAL DA SAÚDE subfinanciamento.

A Constituição Cidadã positivou direitos, até então O subfinanciamento da saúde teve início com o
não reconhecidos em seu valor intrínseco para a descumprimento de sua matriz orientadora, con-
garantia da vida e da dignidade da pessoa. Previ- forme art. 55 do ADCT, que preconizava 30% dos
dência, saúde e assistência passaram a integrar recursos do orçamento da seguridade social para
a Seguridade Social, sistema com orçamento pró- a saúde, seguido de medidas jurídico-fiscais, como
prio e contribuições sociais específicas, além dos a desvinculação de recursos, a DRU. Uma perma-
recursos do orçamento fiscal (art. 195 da Constitui- nente tensão entre o Ministério da Saúde e as áre-
ção da República). as econômicas do governo federal, podendo citar
fatos como o pedido de exoneração do cargo de
Importante destacar que a Constituição, ao reco- Ministro da Saúde pelo Dr. Adib Jatene, no gover-
nhecer saúde como direito, previu um sistema jurí- no FHC, 1996; o enfarte dentro do Ministério da
dico-administrativo próprio para integrar as ações Saúde do Dr. Gilson Carvalho, secretário da Se-
e os serviços públicos de saúde de todos os entes cretária de Assistência à Saúde (SAS), em 1994.
federativos e definiu um critério-guia ou uma matriz
orçamentária para orientar o seu financiamento, Do ponto de vista administrativo-sanitário, o SUS
uma vez que direitos sociais não se concretizam teve grande sucesso ao longo do tempo, pela ca-
sem financiamento adequado. pacidade das autoridades do Poder Executivo e
Legislativo de promover a transição de um modelo
Esse tripé da saúde, o direito posto, o sistema úni- previdenciário de assistência à saúde, amplamen-
co e o seu financiamento, se cumprido fosse, a te segmentado, sem direção única em cada esfera
saúde pública teria lugar de destaque no cenário de governo7 para um sistema integrado e integral.
nacional e internacional.
7 Cuidavam da saúde em âmbito federal o MS, o MPAS, o MEC e o

32

Você também pode gostar