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DOI: 10.1590/1413-81232018237.

08362018 2197

Políticas de Saúde na Argentina, Brasil e México:

ARTIGO ARTICLE
diferentes caminhos, muitos desafios

Health Policies in Argentina, Brazil and Mexico:


different paths, many challenges

Cristiani Vieira Machado 1

Abstract Over recent decades, several Latin Resumo Nas últimas décadas, vários sistemas de
American health systems have undergone reforms. saúde latino-americanos passaram por reformas.
This paper analyzes health policies in Argentina, O artigo analisa as políticas de saúde na Argen-
Brazil and Mexico from 1990 to 2014. It explores tina, Brasil e México de 1990 a 2014, explorando
the reform strategies, explanatory factors and ef- estratégias, condicionantes e efeitos das reformas
fects on the configuration of each health system. sobre a configuração dos sistemas de saúde. Ado-
The analytical framework was based on the his- tou-se a abordagem histórico-comparativa, consi-
torical-comparative approach and considered the derando os eixos: trajetória da política de saúde;
following aspects: political and economic context; contexto político e econômico; agendas, processos
health reform agendas, processes and strategies; e estratégias de reforma; mudanças na configura-
changes in the health system configuration in ção do sistema, em termos de estratificação social
terms of social stratification and de-commodifi- e desmercantilização. A pesquisa compreendeu re-
cation. The research methods involved literature visão bibliográfica, análise documental e de dados
review, document and data analysis and inter- secundários e entrevistas. No período, a Argentina
views. In the period, Argentina maintained an manteve na saúde o sistema corporativo fragmen-
employment-based and fragmented healthcare tado, com expansão do setor privado e de progra-
system, expanded specific public programs and mas públicos específicos. O Brasil implantou um
private health plans. Brazil created a public and sistema público universal, que convive com um
universal health system, which coexists with a dy- setor privado dinâmico e crescente. O México
namic and growing private sector. Mexico main- manteve o seguro social dos trabalhadores e criou
tained the employment-based health care and um seguro de saúde para pobres. Em que pesem as
created a popular health insurance. Although the diferenças nos condicionantes e estratégias de re-
reform influences and strategies varied between forma, nos três países persistiram a estratificação
the countries, social stratification and commodi- social e a mercantilização em saúde, sob formas
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Departamento de
Administração e fication persisted in the three health systems, un- variadas. A transformação dessas características
Planejamento em Saúde. der different arrangements.The transformation of é fundamental para a construção de sistemas de
Escola Nacional de these characteristics is essential to build universal saúde universais na América Latina.
Saúde Pública Sérgio
Arouca, Fiocruz. R. health systems in Latin America. Palavras-chave Políticas de saúde, Sistemas de
Leopoldo Bulhões 1480, Key Words Health policies, Health systems, La- saúde, América Latina, Relações público-privadas
Manguinhos. 21041-210 tin America, Public-private relations in health em saúde
Rio de Janeiro RJ Brasil.
cristiani@ensp.fiocruz.br
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Machado CV

Introdução Caminhos das políticas nacionais

No século XX, conformaram-se na América Lati- Argentina: seguro social fragmentado,


na sistemas de saúde segmentados, expressando expansão privada e de programas públicos
as desigualdades estruturais dessas sociedades. Na Argentina, no início do século XX, expan-
Em alguns países, configuraram-se grupos priva- diu-se a ação do Estado na saúde pública e surgi-
dos na atenção à saúde, sob incentivos estatais. ram as primeiras associações mutuais, organiza-
A partir dos anos 1980, crises econômicas, refor- das por nacionalidade ou inserção laboral. O go-
mas orientadas ao mercado e processos de demo- verno Perón (1946-1955) fortaleceu as mutuais,
cratização levaram a transformações nos Estados precursoras das obras sociais por meio das quais
latino-americanos, com repercussões sobre as os sindicatos organizariam a atenção médica, e
políticas sociais e de saúde1,2. expandiu serviços públicos. Porém, nas décadas
Argentina, Brasil e México são federações subsequentes predominou o subfinanciamento e
populosas e economicamente relevantes, que a fragmentação do sistema de saúde segundo a
em 2014 compreendiam 60,8% da população e capacidade de pagamento das pessoas6.
69,1% do PIB da América Latina3. Entre 1930 e O pacto corporativo em torno das obras so-
1980, vivenciaram processos desenvolvimentis- ciais, financiadas por empregadores e emprega-
tas que envolveram industrialização, legislação dos, foi crucial para a governabilidade de lide-
trabalhista, criação de instituições de previdên- ranças sindicais e governos nacionais nas décadas
cia e atenção médica aos trabalhadores formais seguintes7. A contratação de prestadores privados
e implantação de programas de saúde pública favoreceu sua expansão, sem regulação estatal8. A
para controle de doenças específicas. Nas últimas cobertura do seguro social foi estendida aos tra-
décadas, as reformas de seus sistemas de saúde balhadores por ramo de atividade e instituciona-
apresentaram diferenças, influenciadas por dis- lizou-se na saúde um modelo fragmentado, com
tintos legados institucionais, agendas políticas e três subsetores: público, obra social e privado6.
orientações governamentais. O retorno da Argentina à democracia foi
O artigo analisa as políticas de saúde na marcado pela eleição de Alfonsín em 1983, que
Argentina, Brasil e México de 1990 a 2014, ex- propôs ordenar as obras sociais sindicais, unifi-
plorando as estratégias, os condicionantes e os car o financiamento do sistema e universalizar a
efeitos das reformas sobre a configuração dos cobertura para os cidadãos. Porém, a resistência
sistemas de saúde. Após a descrição de cada caso, dos sindicatos, a crise econômica e a entrega an-
os três casos são comparados, buscando contri- tecipada do poder ao presidente Menem em 1989
buir para a compreensão dos limites e desafios impossibilitaram tais mudanças9.
à construção de sistemas de saúde universais na Nos anos 1990, o governo Menem adotou re-
América Latina. formas neoliberais que envolveram abertura eco-
nômica e privatização, em coalizão com o empre-
sariado, o Banco Mundial e o Fundo Monetário
Metodologia Internacional10. Na previdência, fortaleceu-se a
lógica de capitalização e fundos privados passa-
O estudo se baseou na abordagem histórico- ram a administrar as contribuições dos trabalha-
comparativa4, valorizando semelhanças e dife- dores, em contas individuais11.
renças entre os países quanto à temporalidade e Na saúde, apesar dos sindicatos terem resisti-
condicionantes das políticas e relações Estado- do a reformas no sistema9, mudanças afetaram o
mercado em saúde. Os eixos de análise foram: setor público, as obras sociais e o setor privado8.
trajetória da política de saúde; contexto político No subsistema público, parte importante dos
e econômico; agendas, processos e estratégias de serviços de atenção à saúde já eram descentrali-
reforma na saúde; e mudanças na configuração zados para as províncias. Em 1993, promulgou-se
do sistema de saúde, em termos de estratificação legislação autorizando os hospitais públicos a se
social e desmercantilização (expansão do direito tornarem autônomos. Em 1999, mais de mil hos-
que reduz a dependência dos indivíduos aos mer- pitais haviam aderido, com autonomia variável
cados)5. A Figura 1 resume o referencial analítico. e dependência aos recursos públicos. Em muitas
As técnicas de pesquisa compreenderam: re- províncias persistiam o subfinanciamento dos
visão bibliográfica, análise documental e de da- serviços e problemas no acesso8.
dos secundários e cerca de 40 entrevistas semies- As obras sociais sofreram dificuldades devido
truturadas com especialistas e atores da política à crise econômica, às mudanças nas relações de
de saúde nos países. trabalho e ao aumento do desemprego. Em 1995
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Características estruturais dos países:
Inserção no sistema internacional; desenvolvimento econômico; estrutura social

Resultados
Legados histórico- - Cobertura
institucionais - Gastos
- Indicadores de saúde
Reformas da saúde
Agência (agendas, processos,
política estratégias, contradições) Mudanças de configuração
- Segmentação x integração
Contexto político - Relações público-privadas
e econômico

Efeitos sobre:
- Estratificação social
- (Des)mercantilização/direito
à saúde

Figura 1. Referencial analítico do estudo.

Fonte: Elaboração própria.


Nota: Todas as setas indicam relações entre condicionantes das políticas e seus efeitos. As setas cheias explicitam
o foco do estudo em questão.

o Ministério das Finanças propôs, com apoio do público-privado de previdência social. Em 2008,
Banco Mundial, a introdução da competição de houve reestatização e unificação do sistema, que
mercado no seguro social, por meio do direito passou a cobrir 90% da população11.
de escolha dos trabalhadores por qualquer obra Na saúde, o período foi marcado por expan-
social ou por seguro privado. Os sindicatos veta- são de programas públicos específicos e debates
ram que os seguros privados pudessem competir sobre a regulação das obras sociais e do setor pri-
pelos filiados. Porém, instituiu-se a liberdade de vado. O Conselho Federal de Saúde fortaleceu-se
escolha dos trabalhadores entre obras, rompendo como instância de articulação intergovernamen-
com a obrigatoriedade de vínculo por categoria tal e definiu prioridades incluídas no Plano Fe-
profissional7-9. deral de Saúde 2004-200714: política nacional de
Várias obras sociais fizeram acordos com em- medicamentos; saúde materno-infantil; seguro
presas para a oferta de planos especiais, visando público de saúde; programas específicos e Aten-
atrair filiados. A lógica de mercado penetrou o ção Primária em Saúde.
subsistema das obras e mudou o pacto corpo- Os financiamentos internacionais anterio-
rativo tradicional6,7, favorecendo a expansão das res à crise de 2001-2002 se reorientaram para a
empresas de medicina pré-paga12. implementação dessas prioridades. A política de
As reformas da década de 1990 fracassaram medicamentos envolveu a criação do programa
em termos de resultados de saúde e custos6. De REMEDIAR, visando ao acesso a uma relação de
1999 a 2002, a crise econômica levou a uma medicamentos essenciais, e a elaboração da Lei
‘emergência sanitária’, que evidenciou a baixa de Medicamentos Genéricos. Ampliaram-se os
capacidade de resposta dos segmentos das obras medicamentos do Plano Médico Obrigatório,
sociais e privado, dependentes de ciclos econô- a ser cumprido por obras sociais e empresas de
micos13. medicina pré-paga.
Nos anos 2000, os governos de centro-esquer- Quanto à saúde materno-infantil, em 2004, o
da de Nestor (2003-2007) e Cristina Kirchner Plano Nascer começou a ser executado pelo go-
(2007-2015) fizeram ajustes no sistema misto verno federal e províncias para diminuir as taxas
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de mortalidade infantil e materna nas regiões Brasil: sistema público universal


com piores indicadores. Em 2007, foi estendido e setor privado forte
para todo o país, visando à cobertura pública de No século XX, a trajetória da política de saú-
gestantes e crianças até 5 anos sem seguro social. de no Brasil envolveu dois ramos: a saúde pública
O Plano funcionou como um seguro público e a assistência médica previdenciária. O segundo
provincial que buscou fortalecer a Atenção Pri- ramo se expandiu por categorias profissionais
mária em Saúde15. até 1966, quando foi unificado em um instituto
O período de 2008 a 2014 se caracterizou pela responsável pela previdência e assistência médica
continuidade de programas e foco em ações de dos trabalhadores formais urbanos. Nas décadas
saúde pública. Os programas Remediar e Nascer seguintes, persistiram limites na cobertura, no
foram revistos e ampliados. Em 2009 o primeiro financiamento e incentivos estatais à prestação
incorporou um componente para fortalecer re- privada em saúde, que aumentou por meio de:
des de serviços de saúde nas províncias. Em 2014 contratação de prestadores privados; apoio esta-
foi renomeado Remediar + Redes, com três es- tal à construção de hospitais privados; subsídios
tratégias: provisão de medicamentos essenciais; à contratação de planos privados por empresas;
fortalecimento de redes; e capacitação de profis- clínicas privadas e comércio de medicamentos17.
sionais do primeiro nível de atenção16. Nos anos 1980, em meio à crise econômica e
Em 2012, o Plano Nascer passou a cobrir à democratização, o movimento sanitário propôs
crianças até 10 anos, adolescentes até 19 anos e uma agenda de reforma cujas diretrizes foram in-
mulheres até 64 anos, sem cobertura formal de cluídas na Constituição de 1988, que reconheceu a
saúde. Em 2014 foi renomeado como Programa saúde como direito e instituiu o Sistema Único de
Sumar, que se destacou em termos do arranjo fe- Saúde (SUS), público e universal. A saúde foi in-
derativo, ao descentralizar decisões e dar incenti- serida, com a previdência e a assistência, em uma
vos às províncias e equipes de saúde16. concepção ampla de Seguridade Social, a ser fi-
No que concerne às obras sociais, no início nanciada por impostos e contribuições sociais18,19.
dos anos 2000, regulamentou-se o Plano Médico A década de 1990 foi marcada pela democra-
Obrigatório, que viria a ser atualizado. Porém, a tização e liberalização econômica, caracterizada
regulação do segmento permaneceu frágil e per- por: estabilização monetária, abertura de merca-
sistiu a competição entre obras por filiados, ex- dos, restrições ao gasto público, privatização de
pansão de convênios com empresas e contratação empresas, fragilidade das políticas industriais,
de prestadores privados. redução do Estado, descentralização e novas re-
Quanto à regulação do setor privado, em lações público-privadas20. Essa agenda foi inau-
2011 promulgou-se a Lei de Medicina Pré-pa- gurada pelo governo Collor (1990-1992) e man-
ga7,13, que admitiu a existência de usuários cuja tida nos governos Itamar Franco (1992-1994) e
relação é intermediada por obras sociais, e não Fernando Henrique Cardoso (1995-1998 e 1999-
alterou a segmentação na estrutura e as desigual- 2002), com variações. Em que pesem influências
dades do sistema de saúde12. externas, as elites nacionais – Presidência e auto-
Em 2011, existiam cerca 280 obras sociais na- ridades econômicas – foram os principais atores
cionais, cobrindo 39% da população; o Instituto em reformas do Estado que impuseram restri-
Nacional de Serviços Sociais para aposentados e ções à Seguridade Social, ao limitar os gastos e a
pensionistas cobria 8%; as 24 obras provinciais, expansão de serviços públicos.
14%. O setor privado era conformado por cerca A implementação do SUS nos anos 1990 ex-
de 350 empresas, cobrindo 9% da população. Por pressou tensões entre a agenda da reforma sa-
fim, cerca de 30% da população dependia de ser- nitária e a de reforma do Estado. Algumas mu-
viços públicos. danças relevantes foram: unificação do comando
O sistema de saúde argentino é conhecido sobre a política nacional; criação de comissões
por sua segmentação, fragmentação, baixa efici- intergovernamentais e conselhos participativos,
ência e equidade. No sistema público, há serviços que ampliaram atores na formulação da política
nacionais, provinciais, municipais; entre as obras e apoio ao SUS; expansão nacional de serviços
sociais, organizações nacionais e provinciais, de públicos de saúde de vários tipos, com destaque
natureza e porte diversos. O segmento privado para a atenção primária21.
envolve serviços corporativos, consultórios, em- No entanto, a agenda de reforma de Estado
presas de medicina pré-paga. Existem ainda co- impôs restrições à política de saúde em termos de
nexões entre tais segmentos6,13. financiamento, descentralização, produção de in-
sumos e gestão do trabalho. Reformas orientadas
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aos mercados, associadas à força do setor privado blico-privadas em saúde. O orçamento da saúde
no país, afetaram as relações público-privadas permaneceu dependente de negociações com au-
em saúde. Apesar da expansão de serviços pú- toridades econômicas e condicionado ao cresci-
blicos, o SUS permaneceu dependente de leitos, mento. Os investimentos em infraestrutura con-
laboratórios e outros serviços privados. As em- tinuaram baixos e a participação federal no gasto
presas de planos e seguros continuaram a crescer, público em saúde diminuiu25.
subsidiadas por renúncia fiscal. A Agência Nacio- A cobertura dos planos e seguros privados
nal de Saúde, criada em 2000, regulou contratos e continuou a crescer. As empresas de saúde ex-
organizou o mercado de planos, mas não conteve pandiram suas estratégias políticas e de merca-
seu crescimento. do26, enquanto persistiram os subsídios e a frágil
No primeiro mandato de Lula (2003-2006), regulação estatal sobre o setor. Após a reeleição
houve continuidade da ênfase na estabilidade de Dilma, promulgou-se uma lei autorizando a
econômica, associada a medidas para melhorar entrada do capital estrangeiro na saúde, inclusive
a capacidade regulatória do Estado. No segundo na prestação de serviços.
mandato (2007-2010), ganhou destaque uma Em síntese, as políticas de saúde brasileiras
convenção neodesenvolvimentista, com ênfase no período mostraram avanços e contradições21.
nos investimentos em infraestrutura e inovação, O Brasil tem um sistema público universal que
fortalecimento dos bancos públicos e empresas abrange mais de 200 milhões de pessoas, limita-
nacionais22. O boom de commodities favoreceu o do por dificuldades financeiras e desigualdades.
crescimento econômico em alguns anos e, du- O país também compreende um setor privado
rante a crise internacional de 2008-2009, adota- dinâmico, que inclui prestadores privados ao
ram-se políticas anticíclicas. SUS e um segmento de planos e seguros de saú-
Na área social, o governo priorizou estraté- de, ao qual estão vinculados cerca de 50 milhões
gias de combate à pobreza e inclusão de grupos de pessoas, ou 25% da população brasileira, que
vulneráveis. Medidas como aumento do salário também utiliza o SUS.
mínimo e expansão de programas de transferên-
cia de renda contribuíram para reduzir a pobreza México: sistema corporativo com provisão
e as desigualdades de renda, com expansão do pública e seguro de saúde para pobres
consumo interno23. As ações de saúde pública no México se orga-
A política nacional de saúde de 2003 a 2010 nizaram a partir do início no século XX. O seguro
foi marcada por: novas prioridades de governo; social em saúde dos trabalhadores se estruturou a
mudanças graduais nos campos da atenção, ges- partir dos anos 1940, com a criação do Instituto
tão do trabalho e de insumos para a saúde; limi- Mexicano de Seguridade Social (IMSS) em 1943
tado enfrentamento de problemas estruturais21. e do Instituto de Seguridade e Serviços Sociais
O Programa Saúde da Família e as políticas dos Trabalhadores do Estado (ISSSTE) em 1959.
de promoção da saúde se expandiram, com mu- Até os anos 1970, houve a incorporação de traba-
danças incrementais. Programas adotados como lhadores formais pelo seguro social contributivo.
marcas de governo – Brasil Sorridente, Serviço A maior parte da população, no entanto, depen-
de Atendimento Móvel de Urgência e Farmácia dia de limitadas ações assistenciais públicas.
Popular – introduziram inovações em áreas que Em meados dos anos 1970, o IMSS começou a
apresentavam lacunas21. Implantaram-se mudan- prover serviços para a população rural sem capa-
ças na gestão do trabalho e de insumos em saúde cidade contributiva. Em 1979 o programa passou
e, durante o segundo mandato de Lula, enfatizou- a se chamar IMSS-Coplamar e nas décadas se-
se a saúde como setor estratégico para o desen- guintes foi expandido e renomeado várias vezes27.
volvimento, por favorecer empregos qualificados, Nos anos 1980 e 1990, sob crise econômica
inovações tecnológicas e dinamismo industrial24. e governos do Partido Revolucionário Institucio-
O primeiro governo Dilma Rousseff (2011- nal (PRI), o México passou por reformas caracte-
2014) se desenvolveu em um contexto econômi- rizadas por liberalização econômica, privatização
co e político desfavorável. Na saúde, predomi- e redução de gastos públicos10 que afetaram as
naram continuidades e mudanças incrementais políticas sociais. A transição para a democracia
e definiram-se novos programas prioritários, combinava eleições regulares com fraudes, re-
como o ‘Mais Médicos’ e as Unidades de Pronto pressão e apropriação de recursos do Estado pelo
Atendimento21. PRI28. Sucessivos governos tentaram reformar o
Em todo o período analisado, persistiram IMSS e o ISSSTE – por retração ou privatização
limitações no financiamento e nas relações pú- –, mas houve resistências29.
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A Constituição de 1983 reconheceu o direito ladores do modelo de pluralismo estruturado


à proteção social à saúde. O governo de La Ma- implantado na Colômbia em 1993, caraterizado
drid (PRI – 1982-1988), propôs uma reforma por: separação entre financiamento e provisão de
com ênfase na racionalização, descentralização e serviços; participação privada na compra e pres-
diversificação dos prestadores de serviços. A pro- tação de serviços; e adoção de pacotes de ações
posta sofreu oposição da burocracia do IMSS, dos custo-efetivas32.
sindicatos e de governadores30. O primeiro ciclo Propôs-se uma reforma com o objetivo de ex-
de descentralização de serviços federais atingiu pandir a proteção financeira em saúde por meio
14 estados, sob condições adversas de financia- do asseguramento voluntário das pessoas sem
mento, baixa definição das responsabilidades das cobertura pelo seguro social. Em 2003 o Con-
esferas e manutenção do poder federal27. Além gresso Nacional, de maioria governista, aprovou
disso, teve resultados limitados em termos de efi- a criação do Sistema de Proteção Social em Saú-
ciência, qualidade e redução das desigualdades31. de, incluindo o Seguro Popular de Saúde (SPS). O
Criaram-se duas entidades que influencia- financiamento do SPS prevê três fontes: governo
riam as reformas da saúde nas décadas seguintes: federal, estados e uma cota paga pelos filiados, da
a Fundação Mexicana de Saúde (FUNSALUD), qual estariam isentas as pessoas com baixa renda.
um think tank financiado por empresários na- Os recursos federais são transferidos para os es-
cionais e internacionais, e o Instituto Nacional de tados de acordo com o número de pessoas cadas-
Saúde Pública (INSP) para formação de quadros tradas, para custear um pacote básico de ações,
e proposição de políticas. Tais estruturas se nor- o Catálogo Universal de Serviços Essenciais de
teariam pelo pensamento da “Nova Saúde Públi- Saúde. O programa também incluiu um grupo
ca”, que visaria à organização do sistema de saúde limitado de intervenções de alto custo, visando
e uso de recursos públicos com base em evidên- reduzir gastos por desembolso direto. Em 2013,
cias, dentro dos limites disponíveis30. o número de intervenções incluídas era de 285
Nos anos 1990, os governos de Gortari (1988- tratamentos básicos e 59 de alto custo, ofertados
1994) e Zedillo (1994-2000), do PRI, intensifica- por prestadores públicos ou privados33.
ram reformas econômicas e sociais e enfatizaram A adesão dos estados foi rápida visando ao
políticas de alívio da pobreza. Em 1995, o Con- recebimento de recursos federais. Em 2001 o
gresso aprovou uma reforma previdenciária do programa se iniciou em 5 estados-piloto; em
IMSS que instituiu um sistema de contribuições 2002, abrangia 14; em 2003, 21; em 2004, 24; e,
pré-definidas e contas individualizadas, adminis- em janeiro de 2005, 31 estados34. O Distrito Fe-
trado por fundos privados. A reforma, adotada deral, sob o governo de esquerda de Obrador, do
em 1997, alterou critérios de elegibilidade e res- Partido da Revolução Democrática (PRD), foi o
tringiu benefícios29. último a aderir.
Mudanças afetaram o sistema de saúde, A proporção da população filiada variou
apesar das resistências a uma reforma radical. entre estados, assim como a disponibilidade de
A privatização da previdência comprometeu o serviços, dependente de infraestrutura e inves-
orçamento do IMSS, prejudicando o financia- timentos estaduais. A partir 2011 os serviços do
mento da saúde. A partir de 1995, se iniciou uma IMSS-Oportunidades nos estados passam a ser
segunda onda de descentralização para ampliar disponibilizados para o Seguro Popular27. Apesar
responsabilidades estaduais no financiamento, da tendência de aumento da provisão privada31,
gestão e prestação de serviços. Criaram-se or- os prestadores públicos ainda predominavam no
ganismos descentralizados de saúde e fundos de IMSS e no SPS em 2014.
financiamento federal nos estados, resultando na Segundo apoiadores da reforma de 2003, os
conformação de 32 sistemas estaduais de saúde, resultados positivos seriam: aumento no gasto
dependentes de recursos federais27. Em um con- público; filiação de pessoas ao SPS; alcance da
texto de austeridade econômica e sob influência “cobertura universal” (compreendida como as-
do Banco Mundial, a agenda federal enfatizou as seguramento); expansão do acesso a um pacote
ações básicas de saúde. básico de intervenções; aumento da proteção fi-
No início dos anos 2000, a eleição de Fox, do nanceira em saúde35.
conservador Partido da Ação Nacional (PAN), Por outro lado, limites das reformas têm sido
interrompeu o período de mais de 70 anos do apontados: milhões de mexicanos não teriam se-
PRI na Presidência. O Ministério da Saúde foi guro; os gastos públicos continuaram limitados
assumido por Julio Frenk, que atuava no INSP como proporção do PIB; os gastos por desem-
e no FUNSALUD e havia sido um dos formu- bolso direto continuaram elevados; o acesso dos
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filiados ao SPS é limitado a um pacote restrito de ças quanto aos arranjos corporativos e configura-
ações; os serviços e investimentos são desiguais ção de mercados em saúde que geraram legados
entre estados; as reformas teriam agravado a frag- institucionais de difícil transformação nas déca-
mentação, sem reduzir desigualdades, aumentar das seguintes.
a eficiência ou a qualidade do sistema27,32,36,37. Argentina e Brasil foram pioneiros na Amé-
Ao final do período, o sistema de saúde do rica Latina na organização da atenção médica
México mantinha estrutura segmentada. As esti- corporativa, tendo alcançado até os anos 1980
mativas do número de filiados ao SPS variam de razoável cobertura entre trabalhadores formais1.
acordo com a fonte; em 2013, situava-se entre 40 Inicialmente segmentados por categorias, os sis-
e 52 milhões27,36. Segundo inquérito domiciliar de temas desses países apresentaram diferenças em
2012, a cobertura do SPS seria 38%, a do IMSS sua evolução, arranjo institucional e dinâmica
32% e a do ISSSTE 6%, enquanto 20% da popu- dos mercados, que condicionariam as possibili-
lação não estaria coberta por esses seguros33. dades de universalização.
Em 2012, com o retorno do PRI à Presidên- No Brasil, em 1966, durante o regime militar,
cia, o governo propôs uma reforma que integra- os institutos de previdência e saúde organizados
ria os institutos de seguro social e o SPS em um por categorias foram unificados em um institu-
sistema universal de saúde. Até 2014, a proposta to nacional. Nos anos seguintes, expandiram-se
não havia sido implantada e suas diretrizes eram prestadores privados na atenção médica previ-
controversas, como a definição do pacote de in- denciária e subsídios estatais aos planos priva-
tervenções, a separação de funções e a introdução dos17. Apesar da ruptura do arranjo corporativo
de compradores privados de serviços27,33. tradicional pela reforma sanitária dos anos 1980,
O Quadro 1 resume a trajetória das políticas com a criação do SUS, público e universal, a es-
de saúde nos três países. tratificação social se reafirmaria nas relações pú-
blico-privadas, pela vinculação da classe média e
Condicionantes e implicações das políticas de grupos de trabalhadores a planos privados de
para a configuração dos sistemas saúde. A força dos segmentos privados configu-
raria uma situação de dependência de trajetória
Os três países apresentam características es- durante a implementação do SUS, sob incentivos
truturais comuns, como: passado colonial; inser- estatais e relações imbricadas entre público e pri-
ção periférica no capitalismo mundial; industria- vado38.
lização parcial e economia dependente do setor Na Argentina, enquanto em 1967 a reestru-
terciário; susceptibilidade a crises; concentração turação da previdência resultou na conformação
de renda e desigualdades sociais; democracias de três caixas nacionais, a saúde permaneceu sob
recentes, com longa trajetória de regimes autori- gestão dos sindicatos por meio das obras sociais,
tários, golpes e instabilidade política. Nas últimas cuja fragmentação se acentuaria nas décadas se-
décadas, sofreram efeitos das transformações do guintes12. O pacto entre Estado e sindicatos em
capitalismo, expressas na financeirização e no torno da atenção à saúde preservaria o caráter
neo­liberalismo. corporativo do sistema, dificultando a confor-
Os sistemas de proteção social e de saúde des- mação de um sistema universal. Porém, não im-
ses países reiteraram a estratificação social, por pediria a expansão privada na prestação a partir
meio de segmentação de clientelas e benefícios, dos anos 1990, por dentro das obras, que se ar-
dada a sua vinculação a mercados de trabalho ou a ticularam com empresas de medicina pré-paga,
segmentos privados. Os seguros sociais levaram à favorecendo seu aumento12.
incorporação de trabalhadores formais e familia- O México estruturou o subsistema corporati-
res, enquanto os demais cidadãos contavam com vo a partir da década de 1940, com a criação do
serviços de saúde pública. A existência de econo- IMSS, e nos anos 1950 do ISSSTE, que se consoli-
mias dinâmicas e grupos de maior renda, associa- daram como instituições públicas de previdência
da ao apoio estatal, favoreceu segmentos privados: e atenção médica para os trabalhadores formais,
prestadores de serviços ao seguro social ou à po- com predomínio da provisão pública. A partir
pulação, empresas de planos de saúde e comércio dos anos 1980, o poder técnico e político dos
de medicamentos. Esse processo, e os limites dos institutos dificultaria a ruptura do pacto corpo-
serviços públicos, explicam a relevância dos mer- rativo diante de pressões por reformas neolibe-
cados e gastos privados em saúde nos países. rais. A presença dos mercados, limitada no que
A trajetória de configuração dos sistemas até concerne aos prestadores e planos de saúde, se
os anos 1980 expressou similaridades e diferen- expressa nos altos gastos das famílias por desem-
2204
Machado CV

Quadro 1. Políticas de Saúde na Argentina, Brasil e México: trajetória prévia, contexto e agenda política de 1990
a 2014.
País Trajetória Prévia 1990-1999 2000-2014
Argentina Ao longo do século XX: 1989-1999- Governo Menem 2000-2002 – Crise econômica;
-Ações de saúde pública, Política econômica: reformas 2003 a 2014 - Governos Nestor
serviços públicos de saúde neoliberais: ajuste estrutural, Kirchner (2003-2007) e Cristina
(em geral provinciais) para a liberalização dos mercados, Kirchner (2007-2015):
população sem cobertura; privatizações, contenção de Política econômica: tentativa
- Obras Sociais: origem nas gastos públicos. de retomada do crescimento,
associações mutuais; serviços Aposentadorias/Pensões: emprego formal e investimentos
de saúde organizados em criação de sistema misto públicos; empréstimos
base corporativa (em geral (público-privado); indução internacionais.
sindical); distintos portes à escolha do sistema privado, Aposentadorias/Pensões: 2003-
e natureza; cobertura de baseado em contribuições 2007: correções e livre opção
mais de 60% da população; individuais e administrado entre sistemas; inclusão no
em geral contratação de por fundos privados. sistema público; 2008-2014:
prestadores privados. Assistência Social: início de reestatização do sistema; criação
- Setor privado: prestadores programas de transferência de de sistema único público e
privados oferecem serviços renda para combate à pobreza. integrado (SIPA); cobertura de
para as obras sociais Política de saúde: 90% da população.
ou clientes individuais; - Sistema público sofre efeitos Assistência Social: ampliação
empresas de medicina pré- de limites de financiamento de políticas de transferência de
paga. e baixo investimento; ênfase renda e criação do programa
Anos 1980: na responsabilidade das Assignación Universal por Hijo.
- Retorno à democracia; províncias; Política de Saúde:
eleição de Raul Alfonsín em - Legislação incentiva - Ampliação de programas
1983; hospitais públicos a se públicos específicos, com apoio
- Propostas de unificação tornarem autônomos; adesão financeiro internacional;
do sistema de saúde variável entre províncias. - Política de Medicamentos:
esbarram em resistências, - Obras Sociais: liberdade de programa Remediar (depois
principalmente dos escolha entre obras sociais Remediar-Redes); genéricos;
sindicatos. é aprovada, mas sindicatos aumento dos medicamentos na
- Crise econômica e política: vetam a possibilidade de lista do PMO;
entrega antecipada do concorrência direta de - Plano Nascer/SUMAR – seguro
governo a Carlos Menem empresas no sistema; aumenta público provincial; cobertura
em 1989. a competição entre as obras, de gestantes e crianças; em
que passam a subcontratar 2012 estendida a adolescentes e
empresas privadas para mulheres até 64 anos.
oferecer melhores planos e - Programa Médicos
atrair clientes; substituição do Comunitários (APS);
pacto corporativo por lógica - Investimentos em infraestrutura
de mercado. hospitalar;
- Setor privado: expansão dos - Obras Sociais: persiste
prestadores privados e das concorrência para atrair filiados,
empresas de medicina pré- contratação de prestadores
paga. privados e de empresas de
medicina pré-paga.
- Lei da Medicina pré-paga (em
2011)
continua

bolso direto e na tendência recente à expansão de No Brasil, a anterioridade da democratização


serviços privados31. em relação à liberalização favoreceu a mobiliza-
Outro grupo de condicionantes, de caráter ção social e a promulgação de uma Constitui-
político-conjuntural, concerne às relações entre ção em 1988, avançada em termos de cidadania,
democracia, neoliberalismo e perfil dos governos. com relativo efeito protetor contra as reformas
2205

Ciência & Saúde Coletiva, 23(7):2197-2212, 2018


Quadro 1. Políticas de Saúde na Argentina, Brasil e México: trajetória prévia, contexto e agenda política de 1990
a 2014.
País Trajetória Prévia 1990-1999 2000-2014
Brasil Ao longo do século XX: Governo Collor-PRN (1990- Governos do PT- Lula (2003 a
- Ações de saúde pública 1992); impeachment; Governo 2010) e Dilma Rousseff (2011-
com foco no controle de Itamar Franco-PMDB (1993- 2014).
doenças específicas; 1994); Governo Fernando Políticas econômicas: estabilidade
- Assistência médica Henrique Cardoso – PSDB monetária; porém retomada de
previdenciária para os (1995-2002) políticas desenvolvimentistas,
trabalhadores formais Política econômica: Reformas ênfase na criação de empregos
urbanos providas pelos neoliberais: abertura formais, no aumento do salário
Institutos de Aposentadorias econômica, privatizações, mínimo e do poder de consumo
e Pensões, unificados em reforma do Estado e da população;
1966 no Instituto Nacional contenção de gastos públicos. Aposentadorias/Pensões: reformas
de Previdência Social. Aposentadorias/Pensões: Lei incrementais nos regimes geral e
Prestação de serviços Orgânica da Previdência dos servidores públicos reforçam
hospitalares em grande parte em 1991; propostas de caráter contributivo e mudam
feita pela contratação de privatização sofrem critérios de acesso; mantém-se o
serviços privados. resistências; a partir de caráter público do sistema;
- Anos 1960: início de 1998, reformas incrementais Assistência social: expansão das
subsídios estatais ao setor reforçam o componente políticas de transferência de
privado. contributivo e mudam regras renda; ampliação do Benefício de
- Anos 1970: expansão da de acesso aos benefícios; Prestação Continuada e criação
cobertura da assistência mantido o caráter público; do Programa Bolsa Família;
médica previdenciária Assistência Social: mudanças ênfase na expansão de direitos de
para trabalhadores rurais institucionais (Lei Orgânica grupos vulneráveis (população
e de alguns serviços para da Assistência Social); negra, LGBT, mulheres)
toda a população (ex: aumento das políticas de Política de Saúde:
emergências); experiências transferência de renda no final - Políticas de fortalecimento da
locais de reorganização dos da década. APS/ Estratégia Saúde da Família:
serviços. Política de Saúde: inclusão de novos profissionais
Anos 1980: - Influenciada pelas agendas nas equipes, programa Mais
- Contexto de da reforma sanitária e de Médicos (contratação de médicos
redemocratização e reforma do Estado. para áreas remotas e abertura de
ampla mobilização social; - Início da implementação vagas para Medicina).
articulação do movimento do SUS sob dificuldades - Programas prioritários para
pela reforma sanitária; financeiras; áreas críticas: saúde bucal,
- Constituição de 1988: - Ênfase na descentralização; atenção às urgências e assistência
Seguridade Social ampla; expansão de serviços públicos farmacêutica.
saúde como direito de todos descentralizados; - Estratégias de promoção da
e dever do Estado; criação - Adoção de mecanismos saúde.
do Sistema Único de Saúde: de coordenação - Estratégias de fortalecimento da
público, universal, gratuito, intergovernamental e de produção nacional de insumos
integral, orientado pela controle social; estratégicos para a saúde;
descentralização e controle Principalmente no período - Estratégias voltadas para a
social. 1995-2002: educação e gestão do trabalho em
- Reformas institucionais e - Expansão do Programa saúde.
descentralização em saúde. Saúde da Família - Setor privado suplementar
- Avanços em políticas saúde (empresas de planos e seguros
mental, controle de HIV/ de saúde)- limitada regulação
AIDS; controle do tabaco. pela agência reguladora; setor
- Empresas de planos e continua a crescer.
seguros de saúde: lei de - Final de 2014: Medida
regulação em 1998 e criação Provisória (que se torna Lei em
de agência reguladora em 2015) autoriza abertura do setor
2000; regulação limitada e saúde ao capital estrangeiro,
crescimento do setor. inclusive na assistência à saúde.
continua
2206
Machado CV

Quadro 1. Políticas de Saúde na Argentina, Brasil e México: trajetória prévia, contexto e agenda política de 1990
a 2014.
País Trajetória Prévia 1990-1999 2000-2014
México Ao longo do século XX: - Governos do PRI de Carlos - Governos PAN de Vicente Fox
- Constituição de 1917- Salinas de Gortari(1988-1994) (2000-2006) e Felipe Calderón
Pacto social amplo; porém, e Ernesto Zedillo (1994-2000) (2006-2012) – rompem com mais
70 anos de domínio de um Política econômica: Crises de 70 anos do PRI no governo
único partido no poder econômicas e reformas nacional.
(PRI). neoliberais; - Eleição de Peña Nieto - PRI
- Ações de saúde pública Aposentadorias/Pensões: retorna ao poder em 2012.
limitadas; sucessivas propostas de Política econômica: continuidade
- Em 1943: criação do IMSS privatização do seguro social; das políticas neoliberais;
(trabalhadores formais); em 1995: privatização do incentivos à expansão do setor
- Em 1959: criação do sistema de pensões (IMSS); privado.
ISSSTE (servidores resistências à privatização da Aposentadorias/Pensões: propostas
públicos); saúde e do ISSSTE. de expansão da participação
- Anos 1970: IMSS começa Assistência Social: expansão de privada no ISSSTE (planos
a oferecer serviços de saúde políticas de combate à pobreza complementares para os
para pobres rurais sem (transferência de renda). servidores);
cobertura. Política de Saúde: Assistência social: expansão
Anos 1980 - Reforma do Setor Saúde das políticas de transferência
- Governo de Miguel de la 1995-2000-descentralização de renda; Progresa se torna o
Madrid-PRI (1982-1988) envolve os 32 estados; criação programa Oportunidades;
- Crises econômicas: de “organismos públicos Política de Saúde:
reformas de austeridade, descentralizados” e fundo - Lei do Sistema de Proteção
contenção do gasto público; público para transferências Social em Saúde e Criação
- Democracia restrita; federais. do Seguro Popular de Saúde
- Reforma constitucional de - IMSS – Após privatização (2003) - voluntário e para pobres
1983 –direito das pessoas à das pensões, dificuldades – cobre número limitado de
proteção da saúde. financeiras crescentes para a intervenções de saúde de baixa
- Constrangimentos atenção médica. e média complexidade (285
orçamentários ao IMSS, - Baixo investimento nos ao final de 2013) e relação de
ISSSTE e Secretaria de serviços públicos e incentivo intervenções complexas por meio
Saúde; à contratação de privados do Fundo Catastrófico de Saúde;
- 1983-1984 – (ainda limitada). serviços em geral prestados pelas
Descentralização de serviços secretarias estaduais; em alguns
de saúde, sob condições estados-expansão de serviços
financeiras adversas, envolve públicos ou contratação de
14 estados. serviços privados.
- IMSS-Solidariedade
passa a se chamar IMSS-
Oportunidades; serviços passam
a ser disponibilizados para
beneficiários do Seguro Popular
em 2011.
-IMSS e ISSSTE – dificuldades
financeiras; lenta expansão da
contratação de serviços privados.
-Crescimento de consultórios
médicos; pequeno crescimento do
segmento de planos privados.
Fonte: Elaboração própria, a partir das diversas fontes bibliográficas e documentais.
Nota: Siglas APS- Atenção Primária em Saúde; PMO – Programa Médico Obrigatório; SIPA- Sistema Integrado Previdenciário
Argentino.

neoliberais na década de 1990. Os governos de ram o SUS, com avanços incrementais. No entan-
centro-esquerda de Lula e Dilma de 2003 a 2014 to, problemas estruturais não foram enfrentados,
implantaram políticas redistributivas e preserva- como o dinamismo do setor privado. A tomada
2207

Ciência & Saúde Coletiva, 23(7):2197-2212, 2018


do poder por Temer em 2016, após o impeach- gura 2). A Argentina, apesar de níveis iniciais ele-
ment de Dilma, mostrou o potencial de destitui- vados, apresentou oscilações, com aumento entre
ção de direitos sociais por um governo não eleito 2004 e 2009 e queda a partir de 2010 no gasto per
de orientação neoliberal, articulado a interesses capita e na participação do gasto público no PIB.
econômicos nacionais e internacionais. Quanto à composição do gasto público, no
Na Argentina, após a crise dos anos 1980, a Brasil 100% se destina ao SUS, enquanto nos
liberalização econômica foi radicalizada nos anos outros países mais de 50% se destina ao seguro
1990, ao longo do governo democrático de Me- social em saúde dos trabalhadores. No México, a
nem10. A partir de 2003, os governos Kirchner, de participação dos gastos do seguro social se redu-
centro-esquerda, implementaram medidas rees- ziu entre 1995 e 2014. Na Argentina essa parti-
tatizantes e buscaram expandir direitos sociais. cipação aumentou entre 2009 e 2014, sugerindo
Isso favoreceu a expansão de programas públicos que os gastos com o seguro social foram mais re-
na saúde, sem romper com a segmentação do sis- sistentes à retração do financiamento setorial do
tema de obras sociais, nem conter a expansão dos que os programas públicos.
mercados em saúde, por dentro das obras. Os gastos privados permaneceram elevados
No México, aceleradas reformas neoliberais nos três países, com diferenças de composição.
desencadeadas nos anos 1980 afetaram o sistema Destaque-se a relevância dos planos de saúde no
de saúde. O país não teve governos nacionais de Brasil e do desembolso direto no México, que se
esquerda e nem propostas de universalização da manteve o mais elevado no período, bem como o
saúde no período. A política social centrou-se no seu crescimento na Argentina nos últimos anos
combate à pobreza, em consonância com a orien- (Figura 3).
tação das agências internacionais e das reformas
econômicas. A burocracia dos institutos e o mo-
vimento sindical buscaram defender os direitos Considerações Finais
dos trabalhadores e a expansão da cobertura da
população não contribuinte, por meio dos insti- As políticas de saúde dos países estudados segui-
tutos e da provisão pública. ram caminhos diferentes nas últimas décadas.
Diante de resistências às reformas no seguro Porém, os três mostraram elementos de depen-
social, os governos apostaram na descentrali- dência de trajetória, persistindo a estratificação
zação, na fragilização dos institutos e, nos anos social e mercantilização em saúde, sob caracterís-
2000, no asseguramento dos pobres para oferecer ticas distintas. No Brasil, o SUS assegura o direito
um pacote restrito de ações. Predominou a dispu- dos cidadãos à saúde, mas parte da população
ta de projetos para a expansão da cobertura dos tem planos ou acessa serviços privados direta-
serviços de saúde fundados nas lógicas neoliberal mente. Na Argentina e no México, a segmentação
(pró-mercado e focalizada) ou corporativa (defe- se expressa na convivência entre seguro social,
sa das instituições públicas e dos direitos adqui- programas públicos específicos, pagamento a
ridos por parte da população). A partir de 2014, planos e serviços privados. No México, a cria-
a proposta de sistema universal foi retomada por ção do Seguro Popular acentuou a segmentação
um governo de direita, associada ao risco de ho- e reiterou o sistema de saúde como elemento de
mogeneização dos serviços por baixo, sob condi- estratificação social.
ções adversas de financiamento e descolada do Em todos, a base corporativa da proteção so-
debate sobre direito e modelo de atenção à saúde. cial foi relevante na conquista de direitos e resis-
A Tabela 1 resume indicadores dos países tência às reformas pró-mercado. Porém, tendeu
em 1990 e 2014. O Brasil apresentava em 1990 a manter a segmentação e a dificultar projetos
os piores indicadores de pobreza, desigualdades universalistas na saúde. Em meio à tensão entre
e saúde, mas teve avanços expressivos. A Argen- corporativismo e neoliberalismo, a ideia de direi-
tina, com a melhor situação inicial, também teve to universal perde espaço para a proposta de ‘co-
resultados positivos. Quanto ao México, em que bertura universal de saúde’, que é consoante com
pese a melhora de indicadores de saúde, regis- as reformas no México e com a estratégia lançada
traram-se resultados limitados na redução da em 2016 na Argentina.
pobreza, sugerindo a insuficiência das políticas No Brasil, a ruptura com o seguro social e a
focalizadas que predominam no país. instituição do SUS foram fundamentais para a
No financiamento da saúde, observa-se au- afirmação do direito, mas não suficientes para
mento do gasto público per capita no Brasil e no superar a estratificação e a força dos mercados
México, sendo os gastos maiores no primeiro (Fi- em saúde. A contradição central é a coexistên-
2208
Machado CV

Tabela 1. Indicadores demográficos, econômicos, sociais e de saúde selecionados. Argentina, Brasil e México, ao redor de 1990 e
2014.
Argentina Brasil México
Indicador
1990 2014 % Var. 1990 2014 % Var. 1990 2014 % Var.
População (total)* 32.688.966 42.874.155 31,2 150.310.243 205.960.069 37,0 85.380.637 122.978.018 44,0
População (% América 7,5 7,0 - 6,6 34,5 33,7 - 2,5 19,6 20,1 2,5
Latina)*
PIB per capita (US$ 4302,9 13225,9 207,4 2838,6 11732,6 313,3 3435,9 10532,4 206,5
correntes)*,1
GDP (% América Latina)*,1 12,4 9,2 - 26,3 37,7 39,0 3,6 25,9 20,9 - 19,3
Agricultura, valor 8,1 8,0 - 1,5 8,1 5,0 - 37,9 7,8 3,5 - 54,9
adicionado (% do PIB)**,1
Indústria, valor adicionado 36,0 28,9 - 19,7 38,7 23,8 - 38,5 28,4 34,3 20,8
(% do PIB)**,1
Serviços, valor adicionado 55,9 63,1 12,9 53,2 71,2 33,8 63,7 62,1 - 2,5
(% do PIB)**,1
Grau de abertura da 15,6 28,4 81,8 14,1 25,1 77,6 34,3 65,8 92,0
economia (% US$
correntes)*
Pobreza (% população)*,2 16,1 4,3 - 73,3 48,0 16,5 - 65,6 44,2 41,2 - 6,8
Extrema pobreza (% 3,4 1,7 - 50,0 23,4 4,6 - 80,3 16,0 16,3 1,9
população)*,2
Coeficiente de Gini*,3 0,501 0,470 - 6,2 0,627 0,548 -12,6 0,542 0,491 - 9,4
Abastecimento de água 93,8 98,9 5,4 88,5 98,1 10,8 82,3 96,1 16,8
tratada (% da população
com acesso)**
Infraestrutura adequada 87,4 96,1 10,0 66,6 82,7 24,2 66,2 85,1 28,5
de saneamento (% da
população com acesso)**
Expectativa de vida ao 71,5 76,2 6,5 65,3 74,4 13,9 70,8 76,7 8,4
nascer, total (anos)**
Fecundidade total 3,0 2,3 - 22,3 2,8 1,8 - 36,3 3,5 2,2 - 35,5
(nascidos por mulher)**
Taxa de mortalidade de 27,6 12,9 - 53,3 60,8 16,2 - 73,4 46,6 13,8 - 70,4
menores de 5 anos (por
1.000 nascidos vivos)***
Taxa de mortalidade 24,4 11,5 - 52,9 50,9 14,4 - 71,7 37,1 11,9 - 67,9
infantil (por 1.000 nascidos
vivos)***
Taxa de mortalidade 15,4 6,5 - 57,8 24,3 9,6 - 60,5 20,6 7,4 - 64,1
neonatal (por 1.000
nascidos vivos)***
Fontes: * CEPAL, 2017 (CepalStat); ** Banco Mundial (Base de Dados), 2017; *** Organização Mundial de Saúde (Repositório de
Dados), 2017.
Notas: 1 PIB - Produto Interno Bruto; 2 Pobreza e Extrema Pobreza- na Argentina, os dados se referem apenas à população urbana e
aos anos 1994 e 2012; no México, o dado se refere à população total e aos anos 1992 e 2014. 3 Coeficiente de Gini - na Argentina, os
dados se referem apenas à população urbana e aos anos 1990 e 2014; no México, os dados se referem à população total e aos anos
1992 e 2014.

cia de um sistema público forte, que favoreceu o sistema público e ameaça a sua viabilidade, ao
o acesso e as mudanças no modelo de atenção disputar recursos do Estado e da sociedade.
à saúde, com um setor privado dinâmico e em O caráter da democracia e a orientação polí-
expansão, que mantém relações imbricadas com tica dos governos importam. O México, nas três
2209

Ciência & Saúde Coletiva, 23(7):2197-2212, 2018


6,00 1000,00

900,00

5,00
800,00

700,00
4,00
Gasto público - %PIB

600,00

Gasto público per capita - US$ PPC


3,00 500,00

400,00

2,00
300,00

200,00
1,00

100,00

0,00 0,00
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Argentina (%PIB) Brasil (%PIB) México (%PIB) Argentina (Per Capita) Brasil (Per Capita) México (Per Capita)

Figura 2. Gasto público em saúde como proporção (%) do PIB1 e gasto público per capita (US$ PPC)2 em saúde.
Argentina, México e Brasil, 1995 a 2014.

Fonte: OMS (Repositório de Dados), 2017. http://apps.who.int/gho/data/node.home.


Notas: 1PIB - Produto Interno Bruto; 2US$ PPC: Em dólares americanos, pareado por poder de compra.

70,0 60,0

60,0
DesembolsoDdireto % Gasto Total Saúde

50,0
Gasto Privado % Gasto Total Saúde

50,0
40,0

40,0
30,0
30,0

20,0
20,0

10,0
10,0

0,0 0,0

Argentina - Gasto privado % Gasto Saúde Brasil - Gasto privado % Gasto Saúde
México - Gasto privado % Gasto Saúde Argentina - Gasto Desembolso Direto % Gasto Saúde
Total
Brasil -Gasto Desembolso Direto % Gasto Saúde
Total México - Gasto Desembolso Direto % Gasto Saúde
Total

Figura 3. Participação dos gastos privados totais e dos gastos por desembolso direto no gasto total em saúde.
Argentina, Brasil e México, 1995 a 2014.

Fonte: OMS (Repositório de Dados), 2017. http://apps.who.int/gho/data/node.home.


2210
Machado CV

décadas, não teve governos progressistas e foi ob- Nos três países, obstáculos ao sistema pú-
jeto de reformas neoliberais, com efeitos sobre a blico de saúde transcendem limites setoriais, se
previdência e a saúde. Na Argentina e no Brasil, a relacionando à sua identificação como mercados
presença de governos de centro-esquerda de 2003 atraentes para empresas de saúde internacionais
a 2014 foi relevante para a contenção de reformas e nacionais. A disputa de grupos privados por
neoliberais e a adoção de políticas redistributi- recursos constrange os serviços públicos. Porém,
vas, com a expansão de programas sociais e de sistemas de saúde com forte componente priva-
saúde. Porém, não foi suficiente para o enfrenta- do são fragmentados, caros, vulneráveis a ciclos
mento de problemas estruturais dos sistemas de econômicos e excludentes, especialmente em so-
saúde, que expressaram contradições e projetos ciedades desiguais.
em disputa. Recentemente, o retorno ao poder O desafio para as nações latino-americanas é
de governos de direita – na Argentina, pela via construir um pacto em torno de um projeto de
eleitoral; no Brasil, por impeachment presidencial desenvolvimento soberano, democrático e orien-
– tem levado a retrocessos nos direitos sociais. tado para garantir direitos sociais. Nessa perspec-
Fragilidades na democracia se expressam em ins- tiva, o papel do Estado, em diálogo com diferentes
tabilidade institucional e descontinuidades nas grupos da sociedade, seria conter as forças de mer-
políticas, manipulação pela mídia e perseguição cado, promover a redistribuição social, reduzir as
a lideranças de esquerda. desigualdades e expandir a cidadania universal.

Agradecimentos

A autora é bolsista de Produtividade em Pes-


quisa do CNPq. O artigo foi elaborado durante
o programa de Residência Acadêmica (Writing
Residency) no Centro de Bellagio da Fundação
Rockefeller (Bellagio Center – Rockefeller Foun-
dation), em junho-julho de 2017. A pesquisado-
ra Gabriela Nora Ruiz colaborou no trabalho de
campo e na caracterização do caso da Argentina.
A análise e as conclusões expressas no artigo são
de responsabilidade exclusiva da autora.
2211

Ciência & Saúde Coletiva, 23(7):2197-2212, 2018


Referências

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Artigo apresentado em 01/02/2018


Aprovado em 12/03/2018
Versão final apresentada em 02/04/2018

CC BY Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons

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