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Direitos Humanos
&
a Constituição Brasileira de
1988
Dispositivos constitucionais básicos:
Tal processo se referia ao Pacto de São José da Costa Rica, que proíbe
qualquer prisão por dívida (a não ser por alimentos), resultando na
impossibilidade da prisão do depositário infiel no Brasil.
- Então por que o art. 5º LXVII não foi revogado e continua a prever a
prisão do depositário infiel?
CF + EC + direitos decorrentes do
regime e dos princípios + Tratados Natureza / Equivalência
de DH aprovados conf. o art. 5º, §3º Constitucional
Tratados de DH aprovados
por maioria simples Natureza Supralegal
Ou seja, o art. 5º, LXVII CF, apesar de não revogado, foi tornado ineficaz, pois o
PSJCR (de natureza supralegal) paralisou a eficácia dos artigos infraconstitucionais
voltados à prisão do depositário infiel (art. 1.287 do Código Civil de 1916; o
Decreto-Lei nº 911/69; e o art. 652 do Novo Código Civil).
TESE DA SUPRACONSTITUCIONALIDADE
Defendida por Bidart Campos e Celso Albuquerque de Mello, afirma que os
Tratados de DH pré-EC.45/04 seriam normas supraconstitucionais. Posição que
se coaduna com a teoria monista.
TESE DA CONSTITUCIONALIDADE
Defendida por Flávia Piovesan, Cansado Trindade, Silvia Helena Steiner, Luiz
Flávio Gomes, Valério Mazzuoli e Ada Peregrini Grinover.
Também foi defendida pelos Ministros Celso de Mello, Cezar Peluso, Eros Grau e
Ellen Gracie, quando do julgamento do RE 466.343-1/SP.
Possui sua lógica, já que o Art. 5º, § 2º CF, que tem redação original de 1988,
dispõe: “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros
decorrentes [...] dos tratados internacionais em que a República Federativa do
Brasil seja parte”.
“Segundo o nosso entendimento, a cláusula aberta do § 2º do art. 5º, da Carta de
1988, sempre admitiu o ingresso dos tratados internacionais de proteção dos
direitos humanos no mesmo grau hierárquico das normas constitucionais, e não em
outro âmbito de hierarquia normativa. Portanto, segundo sempre defendemos, o
fato de esses direitos se encontrarem em tratados internacionais jamais impediu a
sua caracterização como direitos de status constitucional” (MAZZUOLI, 2019, p.1272-PDF).
• É um conceito bastante amplo, que serviu de base para a ADPF nº 182 de 2009.
- Esta ADPF buscava declarar a inconvencionalidade do art. 20, §2º, da Lei da organização da
Assistência Social (nº 8.742/93) cujo conceito de PcD era bem mais restrito, vejam só: “a pessoa
portadora de deficiência é aquela incapacitada para a vida independente e para o trabalho”.
- Este conceito exclui, por exemplo, PcDs que vivem só, mas, nem por isso, deixam ser PcDs.
- Mas, antes de ser julgada, a ADPF perdeu o seu objeto, visto que a Lei nº 12.470/11 alterou o
texto legal e atribuiu às pessoas com deficiência o exato conceito previsto pela Convenção.
Mais conceitos básicos
O artigo 2º ainda traz alguns outros conceitos básicos, dentre eles:
* o Tratado não esclarece o que isso significa. Tanto que, no Guia deste Tratado, editado pelo Governo
Bolsonaro, afirma: “Como tais entidades são sem fins lucrativos, o acesso às obras em formato acessível
deverá ser gratuito ou mediante pagamento equivalente aos custos de produção e distribuição.”
De acordo com o art. 3º, será BENEFICIÁRIO toda pessoa:
a) cega;
b) que tenha deficiência visual ou outra deficiência de percepção ou de leitura
que não possa ser corrigida para se obter uma acuidade visual substancialmente
equivalente à de uma pessoa que não tenha esse tipo de deficiência ou
dificuldade, e para quem é impossível ler material impresso de uma forma
substancialmente equivalente à de uma pessoa sem deficiência ou dificuldade;
c) que esteja impossibilitada, de qualquer outra maneira, devido a uma
deficiência física, de sustentar ou manipular um livro ou focar ou mover os olhos
da forma que normalmente seria apropriado para a leitura.
Segundo Silvio Albuquerque, “Do ponto de vista estratégico e pragmático, uma das conquistas mais
importantes do Comitê foi a caracterização da discriminação racial como um fenômeno presente em todas
as sociedades do mundo, sem exceção. Ao consolidar o entendimento de que tal manifestação não é uma
doença social, mas uma prática objetiva que viola os princípios da igualdade e da não-discriminação,
afastou-se qualquer tentativa legítima dos Estados de evitar o regular escrutínio por parte do Comitê, sob o
pretexto da inexistência de discriminação racial em seu território.
Como membro do Comitê, testemunho uma tendência crescente de Estados recusando-se a admitir a
existência de discriminação racial em territórios submetidos a sua jurisdição. [...] Tal fato é especialmente
grave, tendo em vista que os principais motores e facilitadores da discriminação racial no mundo são
Estados que justificam, adotam e implementam políticas que discriminam racialmente, ainda que de forma
indireta, com base na raça, cor, descendência, origem étnica ou nacional.
DIREITOS
HUMANOS
Genocídio, Tortura e o TPI
CONVENÇÃO CONTRA O GENOCÍDIO DE 1949
• Assinada em 11 de dezembro de
1948, por ocasião da III Sessão
da Assembleia Geral das Nações
Unidas – entrou em vigor em 12
de janeiro de 1951.
• Recepcionada pelo Brasil via
Decreto n. 30.822/1952.
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CONVENÇÃO CONTRA O GENOCÍDIO DE 1949
Artigo II - Na presente Convenção, entende-se por genocídio qualquer
dos seguintes atos, cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em
parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, tal como:
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CONVENÇÃO CONTRA O GENOCÍDIO DE 1949
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CONVENÇÃO CONTRA O GENOCÍDIO DE 1949
• Além disso, o genocídio não pode ser considerado crime político, para
fins de extradição (art. VII) - e os Estados-parte se comprometem a
proceder à extradição!
• Isso é importante porque o Brasil não extradita estrangeiro por crime
político à assim, se o ato for considerado genocídio, caberá
extradição!
• Por fim, o Código Penal (art. 7º, I, d) determina que o genocídio
praticado por brasileiro sempre será julgado pelo Brasil e,
independentemente da nacionalidade, se tiver ocorrido em solo
brasileiro (art. 7º).
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O MASSACRE DE HAXIMU
“Em 23/07/1993, garimpeiros mataram 12
indígenas ianomâmis a tiros e golpes de
facão, incluindo cinco crianças.”
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CONVENÇÃO CONTRA O GENOCÍDIO DE 1949
A Convenção foi base para casos internacionais, como:
• da Ex-Iugoslávia e a Guerra dos Balcãs entre sérvios e não sérvios, que
resultou em cerca de 100 mil mortes. à Criação, pela ONU, do Tribunal
Penal Internacional da Ex-Iugoslávia, em 1993.
• de Ruanda e a Guerra civil entre tutsis e hutus, com saldo de 800 mil
mortes à Instauração do Tribunal Penal Internacional de Ruanda, criado
pela ONU, em 1994.
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“
No Brasil, a Convenção encontrou ressonância no Direito pátrio, pois
em 1956 foi promulgada a Lei do Genocídio – Lei n.2.888, pelo então
presidente J. Kubitschek.
E
A CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA
PREVENIR E PUNIR A TORTURA DE 1985.
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CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS
TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU
DEGRADANTES DE 1984
• Adotada pela Resolução 39/46, da Assembleia Geral das Nações
Unidas, em 10 de dezembro de 1984 e internalizada pelo Decreto n.
40/1991.
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CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA DE 1984
ARTIGO 1º: “1. [...] o termo "tortura" designa qualquer ato pelo qual
dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos
intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira
pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma
terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de
intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer
motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais
dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra
pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o
seu consentimento ou aquiescência. [...]”.
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CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA DE 1984
• A Convenção permite a negatória de extradição para país onde se
supõe, razoavelmente, que o indivíduo pode ser torturado.
• Todavia, o próprio Estado, que deverá proceder à internalização do
crime de tortura poderá processar ele próprio.
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CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA DE 1984
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CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA DE 1984
• A Convenção criou o Comitê sobre a Tortura com a função de
fiscalização do cumprimento da Convenção pelos Estados partes.
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CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA DE 1984
• O PROTOCOLO FACULTATIVO:
• Estabelece um sistema de visitas regulares efetuadas por órgãos
nacionais e internacionais independentes a lugares onde pessoas são
privadas de sua liberdade, com a intenção de prevenir a tortura e
outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.
• Determina a criação de um Subcomitê de Prevenção da Tortura e
outros Tratamentos ou Penas Cruéis, constituído de 10 membros,
eleitos e indicados pelos Estados parte.
• Mas, por óbvio, o Comitê não detém competência jurisdicional sobre
tais crimes. Quem a possui é o TPI.
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Tribunal Penal Internacional
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O Tribunal Penal Internacional
Sobre o TPI, algumas considerações se fazem necessárias:
- Ele NÃO está vinculado à qualquer organização internacional.
- Composto por 18 juízes, é instalado em Haia (Holanda), em 2003.
- Atualmente, 123 Estados aceitaram a competência do TPI, mas não
China, EUA, Israel e Rússia, dentre outros.
Art. 25. Estatuto de Roma do TPI: "1. De acordo com o presente Estatuto, o Tribunal
será competente para julgar as pessoas físicas. 2. Quem cometer um crime da
competência do Tribunal será considerado individualmente responsável e poderá
ser punido de acordo com o presente Estatuto".
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- Buscando impedir novos Tribunais Ad Hoc, o Estatuto de Roma
reconhece sobre o TPI os princípios da legalidade e da
irretroatividade, dispondo que:
A ex-juíza de Haya, Sylvia Steiner afirmou: "Por ora, não há fatos provados. Existem alguns indícios em relação
ao genocídio. E isso é sempre complicado, porque você precisa comprovar que havia uma intenção de
eliminar os yanomami da face da Terra“.
Sobre o genocídio: "Pode ser observada a existência de um plano, de uma política de Estado contra os
yanomami, mas em função da terra que eles ocupam e do interesse em se apropriar das riquezas dali. Ou
seja, nesse caso não falamos de uma perseguição dos yanomami por causa da etnia deles“.
"Acontece que essa política de Estado leva à exterminação do grupo. Então, nós podemos estar diante de um
crime contra a humanidade de extermínio ou perseguição“.
Sobre as duas denúncias em avaliação no TPI, elas só poderiam ser processadas, caso a
justiça brasileira se mostre inerte e/ou ineficaz.
O DIREITO DE ASILO E A
PROTEÇÃO INTERNACIONAL
AOS REFUGIADOS
Há autores que, pela titularidade individual do direito de asilo/refúgio,
entendem-no como direito de 1ª dimensão. (vide NODARI; BOTELHO, 2008, p.
137 apud MACIEL; BRABO, 2016, p.92)
*Em 1967, o Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados (Brasil, Decreto 70.946/1972), em
seu art. 1º, II, suprimiu as limitações sublinhadas acima, bem como ampliou o escopo
daquele Tratado, para refugiados de todo o mundo, não apenas europeus.
Em suma, “refugiada é a pessoa que não só não é respeitada pelo Estado ao
qual pertence, como também é esse Estado quem a persegue, ou não pode
protegê-la quando ela estiver sendo perseguida” (PIOVESAN, Temas DH, 2012, p.131-
PDF). Porém, o Estatuto de 1951, mesmo reformado pelo Protocolo de 1967,
limitava a perseguição a motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social
ou opiniões políticas.
- Mesmo com a pandemia (ou, talvez, exatamente por isso), o ano de 2020 bateu o
recorde de refugiados: 82,4 milhões, segundo relatório do ACNUR (Alto-
comissariado da ONU p/ os Refugiados).
DIFERENÇAS:
- o refúgio é medida humanitária; o asilo é medida política.
- quando em razão de perseguição, para o refúgio, basta o fundado temor dela;
para o asilo, é necessária a efetiva perseguição.
- no refúgio, a proteção, como regra, se opera fora do país; no asilo, ela pode-se
dar no próprio país ou na embaixada do país de destino (asilo diplomático).