Você está na página 1de 10

Ipef Espacio Curricular: Juego Motor 2014

CAPACIDADES COORDENATIVAS
AUTORES: GRECO Y BENDA19

Coordenar significa, etimologicamente, ordenar junto. No esporte, esta característica se


agrega à função de harmonização dos processos parciais, que tendo em vista o objetivo da ação
permitem que este seja alcançado com o menor gasto energético possível. O nível de
conhecimento sob as capacidades coordenativas não é tão diferenciado e teoricamente
comprovado como o das capacidades físicas. A coordenação é uma das capacidades físicas que,
devido à complexidade dos processos e subprocessos que a conformam, provocam maior
controvérsia, quanto a seus alcances, limites e conteúdos. Conforme o ponto de vista em que é
considerada, toma-se um plano de análise diferente. As dúvidas são determinadas
fundamentalmente na dificuldade de se obter progressos sobre aspectos neurofisiológicos e os
respectivos correlatos a nível córtex, (procedimento dedutivo); onde o conhecimento até hoje
possui várias dúvidas e muitas hipóteses. Por outro lado as pesquisas no plano de observação do
comportamento (procedimento indutivo) tem aportado resultados contraditórios.
As capacidades coordenativas possuem um caráter geral, ou seja, elas são pré-requisitos
de organização para uma determinada classe de tarefas motoras, que em determinados
momentos, ou situações no esporte exigem a realização de uma técnica específica. Baseados
em diferentes autores (MEINEL e SCHNABEL, 1987; ROTH, 1982; LETZELTER, 1978;
PÖHLMANN, 1986), entendemos que as capacidades coordenativas podem ser definidas e
-
requisitos de r

As capacidades coordenativas estão determinadas pelos processos de regulação e


orientação do movimento (MEINEL e SCHNABEL, 1987:242). Habilitam ao atleta a dominar, de
forma segura e econômica, ações motoras em situações previsíveis (estereótipos) e imprevisíveis
(adaptação), como também aprender movimentos esportivos. Do ponto de vista da Teoria da

um todo, que abrange todos os processos de regulação - intelectual, emocional, automático - que

coordenação em esportes está diretamente ligada a capacidade de aprendizagem e inclui


capacidades e processos como: a adaptação, a combinação de movimentos, e a capacidade de
regulação e condução de movimentos - quanto maiores as proporções do movimento de todo o
corpo, maior a dificuldade de coordenação - do mesmo. Os trabalhos de investigação científica
mais importantes, entre outros, na área são os de: ADAMS, (1971), SCHMIDT, (1975, 1982,
1991), HIRTZ, (1964, 1977), MEINEL (1965) e MEINEL e SCHNABEL (1976, 1987), ROTH
(1982), SAGE (1984), SHEA et alii (1993).
Os autores acima citados, concordam na complexidade do processo de coordenação e
consideram que esta capacidade está constituída por uma série de processos onde se
interrelacionam as áreas motora, cognitiva, perceptiva, neurofisiológica e da memória. Baseados
em SCHNABEL, (1987), os componentes básicos das capacidades coordenativas resumem-se no
seguinte quadro:

19
Inicacion Deportiva Universal, (1998) Greco, Pablo J.
118
Ipef Espacio Curricular: Juego Motor 2014

Figura 7: Componentes Básicos das Capacidades Coordenativas. (MEINEL e SCHNABEL,


1987:244)

A leitura dos componentes básicos das capacidades coordenativas vai nos permitir
relacionar com maior facilidade os pontos em comum entre estas e as capacidades técnicas e
táticas. Pois para todo movimento é necessária a percepção do próprio corpo, dos objetos e da
situação como um todo, é importante inter-relacionar essas percepções com as experiências
retidas na memória o que implica em processos de cognição na ação, e a necessidade de

de operações efetoras.
As capacidades coordenativas devem ser interpretadas como um conjunto de processos
que estão sendo determinados pela função parcial que eles desempenham, as quais servem de
base para o processo coordenativo. Entre estas funções temos os processos de percepção,
programação, antecipação, comparação dos parâmetros ideais e reais do movimento, e os
im
motivos importante não classificar as capacidades coordenativas dentro de somente um desses
processos parciais. A relação das capacidades psíquicas e coordenativas é muito forte, sendo
assim difícil de estabelecer uma clara separação teórica das mesmas.
O desenvolvimento das capacidades coordenativas é tema central na fase universal (IEU).
Uma adequada sistematização dos conteúdos inerentes a estas capacidades no decorrer
evolutivo do planejamento vai permitir ao docente variar sua ação pedagógica, o que lhe

diferenciado para cada série.


De acordo com WEINECK (1991:232), quanto mais complexo ou complicado for um
movimento de uma seqüência motora, maior será o significado das capacidades físicas a serem
requisitadas, o que destaca o valor das capacidades coordenativas.
Segundo MEINEL e SCHNABEL (1987), as capacidades coordenativas podem ser
classificadas da seguinte forma:

1) Capacidade de diferenciação:
Esta capacidade se refere à qualidade do movimento. Executa-se o movimento de forma
perfeita, com economia de esforço tal qual o programa arquivado na memória. Um grande
domínio do movimento capacita o executante variar algumas de suas etapas, fazendo uma
distinção bastante refinada.
2) Capacidade de acoplamento:
Este termo acoplar, traz a idéia de unir e refere-se justamente a esta característica de unir
movimentos parciais diferentes do corpo, tornando-os uma só seqüência, acoplados entre si,
coordenados.
3) Capacidade de reação:
Refere-se à velocidade com que um sinal é detectado e ocorre uma resposta a este
estímulo. Quanto mais rápida e melhor for a resposta a um sinal, melhor a capacidade de reação.
4) Capacidade de orientação:
É a capacidade de determinar o espaço disponível e atuar nele, utilizando todas as suas
possibilidades. É também saber se relacionar adequadamente com companheiros, adversários e
o objeto central do jogo, na maioria dos esportes coletivos, a bola.
5) Capacidade de equilíbrio:
Relaciona-se à capacidade de manter ou recuperar a estabilidade. Manter, se for o caso de
uma posição estática ou movimentos lentos e recuperar quando realizar movimentos rápidos ou
saltos. Nas duas situações adquirir uma posição estável pode ser fundamental para a qualidade
do movimento.
6) Capacidade de mudança:
Esta capacidade pode ser observada quando há uma adaptação a novas situações,
posições, direções. Tem como característica básica a variação sem que se perca a continuidade
do gesto.
7) Capacidade de ritmo:
Ocorre quando o indivíduo se adapta a um ritmo externo. Segue e executa os movimentos
dentro deste ritmo. Porém, é muito importante a realização do movimento seguindo um ritmo
interno, interior, de acordo com seus interesses e motivações.
Apesar destas capacidades estarem integradas entre si, existem algumas características
específicas. Estas capacidades coordenativas estão relacionadas a três outros campos de
capacidades: Capacidade de Aprendizagem Motora, Capacidade de Condução e Capacidade de
Adaptação.

119
Ipef Espacio Curricular: Juego Motor 2014

Como capacidade de aprendizagem motora, entende-se como todas os processos


presentes durante a aprendizagem de um movimento (percepção, atenção, memória, motivação,
feedback, tomada de decisão, dentre outros). Assim todas as capacidades coordenativas são
importantes para a aprendizagem motora, sendo fundamental o bom desenvolvimento de cada
uma destas para a otimização dos processos de aprendizagem.

Estrutura das Capacidades Coordenativas

Capacidade de Acoplamento

Capacidade de Rítmo

Capacidade de Reação

Capacidade de Equilíbrio

Capacidade de Diferenciação

Capacidade de Orientação

Capacidade de Câmbio

Figura 8: Estrutura das Capacidades Coordenativas ZIMMERMANN in MEINEL e SCHNABEL


(1987:276)

Já para a capacidade de condução, esta diretamente relacionada com as capacidades de


acoplamento e ritmo. A capacidade de condução é necessária para a correta execução e direção
do movimento está mais relacionada aos movimentos fechados, ou seja, aqueles que o ambiente
é estável e previsível, permitindo organização antecipada do movimento (SCHMIDT, 1993:285).
A capacidade de Adaptação se relaciona aos movimentos abertos, que são aqueles que o
ambiente é inestável, dependendo da interação tarefa-contexto para uma boa qualidade de
desempenho. A capacidade de adaptação está diretamente relacionada com as capacidades de
equilíbrio, orientação, ritmo, reação e câmbio. Esta capacidade se manifesta principalmente nos
esportes de combate e nos jogos esportivos coletivos, onde o atleta não pode ter uma única
resposta motora. A capacidade de adaptação é indispensável para o indivíduo poder se localizar,
situar em situações inesperadas ou de alta variabilidade das condições.
Nós consideramos importante agregar a estas a CAPACIDADE DE ASSOCIAÇÃO, que se
manifesta especificamente naqueles movimentos onde a sequência de ações é de notória
importância. Em esportes como a ginástica olímpica, por exemplo, a capacidade do atleta de
associar movimentos numa série de execícios é de fundamental importância para a composição
dos graus de dificuldade e da estética do movimento na sua totalidade.
As sete capacidades coordenativas apresentadas por ZIMMERMANN in MEINEL e
SCHNABEL (1987), somadas à capacidade de Associação de Movimentos devem ser entendidas
dentro de um contexto geral da motricidade do ser humano. Estão presentes em todas as
atividades do indivíduo, o que delimita o caráter universal das capacidades coordenativas para a
vida de uma forma global.
Nós vamos combinar a classificação de ZIMMERMANN in MEINEL e SCHNABEL
(1987:258) com a estruturação apresentada por ROTH (1983:77), que divide a coordenação
partindo dos aspectos funcionais da aplicação das capacidades coordenativas para a
120
Ipef Espacio Curricular: Juego Motor 2014

concretização de uma ação, e que como se verá, é muito conveniente para sua aplicação nos
jogos esportivos coletivos. Esta estruturação considera a capacidade de coordenar movimentos
(ou que significa conduzir e adaptar ou mudar o movimento tanto em forma veloz quanto precisa)
em situações:

A Capacidade Coordenativa (ROTH, 1983:77)

Existem algumas medidas metodológicas para o desenvolvimento da coordenação propostas por


ZIMMERMANN in MEINEL e SCHNABEL (1987:288):

Variação da execução do movimento: executar um movimento de diversas formas faz com que
o indivíduo tenha um maior domínio sobre o próprio gesto. Variando, por exemplo, a
velocidade, a amplitude, as forças atuantes, o tempo de execução, haverá uma coordenação
diferenciada para cada situação. Assim, há a possibilidade de trabalhar a coordenação de uma
forma mais generalizada. Não existe a repetição do mesmo gesto, ampliando a utilização das
capacidades coordenativas, em especial o acoplamento e diferenciação, o ritmo e a agilidade.
pode

Modificação das condições externas: esta modificação irá influenciar na forma como o
executante solucionará o seu problema. Principalmente, se esta variação de condições
aumentar o grau de complexidade da tarefa. Neste caso, o movimento deverá ser de boa
qualidade e, para isso, as capacidades coordenativas precisariam ter um bom
desenvolvimento. Pode-se variar as condições externas através de variação de objetos que
acompanham a atividade, executar o movimento em terrenos diferentes, ou até mesmo, atuar
ao lado de outros companheiros. Como veremos mais adiante, na fase do treinamento técnico,
ROTH (1990) define a importância da modificação dos parâmetros externos como princípio de
apoio aos elementos variáveis do programa.
Combinação de diferentes habilidades motoras e técnicas: durante a aprendizagem de uma
técnica, somente a repetição desta técnica pode ser insuficiente para que o movimento tenha
uma boa coordenação. Para um bom desenvolvimento da coordenação pode-se trabalhar
diversos movimentos dentro de uma seqüência, somando-se nesta seqüência, várias
habilidades motoras que podem ser realizadas agrupadas em série. Na fase do treinamento
técnico, combinar implica em aumentar os elementos que constituem o programa motor.

a tarefa, poderá proceder sua simplificação através do encurtamento ou alongamento (slow-


motion) do programa ou dar ênfase no resultado ou na posição inicial constantes.
Execução de movimento em velocidade máxima: existe uma grande diferença entre executar
um movimento com boa coordenação e executar um movimento com boa coordenação e em
velocidade. Para se executar um movimento em velocidade máxima é necessário um grau de
coordenação maior, principalmente as capacidades de reação, acoplamento e orientação.
Variação da percepção de informação: quanto mais informações uma pessoa tem sobre o seu
movimento, maiores são as chances de executá-lo com boa coordenação. Assim, se for
proporcionada ao praticante maiores oportunidades de perceber o movimento, a tendência é
melhorar a coordenação. Novas oportunidades para perceber as informações gerais deste
movimento (óptica, acústica, vestibulares, táteis e cinestésicas) poderão desenvolver algumas
capacidades coordenativas tais como a reação e a orientação. Da mesma forma que
121
Ipef Espacio Curricular: Juego Motor 2014

aumentando a percepção pode desenvolver a coordenação, dificultando a percepção também

pode auxiliar a coordenação. Com menos informações sobre o seu movimento, o executante
dependerá de algumas capacidades coordenativas para que o movimento tenha boa
qualidade, principalmente o equilíbrio e a diferenciação.
Execução de movimento após ter realizado outra atividade física: para que haja precisão e
harmonia no movimento após ter realizado atividade física, é necessário uma boa evolução da
coordenação. É importante ressaltar que o objetivo é realizar o movimento de forma correta,
treinando as capacidades coordenativas para uma situação de fatiga. Deste modo, não há
perigo de ocorrer um erro no movimento devido ao cansaço, pois treinando a coordenação
nestas condições, haverá um melhor aproveitamento. As capacidades coordenativas com
maior utilização são: orientação, diferenciação, reação e agilidade.
Utilização do treinamento mental em forma de imaginação de movimentos: o treinamento
mental, a imaginação do movimento é uma forma de fixar o programa motor. Assim,
capacidades como diferenciação, orientação e equilíbrio podem ser desenvolvidas. Com a
imaginação, o executante consegue determinar melhor o movimento realizado, podendo variar
algumas características ou até mesmo, aperfeiçoá-lo. O praticante ainda tem a possibilidade
de perceber, com mais detalhes, seu corpo, orientando-se em relação espaço disponível e
realizando o movimento mais equilibrado.

Contudo, como todo programa a ser desenvolvido, a evolução da coordenação dependerá


de alguns aspectos para o seu sucesso. Um destes aspectos é o diagnóstico da coordenação. A
avaliação é fundamental, pois o processo de treinamento baseia-se na comparação com seu
estágio anterior. Este diagnóstico atuaria, conforme MEINEL & SCHNABEL (1987:177),
diretamente com o controle do desenvolvimento das capacidades coordenativas, controle da
efetividade dos exercícios e métodos aplicados e analisando cada capacidade e suas inter-
relações.

Desenvolvimento das capacidades coordenativas Autor Greco & Benda

As capacidades coordenativas servem como base para a execução de qualquer movimento


humano. É necessário, ainda, ressaltar que, apesar da coordenação ter como fases sensíveis a
infância e a puberdade, muitos docentes ignoram tais conhecimentos. O profissional de educação
física deve ter uma visão global de todos os processos que fundamentam o desenvolvimento e a
aprendizagem de movimentos. O desenvolvimento das capacidades coordenativas é
imprescindível durante a infância, seja na vida como um todo ou seja na iniciação esportiva, ou
como um item importante no decorrer da evolução motora do ser humano. Desenvolvendo as
capacidades coordenativas, o professor irá garantir que o conteúdo básico e exclusivo da
educação física seja ministrado, tornando, desta forma, evidente que o objeto de estudo desta
área é o movimento humano, seu desenvolvimento e aprimoramento.
Utilizaremos um estudo de MARTIN (1982:14-24), no qual este pesquisador apresenta o
desenvolvimento da treinabilidade das capacidades coordenativas, sendo que, no quadro

inerentes à coordenação.

122
Ipef Espacio Curricular: Juego Motor 2014

IDADE 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

CAPACIDADE DE
APRENDIZAGEM MOTORA

CAPACIDADE DE
DIFERENCIAÇÃO

REAÇÃO ÓTICA-ACÚSTICA

ORIENTAÇÃO ESPACIAL

RITMO

EQUILÍBRIO

CAPACIDADES COGNITIVAS

MOTIVAÇÃO DE APRENDIZAGEM

Fases Sensíveis do Desenvolvimento Psico-Motor (MARTIN, 1982: 51)

De acordo com este modelo, existem fases sensíveis para o desenvolvimento das
capacidades coordenativas. Na figura é apresentado uma fase propícia e outra fase ótima para o
treinamento dos elementos constitutivos das capacidades coordenativas. Percebe-se, então, que
o período entre 6 e 14 anos se destaca como estágio de desenvolvimento da coordenação,
principalmente entre entre 9 e 13 anos. Mesmo durante a adolescência, há a possibilidade de
evoluir em relaçäo às capacidades coordenativas. Porém é no período final da infância e na
puberdade que estas capacidades podem ser estimuladas e aperfeiçoadas com aproveitamento
máximo. Assim, nas aulas de educação física e nas atividades de iniciação esportiva desta faixa
etária, o desenvolvimento da coordenação torna-se um conteúdo imprescindível.

análise da situação, fixa o objetivo e planeja os movimentos baseados na sua experiência motora,
assim como controla os processos de regulação motora. O desenvolvimento das capacidades
coordenativas leva a uma melhoria da percepção, aumenta a memória (e o repertório) dos
movimentos e refina todos estes processos. Um bom desenvolvimento coordenativo melhora a

Através dos conceitos discutidos percebe-se a importância de conhecer o tema e aplicá-lo


nas aulas, tentaremos resumir em um quadro os princípios básicos que podem orientar o
desenvolvimento da coordenação.
No nosso texto, estamos conseqüentemente utilizando, o desenvolvimento das
capacidades coordenativas com sinónimo de aprendizagem motora. No próximo capítulo,
veremos o processo da "aprendizagem motora ao aperfecionamento técnico". Consideramos os
diferentes aspectos neurofisiológicos e teóricos para a fundamentaçáo da aprendizagem motora,
conforme a escola americana propoe. Para operacionalizaçáo do processo dessa aprendizagem,
será proposto um conceito dirigido ao desenvolvimento e treinamento das capacidades
coordenativas, considerando sus aspectos básicos, o desenvolvimento e melhoria dos
analisadores e dos condicionantes da motricidade.

123
Ipef Espacio Curricular: Juego Motor 2014

0 processo de aprendizagem motora se concretiza através do desenvolvimento das


capacidades coordenativas. Estas sáo um aspecto fundamental no processo de aprendizagem
motora e no treinamento técnico.

ANALISIS DAS EXIGENCIAS PARA REALIZAR UMA AÇAO COORDINADA

No Capítulo 2, foram apresentadas e descritas as capacidades coordenativas, conforme o


modelo de ZIMMERMANN (in MEINEL, SCHNABEL, 1987). Já explicamos a dificuldade de ter
uma classificaçáo isenta de erros. Neste momento em que estamos tratando do desenvolvimento
desta capacidade dentro do marco da estrutura temporal, toma-se importante fazer uma análise
sucinta de quais sáo as exigencias que uma pessoa enfrenta, no momento de realizar uma açao
coordenada. Durante sua estadia na Escola de Educaçáo Física da UFMG cm 1997, na sua
palestra sobre "Treinamento Técnico nos Esportes", o professor ROTH - baseado em trabalhos
próprios (1982. 1983. 1989. 1991. 1993 e 1996) e de MECHUNG, NEUMEIER (1995) e TE-POEL.
NEUMElER (1995) - apresentou os dois elementos básicos que devem ser considerados para se
proceder ao treinamento das capacidades coordenativas. Seguindo um procedimento indutivo, o
Prof. Roth coloca que toda acáo coordenada apóiase em doís componentes. Por um lado, os
procedimentos de elaboraçáo da informaçáo aferente, onde se destaca a açao dos analisadores,
dos canais sensoriais: ótico. acústico, tátil, cinestésico e vestibular. Por outro lado, a motricidade
propriamente dita, que caracteriza a emissáo da informaçáo eferente, conforme os condicionantes
de uma acáo.
0 Quadro 20 nos mostra os dois componentes básicos inerentes a uma açáo coordenada.
Os mesmos deveráo ser considerados para proceder a operacionalizaçáo de un processo de
ensino-aprendizagem-treinamento desta capacidade. Os analisadores que estáo integrados no
processo perceptivo na descoberta, recepçáo, transmissáo. codificaiçáo e elaboraçáo de
estímulos vindos da própria pessoa e do meio ambiente sáo: Visual, acústico, táctil. cinestésico e
vestibular, sendo que cada um deles envia informaçóes que sáo recebidas e elaboradas em
diferentes centros.
Quando um indivíduo executa uma aiçáo motora, sua motricidade se encontra
permanentemente sobre pressáo de diferentes condicionantes, tais como: pressáo de tempo, de
precision, de complexidade, de organízaçáo, de carga física e de variabilidade. Toda açao
(motora) voluntária se apresenta en situaçóes de pouca ou elevada exigéncía sobre cada um
destes processos de elaboraçáo de informaçáo, seja na recepcáo dos estímulos (analisadores) ou
na transferéncia da informaçáo á musculatura, que vai concretizar o movimento dirigido a
responder á solicitaçáo (motricidade) - a açáo motora voluntária e o resultado da complexa
integráçao dos diferentes sistemas (muscular-nervoso-córtex-cerebelo etc.) que constituem e
caracterizam o ser humano. Os analisadores, isto é, os receptores da informaçao que deflagram o
processo perceptivo e a motricídade estáo permanentemente condicionados por diferentes
elementos de pressáo. 0 Quadro 21 resume a influéncia da informaçáo aferente e eferente,
caracterizando os possíveis planos de exigencia (pressáo) sobre o movimento. Apresentamos os
diferentes tipos de exigéncia ou condicionantes da motricidade e uma definiçáo/caracterizaiçáo do
alcance dos mesmos.
Como pode-se observar no quadro apresentado a seguir, a análise das exigéncias sobre
uma açao coordenada está fundamentalmente unindo e somando alguns aspectos. Na parte
superior estáo os diferentes canais de exigencia de recuperaçáo e recepiçáo da informaçáo.De
um lado, encontram-se as diferentes exigéncias, identidade dos grupamentos musculares; no
outro, a aplicaçáo dos orgaos e sentidos (os analisadores cenestésico e vestibular). Estes
resultan de um grande número de capacidades coordenativas, (por exemplo: acentuada nas
atividades de urna exigencia do tipo vestibular ejercícios de grande equilibrio ou giros.

124
Ipef Espacio Curricular: Juego Motor 2014

ELABORAÇAO DE INFORMAÇÁO ELABORAÇAO DE INFORMAÇÁO


AFERENTE EFERENTE

ÓTICO ACúS. TÁTIL CINES. VES. MOTRICIDADE MOTRICIDADE


GROSSA FINA

POUCA VARIÁVEL MUITA


EXIGÉNCIA EXIGÉNCIA
Pressao de tempo
Pressao de precisác,
Pressao de complexidade
Pressáo de organiza4o
Pressáo de carga física
Pressao de variabilidade

Classes de exigéncias coordenativa; FONTE - ROTH, 1995.

Na parte de baixo do quadro podemos observar aqueles condicionantes da açáo, proceso


de pressáo típicos, nos quais deven ser rendimentos coordenativos em esportes os diferentes
elementos de pressáo conforme a NEUMAIER, MECHUNG (1995), TEIPEL MAIER (1995) e
ROTH (1996). Neles, existe uma de abstraçáo de mais de 20 (vinte) formas de utilizaçao do
conceito. As seis concluçóes de pressáo de uma açáo motora podem ser definidas como:

a pressáo de tempo - tarefas nas que procura, tanto a diminuiçáo do tempo quando,
também de maximizaqáo da velocidade;
pressáo de precisáo - tarefas nas quais é necessário o máximo de exatidáo/precisáo nas
execuçóes;
pressao de organizaçáo - tarefas nas quais é necessaria a superaçáo de uma série de
exigencias simultáneas;
pressao de complexidade - tarefas nas quais existe uma superaçáo de muitas e
sucessivas exigéncias;
pressáo de carga - tarefas em que, para sua execuçáo, existe sobrecarga de ordem física
condicional ou psíquica, ou ainda, psicofisica;
pressáo de variabilidade - situaçóes o tarefas nas quais se deve superar exigéncia em
condiçóes de meio ambiente modificadas.

A quantidade de facetas em relaçáo ás exigencias sobre uma acáo motora coordenada


neste modelo simplificado é realmente impressionante. Por exemplo, se tomamos uma das
exigéncias aferentes e uma das exigencias eferentes junto com um dos seis elementos ou
condicionantes de pressáo, poderíamos ter praticamente cerca de 60 (sessenta) combinaçóes
triplas. Além do mais, temos uma quantidade muito grande de possibilidades em relaçáo aos
conteúdos do ensino com informaçóes múltiplas, de forma tal a desenvolver exigéncias de
pressáo. Como em que tipo de esportes ou atividades esportivas é que aparecem os citados
elementos de pressáo. No Quadro 3 pode-se observar um resumo dos diferentes elementos de
pressáo, assim como a definiçáo e a característica ou modalidade esportiva na qual se
apresentam.
A pergunta central entáo é como se proceder ao treinamento e desenvolvimento das
capacidades coordenativas? A resposta é padráo do modelo apresentado e nos possibilitará uma
análise das tarefas coordenativas em esportes de uma forma mais ou menos completa, sendo
ainda possível encontrarmos algumas outras possibilidades de complementaçáo.
0 princípio básico mais importante que um professor de Educaçáo Física deve saber (para
exercitaçáo dos prérequisitos de rendimento geral das capacidades coordenativas, pode ser
extraído do retorno da lógica do ensino das habilidades motoras. Como forma de recordaçáo
quando se ensinam ou se transferem formas complicadas ou complexas de movimentos, deve-se
permanentemente sistematizar estratégias de simplifícaçáo.
Na iniciaçáo, particularmente, as capacidades coordenativas gerais, as exigéncias
condiciónantes, devem ser munídas ou evitadas. No treinamento a coordenaçáo nas franjas
etárias a partir dos 6-8 anos a é os 12-14 anos) Deve-se proceder exatamente ao cogniçao eu
seja, propomos que a variedade de exigéncias aferentes, e eferentes, se acondicionem as
condiçóes de pressáo.
125
Ipef Espacio Curricular: Juego Motor 2014

Como foi dito, as seis variáveis que exercem pressáo sobre o indivíduo no momento de se
reorganizar uma açáo, coordenada sáo: pressáo de tempo. precission, de com complexidade, de
organizaçáo, de carga e de variabilidade. Todas estas variáveis podem apresenta.- pouca ou
muita exigéncia para a realizaçáo do movimento. Isto vai depender como seja realizado pelo
indivíduo o procesamento de informaçáo aferente via os diferentes sentidos e canais - ótico,
acústico, tátil, cinestésico, vestibular - nas suas formas de sinergia e integraçáo e como se
elabora a informaçáo eferente, no sentido de representar uma exigéncia motora grossa ou fina.
Conforme JACOB (1981), "o sistema nervoso centra ordena os movimentos, realiza a
análise da situaçáo, fixa um objetivo e planeja os movimentos, baseado na sua experiéncia
motora, assim como controla os processos de regulacáo motora. 0 desenvolvimento das
capacidades coordenarivas leva a uma melhoria da percepçáo, aumenta a memória motora e o
repertório dos movimentos e refina todos estes processos. Um bom desenvolvimento
coordenativo melhora a base de assimilaçáo de movimentos novos.

Tipo Definiçáo / Característica


Tarefas as quais devem ser realizadas no menor
Tempo espaco de tempo possível
Ex.: corrida de 10mts. Tiro ao alvo en
movimento
Tarefas as quais devem ser realizadas com
Precisáo pontaria sem desvio de padrao
P Ex: arco e flecha; lance livre no basquete; salto
R mortal na G. Olímpica
E Tarefas onde devem se superar as exigéncias
S Complexidade sucessivas
S Ex.: séries na G.O.: series na patinaçáo artística
À Mais de uma tarefa deve ser realizada de forrna
O Organizaçao sirnultánea, o que dificulta o movimento
Ex.: Mortal com giro
Tarefas con sobrecarga fisica ou psíquica
Carga física/ Psíquica Ex.: Lanzamento de peso

Adaptaçáo seletiva a situaçoes ambientais


Variabilidade Ex.: jogos esportivos

Análise das exigéncias para se executar uma acáo coordenada

Para o treinamento das capacidades coordenativas, podemos entáo recorrer a uma fórmula
básica apresentada pot ROTH (1997), a qual pode ser resumida da seguinte forma:

Treinamento da Habilidade simples Variabilidade da Condicionantes do


coordençao recepçao de movimento
informaçoes coordenaçáo recepçao
de Precissáo:
complexidade,
+ + + precisáo, carga,
informaçóes
organizaçáo, tempo e
variabilidade

Fórmula para estruturaçao do treiamento da coordenaçáo. FONTE - ROTH, 1996.

A fórmula, apresentada nos mostra a necessidade de se trabalhar as habilidades básicas


(andar, correr, saltar, lançar etc.) e as técnicas de movimentos (as quais, uma vez automatizadas
passam a ser habilidades), seguindo um planejamento sistemático que passa pela proposta de
atividades dirigidas á melhoria da capacidade de recepçáo de informaçáo, através dos diferentes
analisadores. sendo que cada uma das diferentes situaçóes de pressáo pode e deve estar sendo
trabalhada em cada um dos possíveis condicionantes de pressáo, da açáo
Logicamente esiste uma clara diferenciaçáo das modalidades esportivas, no que se refere
ao tipo de analisador e á situaçáo de pressáo que lhe sáo característicos; portanto, deve-se
proceder primeiramente a um treínamento de coordenaçáo geral das habilidades básicas de cada
126
Ipef Espacio Curricular: Juego Motor 2014

uma das alternativas de uso dos analisadores em situaiçóes variadas de pressáo para, em um
segundo momento, se da énfase ás características da açáo técnica numa coordenaçao
específica, que implica em economia e qualidade de execuçáo. Assim sendo, sabemos que nas
modalidades de tipo fechadas (ginástica olímpica, saltos ornamentais, disciplinas atléticas,
nata~áo etc.), em que o atleta está sempre respondendo a exigencias previstas, com técnicas
básicas, o treinamento da coordenaçáo deverá ser mais dirigido ás aiçóes ou situaçóes cm que se
apresenta processo de precísáo, complexidade e organizaçáo, carga física e psíquica.
Nos espones ou modalidades abertas (jogos esportivos coletivos, esportes de combate), o
atleta deve responder a situaçóes em que é difícil predizer o que Irá acontecer. Deve-se dominar
as técnicas básicas. Porem deve-se adaptá-las á situaçáo. Aquí, as capacidades coordenativas
necessárias estáo caracterizadas pelas situaçoes em que a coordenaçáo do movimento se realiza
em situaçóes de pressáo de tempo, complexidade. variabilidade, carga física e psíquica, e
organizaçáo.
Através dos conceitos discutidos percebe-se a importáncia de conhecer o tema e aplicá-lo
nas aulas tentaremos resumir, em um quadro, os princípios básico, que podem orientar o
desenvolvimento da coordenaçáo. A seqüéncia metodológica que propomos, para sistematizar o
processo de desenvolvimento das capacidade coordenativas gerais, pode ser observada no
quadro 1.

ANOS CAPACIDADES COORDENATIVAS CAPACIDADE DE JOGO


6-8 1 elemento + 1 colega jogos dirigidos, jogos de persecuçao e de
2 elementos estafetas

8-10 2 elementos + 1/2 colegas Grandes jogos em grupos e equipes

3 elementos + 1/3 colegas Jogos senso-perceptivos


10-12 3 elementos + 1/4 colegas Iniciaçao esportiva
Jogo esportivo 1x1, 2x2 até 3x3 em forma livre
3 + 3/4 colegas Iniciaçao tática
Generalizaçáo dos conceitos táticos comuns e
ataque e defesa aos jogos esportivos coletivos
12 -14 3 elementos + 3/4 colegas Iniciaçao técnico-tática global funcional e
posicional
14 - 16 Trabalho específico sobre as Aperfeiçonamento técnico táctico
capacidades coordenativas que Iniciaçao ao treinamento de tomada de decâo
apresentam deficiéncia nas diferentes posiçoes, porem, sem
Aprimoramento da técnica especializaçao.
Fase de aquisiçáo e aplicaçáo
16-18 Trabalho específico sobre as
capacidades coordenativas que
apresentam deficiéncia
Fase de concentráçao do treinamento
técnico

A evoluçáo da metodologia para o desemvolvimento das capacidades coordenativas e de jogo


com interaçáo com a idade biológica FONTE - GRECO, 1995.

127

Você também pode gostar