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Resumo:
1. Introdução
A reflexão que ora trazemos, nasce de certa inquietação no que diz respeito à
educação. Pais, mães, pedagogos(as), professores(as), psicólogos(as), assistentes sociais,
enfim, os(as) educadores(as) de modo geral confessam as frustrações que têm vivido no
labor educativo. Há um desejo de mudança, de superação dos modelos que herdamos das
gerações passadas. Parece que, por mais que nos esforcemos (teórica e praticamente), as
escolas continuam caducas nos seus métodos, estruturas, currículos etc. Muitas famílias
vêem-se impotentes diante da necessidade de promover relações de afeto e
responsabilidade. Quando nos propomos a refletir sobre relações de responsabilidade
adentramos no campo da ética. Uma comunidade que se proponha desenvolver processos
aprendentes, neste sentido, terá que se constituir enquanto comunidade ética.
Acreditamos que um dos principais desafios das instituições educativas diz respeito
às interações entre os sujeitos envolvidos. Ao mesmo tempo que as culturas modernas
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propõem interações líquidas (Bauman, 2007) para o conjunto de relações que o indivíduo
estabelece com o seu meio, muitos outros autores ainda (Lévinas, Assmann, Varela,
Maturana, Baptista, entre outros) insistem numa perspectiva responsável e solidária das
relações sociais.
E aqui, deparamos com o nosso primeiro problema: num mundo marcado por
urgências e compromissos em atraso, nem sempre temos “tempo” para perguntar pelo
sentido da nossa ação. Criamos processos e rotinas associadas a práticas e demandas
coletivas que, poucas vezes, “paramos” para pensar sobre o sentido dessas ações. Não
temos tempo para isso. A importância da Filosofia da Educação na formação dos(as)
Pedagogos está associada a está necessidade. O(a) Pedagogo(a) precisa perguntar,
continuamente, pelo sentido das práticas educativas que acontecem no ambiente escolar,
assim como nos vários ambientes de aprendizagem em que atua.
Com o avanço das ciências humanas e dos saberes pedagógicos, essa visão
simplista foi, em grande parte, superada. Contribuições da sociologia, psicologia,
economia, biologia, história e de tantas outras ciências, possibilitaram à pedagogia
construir teorias que considerasse a complexidade do fenômeno educacional. Assim, os
sucessos e insucessos dos processos pedagógicos não mais poderiam ser atribuídos a este
ou aquele elemento, em separado, mas a um conjunto de fatores, em contínuos processos
de interação.
A etimologia da palavra cuidar tem origem latina e deriva do verbo Cogito, que
está associado a pensar, meditar, preparar. Já o termo cuidado é originário do latim
Cogitatus, que pode significar pensado, meditado, bem como, desvelo, solicitude e
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vigilância. Neste sentido, podemos afirmar que o cuidado esta associado ao desvelo, a
solicitude e a atenção desprendida ao outro. Implica em um modo de ser, em que o Eu sai
de si e centra-se no outro com desvelo.
O cuidar é inerente a natureza humana. Segundo Boff (1999) o cuidar está para
além de um ato, é uma atitude de responsabilidade, de comprometimento, envolvimento e
preocupação com o outro. A ação de cuidar provoca desacomodação, inquietação e
responsabilidade. Para Maturana (2001, p. 105) o cuidar é “a emoção central para a nossa
existência como ser humano.”
Quando nos dispomos a cuidar do outro estamos deixando claro que ele(a) é
importante para nós e que por isso temos responsabilidade sobre ele(a), independente da
sua reciprocidade. Convém esclarecer que este cuidado, esta responsabilidade não é apenas
para esta ou aquela pessoa, compreende todo ser humano que nos interpela. Acreditamos
que a dimensão do cuidado está para além das ações materiais é saber ouvi-lo(a), escutar
suas angústias, medos, sonhos é ajudá-lo(a) a superar as dificuldades, os conflitos, é esta
sempre solícito para ajudá-lo(a) no que for possível. Cuidar do outro é acima de tudo uma
atitude, uma ação concreta de acolhimento, em vista de promover o bem estar, o
crescimento do outro.
parte da sua prática. Segundo Boff (2004, p. 97) “o grande desafio para todo ser humano é
combinar trabalho com cuidado. Eles não se opõem, mas se compõe”. Cuidar do outro é
uma exigência, um dever que exige, como dirá Lévinas, que o Eu assuma responsabilidade
e compromisso diante do outro.
Neste sentido Isabel Baptista, estudiosa dos escritos de Emmanuel Lévinas nos
apresenta três competências éticas que estão relacionadas à dimensão do cuidado que é a
responsabilidade, hospitalidade e a bondade.
O(a) aluno(a) diante do(a) professor(a) precisa fazer essa experiência: “eu não
estou só”. Alguém está comigo e se ocupa de mim. Seja nos exercícios escolares ou
acadêmicos, nas dificuldades de aprendizagem ou em tantas outras carências pelas quais
o(a) aprendente passa, é preciso que ele tenha consciência de que não está só. Essa
presença não significa sempre, proximidade física. A responsabilidade se expressa, muitas
vezes, quando estou distante, ocupando-me da educação do outro no planejamento de uma
aula, no estudo de um conteúdo, no desenvolvimento de um projeto. Nestes casos, mesma
distante fisicamente, encontramos responsabilidade.
professor, em sala de aula, não pode se eximir de sua responsabilidade perante seus alunos,
e mais, ele é responsável não apenas pela turma, mas também por seus alunos
individualmente. Trata-se de desenvolver uma proximidade ética que carrega a marca da
sensibilidade, isto é, diz respeito à capacidade para ser afetado pelo destino de outra pessoa
ao ponto de se comprometer com ele (BAPTISTA, 2005b, p. 52). Aqui que se encontra,
talvez, um dos maiores desafios da ética contemporânea, especialmente, da ética
profissional dos professores, pois esta ética do cuidado ou da responsabilidade com relação
ao destino do outro depara com ambientes educacionais, com estruturas formais, na
maioria das vezes, impessoais e pesadas. A efetivação de uma ética da responsabilidade no
contexto das instituições formais de ensino implica uma reflexão profunda sobre as
energias e o tempo que estão sendo gastos em nosso labor educativo. Estaremos, com todo
o acúmulo de trabalho promovendo uma sociedade e um conhecimento mais ético,
fomentadores de relações sociais mais responsáveis dos sujeitos entre si?
4. Considerações finais
O que está em jogo é um novo paradigma, neste sentido está emergindo saberes e
práticas que propõe uma nova biologia, a do amor, da solidariedade, da sensibilidade, do
cuidado com o outro, do compromisso ético. São vários os pensadores que tratam desse
assunto, Maturana, Varela, Moraes, Morin, Assmann e tantos outros. Essa rica produção
vai, aos poucos, ganhando espaço nas pesquisas e debates acadêmicos, sendo traduzidos
em novas práticas educacionais. Esta pesquisa pretende ser uma contribuição com esse
movimento de pensar a pedagogia e o cotidiano dos ambientes formais de ensino como
espaços de acolhida, de responsabilidade e de bondade.
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5. Referências
BAPTISTA, Isabel Carvalho. Dar rosto ao futuro; a educação como compromisso ético.
Porto, Portugal: Profedições, 2005b.
BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. 9 ed. Petrópolis:
Vozes, 2004.