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Resumo
A busca por condutas que não utilizem manuseio fez da Placa Lábio Ativa um
a extração dentária como meio de trata- grande aliado de tratamento não-extra-
mento tem aumentado constantemente cionista. São apresentadas neste traba-
na Ortodontia contemporânea. A prefe- lho, por meio de casos clínicos, as diver-
rência por aparelhos simples e de fácil sas aplicações da Placa Lábio Ativa.
* Pós-Doutorado em Ortodontia pela Faculdade de Odontologia de Bauru-USP e Professor da Disciplina de Ortodontia ao nível de graduação e Coordenador do Curso de Especialização da Faculdade de Odontologia de Lins-UNIMEP.
** Professor Voluntário da Disciplina de Ortodontia ao nível de graduação da Faculdade de Odontologia de Lins e Aluno de Mestrado em Ortodontia da UNESP-Araçatuba.
*** Professor Adjunto da Disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB)-USP. Coordenador do Curso de Especialização em Ortodontia da Faculdade Uningá - Maringá, Unidade Avançada de Bauru - CORA.
**** Mestre e Doutora em Ortodontia pela Faculdade de Odontologia de Bauru-USP e Professora da Disciplina de Ortodontia ao nível de graduação e Especialização da Faculdade de Odontologia de Lins-UNIMEP.
IntRodução e RevIsão de lIteRatuRa uma atuação livre da musculatura da língua, efetuando a vestibu-
No passado, a freqüência dos procedimentos que vinculavam larização dos incisivos inferiores3-6,10,14,17,18,21,23,24, a expansão do arco
a extração ao tratamento de casos com apinhamento era bastan- dentário1-6,10,14,17,18,19,23,24 e o aumento do perímetro4,6,17,18,19 e compri-
te alta13. Recentemente, o tratamento ortodôntico está sendo in- mento do arco inferior6,10,12,17,18,19,25 (Tab. 1). Estes fatores associados
fluenciado por condutas não-extracionistas. Segundo um grande (vestibularização de incisivos, aumento transversal do arco e incli-
número de ortodontistas americanos, atualmente 75% dos seus nação distal dos molares) propiciam a melhora ou correção de um
pacientes são tratados dessa maneira6. Com o surgimento de no- apinhamento que pode ocorrer durante o período inter-transitório
vas técnicas e o avanço das mecânicas ortodônticas, houve uma da dentadura mista (Fig. 2-5).
redução na necessidade das extrações dentárias nos casos com Durante o período de repouso, a musculatura peribucal exerce
apinhamentos severos5,9. Desde então, a busca por condutas não- uma força entre 100 e 300 gramas sobre o escudo vestibular da
extracionistas como meio de tratamento têm sido alvo constante PLA17, transmitindo em torno de 5 a 35 gramas para cada dente
de pesquisas ortodônticas. Aparelhos propulsores da mandíbula, ancorado13. Essas forças aumentam durante as funções como a
como o de Fränkel, Bionator, Herbst e os aparelhos distalizadores fala e principalmente a deglutição13,15,22. Porém, no início do tra-
de molares, desde o convencional aparelho extrabucal (AEB) até os tamento há um aumento das forças produzidas pelo lábio, redu-
aparelhos mais modernos, como Pêndulo/Pendex, Jones Jig, Mag- zindo-se durante o tratamento, sugerindo uma adaptação mus-
netos e molas de Nitinol superelásticas, têm recebido grande des- cular do lábio21,22, embora alguns autores14,15,18 discordem dessas
taque na Ortodontia contemporânea. afirmações.
Um aparelho extremamente simples e versátil que está se po-
pularizando cada vez mais, devido à sua aplicação clínica nas diver- Constituição e adaptação da Placa lábio ativa
sas fases do tratamento ortodôntico, é a Placa Lábio Ativa (PLA). A PLA é freqüentemente constituída por um fio de aço inoxi-
dável de 1,15mm, com alças na região dos caninos, adaptado por
Princípios biomecânicos e alterações sagitais e trans- meio de dobras, em forma de baioneta, para serem inseridas nos
versais resultantes do uso da Placa lábio ativa tubos das bandas dos primeiros molares inferiores e/ou superiores,
A Placa Lábio Ativa é um aparelho removível, miofuncional, que separando o lábio da superfície vestibular dos dentes anteriores
repassa as forças geradas pela musculatura peribucal aos dentes por meio de um escudo de acrílico, plástico ou pelo próprio fio
de ancoragem (geralmente os primeiros molares inferiores), elimi- revestido por um espaguete de plástico (Fig. 6, 7, 8).
nando a ação dessas forças nos dentes anteriores, permitindo ao A PLA deve ser inserida geralmente nos tubos dos primeiros
mesmo tempo uma maior ação da língua19. molares permanentes e/ou segundos molares decíduos, permane-
As alterações dentárias provenientes da utilização da PLA são cendo de 1 a 3mm afastada da face vestibular dos incisivos e da
atribuídas à pressão exercida pela musculatura do lábio inferior ao margem gengival, evitando alterar o perfil do paciente ou tornar-se
escudo vestibular, que transmite essas forças aos dentes de an- desconfortável; situa-se o mais profundamente possível no sulco
coragem, extruindo-os4,10,24,25, verticalizando-os ou inclinando-os gengival (maior área de pressão muscular) tornando-se menos
para distal3-6,10,14,17,18,21,23,24. Além disso, esse escudo afasta o lábio visível durante o sorriso; não deve ser muito delgada, para não
inferior da superfície vestibular dos incisivos inferiores, permitindo provocar ulcerações (espessura ideal de 2 a 3mm), nem tão espessa
tAbeLA 1 - Tabela comparativa entre as alterações dentárias após o tratamento com a Placa Lábio Ativa.
Amostra Período Inclinação Inclinação Distância Distância Perímetro Comprimento
médio de dos dos 3-3 6-6 do do
Autores Ano Idade
Gênero tratamento incisivos molares (mm) (mm) arco arco
Masc. Fem. (meses) (º) (º) (mm) (mm)
Bjerregaard et al.4 1980 11 - 8 5,2 -7,8 - 2,8 6,0 -
Osborn et al. 19
1991 13 19 12a 11 2,9 -3,1 2 1,9 4 1,1
Nevant et al.17
1991 20 11a 16 3,8 -2,8 1,4 0,7 2,7 0,9
20 12a1m 12 3,8 -8 2,8 4,2 7,4 2,4
Werner et al. 24
1994 32 9a9m 24 2,4 -4,1 1,5 1 - 0,2
Grossen, Ingervall 10
1995 15 25 10a3m 8 2,5 -2,2 1,3 1,8 - 1,5
Davidovitch et al. 6
1997 18 10a2m 6 3,2 -3,3 1,8 - 4,1 2,1
O’Donnell et al.18 1998 10 15 13a1m 12 4,8 -4,7 1,6 1,2 4,1 1,2
*Häsler, Ingervall 12
2000 7 15 10a6m 12 1,4 -5,8 0,8 0,3 - 1,9
FiguRA 2-5 - Efeitos da PLA (18 meses) sobre o apinhamento ântero-inferior de um paciente durante o período inter-transitó-
rio da dentadura mista. A associação de fatores (vestibularização de incisivos, aumento transversal do arco e inclinação distal
dos molares) contribuiu em plenitude para minimizar o apinhamento.
a ponto de prejudicar a estética. A PLA deve permitir ajustes no Indicações da Placa lábio ativa
sentido ântero-posterior e vertical por meio das alças confecciona- A Placa Lábio Ativa foi utilizada inicialmente por Renfroe20, em
das na região distal de caninos com o objetivo de manter todas as 1956, com a finalidade de manter o alinhamento dos dentes in-
características descritas acima e, no sentido transversal, deve estar feriores em pacientes com hiperfunção do lábio inferior, evitando
afastada 5mm ou 10mm do tubo molar, quando se deseja uma que os incisivos fossem inclinados para lingual, em decorrência do
maior expansão transversal do arco dentário (Fig. 9, 10). excesso da pressão do lábio inferior (Fig. 13).
Outra maneira de alcançar uma maior expansão transversal do Atualmente, há uma grande aplicação clínica da PLA, possi-
arco é por meio da incorporação de escudos laterais de resina acrílica bilitando a sua utilização em todas as fases do tratamento orto-
na Placa Lábio Ativa (Fig. 11, 12). Um aparelho semelhante que utiliza dôntico: na dentadura decídua pode ser utilizada como mante-
este mesmo princípio é o aparelho de Fränkel, que afasta a muscu- nedor de espaço2, quando os molares decíduos forem perdidos
latura jugal e promove aumentos expressivos nos arcos superior e precocemente, prevenindo a mesialização dos molares perma-
inferior2. nentes. Porém, a sua maior utilização refere-se à dentadura
FiguRA 9, 10 - Caso clínico que utilizou por 6 meses a PLA. Note o aumento de espaço para os caninos
permanentes.
FiguRA 11, 12 - Caso clínico utilizando a PLA modificada com acréscimo de resina na parte lateral do FiguRA 13 - Caso clínico com retroinclinação dos
aparelho. incisivos inferiores.
mista, como recuperador de espaço2 provocando a verticalização gem é crítica, recomenda-se a associação de elásticos de Classe
dos primeiros molares permanentes, recuperando o comprimen- III (elástico 5/16’’) às forças extrabucais nos primeiros molares su-
to do arco, impedindo o pressionamento lingual2 e a interposi- periores – Tripé de Ancoragem8 (Fig. 14, 15, 16). A associação dos
ção labial2,7,23 em muitos casos de sobressaliência exagerada com elásticos de Classe III à PLA também está indicada para pacientes
protrusão dos dentes superiores e retrusão dos dentes inferiores, com hipofunção do lábio inferior, porém os elásticos não devem
e principalmente no alinhamento dos dentes inferiores com api- ser colocados diretamente nos tubos molares, pois provocam a ex-
nhamento suave ou moderado3,4,5,17,23,24. A PLA também pode ser trusão do molar superior; para contrapor esses efeitos indesejáveis,
utilizada na dentadura mista associada ao AEB conjugado, com a os elásticos devem ser colocados nos ganchos soldados no braço
finalidade de reduzir a sobressaliência e evitar a inclinação para interno do aparelho extrabucal (AEB) próximo à entrada do tubo
lingual dos incisivos inferiores, provenientes do efeito de lin- do primeiro molar permanente superior, com este procedimento
gualização dos incisivos superiores provocado pelo próprio AEB evita-se que os pacientes utilizem os elásticos sem o uso do AEB.
conjugado ou por meio do deslocamento mandibular durante o O que agravaria a mesialização (perda de ancoragem) dos molares
período de crescimento. superiores (Fig. 17).
Na dentadura permanente (Ortodontia corretiva) a PLA pode Rotineiramente a PLA é usada no arco inferior, embora alguns
ser utilizada como reforço de ancoragem2,3,20, principalmente nas autores, como Denholtz7, Almeida et al.2, Häsler e Ingervall12, a indi-
fases de retração inicial de caninos, na retração do segmento ante- quem também para o arco superior, substituindo a tração extrabu-
rior e para contrapor os efeitos extrusivos e indesejáveis dos elás- cal na movimentação distal de molares superiores (Fig. 18, 19, 20).
ticos de Classe II2,25. Recentemente Häsler e Ingervall12 utilizaram a PLA no arco supe-
Nos casos limítrofes, ou seja, onde a necessidade de ancora- rior, obtendo resultados semelhantes ao arco inferior, porém em
FiguRA 29 - Instalação do AEB KHG. FiguRA 30, 31, 32 - Fase pré-tratamento, instalação da PLA e finalização pós-aparelho fixo.
Após a finalização optou-se pela contenção 3x3 inferior com fio dos incisivos inferiores, oriunda do hábito previamente relatado
de aço ,020” para manutenção dos resultados obtidos. Ressalta- (Fig. 33-37).
se que esta barra lingual permanecerá por um período mínimo O tratamento proposto realizou-se em duas etapas, inicial-
de 5 anos. mente com a instalação do aparelho Bihélice com grade pala-
tina para correção da Mordida Cruzada Posterior e correção da
Caso clínico 2 Mordida Aberta Anterior, em conjunto com a Placa Lábio Ativa
A paciente F. I. de 10a. 8m. apresentou-se ao tratamento orto- no arco inferior, dissolvendo o apinhamento e evitando a inter-
dôntico encaminhado pelo odontopediatra, relatando a presença posição labial (Fig. 38, 39). Esses aparelhos foram utilizados por
de Mordida Cruzada Posterior (M.C.P.). No exame clínico intrabu- um período de 6 meses, ou seja, tempo necessário para a cor-
cal também se constatou a presença de má oclusão de Classe II, reção e manutenção dos resultados alcançados (Fig. 40, 41, 42).
1ª divisão, associada à presença de uma suave mordida aberta an- Após este período instalou-se um AEB tração alta para correção
terior (M.A.A.) decorrente de hábito de sucção de dedo. A análise da Classe II.
facial mostrou uma convexidade do perfil, com o ângulo nasolabial A paciente utilizou o AEB por 18 horas/dia com uma força ini-
suavemente fechado, bem como a ausência de selamento labial cial de 350 gramas de cada lado (Fig. 43, 44, 45) por um período de
passivo, devido principalmente à protrusão esquelética e dentoal- 12 meses, finalizando desta forma a primeira etapa do tratamento,
veolar maxilar. Clinicamente pode-se observar uma retroinclinação que teve duração total de 18 meses.
FiguRA 43, 44, 45 - AEB com tração alta e resultado após 12 meses de uso.
Na segunda etapa do tratamento, ou seja, na fase corretiva, tero-inferior (dolicofacial), com ângulo nasolabial fechado e au-
utilizou-se a mecânica de aparelhagem fixa Edgewise convencio- sência de selamento labial passivo. O exame clínico intrabucal
nal durante 15 meses (Fig. 46-49), concluindo o tratamento com a revelou uma má oclusão de Classe I com falta de espaço no arco
instalação da Placa de Hawley superior e a contenção 3x3 inferior inferior, proveniente da retroinclinação dos incisivos inferiores
(Fig. 50-57). provocada pelo pressionamento labial atípico (Fig. 58-64). Verifi-
cou-se que o canino inferior direito estava completamente sem
Caso clínico 3 espaço para sua irrupção e que o 1o pré-molar estava ocupando
A paciente R. D. de 10a. 10m. procurou a clínica da Faculdade o espaço do canino.
de Odontologia de Lins-UNIMEP queixando-se de protrusão dento- Após análise clínica e facial, optou-se pelo tratamento com a
alveolar dos incisivos superiores e falta de selamento labial. Placa Lábio Ativa no arco inferior, eliminando o pressionamento
Na análise facial notou-se um aumento da altura facial ân- labial e permitindo ao mesmo tempo uma vestibularização dos
facial agradável com selamento labial passivo e ângulo nasolabial colado instalou-se uma placa com parafuso expansor com grade
normal (Fig. 86-92). palatina, objetivando a manutenção dos resultados, permanecendo
Após a análise clínica intrabucal e análise facial, optou-se pela em uso até a substituição dos dentes decíduos pelos dentes per-
expansão rápida da maxila com o aparelho de Haas colado (Tipo Mc- manentes. A PLA manteve-se no arco inferior até a irrupção dos
Namara) com grade palatina, associado à Placa Lábio Ativa no arco dentes permanentes (Fig. 104-114).
inferior como mantenedor/recuperador de espaço (Fig. 93-97). Com a irrupção dos dentes permanentes, exceto os caninos su-
O tratamento ativo com o aparelho expansor da maxila durou periores, procedeu-se com a aparelhagem fixa da mecânica Strai-
10 dias, sendo mantido por mais 3 meses para consolidação da ght Wire, prescrição Roth. As figuras apresentadas ilustram o tér-
sutura palatina mediana (Fig. 98-103). Após a remoção do Haas mino do tratamento (Fig. 115-119).
FiguRA 104-114 - Remoção do Haas colado e instalação da placa de contenção com grade palatina.
FiguRA 104-114 - Remoção do Haas colado e instalação da placa de contenção com grade palatina.
Caso clínico 5 instruído a utilizar o AEB e a PLA durante o dia todo, removendo-os
O paciente R. C. de 10a. 6m. encontrava-se na dentadura mista somente durante a alimentação, higienização e durante a prática
(segundo período transitório) com uma má oclusão de Classe II, de esportes. Como se tratava de um paciente extremamente cola-
1ª divisão, acompanhada de sobremordida, apinhamento ântero- borador os resultados foram alcançados em um curto período de
inferior e falta de espaço para o dente 33. A análise facial revelou tempo – 8 meses (Fig. 127-130).
um perfil facial suavemente convexo, um padrão dolicofacial com Em seguida procedeu-se com a aparelhagem fixa convencional,
ângulo nasolabial aberto (Fig. 120-126). mantendo a PLA no arco inferior por mais 2 meses, pois o api-
Com bases nos dados obtidos nas análises clínica e facial, op- nhamento ântero-inferior, embora reduzido, ainda estava presente
tou-se por um tratamento em duas etapas. Inicialmente corrigiu- (Fig. 131-136). A fase corretiva durou 15 meses, instalando-se pos-
se a relação molar com o aparelho extrabucal tração alta e o api- teriormente a placa de Hawley superior e contenção 3x3 inferior (Fig.
nhamento ântero-inferior com a Placa Lábio Ativa. O paciente foi 137-143).
Caso clínico 6 AEB conjugado e a Placa Lábio Ativa no arco inferior. A paciente foi
A paciente I. T. de 10a. 8m. apresentou-se na clínica ortodôn- instruída a utilizar o AEB durante 18 horas/dia com uma força inicial
tica CORA para tratamento ortodôntico, queixando-se dos dentes de 250 gramas de cada lado e a PLA durante o dia todo (Fig. 151-
superiores “estarem muito para frente”. 152). A paciente mostrou-se colaboradora, alcançando bons resul-
Na análise intrabucal verificou-se que a paciente se encontra- tados após 12 meses de utilização dos aparelhos. (Fig. 153-159),
va na fase de dentadura mista (segundo período transitório) com entretanto a paciente continuou a utilizá-los por mais 6 meses,
uma má oclusão de Classe II, 1ª divisão, com a maxila suavemente apenas durante noite, com o objetivo de manter os resultados al-
atrésica. A análise facial mostrou uma convexidade do perfil com cançados.
ângulo nasolabial aberto e falta de selamento labial passivo (Fig. A PLA permaneceu no arco inferior até a completa irrupção dos
144-150). dentes permanentes, aproveitando o Espaço disponível de Nance
Após a análise intrabucal e análise facial, optou-se pelo uso do – Leeway Space (Fig. 160-166).
FiguRA 180, 181, 183 - Sete meses de uso de AEB conjugado + PLA.
FiguRA 183, 184 - Mecânica 4x2 e inclinação distal dos primeiros molares inferiores.
FiguRA 185-194 - Pós AEB + PLA, aguardando para montar o aparelho fixo.
Resultados e dIsCussão apenas ao arco inferior. Häsler e Ingervall12 utilizaram a PLA com
A escolha por condutas não extracionistas têm aumentado ul- escudo vestibular no arco superior, angariando resultados seme-
timamente, fazendo da Placa Lábio Ativa um grande aliado a este lhantes quando comparados ao arco inferior, porém em menores
protocolo de tratamento, principalmente na correção do apinha- proporções, relatando como principal efeito o aumento da dis-
mento ântero-inferior. tância inter pré-molares, por volta de 2,2mm.
O escudo da PLA reduz a pressão da musculatura peribucal Quanto ao período de utilização da PLA, os melhores resultados
sobre os incisivos inferiores transmitindo-a para os dentes de an- são alcançados quando utilizada durante a fase final da dentadura
coragem, extruindo-os4,10,24,25, verticalizando-os ou inclinando-os mista (segundo período transitório), onde é possível a manutenção
para distal3-6,14,17,18,21,23,24, permitindo ao mesmo tempo uma maior do Espaço Disponível de Nance – Leeway Space18.
ação da língua19, resultando na vestibularização dos incisivos3-6, Durante o tratamento com a PLA ocorre uma diminuição das
14,17,18,21,23,24
, levando ao aumento do comprimento6,10,12,17,18,19,25 e pe- forças produzidas pela musculatura peribucal ao final do trata-
rímetro do arco4,6,17,18,19, minimizando o apinhamento ântero-infe- mento, comparado ao pré-tratamento, sugerindo uma adaptação
rior. Segundo Davidovitch et al.6 e Hodge et al.13, a inclinação para do lábio inferior21,22, ou seja, um novo equilíbrio muscular, dis-
distal dos molares inferiores e vestibularização dos incisivos infe- cordando dos resultados de Ingervall e Thüer14, Klocke et al.15 e
riores corroboram para o aumento do comprimento e perímetro O’Donnell et al.18.
do arco dentário; associado ao aumento da distância intercaninos, Segundo Shellhart et al.21, a Placa Lábio Ativa produz uma ex-
interpré-molares e intermolares. pansão passiva do arco, promovendo uma adaptação da muscula-
Embora alguns autores3,17,19,25 relatem a movimentação de cor- tura peribucal e conseqüentemente uma maior estabilidade dos re-
po dos molares para distal durante a utilização da PLA, acreditamos sultados. Para Klocke et al.15, independentemente de haver ou não
que esses valores obtidos são provenientes da manutenção dos uma adaptação dos tecidos musculares no final do tratamento, é
molares em posição associada ao deslocamento da mandíbula para necessária a instalação de métodos convencionais de contenção
baixo e para frente, pois o período de utilização da PLA coincide (contenção 3x3) para a manutenção dos resultados alcançados.
com o período de crescimento ativo da mandíbula. Embora a literatura compulsada não apresente contra-indi-
De acordo com a tabela 1, as alterações dentárias após o tra- cações da Placa Lábio Ativa, ela não deve ser utilizada em arcos
tamento com a Placa Lábio Ativa foram maiores nos grupos com dentários com presença de diastemas, nos casos com incisivos in-
escudo vestibular4,6,17, comparadas aos grupos tratados com a PLA feriores vestibularizados e na má oclusão de Classe III.
com o próprio fio revestido por um espaguete de plástico9,18,19,24.
Estes dados foram confirmados pelos resultados de Nevant et al.17, ConClusão
ao avaliarem dois grupos tratados durante o mesmo período com a A Placa Lábio Ativa é um aparelho simples e versátil, que está se
Placa Lábio Ativa com e sem escudo vestibular, corroborando com popularizando cada vez mais devido à sua grande aplicação clínica,
os resultados de Hodge et al.13, que podem ainda ser maiores quan- possibilitando a sua utilização em todas as fases do tratamento
do a Placa Lábio Ativa com escudo vestibular estiver posicionada a ortodôntico: na Ortodontia preventiva, interceptora e corretiva.
4mm da superfície vestibular e a 4mm abaixo da margem gengival Como ilustrado nos casos clínicos, conclui-se que o tratamento do
dos incisivos inferiores. apinhamento primário por meio da recuperação ou manutenção
Contrariando os resultados apresentados pela tabela 1, do espaço no arco inferior com a PLA é uma alternativa viável, que
O’Donnell et al.18, utilizando a PLA sem escudo vestibular, alcan- deve ser incorporada no arsenal de aparelhos do ortodontista.
çaram resultados semelhantes aos grupos tratados com PLA com
escudo vestibular, pois fixaram-a aos tubos molares por meio de agRadeCImentos
elásticos ou ligaduras de aço, objetivando reduzir a necessidade Agradecemos a todos os alunos que ajudaram a tratar os casos
de cooperação do paciente. A utilização da PLA não se restringe aqui expostos.
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