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COBRANÇA DE CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITOS

(CND) MUNICIPAL. INCONSTITUCIONALIDADE.


IMUNIDADE TRIBUTARIA. DIREITO E GARANTIAS
FUNDAMENTAIS. ARTIGO 5º, INCISO XXXIV, ALÍNEAS
“A” E “B” DA CF/88. CONTRASSENSO ADMITIR
ENTRAVES BUROCRÁTICOS, VINCULANDO-SE AO
EXCESSO DE FORMALIDADE E RIGIDEZ.

O direito de petição, que resulta no direito à certidão, é um direito


político, por meio do qual se garante aos cidadãos a participação na vida política, para
a defesa de direitos pessoais ou de interesse geral, independentemente de taxa.

A Constituição Federal garante taxativamente a liberdade do exercício de


atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos (art. 170,
parágrafo único).

A Cobrança de TAXA, por parte da administração tributária municipal,


inviabiliza a obtenção da Certidão de Regularidade que comprova a situação do “NADA
DEVO À PREFEITURA”. Tal exigência, aberrante, constitui verdadeira sanção política,
utilizada como meio coercitivo indireto.

Portanto, esta cobrança é ilícita e incompatível com o sistema


constitucional vigente, uma vez que, a Carta Magna determina que a obtenção de
certidões dos órgãos públicos é GRATUITA, e que, esta determinação, constitui um
direito fundamental contido no rol do artigo 5º da Constituição da República de 1988.

Importante observar o que remonta o disposto no art. 5º, XXXIV, “a” e “b”,
da Constituição Federal de 1988, vejamos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

XXXIV – são a todos assegurados, independentemente do


pagamento de taxas:

a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos


ou contra ilegalidade ou abuso de poder;

b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de


direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; [Grifei]
Logo, a Lei Suprema [CF/88] não deixa dúvidas quanto à gratuidade das
certidões, e ainda, esclarece que as únicas exceções previstas são referentes às custas
judiciárias e os serviços notariais e de registro.

De pronto, a IMUNIDADE TRIBUTÁRIA instituída pela Constituição Federal


desonerou o exercício dos direitos políticos, na medida em que assegurou –
independentemente do pagamento de taxa – o direito de petição e o direito de obter
certidões relacionadas ao esclarecimento de situações pessoais, devendo ser
observado e respeitado no âmbito municipal.

Mormente, percebe-se que os Municípios extrapolam os limites da sua


competência tributária, já que não observam a imunidade prevista na Constituição
Federal.

Por fim, convém asseverar a presença de desvio de poder (1) por parte
da Administração Tributária Municipal, haja vista ser a certidão negativa um instrumento
que deve se limitar a comprovar a situação fiscal do contribuinte, sendo ilícita a sua
sonegação para viabilizar a cobrança de tributos que não lhe dizem respeito.

Evento que, aliás, configura: ato de improbidade administrativa,


consoante o art. 11, caput, e I, da Lei Federal n.º 8.429, de 02.06.1992 (2); e abuso de
autoridade, conforme o art. 4º, h, da Lei Federal n.º 4.898, de 09.12.1965. (3)

Nada justifica o embaraço e o constrangimento causado pela


administração tributária municipal, devendo ser expedidas certidões que retratem com
precisão e clareza a situação fiscal do contribuinte. Pensar de outro modo é
menosprezar a efetividade de um direito fundado diretamente no texto Constitucional.

1
Explica o saudoso Miguel Seabra FAGUNDES (Controle dos atos administrativos pelo Poder Judiciário,
p. 90-3): “A atividade administrativa, sendo condicionada pela lei à obtenção de determinados resultados,
não pode a Administração Pública deles se desviar, demandando resultados diversos dos visados pelo
legislador. Os atos administrativos devem procurar atingir as consequências que a lei teve em vista quando
autorizou a sua prática, sob pena de nulidade. (...) Não importa que a diferente finalidade com que tenha
agido seja lícita. Mesmo moralizada e justa, o ato será inválido, por divergir da orientação legal”.
2
“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração
pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e
lealdade às instituições, e notadamente:
I – praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto na regra de
competência; (...)” (grifos acrescidos).
3
“Constitui também abuso de autoridade: (...)
h) o ato lesivo da honra ou patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio
de poder ou sem competência legal” (grifos acrescidos).
Resta clareza solar, que a cobrança de taxa para emissão da Certidão de
Débitos Municipais por parte da administração tributária municipal é, de fato,
INCONSTITUCIONAL.

Importante mencionar que diante do princípio da instrumentalidade das


formas, o qual abarca também o princípio do "pas de nullité suns grief" que significa:
não haverá nulidade sem prejuízo; bem como ao informalismo, sendo que se o ato,
mesmo praticado de outra forma, atendeu o objetivo, É VÁLIDO.

Mello (2004, p. 152) ensina que “a Administração não poderá ater-se a


rigorismos formais ao considerar as manifestações do administrado" [“...],” o
procedimento administrativo atende a dois objetivos: a) resguardar os administrados, e
b) concorre para uma atuação administrativa mais clarividente".

De pronto, percebe-se que o Princípio do Formalismo Moderado


(Informalismo) remonta ao princípio da igualdade, na fração que oportuniza a qualquer
pessoa, mesmo com conhecimentos reduzido de causa, ter seus atos interpretados e
recebidos satisfatoriamente pela Administração Pública.

O Informalismo denominado pela doutrina também conhecido como


Formalismo Moderado tem fulcro, implicitamente, no artigo 5º, inciso II e § 2º, da
Constituição Federal de 1988, vejamos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa


senão em virtude de lei; [...]

§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem


outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja
parte.

Assim, sendo o Princípio do Formalismo Moderado reflexo da valoração


de direitos e garantias fundamentais seria um total contrassenso admitir entraves
burocráticos ou até mesmo de interpretação restritiva, vinculando-se ao excesso de
formalidade e rigidez.

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