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Por quê? Porque isso implica um erro grave na concepção do tempo utilizado e,
além disso, porque se baseia na noção de evolução. A noção de tempo na
psicanálise requer as noções de antecipação e retroação, é o tempo do futuro
anterior, sem o qual nenhum dos fenômenos subjetivos pode ser corretamente
interpretado. Não avançamos do passado para o futuro. Lacan aborda isso com
notável clareza em seu primeiro seminário:
Além de operar com uma noção equivocada, mas muito intuitiva, do tempo, ao
trabalhar com a noção de evolução, introduz-se um ideal. Sempre se evolui em
direção ao melhor. A evolução das espécies não se trata apenas de sua mudança
ao longo do tempo, mas sim de sua melhoria adaptativa. A posição que será
mantida, seguindo Freud e Lacan, é que o sujeito com o qual a psicanálise opera
não evolui.
Isso pode parecer um pouco pessimista. Talvez não seja tão ruim que seja assim.
No entanto, o sujeito com o qual o psicanalista trabalha não evolui. Basta lembrar o
sacrifício de milhões de vítimas humanas nos fornos crematórios, cometido neste
século por um povo que era considerado o ápice da cultura, arte e ciência do
Ocidente, para atacar a ilusão da evolução em direção a um ideal de sociedade
humana. O mesmo pode ser demonstrado com uma única noção, a noção de ato
em nível individual. O ato não produz a evolução do sujeito. O efeito de um
verdadeiro ato é um sujeito novo, diferente do anterior ao ato. Esse sujeito não é a
evolução daquele que existia antes, mas sim Outro, no sentido de uma profunda
alteridade. Nesse mesmo sentido, pode-se afirmar que o analisante também não
evolui. O analisante não evolui durante o curso da análise. No máximo, ele
reencontra ou resgata o caminho de seu desejo e, consequentemente, consegue
delimitar seu gozo, mas a ideia de resgatar ou recuperar implica que não se trata de
evolução.
Da mesma forma, a teoria não evolui. A teoria psicanalítica não evolui. O único
argumento que será considerado é a posição na qual Lacan desenvolveu a
novidade de seu ensino, o "retorno a Freud". Se o ensino de Lacan está impregnado
da ideia de um retorno a Freud, é muito evidente que o progresso do ensino de
Lacan não significa uma evolução. Parece, ao contrário, que foram os
pós-freudianos que evoluíram. A ideia dos pós-freudianos era fazer a psicanálise
evoluir. Diante disso, Lacan propõe um retorno ao filo subversivo das descobertas
originais de Freud.
Deve-se trabalhar com uma noção de tempo que tenha a estrutura de um loop, pois,
caso contrário, nada da experiência analítica nem da concepção do sujeito pode ser
aplicado sem cair em profundas contradições lógicas. Ao tempo com o qual a
psicanálise opera, não pode ser atribuída uma estrutura linear, o que é chamado de
"a seta do tempo", mas sim uma estrutura em que o tempo avança em um loop ou
um oito interno.
Será levantada a questão se a clínica lacaniana do objeto a é ou não mais evoluída
do que a freudiana das estruturas clínicas, ou se pertence ao primeiro Lacan ou ao
último, substituindo-a por como se articula com as estruturas clínicas.
Portanto, será elaborado como abandonar essa função de causa atribuída ao pai, a
fim de passar para a clínica do objeto a, que opera com as estruturas clínicas
freudianas.
d. S (Ⱥ)
O pai, em sua função mais específica, é elaborado por Lacan como Nome-do-Pai.
Como o significante do Nome-do-Pai se articula com o objeto a? Na psicanálise,
desde Lacan, afirma-se que o pai é um significante, enquanto o objeto a, obscuro
mas obviamente, é um objeto. Há outro significante que deve ser concebido para
operar a passagem da clínica ordenada pelo pai, a clínica do Édipo, para uma
clínica além do pai, além do Édipo, que é a clínica do objeto a. Não se trata de
substituir um significante por um objeto. Outro significante deve vir ocupar o lugar
que neuroticamente é atribuído ao significante do Nome-do-Pai. Esse significante é
o significante de uma falta no Outro, S(Ⱥ).
x2 + 1 = 0
x2 = -1
pois apenas:
-1 + 1 = 0
O resultado da operação indicada por: "√-1 =", não é um número, pois não existe
nenhum número que possa ser a resposta para essa equação. Trata-se, antes, de
um "programa de procedimento", uma pura operação racional.
"... já que nunca pode ser expresso completamente... (1) com um número finito de
dígitos... (2) como a raiz de uma equação algebraica com coeficientes inteiros... (3)
como um decimal periódico. Somente pode ser expresso com precisão como o
limite de uma série infinita convergente ou uma fração contínua. A √-1 é o
imaginário mais conhecido. Euler o representou com o símbolo 'i', que ainda é
usado. É inútil se ocupar com a pergunta 'que número multiplicado por si mesmo é
igual a -1?' Assim como todos os outros números, i é um símbolo que representa
uma ideia abstrata, porém muito precisa. Ele obedece a todas as regras da
aritmética... Sua obediência a essas regras e suas múltiplas utilidades e aplicações
justificam sua existência, ignorando o fato de que possa ser uma anomalia."
Assim como acontece na matemática com √-1, à função de S(Ⱥ) corresponde uma
operação precisa e comunicável; não é necessário ser analisado nem ser analista
para compreendê-la. É uma ideia abstrata, formalizada e, portanto, precisamente
comunicável. Isso não significa que, para um determinado sujeito, se tenha o
significante que ocupa essa função.
Com S(Ⱥ) postula-se: a) que há uma falta no Outro, ou seja, que o Outro não é um
todo completo, b) que essa falta é inscrita por meio de um significante; a falta no
Outro é de um significante e é inscrita por meio de um significante, e c) o
significante S(Ⱥ) não é um significante como qualquer outro. Assim como o número
imaginário √-1 é diferente de todo número natural, S(Ⱥ) é diferente de todo
significante do Outro e, por esse motivo, ele mesmo não preenche a falta que
inscreve.