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LU
O pensamento de Lacan é suposto saber (S.S.S.), tem como
complexo e tem vitalidade. Não ponto de partida uma reflexão
é, pois, de espantar que mude, e sobre o conhecimento e a
ainda mais em um tema como o ordem simbólica.
da transferência, que o ocupou O ponto de partida da
em muitas ocasiões ao longo de argumentação de Lacan é um
sua extensa obra. - estudo sobre a função do
Até aqui, a transferência analista. Uma coisa é que o
havia sido situada na tópica do analista fique incluído na
imaginário, na qual analista e relação dual da fase do espelho
paciente espelham-se um no e outra, muito diferente, é que
outro e ficam prisioneiros de ocupe o lugar terceiro exigido
sua fascinação narcísica. A pela ordem simbólica.
partir dessa perspectiva, o A partir dessa diferença,
processo psicanalítico só se Lacan coloca-se a questão da
constituirá no momento em que posição do analista na situação
o analista transformar essa analítica, não menos que a
relação dual em simbólica, para posição da análise na ciência.
o que é necessário que rompa a A função do analista é
relação diádica e ocupe um desaparecer enquanto eu (moi) -
lugar terceiro, o lugar do
diz Miller (1979, p. 23) - e não
código, o lugar do grande
permitir que a relação
Outro.
Outro
2 R. HORÁCIO ETCHEGOYEN
sua relação do que por sua XI dos Quatro conceitos, que "a
substância» o que é relação do sujeito com o
característico da perspectiva significante é o ponto de
estruturalista, que inspira toda a referência que quisemos pôr no
primeira parte da obra de primeiro plano de uma
Lacan. retificação geral da teoria
Lacan chega a pensar que analítica, pois também é
quem possui a carta sofre, por primeiro e constituinte na
sua influência, um processo de instauração da experiência ana-
feminização, fundan- do-se em lítica, assim como primeiro e
algumas contingências do relato constituinte na função radical
e, com isso, parece querer do inconsciente" (p. 145).
convencer-nos de que o poder "Vous saisissez pourquoi la
da carta como significante relation du sujet au signifiant
chega a prender e a converter o est le repère que nous avons
sujeito em feminino. Que, ao voulu mettre au premier plan
apoderar-se "da carta da rainha" d'une rectification générale de
(porque dela foi roubada), o la théorie analytique, car il est
ladrão identifique-se com o aussi premier et constituant
objeto danificado e adquira dans l'instauration de
algum traço da personalidade de l'expérience analytique, que
sua vítima é algo que não entra premier et constituant dans la
em nada no raciocínio de fonction radicale de l'incons-
Lacan; e não poderia entrar sem cient"2 (Les quatre concepts, p.
menosprezo de sua teoria,
127). Portanto, para Lacan, o
porque, então, a carta já não
significante é o primeiro na
seria somente um significante,
teoria e na prática da psi-
mas o símbolo de um objeto
canálise e primeiro, também,
"empírico", como podem ser o
no funcionamento do in-
seio, o pênis ou a mãe, por
consciente.
exemplo. Quero dizer que há
O significante lacaniano
muitas formas de entender
é, sem dúvida, herdeiro da
psicanaliticamen- te o conto de
teoria do signo lingüístico de
Poe, e não apenas uma. Assim,
Ferdinand de Saussure ,
Freud veria a rainha como a
(1916), que o define como a
mulher com pênis, a mãe fálica,
e Melanie Klein não duvidaria combinação_deumconceitQ. -(-
em supor que a rainha com a significado) e uma imagem
carta é a mãe que contém em acÚsücãXilgnificante) e pro-
seu interior o pênis do pai, os põe um gráfico que se tornou
bebês, e as fezes que o filho- célébrer-----------------------------
ministro ataca por inveja e por -
ciúmes.
A noção de significante
aparece continuamente ao longo
de toda a obra de Lacan, e
assim lemos, por exemplo, no
começo da seção 2 do Capítulo 2N. de R.T. Em francês, como no
original.
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FU
TÉ
PS