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Autor - Saide Cassimo Assedio Sexual 2 - em Forma de Artigo
Autor - Saide Cassimo Assedio Sexual 2 - em Forma de Artigo
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS
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Licenciado em Ensino de Português com Habilitações em Ensino de Inglês pela Universidade
Pedagógica, delegação de Montepuez (Actual UniRovuma) /. Actualmente, é estudante do curso de
mestrado em Língua Portuguesa com Segunda e Estrangeira.
Introdução
Entende-se de assédio sexual, toda conduta de natureza sexual não desejada que, embora repelida
pelo destinatário, é continuadamente reiterada, cerceando-lhe a liberdade sexual. Entretanto, é
uma atitude que provoca intenso constrangimento, por violar a livre disposição do próprio corpo.
Conforme aponta Dias (2008, p. 76), embora pouco falado, o assédio sexual é considerado da
mesma forma que os demais tipos de violência contra a mulher, que também se alimenta do sigilo
e vem ocultando os ímpetos em que muitas mulheres são alvo. Comummente quando nomeado,
amigos e familiares acabam não acreditando, e ainda em casos que envolvem o ambiente de
trabalho, as vítimas acabam sofrendo humilhação e até mesmo perdendo o emprego.
Por outra, acredita-se que muitas pessoas desconhecem ou têm uma compreensão parcial ou
equivocada sobre o que são essas práticas. O presente trabalho, propõe a conscientizar sobre o
tema, a partir de diferentes aspectos. São indicadas situações que configuram assédio sexual,
causas e seus males na sociedade. Também são apresentadas medidas para prevenir e combater
estas práticas de forma a tornar o ambiente de trabalho mais positivo.
Portanto é nessa perspectiva que se pretende discutir a temática levantada, olhando sobretudo, o
contexto organizacional e social. Quanto a sua organização, o presente trabalho obedece a
seguinte estrutura: a presente introdução, onde se faz a contextualização do estudo e apresentam-
se os objectivos e as metodologias usadas para a elaboração deste artigo, o desenvolvimento, a
conclusão e a sua respectiva referência bibliográfica, onde se apresenta a lista de todos os autores
citados no corpo do trabalho. Este estudo compõe uma pesquisa bibliográfica de carácter
analítico a respeito da problemática levantada, que foi desenvolvida a partir de obras
relacionadas com a temática em alusão, como o caso de artigos, dissertações, monografias com o
propósito de colocar a estudante com as diferentes literaturas contrastando a veracidade da
informação afim de contribuir para a produção de conhecimento.
De acordo com Terruel e Bertani (2010, p. 62), o assédio sexual é considerado como uma
violência psicológica, pois a vítima não é atacada com agressões físicas, mas sim psíquicas e,
certamente essas agressões acabam abalando o estado emocional da mesma, causando diversas
consequências que em sua maioria, acabam colocando a vida do indivíduo em risco, em alguns
casos em que a vítima fica muito abalada com a trágica situação, isso pode levar até ao ato do
suicídio.
Segundo Costa et al (2011, p. 2), o assédio é tratado como uma forma de violência sexual
resultado de um complexo contexto de poder que marca as relações sociais entre os sexos.
Entretanto, “o assédio, de maneira geral, é um problema grave e insidioso, que pode acontecer em
família, em sociedade ou nas empresas”. Caracteriza-se por um conjunto de comportamentos que
leva a vítima ao desequilíbrio e instabilidade emocional, podendo assumir outras formas de
violência como a física e a sexual.
Torres (2016, p. 15) define o assédio sexual como um conjunto de comportamentos indesejados
de natureza física, verbal, ou não verbal, podendo incluir tentativas de contacto físico
perturbador, pedidos de favores sexuais com o objectivo, ou efeito de obter vantagens através de
chantagens, uso de força, ou estratégias de coacção da vontade da outra pessoa. Geralmente, são
reiterados podendo também ser únicos e de carácter explícito e ameaçador.
Conforme afirmam Junior et al (2005, p. 32), o sujeito activo poderá ser homem
ou mulher, homossexual ou não, e, o sujeito passivo é a vítima do
constrangimento, mulher ou homem. No entanto, os autores indicaram em um
estudo realizado sobre o assédio sexual que ocorrem em transportes públicos,
que a maior decorrência são contra as mulheres, que expõem um medo maior em
relação à locomoção para a jornada de trabalho em transportes públicos
comparado aos homens, nesse sentido as mulheres alegam ter receio à estupros e
agressões sexuais.
Paranhos (2017, p.38) afirma que as mulheres tendem a não reportar os incidentes, seja por
embaraço de tornar públicas questões de cunho sexual ou por se sentirem ameaçadas no ambiente
de trabalho, em que ainda ocupam posição precária e passível de represálias. Quando reportam o
assédio, há ainda a possibilidade de a queixa não ser ouvida e ser tratada como uma simples
brincadeira entre colegas, comum em casos que envolvem agressão de dimensão sexual entre
agressor e vítima. Além disso, há uma falta de hábito das mulheres em encarar os danos
psicológicos causados pelo assédio sexual enquanto dano real. Tudo isso, juntamente com um
tratamento legal inepto, traz para as vítimas a sensação de que, concretamente, nada será feito
para parar os episódios de assédio.
1.2. Abordagem Legal dos direitos Humanos e o asseio sexual
A abordagem legal dos direitos humanos olha para o assédio sexual como sendo um problema
dos direitos humanos das mulheres na medida que considera ser uma violação ao princípio maior
da liberdade sexual. O assédio sexual também é considerado uma forma de discriminação de
género vedada juridicamente, pois coactam à liberdade, à autonomia das mulheres no exercício
da cidadania e de direito individual de livre disposição do seu próprio corpo (Magalhães, 2011) e
(Cunha, 2017).
Em concordância, França (1975) apud Coelho (s/d), acrescenta que o direito à liberdade sexual é
uma expressão ligada à intimidade e à vida privada e está relacionada ao direito de integridade
física que inclui o direito à vida e ao próprio corpo. Deste modo, a ausência de respeito à
liberdade de dispor do próprio corpo, no que se refere ao acto sexual, pode ser considerado como
um acto de assédio sexual. O autor considera que quando alguém manifesta o desejo de unir-se
sexualmente ao outro, de forma abusiva, ou sem que ele/ela mostre a mesma vontade, estaria
presente a invasão da individualidade do assediado/a e há também a extrapolação do limite, sendo
que cada ser deve respeitar ao seu semelhante.
Autores como Magalhães (2011) e França (1975) apossam-se de instrumentos legais como a
Declaração dos Direitos Humanos para mostrar que homens e mulheres gozam dos mesmos
direitos e deveres perante a lei. Contudo, o que se tem verificado, de forma retumbante, é a
marginalização dos direitos da mulher, principalmente quando adentra ao mercado do trabalho e
aos espaços públicos. De acordo com Cunha (2017), este facto é justificado tendo em conta as
raízes históricas que remontam à altura da predominância do sistema social patriarcal no qual
existia uma assimetria de poderes entre sexos nas relações familiares, culturais e
consequentemente nas relações sociais.
São exemplos de documentos instituídos pelo governo em prol dos direitos das mulheres e
raparigas a Constituição da República de Moçambique, os documentos de planeamento e gestão,
por exemplo, o Programa Quinquenal do Governo – PQG 2015- 2019, o Plano Económico e
Social – PES e o Plano de Acção para a Redução da Pobreza − PARP nos quais a promoção da
igualdade de género é priorizada, quer seja como princípio, ou factor de desenvolvimento, e o
Plano Nacional de Prevenção e Combate à Violência Baseada no Género 2018-2021.
Portanto, mesmo com todos estes instrumentos, nota-se que as mulheres têm receio de denunciar
práticas violentas e de assédio sexual nos espaços em diferentes espaços sociais, preferindo ficar
no silêncio, ou simplesmente pedirem transferência. Portanto, os indivíduos têm consciência das
leis e do seu dever cívico, no entanto, no processo interactivo, os actores, implícita, ou
explicitamente envolvidos, escolhem dentre as várias alternativas pré-constituída as mais
relevantes para eles.
1.3. Causas do assédio sexual
Parte-se do pressuposto de que o assédio sexual é um problema que gera até a modificação da
visão de mundo da vítima, podendo acarretar em problemas para a luta por direitos e até por uma
busca pessoal da vítima sobre seu lugar no mundo e seu sentido de vida.
Assim, quanto as suas causa, Freitas (2001, p. 91) aponta a depressão como sendo a maior causa.
Para o autor, a depressão é uma das causas mais frequentes de assédio sexual, principalmente
desenvolvidos contra as mulheres, uma vez que tal acção atenta contra a honra da pessoa e pode
gerar uma situação mental insuportável ao relembrar tal problema. Entretanto, a depressão se
tornou um problema recorrente nos casos mais graves das vítimas de assédio sexual,
especialmente entre as mulheres que sofreram com um ou mais casos.
De acordo com Freitas (2001, p. 61), o assédio sexual é, em verdade, uma acção que se traveste
de opção para a vítima, enquanto o constrangimento é causado a vítima pode ser compelida a
aceitar uma proposta de aumento ou uma ameaça de desemprego em razão do assédio sexual.
Ximenes (2017, p. 54) afirma que o assédio sexual desencadeia uma série de problemas
psicológicos para a vítima, podendo ser ainda um factor de problemas no ambiente de trabalho e
na vida geral da pessoa que sofre tal fato, sendo problemas psíquicos que podem durar grandes
períodos. Assim, de acordo com o autor, o assédio sexual nas relações de trabalho pode
desencadear:
Conforme defende Dias (2008, p. 76), código de Conduta ética determina que,
independentemente da posição hierárquica, o convívio no ambiente de trabalho deve estar
alicerçado na cordialidade, no respeito mútuo, na equidade, no bem estar, na segurança de todos,
na colaboração, no espírito de equipe e na busca de um objetivo comum.
Nash (1993, p.6) afirma que a ética coloca o profissional como um ser “pensante”, que não deve
agir somente como uma máquina, como uma visão voltada somente para a produção. É preciso
lembrar que são seres humanos com suas emoções e sentimentos, e que é essencial que se
considere a integridade dos indivíduos, o que será o caminho para o sucesso no mundo dos
negócios, pois proporcionará o aumento da lealdade dos funcionários, a confiança dos clientes e
demais parceiros.
De acordo com Passos (2004, p.184), a atitude ética diante do assédio sexual respeita os
funcionários independentemente das suas funções e cargos, agindo de maneira digna com a
sociedade, cumprindo com todas as suas obrigações. Enfim, as práticas abusivas que caracterizam
o assédio sexual são diversas não sendo possível enumerar todas as situações, que de forma geral
transformam o ambiente de trabalho em um local de difícil convivência.
Apesar do aumento do problema, as pessoas estão mais informadas sobre o assunto e buscando
garantir sua dignidade profissional e individual. Este problema não acontece somente em países
desenvolvidos, mas em todas as classes sociais em países com diferentes níveis de
desenvolvimento. Atinge homem, mulher de classe social estabilizada até a classe operária
fragilizada. Como consequência o ambiente de trabalho torna-se um espaço de tensão,
competição, ocasionando a diminuição da produtividade e influenciando negativamente a
qualidade do trabalho final.
Por outro lado, em Moçambique, o assédio sexual é proibido por lei , artigo 5 do Regulamento de
Combate à Corrupção e Assédio Sexual-DM 36/2019 DE 17 de Abril) e há políticas específicas
do governo que funcionam de modo a responder o problema do assédio sexual nas instituições
públicas e privadas. Entretanto, o regulamento de combate à corrupção e ao assédio sexual define
mecanismos de denúncia para assegurar que os autores sejam efectivamente sancionados
disciplinar e criminalmente. Este regulamento estabelece, de igual modo, um quadro legal para a
protecção dos estudantes, especialmente das raparigas.
Geralmente se considera que o assédio começa pelo abuso de poder (qualquer que seja
sua base de sustentação) e segue por um abuso narcísico no qual o outro perde a auto-
estima e pode chegar, às vezes, ao abuso sexual (Ibidem). O que pode começar como
uma leve mentira, um flagrante, ou falta de respeito, torna-se uma fria manipulação por
parte do indivíduo perverso que tende a reproduzir o seu comportamento destruidor em
todas as circunstâncias de sua vida, local de trabalho com o cônjuge, os filhos, entre
outros, Freitas (2001, p. 76).
Os autores como Magalhães et al. (2011) também mostram que ao nível nacional, o Governo tem
enveredado esforços com vista à promoção de instrumentos, políticas e estratégias que visam a
igualdade de género em todas as esferas da vida privada e social. Entretanto, o acto de denunciar
ainda se configura como desafios a serem ultrapassados pelas mulheres, estudantes e raparigas
Conforme afirmam Da Silva Barroso et al (2019, p. 112), estudos internacionais consideram que
o assédio sexual é um fenómeno que ocorre em todos os espaços da vida quotidiana, sendo uma
prática mais predominante nos espaços organizacionais na qual a mulher tem sido, na maioria dos
casos, a mais afectada devido à sua condição de subordinação em relação ao seu superior.
Vale destacar que esse tipo de prática não está restrito apenas ao local de trabalho, esse tipo de
ambiente uma vez que os outros espaços como, por exemplo, as escolas e universidades também
dispõem de estruturas hierarquizadas.
Conforme defende Santos apud Ponchirolli (2009, p.39), a ética representa o consenso e
aceitação dos valores morais e costumes estabelecidos pela sociedade. Quando novas questões
são levantadas, surgem à necessidade de determinar valores e/ou costumes de forma prática.
Assim, aparece o conceito da ética, que significa o modo e o carácter do indivíduo na sociedade.
A ética é como o aglomerado das práticas morais de certa sociedade, dos princípios que dão
início a estas práticas.
Importante destacar que o Código descreve as condutas esperadas dos ocupantes de cargos ou
funções de chefia ou supervisão, a saber:
Ser ético e agir de forma clara e inequívoca, buscando ser exemplo de moralidade e
profissionalismo;
Buscar meios de propiciar um ambiente de trabalho harmonioso, cooperativo,
participativo e produtivo;
Agir com urbanidade e respeito, tratando as questões individuais com discrição; e
Abster-se de conduta que possa caracterizar preconceito, discriminação, constrangimento,
assédio de qualquer natureza, desqualificação pública, ofensa ou ameaça a terceiros ou
pares.
Considerações finais
Neste artigo buscou-se analisar o assédio sexual como um problema ético, apontando sobretudo,
as causas e as consequências. Assim, da revisão da literatura feita, observou-se que o assédio
sexual é toda conduta de natureza sexual não desejada que, embora repelida pelo destinatário, é
continuadamente reiterada, cerceando-lhe a liberdade sexual.
É importante notar que o assédio sexual detém uma intima semelhança como qualquer meio de
violência que detenha relação com ato libidinoso, porém o assédio sexual na visão penal é
somente aquela acção praticada por superior hierárquico que vise vantagem sexual. Entretanto, a
maior parte das pessoas ainda acha que é um problema especialmente desenvolvido contra a
mulher sendo este o género principal que é vítima de tal mal, acarretando em um problema para a
mulher que busca autonomia e igualdade.
Portanto, vale destacar que ao se considerar o assédio sexual como sendo um problema ético deve
preocupar a todos os cidadãos, desde os servidores públicos até os cidadãos comuns. Assim, um
ambiente de trabalho deve ser saudável e respeitoso, livre de ofensas, difamação, exploração,
discriminação, repressão, intimidação, assédio e violência verbal ou não verbal. Entre as condutas
esperadas do agente público, em qualquer posição hierárquica, estão a cordialidade, a equidade, a
urbanidade no trato com as pessoas, o decoro, o respeito, o profissionalismo e a moralidade.
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