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Resumo: Este artigo de pesquisa tem como tema Construções Sintácticas do Verbo Haver e o Seu uso
no Português de Moçambique, e tem como objectivo geral explicar os factores que fazem com que os
falantes da língua portuguesa, usem o verbo haver duma forma desviante da norma padrão, ou seja, os
diferentes mecanismos que fazem com que os falantes do Português de Moçambique, nas suas
construções frásicas, flexionem ou usem de forma desviante o verbo haver em contextos em que ele
não é necessariamente permitido pela gramática tradicional. Nesse sentido, pretende-se analisar a
ocorrência do verbo haver em diferentes contextos frásicos, e sempre contrastando com a norma
padrão. O Português é a língua oficial do país desde a independência, em 1975, o que faz com que seja
a língua voltada para fins bem específicos, principalmente as relações de trabalho. A maioria dos
moçambicanos têm-na como L2, e para os que a tem como L1, adquiriram-na num meio, onde os seus
pais tiveram-na como L2. Para a Realização deste artigo de pesquisa, usou-se a pesquisa bibliográfica,
visto que o trabalho foi feito na base de material já elaborado. Portanto, é um conjunto de materiais
escritos que contém informações elaboradas e publicadas de autores. A pesquisa bibliográfica foi
utilizada para complementar e embaçar o trabalho em abordagem, através de autores e fundamentar o
trabalho.
Palavras-chave: Verbo Haver; Verbo haver no sentido de Existir; Português de Moçambique.
Introdução
A Língua é o veículo de comunicação, de informação e de expressão entre os
indivíduos, usado em situações naturais de interacção social e é comum a um grupo de
indivíduos pertencentes a uma mesma comunidade.
O artigo de pesquisa em alusão é intitulado Construções Sintácticas do Verbo Haver e
o Seu uso no Português de Moçambique. Importa referir que nesse estudo, aborda-se as
diferentes formas de colocação frásica do verbo Haver no sentido de posse e existencial,
tendo como base, o Português falado e escrito de Moçambique, em comparação com o
Português Europeu, tido como padrão.
Quanto ao Português de Moçambique (PM), só começou a ganhar um formato mais
consistente depois da independência do país, em 1975, pelo que a investigação sobre esta
variedade africana tem igualmente uma história recente. O governo reconhece oficialmente a
existência de mais de vinte línguas nacionais. Escolhida como língua oficial do país após a
independência em 1975, a Língua Portuguesa seguiu rumos de difusão muito diferentes
durante o período de colonização de Moçambique se comparados a outras colónias. Até hoje
há poucas pessoas com alto nível de escolaridade, e há um forte ambiente de multilinguismo
que faz com que o uso da língua portuguesa seja um tanto irregular e voltada para fins bem
específicos, principalmente as relações de trabalho.
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Autor: Saide Cassimo E-mail:saidecassimo@gmail.com Contacto: 849456407
O objectivo geral deste artigo consiste em explicar os factores que fazem com que os
falantes da língua portuguesa, usem o verbo haver duma forma desviante da norma padrão, e,
a par do objectivo geral, apresentam ˗ se os seguintes objectivos específicos:
Importa salientar que é muito comum empregar-se o verbo haver no contexto frásico,
duma forma incorrecta. No Português Falado em Moçambique, o seu uso se confunde devido
à diversidade de aspectos que ele assume.
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Selecciona um complemento directo.
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Quando selecciona um objecto directo e indirecto, ou um complemento oblíquo.
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Autor: Saide Cassimo E-mail:saidecassimo@gmail.com Contacto: 849456407
Gramática Tradicional (GT) normatiza que o verbo “haver” pode ser utilizado no sentido de
existir, sendo, neste caso, um verbo impessoal.
Quanto a questão da posse do verbo haver, observa-se que o verbo ter foi ganhando,
cada vez mais, espaço na história da língua portuguesa, de maneira que excluiu totalmente o
uso de haver com valor de posse e ainda passou a disputar com este verbo o sentido
existencial, como se pode ver no exemplo a seguir:
Exemplo:
a) Não há/tem cadeiras na sala.
Quanto ao uso do verbo haver no PM, dos diferentes autores consultados e citados neste
artigo, como é o caso de FIRMINO (2002) e GONÇALVES (2013: 157-168.), constatou-se
que ele é simplesmente usado sem se obedecer a norma padrão, ou o que a gramática
preconiza.
De uma forma geral, pode-se dizer que há fortes tendências em se flexionar o verbo
haver no plural em casos em que a norma europeia ou a gramática normativa3 requer o seu
uso no singular. Este fenómeno ocorre em frases com o verbo haver possuindo o sentido de
existência, como se pode ver na tabela a seguir:
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A gramática normativa apresenta e dita normas de bem falar e escrever, normas escritas do idioma, prescreve o
que se deve e o que não se deve usar na língua. Essa gramática considera apenas uma variedade da língua como
válida, como sendo a língua verdadeira.
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Autor: Saide Cassimo E-mail:saidecassimo@gmail.com Contacto: 849456407
acompanhado por outros verbos e desempenhar o papel de verbo principal, ambos os verbos
devem aparecer somente na 3.ª pessoa do singular, ou seja, sem qualquer variação. Isso
porque “haver”, com sentido de “existir” ou “ocorrer”, é um verbo impessoal e não deve ser
usado no plural.
Portanto, tendo em conta ao que acima foi exposto, percebe-se que sempre que este
verbo é usado com o valor de «existir», nunca tem sujeito, mas sim, complemento directo. No
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(ou impessoal, na terminologia tradicional). Por outras palavras, o verbo “haver” nos sentido existencial é um
verbo impessoal, ou seja, não possui sujeito, e é empregado na terceira pessoa do singular, independente do
tempo verbal.
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(formará oração sem sujeito)
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Autor: Saide Cassimo E-mail:saidecassimo@gmail.com Contacto: 849456407
que diz respeito ao comportamento variável do verbo haver com sentido de existir, percebe-se
que, de forma geral e na visão de alguns gramáticos como CUNHA & CINTRA (2001: 443),
flexionar o verbo haver é uma incorrecção na língua culta, visto que o verbo haver, na
acepção de existir, o padrão de referência de uso “correcto” da língua é impessoal. O verbo
haver em orações equivalentes às constituídas com existir, ou seja, seguido de objecto directo
e significando a existência de uma pessoa ou coisa comporta-se como um verbo impessoal e,
por isso, deve sempre ser empregado na 3ª pessoa do singular, a exemplo do que foi
apresentado.
Considerações finais
Este artigo de pesquisa teve como tema Construções Sintácticas do Verbo Haver no
sentido de Existir, e o Seu uso no Português Falado em Moçambique, e o teve o seguinte
objectivo explicar os factores que fazem com que os falantes da língua portuguesa usem o
verbo haver duma forma desviante da norma padrão.
Portanto, a partir dessa pesquisa, é possível tirar a conclusão de que o uso variável do
verbo haver no sentido de existência demonstra que, no PM, construções existenciais são
normalmente formadas com o verbo ter, estando o processo de substituição de haver por ter
em estágio avançado, principalmente em contextos menos formais de produção e na
modalidade oral da língua. Nesse sentido, postula que o processo de ensino/aprendizagem
deve levar em consideração todas as variedades sociolinguísticas e não apenas aquele padrão
culto exclusivo da classe social de maior prestígio, sendo, portanto, tarefa da escola combater
o preconceito linguístico e valorizar a diversidade linguística.
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Autor: Saide Cassimo E-mail:saidecassimo@gmail.com Contacto: 849456407
Referencias Bibliográficas
CALLOU, Dinah Maria Isensee & AVELAR, Juanito. Sobre ter e haver em construções
Existenciais: variação e mudança no português do Brasil. 2000