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Entende-se de assédio sexual, toda conduta de natureza sexual não desejada que,
embora repelida pelo destinatário, é continuadamente reiterada, cerceando-lhe a
liberdade sexual. Entretanto, é uma atitude que provoca intenso constrangimento, por
violar a livre disposição do próprio corpo. Conforme aponta Dias (2008, p. 76), embora
pouco falado, o assédio sexual é considerado da mesma forma que os demais tipos de
violência contra a mulher, que também se alimenta do sigilo e vem ocultando os
ímpetos em que muitas mulheres são alvo. Comummente quando nomeado, amigos e
familiares acabam não acreditando, e ainda em casos que envolvem o ambiente de
trabalho, as vítimas acabam sofrendo humilhação e até mesmo perdendo o emprego.
Por outra, acredita-se que muitas pessoas desconhecem ou têm uma compreensão
parcial ou equivocada sobre o que são essas práticas. O presente trabalho, propõe a
conscientizar sobre o tema, a partir de diferentes aspectos. São indicadas situações
que configuram assédio sexual, causas e seus males na sociedade. Também são
apresentadas medidas para prevenir e combater estas práticas de forma a tornar o
ambiente de trabalho mais positivo.
De acordo com Terruel e Bertani (2010, p. 62), o assédio sexual é considerado como
uma violência psicológica, pois a vítima não é atacada com agressões físicas, mas sim
psíquicas e, certamente essas agressões acabam abalando o estado emocional da
mesma, causando diversas consequências que em sua maioria, acabam colocando a
vida do indivíduo em risco, em alguns casos em que a vítima fica muito abalada com a
trágica situação, isso pode levar até ao ato do suicídio.
Segundo Costa et al (2011, p. 2), o assédio é tratado como uma forma de violência
sexual resultado de um complexo contexto de poder que marca as relações sociais
entre os sexos. Entretanto, “o assédio, de maneira geral, é um problema grave e
insidioso, que pode acontecer em família, em sociedade ou nas empresas”.
Caracteriza-se por um conjunto de comportamentos que leva a vítima ao desequilíbrio e
instabilidade emocional, podendo assumir outras formas de violência como a física e a
sexual.
Paranhos (2017, p.38) afirma que as mulheres tendem a não reportar os incidentes,
seja por embaraço de tornar públicas questões de cunho sexual ou por se sentirem
ameaçadas no ambiente de trabalho, em que ainda ocupam posição precária e passível
de represálias. Quando reportam o assédio, há ainda a possibilidade de a queixa não
ser ouvida e ser tratada como uma simples brincadeira entre colegas, comum em casos
que envolvem agressão de dimensão sexual entre agressor e vítima. Além disso, há
uma falta de hábito das mulheres em encarar os danos psicológicos causados pelo
assédio sexual enquanto dano real. Tudo isso, juntamente com um tratamento legal
inepto, traz para as vítimas a sensação de que, concretamente, nada será feito para
parar os episódios de assédio.
1.2. Abordagem Legal dos direitos Humanos e o asseio sexual
A abordagem legal dos direitos humanos olha para o assédio sexual como sendo um
problema dos direitos humanos das mulheres na medida que considera ser uma
violação ao princípio maior da liberdade sexual. O assédio sexual também é
considerado uma forma de discriminação de género vedada juridicamente, pois
coactam à liberdade, à autonomia das mulheres no exercício da cidadania e de direito
individual de livre disposição do seu próprio corpo (Magalhães, 2011) e (Cunha, 2017).
São exemplos de documentos instituídos pelo governo em prol dos direitos das
mulheres e raparigas a Constituição da República de Moçambique, os documentos de
planeamento e gestão, por exemplo, o Programa Quinquenal do Governo – PQG 2015-
2019, o Plano Económico e Social – PES e o Plano de Acção para a Redução da
Pobreza − PARP nos quais a promoção da igualdade de género é priorizada, quer seja
como princípio, ou factor de desenvolvimento, e o Plano Nacional de Prevenção e
Combate à Violência Baseada no Género 2018-2021.
Portanto, mesmo com todos estes instrumentos, nota-se que as mulheres têm receio de
denunciar práticas violentas e de assédio sexual nos espaços em diferentes espaços
sociais, preferindo ficar no silêncio, ou simplesmente pedirem transferência. Portanto,
os indivíduos têm consciência das leis e do seu dever cívico, no entanto, no processo
interactivo, os actores, implícita, ou explicitamente envolvidos, escolhem dentre as
várias alternativas pré-constituída as mais relevantes para eles.
1.3. Causas do assédio sexual
Parte-se do pressuposto de que o assédio sexual é um problema que gera até a
modificação da visão de mundo da vítima, podendo acarretar em problemas para a luta
por direitos e até por uma busca pessoal da vítima sobre seu lugar no mundo e seu
sentido de vida.
Assim, quanto as suas causa, Freitas (2001, p. 91) aponta a depressão como sendo a
maior causa. Para o autor, a depressão é uma das causas mais frequentes de assédio
sexual, principalmente desenvolvidos contra as mulheres, uma vez que tal acção atenta
contra a honra da pessoa e pode gerar uma situação mental insuportável ao relembrar
tal problema. Entretanto, a depressão se tornou um problema recorrente nos casos
mais graves das vítimas de assédio sexual, especialmente entre as mulheres que
sofreram com um ou mais casos.
De acordo com Freitas (2001, p. 61), o assédio sexual é, em verdade, uma acção que
se traveste de opção para a vítima, enquanto o constrangimento é causado a vítima
pode ser compelida a aceitar uma proposta de aumento ou uma ameaça de
desemprego em razão do assédio sexual.
Ximenes (2017, p. 54) afirma que o assédio sexual desencadeia uma série de
problemas psicológicos para a vítima, podendo ser ainda um factor de problemas no
ambiente de trabalho e na vida geral da pessoa que sofre tal fato, sendo problemas
psíquicos que podem durar grandes períodos. Assim, de acordo com o autor, o assédio
sexual nas relações de trabalho pode desencadear:
Portanto, vale destacar que para o emocional da vítima o assédio sexual pode acarretar
em um sentimento de auto imagem ruim, passando a vítima a não se considerar mais
um funcionário de importância para a empresa. Uma consequência do assédio é a
percepção da tímida como sendo um objecto sexual de seu superior hierárquico,
passado a vítima a se questionar sobre sua importância naquele local de trabalho.
2. Assédio sexual como um problema ético
Diante de diversos acontecimentos, a sociedade está redescobrindo a ética, com uma
grave crise de valores identificada principalmente pela falta de respeito e limites dos
indivíduos. Por outra, o campo de estudo sobre o assédio sexual é muito vasto e os
estudos já realizados têm se focado principalmente nas suas causas e consequências.
Ademais, a compreensão das dinâmicas sobre este fenómeno ainda é bastante
limitada.
Conforme defende Dias (2008, p. 76), código de Conduta ética determina que,
independentemente da posição hierárquica, o convívio no ambiente de trabalho deve
estar alicerçado na cordialidade, no respeito mútuo, na equidade, no bem estar, na
segurança de todos, na colaboração, no espírito de equipe e na busca de um objetivo
comum.
Nash (1993, p.6) afirma que a ética coloca o profissional como um ser “pensante”, que
não deve agir somente como uma máquina, como uma visão voltada somente para a
produção. É preciso lembrar que são seres humanos com suas emoções e sentimentos,
e que é essencial que se considere a integridade dos indivíduos, o que será o caminho
para o sucesso no mundo dos negócios, pois proporcionará o aumento da lealdade dos
funcionários, a confiança dos clientes e demais parceiros.
De acordo com Passos (2004, p.184), a atitude ética diante do assédio sexual respeita
os funcionários independentemente das suas funções e cargos, agindo de maneira
digna com a sociedade, cumprindo com todas as suas obrigações. Enfim, as práticas
abusivas que caracterizam o assédio sexual são diversas não sendo possível enumerar
todas as situações, que de forma geral transformam o ambiente de trabalho em um
local de difícil convivência.
Por outro lado, em Moçambique, o assédio sexual é proibido por lei , artigo 5 do
Regulamento de Combate à Corrupção e Assédio Sexual-DM 36/2019 DE 17 de Abril) e
há políticas específicas do governo que funcionam de modo a responder o problema do
assédio sexual nas instituições públicas e privadas. Entretanto, o regulamento de
combate à corrupção e ao assédio sexual define mecanismos de denúncia para
assegurar que os autores sejam efectivamente sancionados disciplinar e criminalmente.
Este regulamento estabelece, de igual modo, um quadro legal para a protecção dos
estudantes, especialmente das raparigas.
Geralmente se considera que o assédio começa pelo abuso de poder (qualquer
que seja sua base de sustentação) e segue por um abuso narcísico no qual o
outro perde a auto-estima e pode chegar, às vezes, ao abuso sexual (Ibidem).
O que pode começar como uma leve mentira, um flagrante, ou falta de respeito,
torna-se uma fria manipulação por parte do indivíduo perverso que tende a
reproduzir o seu comportamento destruidor em todas as circunstâncias de sua
vida, local de trabalho com o cônjuge, os filhos, entre outros, Freitas (2001, p.
76).
Os autores como Magalhães et al. (2011) também mostram que ao nível nacional, o
Governo tem enveredado esforços com vista à promoção de instrumentos, políticas e
estratégias que visam a igualdade de género em todas as esferas da vida privada e
social. Entretanto, o acto de denunciar ainda se configura como desafios a serem
ultrapassados pelas mulheres, estudantes e raparigas
Vale destacar que esse tipo de prática não está restrito apenas ao local de trabalho,
esse tipo de ambiente uma vez que os outros espaços como, por exemplo, as escolas e
universidades também dispõem de estruturas hierarquizadas.
Conforme defende Santos apud Ponchirolli (2009, p.39), a ética representa o consenso
e aceitação dos valores morais e costumes estabelecidos pela sociedade. Quando
novas questões são levantadas, surgem à necessidade de determinar valores e/ou
costumes de forma prática. Assim, aparece o conceito da ética, que significa o modo e
o carácter do indivíduo na sociedade. A ética é como o aglomerado das práticas morais
de certa sociedade, dos princípios que dão início a estas práticas.
Neste artigo buscou-se analisar o assédio sexual como um problema ético, apontando
sobretudo, as causas e as consequências. Assim, da revisão da literatura feita,
observou-se que o assédio sexual é toda conduta de natureza sexual não desejada
que, embora repelida pelo destinatário, é continuadamente reiterada, cerceando-lhe a
liberdade sexual.
É importante notar que o assédio sexual detém uma intima semelhança como qualquer
meio de violência que detenha relação com ato libidinoso, porém o assédio sexual na
visão penal é somente aquela acção praticada por superior hierárquico que vise
vantagem sexual. Entretanto, a maior parte das pessoas ainda acha que é um problema
especialmente desenvolvido contra a mulher sendo este o género principal que é vítima
de tal mal, acarretando em um problema para a mulher que busca autonomia e
igualdade.
Referências bibliográficas
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