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Crítica Literária Feminista de O Alegre Canto da


Perdiz, Capitulo 10.
Autor: Saíde Cássimo

E-mail: Saidecassimo@gmail.com

Telemóvel: 849456407

Introdução

O tratamento da mulher actualmente, difere em diversos aspectos, comparando de


como ela era encarada no tempo colonial. Na obra que se apresenta, faz-se uma
Crítica Literária Feminista de O Alegre Canto da Perdiz, Capitulo 10. A obra que se
analisa, tem como temática o denúncia de maus tratos do colonialismo contra o povo
negro.
É objectivo da obra, denunciar a falta da imagem feminina nos processos sociais da
época colonial. Inspirada nos acontecimentos ou factos reiais, por meio de analepse,
Paulina Chiziane denuncia os maltratos do colonialismo português ocorridos no solo
Moçambicano, concretamente na Zambézia. Tomando como base o capitulo 10 deste
romance, ora em análise, a autora denuncia a exploração da mulher, os estupros e a
prostituição que a moçambicana foi sujeita, e também recusa da sua própria cor preta.
Não obstante, com os capítulos que a autora nos apresenta, não só leva-nos para a
indicação do lugar da mulher na antiga colonia, como também, revindica a identidade
cultural feminina.

Portanto, no que tange ao papel da mulher na obra, tendo em conta a comparação que
a autora faz, conclui-se que há uma diferença gradual no que tange a imagem da
mulher e o seu tratamento, nos dois mundos: o colonial e o actual. No mundo colonial, a
imagem da mulher era restringida a inviabilização e diminuição da sua identidade, e que
o único propósito para qual foi criada, era de servir na cama. Por outro lado, na
actualidade, a mulher é líder e com a voz activa em diferentes fóruns, fruto de
revindicações.
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1. Crítica Literária relacionada com a Imagem da mulher em O Alegre Canto da


Perdiz, Capítulo 10.
O tratamento da mulher negra em todas as literaturas, aparece como escrava, e a que
cuida dos filhos das mulheres brancas. Com efeito, tendo em conta a imagem da
mulher na obra O alegre Canto da Perdiz, a autora mostra-nos a falta d identidade, da
imagem feminina apagada nos processos sociais numa perspectiva analepsica, ou seja,
contando-nos sobre o tempo colonial, como se elucida no trecho apresentado,
CHIZIANE, 2008: 46  47).

— José. Meu noivo. Quero apresentá-lo. Vamos casar.


— Casar?
[..].
— Casar? — pergunta de novo Serafina.
— Sim, casar. […].
— Com esse preto?
— Oh! Não entende! A mãe é ainda mais negra que ele!
— Melhora a tua raça, minha Delfina!
Repete inconscientemente o que ouvia da boca de tantas mães
negras. E dos brancos. Casar com um preto? Confirmando que o
sexo é uma arma de combate em tempo de guerra. Casar com um
preto?
[…]. Serafina absorveu a vida inteira as injúrias nos gritos dos
marinheiros, que acabaram semeadas na consciência. Na arena
da consciência luta contra ti próprio, numa batalha sem vitória. O
estigma da raça deixou sementes cancerígenas, que se
multiplicam como a raiz de um cancro, e matarão gerações,
mesmo depois da partida dos marinheiros.
Primeiramente, importa referir que para além do desprezo que as mulheres negras
tinham dos negros, também cultivavam uma sede de repugnância e associavam a cor
negra com o sofrimento. A mulher, cujo destino traçado pelas suas mães, tinham que
lidar com o homem que as suas mães reservavam para elas, que muita das vezes era
garantia de pagamento duma divida.
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Analisando numa perspectiva feminista, como a própria autora, as mulheres negras


evitavam relacionamentos com negros porque no fundo sabiam que o nascimento de
um novo negro, significava a repetição da história da escravatura, um novo escravo na
família do colono. Quando uma negra era escrava, comprometia toda a geração a
escravidão. Era assim como a mulher vivia em quase toda a Africa, razão pela qual, a
maioria negava de ir a cama com os negros.

Portanto, com o envolvimento da filha com um negro, prevê um futuro duma geração de
negros, razão pela qual, dita o futuro da filha. Nenhuma mulher era livre de tomas as
suas decisões livremente, pois, a maior parte, era tomada pelas suas mães, como se
pode ver:

O ventre, abandonam os braços, abandonam a casa, abandonam a


terra. Porque viver é chegar e partir.
— O que é o amor para a mulher negra, Delfina? Diz-me: o que é o
amor na nossa terra onde as mulheres se casam por encomenda
e na adolescência? Diz-me o que é o amor para a mulher violada
a caminho da fonte por um soldado, um marinheiro ou um
condenado? As histórias de paixão são para quem pode sonhar. A
mulher negra não brinca com bonecas, mas com bebés de
verdade, a partir dos doze anos. A conversa de amor e virgindade
é para as mulheres brancas e não para as pretas. Por que me
falas de amor? A paixão é perigosa, Delfina, não te fies nela.
(CHIZIIANE, 2008: 48).
As mulheres viviam num ambiente de inviabilidades descontínuas e diminuídas a
objectos sexuais, exploradas sexualmente pelos seus próprios senhores. Eram vistas
como parte do património do seu senhor. Assim, as mulheres acreditavam que
envolvendo-se com brancos não faltaria comida na mesa e os filhos não seriam
condenados ao mesmo destino das suas mães. Teriam peles claras ou mestiços e
muito respeitados, como a seguir se exemplifica:

— Não bastam os pretos teus irmãos, condenados e deportados


para o desconhecido, para nunca mais voltar? Oh, Delfina, já chorei
muitas lágrimas nesta vida. Vamos, arranja um branco e faz filhos
mestiços. Eles nunca são presos nem maltratados, são livres,
andam à solta. Um dia também serão patrões e irão ocupar o lugar
dos pais e a tua vida será salva, Delfina. Felizes as mulheres que
geram filhos de peles claras porque jamais serão deportados.
(CHIZIIANE, 2008: 49)
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Serafina entendia. Mas só queria uma geração diferente, que


pudesse caminhar sem medo, livre do chicote e do trabalho
forçado, que pisasse o solo com orgulho, mesmo que olhasse para
trás com vergonha das suas origens, desprezando o ventre que a
gerou e o peito negro que a aleitou. O seu desespero espalha no ar
o cheiro de tristeza. Ibdem
O parágrafo acima mostra o desprezo pela sua própria raça, razão pela qual, as
mulheres negras se recusam de ser negro devido as experiencia anteriores. A maior
para das mulheres, envolviam-se com os colonos, mesmo sem pagamento porque lá no
fundo sabiam que teriam voz e respeito na sociedade e os filhos concebidos não seriam
pretos desgraçados e condenados a escravidão, mas sim, mestiços, mulatos, com
tonalidade reduzida. Não seriam totalmente brancos, mas mesmo assim, não seriam
colonizados e escravizados. Era esse pensamento que muitas mulheres nutriam em
busca do seu lugar no mundo, em busca da sua identidade. Porém, o facto de se
envolver com o colono, homem branco, não significava respeito e muito menos subida e
respeito pelos negros, pelo contrário, era o sinonimo de amargura, humilhação e
estupros.

Mas por outro lado, na construção da imagem da mulher, ao rejeitar ou sentir


repugnância pelos homens negros e a preferência pelos brancos, não se tratava a
repugnância da sua raça, mas sim, o medo de se repetir as experiências antigas. O
negro representava o sofrimento, a guerra.

2. O destino das mulheres negras

Era hábito no tempo colonial a venda ou troca por produtos as crianças na idade de
mocinhas, especificamente, as mulheres, como se exemplifica no trecho abaixo:

— Preferes ter-me à venda, minha mãe?


— À venda não, mas à renda.
— Faz-te bem saber que a minha vida se vende a metro. Ou a
quilo.
— Vida de negra é servir, minha Delfina. Nos campos de arroz.
Nas sementeiras e na colheita de algodão, para ganhar um quilo
de açúcar por mês ou uma barra de sabão que não cabe na palma
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da mão. Uma negra é força para servir em todos os sentidos.


(CHIZIIANE, 2008: 50).

No trecho, a D Serafina agradece por conceber uma filha negra linda e desejada.
Percebe-se que o único papel da mulher negra era reservado aos campos de arroz, nas
grande machambas de algodão e sementeira para no fim de tudo ganhar um pedacinho
de sabão. O lugar da mulher negra era reservado em servir o homem em todos os
sentidos. O meu ponto de vista, estou em crer que a imagem da mulher era restringida
a inviabilização e diminuição e que o único propósito da sua criação era de servir na
cama, e que só seria estimada quando se casasse, não com qualquer negro, mas sim
com um branco.

Considerações finais

O colono impos aos negros a dor de nascerem pretos, principalmente nas mulheres,
que serviam de objectos sexuais para os seus senhores. Foi-se o colono e ficou a
herança do desprezo do preto contra o preto. A mulher negra do tempo colonial,
anseava andar com o homem branco, mesmo sendo desprezada, algo que se verifica
em tempos actuais. A mulher, construiu a sua imagem baseando-se nos hábitos antigos
deixados pelo colono. Ainda prefere no colono a homem negro, pois, sabe que
conceber filhos mulatos, significa aceitação na sociedade e ter uma filha negra, significa
de volta as origens.

A mulher hoje evoluiu e é respeitada, tem voz activa na sociedade, mas o seu
comportamento não mudou tanto, pois, quando esta no auge, ainda se identifica com
um branco, um mulato, o que significa que ainda somos racistas e sentimos o desprezo
da nossa própria raca.

Em conclusão, há uma diferença gradual no que tange a imagem da mulher e o seu


tratamento, nos dois mundos: o colonial e o actual. No mundo colonial, estou em crer
que a imagem da mulher era restringida a inviabilização e diminuição da sua identidade,
e que o único propósito da para qual foi criada, era de servir na cama, e que só seria
estimada quando se casasse, não com qualquer negro, mas sim com um branco. Na
actualidade, ela é líder e com a voz activa em diferentes fóruns.
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Bibliografia
CHIZIANE, P. O Alegre Canto da Perdiz. Caminho. Lisboa. 2008

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