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Tani •Manoel.

Kokubun •Proen~a
\

· EDUCfiCÃO F(SICfi
ESCOLAR
fundamentos de uma abordagem
_ dczscznvolvimentista
Dados de Catalogação na Publicação ( CIP) Internacional
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Educação física escolar : fundamentos de uma abor-


E26 dagem desenvolvimentista / Go Tani ... [et al.]. -
São Paulo : EPU : Editora da Universidade de
São Paulo, 1988.

Bibliografia.

1. Crianças - Desenvolvimento 2. Educação fí-


sica e treinamento 3. Psicologia do desenvolvimento
I. Tani, Go.

CDD-613 .7
-155
88-0085 -612.65

Índices para catálogo sistemático:


1. Crianças : Desenvolvimento : Fisiologia humana
612.65
2. Desenvolvimento da criança : Fisiologia humana
612.65
3. Educação fisica : Higiene 613.7
4. Psicologia do desenvolvimento 155
Edison de Jesus Manoel
Eduardo Kokubun
Go Tani
José Elias de Proença

Educa cão Física I

Escolar
Funda·m entos de uma abordagem
desenvolvi mentista

EDlllíô~íRl ír>E~íRlGÓGIICíRl
E lUJíffillWE~Slllíf~llíRl ILiflDll
1. Domínios do comportame nto . humáno
e o movimento

1.1. A classificação do ni~iv~. ~_d,.prffificaram cinco categoria~


comportamento humano e ,Er1nc1pa1s, ou seja, receber, res~ n-
o movimento der, valorizar, orsan1zar e câtegorizar
um •valor ou complexo de valores. Os
Todo 9 comportamento humano pode comportamentos do domínio afetivo-
ser .convenientemente classificado co- •social são muito envolvidos numa
mo sendo pertencente a um dos três situação real de ensino-aprendizagem,
domínios, ou seja, cognitivo, afêtivõ= visto que aspectos como motivação,
-socíãl e motor. interesse, responsabilidade, coopera-
Fazem parte do d..2,mínio cognitivo, ção e respeito ao próximo ·estão sem-
operações mentais como a descoberta pre presentes e devem ser trabalha-
?U recon1ieêimento de informação, -a dos adequadamente.
retenção ou armazenamento de infor- Do domínio motor fazem parte os
mação, a geração de informações . a movimentos. Em muitos estudos, o
l'artir de certos dados e a tomada de domínio motor é mencionado como
~ecisão ou feitura de julgamento acer- · domínio. psicomotor, em . função do
:,ª da informação (Magill, 1980). Um grande envolvimento do aspecto men-
estudo mais abrangente sobre · o do- tal ou cognitivo na maioria dos mo-
mínio cognitivo pode ser encontrado vimentos. Alguns dos estudos mais
em Bloom (1956) que elaborou uma conhecidos sobre o domínio motor
taxionomia de objetivos nesta área, são as taxionomias de Harrow ( 1971)
ordenando as diferentes operações e Simpson (1967). Segundo Singer
mentais da mais simples à mais com- (1980), incluem-se no domínio motor
plexa. três tipos básicos de comportamento:
Qo domínio ·afetivo-social fazem parte çontactar, m~ular e ou mover u~
os sentimentos e emoções. Evidencias o~eto; controlar o corpo ou objetos___
apresentadas por psicõlõgos sociais quando em equ1hDno; mover ou co!!:-
~ostram que os comportamentos afe- trolar o corpo ou parte do corpo no
tivos são basicamente adquiridos pelo e spaço, com liming, num ato ou se- ~
processo de aprendizagem. Krathwohl, qüêncía breve ou longa, sob situações
Bloom e Masia (1964) elaboraram previsíveis e ou ·imprevisíveis.
uma taxioll'omia ·semelhante à taxio- Emliora um determinado comporta-
nomia de Bloom para o domínio cog- mento possa ser classificado num des-

5
,. domínios convém esclarecer O resultado é um padrão d .
tes tres maioria dos ' t ntos nervosos que atinge os di've rsos e impulsos
ór ..
compor ame
qexui.est;ªa participação de to,dos os três efe tores envolvidos no 01 . gaos
,., on tais como: músculos si'stemovimento,
domínios. A classificaçao e uml a c : ' a card'
. ,. ci· a visto que O prob ema e vascular e outros. Da cont _ to.
ven1en , . ,.. . d lt raçao mus
essencialmente de predominancia e cu1ar resu a o ~ovimento, enquant~
um destes domínios sobre outros,. sem due os out~os sistemas encarregam-se
que sejam mutuamente exclusivos. de proporcionar as condições adequa.
Por exemplo, 0 comportamento de um as para a sua ~ealização. Os com.
'ndivíduo no xadrez é predominante- portamentos afetivo-sociais ou .
t d ~ . d .. b , , ain-
men t r cognitivo, embora os ominios a, cognitivos, . tam ém são acompa-
motor e afetivo-social também este- nhados por a1ustes . no sistema de
jam envolvidos. O halterofilismo, por suporte vegetativo, tais como altera-
sua vez, é predominantemente motor ções nos componentes cardiovascula-
assim como a maioria das habilidades res e respiratórios, transpiração, di-
desportivas. !atação de pupila e outros.
A interação de todos os domínios do~ Em resumo, quando se estuda 0
comportamento pode ser claramente ~portamento hum~ dois pr~ cí-
compreendida no modelo sistêmico pi0s devem 3 r considern..Q_Qs: o da
do comportamento humano de Heims- .
totaliaade e o,.,.da especificidade. / O ~

tra e Ellingstad ( 1972) mostrado na princípio da totalidade sug~fe que,


figura 1.1. Nesse modelo, os proces- '§. qualguer comp,prtameUÍQi____há sem-
sos de identificação, interpretação e pre a participação de todos os domí-
memória que antecedem o output, ou nios que atuam de,Jiroa. fru:m~-
seja, o comportamento observável, _gradª. Por outro .lado, _o 2rinc!Pio da
são operações mentais ou cognitivas specificidad sugere que embora
que se processam a nível do sistema todos os domí · ·am envolVI os
nervoso central. Da mesma forma, a em qualquer ortamento, cad~
identificação e a interpretação in- dom1n10 precisa s,...__.,.....,..,~-
fluenciam ou são influenciadas pela fica.:;,.-,,~-<, dada réd inânc1a de
energização, que é um processo basi- uns so ~ r e s. Acreditamos que 0
· cam~n~e motivacional e, portanto, do ~õnjullto das contribuições dos estu-
dom1mo afetivo-emocional . dos e análises de cada domínio, es·
Há necessidade tambe'm d. e se com- d • esquecer
nd O pecificamente sem to avia .
pree er papel desempenhado pelas suas interaçõ;s com os outros, pos •· s
estruturas fisiológicas do ser
mento motor O . no comporta- bilita que o comportamento b
movim d' d e tra a·
através de c~mplexas i~~to é_ geradu humano seja compreen 1 o
ocorrem a nível d . eraçoes que lhado de uma forma global.
O st
central e periférico si ema nervoso Desta forma, quando se fala:
d d desenvo
r::.
· f ' que processam
1n ormações "ensoriais _as exemp1o, em estu o o , • .mo·
. . , e outros 1m b donun 10
pu1sos originados no pró ~ . - menta motor, em ora o . não
1 st
pr o si ema. tor esteja sendo enfocado, i sto
6
Memória

/
''

ntificação
---------

Energização

Figura 1.1. Modelo. sistêmico do comportamento humano (adaptado de Heimstra &


Ellingstad, 1972) .

quer dizer que o desenvolvimento tos ou habilidades motoras desenvol-


afetivo-emocional e o cognitivo este- ve a afetividade, a socialização, a
jam sendo esquecidos. Ao contrário, cognição e as qualidades físicas en-
conforme mostra o modelo de Heims- volvidas. Isto só não acontece quando
tra e Ellingstad, existe um forte in- se considera o comportamento do ser
ter-relacionamento entre todos os do- humano como uma soma de partes
mínios; a ênfase a um deles é apenas não relacionadas ou quando se fala
uma questão de predominância. Jus- em globalidade de forma muito abs-
tifica-se, desta forma, a abordagem trata, sem analisar o significado real
em separado dos processos de cresci- desta globalidade, ou seja, os compo-
mento físico , desenvolvimento fisio- nentes, os mecanismos e as suas inte-
lógico, motor, cognitivo e afetivo-so- rações.
cial e aprendizagem motora, no pre-
sente trabalho. 1.2. o conceito de movimento
Em termos práticos, quando se tem
humano
esta visão integrada e sistêmica do
comportamento humano, o trabalho Movimentos estão presentes em todas
na Educação Física com os movimen- as atividades humanas: no cotidiano,

7
no trabalho, no ~ er e no desporto. so. o movimento te~, p~rtanto, du:
Embora em Edtc:; ão Física os mo- pio aspecto. O primeiro e_ que e1e e
vimentos d~ebrtivos sejam enfatiza- um comportamento observ avel e O se-
dos, convém ressa1tar que os meca- gun do e, que ele é produ. to de todo um
nismos env vidos em qualquer um processo que acontece intern ament e ao
destes mo? , mentos são basicamente indivíduo. Para uma mel h or corn-
os mesmo . A diferença fundamental preensão deste proces so intern o res-
- d .
e~ta' nas 1 ·pf orm~çoes- esp~c~'f ·
1cas rece- pensável pela pro d uçao o mov1m
d en-
bidas, ptocessadas e utthzadas por to a figura 1.2. mo ra5t O 1
mo e O de
estes mJcanismos na organização e p;rformance human a de Marteniuk
controle! dos movimentos. Cada tare- ·(1975) que procu ra ·aprese ntar de uma
fa específica deman da - o processa- forma concisa os mecan ismos envol-
mento /de informações específicas. vides na execuç~o do movimento.
Neste s~ntido, é importante enfatizar Consid erando o ser human o como
que os \conhecimentos adquir.idos co- um proces sador de inform ações, Mar-
mo res~ltado de pesquisa • em áreas teniuk aprese nta um model o composto
relacion~das, como Performance Hu- de cinco mecan ismos envolvidos na
' .
mana, Engenharia Humana, Ergono- execução do movim ento. Estes meca-
mia_e Psicologia Experimental, devem nismos são interli gados através do
ser assimilados e efetivamente utili- fluxo de inform ações, de forma que
zados pela Educação Física, contri- o funcio namen to de um determinado
bÚindo para uma compreensão mais mecanismo depen de das infarmações
abrangente e profun da do movimento fornecidas por aquele que o precede.
humano. · Por exemp l9, o mecan ismo percepti-
0 moyim~nto tem sido definido de vo - nãcr pode funcio nar adequada-
várias -formas por- diferentes autores; mente se os órgãos dos sentidos apre-
De ,acordo _com -Newell ( 1978), re- sentar em proble mas.
fere-se g~r~lmente ao . deslocam~'rito ~ Os órgãos dos sentid os podem ser
do corpo -e membros produz ido como ~ consid erados como sendo os interme-
u~a conseqüência do padrão esp~- diário s -entre a estimu lação do meio
cial e !empo~~l da contra.;ão mus- ambie nte e o sistem a de processa-
cular. Pelo fato · de o movim ento s·e mento centra l Eles têm como função
caracterizar por um deslocamento do transf ormar ~s difere ntes estímulos,
cor~o ~um determinado padrão es- em forma de energi a física, em algo
pac1al e temporal el · ,
, e e um compor- que· possa ser transm itido
.. , do
atraves
tamdento observável e mensurável. sistem a nervos o human o ou seja, itn·
T0 os os movimento
, . s man1'festam pulsos nervosos. Este mecan ' ismo,
· que
certas caractensticas e · ·
. , .
pora1s observave1s tod · ,
spacia1 s e tem- não é influe nciado pelo processo de
.
.d ' avia e precis o aprend izagem · tem també m a f unça...o
cons~ -erla~ que o compo rtamen to oh- de codifi car ~s informações contidas
servave e resultado de· - · õeS
inte . um processo no estímu lo em forma de variaç
rno que ocorre no sist ' • d0 itn·
ema nervo- nos padrõe s espaço-temporais
8
pulso nervoso. Os impulsos nervosos idéia total da habilidade (Marteni k,
são entã o transmitidos através de vias 1976), ou a compreensão da tarefa
aferentes até o sistema nervoso cen- e o que ela exige (Gagné, 1977). Com
tral de 'são processaaos. Inicia-se relação ao mecanismo de decisão, é
\ aí o processo de percepçao. também importante considerar que
0 O mecanismo de percepção, através um mes1ro objetivo pode ser alcan-
dos processos de discriminação, iden- çado via diferentes planos motores,
tificação e classificação, fornece infor- visto que não existe uma relação li-
maçoes near entre o objetivo e o movimento
iente ex erno e 1n er a ser executado para alcançá-lo (Con-
corp o) p~ serem utilizadas pelo me- nolly, 1977; Newell, 1978).
canismo de decisão. São tamb ém en- Após a escolha do plano motor, este
viadas ao sistema de memória para precisa ser detalhado com relaçacfãos
. serem armazenadas e utilizadas na ~eus componentes. Isto é ~l~ .
predição de situações futuras. mecanismo efetor, que tem como f un-
Percepção é basic amen te um proc et . ção selecionar e integrar os comandos....,
so e organização de informacões e motores que eventualmente prõd '!:
"~ ue de ende de a ões e experiê ias zirão o movimento desejado. Dois
passadas elfo· d, 1968). Ela se de- processos básicos se desenvolvem no
senvolve através do processo de apren- mecanismo efetor: a organização hie-
dizagem e pode ser influenciada por
0 fatores como atenção. seletiva, capaci-
dade sensorial de detecção, memória
rárquica e seqüencial (Marteniuk,
1976). .A organização hierárquica en-
volve u~a ordenação das informações
-~ e processos perceptivos de alto nível, do geral para o específico e, a orga-
como ante cipa ção e· predição. · nização seqüencial, a colocação, numa
As informações processadas pelo me-
ordem seqüencial, dos componentes
canismo perc eptiv o · são entã o trans-
do plano motor para que ·as deman-
mitidas ao mecani_smo de _decis~o. t
·das do meio ambiente e os objetivos
função deste .úJ.tim:o escolher o plano
m.otor adeq uado , levando-_se em ?º.n-
seja)Jl alçançados. O mecanismo
tor é também responsável pela 1n1-
:f~-
sideração as .dem anda s correntes do
meio ambiente e os objetivos origi- ~ ~iâçãQ do movimento, já_ que após .º
'detalhamento do plano motor, coman-
nais· da perfo rman ce. O_ conceito de
piano moto r 'foi derivado do conceito dos motores são transmitidos ao sis-
dé plano, · apre senta do por Miller, tema muscular num padrão ~spaço-
Galanter e Prib ram ( 1960), que :sig- -temporal adequado, quando então
nifica .o processo organizacional que acontece o movimento. Neste momen-
controla a orde m ern que ütna -~ to, os músculos estão sob c~ntrole
de operações é êi"ecutada. dos comandos motores :'. apos ~m
Plano intervalo de tempo, estao tambem
m em· denomina o
'
programa executivo (Fitts & Posner, sujeitos à influência e controle do
1967), lode ser considerado como a feedback.

9
"Feedback" externo

''Feedback" intrínseco

"Feedbac/c"
intrínseco

Mecanismo
perceptivo

Figura 1.2. Modelo de performance humana com base no processamento humano de infor-
mações (adaptado de M?rteniuk, 197S).

O feedback pode ser considerad o Na década de 60, observou-se o surgi-


como - sendo a informação recebida mento de novos conceitos, como com-
pelo executante sobre a execução do portament o perceptivo-motor, sensó-
movimento. Esta informação pode rio-motor, psico-motor e neur<rmotor.
ser recebida durante e após o movi-
Estes conceitos surgiram ;ustamente
mento, principalm ente através da ci- . • - de fa-
para enfatizar a part1cipaçao
nestesia e da visão_, e é utilizada para
modificar o movimento quando ele tores cognitivos ou mentais em quase
- - penas
não está sendo executado •c onforme todos os movimentos, exceçao 8 •
· fl
espécüicado no plano motor e tam- para os movimentos re exos ou 10vo-·-
bém para introduzir modificações no -
luntá_rios. Na reah'dade, estes concet '1er-
plano motor a fim de que o objetivo - do uroa T
tos deveriam ter provoca to e de
seja alcançado. dadeira mudança de pensame~to tra·
Convém lembrar que estes mecanis- , • a VtS
ação na Educação F161c ' . e
mos envolvidos no movimento sofrem d rad1gtna,
.tar-se de mudança e pa tarÃO
influências de fatores tais como o . elll re .,-
não apenas de conceitos, I0 feliz·
estado afetivo-emocional, fadiga e ao comportam ento h um · ano
outros.
mente; isto não ocorreu.
10
Como nos movimentos executados afetivo-emocional e assim por diante.
em Educação Física o comportamen- Se a Educação Física pretende contri-
to observável é evidente, o sistema buir para o desenvo~vimento adequa-
muscular ainda é demasiadamente do das crianças, é preciso que ela
enfatizado. Muitas vezes se cria uma abandone a ênfase excessiva sobre o
imagem de movimento sem a partici- sistema muscular, para adotar um
pação do fator cognitivo ou mental. enfoque onde todos os mecanismos
Desnecessário esclarecer que esta ima- envolvidos e os fatores que afetam o
gem tem as suas raízes na dicotomia funcionamento destes mecanismos se-
mente e corpo filosófica. Embora a jam convenientemente tra~alhados e
Educação Física defenda a importân- desenvolvidos.
cia da integração mente-corpo, na
prática, observam-se várias situações
onde ainda predomina a preocupação 1.3. A importância do
com o aspecto muscular, com pouca movimento no
atenção ao desenvolvimento global desenvolvimento do ser
da criança. J! difícil acreditar, por humano
exemplo, que os processos internos
responsáveis pela produção do movi- Movimentos são de grande importân-
cia biológica, psicológica, social, cul-
mento estejam sendo devidamente
tural e evolutiva, desde que é através
trabalhados em puras e simples re- de movimentos que o ser humano
petições mecânicas de movimentos, interage com o meio ambiente. A
em sessões onde se bu~ca o desenvol- · interação com o meio ambiente atra-
vimento de condição ou _aptidão físi- vés da cqnstante troca de matér ia/
ca. O mesmo pode ser ·dito em rela- energia e infarmação é ·um aspecto
ção aos movimentos ginásticas este- fundamental para a sobrevivência e
reotipados e com relação à aquisição desenvolvimento de todo . e qualquer
de habilidades, onde o conceito de sistema vivo. Movimentos são verda-
habilidade é erron eame nte interpre- deiramente um aspecto crítico da vida.
tado. ]! através deles que .o ser humano
8 oportuno ressaltar també m que as age sobre o meio ambiente para al-
dificuldades encontradas na integra- cançar objetivos desejados ou satis-
çã~ mente-corpo não são observadas fazer suas necessidades. São, também,
de grande importância biológica para
apenas na Educação Física·. Por falta
0 organ
ismo, no sentido de que cons-
de uma visão sistêmica- do . comporta-
.
tituem os atos que solucionam pro-
mento humano) a Educação, de uma
blemas motores (Connolly, 1977).
forma geral, está longe de conseguir
A importância dos movimento~ não
esta integração nas suás orientações.
se restringe ao aspecto biológico. As-
Certas disciplinas só se preocupam sim como Schmidt (1982) enfatiza,
com o aspecto cognitivo ou intelec• a capacidade do ser humano de se
tual, outras, apenas com o aspecto
11
., mais do que uma simples Finalm ente, a importânci d
mover e 'b'l'
conveniência que lhe possi_ i ite an- entre movim ento e cogniç~ ª _relação
. d ao nao d
d e1xar e ser mencionada. As ~o e
dar, jogar e manipu lar obJetos. Ela
nosso de- ras respost as de uma cri· ança Pl'lmei .
., um aspecto crítico do . re ,
e . , . D
senvolvimento evoluci onano. a cons- -nascid a são motoras. o s cem.
so é medido através de ;u _Progres.
truça-0 de abrigos e
de ferrame . ntas, . , ov1mento
arte dos nossos ancestr ais, ate Movimen to e a essência d .tnf ân ·s.
por P 1 . . a
chegar à complexa t~cno ogia e Como Wickst rom (1977) f ~•a.
5e . . en atiza
cultura modernas, os movime ntos de- ond e existe vida, existe mov·1mento e,
. .
sempenharam e continu am a desem- on d e existem crianças, exi t"
. s~ mo-
penhar um papel fundam ental. viment o quase · perpétu o. A •
. . cnança
Acresça-se ainda sua grande impor- a d quire suas pruneir as expen'"ena~.
. .
tância social e · cultural . A comuni ca- sensori ais sobre o meio ambient
ção, a expressão da criativi dade e a através da explora ção. A exploraça·o,e
dos sentimentos são feitas através de por sua vez_, d epende de movimentos
movimentos. E por meio deles que o e da capacid ade para controlar res.
ser humano se relacion a com o outro, postas motora s. Embora Piaget (1952)
aprende sobre si mesmo, quem ele é, tc;nha reconhe cido o estágio sensório-
o que ·é capaz de fazer. E através de -motor como um componente impor-
movimentos que o ser humano apren- tante - no desenvolvimento de uma
de sobre b meio social em que vive. criança , . até alguns tempos atrás, a

E~ploração do -
Movimento Sensação
meio ambiente
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Organi~ação
Cognição -- Percepção
de percepções

F' .
zgura 1.3. Inter-relacionamen
. to entre movimento e cognição (Tani, 1987).
12
• p.ortância
1111 do movimento no desen-·
O movimento é reconhecido como
olvimento glob a1 da criança
. -
nao sendo o objeto de estudo e aplicação
recebeu a devi'da atençao
V - . M a~
. re-
da Educação Física. Seja qual for a
centemente, estudiosos ~a _Educação
área de atuação, a Educação Física
defendem que as expenencias moto-
trabalha com movimento e, pelo aci-
ras que se iniciam na infância são de
fundamental importância para o de- ma exposto, é inegável a sua contri-
se·nvolvimento cognitivo, visto que os buição ao desenvolvimento global do
movimentos fornecem o principal ser humano, desde que estes trabalhos
meio pelo qual a criança explora, sejam adequados. Da mesma forma,
relaciona e controla o seu ambiente. é também inegável a sua grande res-
o movimento se relaciona com o ponsabilidade perante a comunidade,
desenvolvimento cognitivo no sentido no sentido de assumir que os objeti-
de que a integração das sensações vos propostos serão realmente alcan-
provenientes de movimentos resulta çados. Freqüentemente, observa-se o
na percepção, e toda a aprendizagem estabelecimento de inúmeros objetivos
simbólica posterior depende da orga- para a Educação Física, muitos pro-
nização destas percepções em forma vavelmente inatii:igíveis. O centro das
de estruturas cognitivas. Acrescen- preocupações e interesses da Educa-
tando-se a estes conhecimentos os ção Física está no movimento huma-
resultados de estudos em Performan- no. Neste sentido, é preciso enfatizar
ce Humana e Aprendizagem Motora, a necessidade de a Educação Física
que destacam a participação dos · as- modificar a c~mpreensão restrita de
pectos cognitivos em qualquer ação outrora, passando a analisar o signi-
motora, no sentido de que o desen- ficado do movimento na relação dinâ-
volvimento da cognição" ·possibilita mica entre o ser humano e o meio
uma melhor programação e controle
ambiente. 11 preciso investigar os
dos movimentos, estabelece-se um
1;rincípios básicos. de organiz~ç~o do
círculo evolutivo, mostrado na figura
movimento em diferentes n1ve1s de
1.3., onde o movimento desenvolve a
sensação, c1 sensação a percepção, a análise, desde o bioquímico, n,eurofi-
percepção a cognição, a cognição o siológico e comportamental, ate o so-
movimento, o movimento a sensação, cia!,._.pjüa se J er a compreens~;1ª~~
áctequada possível do mov1me t h -
repetindo-se . assim todo um processo
que evolui de uma forma contínua. mano. E pred sofãmbém que a Eêtü-
Em resumo, os movimentos são de 1 caçãoF ísica estude o real sig~ificado
fundamental importância para a vida do movimento dentro do. ciclo de
do ser humano em seus diferentes 'd do ser humano, considerando-o
v1 a .b .
aspectos. Onde existe vida, existe como u m f ator que contn
. u1 para
movimento; e vida é impossível sem uma crescente ordem no ~•stem~. e ~a
movimento. sua interação com o me10 am ten e.

13

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