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-Acelera o tráfego imobiliário, uma vez que faculta informações rápidas e fidedignas
sobre a situação jurídica dos imóveis;
-Facilita a vida dos tribunais e o andamento dos processos: mercê de presunções que
origina, um certificado de registro dispensa uma atividade probatória que, de outro modo,
seria imensa;
Este preceito de utilidade discutível, apresenta-se hoje redutor, devendo ser tomado como
norma de enquadramento.
-De base real: Esta primeira técnica parte do prédio (este é descrito e, de seguida,
inscrevem-se os factos a ele relativos, dos quais resultam os direitos das pessoas sobre eles).
-De base pessoal: Esta segunda técnica arranca das pessoas (na base do nome destas,
anotam-se os factos pertinentes).
A descrição do prédio visa identificação física, económica e fiscal dos prédios (art.79\1 CRP).
De cada prédio é feita uma descrição distinta (art.79\2). Esta embora na base do registro,
ocorre na dependência de uma inscrição ou averbamento (art.80\1); mercê do princípio da
instância e das regras sobre a legitimidade, não se pode descrever um prédio ad nutum, sem
lhe associar a inscrição de um facto. Pode haver descrições subordinadas (art.81\1): No caso
da constituição de propriedade horizontal ou do direito de habitação periódica, além da
descrição genérica do prédio ou do empreendimento turístico, é feita uma descrição distinta
para cada fração autónoma ou unidade de alojamento ou apartamento. Vamos reter os
artigos 82 e 83:
Após a descrição dos prédios, seguem-se as inscrições. Estas segundo o artigo 91\1: “Visam
definir a situação jurídica dos prédios, mediante extratos dos factos a eles referentes”.
O registro prova-se por certidão (art.1110\1), a qual pode ser disponibilizada em suporte
eletrónico (art.110\3) ou internet (art.110\4).
Os factos sujeitos a registro
O âmbito do registro é dado pelo universo dos factos a ele sujeitos. Em princípio, a técnica
tabular leva a que se inscrevam factos e não direitos. Estes deduzir-se-ão dos factos que os
constituam, os modifiquem, ou os extingam. O artigo 2 enumera os factos sujeitos a registro e
o artigo 3 as ações judiciais.
e) A mera posse;
c) As decisões finais das acções referidas nas alíneas anteriores, logo que transitem em
julgado.
No limite do juridicamente possível, todas as ações que tenha implicações reais devem ser
registradas. Tem-se pretendido afastar do registro os factos cuja oponibilidade não dependa
de inscrição: os elencados no artigo 5\2: aquisição, servidões aparentes, bens indeterminados.
Quanto muito, poder-se-ia inferir que essas situações não são sujeitas a registro obrigatório,
em termos a compaginar com o artigo 8\1 A.
A ação pauliana permite nos termos do artigo 610 a 612 CC, ao credor, impugnar os atos os
atos do devedor que envolvam a diminuição da garantia patrimonial do crédito e não sejam de
natureza pessoal.
Contra o registro da pauliana, argumenta-se com o silêncio do artigo 3\1 do registro predial, a
que alinharia, na versão original, a lista das ações sujeitas a registro, em termos de tipicidade
taxativa. Além disso, acenava-se com a natureza pessoa da ação pauliana.
Este problema foi resolvido pelo DL 116\2008: A pauliana, quando objeto de ação, sujeita-se a
registro.
A necessária segurança obtém-se a jusante: sujeitam-se os registro os factos com eficácia real
ou que, com coisas corpóreas, tenham diretamente a ver. Apenas se admitem dispensas legais:
tal o caso do arrendamento de duração inferior a 6 anos, mercê de uma leitura a contrário do
artigo 2\1 m)
Princípios do registro
O registro predial, assegurado por serviços públicos competentes, transcende, nos seus
diversos aspetos e implicações, aquilo que, por regra, se tem na conta de mero interesse
privado. Não obstante, o seu funcionamento é deixado, normalmente, na dependência de uma
iniciativa particular. Isto é: a prática dos atos de registro ocorre quando as conservatórias
sejam instadas a fazê-lo: é o princípio da instância.
O princípio da instância traduz uma simbiose de relevo entre o denominado interesse público
e privado: fala-se mesmo em administração privada de interesses públicos.
O princípio da instância deve ser compaginado com o dever que pende sobre o conservador de
suprir, sempre que possível, as deficiências de procedimento (art.73). Não sendo possível, ele
deverá dar, ao interessado as devidas indicações. A este propósito fala-se de um dever de
acessoria dos interessados. Os casos de registro oficioso podem ser externos, quando impostos
por leis extravagantes ou internos, quando derivem do próprio código (art.92\7, 8 e 10, 97\1,
98\3, 101\4 e 5, 148\4 e 149. Em qualquer caso, o registro deve servir o público.
-As descrições são feitas na dependência de uma inscrição (art.80\1) de outro modo
seriam oficiosas ou seriam falhas de legitimidade (art.36\1);
O recorte da legalidade deve ser aferido deve ser aferido pelos casos de recusa do registro. A
recusa do artigo 69, na redação do DL 116\2008 dispõe:
a)(Revogada)
b)Quando for manifesto que o facto não está titulado nos documentos
apresentados;
e)Quando o registro já tiver sido lavrado como provisórios por dúvidas e estas
não se mostrem removidas.
f)(Revogada).
2-Além dos casos previstos no número anterior, o registro pode ser recusado se, por
falta de elementos ou pela natureza do ato, não poder ser feito como provisório por dúvidas.
3-No caso de recusa, é anotado na ficha o ato recusado a seguir ao número, data e
hora da respetiva apresentação.
O registro predial visa dar publicidade às situações jurídicas dos prédios, como está no artigo
1. Em princípio, fá-lo de modo indireto: publicita, através de instrumentos de inscrição, os
atos que, tendo eficácia real, ditam a configuração concreta das situações aludidas. Muitas
vezes, os atos visados têm natureza contratual, isto é, implicam a manifestação de vontade de
dois ou mais intervenientes. A necessidade de confirmação do panorama tabular com as
vicissitudes jurídicas dos prédios dita a lógica do trato sucessivo: o registro do ato só é
possível quando o disponente surja, em face do registro, como titular da situação em causa:
o registro apresentará assim uma sucessão de atos ligados pelos intervenientes.
A publicidade assegurada pelo registro predial não visa escopos de mero conhecimento,
dentro do espaço jurídico: ela repercute-se no nível substantivo das situações jurídicas em
jogo. Os reflexos materiais do registro implicam, pela sua própria existência, a definição prévia
das quais as situações dotadas, efetivamente da publicidade tabular.
A obrigatoriedade de registro veio a ser estabelecida pelo DL 116\2008. Este decreto aditou
ao código, os artigos 8-A, 8-B, 8-C e 8-D. Assim:
-É obrigatório o registro dos factos referidos no artigo 2, com exceções ligeiras e o das
ações, salvo a pauliana e outro procedimento (art.8-A);
-Os sujeitos da obrigação de registrar são: a)as entidades que intervenham como
sujeitos ativos; (b)as entidades que celebrem a escritura pública, autentiquem os documentos
ou reconheçam assinaturas; c)as instituições de crédito e as sociedades financeiras que
intervenham como sujeitos ativos; d)as entidades públicas que intervenham como sujeitos
passivos; e)quando to, a instituições de crédito e sociedades financeiras; f)as demais entidades
que sejam sujeitos ativos (Art.8-B\1);
Na base da eficácia substantiva ou civil do registro predial está a fé pública: a confiança que o
público em geral deposita nas informações do registro.
Por seu turno, a confiança suscitada pelo registro e a boa fé subjetiva daí resultantes têm
limites.
-Presuntivo;
-Aquisitivo (pela sua importância diz que vai reservar rúbrica própria).
-Consolidativo;
-Enunciativo
Os artigos 349 e 350, sobre as presunções permitem concluir que, quem tenha a seu favor um
registro determinado, escusa de provar: que existe o direito; que é titular dele; que ele tem a
configuração dada pelo registro.
Quem assim não o entenda terá de provar a inexatidão do registro (artigo 350\2).
A prova capaz de destruir o efeito presuntivo do registro pode advir de um de dois fatores:
-Ou da demonstração de o registro em causa ser inexistente ou nulo, por alguma das
causas nos artigos 14 e 16;
A primeira regra advém do artigo 1268\1 CC. A segunda é menos firme, embora a
jurisprudência a aplique, sendo a opção mais pragmática que jurídica: não há meios que
assegurem elementos identificadores dos prédios, de modo a tornar fidedignas as descrições.
Quando, porém, os elementos descritivos tenham a ver com os direitos existentes,
condicionando-se ou sendo pressupostos da sua existência, a presunção vai ser até eles, sob
pena de esvaziar o registro (o que seria da propriedade horizontal se não se presumisse a
existência do edifício com o necessário número de frações autónomas?).
A inexistência do registro leva a que este não produza quaisquer efeitos, numa situação que
poderia ser invocada por qualquer pessoa a todo o tempo, e independentemente de
declaração judicial (art.15\1 e 2).
-A da nulidade, sempre que o registro seja falso ou seja lavrado com base em títulos
falsos, seja lavrado com base em títulos insuficientes para a prova legal do facto registrado,
esteja ferido de omissões ou inexatidões de que resulte incerteza acerca dos sujeitos ou da
situação a que se refira o registro em causa, seja assinado por pessoa sem competência
funcional, ou seja, efetuado sem apresentação prévia ou com violação do trato sucessivo
(art.16);
A nulidade, diferente da inexistência, só pode ser invocada depois de declarada por decisão
judicial com trânsito em julgado (art.17\1).
A pessoa que adquira um direito, de modo legítimo, pode exercer, salvo o caso de registro
constitutivo, no caso de hipoteca, independentemente de o inscrever.
O regime do encargo tabular (art.9\1), apenas impede a faculdade de alienação: não a atuação
do direitos, nos outros domínios.
O artigo 5\1, segundo a qual “os factos sujeitos a registro só produzem efeitos contra terceiros
depois da data do respetivo registro” não depõe em sentido contrário.
Com efeito, o adquirente legítimo de um direito, enquanto não registrar, pode opor o seu
direito:
-A terceiros estranhos, isto é, àqueles que não detenham qualquer título sobre a coisa;
-A terceiros que tenham registro a seu favor: basta que impugne, com êxito, esse
registro, nos termos do artigo 8.
Tudo visto, o adquirente legítimo só não pode opor o seu direito a quem tenha um aquisição
tabular.
O artigo 5\1, deve ser entendido no sentido de o titular não registrado não pode opor o seu
direito a quem tiver um registro incompatível e enquanto isso durar. No fundo, esse preseito
proclama a vulnerabilidade das posições não registradas às possíveis aquisições tabulares de
terceiros.
Assim: o verdadeiro titular de uma posição jurídica, quando registre fica protegido contra
aquisições tabulares de terceiros.
4-Efeito enunciativo
O artigo 5\1 procede a pré-enunciar um esquema da aquisição tabular. Mas tem outro papel:
permite que, no artigo 5\2, sob a capa formal de exceções à pretensa regra da
inoponibilidade a terceiros sujeitos a registro, mas não registrados, se introduzam casos de
insensibilidade à aquisição tabular.
São eles: O dos direitos adquiridos por usucapião, o das servidões aparentes e o dos direitos
relativos a bens indeterminados.
A usucapião importa um tipo de publicidade assegurado pela posse, tão forte que conduz a
constituição originária dos próprios diretos correspondentes ao seu exercício: pode operar
contra tabulas não se compreendendo, por maioria de razão, que pudesse ser atingida pelo
registro de terceiros. Também as servidões aparentes são fortemente publicitadas por
natureza. A ocorrência de factos relativos a bens indeterminados impede, em relação a este,
uma publicidade clara.
Nos casos de situações constituídas por usucapião e das servidões aparentes, o registro, não
sendo necessário para a consolidação do direito, isto é, para impedir, contra ele, possíveis
aquisições tabulares por terceiros, é possível. Quando efetuado, dá-se o efeito enunciativo do
registro, que assegura, ao beneficiário um suplemento de publicidade.
5-Efeito constitutivo
O caso da Hipoteca:
O artigo 9\1 (princípio da legitimação falado em ML), estabelece que os factos de que resulte transmissão de
direitos ou constituição de encargos sobre imóveis não podem ser titulados (registrados) sobre bens que não
estejam inscritos (registrados) a favor da pessoa que transmite o direito ou sobre a qual se constitua o encargo. A
legitimação reforça a proteção conferida pelo trato sucessivo, na medida em que veda que o próprio negócio seja
titulado, sem que se encontre comprovado o registro prévio do direito a favor do transmitente.
Excetua-se, em princípio, a hipoteca: esta só produz efeitos depois de registrada. Entende-se
que uma posição privada de quaisquer efeitos não existe, sendo que o registro da hipoteca
considera-se constitutivo, de acordo com o artigo 687 CC e 4\2 do código do registro predial
A regra de que a hipoteca surge apenas com o registro aplica-se às hipotecas legais (art.704):
na origem, elas apenas permitem ao beneficiária ou a quem para tanto, tenha legitimidade,
requerer a competente inscrição. Com ela, temos hipoteca.
Na hipoteca, a afirmação de que, antes do registro ela não produz efeitos, nem mesmo entre
as partes, coloca a inscrição como peça básica do próprio processo constitutivo. Sem ela, a
hipoteca não existe.
MC (Teoria dos deveres acessórios): Por certo que perante lei expressa, não há, interpartes,
uma relação contratual enquanto não surgir o registro. Todavia, é clara uma relação de
confiança de base legal. Assim, seja por via do vinculo que conduziu à hipoteca, seja através da
situação criada pelo negócio hipotecário, temos o seguinte:
Um segundo problema tem que ver com a constituição a non domino de hipoteca e com a
constituição, contra a hipoteca e a non domino, de um direito incompatível. A hipoteca a non
domino é nula. Todavia, pode suceder que alguém a inscreva, sem ter recebido, do dono, um
verdadeiro título:
-Assente num mútuo ou outro negócio, de modo que possa considerar-se oneroso;
Nessa eventualidade, o credor hipotecário adquiria o seu direito pelo registro, por via do artigo
17\2 do código do registro predial. Todavia, essa aquisição só operaria perante quem tivesse
adquirido o direito prejudicado pela hipoteca de um autor comum.
Essa singularidade leva a que nenhum hipoteca seja segura. Mesmo quando bem inscrita,
sempre pode demonstrar-se que o direito em cuja base ela foi registrada não tinha
fundamento, arrastando o registro prévio e, daí, o da própria hipoteca.
Os direitos reais de gozo ainda se consolidam pelo decurso do prazo, através da usucapião;
não os de garantia.
6-Inscrição de ações
Dispõe o artigo 3 do código das sociedades, refere que estão igualmente sujeitas a registro:
c) As decisões finais das acções referidas nas alíneas anteriores, logo que transitem em
julgado.
Nestas condições pensamos que uma ação deve ser sujeita a registro sempre que se torne
injusto impor a correspondente sentença a terceiros adquirente que não conhecem o pleito.
-A ação em que se peça o reconhecimento de que uma determinada parcela faz parte
de certo prédio;
-A ação de divisão de coisa comum não registrada, que não aproveita ao donatário
registrado, por este não ter proteção tabular;
2. Os direitos de terceiro não são, todavia, reconhecidos, se a acção for proposta e registada
dentro dos três anos posteriores à conclusão do negócio.
-direitos adquiridos sobre essas mesmas coisas, na base do negócio nulo ou anulado;
-Estando de boa-fé;
-E não sendo essa mesma ação proposta e registrada nos 3 anos posteriores à
conclusão do negócio.
Nessa eventualidade, o terceiro adquirente dispõe de uma posição que não é afetada pela
invalidação do negócio em cuja base adquiriu o seu direito. Repare-se que, num prisma de fé
pública, falta o requisito básico: o de o terceiro protegido ter adquirido o seu direito por
acreditar numa inscrição tabular. Com efeito, o artigo 291 não exige qualquer registro prévio.
O artigo 291 aplica-se aos casos de ineficácia em sentido estrito de negócios. A questão
coloca-se designadamente, no tocante a contratos praticados com violação de direitos de
preferência: pode o terceiro adquirente prevalecer-se do artigo 291 CC?
As razões que levam á tutela de terceiros (boa fé, investimento de confiança e inação das
partes interessadas) podem proceder tanto nas invalidades como nas ineficácias. Além disso,
tal tutela não tem nada de excecional: a letra da lei, por si só, não permitiria a exclusão. No
caso das preferências legais, todavia, o artigo 291 (tal como o 17\2 código registro predial) não
se aplica pela razão simples de elas não estarem sujeitas a registro. Consequentemente, não só
os preferentes não têm modo de as publicitar como os próprios terceiros adquirentes não têm
especial fundamento para clamar a ignorância da sua existência.
2-A aquisição tabular (art.17\2 código registro predial); direitos reais naturais
1 - A nulidade do registo só pode ser invocada depois de declarada por decisão judicial com
trânsito em julgado.
2 - A declaração de nulidade do registo não prejudica os direitos adquiridos a título oneroso por
terceiro de boa fé, se o registo dos correspondentes factos for anterior ao registo da acção de nulidade.
3 - A ação judicial de declaração de nulidade do registo pode ser interposta por qualquer
interessado e pelo Ministério Público, logo que tome conhecimento do vício.
-De boa fé: o beneficiário deve desconhecer, sem culpa, que o registro prévio era nulo
ou que estava sujeito a retificação;
Reunidos estes requisitos, o terceiro adquire o seu direito através do registro: é a aquisição
tabular.
Primeiro, deverá ser indemnizado por todos os que, com culpa, tenham dado azo à situação
danosa.
Agora, por exemplo: A, com base em títulos falsos, consegue um registro de um imóvel a seu
favor; vende-o a B, que está de boa fé e que registra a aquisição antes de Z, o verdadeiro
proprietário, inscrever uma ação de declaração de nulidade de registro de A. Perde Z a
propriedade?
1)e se B pedir ele próprio a anulação do negócio, revertendo o imóvel para A?
Parece mais elementar justiça que o direito legitimo de A recupere a sua plenitude. E
enquanto isso não sucede? O problema resolve-se admitindo uma “propriedade natural”, isto
é, um direito real que não pode ser judicialmente atuado mas que, em certas condições,
retoma a sua eficácia normal.
O artigo 291 CC permite proteger contra invalidações de negócios jurídicos que registrem
antes do registro de qualquer ação de impugnação. O artigo 17\2 do código do registro predial
tutela terceiros em face de nulidades do registro, também desde que registrem, antes da
inscrição de uma ação de declaração de nulidade. Mas ocorre um problema grave: o artigo
291 exige, ainda, um prazo de 3 anos, ao contrário do artigo 17\2, que dispensa uma
tranquilidade imediata. Como conciliar?
-O artigo 17\2 aplica-se sempre que exista um registro prévio, registro esse que, por
via de uma nulidade tabular, deva desaparecer;
-Havendo registro e invalidade substantiva, a inscrição deva ser retificada, nos termos
do artigo 122: opera uma tutela equivalente;
-Na falta de registro prévio, não há fé pública: apenas título oneroso e boa-fé; a
proteção é mais ténue, donde a exigência suplementar do prazo de 3 anos.
A media que, mercê da generalização do registro, hoje obrigatório, haja sempre “registros
prévios”, a fé pública domina. O artigo 291 CC apenas se aplicará quando o “direito” do
beneficiário corresponda à primeira inscrição do prédio em causa, perdendo,
progressivamente, qualquer utilidade.
Registro aquisitivo (Aquisição tabular)- Menezes leitão
Ora, como vimos, após a primeira disposição o alienante perde a legitimidade para tornar a
dispor do mesmo bem, a segunda disposição é nula, e não poderia permitir a aquisição da
propriedade. É assim o registro nessas condições que permite que a propriedade seja
adquirida pelo adquirente na segunda disposição, através da aquisição tabular.
Para a aquisição tabular prevista no artigo 5\1, a lei exige apenas uma dupla alienação ou
oneração e o prévio registro da segunda disposição. Por analogia com os restantes casos de
aquisição tabular, a doutrina exige, no entanto, que a segunda disposição seja realizada a
título oneroso e de boa fé, sem o que se entende que o direito do primeiro não poderá ser
posto em causa.
Está assim em causa uma situação de invalidade registal relativamente a uma inscrição
(art.16), a qual determinou, no entanto, que fosse realizado um ato de disposição, com base
no pseudo-direito a favor de terceiro, sub-adquirente em relação a essa inscrição.
No caso de exigir a boa fé do terceiro e a sua aquisição tiver ocorrido a título oneroso, o seu
direito como sub-adquirente não é posto em causa pela declaração de nulidade da prévia
inscrição, em virtude da necessidade de proteger aqueles que confiaram na validade do
registro. Ora, como é manifesto, a aquisição do sub-adquirente tinha sido efetuada a non-
domino, e era consequentemente inválida, temos aqui mais uma vez uma hipótese de
aquisição tabular, resultante do registro.
Assim, o direito sub-adquirente, que tenha registrado a sua aquisição antes da retificação ou
da pendência do respetivo processo, não vê o seu direito afetado pela posterior retificação da
prévia inscrição. Está se mais uma vez perante um caso de registro com eficácia aquisitiva de
direitos.
-Finalmente, nos termos do artigo 291, a invalidade do negócio jurídico que respeite
a bens imóveis ou móveis sujeitos a registro não prejudica os direitos adquiridos sobre os
mesmos bens ,a título oneroso, por terceiro de boa fé, que tenha registrado a sua aquisição,
antes do registro da ação de invalidade ou do acordo das partes sobre a mesma (art.291\1).
Os direitos do terceiro não são todavia reconhecidos, se a ação for proposta e registrada
dentro dos 3 anos posteriores à conclusão do negócio (art.291\3 CC).
Este caso já não se refere à invalidade registal, mas antes à invalidade substantiva. Nesta
situação, está em causa um conflito entre o transmitente no primeiro negócio inválido e um
subadquirente num segundo contrato, que vem a ser afetado em consequência da invalidade
do primeiro contrato.
É, no entanto, estranho que o terceiro seja neste caso menos protegido do que nos casos de
invalidade registal, uma vez que os seus direitos podem ser afetados se a ação de invalidade
for proposta e registrada no prazo de 3 anos após a celebração do negócio inválido.
OA: Procura resolver a questão aplicando analogicamente, por maioria de razão, o artigo
291\2 CC, a casos de invalidade registal, existindo assim igualmente um prazo de 3 anos neste
último caso, sustentando ainda que o artigo 291 tem como requisito implícito a prévia
existência de um registro desconforme.
MC: Entendem que a explicação do prazo de 3 anos reside no facto de o artigo 291 exigir a
prévia existência de um registro desconforme, pelo que merece menos proteção a confiança,
do terceiro em relação à regularidade da sua aquisição. Neste entendimento, o artigo 291 CC
não se aplicaria aos casos em que já existisse um registro desconforme a favor do adquirente
no negócio inválido, valendo antes nesta situação o previsto no artigo 17\2 CRP.
ML: Concorda com MC, uma vez que efetivamente, não se justifica aplicar o artigo 291 sempre
que se verifique a prévia existência de um registro desconforme, caso em que a situação
jurídica do terceiro merece proteção antes do prazo de 3 anos. Todos os casos de existência
de um prévio registro desconforme deverão ser antes regulados pelo artigo 17\2 CRP.
2-Posição do titular do direito real preterido pela aquisição tabular do terceiro
Tem sido objeto de bastante controvérsia em que situação fica o titular do direito real
preterido em virtude da aquisição tabular de terceiro:
-MC: Não se verifica a extinção do direito, mas uma mera inoponibilidade, uma vez que
quem registrou previamente beneficia de presunção iures et iure de titularidade do direito
enquanto subsistirem as condições de que ela depende. Em consequência, o o proprietário
poderia recuperar outra vez a coisa em caso de devolução, renúncia de terceiro ou
transmissão para adquirente de má fé.
-ML: A tese da sobrevivência do direito real preterido não nos parece aceitável. A
aquisição tabular atribui o direito real em termos definitivos ao adquirente com base no
registro, sendo em consequência extinto o direito rela anterior, por ser com ele incompatível.
Mesmo que o adquirente com base no registro optasse por devolver a coisa ao adquirente
substantivo, haveria aí um novo facto aquisitivo do direito, que não elidiria a extinção anterior.