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Caso Haya de la Torre (1951)

a. A decisão Haya de la Torre


Apos a recusa do tribunal internacional aos pedidos de esclarecimento sobre o julgamento asilo
de 1950, a Colômbia sustentou que, após o Julgamento do dia 20 de novembro de 1950, o
governo do Peru a abordou pedindo, pela primeira vez desde o início da controvérsia envolvendo
os dois países, a entrega imediata do refugiado, invocando como base o Julgamento citado.

Esse pedido do Peru, originou um novo caso (caso Haya de la torre) e um novo julgamento em
1951.

b. Obrigação de entrega do asilado


i. Argumentos (factuais e de direito) das partes

Esta parte trata da argumentação das partes do caso “Haya de la Torre”, sintetizando seus
principais argumentos fáticos e de ordem jurídica. Além disso, também serão expostas as
Submissões de cada Governo à Corte.

O Governo da Colômbia, após um estudo cuidadoso dos dois Julgamentos que já haviam sido
realizados, não encontrou neles qualquer razão para aceitar a demanda peruana. Pelo contrário,
encontrou nos Julgamentos declarações formais e repetidas de que a questão da entrega do
refugiado fora deixada de fora das submissões das Partes, e de que a Corte de modo algum a
decidira, nem o poderia tê-lo feito. Ainda, a Colômbia aponta que, no Julgamento de 20 de
novembro, a Corte declarou que a Convenção de Havana prevê apenas a entrega de acusados
de crimes comuns, sem quaisquer previsões para acusados de crimes políticos, e que o Governo
Peruano não havia provado que atos pelos quais o refugiado era acusado antes de 3 de janeiro
de 1949 constituíssem crimes comuns; na realidade, argumenta a Corte no julgamento de 20
de novembro, ele fora acusado de rebelião militar, e o Governo do Peru não estabelece tal
infração como crime comum, conforme prova o Código de Justiça Militar Peruano de 1939.
Assim, a Corte concluiu que o Governo Peruano não provara que o refugiado era acusado de
crimes comuns, e que não havia violação do Artigo I, parágrafo 2, da Convenção de Havana (que
postula que pessoas acusadas de ou condenadas por crimes comuns que se refugiam em
alguma legação deverão ser entregues a pedido do governo local).

Desse modo, o Governo colombiano considera que entregar o refugiado ao Peru seria não
apenas desconsiderar o Julgamento de 20 de novembro de 1950, mas também uma violação do
Artigo I, parágrafo 2, da Convenção de Havana.

Portanto, o Governo da Colômbia lançou à Corte as seguintes Submissões: Que


enunciasse de que maneira o Julgamento de 20 de novembro de 1950 deveria ser executado
pela Colômbia e Peru, e que julgasse e declarasse, ainda, que a Colômbia não estava obrigada,
na execução desse Julgamento, a entregar Haya de la Torre às autoridades Peruanas.
Caso a Corte não julgasse a Submissão anterior, que a Corte julgasse e declarasse, no exercício
da sua competência ordinária, que a Colômbia não está obrigada a acusar o politicamente
acusado Haya de la Torre às autoridades Peruanas.

Por sua vez, o Governo do Peru declarou que, observando o Julgamento de 20 de novembro de
1950, que determinou que a qualificação do crime atribuído à Haya de la Torre não pode ser feita
pela Colômbia de forma unilateral de modo a obrigar o Peru a aceitá-la, além de esclarecer que
o Peru não é obrigado a garantir um salvo-conduto permitindo que o refugiado deixe o país e
que a manutenção do asilo não está em conformidade com as provisões do Convenção de
Havana (Artigo 2, parágrafo 2), o asilo deve ser finalizado, e que o único meio para isso era a
entrega do refugiado às autoridades Peruanas. Então, o Governo do Peru enviou à Corte as
seguintes Submissões:

Primeira, que declare de que maneira o Julgamento de 20 de novembro de 1950 deve ser
executado pela Colômbia; segunda, que desconsidere as Submissões da Colômbia nas quais se
pede à Corte que declare somente que a Colômbia não é obrigada a entregar Haya de la Torre
às autoridades Peruanas; terceira, que, caso a Corte não julgue a primeira Submissão,
que julgue e declare que o asilo garantido à Haya de la Torre em 3 de janeiro de 1949, e mantido
desde aquela data, tendo sido julgado contrário ao Artigo 2, parágrafo 2, da Convenção de
Havana de 1928, deveria ter cessado imediatamente após o Julgamento de 20 de novembro de
1950, e deve cessar em qualquer caso de agora em diante, para que a justiça Peruana possa
voltar ao seu curso normal, que foi suspenso.

ii. Decisão do tribunal


O Julgamento do caso foi realizado em 13 de junho de 1951. O presidente da Corte era, então, o
Juiz Bandevant. No relativo à primeira submissão das partes, isto é, esclarecer e enunciar como
deveria ser executado o Julgamento do “Caso do Asilo”, isto é, de que forma o asilo deveria ser
finalizado (como decidira o Julgamento de 20 de novembro). A Corte observou que aquele
Julgamento não dera nenhuma direção às partes, e que elas desejavam que a Corte
fizesse uma escolha por um dos vários caminhos pelos quais se pode finalizar o asilo. Entretanto,
a Corte argumentou que não poderia dar efeito a essas Submissões, porque no tocante aos
meios para se finalizar um asilo, uma escolha entre eles não poderia ser baseada em
considerações legais, mas de praticidade e expediência política, e não é parte da função judicial
da Corte realizar tal escolha. Do mesmo modo, o Governo do Peru não havia demandado a
entrega do refugiado no “Caso do Asilo”, e por isso não se poderia deduzir do Julgamento de 20
de novembro de 1950 a obrigação ou não por parte da Colômbia de entregar Haya de la Torre.
Dessa forma, a Corte, por unanimidade, concluiu que não poderia dar efeito a elas e rejeitou a
Submissão principal do Governo da Colômbia e a primeira Submissão do Governo do Peru.

A Corte, na resolução dessas submissões, utilizou-se da Convenção de Havana, sublinhando que


ela não fornece uma resposta completa para a questão de como deverá ser extinto o asilo, pois,
segundo a Convenção, o asilo diplomático é uma medida provisória para a proteção
temporária de criminosos políticos, e não pode ser prolongada definitivamente.

De acordo com o Artigo 2, parágrafo 2, da Convenção, ele só pode ser garantido pelo período
de tempo estritamente indispensável para que o asilado garanta, de alguma outra forma, a sua
segurança.41Segundo a Convenção, o método para finalizar o asilo para criminosos políticos é o
de garantir a ele um salvo-conduto para a saída do país, mas só pode ser requisitado sob a
Convenção se o asilo for regularmente garantido e mantido, e se o Estado territorial
requerer que o refugiado seja mandado para fora do país. Para casos de asilos garantidos sob
condições que não sejam essas, não há nenhuma previsão quanto à extinção do asilo na
Convenção.42Analisando tal lacuna, a Corte interpretou que o silêncio da Convenção sobre esses
casos pretendia deixar o ajuste da consequência nessas situações às decisões dos Estados
envolvidos, inspiradas por considerações de conveniência ou de simples expediência
política. A Corte afirmou que não se pode deduzir da Convenção que exista uma obrigação de
entregar refugiados cujo asilo não cumpriu as condições acima prescritas, visto que isso
seria contrário à tradição de asilo da América Latina que animou a Convenção de Havana, e por
isso, não é justificada a visão de que, apenas porque há a obrigação de um Estado de extinguir
um asilo garantido de forma irregular a um criminoso político, se imponha a obrigação desse
Estado de entregar a pessoa a quem se garantiu o asilo. Além disso, a Corte argumentou que o
fato de que o Julgamento do “Caso do Asilo” houvera concluído que o asilo não pode obstruir a
operação da justiça local não implica que exista, simultaneamente, a obrigação de entrega,
especialmente porque, no mesmo Julgamento, o Governo do Peru não havia provado que os
atos pelos quais Haya de la Torre fora acusado constituíssem crimes comuns, e, portanto, o
refugiado, no relativo à questão da entrega, deve ser tratado como uma pessoa acusada de
ofensa política.

Desse modo, a Corte concluiu que o Governo da Colômbia não estava sob a obrigação de
entregar Haya de la Torre às autoridades Peruanas, por 13 votos a 1.

Finalmente, a Corte julgou a terceira submissão do Governo do Peru, que pede que a Corte julgue
e declare que o asilo garantido à Haya de la Torre deve cessar imediatamente após o Julgamento
do “Caso do Asilo”, de 20 de novembro de 1950, para que a justiça Peruana retornasse ao
seu curso normal (o Governo da Colômbia requisitou à Corte que rejeitasse a Submissão
do Peru).

O Julgamento de 20 de novembro de 1950 decidiu que o asilo garantido ao refugiado não fora
realizado em conformidade com o estipulado pela Convenção de Havana, o que implicaria na
obrigação do governo da Colômbia de extingui-lo, bem como no direito do governo do Peru de
pedir que asilo cessasse. Entretanto, o governo Peruano adiciona na Submissão que o asilo deve
cessar visando a volta ao curso normal da Justiça Peruana, pedido este que envolve,
indiretamente, a entrega do refugiado demanda que não pode ser aceita pela Corte, pelo já
discutido nas Submissões anteriores, e dessa forma, a Corte rejeita essa parte da Submissão,
concluindo, por unanimidade, apenas que o asilo deve cessar, mas que o Governo da Colômbia
não está sob obrigação de fazer isso através da entrega do refugiado às autoridades Peruanas.

A Corte sustentou que isso não é contraditório, porque a entrega não é o único meio de finalizar
um asilo, e as partes devem encontrar outro meio de solucionar a controvérsia, ao buscar guia
nas considerações de cortesia e boa-vizinhança que, nas questões de asilo, sempre estiveram
em lugar de destaque nas relações entre as repúblicas latino-americana

c. Considerações finais
O caso Haya de la Torre demonstra que muitas vezes perante a ausência de regulação, os estados
resolvem os seus conflitos de acordo com as regras de trato social, ou seja, regras que
incrementem a boa cooperação entre os estados.

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