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GUIA DE DESENVOLVIMENTO

DE ECOSSISTEMAS E

CENTROS DE
INOVAÇÃO
VERSÃO RESUMIDA

1
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GUIA DE DESENVOLVIMENTO
DE ECOSSISTEMAS E

CENTROS DE
INOVAÇÃO
VERSÃO RESUMIDA

EXPEDIENTE

Carlos Moisés da Silva


Governador

Daniela Reinehr
Vice-Governadora

Rogério Luiz Siqueira


Secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável

Ricardo Stodieck
Secretário Adjunto

Rafael Souza Meyer


Diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação

Autores
Iuana Réus Abella
Carlos Eduardo Lozano Leonel
Deborah Santos Congro Bastos
Guilherme Murara
Meirielle Tainara de Souza

Apoio
Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação
do Estado de Santa Catarina - FAPESC
Via Estação Conhecimento (Grupo de Pesquisa)
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
Equipe Via: Prof. Dra. Clarissa Stefani Teixeira,
Ágatha Cristine Depené, Lucas Novelino Abdala,
Christian Pozzobon, Dorzeli Trzeciak,
Maria Carolina Zanini, Rayse Kiane de Souza,
Vanessa Cardoso Eleutheriou.

3
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 1. POR QUE SC


PÁGINA 6 ESTÁ INVESTINDO
EM INOVAÇÃO
PÁGINA 8

2. A REDE
DE CENTROS
DE INOVAÇÃO
DE SC
PÁGINA 17

3. O QUE É
UM CENTRO
DE INOVAÇÃO
PÁGINA 18

4
6.
DESENVOLVENDO
CULTURA
DE INOVAÇÃO
PÁGINA 50
5. COMO
IMPLANTAR
UM CENTRO DE
INOVAÇÃO
PÁGINA 37

7. PLANO DE
OCUPAÇÃO
PÁGINA 58

4. FUNÇÕES DO
ECOSSISTEMA
E DO CENTRO
DE INOVAÇÃO
PÁGINA 30
8. GOVERNANÇA
E ASPECTOS
JURÍDICOS
PÁGINA 65

5
APRESENTAÇÃO
Esta é uma • Livro 1 VERSÃO

versão resumida Conceitos,


1.0

do Guia de Fundamentos
e Pacto pela
Desenvolvimento Inovação GUIA DE DESENVOLVIMENTO

de Ecossistemas
DE ECOSSISTEMAS E

CENTROS DE
e Centros de INOVAÇÃO
Inovação.
O Guia original
é formado por REDE CATARINENSE
DE CENTROS DE

3 volumes:
Secretaria do Desenvolvimento
Econômico Sustentável

LIVRO I
C O N C E I TO S , F U N D A M E N TO S & PAC TO P E L A I N OVAÇ ÃO

Centro_de_Inovacao_Livro1_A4_diagramacao_v5.indd 1 10/24/17 09:38

• Livro 2
Plano de Implantação

VERSÃO VERSÃO
1.0 1.0

GUIA DE DESENVOLVIMENTO GUIA DE DESENVOLVIMENTO


DE ECOSSISTEMAS E DE ECOSSISTEMAS E

CENTROS DE CENTROS DE
INOVAÇÃO INOVAÇÃO

LIVRO II • Livro 2 LIVRO II


1 1
PLANO DE IMPLANTAÇÃO ANEXOS

Anexos
Centro_de_Inovacao_ANEXOS_A4_diagramacao_v5.indd 1 10/24/17 10:30

6
O objetivo do Guia é demarcar o alinhamento Nossos principais desafios, convergentes com a
conceitual e orientar a implantação dos Centros missão dos Centros, são:
de Inovação de Santa Catarina. O Guia é resultado
de mais de dois anos de pesquisa, missões Primeiro: ativar e desenvolver o ecossistema de
técnicas, consultorias com especialistas, extenso inovação da região em que o Centro de Inovação
benchmarking nacional e internacional e interação está inserido;
com os agentes de inovação de todas as regiões
do estado. Segundo: construir um plano de ação para promover
a cultura do empreendedorismo, da criatividade e
Para a Secretaria de Estado do Desenvolvimento da inovação;
Econômico Sustentável este é um movimento sem
volta. É a semente de uma guinada do nosso estado, Terceiro: colocar em funcionamento uma sede
rumo à Nova Economia e a um estado ainda mais física e virtual que vai operar como um centro de
próspero e sustentável, com mais oportunidades treinamento avançado de empreendedores, um
para os catarinenses. celeiro para gerar e escalar negócios inovadores
e uma “porta de entrada única” para os serviços

Não se trata de um manual, mas de um portfólio dirigidos ao empreendedor, investidores, estudantes,

que oferece diversas rotas para que cada Centro, a professores e pesquisadores.

partir do nível de maturidade do seu ecossistema de


Muito mais importante que o hardware (o prédio)
inovação e das suas vocações, possa desenvolver
que construímos é o software que vai rodar nele. E
sua própria fórmula de operação. A proposta é que,
para programar os detalhes deste software, é preciso
a partir deste portfólio, cada região possa montar
chamar todos os agentes de inovação reconhecidos
seu modelo de gestão da forma mais customizada
na região, convidar líderes, empresários, investidores,
possível.
instituições de apoio, instituições de ensino,
estudantes, imprensa, influenciadores e comunidade
Este documento não trata apenas da gestão de
para iniciar um verdadeiro movimento pela
um prédio que ajuda empreendedores a criar
criatividade, empreendedorismo e inovação. Um
negócios, mas do desenvolvimento de uma
verdadeiro movimento pela transformação.
verdadeira cultura da inovação capaz de favorecer
a geração sistêmica de negócios inovadores com
alto potencial de crescimento e ampliar os níveis de
inovação nas empresas já estabelecidas.

7
1. POR QUE SC ESTÁ
INVESTINDO EM INOVAÇÃO?

As crises, ao longo da história, têm servido, entre Canalizar esses talentos para negócios e para
outras coisas, para deixar claro que precisamos transformar as estruturas disfuncionais significa
transformar certas estruturas. Os próprios governos criar uma nova geração de inovadores que pode
e os sistemas educacionais são modelos muito redirecionar o futuro de Santa Catarina. Esse foi
antigos esperando sua vez de serem revolucionados o papel dos pioneiros de outros tempos que
a favor das pessoas e do progresso. investiram em sonhos cujos frutos o Estado colhe
até hoje, duas ou três gerações mais tarde.
“Em um mundo em transformação,
o custo de ficar parado é muito São histórias como as de Atílio Fontana, fundador
alto” (Tapscott, 2012). da Sadia em Concórdia, ou de Saul Brandalise, da
Perdigão, em Videira. Também, os amigos Werner,
No Brasil, temos deixado para trás muitas Egon e Geraldo, que iniciaram a WEG em Jaraguá
oportunidades de promover as mudanças capazes do Sul; Maximiliano Gaidzinsky, fundador da Eliane
de colocar o sistema para jogar a favor das pessoas, em Criciúma; Cesar Gomes, da Portobelo em
de dar vazão aos nossos talentos naturais. A Tijucas, só para citar uns poucos exemplos.
criatividade, o espírito empreendedor, a habilidade
social, a inventividade, a solidariedade, a capacidade
de superação, a tolerância, a flexibilidade, a alegria e
a autenticidade são ativos preciosos de nosso povo
e podem perfeitamente serem canalizados para o
empreendedorismo e a inovação.

8
Estes pioneiros foram coprodutores de um Nosso leque de produtos para exportação e
estilo diferenciado de desenvolvimento, que nossa economia, de maneira geral, precisam
ficou internacionalmente conhecido como ser embebidos pelo pensamento e prática
“modelo catarinense de desenvolvimento”. inovadora, adicionados de maiores quantidades
Um sistema baseado em setores econômicos de conhecimento e valor. Para se ter uma ideia,
diversos, na força dos empreendedores locais, dos 10 produtos mais exportados pelo estado em
da pequena propriedade e pequenos negócios, 2015, seis são classificados como commodities
no cooperativismo, nas vocações locais, e todos os demais estão fora do espectro das
desconcentração da riqueza e da população, entre tecnologias de alta complexidade1 (MDIC, 2016),
outras coisas. dando um sinal importante de que nossa posição
no mercado global é bem menos vantajosa do que
No entanto, não são raros os estudos que denunciam poderia. Temos pela frente um longo caminho de
as fissuras que o modelo vem sofrendo há algumas esforços e investimentos a serem realizados, além
décadas e os riscos de que se enverede pelos da necessidade de uma profunda unificação das
caminhos do modelo concentrador, excludente e agendas do Desenvolvimento Econômico e da
contaminante praticado em muitas regiões do Brasil Ciência, Tecnologia, Inovação e setor educacional,
(VIEIRA, 2006; ANDION, 2007; RÉUS, 2012). só para citar alguns.

Além de um marcante fenômeno de litoralização,


concentração populacional nas cidades-polo,
decréscimo populacional contundente nas cidades
periféricas e grandes empresas sendo absorvidas, a
economia dá sinais de um desgaste que se explica
não apenas pelo cenário de crise e instabilidade
nacional, mas, também, pela necessidade de uma
guinada em nossa matriz econômica (RÉUS, 2012).

Uma guinada capaz de nos levar na direção da


maior eficiência e competitividade internacional,
da economia do conhecimento, da agregação
intensiva de tecnologia nos processos, produtos
e serviços e, finalmente, das inovações disruptivas.
Aquelas que mudam o rumo das coisas e geram
mais valor.

1 - Dados do MDIC apontam que os 10 produtos mais exportados por Santa Catarina em 2015 foram: frango, soja, tabaco não manufaturado,
motores e geradores elétricos, carne suína, blocos de cilindros e cabeçotes para motores a diesel, motocompressores herméticos, preparações
e conservas de carnes e miudezas, móveis de madeira, carnes e miudezas salgadas ou secas.

9
Motivado por este contexto de mudanças internas É fundamental que este espírito seja compartilha-
e externas, o Governo do Estado tem planejado e já do por todos: governo, empresas, universidades,
vem investindo em um conjunto de iniciativas para instituições de apoio, meios de comunicação e
elevar Santa Catarina no cenário internacional, posi- cidadãos. O holandês Fred Polak (1973)2, pioneiro
cionando nosso estado como uma economia mais em estudos futuristas no mundo, relaciona o desen-
moderna, eficiente e inovadora. volvimento (ou não...) das culturas com sua visão
de futuro. Seus estudos mostram que as imagens
O foco dos esforços está na valorização das quali- de futuro compartilhadas pelas pessoas funcionam
dades naturais e insumos nos quais Santa Catarina como um barômetro, indicando o potencial de as-
se destaca, como potencial humano (educação/ censão ou de queda de uma cultura. A história mos-
formação), recursos naturais e situação geográfica. tra que a visão de futuro compartilhada tende a ser
As ferramentas à nossa disposição, como a gestão muito parecida com o futuro manifestado.
do conhecimento, a colaboração intersetorial e o
compartilhamento farão o papel de facilitadores Assim, encorajamos todos os cidadãos, empresas
deste processo. e organizações catarinenses a direcionarem seus
esforços para consolidar esta visão de Santa Cata-
Perseguiremos um modelo de desenvolvimento rina: um estado empreendedor e altamente ino-
sustentável, regionalmente equilibrado e intensi- vador. Além de forte, dinâmico, diversificado, justo
vo em conhecimento. Apostaremos que as políti- e sustentável. Um estado preparado para viver o
cas a favor da Ciência, Tecnologia, Inovação, Edu- melhor do século XXI.
cação e Empreendedorismo serão a chave desta
conquista. 2 - Autor da obra “The image of the future”.

10
1.1 INOVAÇÃO COMO POLÍTICA sustentável – para financiar as políticas sociais –

DE DESENVOLVIMENTO para promover igualdade social – para criar bem-


-estar e felicidade a todos.
Tanto o crescimento quanto a produtividade – de-
safios fundamentais do Brasil – vinculam-se com No limite, a inovação pode ser entendida como
inovação e ganhos de eficiência sistêmicos. Em a grande política social de um governo ou como
muitos países desenvolvidos esses atributos já re- o caminho para se chegar a ela. Inovação é o
presentavam três quartos dos ganhos de produtivi- comando para manter economias em ascensão
dade na última década (OCDE, 2014). e, desta forma, expandir sua capacidade real de
criar igualdade de oportunidades por meio de
O Banco Mundial, em seu estudo El empreendi- políticas sociais emancipatórias.
mento en América Latina – muchas empresas y
poca innovación3, de 2014, sustenta que o desafio Além disso, sistemas favoráveis à inovação em-

da produtividade é urgente, precisamente, porque poderam pessoas! Pessoas empoderadas fazem

o progresso social tem estado vinculado ao cresci- seu país progredir! Um jovem empreendedor

mento. Mas, aqueles indicadores sociais que avan- que recebe apoio para transformar uma ideia em

çaram estarão em risco no Brasil e América Latina, negócio, por exemplo, está sendo encorajado a

uma vez que o crescimento se mantenha baixo por desenvolver seu potencial e, ainda, inspirar ou-

tempo demasiado (BANCO MUNDIAL, 2014). tros ao seu redor.

No mesmo estudo, o aumento da produtividade Os investimentos e os esforços para pesquisa,


dos países é destacado como o principal fator para desenvolvimento e inovação no Brasil, no entan-
geração de crescimento econômico. A inovação, to, têm indicadores pouco animadores. Para se
por sua vez, é o principal fator para gerar ganhos ter uma ideia, o já referido estudo do Banco Mun-
de produtividade. dial sobre a América Latina, além de diagnosticar
baixo índice de empresas que inovam, revela que
Assim, temos um caminho que vai ficando cada vez até mesmo as multinacionais acabam investindo
mais claro: investir em conhecimento – para gerar pouco em inovação em suas filiais brasileiras e la-
inovações – para gerar crescimento econômico tino-americanas. Ao disputarem o mercado com
empresas locais não-inovadoras, acabam seguin-
Fig. 1: O ciclo virtuoso do esse caminho, diferentemente do que fazem
da inovação Conhecimento
em suas plantas pelo mundo.

Inovação
O CICLO VIRTUOSO DA
Políticas Sociais
e Desenvolvimento INOVAÇÃO

Ganhos em
arrecadação, Ganhos de
trabalho e renda Produtividade
3 - O empreendimento na América Latina:
Fonte: Os autores (2016). muitas empresas, pouca inovação.

11
Em 2014, a revista The Economist publicou uma Fig. 2: O sono brasileiro de 50 anos

matéria na coluna de economia brasileira deno-


minada o “O Sono de 50 anos”4. As dramáticas
conclusões da matéria decorrem da análise de
dados sobre produtividade brasileira da organi-
zação internacional The Conference Board. Con-
forme mostra a figura a seguir, afora um breve
salto entre as décadas de 1970 e 1980, o índice de
produtividade no Brasil permaneceu estagnado
ao longo de toda a metade do último século, em
contraste com a maior parte dos outros países
emergentes (em desenvolvimento). A produtivi-
dade total (que mede a eficiência com que ca-
pital e trabalho são usados) é mais baixa do que
em 1960. Somos mais improdutivos hoje do que
fomos na década de 1960. Fonte: The Economist (2014)

não tem melhorado e os estudantes brasileiros


Ainda, a produtividade do trabalho representou continuam aparecendo com os piores resultados
apenas 40% do crescimento de nosso PIB entre nos testes internacionais.
1999 e 2012. Na China, isso representou 91% e na
Índia, 67%, conforme aponta a revista The Eco- A inovação e o empreendedorismo, companhei-
nomist baseada em relatório da Mckinsey&Com- ros inseparáveis, são os temas centrais das estra-
pany – Global Management Consulting. tégias dos países desenvolvidos no pós-crise5.
Também são a chave das principais conclusões
As razões encontradas para estas décadas de da Cúpula do G20 de 2016, na China. “A inova-
estagnação incluem, segundo The Conference ção deve garantir um novo caminho para a paz
Board (2014): e a prosperidade, já que não vale mais confiar só
nas medidas fiscais e monetárias [...] a experiên-
• Baixo investimento em infraestrutura. O Brasil cia ensina que isso já não funciona”, afirmou, em
investe apenas 2,2% do seu PIB no setor, enquan- declarações, o presidente chinês (EXAME, 2016).
to a média dos países desenvolvidos fica em 5,1%; A cúpula dos líderes das principais economias
• Baixo investimento em ciência, tecnologia e desenvolvidas e emergentes concordaram neste
inovação, revelado pelo baixíssimo número de encontro em dar mais peso à ciência, à tecnolo-
patentes registradas nos Estados Unidos, 274 re- gia e à economia digital como forma de reacen-
gistros brasileiros entre 278.000 patentes do mun- der o motor do crescimento.
do inteiro;
• A má qualidade dos gastos com educação. Em- A inovação e o empreendedorismo são, ainda, a
bora o país tenha alcançado gastos em educação principal aposta de muitos especialistas e lideran-
comparáveis aos países desenvolvidos em per- ças globais para a solução dos nossos maiores
centual de PIB investido, a qualidade do ensino desafios, como a redução da fome e da pobreza,

4 - Disponível em: http://www.economist.com/news/americas/21600983-brazilian-workers-are-gloriously-unproductive-economy-grow-they-must-snap-out.


5 - Referência à crise econômica de americana de 2007, que se tornou crise global em 2008. 6 - Research and Innovation Strategies for Smart Specialization.

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o acesso à água potável, as mudanças climáticas, educação superior do mundo (WORLD ECONOMIC
o envelhecimento da população (e suas decor- FORUM, 2015).
rências como a previdência social e a saúde pú-
blica) e a concentração urbana. O investimento e o planejamento para a inovação
também deram a linha da revolução que tornou
Por fim, também são a esperança no desabro- Israel conhecida como a “Startup Nation”7.
char de modelos de desenvolvimento mais sus-
tentáveis e inclusivos, já que o conhecimento, a O despertar do
tecnologia e a inovação representam o principal seu potencial ino-
caminho para a geração das soluções disruptivas, vador e empreen-
baratas e escaláveis de que precisamos para re- dedor é a principal
solver nossos problemas comuns. explicação sobre
como um país com menos de seis décadas de
A Comissão Europeia apresentou a sua Política existência, com apenas 7,6 milhões de habitantes,
de Pesquisa e Inovação para Especialização Inte- quase sem recursos naturais, clima hostil e marca-
ligente6, chamada de RIS3, como medida central do pela guerra desde a sua fundação, gera mais
de retomada do crescimento em resposta à crise startups do que países como a China, a Índia, o
de 2008. A União Europeia encoraja seus países a Japão ou o Reino Unido. Ou de que modo passou
direcionarem seus esforços e recursos para a es- a ter mais companhias listadas na bolsa Nasdaq do
pecialização, segundo suas vocações, trazendo
que toda a Europa, Japão, Índia, China, Coreia do
pesquisa e inovação para construir diferencial e Sul e Singapura somados (SINGER; SENOR, 2011).
competitividade junto aos mercados globais.
Em uma referência mais próxima do Brasil, a ci-
dade de Medellín, na Colômbia, também arqui-
A partir da década de 1980 a inovação, somada
tetou sua própria revolução depois de tornar-se
aos fortes investimentos no sistema educacional,
conhecida internacionalmente como o epicentro
tornou-se a reconhecida receita de sucesso de
do tráfico de drogas do continente americano. A
países asiáticos pouquíssimo beneficiados pelas
cidade transformou completamente sua história a
condições naturais, como Japão, Coreia do Sul,
partir de um plano ousado construído colaborati-
Malásia, Hong Kong, Singapura, etc.
vamente, onde a inovação e a educação tomaram

Com exceção do Japão, nenhum dos países pos- o lugar de todas as velhas prioridades.
suía relevância no cenário global 50 anos atrás e,
hoje, são referências mundiais em distintas áreas Em consonância com os governos nacional e
tecnológicas, assim como sustentam altos níveis estadual, Medellín tomou uma decisão e direcio-
de qualidade de vida. A pequena Singapura, que nou seus esforços e recursos para um projeto de
não possui nem mesmo fonte de água própria, transformação social e econômica, onde a inova-
ostenta, há cinco anos, a segunda colocação em ção desempenhou um papel-chave que lhe con-
consistência de desempenho (no Global Competi- feriu o título de cidade mais inovadora do mundo
tiveness Index) entre todas as economias do mundo, em 2013 e 20148. A importância do título é sobre-
tendo nota máxima em 10 dos 12 pilares de competi- pujada na medida em que substitui um outro bem
tividade global, além do melhor sistema de training e mais amargo. Desde a década de 1990, Medellín era

7 - Referência ao livro “Nação Empreendedora: o milagre econômico de Israel e o que ele nos ensina” (do original “Startup Nation: the history of Israel’s
economic miracle” (SINGER; SENOR, 2011). 8 - Medellín foi nomeada como cidade mais inovadora do mundo na competição organizada pela organização
não-governamental Urban Land Institute em uma lista que inclui mais de 200 cidades. Saiba mais em: http://www.medellinnovation.org/

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considerada a cidade mais violenta do mundo, com Onde começa a inovação?
estatísticas criminais comparáveis a de territórios em
guerra . Na promoção, gestão e aplicação do conhecimen-
to.

Decisão + Colaboração + Inovação: e Medellín foi


A matéria-prima da inovação é o conhecimento,
de cidade mais violenta a mais inovadora do mun-
sobretudo os novos conhecimentos gerados a par-
do em uma década.
tir da pesquisa básica ou aplicada, que são, por sua
vez, resultado de sistemas educacionais e de Ciên-
Notadamente, a inovação é a nova corrida global
cia, Tecnologia e Inovação (CT&I) fortes.
e parece ser o principal caminho para darmos
conta dos imensos desafios paralelos e multisse-
Assim, para criar riqueza e desenvolvimento, nossa
toriais que enfrentamos no Brasil.
primeira preocupação deve ser gerar e gerir conhe-
cimento. Estarão à frente governos, empresas e terri-
tórios que fizerem melhor uso do seu conhecimento
A batalha pela produtividade e do conhecimento disponível no mundo. Quem
Para o Banco Mundial, a luta por sistemas mais pro- melhor criar, adquirir, disseminar ou proteger (nos ca-
dutivos consiste em estabelecer um entorno pro- sos de propriedade intelectual estratégica) dados e
pício em que os empreendedores possam surgir,
informações que se convertam em inovação vai lide-
competir e inovar. Trata-se de construir uma nova
classe empreendedora e inovadora comparável rar o seu campo.
a de outros lugares do mundo. Os principais ele-
mentos para o desabrochar desta classe são: Como vai o Brasil
com a Inovação?
• Geração de capital humano: elevar a qualidade
da educação, reduzir o déficit histórico de enge-
Não obstante, os dados sobre gestão do conheci-
nheiros que remonta ao Século XX (tanto para o
Brasil como para a América Latina), além de uma mento e investimento em inovação no Brasil ainda
educação que privilegie os temas da inovação e contam uma história triste. Nosso relacionamento
empreendedorismo nas escolas e universidades; com o café, por exemplo, traz uma narrativa elu-
• Melhoria de logística e infraestrutura;
cidativa de como o “sono brasileiro”, em termos
• Aumento da concorrência
(não ao protecionismo); de produtividade, no último meio século tem nos
• Melhora do ambiente contratual: clareza e fiabi- mantido em uma posição desfavorável no cenário
lidade nos processos judiciais, regras contábeis,
global.
regulações e políticas que afetam o setor. A ino-
vação não vai prosperar em locais sem proteção
contratual adequada. Inovação é investimento
e risco. Os direitos de propriedade intelectual
são fundamentais no retorno que os
empreendedores podem obter
sobre seu investimento.
Sem isso, não há estímulo
para inovação.
Fonte: Banco Mundial (2014).

14
Segundo produto mais comercializado do mundo Oppenheimer (2014) explica que quando se
(só perdendo para o petróleo) e item tão simbólico vende um copo de café a US$ 3,00 nos Estados
na história econômica brasileira, o café já nos abriu Unidos, apenas 3% deste valor fica com o pro-
muitas portas ao redor do mundo. Mas, poucas ve- dutor que cultivou o café no Brasil, Colômbia,
zes, o utilizamos como mais do que um grão ven- Costa Rica, Vietnã, etc. Os 97% restantes ficam
dido in natura com quase nada de valor agregado. com os responsáveis pela engenharia genética
do grão, processamento, venda, design, distri-
Durante décadas o café foi o produto mais exporta- buição, publicidade e outras tarefas que fazem
do e o maior gerador de riqueza para o país. Com parte da economia do conhecimento, como
seus dólares demos início à industrialização nacio- ilustrado na figura a seguir.
nal. Exportávamos o café e importávamos maqui-
nário. Comentando esses dados de acentuação do declínio
relativo das matérias-primas em relação aos produtos

Desde o início do século XX o Brasil segue como com alto valor agregado em uma palestra, o autor

maior produtor de grãos de café do mundo. Em conta em seu livro como foi surpreendido:

2014, produzimos 2.720.520.000 quilos (INTERNATIO-


Estava na plateia o maior produtor de café de
NAL COFFEE ORGANIZATION, 2016).
El Salvador, que se aproximou de mim e disse:
“Você está errado. O percentual que fica para
Mas, apesar deste século de liderança na produção
o produtor não é de 3%. A cifra real está mais
do grão, que é a base da 3a bebida mais consumida
perto de 1%” (OPPENHEIMER, 2014).
no mundo (atrás somente da água e do chá), vere-
mos que outros países têm gerado muito mais valor e A tendência de declínio relativo das matérias-primas
desenvolvimento para seu povo pela cadeia cafeeira só tem se acelerado nos últimos anos: os países que
do que o Brasil. agregaram valor ao café - produzindo sabores exclu-
sivos, cafés medicinais, doces de café, licores, máqui-
O que explica este contrassenso? nas de café com cartuchos ou cadeias de distribuição
e venda no exterior – têm se beneficiado enorme-
Sistemas que favorecem a pesquisa, a ciência, mente. Os que seguem vendendo somente a maté-
a tecnologia e, naturalmente, a inovação, muito ria-prima têm ficado cada vez mais para trás.
mais do que nós.

• O filtro de café foi inventado pelo francês Louis-Bernanrd Rabaud.


• O café solúvel foi inventado pelo cientista japonês Satori Kato.
• A máquina de café expresso foi inventada pelo italiano Aquiles Gaggia, com base em experimentos anteriores.
• Outro italiano, Attilio Calimani, inventou a cafeteira hoje conhecida como French Press.
• O alemão Ludwing Roselius inventou o café descafeínado.
• A maior rede de cafeterias do mundo, a Starbucks, foi fundada em Seattle (EUA)
e possui mais de 20 mil lojas em todo o mundo.
• E o Brasil? Qual nossa inovação dentro da cadeia para a qual
somos o primeiro fornecedor mundial de matéria-prima?
Fonte: International Coffee Organization (2016).

15
PARA ONDE VÃO AS RECEITAS?
Fig. 3: O Café na Economia do Conhecimento

Fonte: Os autores (2016).

As máquinas de café expresso individual e suas cáp- cem vezes menos do que o valor de venda do café
sulas são outro exemplo emblemático nesta cadeia. A Nespresso (INTERNATIONAL COFFEE ORGANIZATION,
Nespresso, marca do grupo Nestlé, é a líder do seg- 2016).
mento. Entre 2000 e 2010 vendeu mais de 20 bilhões
de cápsulas de café, cada uma com 5 gramas (EL PAÍS, Ou seja, uma única linha de produtos da Nestlé, ape-
2010). Com cada cápsula vendida a uma média de R$ nas a Nespresso (máquinas e cápsulas), gerou quase
9,
1,50 nota-se que o quilo de café vendido pela Nes- a mesma receita que o maior país produtor e expor-
presso girava em torno de R$ 300,00. Já os produtores tador de café do mundo nos últimos 10 anos, que, ca-
brasileiros produziram e venderam, no mesmo perío- sualmente, é o Brasil. Se fosse possível uma analogia
do, 20 bilhões de quilos de café in natura. O valor mé- com o futebol, esse seria um placar bem pior que 7x1.
dio de comercialização ficou em R$ 3,00 o quilo. São

[...] é hora de a América Latina entrar em cheio na era da economia do conhecimento e entender que o grande dilema do século XXI
não será “socialismo ou morte”, nem “capitalismo ou socialismo”, nem “Estado ou Mercado”, mas algo muito menos ideológico: “inovar
ou ficar para trás”. Ou, em termos mais dramáticos: “criar ou morrer” OPPENHEIMER (2014, p. 313).

9 - Valor médio referente ao segundo semestre de 2015.

16
2. A REDE DE CENTROS DE
INOVAÇÃO DE SANTA CATARINA
Santa Catarina não vai esperar o futuro e as crises che- Desta forma, alguns Centros que seriam construídos
garem para, então, reagir. Estamos há alguns anos ou pelo Governo do Estado foram substituídos por par-
décadas liderando ou dando suporte para iniciativas cerias onde a iniciativa privada ou o poder público
voltadas à promoção do empreendedorismo inova- local assumiram a obra e a operação. Foi o caso da
dor em nosso estado. Porém, desde 2014, o Governo região de Joinville, na qual a iniciativa privada cons-
vem direcionando esforços para um projeto estrutu- truiu um Centro e o Governo do Estado entrou como
rante de construção ou implantação de Centros de parceiro e apoiador. Ou de Videira, onde a prefeitura
Inovação nas diferentes regiões do seu território: é a adaptou uma obra pública já em curso para receber
Rede de Centros de Inovação de Santa Catarina. um Centro de Inovação.

Na primeira fase, 13 cidades (e suas microrregiões) fo-


ram designadas segundo critérios técnicos ligados à Hoje, a Rede conta com 15 cidades que
maturidade do ecossistema de inovação para rece- estão operando ou finalizando a constru-
berem os prédios que iriam acomodar os Centros. A ção dos seus Centros. O mapa que segue
presença de elementos mínimos de um ecossistema, aponta a localização de cada Centro. Para
como universidades, pesquisadores e empresas ino-
acompanhar o status das obras e opera-
vadoras foram alguns dos critérios avaliados à época.
ção de cada Centro, você pode aces-

Em uma segunda fase, novos Centros, nascidos de


sar: www.centrosdeinovacao.sc.gov.br.
iniciativas do poder local, foram se juntando à Rede.

Fig 4: Cidades-sede dos Centros de Inovação


JOINVILLE

SÃO BENTO DO SUL

JARAGUÁ DO SUL
CAÇADOR

VIDEIRA BLUMENAU
CHAPECÓ ITAJAÍ

RIO DO SUL
JOAÇABA BRUSQUE

FLORIANÓPOLIS
LAGES

TUBARÃO

REDE CATARINENSE CRICIÚMA


DE CENTROS DE

INOVAÇÃO Fonte: Os autores (2016).

17
3. O QUE É UM
CENTRO DE INOVAÇÃO?
18
A Associação de Tecnologia e Centros de Incuba- O Centro pode ser visto como uma estrutura inter-
ção de Negócios da Alemanha (ADT) define um mediária entre uma incubadora de empresas e um
Centro de Inovação (CI) como um empreendimento parque tecnológico. Oferece um leque maior de
baseado em infraestrutura para estabelecimento e serviços e atividades do que uma incubadora e se
crescimento de empresas. Objetivos relacionados diferencia de um parque, sobretudo, por não fazer
incluem o desenvolvimento da região, cooperação gestão imobiliária de áreas para instalação de gran-
entre pesquisadores e indústria, fornecimento de in- des empresas. Seu tamanho e custo operacional
formações, treinamento técnico e gerencial e forta- também são intermediários.
lecimento do desenvolvimento econômico regional
através de uma rede de contatos regional e inter- No caso de Santa Catarina, os Centros de Inovação

nacional para troca de informações e cooperação estão sendo instalados em áreas estratégicas, onde

entre empresas (ACS; AUDRETSCH, 2010). as próprias regiões já possuem projetos para abrigar
parques ou distritos de inovação no curto ou médio
No contexto catarinense, o Centro de Inovação (CI) prazo. Assim, os Centros atuarão como os propulsores
é uma comunidade (física ou virtual) que promove dos ecossistemas regionais em formação ou consolida-
cultura inovadora e empreendedora, capacita pes- ção, acelerando seu amadurecimento.
soas para negócios e conecta agentes de inovação.
Na figura a seguir, podemos ter uma ideia do posi-
Além disso, acomoda empreendedores inovado- cionamento do centro de inovação dentro de um
res, profissionais liberais, startups e laboratórios conjunto ascendente de instituições de suporte à
de PD&I por tempos limitados. Em seu período de inovação.
passagem pelo Centro, o empreendedor recebe
assessoria para desenvolver, prototipar, produzir Alguns exemplos próximos do modelo de Centros
e comercializar seu produto, processo ou serviço de Inovação que serão implantados em Santa Cata-
com alto valor agregado. rina podem ser encontrados na Coreia de Sul, Reino
Unido, Espanha (Catalunha), Alemanha, entre outros.
O CI oferece espaço físico, infraestrutura tecnoló-
gica e um leque de serviços compartilhados para
o empreendedor a fim de qualificar, facilitar e ace-
lerar o desenvolvimento de negócios inovadores.

Fig. 5: O Centro de
Inovação no contexto
dos habitats de inovação

Fonte:
Via – estação conhecimento (2016).

19
MISSÃO DOS CENTROS DE

INOVAÇÃO

20
21
A Missão dos Centros de Inovação

Os Centros de Inovação estão sendo criados para promover inovação e em-


preendedorismo em suas regiões. Como apresentou-se na figura anterior, três
grandes pilares sustentam a missão que eles têm a cumprir:

• Ativar o ecossistema de inovação


• Criar cultura inovadora e empreendedora
• Gerar e escalar negócios inovadores

O maior desafio dos Centros e dos trabalhadores da inovação é ENCURTAR


DISTÂNCIAS entre:

Pessoas com ideias


Pessoas com talento (conhecimentos, habilidades, atitudes)
Pessoas com capital

Criando conexão, fluxo e, finalmente, inovação. Necessariamente nesta ordem.

Ativar o ecossistema de inovação

“Precisamos de pontes, não de muros.” (Papa Francisco, na comemoração


do 25° aniversário da queda do muro de Berlim)

Há uma triagem ampla de estudiosos da inovação que concordam no teor


das seguintes premissas:

A Inovação acontece no Fluxo (de ideias, talento, capital). Dificilmente


acontece em água parada. O Fluxo depende de Conexão (entre pessoas e
organizações). Conexão só existe com Confiança.

As barreiras sociais, políticas, culturais, emocionais ou institucionais que


mantêm pessoas e organizações distantes, são as armas que matam a ino-
vação. Ao separarem as pessoas com ideias de pessoas com talento e ca-
pital e vice-versa, essas barreiras elevam os custos de transação de todos
e deixam as oportunidades de inovação se esvaírem a cada dia (HWANG;
HOROWIT, 2012).

Para conectar pessoas e organizações é preciso derrubar essas barreiras e


construir territórios com altos níveis de confiança.

22
Os Centros de Inovação devem atuar como
força mobilizadora do ecossistema, motivan-
do, informando e conduzindo os atores para
colaborar, compartilhar e cocriar, assim como
deveria ser em um ecossistema saudável e vi-
brante.

A principal falha na projeção de habitats de


inovação ao redor do mundo é não considerar
que o mais importante é o fluxo, porque é ali
que a inovação ocorre, e que o fluxo só pode
surgir a partir de conexões (HWANG; HOROWIT,
2012). Os agentes do sistema precisam conver-
sar, precisam se conectar. O Centro será o lugar
para isso.

Um estudo do BID, que avalia os fracos resulta-


dos em termos de inovação dos parques tec-
nológicos da América Latina, constata:

A concentração de empresas com alto


componente de conhecimento em um
âmbito geográfico reduzido deve dar
lugar em teoria à aparição de fluxos de
cooperação tecnológica que, por sua
vez, contribuam para dinamizar o tecido
produtivo. No entanto, de acordo com
os especialistas consultados, na grande
maioria dos parques latino-americanos
estes fluxos são ou muito escassos ou
praticamente inexistentes (BID, 2013, p.
10).

23
Além disso, o Centro, como instituição de in- outras. São os nós da rede.
termediação – entre empresas, governos e uni-
versidades –, deverá operar como plataforma Como são necessárias muitas interações entre
para alinhar os interesses desses atores aos ob- indivíduos até que se juntem as pessoas certas,
jetivos de desenvolvimento da região (MIAM; com os recursos certos, na hora certa para a
HULSINK, 2015). inovação acontecer, ser um nó é muito eficaz
(em muitos casos, muito lucrativo): como você
Miam e Hulsink (2015) sustentam que é essen- conecta um monte de pontos, tem mais chan-
cial fortalecer o ecossistema, mais do que for- ces de fazer as conexões certeiras.
talecer as instituições individualmente. Se o Isso é o que se espera de nossos Centros de
ecossistema estiver vivo, as instituições natural- Inovação e seus operadores; que sejam as pe-
mente serão fortalecidas. A inovação acontece dras angulares dos seus ecossistemas, amplia-
no fluxo, por isso é mais importante investir na dores das fronteiras entre as pessoas e institui-
expansão do fluxo do que apenas nos stakehol- ções que estavam distanciadas e fechadas.
ders individualmente.
Como pedras angulares de seus ecossistemas
regionais, os Centros de Inovação, seguindo o
caminho de Hwang; Horowit (2012) devem:

• Facilitar o acesso e a conexão entre pessoas


com ideias, capital, conhecimento, etc, supe-
rando a hierarquia tradicional e penetrando
barreiras sociais;
• Liderar ações que aumentem a colaboração
entre indivíduos e organizações, de modo que
Keystone (Pedra Angular) é o nome dado por eles possam refinar seus trabalhos e criar novos
Hwang; Horowit (2012) a uma nova espécie projetos juntos;
identificada nos ecossistemas de inovação que • Ser um filtro para conexões de alta qualidade;
observaram ao redor do mundo. Na verdade, • Tornar-se um hub respeitado porque tem um
os keystones são uma descoberta científica papel muito importante;
dos biólogos. São espécies que interagem com • Validar e disseminar um comportamento cul-
tantas outras espécies e causam um impacto tural que conduz à inovação;
tão grande que sua ausência poderia significar • Intermediar relações e retirar-se quando elas
a queda do sistema. estiverem consolidadas, ir para a próxima 10.

Em ecossistemas de inovação, keystones são Confiança facilita Conexão.


pessoas ou instituições integradoras, que circu-
Conexão gera Fluxo.
lam em diferentes grupos sociais, levam infor-
mações de um lado para o outro, são conec- Fluxo é onde a Inovação acontece.
tadas com muitas pessoas e conectam muitas

10 - Há instituições – como muitos centros de transferência de tecnologia, por exemplo – que permanecem no meio da relação entre os organismos que elas
uniram. Os estudos mostram que esse modelo tem menos eficiência do que o modelo de keystones, que intermediam e se retiram (HWANG; HOROWIT, 2012).

24
Estas ficam sendo as palavras mais importantes Para isso, é preciso que a linguagem e a for-
para as pessoas que gerenciarão os Centros e ma de pensar e de enxergar oportunidades,
que animarão os ecossistemas de inovação. As inerente aos empreendedores inovadores,
demais funções dificilmente serão eficazes sem torne-se um lugar comum, especialmente, en-
que estas sejam colocadas em passo. tre os jovens, as crianças e aqueles que estão
no mercado de trabalho.

Promover a cultura inovadora


e empreendedora O papel dos Centros vai além dos limites do
seu prédio. Eles deverão não apenas realizar
atividades de promoção da cultura inovadora,
como também influenciar, apoiar e articular a
Aqui está um pouco das minhas reflexões de
uma década imerso no Vale do Silício. Primeira criação de ações, programas e políticas que fa-
coisa: cultura é tudo! As pessoas falam muito voreçam esta nova cultura em ascensão.
sobre cultura, mas até que você gaste um
bom tempo nas trincheiras de um ambiente
A partir de extensas investigações sobre a Amé-
inovador, de alta velocidade e alto risco como
é o Vale, é muito difícil entender. [...] Quando rica Latina e seus desafios, Andres Oppenhei-
eles dizem que o Vale do Silício não é um lugar, mer (2013) sugere que nosso continente, para
mas um estado mental, é verdade. Pessoas lograr uma guinada em seu desenvolvimento,
talentosas estão em todo lugar do mundo. Mas,
precisa aplicar à ciência, tecnologia e inovação
o modelo mental adequado é que é precioso
(Victor W. Hwang, 2016). o mesmo esforço, paixão e disciplina dedica-
dos ao futebol, por exemplo.

Para que a inovação aconteça e faça proliferar “Precisamos formar o próximo ‘Neymar do soft-
negócios e oportunidades significativas para a ware’ ou o próximo ‘Messi da robótica’”, colo-
região, ela precisa se tornar parte da cultura, ca o autor, enfatizando a necessidade de uma
do espírito deste lugar. E aí se inicia o trabalho mudança de direção em nossas plataformas
dos Centros. educacionais, culturais e certos valores com-
partilhados.
Se por um lado é fundamental que sejam re-
tiradas as duras barreiras do caminho do em- Ao tentar entender o porquê de a América La-
preendedor, como a burocracia na abertura de tina criar tão poucos inovadores de impacto
empresas e o difícil acesso à pesquisa científi- mundial, o autor encontra respostas que vão
ca, por outro é decisivo que a mentalidade das além dos elementos conhecidos como a má
pessoas esteja sintonizada com a criatividade qualidade da educação, a falta de cientistas e
e a disponibilidade para criar um mundo que engenheiros e a falta de ecossistemas favorá-
ainda não existe. É decisivo considerar que, veis às empresas inovadoras. Para ele, a maior
tentando resolver problemas do dia a dia das trava à inovação é a ausência de uma cultura de
pessoas e da coletividade, podemos criar ne- admiração aos inovadores e empreendedores
gócios muito lucrativos, postos de trabalho e e a falta de tolerância social ao fracasso indi-
renda qualificados e até empresas globais. vidual, que são fatores-chave do êxito do Vale
do Silício, por exemplo. Nesse sistema, “cria-se
Só depende do tamanho do problema que es- uma geração de meninos que querem avida-
tamos resolvendo e das conexões certas. mente ser estrelas do futebol, mas poucos que

25
sonham ser um empresário exitoso ou o próxi- Gerar e escalar
mo Prêmio Nobel de Química” (OPPENHEIMER, negócios inovadores
2014).

O florescimento da inovação, do empreen- [...] Nas inspirações durante o almoço, no


dedorismo e da criatividade em um território esboço feito no guardanapo do café, nos
flashes de insight, no primeiro protótipo
passa pela formação de uma geração de em-
testado – é aí que os avanços acontecem,
preendedores e inovadores, que passa por li- onde as barreiras imaginárias são rompidas
deranças políticas, artísticas e sociais, além de (Victor W. Hwang, 2016).
canais de comunicação que apoiem e dissemi-
nem essas ideias.
O terceiro item da missão dos Centros contem-
Portanto, ao instalar estruturas que serão o sím- pla sua função finalística: gerar e escalar negó-
bolo de um estado e de regiões que decidi- cios inovadores.
ram apostar na inovação, precisaremos usar
toda nossa criatividade e talento para sacudir O Centro de Inovação deve se tornar a referên-
as percepções e os sonhos de nossas crianças, cia regional para qualquer cidadão que deseje
jovens e adultos. transformar uma ideia nova em um negócio ou
levar a inovação para sua empresa.
Precisaremos apostar em nossas qualidades,
nas pessoas talentosas e nos ativos de toda
Essa função será cumprida por meio de um
ordem para compensar nossos problemas es-
conjunto de serviços – gratuitos e não-gratuitos
truturais. E precisaremos trabalhar para que es-
– prestados por profissionais especializados,
ses desafios, como a educação básica, venham
que vão desde o acolhimento e informação,
a ser solucionados paralelamente, já que não
passando por mentoria, capacitação técnica e
podemos esperar, por exemplo, que o sistema
gerencial, até o acesso a investidores, novos
educacional seja reformado para, então, come-
mercados e internacionalização.
çarmos a investir em inovação.

O Guia – Livro II: Plano de Implantação – traz a


Nossa motivação e capacidade de superação
descrição detalhada dos serviços e ações a se-
serão nossos ativos mais valiosos.
rem oferecidos pelos Centros, diretamente ou
por meio de parceiros.
Há muito trabalho pela frente.

O conjunto de serviços que os Centros podem


oferecer parte do Meta Modelo para Centros
de Inovação, desenvolvido por Josep M. Piqué
(2015), Presidente da Associação Internacional
de Parques Científicos a Áreas de Inovação
(IASP) e Presidente da Associação de Parques
Científicos e Tecnológicos da Catalunha (XP-
CAT), em consultoria prestada ao Governo de
Santa Catarina.

26
Cada função de Piqué é constituída por diver-
sas subfunções. As funções e subfunções, bem
como as atividades decorrentes delas, serão
implantadas gradualmente nos Centros. A es-
colha de quais delas serão priorizadas e exe-
cutadas por primeiro fica a cargo dos Comitês
de Implantação, que devem tomar as decisões
com base no nível de maturidade do seu ecos-
sistema e de seus principais gaps. De maneira
geral, é aconselhável que os trabalhos se ini-
ciem pelas funções 1, 2 e 3.

Feitos para Conectar

Centros de Inovação... feitos para CONECTAR


A palavra norteadora da atuação
dos Centros de Inovação é CONEXÃO

Conectar instituições para que trabalhem em parceria e somem esforços

Conectar conhecimento à geração de valor

Conectar Universidades a empresas

Conectar pesquisadores a empreendedores

Conectar empreendedores a investidores

Conectar talentos a oportunidades

Conectar criadores a consumidores

Conectar boas ideias a grandes negócios

Conectar problemas sociais a soluções eficazes

Conectar negócios tradicionais a ideias revolucionárias

Conectar os problemas locais às soluções globais

Conectar crianças e jovens ao pensamento criativo e ao futuro

Conectar gerações...unindo a criatividade à experiência

Conectar as organizações de hoje às tendências de amanhã

Conectar os governos aos sentimentos e necessidades dos cidadãos

Conectar os desafios do presente aos nossos sonhos de futuro

27
28
A proposta é que os empreendedo-
res entrem no Centro com uma ideia
e saiam com uma empresa inserida no
mercado. Ou entrem com uma empre-
sa nascente e saiam com uma empresa
alavancada, ou entrem com uma em-
presa tradicional e saiam como uma
empresa inovadora. Sempre priori-
zando negócios com alto potencial de
crescimento a fim de que o impacto
social e econômico seja o maior pos-
sível.

A rota natural de um negócio inovador


nascente é, frequentemente, tortuosa.
O número de elementos que o em-
preendedor precisa obter e de pessoas
que precisa juntar para desenvolver seu
produto é grande: especialistas no pro-
duto, investidores, bancos, advogados,
contadores, designers, publicitários,
distribuidores, profissionais de vendas
e acesso a mercados, propriedade in-
telectual, manufatura, expertise regula-
tória e por aí vai...

As chances de as empresas morrerem


no meio do caminho são altas. Muitas,
efetivamente, ficam pela estrada. Mas,
ao criar cultura de inovação, conectar
as pessoas certas e prestar serviços de
qualidade, os Centros têm a chance de
aumentar drasticamente o número de
negócios inovadores que prosperam.

Os Centros de Inovação devem ser o


lugar onde o empreendedor pode se
conectar com todas essas pessoas e
oportunidades com rapidez, confiança
e menor custo.

29
4. FUNÇÕES DOS CENTROS
E DO ECOSSISTEMA
DE INOVAÇÃO
30
Partindo do metamodelo elaborado por Josep M. É fundamental destacar que as Funções são, em
Piqué (apresentado em janeiro de 2015 para mem- última instância, competência de todo o ecos-
bros do Governo do Estado e Comitês de Implan- sistema. E que, portanto, podem ser delegadas a
tação dos Centros) e unindo-o a todo o benchmar- qualquer entidade reconhecida por aquela com-
king nacional e internacional pesquisado até aqui, petência na região em questão. Do mesmo modo,
apresentamos o Portfólio de Funções para os Cen- as Funções e subfunções já executadas a contento
tros e Ecossistemas de Empreendedorismo e Inova- na localidade não devem ser sobrepostas. Ao con-
ção de Santa Catarina. trário, o ideal é que as entidades que oferecem o
serviço tornem-se parceiras do Centro.
Conforme indicado no Passo 13 do “Guia de Implan-
tação do Centro de Inovação em 25 Passos” (p.12),
Quadro 1: Metamodelo dos Centros de Inovação
as funções do Ecossistema a serem operacionali-
zadas pelo Centro são definidas após o desdobra-
mento do Planejamento Estratégico (Passo 11), mas
FUNÇÕES DO CENTRO
são apresentadas aqui para conhecimento prévio
das funções do Ecossistema e do Centro de Ino-
E DO ECOSSISTEMA DE
vação, facilitando o entendimento do conceito e
EMPREENDEDORISMO
do escopo do Centro de Inovação na região que
E INOVAÇÃO
estará inserido.
GOVERNANÇA
1 DO ECOSSISTEMA
Este portfólio traz as 10 Funções entendidas como
essenciais a serem desempenhadas no Ecossiste- 2 INFORMAÇÃO
ma e para que o Centro cumpra sua missão ulterior,
que é gerar e escalar negócios inovadores, sobre- 3 INOVAÇÃO
tudo aqueles com alto potencial de crescimento.
4 TALENTOS
Cada uma das chamadas “Funções” é dividida em
cinco ou mais subfunções, que expressam, mais 5 CAPITAL
detalhadamente, os serviços ou ações a serem rea-
ATRAÇÃO DE
lizados. 6 INVESTIMENTOS
As Funções representam os papéis que o Centro e o ESPECIALIZAÇÃO
7 INTELIGENTE
Ecossistema de Empreendedorismo e Inovação de-
vem desempenhar em seu território a fim de que ele
8 CONEXÃO INTERNACIONAL
se torne um ambiente favorável ao desenvolvimento
sistêmico de ideias, negócios, produtos, serviços, em- DESENVOLVIMENTO
9 URBANO
presas, entidades, governos, pessoas e movimentos
inovadores. As Funções podem ser executadas por 10 COMUNIDADE
meio de prestação de serviços, de campanhas, movi-
mentos e articulação política, eventos, ações de sen- Fonte: Adaptado de Piqué (2015).

sibilização, formação de pessoas e assim por diante,


como podemos ver, sinteticamente, no quadro a seguir.

31
O objetivo do Centro de Inovação é promover negócios
inovadores. Para isso, uma de suas principais preocupações
deve ser desenvolver regionalmente o ciclo completo de
apoio ao empreender e inovar. Para que o ciclo de apoio
se forme de maneira eficiente, é importante que haja um
grande orquestrador e animador do ecossistema: eis um
dos papéis mais importantes do Centro de Inovação.

Como orquestrador, é papel do Centro entender


quais os principais gargalos no ecossistema onde
está inserido para, a partir daí, escolher, de maneira
acurada e certeira, seus focos de atuação direta. Mui-
tas Subfunções do portfólio provavelmente já estão
sendo desenvolvidas na região. Outras não estão, mas
possuem entidades super preparadas para desempe-
nhá-las. Por isso, antes de abrir as portas do Centro
é fundamental que o Comitê de Implantação estude
com exaustão as prioridades reais do seu sistema de
apoio ao empreendimento e à inovação.

Ao final dessa análise ampla, o Comitê deve ter de-


finido:
• Subfunções já executadas (de maneira reconhecida-
mente eficaz e com capacidade de suprimento da
demanda);
• Subfunções já executadas, mas que precisam de re-
forço;
• Subfunções que devem ser executadas direta-
mente pela equipe do Centro;
• Subfunções que devem ser coordenadas pelo
Centro, mas operadas por entidade terceirizada;
• Subfunções que devem ser delegadas a entida-
des especializadas (podem ser viabilizadas por
cooperação técnica, cooperação financeira, con-
vênio, etc).

O quadro a seguir apresenta as Funções a serem de-


sempenhadas pelo Centro de Inovação e pelo Ecos-
sistema:

32
33
PORTFÓLIO DE FUNÇÕES: CENTROS
Adaptado do metamodelo de Josep M. Piqué (2015)

Quadro 2: Portfólio de Funções para os Centros de Inovação de SC e seus Ecossistemas

FUNÇÕES

GOVERNANÇA DO “Coordenação
1 Mapeamento
ECOSSISTEMA e Articulação*”

2 INFORMAÇÃO One Stop Shop Eventos

Coworking Pré-incubadora
3 INOVAÇÃO
Projetos Inovadores de
Transferência Tecnológica
Empresas Estabelecidas

4 TALENTOS Formação Orientação

5 CAPITAL Acesso a Investidores Acesso a Crédito

ATRAÇÃO Observatório dos Planejamento de Atração


6
DE INVESTIMENTOS Setores Estratégicos de Investimentos

ESPECIALIZAÇÃO Plano de Especialização


7 Governança de Clusters
INTELIGENTE Inteligente

“CONEXÃO Internacionalização
8 Cooperação Institucional
INTERNACIONAL” das empresas

DESENVOLVIMENTO
9 Marketplace Espaços City Lab
URBANO

Preparação de Novas
10 COMUNIDADE Inovação Social
Gerações de Inovadores

Fonte: adaptado de Piqué (2015).


DE INOVAÇÃO E ECOSSISTEMAS

SUBFUNÇÕES

Compartilhamento Compartilhamento Padronização Monitoramento


de Serviços de Infraestrutura de Serviços da Maturidade

Comunicação
Agenda Única Networking Show Room
interna e externa

Incubadora Física
Aceleradora Escaladora Espaço Maker
e Virtual

Propriedade Socialização
Open Innovation Projetos de P&D
Intelectual de ideias

Marketplace Línguas
Estágio Atração e Retorno
Talentos estrangeiras

“Intermediação Marketplace
Aval e Garantias
de Negociações” Investimentos

Missões nacionais
Landing Empresarial
e internacionais

Projetos Impulsionadores
Encontros Crossector Agenda Tecnológica
Setoriais
Cooperação com
Cooperação entre Cooperação para
Organizações
Habitats de Inovação o Comércio
Internacionais

Mapa Urbanístico Mapa de Infraestrutura Cidades Inteligentes

Formação de Inclusão Digital de


Desafios sociais
Pais e Mães Vovós e Vovôs

*do ecossistema de empreendedorismo e inovação municipal e regional.


** A tradução para o termo seria “Escaladora”: espaço dedicado a promover Inovação e Escalabilidade nas empresas já existentes.

35
Vale destacar outra vez:

Não é necessário que o Centro execute diretamen- ser implementadas no curtíssimo, curto e médio
te todas as Funções. Mas é fundamental que ele prazo, conforme orienta o Guia de Priorização das
garanta que, no médio prazo, todas elas estejam Funções e Subfunções:
sendo executadas de maneira efetiva na região.
Disso depende o futuro e o presente do desenvol- As Funções e Subfunções que vão ser executadas
vimento regional. pelo Centro devem ser priorizadas conforme os
objetivos estratégicos definidos e o nível de maturi-
Depois de uma análise minuciosa do ecossistema, dade do ecossistema.
é momento de partir para a priorização das ações,
que diz respeito à escolha de quais delas devem

GUIA DE PRIORIZAÇÃO DAS FUNÇÕES E SUBFUNÇÕES


Para os Centros de Inovação

Todas as Funções são importantes para o funcionamento • 4. Definir Subfunções Prioritárias


devido do ecossistema de empreenderismo e inovação, Dentro de cada Função do Metamodelo, escolher com
por isso estão colocadas no metamodelo. O esforço de base em critérios claros e transparentes quais são as mais
priorização se deu no sentido de iniciar o processo pelas importantes para a região no momento. Organizar as sub-
necessidades básicas, caminhando em direção às necessi- funções em ordem de prioridade.
dades mais complexas, próprias de sistemas mais maduros.
• 5. Analisar a Situação das Funções e Subfunções
Abaixo, anotamos as instruções para orientar a ordem de Prioritárias no Ecossistema
implementação das Funções e Subfunções: Analisar o nível de eficiência na execução das Funções no
ecossistema.
• 1. Conhecer as 10 Funções e suas Subfunções
Conhecer detalhadamente as 10 Funções dos Centros e • 6. Definir Funções e Subfunções de Execução Direta

Ecossistemas, que sintetizam o ciclo completo de apoio Definir as Funções que serão executadas diretamente pelo

ao empreendedorismo e à inovação e sustentabilidade do time do Centro de Inovação ou seus contratados. Separar

ecossistema no decorrer do tempo. os objetivos em Curtíssimo, Curto e Médio Prazo.

• 7. Definir quais Subfunções serão Terceirizadas


• 2. Resgatar Objetivos Estratégicos
Definir quais das Funções estarão sobre a coordenação do
Definir/Resgatar os objetivos estratégicos definidos para o
Centro, mas serão delegadas à empresa ou entidade que
Ecossistema (vide Capítulo 5 – Planejamento Estratégico).
se encarregará da sua operação dentro do Centro. Exem-
plo: terceirização do café e restaurante ou da incubadora.
• 3. Definir Funções Prioritárias
A partir do mapeamento do ecossistema e da compreen- • 8. Definir quais Subfunções serão Delegadas
são das 10 Funções e dos objetivos estratégicos (definidos Analisar no portfólio quais subfunções prioritárias, segundo
no planejamento), analisar quais são as funções e subfun- critérios de eficiência e eficácia, devem ser operadas por
ções mais importantes conforme seu nível de maturidade. entidade parceira.

36
5. COMO IMPLANTAR
UM CENTRO DE INOVAÇÃO?
Nos Livros I, II e III do Guia de Desenvolvimento de Ecossistemas e Centros de Inovação você encontrará um
passo a passo para a implantação de um ambiente voltado à inovação. O tabuleiro abaixo sintetiza as princi-
pais etapas desse processo.

37
SANTA Guia de implant
CATARINA de Inovação
Estado de Inovação

1 2 3

PARTIDA
Constituir
o Comitê de Definir Presidente Capacitar os envolvidos
Implantação e Secretário(a)
de Implantação dos Centros de Inovação de Santa Catarina elaborado pelo Governo de Santa Catarina - SDE/SC.

(começando pelo estudo


*O Recorte regional recomendado é o das Associações de Municípios. (Anexo A). Esse material é parte do Guia

Cap.11 do Comitê – Cap. 11 deste Guia)

Conectar/Formar
Rede de Mentores, 25
Investidores
e Prestadores
de Serviço
subcap. 2.5

Criar Cult
Inovador
Implantar Empreende
One Stop Ativar
Shop
subcap. 4.2.1
Ecossistema
de Inovação
24

Publicar os
editais de seleção
de empresas,
projetos e ideias
para ingressar aos
programas do Centro
– subcap. 10.6
e anexos
23

22

Nomear Conselho de
Administração do Centro
de Inovação – subcap. 10.5.1

21
Elaborar Planos de Ação
(conjunto de ações e projetos
articulados com o ecossistema)

Validar e capacitar
equipe de 19 Contratar
Entidade 18 17
operação do Gestora
Centro – cap. 10
(começando
pelo Guia) Elaborar Plano
20 Definir Diretor(a) - subcap. 10.5.3
de Sustentabilidade
Econômico-Financeiro – cap 8

38
tação do Centro
em 25 passos
4 Selecionar
a entidade
6 7
gestora
subcap. 10.4
Elaborar Definir relação jurídica Definir ou resgatar
Lei Municipal
de Inovação – subcap. 10.3
5 entre poder público e
entidade gestora – subcap. 10.4.1
uma visão de
futuro para a região

Mapear o ecossistema
regional de inovação
tura Gerar e Escalar – subcap. 2.7
ra e Negócios
edora Inovadores
Definir
as áreas de
9
especialização
inteligente
do Centro

10

Elaborar o Modelo de
Negócio – Cap. 5

Elaborar o
Planejamento
Estratégico – cap. 6

11

12
Definir ordem de prioridade
para implementação das
funções e subfunções
– subcap. 6.6

Definir Celebrar as Definir funções


Definir
Plano de
16 15 quadro de parcerias e 14 oferecidas 13
pessoal contratos diretamente
Ocupação necessário decorrentes pelo Centro,
do Centro para operar do item 13 terceirizadas
– cap. 7 as funções e delegadas
subcap. 10.5 subcap. 6.6

39
Incubadoras, aceleradoras, redes de
investidores-anjo, crowdfunding,
competições de business plan… todos
esses “arranjos” em voga costumam
decepcionar porque, frequentemente,
são conduzidos de forma isolada.
E, quando eles funcionam, é porque
existe um abrangente ecossistema
que apoia o crescimento do
empreeenderismo com um amplo
grupo local de stakeholders, incluindo
empreendedores de sucesso.
(Beep – babson entrepreneurship ecosystem project, 2016,
tradução livre)

40
41
Integração da Tríplice Hélice

42
43
Ecossistemas e Redução redor do mundo mostraram que os lugares onde
dos Custos de Transação encontrou menos desenvolvimento foram os lu-
gares onde mais havia medo e desconfiança11. Os
Temos um ecossistema ativo a partir do momento lugares mais empobrecidos são, não por acaso,
em que temos uma comunidade. aqueles em que as pessoas têm mais medo de se
relacionar. A desconfiança e o medo, naturalmente,
Comunidade é um conceito que remete a pes-
aumentam os custos de transação, tornando a eco-
soas se relacionando, colaborando, cooperando
nomia mais ineficiente.
e, em alguma medida, confiando umas nas ou-
tras. Entre laços fortes e fracos – alusão a Grano-
Uma das buscas frenéticas das empresas e sistemas
vetter (Kaufman, 2012) –, o que prevalece em uma
econômicos é conquistar eficiência crescente. Efi-
comunidade é o sentimento de pertencimento e
ciência tem a ver com fazer o máximo possível com
as relações de confiança que se estabelecem.
o mínimo possível. Para que o processo de inova-
Ingrediente essencial, a confiança aumenta as
ção possa ser mais eficiente – considerando que,
chances de resistência às crises individuais e co-
em geral, é lento e custoso – uma das estratégias
letivas. A ativação do ecossistema cria confiança,
para ampliar seus níveis de eficiência e resultados é
que cria a comunidade, que cria resiliência para
o desenvolvimento de ecossistemas.
o ecossistema.

O papel dos ecossistemas é ser um terreno fértil


O que diferencia lugares como o Silicon Valley do
para a conexão de:
resto do mundo não é apenas a presença de in-
gredientes de qualidade: pessoas talentosas, em-
PESSOAS COM IDEIAS
preendedores, muitos investidores, qualidade de
PESSOAS COM TALENTO
vida e boas universidades. A maneira como essas
PESSOAS COM CAPITAL
pessoas e instituições se relacionam é que guarda
o segredo do sucesso desse grande ecossistema Neste ecossistema, ao invés de terra, trabalho, capi-
empreendedor. tal e tecnologia (modelo neoclássico) nós focamos
em IDEIAS, TALENTO E CAPITAL.
Quando existe confiança entre as partes de um
negócio, os cartórios, avalistas, a burocracia e as
Ideias, e não tecnologia, porque inovação não pre-
intermináveis revisões de contratos são menos ne-
cisa ser tecnológica, pode ser um modelo novo de
cessárias. Os negócios, frequentemente, são fecha-
xícara de café, um modelo organizacional, um de-
dos com apertos de mão e isso vale mais do que
sign de móvel.
formalidades, em muitos casos.

Talento, e não trabalho, porque a inovação requer

E um desses segredos pessoas capacitadas, especializadas. Terra não se in-


Hwang (2014) diz que seus estudos e trabalhos ao
é a CONFIANÇA, o maior clui, porque, apesar de não vivermos sem ela, é um
fator menos importante, porque são como commo-
redutor natural de custos
dities (HWANG; HOROWIT, 2012).
de transação em negócios
(HWANG; HOROWIT, 2012).
Uma maneira de aproximar essas pessoas é reti-

11 - Victor Hwang sintetiza esta ideia na apresentação “Why Innovation is like a Rainforest?” no
TEDxUniversityofNevada. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QZLZIFL5rsM
rando as barreiras existentes entre elas, o que vai Promover ações contínuas para aproximação das
liberar o fluxo de conhecimento, talento e capital. pessoas e formação de comunidades de confian-
ça é o caminho mais curto para que essas barreiras
Precisamos retirar as barreiras criadas artificialmente e que dificultam a interação natural entre as pessoas
que dificultam o florescimento de empreendedores, de diferentes redes e grupos sociais sejam derru-
como restrições governamentais, excesso de forma- badas. Incentivando programas massivos de línguas
lidade, morosidade, falta de observância das leis e tri- estrangeiras, intercâmbios e missões de negócios,
butos inconsistentes. por exemplo, podemos nos entender melhor com
o resto do mundo e ingressar no ecossistema de
Mas, também, precisamos derrubar as barreiras me-
inovação global, o que vai acelerar o desenvolvi-
nos visíveis: as naturais. Barreiras que, por não serem
mento do ecossistema local paralelamente. Pactuar
percebidas e combatidas, fazem os governos des-
regras de convivência, premiar os bons comporta-
perdiçarem milhões e milhões em grandes estru-
mentos e “punir” os maus podem reduzir o medo
turas para a ciência e tecnologia e inovação que
natural que as pessoas trazem de confiar umas nas
simplesmente não funcionam, não geram inovação
outras (no capítulo seguinte falaremos sobre as re-
(BID, 2014). São elas:
gras informais que devem ser incentivadas em um
ecossistema de inovação).
• Barreiras geográficas (oceanos, montanhas,
distância); Os custos de transação em ecossistemas de inova-
• Falhas nas redes sociais (as pessoas não per- ção como o Silicon Valley são muito baixos porque
tencem às mesmas redes e, portanto, não se a confiança social é altíssima e os maus comporta-
falam); mentos são banidos automaticamente pela comu-
• Cultura e língua (as pessoas não se entendem); nidade. Um investidor que explora um empreende-
• Falta de confiança (as pessoas têm medo de dor, por exemplo, fica rapidamente conhecido e
trabalhar juntas, de compartilhar, de abrir seus evitado na comunidade. Por outro lado, abrir ideias
conhecimentos). e redes de contato, indicar parceiros, fazer aconselha-
mento e mentoria voluntária são ações corriqueiras.
As barreiras geográficas têm se tornado cada vez
menos significativas com a queda brusca dos cus- Estes comportamentos, contudo, requerem que os

tos das comunicações e viagens. As distâncias ago- indivíduos, muitas vezes, abram mão de alguns ga-

ra são mais humanas e culturais. Isso tem sido o mais nhos individuais imediatos e foquem nos ganhos

difícil para os inovadores (HWANG; HOROWIT, 2012). exponenciais coletivos de médio e longo prazo.

A história do famoso chef peruano Gastón Acurio,


E é preciso saber de antemão: a natureza humana
conhecido por ter inserido a cozinha peruana no
não facilita o fluxo necessário à inovação. Nossos
mapa gastronômico internacional, traz muitas lições
cérebros são instintivamente tribais. Fomos con-
sobre a construção orgânica de um ecossistema
dicionados a confiar nas pessoas próximas e pa-
próspero. Gastón, em parceria com outros chefs do
recidas conosco e desconfiar das mais distantes
Peru, começou a abrir suas receitas para o mundo
e distintas. Mas, ironicamente, as transações mais
inteiro e tratou de incluir e capacitar toda a cadeia
valiosas acontecem, justamente, entre as pessoas
de suprimento gastronômico. Abrindo mão de ga-
mais distintas umas das outras, dentre os laços fra-
nhos individuais imediatos, criou um ecossistema
cos (HWANG; HOROWIT, 2012).
rico e abundante onde antes havia escassez e re-
sultados irrelevantes.
45
Desenvolvendo um
Ecossistema: projete uma
floresta, não uma plantação

Hwang e Horowitt (2012) explicam o processo de tes ferramentas técnicas para calibrar precisão e
desenvolvimento de um ecossistema comparando produtividade. Aqui, a lógica é: quanto maior o grau
o processo controlado de cultivo de lavouras em de controle, melhores os resultados. Empresas são
uma fazenda e o surgimento natural (não controla- premiadas por eficiência em produção, como fa-
do) de uma floresta. Para eles, o que os governos zendeiros tentando espremer melhores resultados
estão tentando fazer ao redor do mundo é gerar das plantações de cada metro quadrado de terra
inovação por meio de plantações controladas. usando as melhores sementes, fertilizantes e pesti-
cidas. Nos métodos de produção serial, como em
Mas esse é um caminho equivocado, como mos- uma linha automotiva, quanto mais rápida a linha de
tra, por exemplo, um estudo do Banco Interame- montagem, mais lucro se obtém.
ricano de Desenvolvimento (BID, 2014) ao apontar
os fracos resultados em termos de inovação nos Por contraste, quando nós pensamos em siste-
parques e distritos tecnológicos latino-americanos mas de inovação, a maior produtividade vem
que garantem infraestrutura de qualidade (os ingre- de ambientes que se assemelham não a planta-
dientes), mas que se preocupam muito pouco com ções, mas a florestas tropicais. Na natureza, uma
o essencial (receita), que são as relações entre as floresta tropical funciona não por causa da mera
pessoas e instituições e a formação de um ecos- presença do carbono bruto ou átomos de nitro-
sistema ativo, onde os atores efetivamente intera- gênio, hidrogênio e oxigênio. Ela prospera pela
gem, colaboram e criam coisas juntos. A forma de forma como estes elementos se misturam para
se criar inovação sistêmica é oferecer o ambiente criar uma nova e inesperada fauna e flora. A flo-
e as condições para que a inovação desabroche resta tropical é um ambiente com características
espontaneamente, assim como florescem, natural- especiais: o ar, os nutrientes do solo, as chuvas
mente, novas espécies em uma floresta tropical, um e a temperatura, por exemplo, ensejam o surgi-
dos mais ricos ecossistemas do planeta. mento de novas espécies de animais e plantas,
que são bem mais ricos do que a soma de seus
O modelo de negócios que emergiu da revolução elementos individualmente. A floresta tropical
industrial pode ser descrito de muitas formas como pega matéria inorgânica sem vida e cria sistemas
um modelo agrícola. Este modelo é focado no con- de matéria orgânica prósperos e vibrantes. Resu-
trole de sistemas complexos, usando as mais recen- mindo, não conseguimos criar uma nova floresta
tropical apenas plantando árvores. Igualmente,
não criamos um ecossistema de inovação ape-
nas construindo estruturas ou levantando capital.
A lavoura versus a floresta

Fonte: iStock Photos


47
Não se pode pré-determinar como e quando no- No modelo agrícola, arrancamos a erva daninha,
vas espécies vão surgir das florestas. Simplesmente que é o diferente na plantação. Na prática eco-
a natureza reúne um conjunto preciso de condi- nômica tradicional, o funcionário excêntrico que
ções e viabiliza a evolução ocasional. Nas florestas decide não construir uma peça com os padrões
tropicais, as mais promissoras formas de vida emer- pré-estabelecidos e especificações detalhadas é
gem de maneiras imprevisíveis de ambientes alta- demitido. Em um ambiente inovador, ele será visto
mente férteis. Os ecossistemas de inovação eficien- de outro modo.
tes devem funcionar de maneira similar: não devem
se preocupar tanto em forçar inovações individuais, Na floresta tropical, valoriza-se muito a erva da-

mas, sim, direcionar a maior parte de seus esforços ninha. Porque, na verdade, o que é interpretado

e recursos para criar um ambiente favorável para como uma erva daninha pode ser uma nova espé-

que a inovação, naturalmente, floresça. cie e, às vezes, a mais valiosa descoberta no ecos-
sistema inteiro. Pense em empresas como Google

É claro que estamos falando de uma mudança pa- e Facebook hoje. Eles eram indistinguíveis de ervas

radigmática, pois o modelo agrícola-industrial, a daninhas alguns anos atrás.

produção serial, dominou a forma que pela qual


Os excêntricos são os quebradores de paradigmas,
fazemos e percebemos valor nos negócios. Por-
os que vão realizar inovações radicais e disruptivas,
tanto, os agentes construtores de ecossistemas de
os que vão se diferenciar e se destacar nos ecos-
inovação não podem perder de vista que estão,
sistemas. Em ecossistemas de inovação queremos
inclusive, colocando em ação uma nova forma de
estimular as ervas daninhas a emergir e crescer. A
pensar os negócios.
empresa mais promissora, a tecnologia mais disrup-
tiva, o próximo Bill Gates ou a cura do câncer po-
dem estar ali (HWANG; HOROWIT, 2012).

Erva daninha

“Só se preocupe em
dar condições para que
as pessoas interajam
livremente”
(HWANG; HOROWIT, 2012).

Fonte: iStock Photos.

48
Um ecossistema de empreendedorismo é um conjunto de elementos individuais –
como liderança, cultura, mercado e clientes open mind – que se combinam de formas
complexas. De maneira isolada, eles favorecem o empreendedorismo, mas não o
sustentam. E é aí que muitos esforços governamentais se perdem, eles se preocupam
com apenas um ou dois elementos. Juntos, no entanto, esses elementos turbinam
verdadeiramente a criação e o crescimento de negócios inovadores.
(ISENBERG, 2010)

Elementos do Ecossistema
Para projetar o ecossistema de empreendedorismo Inovação, disposto na figura a seguir.
e inovação é necessário, primeiro, compreender
quais elementos são importantes para que ele Esse Mapa sugere seis dimensões que devem
funcione. Partindo das referências construídas por ser observadas no planejamento do ecossistema:
Munroe (2016), Isenberg (2009, 2010, 2011, 2015), Mercado, Suporte, Capital Humano, Política,
Cukier, Kon e Krueger (2015), Hwang e Horowitt Financeira e Cultura. Dentro das dimensões estão
(2012) e Munroe e Westwind (2008), elaboramos os elementos concretos que o constituem.
o Mapa do Ecossistema de Empreendedorismo e

Fig. 8: Mapa do Ecossistema de Empreendedorismo e Inovação

CONSUMIDORES
INICIAIS

REDES SOCIAIS E
PROFISSIONAIS GOVERNO

LIDERANÇAS
PÚBLICAS

ORGANIZAÇÔES
INTEGRATIVAS
MERCADO POLÍTICA
SERVIÇOS DE
SUPORTE E
NEGÓCIOS

ORIENTAÇÃO

INFRAESTRUTURA
SUPORTE ECOSSISTEMA DE
CAPITAL
EMPREENDEDORISMO CAPITAL
E INOVAÇÃO

TALENTO

ACADEMIA CAPITAL
HUMANO CULTURA

EDUCAÇÂO / Fonte:
FORMAÇÃO Os autores (2016),
DE MÃO DE OBRA
QUALIFICADA Isenberg (2010, 2011, 2015),
Munroe (2016),
CULTURA / VALORES Cukier, Kon e Krueger (2015),
EMPRESAS SOCIAIS
ESTABELECIDAS Hwang e Horowitt (2012) e
EMPREENDEDORES
E CLUSTERS Munroe e Westwind (2008).
ECONÔMICOS
6. DESENVOLVENDO
CULTURA DE INOVAÇÃO

“O mais importante é o
mindset e a cultura. Se você
criar isso, a inovação virá
naturalmente.”
(HWANG; HOROWIT, 2012)

O que é Cultura de Inovação

Para Oppenheimer (2014), criar cultura de inovação dança devem ser incorporados pela comunidade a
significa desenvolver um clima de entusiasmo co- tal ponto que ter – ou fazer parte de – um projeto
letivo pela criatividade e “glorificar” os inovadores ou um negócio inovador seja um sonho e uma pos-
produtivos da mesma maneira com que se que sibilidade real para seus jovens e crianças.
ovacionam os atletas e artistas, por exemplo. Tam-
bém significa desafiar as pessoas a sair de sua zona Key Learnings:
de conforto para assumir riscos sem medo de se- #EntusiasmoColetivoPelaCriatividade
rem estigmatizadas em caso de falha. #SairDaZonadeConforto
#AssumirRiscos
Em uma cultura inovadora os fracassos não são o #TolerânciaAoErro
fim. Do contrário, são o início de uma vida longa #EmpreenderÉSerHerói
para o empreendedor, além de ser sua maior fonte
de aprendizado.

Para o autor, está claro que, sem uma cultura de


inovação que seja absorvida pelas novas gerações,
de pouco servirão os estímulos governamentais ou
a produção de engenheiros e cientistas em mas-
sa, menos ainda parques tecnológicos ou aparatos
similares. Isso significa que valores como abertura,
diversidade, colaboração, risco, resiliência e mu-

50
Como Se Cria Referencia a Usain Bolt

Cultura de Inovação?
O Ecossistema que Criou
o Homem Mais Rápido do Mundo

Desde 1968, a seleção jamaicana de velocistas


leva, pelo menos, uma medalha por olímpiada. Em
2008, a geração liderada por Usain Bolt assombrou
o mundo com 6 ouros. Em 2012, os jamaicanos
chegaram a monopolizar o pódio de 200 metros.
Ao todo, são 77 incríveis medalhas olímpicas no
atletismo.

Esse furacão das provas de velocidade gera muita


especulação. Quais são, afinal, as explicações para
tamanho sucesso?

Fala-se sobre a formação étnica, tipo físico ideal, altura,


Foto: iStock Photo
quadril, uma curvatura diferenciada na coluna. Fala-se
até que “os jamaicanos são bons porque comem
inhame e mandioca”. Mas o homem mais rápido do Champs é o principal campeonato escolar do país,
mundo, Usain Bolt, não acredita nessas teorias. Para que reúne anualmente cerca de 3 mil estudantes.
ele, a razão é bem mais simples: os campeonatos É o caminho comum que une todos os corredores
escolares (GLOBO ESPORTE, 2016). da Jamaica. Começou, despretensiosamente, em
1910 com apenas 5 escolas. Hoje são 200. E mais
30 mil vozes e vuvuzelas nas arquibancadas que
ajudam meninos e meninas de 13 a 17 anos darem.
tudo de si nas pistas.

Quando corremos nos torneios Seja a Champs, ou não, a razão definitiva do sucesso
de estudantes levamos a nós jamaicano nas provas de velocidade, está claro que
mesmos ao limite. É como ir para o campeonato, no mínimo, é uma enorme alavanca
um campeonato mundial. É por para as qualidades dos atletas do país.
isso que formamos tanta gente
Girls Championship na Champs, 1978
boa. Sei que falam de genética,
dos antepassados. Mas penso
que o segredo de todo nosso
sucesso tem a ver com a Champs .

Fonte: https://afrofusionlounge.files.wordpress.com/2015/04/
penn-relays-51.jpg. Foto: Afrofusion TV

51
Como Criar Cultura Inovadora? Centro de Inovação será um desses ambientes.
O modelo da Rainforest Por onde começar?

Lição 1: Conecte AS PESSOAS O ponto de partida é realizar ações para fomentar a


interação. Isso vai envolver as pessoas que já formam
Desenvolver cultura de inovação não é a mesma coisa o ecossistema local de inovação e as pessoas que
que formar um aglomerado de empresas. É estimular têm que ingressar nele: empresários, empreendedo-
conexões, criando um ambiente de confiança, cola- res, pesquisadores, inventores, estudantes, investido-
boração e criatividade para formar uma comunidade. res, profissionais liberais, mentores, etc.

Hwang e Horowitt (2012) sustentam que o surgimento A missão mais importante do Centro de Inovação
da inovação é um processo caótico, incontrolável e, em sua região é conectar pessoas. O Centro não
muitas vezes, acidental. Processos de inovação linea- vai criar inovação por si. Seu papel é promover os
res e controlados raramente são autossustentáveis e encontros e relacionamentos necessários para que
não são os mais eficientes. a inovação aconteça. Em outras palavras, esse ema-
ranhado de relações que vai se constituir a partir do
Não podemos controlar a inovação. Só podemos Centro formará o terreno fértil para que a semente do
atrair e preparar pessoas e desenvolver ambientes conhecimento encontre os nutrientes adequados (ta-
que aumentem as chances de que ela aconteça. O lento, criatividade, empreendedorismo e capital) para
germinar como inovação.

INOVAÇÃO
Essa conexão faz com que as empresas consigam se
mover e crescer mais rapidamente. Se alguém está
É PROPORCIONAL criando uma nova ideia, muitas vezes não tem kno-
À CONEXÃO. w-how para executá-la. Mas, se tem a seu lado uma
(HWANG; HOROWITT, 2012). pessoa que já tem competência para criar um novo
produto, ela pode colaborar e isso permite imple-

Fig. 9: Modelo de Inovação Centralizada x Modelo de Inovação Descentralizada

MODELO DE INOVAÇÃO MODELO DE INOVAÇÃO


CENTRALIZADA - MODELO A DESCENTRALIZADA - MODELO B

CLIENTE /
TECNOLOGIA PARCEIRO

AGÊNCIA

INTERMEDIAÇÃO
CENTRALIZADA

Fonte: Adaptado de Hwang e Horowit (2012).

52
mentar as ideias melhor e mais rápido. Em um ecos- versidades em seus procedimentos de transferência
sistema de inovação sempre temos a oportunidade tecnológica, pelas empresas em suas áreas de inova-
de executar as ideias mais rapidamente (PATEL, 2016). ção e pelos governos em seu apoio aos empreende-
Embora o Centro vá centralizar muitas iniciativas no dores, em todo mundo. E isso precisa evoluir para um
início da formação do ecossistema (Modelo A), seu modelo mais eficiente e eficaz.
papel é fomentar uma grande rede social descentra-
lizada, criando, a partir dele mesmo, uma verdadeira Quanto mais transações nós tivermos, maiores os
comunidade de inovação em um modelo que só resultados do sistema inteiro. “Nós acreditamos que
pode ser desenhado conforme o modelo B. Nessa este modelo [de rede descentralizada] é a reflexão
comunidade, o Centro é um hub, todos podem e mais acurada sobre os mecanismos subjacentes de
devem utilizá-lo. Mas o foco é multiplicar conexões comunidades do mundo real como o Silicon Valley”
e não burocratizar relações. Logo, as pessoas tam- (HWANG; HOROWITT, 2012).
bém podem e devem se conectar, independentes
do Centro, o que vai acontecer naturalmente assim Promovendo interações entre pessoas com interes-
que a comunidade estiver formada. O Centro, como ses convergentes (fazendo as pessoas se conhece-
conector, promove o encontro de A com B e de B rem e entenderem quem faz o quê no ecossistema),
com C e fomenta a comunidade de tal maneira que construímos um ambiente de confiança. Com con-
as pessoas passam a se relacionar não apenas dentro, fiança podemos construir uma comunidade. Cons-
mas também fora dele. truindo comunidade, criamos uma cultura de ino-
vação fluida e forte. Nisso, o acesso de agente para
O Centro descentraliza! agente se torna livre e facilitado. E, aí, os custos de
Hwang e Horowit (2012) defendem a construção de transação baixam em um valor incalculável. Todos
redes descentralizadas por uma razão matemática. A ganham!
inovação é proporcional à quantidade de conexões
e o modelo descentralizado, onde todo mundo fala O papel de um habitat de inovação é trabalhar para
com todo mundo, permite infinitas vezes mais co- qualificar e acelerar a conexão dos pontos que vão
nexões do que modelos rigidamente centralizados, gerar novos negócios e empresas. Abaixo represen-
onde quem deseja inovar precisa passar pelos trâmi- tamos esquematicamente o cenário onde as entida-
tes, muitas vezes lentos e burocráticos, de agências des integrativas e de apoio como os Centros de Ino-
centralizantes. vação atuam na prática.

Este, aliás, é o modelo preponderante em ecossiste- Repare que a figura 11 é uma representação do pro-
mas que não prosperam apesar de enormes investi- cesso básico de uma companhia já em operação,
mentos. É praticamente impossível que o modelo A já com processo de produção e um time formado.
obtenha mais conexões que o modelo B. Mas, ainda Isto é o que os Centros desejam entregar à socie-
assim, ele é o sistema mais comum adotado pelas uni- dade: negócios formados ou escalados.

53
As Regras da Rainforest

Oppenheimer (2014), mesmo levando em conta to-


das as dificuldades inerentes ao Brasil e à América
Latina, diz que desenvolver uma cultura de inovação
que promova a criatividade de baixo para cima não
é uma tarefa tão difícil quanto parece. Com os meios
massivos de comunicação e as redes sociais disponí-
veis, é muito mais fácil gerar entusiasmo coletivo pela
criatividade e inovação do que antes. As campanhas

Fig. 10: Cenário Pós-negócio: elementos do ecossistema depois da formação da empresa

DESIGN E RE-DESIGN PESQUISA DE MERCADO

FORNECEDOR
DISTRIBUIÇÂO
A

RECEBIMENTO
E TESTE DE PRODUÇÂO RECEBIMENTO INSPEÇÃO
MATERIAL
B CONSUMIDOR

C
TESTE DE PROCESSOS,
MÁQUINAS, MÉTODOS
D E CUSTOS

Fonte: Adaptado de Hwang e Horowit (2012).

Fig. 11: Cenário Pré-negócio: elementos do ecossistema antes de o negócio estar formado

TÉCNICO DE
CONSUMIDOR B TÉCNICO DE
MONTAGEM
MONTAGEM

TÉCNICO DE
CONSUMIDOR A
INSPEÇÃO DE
QUALIDADE
ANALISTA DE
PROCESSO
FORNECEDOR B DESIGNER E MATERIAS
FORNECEDOR B

TÉCNICO DE TÉCNICO DE
PRODUÇÃO INSPEÇÃO

VENDAS E DISTRIBUIDOR
NOVOS CONSUMIDOR C
NEGÓCIOS

Fonte: Adaptado de Hwang e Horowit (2012).


de opinião funcionam, tal como já ficou demonstrado Apresentamos, a seguir, um conjunto de regras ins-
com as campanhas televisivas para combater o hábito piradas em Hwang e Horowit (2012) e nos demais
de fumar. autores que fundamentaram este Guia de Implan-
tação. Essas regras devem ser trabalhadas e refor-
Um dos resultados dos trabalhos de Hwang e Ho- çadas constantemente nos Centros a fim de que se
rowit (2012) é a compilação de ferramentas e regras desenvolvam comunidades realmente criativas e
comuns a ecossistemas de inovação mundo afora. As colaborativas. Elas também podem ser reinterpre-
comunidades inovadoras se preocupam em manter tadas, reescritas ou ter novas regras somadas em
vivas normas de comportamento e de relacionamen- cada região.
to social que cultivem a confiança, o sentido de unida-
de, o desenvolvimento individual e coletivo. Além de Repare que toda mentalidade subjacente a essas re-
um forte desejo obter sucesso pessoal de uma for- gras exalta a coletividade mais do que a individuali-
ma útil à sociedade, os inovadores sabem que essas dade. Estamos convictos de que a evolução individual é
regras informais, se conhecidas e aceitas por todos, maior quando se está, concomitantemente, contribuindo
baixam os custos de transação e aceleram a inovação para a evolução coletiva, seja do Centro de Inovação, da
de maneira incalculável. É o segredo. cidade, do estado ou do mundo. Promovemos um jogo
de ganha-ganha. Idealmente, todas as transações devem
ser boas, individual e coletivamente.

Se nos Estados Unidos,


Europa e vários países latino-
americanos se conseguiu
baixar dramaticamente a
quantidade de fumantes
com campanhas de TV
sobre os perigos do cigarro
– um vício químico – por
que não se pode combater
falências como a falta de
tolerância ao fracasso? Mudar
estas culturas e converter
os inovadores em heróis
populares é uma questão de
vontade política.
(OPPENHEIMER, 2014).

55
AS REGRAS DO
ECOSSISTEMA
Reprogramando o “mindset” em que formos criados

REGRA 1 REGRA 4
REGRAS TRADICIONAIS EM OUTROS Aprenda a Converter as Diferenças
SISTEMAS PODERÃO SER QUEBRADAS AQUI. em algo Positivo
A fricção social e as diferenças são forças que, em-
REGRA 2 bora incômodas e aparentemente negativas, po-
TRAGA SEUS SONHOS! dem ser convertidas em forças propulsoras.
É muito recomendável que as pessoas do ecossiste-
ma cultivem (grandes) sonhos e outras motivações REGRA 5
extrarracionais que as movam. Entre outras coisas, Não tenha Medo do Desconhecido
são esses sonhos que vão lhe manter “em quadra” Busque interação com pessoas desconhecidas,
quando as coisas apertarem. E, elas, provavelmente, de fora dos seus circuitos habituais, outras tribos.
vão apertar. Quanto mais gente o seu sonho for be- Conheça novos mundos e mindsets. Quando pos-
neficiar, mais chance ele tem de se materializar. Pense sível, viaje! Faça contato com alguém de longe.
grande. Sabemos que os círculos conhecidos são mais
confortáveis, mas é mais difícil inovar na zona de
REGRA 3 conforto.
ABRA AS PORTAS E OUÇA MAIS DO QUE FALE
Estimule que os grupos formais e informais se abram REGRA 6
para ouvir e interagir com pessoas de outras redes e Confie e seja Confiável
outros grupos. Isso precisa ser frequente, não uma vez Busque relações justas, não vantajosas só para
por ano. Um ecossistema de inovação é uma comu- você. Aqui, senso de justiça tem mais valor do que
nidade de pessoas com a cabeça aberta. Ouça seus malandragem. Tome a iniciativa. Comece, você,
clientes e esteja disposto a resolver o problema deles. confiando em alguém.

56
REGRA 7 REGRA 12
VALORIZE EXPERIMENTAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO PAGUE ANTECIPADO
CONTÍNUO, NÃO EXISTE PERFEIÇÃO É legal estar disponível para ajudar pessoas sem
Construa uma cultura onde a iteração* seja mais va- esperar nada em troca naquele momento. Contri-
lorizada do que a ilusória ideia da perfeição. Não buindo com a comunidade, você, certamente, será
seja bobo, chegar sozinho e rápido a um produto recompensado por ela. Ajudar aqueles que estão
perfeito é, quase sempre, irreal. *teste, experimento, entrando é muito importante. Compartilhe conhe-
aprimoramento cimentos e contatos das suas redes. A capacidade
de compartilhar importa mais do que a de possuir.
REGRA 8
EXPERIMENTAÇÃO VEM DE BAIXO PARA CIMA, REGRA 13
NÃO O CONTRÁRIO TALENTO PARA TIRAR O MELHOR DOS OUTROS
Não são os chefes e líderes que decidem, sozinhos, VALE MAIS DO QUE TALENTOS INDIVIDUAIS
se o produto está bom e pronto para o mercado. Ajude o outro a expressar o seu melhor. A ideia é
que cada um coloque e manifeste o seu melhor e
REGRA 9 encontre seu papel único na “grande engrenagem”.
NINGUÉM VAI MUITO LONGE SOZINHO
Peça ajuda e colaboração. E colabore. REGRA 14
CULTIVE A GENEROSIDADE CRIATIVA
REGRA 10 Desfrute tanto de propor quanto de escutar e contri-
RESPEITO É CONQUISTADO POR buir com as ideias dos outros. Verdadeiros criativos
AÇÕES CONTÍNUAS E CONTRIBUIÇÕES À COMUNI- apreciam as boas ideias, venham de onde vierem.
DADE
Mais do que pela hierarquia, titulação, poder finan- REGRA 15
ceiro, idade, grupo social etc.. NÃO EXISTEM PROBLEMAS. SÓ DESAFIOS!
Um dos grandes segredos do Vale do Silício é que
REGRA 11 ele conseguiu criar uma cultura onde o medo de
VOCÊ PODE FALHAR! NÃO TEM PROBLEMA perder uma oportunidade é muito maior que o
Mas Persista. É fundamental o entendimento de que medo do fracasso. Um negócio que vai bem e um
erros, falhas e fracassos são parte do curso normal outro que quebra precisam andar mais juntos, pois
de se fazer negócios, quanto mais, negócios ino- as duas coisas são importantes no empreendedo-
vadores! A rotina de altos e baixos deve, também, rismo. Não se pode elevar o que vai bem e enterrar
ser entendida como normal. Inovação é governada o que vai mal.
pela probabilidade, não pela perfeição. Uma rede de
apoio vai te ajudar nos momentos desafiadores.
“Quem nunca cometeu um erro, nunca tentou algo
novo” (atribuído a A. Einsten).

57
7. PLANO DE
OCUPAÇÃO
58
Assim como toda construção do modelo de gestão, o Plano de Ocupação dos Centros, ou seja, os instru-
mentos, serviços, organizações que serão instalados no prédio, devem ser definidos a partir de mapeamento
e análise acurada das necessidades mais relevantes do ecossistema regional. Os Comitês de Implantação
dos Centros estão livres para planejar a melhor forma de uso do edifício, desde que eles mantenham-se es-
tritamente dentro das competências definidas na missão geral dos Centros12 e explicitadas pelas 10 Funções
apresentadas aqui.

Assim, esta etapa, levando em conta todas as decisões tomadas para o Modelo de Negócios, o Planejamento
Estratégico e as Funções priorizadas, devem guiar a forma de ocupação do espaço.

No entanto, o Governo do Estado, a partir de extenso benchmarking e experimentações e, ainda, baseado


nos detalhes funcionais do projeto arquitetônico, traçou Plano de Ocupação de referência para os prédios
de 4 e para os prédios de 6 pavimentos, que devem ser detalhados pormenorizadamente por cada Comitê
de Implantação.

Alinhando o modelo de negócios, planejamento estratégico, funções e sub-funções do Centro de Inovação,


lembrando que cada região deve adaptar de acordo com suas especificidades e com base nos estudos e
definições até aqui sugeridos, segue uma sugestão de um plano de ocupação de referência por pavimento
para cada modelo de edificação:

12 - “Criar cultura inovadora e empreendedora, ativar o ecossistema de inovação, gerar e escalar


negócios inovadores com alto potencial de crescimento para transformar a economia da região.”

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Prédio de Quatro Pavimentos

Fonte: Projeto Arquitetônico Centro de Inovação - SDE/SC.

60
Prédio de Seis Pavimentos

Fonte: Projeto Arquitetônico Centro de Inovação - SDE/SC.

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62
PLANO DE OCUPAÇÃO
DO CENTRO DE INOVAÇÃO
MODELO DE PRÉDIO
DE 6 PAVIMENTOS
63
Plano de Ocupação: Plano de Ocupação:
prédio 4 pavimentos prédio 6 pavimentos

Térreo: Térreo:
• Recepção; • Recepção;
• Autoatendimento; • Autoatendimento;
• Show Room; • Show Room;
• Auditório; • Auditório;
• Espaço de Convivência; • Espaço de Convivência;
• Café/Restaurante; • Café/Restaurante;
• Apoio Bancário/Vending Machine; • Apoio Bancário/Vending Machine;
• Outros. • Outros.

Mezanino:
Mezanino:
• Administrativo (Gestão das Funções do Centro);
• Administrativo (Gestão das Funções do Centro);
• Salas de Reunião e Treinamento (Programas de
• Salas de Reunião e Treinamento (Programas de
Open Innovation, Aceleração, Formação, Orienta-
Open Innovation, Aceleração, Formação, Orien-
ção etc.);
tação etc.);
• Sala(s) para parceiros e instituições de apoio;
• Sala(s) para parceiros e instituições de apoio;
• Escritório de projetos, Propriedade Intelectual e
• Escritório de projetos, Propriedade Intelectual e
Transferência Tecnológica.
Transferência Tecnológica.

1º, 2º e 3º Pavimento
1º Pavimento
(Combinação, conjungação das modalidades indicadas
• Pré-incubadora;
abaixo de forma flexível e adaptada aos estudos, de-
• Incubadora de projetos; manda e característica das regiões):
• Incubadora de empresas; • Coworking;
• Aceleradora (um programa de aceleração • Pré-incubadora;
pode ou não implicar em cessão de espaço • Incubadora de projetos;
físico, podendo consistir somente de capacita- • Incubadora de empresas;
ções, treinamentos, suporte e mentoria no Cen- • Aceleradora (um programa de aceleração pode ou
tro, ocupando as salas de reunião e treinamento não implicar em cessão de espaço físico, podendo
pontualmente); consistir somente de capacitações, treinamentos,

• Laboratórios, Núcleos de Inovação P&D e De- suporte e mentoria no Centro, ocupando as salas
de reunião e treinamento pontualmente);
sign;
• Laboratórios, Núcleos de Inovação P&D e Design;
• Spin Offs de grandes empresas;
• Spin Offs de grandes empresas;
• Empresas com projetos de inovação.
• Empresas com projetos de inovação.

Ático Ático
• Espaço Multiuso e/ou Coworking; • Espaço Multiuso e/ou Coworking;
• Área para Eventos; • Área para Eventos;
• Espaço para Coffee break; • Espaço para Coffee break;
• Terraço/Deck. • Terraço/Deck.
8 . GOVERNANÇA personalidade jurídica reconhecida como Organi-
zação Social, pode-se citar o Sergipe Parque Tec-
E ASPECTOS JURÍDICOS nológico, de Aracaju; o Parque Tecnológico de
Botucatu-SP; o Porto Digital, de Recife; o Parque
Com exceção das cidades de Joinville, Florianópo- Tecnológico de São José dos Campos-SP, dentre
lis, Criciúma e Rio do Sul, onde os Centros implan- outros. Esses parques se apresentam como iniciati-
tados são fruto de parceria com o setor privado, vas dos municípios, de modo que sua estruturação
os Centros de Inovação são bens imóveis públicos. se assemelha ao que se pretende com os Centros
de Inovação, os quais estão inseridos, em sua maio-
Em todos os casos, o Centro deve se organizar para ria, nas competências dos municípios.
atuação regional e comprometer-se com o traba-
lho em rede junto aos demais Centros. As Organizações Sociais são pessoas jurídicas de
direito privado, sem finalidade lucrativa, criadas
A escolha da entidade gestora ficará a cargo do para prestar serviços sociais não privativos do Po-
Conselho de Administração do Centro de Inova- der Público, mas por ele incentivadas e fiscalizadas.
ção, sendo tal conselho composto por represen- Dentro do que dispõe a Lei, tais entidades neces-
tantes de cada hélice. sitam ser reconhecidas formalmente pelo poder
público como “OS”, e sua qualificação se dá após
Caberá ao Conselho de Administração verificar se o ajuste de um contrato de gestão, o qual estabe-
a entidade selecionada preenche os requisitos ne- lece o vínculo entre a organização social e o poder
cessários para a gestão do Centro de Inovação, os público, bem como as formas de recebimento de
quais serão pautados pela legislação pertinente. incentivos federais e estaduais. No Estado de Santa
Catarina, as Organizações Sociais são regidas pela
O Guia apresenta detalhadamente as seguintes Lei nº 12.929/2004 que, alterada pela Lei 13.720.
alternativas jurídicas para a gestão do Centro. São
elas: Cabe, no entanto, ao Comitê de Implantação do
Centro de Inovação estudar com o poder público
• AUTARQUIA local a forma melhor de operar o espaço conside-
• FUNDAÇÃO PÚBLICA rando as especificidades e, sobretudo, a viabilidade
• ASSOCIAÇÃO e eficiência de suas atividades.
• FUNDAÇÃO PRIVADA
• SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA A estrutura do Centro de Inovação comportará as
• ORGANIZAÇÃO SOCIAL seguintes figuras: Conselho de Administração, Con-
• ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL selho Fiscal e Conselho Consultivo.
DE INTERESSE PÚBLICO – OSCIP
É importante dizer que caberá ao Conselho de Ad-
Dentro das figuras previstas no ordenamento jurídi- ministração ser o órgão deliberativo máximo da
co, o modelo de Organização Social se apresenta organização institucional que consagra o Centro
como uma escolha bastante atrativa, uma vez que de Inovação local, sendo sua competência verificar
confere maior flexibilidade aos repasses de recur- permanentemente se a entidade selecionada con-
sos públicos para o desenvolvimento das atividades tinua preenchendo os requisitos necessários para a
da entidade gestora. Esse tipo de estrutura ainda gestão do Centro de Inovação, de acordo com o
parece ser o mais adequado para um ambiente de estabelecido pela legislação estadual e apresentan-
iniciativa pública em que a cultura do empreende- do os resultados pactuados.
dorismo e inovação não esteja madura o suficiente.
Atualmente, dentre os ambientes de inovação com

65
Composição sugerida para
o Conselho de Administração do Centro:
Quadro 3: Composição do Conselho de Administração dos Centros de Inovação

• 2 vagas Universidades

Instituições de • 1 vaga Educação Pública


Ensino e Pesquisa
• 1 vaga Ensino Técnico

• 1 vaga Prefeitura

• 1 vaga Agência de Desenvolvimento Local


vGoverno e Sociedade
• 1 vaga Associação de Municípios

• 1 vaga Sociedade Civil

• 3 vagas Representantes setor empresarial


Empresas
• 1 vaga Habitat de Inovação referência na região

Fonte: Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável, 2016.

As figuras básicas da estrutura organizacional do Centro, são sintetizadas abaixo.

Fig. 12: Estrutura Organizacional do Centro de Inovação

ARRANJO INSTITUCIONAL DO CENTRO DE INOVAÇÂO


GOVERNOS UNIVERSIDADES

CONSELHO DE EMPRESARIAL
- CONSTITUIÇÃO TRIPARITE
ADMINISTRAÇÂO
CONSELHO DE - MANDATO REPRESENTATIVO
ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICO TECNOLÓGICO
CONSELHO CONSELHO
- TRABALHO VOLUNTÁRIO FICAL CONSULTIVO
AMBIENTAL
EMPRESAS - POLÍTICA DE ESTADO

- NATUREZA DELIBERATIVO SOCIAL CULTURAL

DIRETO ENTIDADE GESTORA


- DIRETOR EXECUTIVO EXECUTIVO
DIRETOR
EXECUTIVO - CONTRATO POR OBJETIVOS

- TRABALHO REMUNERADO
GERÊNCIAS
POR ÁREAS - FOCO NO RESULTADO
GESTOR DE ASSESSOR ASSESSOR
- NATUREZA EXECUTIVA NEGÓCIOS FINANCEIRO JURÍDICO

Fonte: Secretaria do Desenvolvimento Econômico Sustentável/SC, 2014.

66
8.1 QUAL A DIFERENÇA ENTRE O COMITÊ
DE IMPLANTAÇÃO E O CONSELHO DE
ADMINISTRAÇÃO?
O Comitê de Implantação é o grupo de trabalho DOCUMENTOS REGULATÓRIOS
cuja função é colocar o Centro em funcionamento O Guia (Livro II ANEXOS) traz aos gestores locais
(a partir da união das forças regionais). Não é defi- modelos de minuta para grande parte dos docu-
nido por lei. É formalizado perante o Governo do mentos e editais que o Comitê de Implantação pre-
Estado a partir da ata e ofícios das entidades envia- cisará elaborar. São eles:
dos à SDE/DCTI, conforme indicado na Cartilha do
Comitê de Implantação disposta no cap. 11 do Livro • Estatuto Social
2 do Guia completo. • Regimento Interno do Centro
• Edital de Pré-incubação
O Conselho de Administração é uma instância de- • Edital de Incubação
cisória formal que deve estar previsto no estatuto e • Edital de Incubação Virtual
na lei municipal que cria o Centro de Inovação. Ele • Edital de Programa de Aceleração
passa a valer assim que o Centro entra em opera- • Edital para Seleção de Projetos de P&D
ção. (de empresas estabelidas)
• Edital para Programa de Projetos Inovadores
Os nomes indicados para o Conselho de Adminis- • Contrato de Empreendimentos
tração podem, ou não, ser os mesmos do Comitê. instalados nos Centros
Mas, a transição não é automática. • Contrato de Empreendimentos de Pré-incubadora
• Contrato dos Empreendimentos da Incubadora
• Contrato dos Empreendimentos da Aceleradora
• Contrato das Empresas com P&D
• Contrato das Empresas com Projetos Inovadores
• Contrato de Locação dos Espaços
do Centro de Inovação
• Contrato de Arrecadação de Recursos
de Patrocinadores
68
69
70
A vida segue, mas certas verdades sempre

permanecerão. Inovadores e empreendedores

sabem disso intuitivamente. Apertos de mão

valem mais que contratos. Altruísmo é mais

eficiente que egoísmo. E coisas bobas como

confiança, sonhos e amor...

elas realmente movem o mundo.

(Victor W. Hwang, 2016 em Farewell, Silicon Valley)

71
REDE CATARINENSE
DE CENTROS DE

INOVAÇÃO

APOIO

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