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Peso: 154g
Neurônios: 69 bi CEREBELO
Outras células: 16 bi
anatomia

antropologia

Recontagem de neurônios põe em xeque ideias da neurociência


texto Ricardo Zorzetto fotos Leo Ramos

N
a tarde da quarta-feira 11 de janeiro, (ICB) da UFRJ é uma versão turbinada de um
os pesquisadores Frederico Casarsa de fracionador bem mais simples – um tubo e um
Azevedo e Carlos Humberto Moraes pistão, ambos de vidro, acionados manualmente
executavam uma tarefa pouco comum – que Lent e a neurocientista Suzana Herculano-
para neurocientistas. Cobriam uma -Houzel usam desde 2004 para desmanchar pe-
estante de alvenaria com cartolina branca, para daços de cérebro e contar suas células. Criada
esconder a janela ao fundo, limpavam uma mesa por eles próprios, essa técnica vem permitindo
de granito e removiam recipientes de vidro, pipetas conhecer com mais precisão algo que já se ima-
e reagentes para uma bancada ao lado, já ocupada ginava sabido: quantos neurônios existem no cé-
por mais vidros, pipetas e reagentes. Eles prepara- rebro e nos outros órgãos do encéfalo, que ficam
vam o laboratório chefiado pelo médico Roberto abrigados no crânio.
Lent na Universidade Federal do Rio de Janeiro Hoje se sabe, em parte graças ao trabalho do
(UFRJ) para uma sessão de fotos e filmagens. De- grupo do Rio, que há 86 bilhões de neurônios no
sejavam registrar em detalhes o funcionamento cérebro humano, e não os 100 bilhões de que se fisiologia
de uma máquina que começaram a criar sete anos falava anos atrás. Também se pode afirmar com
antes e que agora ficou pronta: o fracionador celu- mais segurança que esses neurônios estão acom-
lar automático, que eles pretendem patentear. E o panhados de 85 bilhões de células da glia, o outro
cenário não podia atrapalhar. tipo de célula que compõe o cérebro. Um número
O equipamento de nome complicado e quase um bem inferior ao trilhão anunciado antes.
metro de altura é uma espécie de triturador tama- Não são apenas detalhes. Verificar com mais
nho família. Tem motores elétricos que fazem girar exatidão quantas são e onde estão as células ce-
a 400 voltas por minuto seis pistões plásticos presos rebrais é importante para compreender como o
a uma base móvel. Cada pistão funciona mergulha- cérebro funciona e tentar conhecer as estratégias
do em um recipiente de vidro contendo amostras adotadas pela natureza para construir um órgão
de tecido cerebral banhadas em uma solução com tão complexo que, no caso humano, permitiu sur-
detergente. Uma vez acionado o fracionador, seus gir a mente autoconsciente. Também pode ajudar
pistões agitam o líquido incolor criando turbilhões a identificar características que distinguem um neurologia
que desfazem as amostras. Duas horas mais tarde, cérebro normal de outro doente.
pedaços de tecido cerebral estão dissolvidos em Mas olhar só para o número de células não é
uma mistura leitosa. É o que os pesquisadores ape- suficiente para desvendar um dos mais intrigan-
lidaram carinhosamente de suco de cérebro. tes e fascinantes órgãos do corpo. Hoje a neuro-
A máquina em teste no Laboratório de Neuro- ciência considera o cérebro bem mais que uma
plasticidade do Instituto de Ciências Biomédicas coleção de neurônios, células que se comunicam

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do até por quem não é especialista, esse número
Fracionador turbinado: circula em artigos científicos e livros didáticos
transforma pedaços de há quase 30 anos. O próprio Lent tem um livro,
cérebro em uma sopa
de núcleos de neurônios
publicado em 2001 e adotado em cursos de gra-
duação, com o título Cem bilhões de neurônios.

a origem
Esse livro, a propósito, está de certo modo na ori-
gem das dúvidas que motivaram os pesquisadores
da UFRJ a investigar quantas células há no cére-
bro. Pouco antes de seu lançamento, Suzana havia
iniciado um estudo para avaliar o conhecimento
de estudantes de ensino médio e universitário
sobre neurociência. Uma das 95 afirmações que
eles tinham de dizer se estava certa ou errada
era: usamos apenas 10% do cérebro.
Quase 60% dos 2,2 mil entrevistados respon-
deram que, sim, estava correta. Essa afirmação
– incorreta, pois usamos todo o cérebro o tempo
todo – decorre de outra, apresentada em 1979 pelo
neurobiólogo canadense David Hubel, que rece-
beu o Nobel de Medicina ou Fisiologia em 1981.
Hubel afirmava haver no cérebro 100 bilhões de
neurônios e 1 trilhão de células da glia. Repetida
em outras publicações, a informação se dissemi-
nou. Como os neurônios são as unidades proces-
sadoras de informação – e representariam só um
décimo das células cerebrais –, concluiu-se que os
por meio de eletricidade. Tão ou mais importante outros 90% do cérebro não seriam usados quando
quanto o total de neurônios são as conexões efe- se caminha, planeja uma viagem ou dorme.
tivas que eles estabelecem entre si, criando redes 1º dogma O resultado incomodou Suzana, que buscou
que processam a informação de forma distribuída, na literatura científica a fonte original desses
segundo o neuroanatomista italiano Alessandro Há 100 bilhões números e não encontrou. Ela, que havia colabo-
Vercelli, da Universidade de Turim. “O número, o rado para o livro de Lent, levou a dúvida para ele:
padrão e a qualidade dessas conexões variam no
de neurônios “Como você sabe que são 100 bilhões de neurô-
espaço e no tempo”, conta Martín Cammarota, no cérebro nios?”. Ao que Lent respondeu: “Ora, todo mundo
neurocientista da Pontifícia Universidade Cató- sabe, todo livro diz isso”. Muitos artigos e livros
lica do Rio Grande do Sul, que estuda a formação
humano traziam a informação. Mas não diziam de onde
e a evocação das memórias. “Ter mais neurônios a haviam extraído. “Eram dados aparentemente
ou menos neurônios não necessariamente torna intuitivos que se consolidaram e as pessoas cita-
um indivíduo mais inteligente que outro ou uma vam sem pensar muito”, comenta Lent.
espécie mais inteligente que outra”, diz. Um dos motivos pelo qual não se encontram
Apesar dessas considerações, os resultados facilmente esses números é que não é simples
que Suzana e Lent colecionam desde 2005 os contar as células cerebrais. Além de ser um órgão
levaram a questionar algumas ideias tidas como grande – o cérebro humano tem cerca de 1.200
verdades absolutas a respeito da composição e gramas e o encéfalo, 1.500 –, sua arquitetura é
da estrutura do cérebro. No ano passado, Lent complexa. Áreas distintas contêm concentrações
considerou que os dados gerados pelo seu grupo variadas de células e a técnica então disponível
e o de Suzana já eram consistentes o suficiente para contá-las, a estereologia, só funciona bem
para serem consolidados em uma crítica mais di- para regiões pequenas, com distribuição celular
reta. Com três pesquisadores de seu laboratório, homogênea. Sua aplicação na contagem das célu-
ele escreveu a revisão publicada em janeiro no las cerebrais gerava estimativas pouco confiáveis,
European Journal of Neuroscience na qual afirma que variavam até 10 vezes para algumas regiões
que ao menos quatro conceitos básicos da neu- e deixavam o cérebro humano com algo entre 75
rociência precisam ser repensados. bilhões e 125 bilhões de neurônios.
O primeiro dogma discutido no artigo é o de À época recém-contratada pela UFRJ, Suzana
que o cérebro humano e o restante do encéfalo contou a Lent que tinha uma ideia “ousada e meio
têm, juntos, 100 bilhões de neurônios. Conheci- maluca” de como contar neurônios, mas não tinha
laboratório. E ele a convidou para trabalharem

20 | fevereiro DE 2012
juntos. A proposta de Suzana era simples: tornar Era assim nos ratos. Mas e nas outras espécies?
homogêneas as regiões cerebrais antes de contar Suzana em seguida analisou o cérebro de outros
suas células. Como? Desmanchando as células. cinco roedores (camundongo, hâmster, cobaia,
A principal razão da heterogeneidade do en- paca e capivara). Como já se sabia, quanto maior
céfalo é que as células e o espaço que as separam o animal, maior o cérebro e o número de neu-
variam de tamanho. Ao dissolver as células, a rônios. O camundongo, com apenas 40 gramas,
questão estaria resolvida, contanto que fosse é o menor deles e tem 71 milhões de neurônios
possível preservar seus núcleos – a porção mais armazenados em um cérebro de 0,4 grama. Qua-
central, que abriga o DNA. Como cada célula se 1,2 mil vezes mais pesada, a capivara tem um
cerebral possui um só núcleo, a conta fica sim- encéfalo 183 vezes maior (76 gramas), mas só 22
ples. A soma dos núcleos daria o total de célu- vezes mais neurônios (1,6 milhão).
las. Corantes que marcam apenas os neurônios
permitiram em seguida distingui-los de outras o cérebro humano
células cerebrais. Sob a orientação de Suzana e Lent, o biólogo
Usando compostos químicos que preservam 2º dogma Frederico Azevedo fez a contagem das células
as estruturas das células, Suzana conseguiu des- em cérebros humanos. Antes, no entanto, teve
truir apenas a membrana externa sem danificar O número de de adaptar a técnica. “O que funcionava para os
o núcleo e, com Lent, descreveu a técnica em roedores não dava certo com humanos”, conta.
2005 no Journal of Neuroscience. “É um método
células da glia Foram meses até descobrir que o problema estava
inteligente, simples e fácil de usar e replicar”, é 10 vezes na maneira de fixar o tecido antes de fracioná-lo.
comenta Vercelli. “Eu me pergunto por que não Quando o cérebro passava tempo demais mergu-
pensei nisso antes.” Na opinião de Zoltan Molnar,
maior que o de lhado em compostos que evitam sua deterioração,
neurocientista da Universidade de Oxford, na neurônios o pesquisador não conseguia corar os neurônios
Inglaterra, foi um avanço importante. “A genô- para depois contá-los ao microscópio. Frederico
mica, a transcriptômica e a proteômica são áreas fracionou à mão as amostras do cérebro de qua-
quantitativas e acuradas que progrediram muito, tro pessoas (com idade entre 50 e 71 anos), cedi-
enquanto nós, anatomistas, permanecemos na dos pelo banco de cérebros da Universidade de
idade das trevas. Não desenvolvemos métodos São Paulo (USP). “Foi nessa época que comecei
que possam medir o número, a densidade e va- a pensar em uma forma de tornar esse trabalho
riações na arquitetura das células”, diz. automático”, diz o biólogo, que faz doutorado no
O primeiro teste foi com cérebros de ratos. Instituto Max Planck, na Alemanha.
O total de células do encéfalo foi 300 milhões, A contagem das células revelou que o cérebro
dos quais 200 milhões eram neurônios. Diferen- humano tem, em média, 86 bilhões de neurônios.
temente do esperado, só 15% deles estavam no Esse número é 14% menor que o estimado antes
cérebro, a parte mais volumosa. A maior parte e próximo ao proposto em 1988 por Karl Herrup,
(70%) se encontrava em um órgão menor na re- da Universidade Rutgers. “Há quem diga que a
gião posterior do crânio: o cerebelo. diferença é pequena, mas discordo”, diz Suzana.

Onde estão os neurônios

massa branca
Peso 294 g
Neurônios 1,3 bi
Outras células 19,9 bi

massa cinzenta
Cérebro
Peso 316 g
Peso 1.230 g
Neurônios 6,2 bi
Neurônios 16 bi
Outras células 8,7 bi
Outras células 61 bi

Demais
regiões Cerebelo total
fonte roberto lent / ufrj

Peso 118 g Peso 154 g Peso 1.508 g


Neurônios 0,7 bi Neurônios 69 bi Neurônios 86 bi
Outras células 7,7 bi Outras células 16 bi Outras células 85 bi

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“Ela corresponde ao cérebro de um babuíno ou a memória e linguagem – é a parte do encéfalo que
meio cérebro de um gorila, um dos primatas evo- mais se agigantou ao longo da evolução. No caso
lutivamente mais próximos dos seres humanos”, humano, tem 1.200 gramas e ocupa mais da me- 3º dogma
explica a neurocientista, chefe do Laboratório de tade do crânio, mas abriga apenas 16 bilhões de
Neuroanatomia Comparada do ICB-UFRJ. neurônios. Já o cerebelo, com seus 150 gramas, O cérebro
Cauteloso, Lent comenta: “Não podemos afir- tem 69 bilhões (ver infográfico na página 21).
mar que esses números são representativos da Como então se explicam tamanhos tão dife-
humano é mais
espécie humana. É provável que sejam represen- rentes para esses órgãos? A resposta é múltipla. complexo que
tativos de adultos maduros.” Ou nem isso, já que Primeiro, o cérebro tem menos neurônios que
foram analisados apenas quatro cérebros. Nos o cerebelo, mas quase quatro vezes mais outros
o de outros
mais jovens também pode ser diferente. “Quem tipos celulares, como as células da glia. Essas primatas
sabe indivíduos na faixa etária dos 20 anos não células, antes consideradas apenas suporte físi-
tenham 100 bilhões de neurônios, que perdem co dos neurônios, desempenham outras funções
com o tempo?”, questiona o pesquisador. Seu gru- essenciais: auxiliam na transmissão dos impul-
po agora estuda o cérebro de pessoas mais jovens sos, nutrem os neurônios e defendem o sistema
e compara cérebros de homens e mulheres. En- nervoso central de microrganismos invasores. E,
quanto não responde essa questão, Lent alterou claro, ocupam espaço. Em segundo lugar, cérebro
o título da segunda edição de seu livro, publicada e cerebelo são formados por tipos diferentes de
em 2010, para Cem bilhões de neurônios?, com um neurônios, que se conectam de modo distinto.
ponto de interrogação no final. Com esse trabalho, o grupo do Rio constatou
também que a evolução não privilegiou só o de-
o cerebelo senvolvimento do cérebro. Entre os mamíferos, a
Assim como nos roedores, a maior parte desses classe de animais a que pertencem os seres huma-
neurônios não está no cérebro, mas no cerebelo. O nos, cérebro e cerebelo ganharam neurônios no
cérebro – mais especificamente o córtex cerebral, mesmo ritmo. Esse resultado, segundo Vercelli,
até pouco tempo atrás considerado o principal corrobora o de pesquisas indicando que o papel
responsável por funções cognitivas como atenção, do cerebelo não se restringe ao controle dos mo-

O cérebro
e as habilidades Homo sapiens
Volume craniano 1.200 cm3
Homo ergaster Neurônios 86 bi
Volume craniano 900 cm3
Homo habilis Neurônios 60 bi
Volume craniano 600 cm3
Ardipithecus
Neurônios 46 bi
ramidus
Volume craniano 300 cm3
Proconsul Neurônios 25 bi
heseloni
Volume craniano 170 cm3
Neurônios 13 bi Terrestre
e bípede.
Caçador-
Terrestre
-coletor,
e bípede.
capaz de
Produzia
Arborícola, construir
ferramentas
Aegyptopithecus terrestre abrigos e
machados
e bípede usar o fogo
zeuxis e clavas
Arborícola
Volume craniano 30 cm3 e bípede
Neurônios 2,5 bi
Arborícola
e quadrúpede

Arborícola
e quadrúpede
fonte roberto lent / ufrj

30 20 a 17 4,4 2,7 a 1,8 a 1,2 0,16


milhões de anos atrás hoje

22 | fevereiro DE 2012
vimentos. Ele é fundamental para o aprendizado, Com base nessa regra e no volume do crânio, Su-
a memória, a aquisição da linguagem e o contro- zana e o neurocientista Jon Kaas, da Universidade
le do comportamento e das emoções. “Cada vez Vanderbilt, nos Estados Unidos, publicaram em
mais se mostra que o cerebelo participa de pro- 2011 na Brain, Behavior and Evolution a estimati-
cessos que antes associávamos apenas ao córtex va do número de células cerebrais de outros nove
cerebral”, comenta Herrup, da Rutgers. hominídeos. Como era de esperar, a espécie que
mais se aproxima da humana (Homo sapiens) em
as estratégias termos de número de neurônios é a dos neandertais
Desde que desenvolveu a técnica, Suzana já a (Homo neanderthalensis), que habitaram de 300 mil
aplicou para estudar o encéfalo de 38 espécies a 30 mil anos atrás a região onde hoje é a Europa.
de mamíferos e verificou que, nos últimos 90 mi- Eles teriam 85 bilhões de neurônios, segundo a es-
lhões de anos, a natureza adotou ao menos duas timativa de Suzana e Kaas. Com auxílio do bioan-
estratégias de construir cérebros. Uma para os tropólogo Walter Neves, da USP, Lent ampliou
roedores e outra para os primatas. a projeção para outras espécies de primatas que
Nos roedores, o aumento no número de neu- integram a superfamília dos hominídeos e calcula
rônios no encéfalo ocorre em escala logarítmica. que os neandertais podem ter tido 100 bilhões de
De modo geral, à medida que o tamanho da es- neurônios (ver infográfico na página 22).
pécie aumenta, o encéfalo se torna maior e o nú- Outro dogma em questão é o de que o total de
mero absoluto de neurônios células da glia supera em 10
também. Mas quanto maior vezes o de neurônios – origem
o roedor, proporcionalmente da ideia de que só se usam 10%
menos neurônios ganha. Já en- do cérebro. “Essa taxa elevada
tre os primatas, que incluem de células da glia era ensinada
macacos e seres humanos, o nos livros didáticos, embora
aumento é linear: o número de O tamanho das experimentos já indicassem
neurônios cresce proporcio- que a proporção era de 1 pa-
nalmente ao volume cerebral. células da glia ra 1”, conta Helen Barbas, da
“Houve uma transição abrupta Universidade de Boston.
entre os mamíferos inferiores,
permaneceu Mais do que o número de
como os roedores, e os supe- constante ao células da glia – são 85 bilhões
riores, como os primatas”, co- nos seres humanos, mais con-
menta Vercelli. Essa mudan- longo da evolução, centradas no cérebro que no ce-
ça, segundo Lent, permitiu ao rebelo –, o que mais surpreen-
cérebro dos primatas agrupar enquanto o dos deu Suzana é o fato de que
mais neurônios num volume elas praticamente não sofre-
menor e acumular mais célu-
neurônios variou ram mudanças morfológicas
las que o dos roedores. até 250 vezes durante a evolução. O tama-
Esse padrão de desenvol- nho delas é quase constante
vimento encefálico dos pri- entre os primatas, enquanto o
matas levou Suzana e Lent a questionarem outra dos neurônios varia 250 vezes. “O funcionamento
ideia em vigor há quase 40 anos: a de que o cére- das células da glia deve estar ajustado de modo
bro humano seria excepcionalmente grande. Em tão fundamental que a natureza eliminou qual-
1973 o paleoneurologista norte-americano Harry quer mudança que tenha surgido”, comenta.
Jerison afirmou que nosso cérebro tinha sete ve- Espera-se que mais resultados instigantes sur-
zes o tamanho esperado para o de um mamífero jam à medida que a técnica brasileira se difun-
de 70 quilos. A neurocientista Lori Marino diria da. “Se for empregada amplamente, ela poderá
mais tarde que ele era grande até mesmo para um simplificar o processo tedioso de contagem de
4º dogma primata. Com 1.500 gramas, o encéfalo humano é células cerebrais”, diz Herrup. Talvez mais horas
o maior de todos os primatas – o gorila, o maior sejam poupadas se a versão turbo do fracionador
Os módulos primata, pesa 200 quilos e tem um encéfalo de for tão eficiente quanto se espera. n
500 gramas. Mas essa ideia parte do princípio de
(agrupamentos que o tamanho do corpo seria um bom indicador
de células) do das dimensões do cérebro. Parece que não é. Artigos científicos
Quando se deixa a massa corporal de lado e
cérebro contêm se analisa o número de células, nota-se que o
1. LENT, R. et al. How many neurons do you have? Some
dogmas of quantitative neuroscience under revision.
o mesmo cérebro humano não foge ao padrão dos prima- European Journal of Neuroscience. v 35 (1). jan. 2012.

tas. “Nosso cérebro tem a quantidade de células 2. HERCULANO-HOUZEL, S.; LENT, R. Isotropic
número de esperada para um primata com esse tamanho”,
fractionator: a simple, rapid method for the quantification of
total cell and neurons in the brain. Jornal of Neuroscience.
neurônios afirma Suzana. v. 25(10), p. 2.518-21. 9 mar. 2005.

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