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Preparo químico-mecânico: técnicas utilizadas

A eficiência do PQM fica na dependência da anatomia do dente a ser preparado. Dessa forma, nenhuma técnica de
instrumentação entrega uma total desinfecção e perfeita modelagem do canal, cabendo ao clínico empregar as melhores
alternativas e adaptações necessárias.

Breve histórico do desenvolvimento de técnicas de instrumentação na endodontia:

1. 1953: Auerbach → versa sobre o uso de substâncias antimicrobianas na irrigação dos canais radiculares
2. 1963: Hauer → Técnica Seriada
3. 1969: Clem → Técnica Escalonada (ápice-coroa)
4. 1978: Marshall & Pappin → Técnica de Oregon
5. 1983: Leeb → O terço cervical apresenta as maiores constrições do canal radicular. Início dos procedimentos de
preparo cervical.
6. 1988: Walia → preconizava a introdução da liga de Níquel e titânio na produção de instrumentos endodônticos

O conceito de técnica de instrumentação segmentada é tido como toda técnica que realiza o preparo do canal por terços.
Dessa forma, dois grupos de técnicas surgem:

1. Técnicas ápice x coroa: quando se começa a instrumentação pelo ápice, depois o terço médio e por último, o
terço cervical (coronário)
2. Técnicas coroa x ápice: a instrumentação se inicia pelo terço cervical terminando no terço apical

Alguns instrumentos devem ser mantidos em mente para a instrumentação:

1. Instrumento Apical Inicial (IAI): aquele instrumento que primeiro atinge o CRT e fica ligeiramente justo nesse
comprimento. É também o instrumento que inicia a construção e modelagem do batente apical (que será
terminado por 2-3 instrumentos + instrumento memória)
2. Instrumento Apical Foraminal (IAF): instrumento de pequeno calibre (Lima K #10 ou K#15) responsável por
manter patente o canal cementário
3. Instrumento Memória (IM): último instrumento a trabalhar no CRT. Não realiza movimentos de limagem para
que não haja danos ao batente apical. Por ser o último a trabalhAR no CRT, seu diâmetro total ditará o diâmetro
do canal cirúrgico e o diâmetro do cone obturador a ser utilizado no elemento dentário.

Obs.: nem todas as técnicas apresentam os três instrumentos.

TÉCNICA SERIADA (HAUER, 1963)

A técnica seriada consistia na ampliação do canal radicular por meio do uso de instrumentos de aço inoxidável. Após a
cirurgia de acesso e as manobras de exploração e odontometria, uma lima K#10 era posicionada no CRT, realizando
movimentos de alargamento e limagem. A partir dela, o diâmetro das limas era aumentado, mas se mantendo no CRT,
ou seja, após a K#10, as limas K#15, K#20, K#25, K#30, etc., eram utilizadas na mesma cinemática de movimento.

A técnica precisou ser repensada uma vez que não havia parâmetros clínicos para que houvesse um limite de
instrumentação, fazendo que o último instrumento utilizado no alargamento do canal fosse apenas uma escolha do
operador.

Desvantagens da técnica:

- O grande aumento de diâmetro dos instrumentos nos terços apicais favorecia uma grande perda de estrutura
dentária, fragilizando o elemento dentário
- O aumento do diâmetro em instrumentos de aço inoxidável prejudica sua flexibilidade, favorecendo a formação
de desvios (zip), degraus e perfurações
- Não havia a construção do batente apical, responsável por ancorar o cone de material obturador
- Dentes curvos não poderiam ser trabalhados pela técnica.

Obs.: o conceito de instrumentação segmentada não se aplica aqui, uma vez que todos os instrumentos trabalham no
CRT diretamente, e não por terços.
TÉCNICA ESCALONADA (CLEM, 1969) → técnica ápice-coroa

Também chamada de step-back ou telescópica, a técnica buscava reparar os problemas da técnica anterior buscando
fazer o aumento de diâmetro dos instrumentos se afastando do CRT.

Passo a passo da técnica:

1. Determinação do CRT. Tomemos como exemplo um CRT de 20mm

2. Uso de uma Lima K#10 no CRT com movimentos de alargamento e limagem alternados

3. A lima é retirada e o canal é irrigado. O mesmo procedimento é adotado para as limas K#15, K#20 e encerra-
se com a lima K#25. Por ter sido a última lima que trabalhou no CRT, essa será o Instrumento Memória (IM)

O preparo apical até a lima de número 25 permite maior segurança para se evitar o desvio apical. A partir desse
número, a ocorrência do desvio apical aumenta consideravelmente em canais curvos, de acordo com
Barrientos et al (1985); Eldeeb e Boraas (1985); Weine (1989); Gutmann et al (1988); Figueiredo (1990).
CARVALHO et al (2004)

4. A partir de agora, será feito um distanciamento do CRT buscando uma maior segurança. Portanto, a próxima
lima (K#30) trabalhará em 19mm!

5. Recapitulação: uso da lima K#25 no CRT. A recapitulação é feita sempre que for realizada a troca de uma
lima por uma de maior diâmetro. Objetivo: manter o canal sempre desobstruído.

6. Próximo instrumento: Lima K#35 em 18mm

7. Recapitulação: uso da lima K#25 no CRT

8. Lima K#40 em 17mm

9. Aumenta-se cerca de 3 a 4 instrumentos

Desenho esquemático da técnica:


Desvantagens da técnica:

- Canais curvos ainda permaneciam como um desafio


- Inicialmente a técnica era realizada sem parâmetros clínicos, fazendo com que o aumento seriado do diâmetro
das limas se seguisse sem limites

As técnicas de instrumentação ápice-coroa passaram a ser questionadas pelos profissionais da endodontia. A


instrumentação de um canal radicular infectado que se inicia pelo ápice aumenta os riscos de deslocamento bacteriano
dos terços cervical e coronário para o terço apical, que já é uma zona de difícil acesso. Outro fator importante são os
estudos do autor Leeb (década de 80) que afirmavam que o terço cervical seria a área onde havia a maior constrição em
todo o canal, o que poderia impedir a boa instrumentação, fazendo com que o terço apical fosse sub-instrumentado.

TÉCNICA DE OREGON TRADICIONAL (MARSHALL & PAPPIN, década de


80) → técnica coroa-ápice
Visando uma melhor instrumentação dos canais, a técnica adota um preparo que se inicia pela coroa e termina no ápice
e já agrega os conhecimentos de Leeb (desgaste da constrição cervical = preparo cervical)

Passo a passo da técnica:

1. Acesso, exploração e odontometria de um dente com canal amplo e reto


2. Uso de uma lima de grande calibre (Lima K#80) realizando movimentos de alargamento e limagem alternados,
sem pressão apical - você perceberá que essa lima trabalha apenas no terço cervical
3. Irrigação e uso de uma lima imediatamente menor (Lima #70) realizando os mesmos movimentos
4. Irrigação e uso de uma lima imediatamente menor (Lima #60) realizando os mesmos movimentos
5. (...) Realizando a troca de limas sempre por uma de menor calibre, teremos o Instrumento Apical Inicial (IAI), que
será a primeira lima que trabalha em todo o CRT do dente escolhido
6. Após a descoberta do IAI, será selecionado um Instrumento Apical Foraminal (IAF) - instrumento de pequeno
diâmetro (#10, por exemplo),e é responsável por manter a patência do canal cementário. Para tal, ele deverá
ultrapassar o CRT em 1mm (CRT+1mm)
7. Escolhidos esses instrumentos, iniciaremos o aumento gradual do diâmetro das limas.
Exemplo: IAI → Lima K#25 e IAF → Lima K#10
Próximo instrumento → Lima K#30 → deverá trabalhar no CRT
8. Após o uso da lima K#30, utilizaremos o IAF buscando manter o canal patente. Somente após seu uso,
seguiremos para uma lima de maior calibre (Lima K#35)
9. O aumento seriado dos diâmetros se encerra em 2-3 instrumentos após o o IAI, sendo necessária a observação
de dentina sadia na ponta do instrumento.

LEEB (1983) em seus estudos, descobriu que o terço que mais apresenta constrições do canal radicular seria o
terço cervical, impedindo a boa instrumentação do terço apical. Dessa forma, foi criada uma alteração na
Técnica de Oregon, adicionando-se o preparo cervical com alargadores Gattes-Glidden, sendo essa a
modificação encontrada na Técnica de Oregon Modificada.

No final da década de 80, começaram a aparecer os primeiros instrumentos de Ni-Ti no mercado, o que
causou uma grande revolução na endodontia. Até então, as técnicas de preparo químico-mecânico ainda não
conseguiam instrumentar de maneira segura e satisfatória os canais curvos.
Técnicas de Instrumentação e instrumentos de Ni-Ti:
Sistema SMF e Limas M
O sistema SMF é composto por instrumentos manuais em níquel-titânio, semelhante ao sistema
Protaper, mas com algumas características diferentes. As limas SMF e M possuem o Efeito Memória
de Forma (EMF), garantido pelo tratamento térmico que recebem, permitindo que os instrumentos
se recuperem de grandes deformações quando submetidas a um novo tratamento térmico (Ex:
aquecimento). Enquanto que o tratamento térmico pelo qual as limas Protaper passam confere ao
sistema a propriedade da Super Elasticidade que pode provocar uma leve deformação em canais
com dupla curvatura ou curvaturas acentuadas, já que esta propriedade mecânica induz
constantemente o retorno do instrumento para sua posição original, gerando um força em direção às
paredes do canal.

Indicação: instrumentação de canais curvos, por preservarem a anatomia original do canal através
da EMF.

Cinemática dos instrumentos manuais de Ni-Ti: giro contínuo à direita (horário) até travar,
destravar à esquerda e completar o giro em sentido horário. Esses instrumentos suportam uma leve
pressão apical, que deve ser aplicada durante o movimento de giro contínuo. → Resistência à
fratura por torção.

● Orifice Shaper (Sistema SMF)


➔ Instrumento empregado para o preparo do terço cervical e médio do
canal;
➔ Objetivo: ampliar o orifício de entrada dos canais (preparo cervical);
➔ Diâmetro da ponta: 0,17
➔ Conicidade do instrumento: 0,08
➔ Comprimento do instrumento: 19mm
➔ “Free Tip Preparation”: Princípio de instrumentação com a ponta livre.
Esse instrumento apresenta a ponta bem mais fina, para que sejam
trabalhados apenas o terço cervical e médio do canal. Por isso, não devem
ser observadas raspas de dentina na ponta no instrumento, pois a pressão na
ponta poderia levá-lo à fratura.
➔ Empregado no CRI (Comprimento Real do Instrumento)

● Limas SMF para preparo apical


➔ Apresentam conicidade constante de 0,04;
➔ Comprimento do instrumento: 25mm;
➔ Destinados ao preparo do terço apical do canal;
➔ Confecção do batente apical (limite vertical de instrumentação);
➔ Observar a presença de raspas de dentina sadias na ponta da lima para determinar o
Instrumento Memória (IM).
➔ Segue a norma ISO no quesito cor das limas e diâmetro inicial (branco, amarelo, vermelho,
azul, verde…), mas apresentam conicidade superior (0,04).
➔ Branco: 15/04; Amarelo: 20/04; Vermelho: 25/04; Azul: 30/04; Verde: 35/04.

● Lima M (Fabricante Easy)

➔ Limas utilizadas para complementar a instrumentação do Sistema


SMF, quando há a necessidade de utilização de um instrumento com
diâmetro maior que #35.
➔ Cinemática: giro contínuo no sentido horário até travar, destravar
no sentido anti-horário e seguir com o giro no sentido horário.
➔ Diâmetro e conicidade: 40/05 e 50/03
➔ Observação: as limas M possuem outros diâmetros e conicidades
disponíveis. Em caso de necessidade de instrumentação maior que o
diâmetro #50, pode-se utilizar esses outros instrumentos manuais com
diâmetro maior.

*Diâmetros e conicidades disponíveis das Limas M.


Técnica de instrumentação com o Sistema SMF e Limas M

1. Irrigação do canal com hipoclorito


2. Exploração inicial com lima C-pilot #8/#10/#15
3. Modelagem inicial com a lima 15/04 e a Orifice Shaper até o CRI
4. Odontometria
5. Verificar a patência
6. Lima 15/04 até o CRT
7. Irrigação com NaOCl entre cada instrumento
8. Lima 20/04 até o CRT
9. Patência foraminal
10. Lima 30/04 até o CRT
11. Obtenção do Instrumento Memória (35/04, 40/05 ou 50/03, até o CRT)
12. Patência foraminal

OBS¹: O canal deve ser irrigado a cada troca de instrumento.

OBS²: A cada retirada de instrumento, o mesmo deve ser limpo com gaze estéril embebida em
hipoclorito de sódio antes de retornar para o canal ou adentrar outro canal do dente.
Protaper Universal
Instrumentos manuais de Ni-Ti utilizados com a finalidade de preservar a anatomia
original de canais curvos. Eles apresentam ponta cônica circular com extremidade truncada
arredondada, seção transversal triangular, ângulo de ataque negativo, curva de transição da
ponta para a haste de corte e pouca profundidade no canal helicoidal.

● Shaping files
○ Sx, S1, S2
○ Instrumentos modeladores que vão trabalhar no terço cervical e médio do canal
○ Princípio da ponta livre “Free tip preparation”: as pontas são bem mais finas que
o restante do instrumento e o objetivo é fazer com que os instrumentais shaping
trabalhem apenas no terço médio e cervical, deixando a ponta livre de atuação.

OBS: Caso sejam observadas raspas de dentina na ponta desses instrumentos,


significa que estes estão atuando no terço apical, o que pode provocar uma fratura
já que eles não foram fabricados para tal finalidade.

● Finishing files
○ F1, F2, F3, F4, F5
○ Instrumentos de Acabamento que vão atuar no terço apical modelando e
limpando, mas sem alterar a anatomia (instrumento Ni-Ti).
○ Conicidade constante nos 3 primeiros mm: do D1 até o D3 o instrumento
vai aumentar seu diâmetro em um valor constante. Ex: Lima F1 apresenta
uma conicidade constante de 0,07 mm/mm. Como seu D0 = 0,20mm,
logo D1 = 0,27 mm; D2 = 0,34 mm; D3 = 0,41 mm.
Conicidade dos Instrumentos Protaper Universal

● Sx
○ D0 = 0,19 mm
○ D16 = 1,19 mm
○ Parte de trabalho = 16 mm
○ Conicidade crescente de 0,035 a 0,19 mm/mm até D9 e a seguir conicidade constante de 0,02
mm/mm.
○ Projetado para modelagem prévia do segmento cervical de canais curtos.
● S1
○ D0 = 0,18 mm
○ D16 = 1,2 mm
○ Parte de trabalho = 16 mm
○ Conicidade crescente de 0,02 (D1) a 0,11 mm/mm (D14) e a seguir constante de 0,11 mm/mm
até D16
○ Projetado para alargar o segmento cervical, assegurando a patência do segmento apical do
canal.
● S2
○ D0 = 0,20 mm
○ D16 = 1,2 mm
○ Parte de trabalho = 16 mm
○ Conicidade crescente de 0,04 (D1) a 0,08 mm/mm (D12) e a seguir conicidade decresce até
D16 para 0,05 mm/mm
○ projetado para alargar o segmento médio do canal e aumentar o volume da região apical com
o objetivo de favorecer a utilização do instrumento F1 em posição mais apical. Nestes
instrumentos o aumento da conicidade é feito de modo mais suave, o que permite uma
transição para os instrumentos de acabamento com menor carregamento (menor esforço).
● F1
○ D0 = 0,20 mm
○ D16 = 1,125 mm
○ Parte de trabalho = 16 mm
○ Conicidade constante de 0,07 mm/mm de D1 a D 3. A partir de D4 até D16, a conicidade reduz
para 0,04 mm/mm.
● F2
○ D0 = 0,20 mm
○ D16 = 1,20 mm
○ Parte de trabalho = 16 mm
○ Conicidade constante de 0,08 de D1 a D3. A partir de D4 até o meio da parte de trabalho, a
conicidade progressivamente é reduzida até 0,04 mm/mm e, na parte final em sentido de D16,
é reduzida para 0,03 mm/mm.
● F3
○ D0 = 0,30
○ D16 = 1,13 mm
○ Parte de trabalho = 16 mm
○ Conicidade constante de 0,09 de D1 a D3. A partir de D4 (conicidade de 0,06mm/mm) até D12,
a conicidade é reduzida para 0,04mm/mm. D13 a D16 constante de 0,03 mm/mm.
● F4
○ D0 = 0,40 mm
○ D16 = 1,14 mm
○ Parte de trabalho = 16 mm
○ Conicidade constante de 0,06 mm/mm de D1 a D3. D4 a D9, conicidade constante de 0,05
mm/mm. D10 a D14, conicidade constante de 0,04 mm/mm. D15 a D16, conicidade constante
de 0,03 mm/mm.
● F5
○ D0 = 0,50 mm
○ D16 = 1,13 mm
○ Parte de trabalho = 16 mm
○ Conicidade constante de 0,05 mm/mm de D1 a D3. Em D4 (conicidade de 0,035 mm/mm). D5
a D9 conicidade constante de 0,04 mm/mm. D10 a D16 conicidade constante de 0,035 mm/mm.

O efeito do “taper” na modelagem do canal


Por apresentar conicidade variada, o instrumento Protaper Universal é capaz de trabalhar em áreas
específicas do canal, reduzindo o efeito de rosqueamento nele, aumentando a conicidade no segmento apical
e permitindo adequada modelagem do canal com poucos instrumento, sem alterar a anatomia original do
mesmo.

Técnica de instrumentação com instrumentos Protaper

1. Irrigação do canal com hipoclorito de sódio


2. Exploração inicial com lima K #10/#15
3. Modelagem inicial do Canal (Sx, S1, S2) até o CRI com movimento de alargamento contínuo,
voltando ¼ de volta no sentido anti-horário caso o instrumento trave e depois continuando a
cinemática no sentido horário.
4. Odontometria com instrumentos flexofile, aumentando o calibre até chegar no instrumento que
fique justo no CRI para cada canal
5. Verificar a patência do canal com o instrumento K #10 inserido até o CRT
6. Modelagem do Canal (S1, S2) até o CRT
7. Acabamento parcial do canal com F1 e F2 até o CRT realizando a cinemática descrita
anteriormente.
8. Patência foraminal com lima K#10
9. Acabamento e obtenção do Instrumento de Memória (IM) com as Protaper F3, F4 e F5. O IM
será aquele instrumento no qual forem observadas raspas de dentina sadias saindo da ponta.
10. Patência foraminal com lima K#10 ou #15

OBS¹: O canal deve ser irrigado a cada troca de instrumento.

OBS²: A cada retirada de instrumento, o mesmo deve ser limpo com gaze estéril embebida em
hipoclorito de sódio antes de retornar para o canal ou adentrar outro canal do dente.
Sistema Reciprocante
Evolução das técnicas de preparo químico-mecânico

A constante evolução dos instrumentos e ligas utilizadas na endodontia entregam uma


série de benefícios ao profissional. Os instrumentos fabricados em Ni-Ti permitem
flexibilidade, reduzem o tempo clínico e respeitam a anatomia original do canal, evitando o
transporte do forame apical (desvio do canal e consequente perfuração). Porém, com a
técnica utilizada até agora (Técnica Protaper), algumas desvantagens estavam presentes,
como o custo, o alto número de fraturas e alguns achados mostrando príons de tecido pulpar
incrustados no instrumento mesmo após os processos de esterilização. O uso único dos
instrumentos tem um valor econômico muito grande, uma vez que um sistema Protaper inteiro
precisaria ser descartado após seu uso.

Yared G (2008), utilizando um instrumento Protaper F2, percebeu que um movimento


alternado iria diminuir as tensões geradas no instrumento (em relação ao movimento de
alargamento contínuo). A partir dessas descobertas, foi desenvolvido o movimento
reciprocante, que se dá com um giro anti-horário de 150º para enroscar o instrumento na
dentina e 30º no sentido oposto para liberar o instrumento.

Vantagens do movimento reciprocante:

- menor tensão e consequente menor risco de fratura por torção


- movimento controlado e passível de ajustes

Desvantagens do movimento reciprocante:

- necessita de um motor específico para ele (custa em torno dos 7 a 10 mil reais)
- evoca maior controle por parte do operador

Buscando reparar os problemas da técnica Protaper e incluir o movimento reciprocante,


os instrumentos reciprocantes são instrumentos mecânicos de Ni-Ti utilizados para realizar o
PQM em canais curvos sem alterar a anatomia original do canal. Foram criados inicialmente
com o objetivo de preparar o canal utilizando apenas um instrumento, para reduzir o número
de instrumentos que pudesse carregar príons.
Características dos instrumentos

1. Fácil
a. preparo do canal com um único instrumento. Hoje já se sabe que, em alguns casos, a
complementação será necessária (reciproc + reciproc ou reciproc + protaper) para
preparar devidamente os canais utilizando esse sistema.
b. fácil de aprender e menor probabilidade de erros
c. fácil escolha do instrumento
2. Eficiente
a. A seção transversal em forma de “S” corta com eficiência graças a seu design especial,
que permite o avanço do instrumento com ligeira pressão
b. O tempo da modelagem do canal é reduzido, permitindo um maior tempo para
desinfecção dos canais
c. Os instrumentos foram fabricados para serem empregados uma vez para permitir uma
adequada eficiência de corte
3. Seguro
a. O movimento reciprocante com seus respectivos ângulos em sentido horário e anti-
horário, permitem um instrumento altamente resistente À fadiga cíclica, reduzindo o
risco de fratura do mesmo
b. Comercializado em blisters esterilizados, reduzindo o risco de contaminação cruzada
4. Flexível
a. O instrumento pode ser pré-curvado para facilitar seu acesso no canal
b. O instrumento acompanha suavemente a anatomia dos canais
c. Menos transporte do canal, devido à flexibilidade da liga blue*

Sistema Reciproc VDW

A família Reciproc possui dois instrumentos principais: Reciproc e Reciproc Blue. O instrumento Blue
seria o mais interessante, pois foi submetido a um tratamento térmico especial onde há a mudança
na estrutura molecular da liga, fazendo com que seja mais resistente à fadiga cíclica e há uma
melhora na flexibilidade.
Dentro do grupo Reciproc, temos três instrumentos disponíveis: o R25 (canais atrésicos), R40 (canais
medianos) e o R50 (para canais amplos). A escolha da lima virá das manobras de exploração do canal.

1. Caso a lima ISO #20 não chegue passivamente ao CRT = R25


2. Caso a lima ISO #30 não chegue passivamente ao CRT mas a #20 chega = R40
3. Caso a lima ISO #30 chegue passivamente ao CRT = R50

O clínico deve estar atento à forma que o instrumento está


trabalhando no canal. A depender da anatomia, o preparo pode
necessitar de complementação com outro instrumento
reciprocante (quando possível) ou com instrumento da série
Protaper (após o R40, a lima F5 poderá ser empregada, por
exemplo).

Passo a passo da técnica:

1. Exploração inicial em CAD-3mm


2. Preparo cervical com instrumento Sx (Protaper)
3. Odontometria e descoberta do CRT
4. Nova exploração até o CRT
5. Instrumento Glide Path - responsável por preparar o canal para receber o movimento reciprocante. Ele
irá causar uma desobstrução inicial, permitindo a entrada do instrumento reciprocante
6. Acopla a Reciproc no motor endodôntico e realiza o movimento de bicada com o instrumento. Após
três bicadas, retire totalmente o instrumento, analise sua ponta e limpe com uma gaze estéril. Caso
tenha alguma deformação plástica, descarte o instrumento. Antes de iniciar o procedimento
novamente, checar a patência do canal (IAF)
7. O ciclo de movimentos de bicada é feito até o instrumento alcançar o CRT, lembrando sempre de fazer
o movimento paralelo ao longo eixo do dente/raiz. Não se realiza movimento de pincelamento.
8. O instrumento memória é obtido ao visualizar raspas de dentina saudável na ponta do instrumento
Técnica de irrigação-ativação (Easy clean)

1. Articular a Easy clean no contra ângulo de baixa rotação

2. Regular a velocidade do contra ângulo em 1/3


3. Inundar o canal com hipoclorito
4. Com a Easy clean dentro do canal, realizar ativação e agitação da substância
a. 3 Ciclos de 20 segundos
b. Movimentos suaves de penetração e retirada (baixa amplitude)
5. Repetir os passos 3 e 4 com o EDTA
6. Irrigação com 3 ml de hipoclorito
7. Irrigação final com 3 ml de soro fisiológico

OBS: A aspiração é realizada ao final de cada ciclo, com cânula adequada ao canal.

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