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Capítulo 1: Características de sensoriamento

Sensores e transdutores desempenham um papel fundamental em diversos ramos de atividade,


destacando-se controle e automação de processos industriais, produtos eletroeletrônicos de
consumo (portáteis ou não), indústria automobilística (desde itens de conforto à segurança),
aplicações em medicina, aeroespaciais, entre muitas outras. De fato, estes dispositivos têm
apresentado inserção crescente em praticamente toda área que envolve tecnologia de ponta.

Mas qual é a diferença entre um sensor e um transdutor? São encontradas várias definições na
literatura sobre transdutores e sensores, não havendo um consenso na comunidade científica
sobre qual definição é a mais adequada e abrangente para descrever o significado destes dois
termos. É comum o leitor se deparar, em um número razoável de publicações, com o uso da
palavra “sensor” como sinônimo de “transdutor”, principalmente em aplicações envolvendo
eletroeletrônica. Nesta apostila, vamos buscar as diferenças entre um e outro partindo da origem
das duas palavras:

- A origem da palavra transdutor vem do latim “tranducere”, com o significado “de converter”.
- A origem da palavra sensor vem também do latim “sensus”, que significa “capaz de ter
sensibilidade”.

Tomando como base a origem das palavras, podemos definir os termos da seguinte forma:

- Transdutores: São dispositivos capazes de converter um tipo de sinal relacionado a algum


fenômeno físico, químico, elétrico, etc. em outro tipo de sinal. Os transdutores mais comuns
aplicados em instrumentação e automação em geral são aqueles que convertem quantidades
físicas (entre outras) em sinais elétricos, como tensão, corrente ou resistência. Transdutores são
utilizados não apenas para detectar uma informação, mas também para dar uma resposta de
natureza elétrica correspondente à variável sob teste;

- Sensores: São os elementos sensitivos (que respondem a algum tipo de estímulo) e que
fazem parte do transdutor.

Exemplos baseados nas definições adotadas:

-Transdutor de pressão: O elemento sensor é o diafragma móvel ou a membrana que


sofrerá alguma deformação por pressão mecânica.
-Transdutor “strain gage” ou extensômetro: O elemento sensor é o fio ou chapa metálica
que sofrerá deflexão ou compressão devido a alguma força mecânica aplicada sobre o
transdutor
1.1 Classificação
Sensores e transdutores podem ser classificados de diversas formas, como por exemplo:
- pela forma de conversão dos sinais (analógica, digital, frequência, etc);
- pelo tipo de transdução (mecânica, térmica, magnética, elétrica, etc, como ilustrado na
Tabela 1.1);
- pelas aplicações (deslocamento, velocidade, força, etc);

-pelo desempenho (exatidão, repetibilidade, linearidade, etc).

Tabela 1: principais tipos de transdução

Neste curso, nos interessam os sensores/transdutores cuja conversão da grandeza de entrada


resulta em um sinal de saída de natureza elétrica (corrente, tensão, resistência, capacitância, etc).
Um tipo de classificação importante no que tange à sensoriamento refere-se à fonte de energia. Os
sensores/transdutores podem ser de dois tipos:
- Ativos: são aqueles que necessitam de uma fonte de energia externa para serem alimentados e
produzem um sinal elétrico como resposta ao sinal de entrada (de excitação). Exemplos:
Termistores, Termoressistencias, Extensômetros, cuja conversão de energia varia sua resistência
elétrica, grandeza esta não detectável sem que o elemento seja polarizado por corrente/tensão;
- Passivos: correspondem àqueles que não necessitam de fonte externa para produzirem um sinal
elétrico como resposta ao sinal de entrada. Exemplos: Termopares, Células Solares, Cristais
Piezelétricos, cuja conversão de energia gera um sinal de tensão/corrente elétrica na saída.
1.2 Características específicas de sensores/transdutores

Para efetuar a conversão de grandezas, sensores/transdutores são inseridos de alguma forma no


meio/elemento a ser mensurado. O sensor/transdutor não pode interferir neste meio, algo que em
termos práticos é apenas uma idealização do dispositivo. Desta forma, a escolha ou
desenvolvimento de um sensor/transdutor parte do princípio que o mesmo deve interferir
minimamente com as variáveis de processo ao monitorá-las. Para se aproximar o máximo possível
do caso ideal, é necessário conhecer e entender as características do dispositivo.

Podemos dividir as principais características de sensores/transdutores em duas categorias:


estáticas e dinâmicas.

1.2.1 Características Estáticas

São características do sensor/transdutor invariantes com o tempo ou frequência. A seguir, são


explanadas as principais:

- Função de transferência (T(ω)): Função matemática que estabelece a relação entre o estímulo
de entrada I e a resposta (sinal de saída) O do transdutor. Tal relação fornecerá a função
(matemática) da sensibilidade de um transdutor. A função de transferência ideal para os
sensores/transdutores é a função linear, devido à facilidade em relacionar os sinais de entrada e
saída, além de simplificar o condicionamento de sinal em um sistema de medição:

O
T=
I
- Sensibilidade (S): Razão entre a intensidade do sinal de saída ou sinal de resposta do
transdutor e o sinal de excitação (sinal de entrada), ou variável sob medição. Matematicamente, a
sensibilidade pode ser expressa como a derivada da função de transferência com relação ao sinal
de entrada (físico) de um sensor:

dO
S=
dI
- Erro de Linearidade: Máxima variação (ou desvio) entre a função de transferência real e a
função de transferência ideal do transdutor. Quanto menor o erro de linearidade (ou maior a
“linearidade”), mais o sensor/transdutor se aproxima do caso ideal:

Dif máx
Linearidad e % = 100.
FE s
Difmáx – distância máxima entre a reta e a curva real;
FEs – fundo de escala da resposta.
- Conformidade (resposta não linear): Máxima variação (ou desvio) entre a função de
transferência real e uma curva de referência ideal do transdutor. Quanto menor a conformidade,
mais o sensor/transdutor se aproxima de uma curva ou função ideal:

Dif máx
Conformida de % = 100.
FEs

Difmáx – distância máxima entre uma curva/função ideal e a curva real;

- Resolução: É a menor alteração que o mensurando (estímulo) pode apresentar e que é


detectada pelo sensor;

- Exatidão: Indica a diferença entre um valor experimental (REAL) e o IDEAL;

- Precisão: Fornece o resultado de flutuação da resposta real do sensor para a mesma excitação;

- Faixa de Operação: Definição dos valores mínimo e máximo da grandeza a ser caracterizada e
que podem ser mensurados pelo sensor/transdutor;

- Histerese: é uma grandeza que representa a incapacidade do sensor responder da mesma forma
a um dado estímulo, efetuado em duas direções opostas de operação (Figura 1.1). O sinal de
excitação em um transdutor pode ser aplicado variando-se seu sinal de um nível baixo para um
nível elevado, ou vice-versa. Idealmente a resposta do transdutor deveria ser a mesma,
independentemente da forma de excitação, o que infelizmente não ocorre na prática.
Hist máx
Histerese % = 100.
FE s
Histmáx – histerese máxima;

Figura 1.1: Curva de sensor com histerese

- Deriva (drift): Caracteriza a mudança da resposta do transdutor com o passar do tempo, devido
ao: envelhecimento,contaminação, envenenamento;
- Saturação: Limite a partir do qual o sensor perde sua linearidade (Figura 1.2);

Figura 1.2: Curva de resposta com saturação

- Erro de repetibilidade: Incapacidade do sensor reproduzir o mesmo sinal com estímulos


equivalentes.

1.2.2 Características Dinâmicas


São características que medem a capacidade do sensor/transdutor em responder a variações de
um estímulo em função do tempo. As principais são ilustradas na Figura 1.3:

Figura 1.3: Principais características dinâmicas de um sistema de medida

- Tempo de resposta (delay time): velocidade com que a medida fornecida pelo sensor alcança o
valor real do processo, ou seja, o tempo que o sensor/transdutor demora a “reagir” ou “sentir” a
variação do estímulo de entrada;
- Tempo de subida (Rise time): tempo necessário para que a resposta do sensor/transdutor passe
de 0 a 100% de seu valor final;

- Constante de tempo: Tempo necessário para um sensor chegar a x% do seu valor final
estacionário (Figura 1.4);

Figura 1.4: constante de tempo

- Sobre sinal (Overshoot): ocorre quando o sinal de saída excede o nível estimado;

- Tempo de estabilização (Settling time): tempo decorrido da aplicação de um estímulo constante


e a estabilização do sinal de saída.

- Resposta em Frequência: a faixa do espectro (em freqüência) que determinado sistema pode
reproduzir uma medida. Qualquer sistema eletrônico, e neste contexto incluem-se os transdutores,
tem suas limitações em freqüência, ou seja, operam bem em determinadas faixas de freqüência e
em outras não.

1.2.3 Relação Sinal-Ruído


Ruído é todo sinal indesejado que interfere a resposta de uma medição. Pode ser caracterizado
como sendo o sinal presente na saída de um instrumento sem nenhum sinal de excitação. Os tipos
de ruídos mais comuns são os denominados aleatórios (de origem térmica ou quântica) e os de
interferência (gerados por sinais externos ao transdutor, que podem ter ou não a mesma origem da
grandeza que se deseja medir).

Em termos práticos, o que mais interessa em um sistema é caracterizar qual é valor percentual do
ruído em relação ao sinal que se pretende medir (conhecido como Relação Sinal-Ruído (SNR –
Signal to noise ratio)) e não caracterizar o valor absoluto do ruído. A caracterização do parâmetro
SNR é apresentada normalmente em decibéis (dB):
 potência do sinal 
SNR = 10. log 
 potência do ruído 
Para um sinal variável no tempo:

  Sinal  
2

SNR = 10. log  RMS

  Ruído RMS  
 

1.3 Sistemas de medição


Um sistema de medição consiste em um conjunto de componentes cujo objetivo é medir,
quantificar ou registrar valores de alguma grandeza, seja ela de origem física, elétrica, química,
óptica, térmica, etc. Desta forma, para realizar qualquer observação de grandezas de origem não
elétrica é necessário utilizar algum tipo de transdução da energia sob teste para a energia elétrica.

Em termos gerais, um sistema de medição pode ser subdivido em três principais blocos
(Figura 1.5): o primeiro bloco (dispositivo de entrada), um bloco intermediário (dispositivo
condicionador de sinais ou processador), e o terceiro bloco (dispositivo de indicação ou registro).

Figura 1.5: Principais blocos de um sistema de medição.

O dispositivo de entrada tem como objetivo captar a informação relativa à grandeza que se deseja
medir e converte-a proporcionalmente a um sinal elétrico, que é enviado ao segundo bloco. No
segundo bloco, o sinal obtido pelo sensor poderá ser amplificado, filtrado, multiplicado, comparado,
linearizado, convertido para um sinal digital, ou seja, modificado adequadamente, a fim de ficar
compatível com as exigências requeridas pelo dispositivo que fará o registro do sinal (terceiro
bloco). O terceiro bloco tem como função registrar ou armazenar os valores da grandeza sob
medição (terminal de vídeo, um osciloscópio, uma impressora ou mesmo um computador para
armazenar os dados ou para controlar processos).

Podemos dividir ou classificar sistemas de medição em duas categorias: analógico e digital, como
descrito nas seções a seguir.
1.3.1 Sistema analógico de medição
Um sistema analógico caracteriza-se pelo percurso contínuo do sinal elétrico, da entrada até o
mostrador ou o registrador (Figura 1.6).

Figura 1.6: sistema analógico de medição

Mesmo que o sinal tenha um percurso contínuo, sofre alteração devido à adaptação ocorrida entre
um estágio do circuito para outro. As principais adaptações que o sinal pode sofrer são:

- Condicionamento do sinal de entrada: este sub-bloco pode ou não existir, dependendo


basicamente do tipo de sensor que está sendo utilizado no sistema de medição. Para sua
implementação devem ser consideradas a impedância de saída da fonte (sensor) e a impedância
de entrada do próximo bloco. Caso tais impedâncias sejam da mesma ordem de grandeza, o sinal
transmitido será conseqüentemente atenuado. Por esta razão cada caso deve ser analisado
criteriosamente;

- Amplificação do sinal: tem por função alterar a intensidade do sinal para valores que possam
ser utilizados pelos blocos subseqüentes;

- Processamento do sinal: aqui o sinal pode sofrer várias alterações, como por exemplo filtragem,
linearização, avaliação do valor de pico, valor RMS. A função da filtragem, por exemplo, é diminuir
o ruído que o sinal apresenta;

- O mostrador é geralmente do tipo galvanômetro, no qual são gravadas as respectivas escalas


utilizadas;

- O armazenamento dos dados pode ser realizado de duas formas: registradores de papel onde os
dados são gravados em um papel contínuo (exemplo: sismógrafo); a outra forma é gravar os dados
em fitas magnéticas.
1.3.2 Sistema digital de medição
Um sistema digital de medição difere do sistema analógico, principalmente pela forma como o sinal
é tratado. O coração dos sistemas digitais corresponde aos conversores analógicos digitais (A/D),
pois são estes que transformam o sinal analógico (mundo real) em sinal digital. No sistema digital,
grande parte do tratamento é realizada na forma digital. O armazenamento de dados na forma
digital apresenta uma versatilidade muito maior se comparada ao armazenamento analógico,
principalmente para realizar pós-processamento dos dados.

Os dois primeiros blocos (correspondentes ao sensor e condicionamento do sinal, Figura 1.7) são
basicamente os mesmos representados no sistema analógico de medição. Porém não é necessário
que o condicionamento de sinal seja tão complexo quanto o utilizado em sistemas analógicos. Nos
sistemas digitais, muitas funções podem ser efetuadas posteriormente à amostragem do sinal. Os
dois blocos a seguir (correspondentes à amostragem (circuito denominado Sample and Hold (S/H))
e ao conversor A/D) muitas vezes aparecem como um único bloco (denominado bloco de
conversão A/D).

O armazenamento é realizado em discos magnéticos rígidos e/ou flexíveis (HDs), fitas magnéticas
(DAT), discos ópticos (CD-ROM, DVDs), etc. Apresentam alta flexibilidade, facilidade de transporte
e grande volume de armazenamento. Outro ponto importante é que o pós-processamento digital
também é facilitado com esse tipo de armazenamento dos dados.

Figura 1.7: Sistema de medição digital


1.4 Exercícios sugeridos

1) Defina histerese, resposta em frequência, tempo de resposta e relação sinal-ruído.

2) O que é um sistema de medição?


3) Um dado sensor de temperatura linear apresenta inicialmente uma resposta de 1mV/oC. O
sensor é então acoplado a um amplificador de ganho 100, e um ruído de fundo de 10mV é
evidenciado no sistema. Qual é a sensibilidade do sistema? Qual a relação sinal/ruído?

4) Considere a seguinte situação: um valor de 5 oC está somado em todas as temperaturas


medidas por um determinado sensor. Que tipo de característica estática pode estar
relacionada ao efeito observado? Explique.

5) Um sensor de pressão tem como saída um sinal de corrente i. Sabendo que a mesma
variou di = 250mA para uma variação de pressão de 10 bar, determine a sensibilidade deste
sensor.

6) Qual a principal vantagem de um sensor com resposta linear em relação a um sensor com
resposta não linear?

1.5 Bibligrafia
- J. FRADEN. "Handbook of modern sensor physics, designs, and applications", Springer-Verlag, 2004.
- J. G. WEBSTER. "The measurement, instrumentation and sensors handbook", Springer, 1999.
a
- A. BALBINOT, V. J. BRUSAMARELLO, "Instrumentacao e fundamentos de medidas", Volume 1, 2 ed.,
LTC, Rio de Janeiro, 2010.
- A. BALBINOT, V. J. BRUSAMARELLO, "Instrumentacao e fundamentos de medidas", Volume 2, LTC, Rio
de Janeiro, 2007.
- D. THOMAZINI, P.U.B. ALBUQUERQUE, “Sensores Industriais”, ed. Érica, 2005.
- E. GALEAZZO, M.O. PEREZ-LISBOA. “Apostila da disciplina Sensores”, Faculdade de Ciências da
Fundação Instituto Tecnológico de Osasco, 2005

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