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CONTROLE

ESTATÍSTICO DE
PROCESSOS

Gizele Lozada
Revisão técnica:
Henrique Martins Rocha
Graduação em Engenharia Mecânica (UERJ)
Mestrado em Sistemas de Gestão (UFF)
Doutorado em Engenharia Mecânica (UNESP)
Pós-doutorado em Projetos/ Desenvolvimento de
Novos Produtos (UNESP)

L925c Lozada, Gisele.


Controle estatístico de processos / Gisele Lozada ;
[revisão técnica: Henrique Martins Rocha] . – Porto Alegre :
SAGAH, 2017.
295 p. : il. ; 22,5 cm.

ISBN 978-85-9502-116-7


1. Estatística – Controle de processos. I. Título.
CDU 519.2

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094

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Inspeção por amostragem
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar conceitos fundamentais relacionados à amostragem.


 Definir as características e utilidades da inspeção por amostragem.
 Reconhecer os elementos e a forma de aplicação da inspeção por
amostragem.

Introdução
No ambiente do controle de processos, existe uma constante preocupação
com a monitoria das variações e os impactos por elas causados sobre
os resultados do referido processo. Deste modo, busca-se identificar,
controlar e eliminar (ou ao menos reduzir) as variações em processos
como forma de viabilizar maiores níveis de qualidade de seus resultados.
O ponto de partida para esta ação, muitas vezes, corresponde justa-
mente aos resultados apresentados pelo processo. Quando adequada-
mente examinados permitem, além da verificação da qualidade, também
a apuração das condições do processo a partir do qual foram gerados,
sinalizando se ele está ou não sobre controle. Neste contexto os processos
de inspeção são de grande valia.
A inspeção de qualidade, por exemplo, permite examinar os resultados
de um processo, como produto na intenção de verificar se apresentam o
nível de qualidade desejado, normalmente comparando-o a um padrão
pré-estabelecido. O distanciamento deste padrão, ou a ocorrência de
diferentes resultados, sinalizam que o processo a partir do qual o produto
foi fabricado está fora de controle, e necessita ser ajustado.
Para que a qualidade destes produtos fosse totalmente garantida,
o ideal seria que pudéssemos verificar cada uma das unidades fabri-
cadas. Porém, na grande maioria dos casos, isso é impossível, dadas as
quantidades produzidas. É neste contexto que ingressa a inspeção por
amostragem, visando encontrar formas de viabilizar a verificação de
qualidade a partir da análise de partes da produção, que são denominadas

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amostras, cuja representatividade permite associar os resultados apurados


à totalidade da população, por meio de inferência.
Neste capítulo, você vai estudar a inspeção por amostragem, seus
principais conceitos e características, bem como suas utilidades e formas
de aplicação.

Contexto e conceitos fundamentais


Segundo Ramos, Almeida e Araújo (2013), a estatística se divide em duas prin-
cipais áreas: a descritiva, voltada a organização, interpretação e apresentação
dos dados estatísticos; e a inferencial, voltada para análise e interpretação de
dados experimentais e que, partindo de uma amostra, estabelece hipóteses
sobre a população de origem e formula previsões, fundamentando-se na teoria
das probabilidades. O conjunto do método estatístico possui o objetivo de
estudar e compreender os parâmetros de uma determinada população, estando
a amostragem fortemente relacionada à estatística descritiva, servindo como
meio para o processo de generalização, que corresponde à base da estatística
inferencial.
Alguns elementos e conceitos importantes neste contexto:

 População: conjunto que se pretende analisar, podendo ser finito ou


infinito, em que existe ao menos uma variável ou característica de
qualidade comum entre todos os seus elementos componentes;
 Amostra: elementos extraídos da população que se pretende analisar,
representando uma parte ou um subconjunto desta população, selecio-
nada segundo métodos adequados;
 Variável ou característica da qualidade: conjunto de resultados pos-
síveis de um fenômeno (resposta), ou ainda como as propriedades dos
elementos da população que se pretende conhecer;
 Inspeção: processo de verificação da qualidade de um produto ou ser-
viço, visando identificar se ele atende as especificações representadas
pelas características de qualidade definidas;
 Censo: método de pesquisa destinado ao exame da população definida,
consistindo na investigação e análise de todos os seus elementos;
 Amostragem: processo de escolha da amostra, que deve ser formada por
elementos representativos da população, permitindo a posterior coleta e
análise de informações, que servirão de base ao estudo e compreensão
dos parâmetros da população.

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Amostra e amostragem são coisas diferentes: a amostra corresponde aos elementos


extraídos da população que se pretende analisar, enquanto a amostragem corresponde
ao processo através do qual a amostra é formada.

Ramos, Almeida e Araújo (2013) definem a amostra como um subconjunto


ou parte selecionada da totalidade de observações abrangidas pela população,
sobre a qual se quer concluir alguma coisa, devendo ser suficientemente
representativa e formada com base em métodos adequados, chamados de
amostragem. Por outro ângulo, podemos considerar que a amostragem consiste
na escolha criteriosa dos elementos que irão integrar um determinado estudo.
Com relação à inspeção, cabe ressaltar que esta corresponde a um processo,
e desta forma também está sujeita a falhas, como a contagem ou leitura equi-
vocada de um instrumento, por exemplo. Por conta disso, mesmo que a ins-
peção seja realizada sobre a totalidade das unidades produzidas, ainda poderá
não ser absolutamente efetiva. Ou seja, inspecionar 100% das unidades não
garante a detecção de 100% dos problemas possíveis. Esta condição, somada
ao elevado custo e tempo necessários para uma inspeção desta abrangência,
revelam suas limitações e despertam a percepção de que a amostragem pode
ser o caminho mais adequado.
Sobre o método de pesquisa a ser empregado, em um primeiro momento,
o censo pode parecer a alternativa mais efetiva, tendo em vista que avalia
a totalidade da população. Porém, sua aplicação muitas vezes pode não ser
possível, seja pelo tamanho da população ou até mesmo por esta ser infinita.
Doane e Seward (2014) sinalizam ainda que, em algumas situações, a população
pode apresentar quantidade volátil, tornando a realização de um censo difícil
ou até impossível e, mesmo que seja realizado, seu resultado será ilusório.
Dadas estas condições, a amostragem começa a se mostrar como método
mais apropriado em diversas situações. Selecionando alguns dos elementos
da população, busca entender estes elementos e suas características, para a
partir deles generalizar, aplicando este entendimento à toda a população. Em
verdade, o procedimento de amostragem e generalização pode inclusive se
mostrar mais efetivo do que o censo comum, em razão dos procedimentos e
complexidade envolvidos em ambos.

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A amostragem torna possível a realização de pesquisas efetivas com bons


resultados, utilizando apenas uma amostra da população alvo do estudo, desde
que determinadas condições sejam observadas e atendidas. Uma boa amostra
resulta em boas informações, a partir da quais, aplicando-se os métodos es-
tatísticos apropriados, é possível se fazer boas inferências sobre a população.
Contudo, o inverso também é verdadeiro: se o estudo partir de amostras ruins,
serão geradas informações ruins e, mesmo que sejam aplicados os métodos
estatísticos apropriados, as generalizações consequentemente serão ruins,
pois a matéria prima inicial não era de boa qualidade.
Neste ponto, cabe explicitar um aspecto importante: a representatividade.
Ela consiste na capacidade da amostra em sintetizar uma gama de particu-
laridades relativas à população, como características econômicas, sociais,
culturais, religiosas ou tantas outras, tornando-as tão próximas quanto possível
das características efetivas da população que se está analisando, e sobre a qual
as conclusões do estudo serão estendidas.
A amostragem se relaciona com o processo estatístico ao longo de cada
uma de suas etapas. Porém, é na última delas, quando são realizadas a análise e
interpretação dos dados, que sua participação atinge o nível mais significativo.
Nesta etapa, é realizada a inferência estatística, onde os resultados obtidos
são generalizados da amostra para a população, e nesta situação a escolha
do método de amostragem mais indicado corresponde a um fator de grande
relevância.

Métodos de amostragem
Como já comentado, a qualidade do estudo por amostragem depende, em muito,
da qualidade da amostra, cabendo reforçar que boas amostras são representati-
vas e preferencialmente aleatórias, condições que devem ser atendidas durante
a composição da amostra. Neste sentido, Doane e Seward (2014) relatam a
existência de dois principais métodos de amostragem: a probabilística e não
probabilística.
Na amostragem probabilística, “[...] os itens são escolhidos aleatoriamente
ou por um procedimento que envolve acaso”, na intenção de “[...] produzir
uma amostra representativa de uma população” (DOANE; SEWARD, 2014,
p. 35). Cada elemento da população possui uma probabilidade conhecida de
ser escolhido, que normalmente é igual para todos os elementos. Ou seja,
dada uma população com N elementos, a probabilidade de participação de
cada um é igual a 1/N. Permite a realização de inferências sobre a população a

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partir de parâmetros estudados na amostra, tendo em vista que gera resultados


generalizáveis. A amostragem probabilística se subdivide em quatro tipos:

 Amostragem aleatória simples


 Amostragem aleatória estratificada
 Amostragem por conglomerado
 Amostragem sistemática.

A amostragem aleatória simples corresponde à seleção de amostra formada


por “k” elementos, escolhidos entre as “n” unidades da população. Neste caso,
a amostragem é realizada sem reposição (o elemento retirado da população
não retorna à ela), e o número de amostras que se pode obter é determinado
pela fórmula (n/k) = n! / k! (n-k)!. Definido o número de elementos necessá-
rios, aplica-se um critério que permite a escolha aleatória de alguns destes
elementos, podendo-se utilizar uma tabela de números aleatórios (TNA) ou
ferramentas computacionais para geração de números aleatórios (algoritmos).
As unidades da população são então numeradas de 1 a N, das quais são esco-
lhidos k elementos através do processo de seleção ou sorteio.
A amostragem aleatória estratificada é obtida por meio da separação de
unidade da população em grupos não superpostos chamados de estratos.
Neste caso, são selecionadas amostras aleatórias simples e independentes
dentro de cada estrato. Existem dois tipos de amostragem estratificada: a de
igual tamanho ou proporcional, que é dada pela fórmula Na / N = na / n na
= n / N . Na , onde N = número de elementos da população, n = número de
elementos das amostras,
Na = número de elementos do estrato A
na = número de amostras do estrato A.
A amostragem por conglomerado utiliza a amostra aleatória simples, e em
que cada unidade de amostragem corresponde a um grupo ou conglomerado
de elementos. Para tanto é necessário especificar de maneira apropriada para a
formação dos conglomerados e, no caso dos conglomerados selecionados, todos
os seus elementos fazem parte da amostra. Os elementos de um conglomerado
tendem a possuir características similares, devendo-se considerar um grande
número de conglomerados, formados por um pequeno número de elementos.
A amostragem sistemática trabalha com os elementos ordenados, onde a
seleção dos elementos da amostra é realizada por intervalos, em que a cada
x elementos é selecionado um que fará parte da amostra. Assim, constitui-se
uma amostra de n elementos de uma população de tamanho N – k, que deve ser
menor ou igual a N / n (N = população e n = número de elementos desejados).

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Dadas estas condições, caso o tamanho da população seja desconhecido, não


é possível determinar k. Nesta situação, pode-se supor um valor de k, para
que seja possível se obter uma amostra significativa em relação a um lote de
tamanho n. Esta amostragem é considerada como de mais fácil execução, e
menos sujeita a erros por parte de quem a aplica, devido à constância dos
intervalos de seleção dos elementos da amostra. Isso a torna menos complexa
do que a amostragem aleatória simples (e seus métodos de sorteio), permitindo
que frequentemente resulte em mais informações e melhor custo benefício.
A aplicação da amostragem sistemática segue determinadas diretrizes, que
consiste em:

1. Estabelecer o intervalo de amostragem K, que é dado pela fórmula k


= N / n (no caso de números não inteiros, deve-se arredondar para o
inteiro menor);
2. Iniciar aleatoriamente a composição da amostra, onde b = início (que
pode ser o número de ordem inicial sorteado na TNA, por exemplo),
sendo 0 < b < k;
3. Compor a amostra, sendo: 1º item = b, 2º item = b + k, 3° item = b +
2k, e assim sucessivamente.

Já a amostragem não probabilística “[...] é menos científica, mas, algumas


vezes, é usada por conveniência” (DOANE; SEWARD, 2014, p. 35). Consiste
em amostragens intencionais, em que os elementos da amostra são deliberada-
mente escolhidos, o que faz que as amostras não garantam a representatividade
necessária da população, gerando resultados não generalizáveis, mas ainda
assim muito útil em determinadas situações. A amostragem não probabilística
se subdivide em três tipos:

 Amostragem acidental
 Amostragem intencional
 Amostragem por quotas.

Na amostragem acidental, também denominada amostragem por con-


veniência, os elementos são adicionados à amostra na medida em que vão
aparecendo, incluindo aqueles que forem possíveis, até que se atinja o número
desejado de elementos.
Na amostragem intencional, também chamada de amostragem por julga-
mento, os elementos são escolhidos com base em um determinado critério,

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relacionado ao tema que está sendo analisado, fazendo que a amostra seja
formada por elementos escolhidos.
Na amostragem por quotas, também denominada amostragem por propor-
cionalidade, a população é classificada de acordo com determinadas proprie-
dades, permitindo a determinação da proporção da população que apresenta
cada uma destas propriedades (formando quotas), e a seleção não aleatória
dos elementos de cada quota identificada que integrarão a amostra (ou seja,
por conveniência).

Leia mais sobre os métodos de amostragem na obra Estatística aplicada à administração


e economia (DOANE; SEWARD, 2014).

A inspeção por amostragem


A inspeção corresponde ao processo que visa identificar se um produto ou
serviço atende a determinadas especificações de qualidade. Mais facilmente
compreensível no contexto da manufatura, busca verificar se os produtos
atendem às especificações de aceitação, normalmente baseadas nas chamadas
características de qualidade, para as quais são estabelecidos padrões a serem
atingidos. A estas características são ainda atribuídos graus de importância,
que podem determinar a aceitação ou rejeição do referido produto.

A inspeção corresponde ao processo que visa identificar se um produto ou serviço


atende a determinadas especificações de qualidade.

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Neste sentido, Bertolino (2010, p. 117) relata que a inspeção por amostra-
gem colabora com o controle estatístico de processo, geralmente denominado
CEP, que

[...] pode ser descrito como uma ferramenta de monitoramento online


da qualidade. A partir da inspeção por amostragem de características
predeterminadas do produto em estudo, o CEP possibilita a detecção de
causas especiais, anômalas ao processo, capazes de prejudicar a qualidade
final do produto ou sua segurança.

Existem algumas formas básicas de inspeção, dentre as quais podemos citar:

 Inspeção por variáveis: avalia a característica da qualidade de forma


quantitativa, buscando mensurar seus resultados, que são medidos em
escala contínua e devidamente anotados;
 Inspeção por atributos: avalia a característica da qualidade de forma
qualitativa, verificando a ocorrência de defeitos, classificando a unidade
de produto como defeituosa ou não;
 Inspeção completa (100 %): avalia a totalidade lote, inspecionando
cada uma de suas peças. Sua aplicação é indicada nos casos em que
qualquer defeito que venha a ser apresentado em uma peça, componente
ou material, impeça o funcionamento ou utilização do produto final,
ou traga risco a seu usuário.
 Inspeção por amostragem: avalia uma fração do lote ou partida (como
é por vezes chamada), que corresponde à amostra. Sua aplicação é
indicada principalmente nos casos de grandes lotes, ou em situações
em que sejam necessários ensaios destrutivos.

A inspeção por amostragem corresponde à verificação, que é executada


sobre uma fração representativa da população, denominada amostra. Alicer-
çada sobre bases estatísticas, permite a inferir à população as características
da qualidade verificadas na amostra. Entre seus elementos nela envolvidos,
podemos citar:

 amostra: subconjunto da população;


 amostragem: processo de extração de amostras representativas;
 riscos: margem de erro prevista na investigação (análise da população
através da amostra);

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 população-alvo: conjunto sobre o qual serão propostas as inferências


obtidas através da amostra.

A inspeção por amostragem corresponde à verificação que é executada sobre a


amostra, apurando características de qualidade que serão associadas à população
por meio de inferência.

Segundo Doane e Seward (2014), na manufatura, a qualidade de muitos


produtos pode ser significativamente afetada pela qualidade dos materiais nele
empregados, o que traz a necessidade de adequada verificação e avaliação
destes materiais, o que pode ser realizado através de processo denominado
amostragem para aceitação.

Atualmente, a amostragem para aceitação tem sido utilizada em testes de novos


fornecedores ou na verificação da capacidade de novos processos ne negócio.

Barros Neto, Scarminio e Bruns (2010, p. 77) chamam atenção ao fato de


que, mesmo no caso de processos sob controle e operando de forma consistente,
não significa que o produto por ele gerado irá necessariamente satisfazer às
especificações. Por este motivo, são determinados e pré-estabelecidos limites
entre cliente e fornecedor, que servirão ao processo de inspeção por amos-
tragem como balizadores. “Os lotes que caírem fora da faixa de tolerância
[...] são rejeitados e devolvidos ao fornecedor. Este, é claro, tem o maior
interesse em desenvolver um processo eficiente e estável, capaz de satisfazer
às exigências do cliente”.
Neste contexto, a inspeção por amostragem pode ser definida como o
processo que visa identificar se uma peça, amostra ou lote atende determi-
nadas especificações da qualidade. Vejamos alguns conceitos relevantes em
seu contexto:

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 n = tamanho da amostra: parcela representativa do lote, cujo tamanho


apresenta implicações. Quanto maior a amostra, maior a representati-
vidade, mas também maior é o custo da inspeção;
 NQ = nível da qualidade: fração defeituosa da partida (p = d / n), cujo
tamanho é inversamente proporcional à qualidade do processo. Quanto
maior o NQ pior o processo. No gráfico de controle da fração defeituosa
“p”, a linha média é uma boa estimativa do nível da qualidade.
 NQA = nível de qualidade aceitável: nível da qualidade considerado
satisfatório;
 FDT = fração defeituosa tolerável;
 α = risco do produtor: probabilidade de rejeição de lotes bons;
 β = risco do consumidor: probabilidade de aceitação de lotes ruins;
 a ou Ac = número de aceitação: máximo de unidades defeituosas ad-
mitido na amostra;
 r ou Re = número de rejeição: em geral r = a + 1 ou Re = Ac + 1;
 d = número de unidades defeituosas encontradas na amostra.

Sobre os riscos α e β, Doane e Seward (2014, p. 743) sugerem que devem ser
balanceados, pois há uma relação entre ambos em um determinado tamanho
de amostra.

Na sua forma mais simples, a amostragem de um lote tem por base


a distribuição hipergeométrica, na qual amostras sem reposição de n
itens são selecionadas de um lote de tamanho N contendo s itens não
conformes. Curvas de poder e curvas características de operação podem
ser construídas para orientar as decisões a respeito da aceitação ou da
rejeição de remessas, com base no atributo de interesse (usualmente, a
proporção de itens não conformes)

Cabe esclarecer que, na amostragem sem reposição, o elemento retirado


da população não retorna a ela, podendo impactar suas características.

Aplicando a inspeção por amostragem


A aplicação da inspeção por amostragem requer certa preparação, para que
seja adequadamente estabelecido, e assim possa gerar resultados confiáveis e
úteis. Doane e Seward (2014, p. 742) comentam sobre a existência de tabelas
e regras destinadas a orientação das empresas, com a intenção de definir

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um “[...] plano de amostragem que forneça a frequência de amostragem, o


tamanho da amostra, o nível de defeitos permitido e o tamanho do lote”, além
de considerar as diferentes combinações de risco.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) possui algumas
normas técnicas relacionadas o assunto, como:

 NBR 5425: Guia para inspeção por amostragem no controle e certifi-


cação de qualidade (1985a);
 NBR 5426: Planos de amostragem e procedimentos na inspeção por
atributos (1985b);
 NBR 5427: Guia para utilização da norma NBR 5426 – Planos de
amostragem e procedimentos na inspeção por atributos (1985c).

Tipos de amostragem
Segundo Doane e Seward (2014, p. 743),

[...] amostragem simples significa que a decisão é baseada em apenas


uma amostra aleatória selecionada de uma remessa. Amostragem dupla
significa que a decisão é adiada até que uma segunda amostra seja se-
lecionada, a menos que os resultados da primeira sejam decisivos. Uma
segunda amostra pode não ser necessária se o resultado da primeira for
extremamente claro. O conceito pode ser generalizado para amostragem
múltipla ou amostragem sequencial se usarmos qualquer quantidade
de amostras. As técnicas também podem ser generalizadas para incluir
múltiplos atributos assim como métodos de amostragem mais complexos,
tais como amostragem estratificada ou por conglomerados.

A amostragem simples considera os parâmetros n, Ac e Re, utilizando o


seguinte procedimento:

 Extrair uma amostra de tamanho n do lote N


 Inspecionar as n unidades, anotando o número de unidades ou peças
defeituosas d
 d < Ac – aceitar o lote N
 d > Re – rejeitar o lote N.

A amostragem dupla considera os parâmetros n1, n 2, Ac1, A2, Re1, Re2,


utilizando o seguinte procedimento:

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 Extrair uma primeira amostra de tamanho n1 do lote N


 Inspecionar n1 unidades, anotando o número de peças defeituosas d1.

Se:

d1 < Ac1 – aceitar o lote N


d1 > Re1 – rejeitar o lote N
Ac1 < d1 < Re1 – situação de indecisão –
inspecionar uma segunda amostra n2
 Extrair a segunda amostra de tamanho n 2 do lote N
 Inspecionar as n2 unidades, anotando o número de unidades defeituosas
d2
 Somar os números de unidades defeituosas d1 e d2 das duas fases.

Se:
d1 + d2 < Ac2 – aceitar o lote N
d1 + d2 > Re2 – rejeitar o lote N.

Tipos de inspeção
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), através da NBR 5426:
planos de amostragem e procedimentos na inspeção por atributos (ASSO-
CIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1985b), indica que a
inspeção a ser realizada na amostra pode apresentar diferentes tipos, sendo
classificada como:

 Inspeção normal (ou comum)


 Inspeção severa
 Inspeção atenuada.

Geralmente, a inspeção se inicia pelo tipo normal, e a partir daí podem


haver variações ao longo do processo, conforme sua execução e resultados
apurados, geralmente considerando as seguintes condições:

 Se duas de cinco amostras consecutivas são rejeitadas, é sinal de que


a qualidade do lote diminuiu, e a inspeção pode passar de normal para
severa.

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 Se em cinco inspeções severas consecutivas, nenhuma amostra for


rejeitada, é sinal de que a qualidade do lote aumentou, e a inspeção
pode passar de severa para normal.
 Se em 10 inspeções normais, nenhuma for rejeitada, é sinal de que
a qualidade do lote aumentou, e a inspeção pode passar de normal
para atenuada. Contudo, recomenda-se a observação e atendimento
de algumas condições:
■ Se a inspeção atenuada for de interesse; e
■ Se a produção estiver ocorrendo regularmente; e
■ Se 10 ou mais lotes foram aceitos; e
■ Se o número total de defeituosos nestes 10 lotes for menor ou igual
ao valor limite definido.
 Se na inspeção atenuada houver uma amostra rejeitada, deve-se retornar
para a inspeção normal. Esta alteração é também recomendada em
situações como:
■ Quando um lote ficar indefinido; ou
■ A produção se torna irregular ou atrasada; ou
■ Quando alguma condição particular a justifique.

Plano de amostragem
O plano de amostragem pode ser definido através da aplicação da NBR 5426:
planos de amostragem e procedimentos na inspeção por atributos (ASSO-
CIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1985b). Esta norma
considera o cruzamento entre os tipos de amostragem e inspeção, conforme
ilustrado na Tabela 1.

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Inspeção por amostragem 101

Tabela 1. Planos de amostragem e procedimentos na inspeção por atributos.

Tipos de amostragem Inspeção

Simples Normal
Severa
Atenuada
NBR 5426

Dupla Normal
Severa
Atenuada

Múltipla Normal
Severa
Atenuada

Fonte: baseada na NBR 5426.

Deste cruzamento derivam tabelas que possuem o objetivo de auxiliar na


construção dos planos de amostragem, fornecendo recomendações oriundas
da NBR 5426 para a determinação do tamanho das amostras em relação ao
tamanho do lote de onde serão extraídas, bem como os valores Ac e Re, que
correspondem, respectivamente, ao número de defeitos detectados na amostra
e recomendados para a aceitação ou rejeição de lotes inspecionados. Entre
estas destacar:

 Tabela 1: organiza os lotes em faixas de tamanho, para que sejam asso-


ciados com o nível de inspeção desejado (geralmente se inicia pelo nível
geral II), conforme Tabela 2. Do cruzamento linha x coluna desta tabela,
surge uma letra de referência (código da amostra) que será utilizada
na análise das tabelas seguintes, para que sejam associadas ao NQA
desejado, novamente pelo cruzamento linha x coluna.

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Tabela 2. Tabela de tamanho de lotes x níveis de inspeção.

Níveis especiais Níveis gerais


de inspeção de inspeção

Tamanho do lote S1 S2 S3 S4 I II II

2a8 A A A A A A B

9 a 15 A A A A A B C

16 a 25 A A B B B C D

26 a 50 A B B C C D E

51 a 90 B B C C C E F

91 a 150 B B C D D F G

151 a 280 B C D E E G H

281 a 500 B C D E F H J

501 a 1200 C C E F G J K

1201 a 3200 C D E G H K L

3201 a 10000 C D F G J L M

10001 a 35000 C D F H K M N

35001 a 150000 D E G J L N P

150001 a 500000 D E G J M P Q

Acima de 500000 D E H K N Q R

Fonte: baseada na NBR 5426.

 Tabelas 2, 3 e 4: orienta o plano de amostragem simples para as inspe-


ções normal, severa e atenuada, respectivamente. O cruzamento linha
x coluna sinaliza a associação entre o código da amostra e o NQA,
indicando o Ac e Re recomendáveis, conforme Figura 1.
 Tabelas 5, 6 e 7: orienta o plano de amostragem dupla para as inspeções
normal, severa e atenuada, respectivamente, com o mesmo propósito
já relatado.
 Tabelas 8, 9 e 10: orienta o plano de amostragem múltipla para as
inspeções normal, severa e atenuada, respectivamente, com o mesmo
propósito já relatado.

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Inspeção por amostragem 103

Figura 1. Plano de amostragem simples – normal.


Fonte: Adaptada de Associação Brasileira de Normas Técnicas (1985b).

Conheça mais sobre a utilização das Tabelas na


formação do plano de amostragem. Disponível em:

https://goo.gl/mebAQf

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Inspeção por amostragem 104

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5425: guia para inspeção por
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5426: planos de amostragem
e procedimentos na inspeção por atributos. São Paulo: ABNT, 1985b.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5427: guia para utilização da
norma NBR 5426: planos de amostragem e procedimentos na inspeção por atributos.
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BARROS NETO, B. de; SCARMINIO, I. S.; BRUNS, R. E. Como fazer experimentos: pesquisa
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DOANE, D. P.; SEWARD, L. E. Estatística aplicada à administração e economia. Porto
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esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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