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O problema com as armaduras é que elas acabam por nos isolar do ambiente que nos

rodeia. E depois, quando queremos sair, sentimo-nos demasiado frágeis para enfrentarmos
os nossos medos.

Ao escondermos a dor, as emoções são silenciadas, mas qualquer possibilidade de


pedirmos ajuda fica, assim, vedada. Quanto mais espessa for a armadura com que nos
protegemos, mais frágeis se tornam também os nossos sentimentos.

Por vezes, as desilusões levam-nos a isolar-nos do nosso ambiente e a evitar certas


relações, ou a fugir de expressar o que sentimos. Porém, nesta tentativa de nos
protegermos, o que conseguimos é encapsular o nosso desconforto. Sabemos que estamos
a sofrer, mas não queremos abrir-nos com ninguém...

Vamos refletir sobre esta questão.

A fragilidade é muitas vezes confundida com fraqueza. No entanto, trata-se de realidades


diferentes.

Por exemplo, se olharmos para uma superfície de vidro que esteja rachada, veremos que
cada vez aparecem mais fissuras. Este é também o caso daqueles que se refugiam dentro
de armaduras. No final, tornam-se ainda mais frágeis, ao ficarem presos na jaula que
construíram para si próprios.

Estas pessoas parecem fracas, porque, perante qualquer dificuldade, acabam por entrar
em colapso, mas o que acontece de facto é que podem ter feridas que permaneceram por
cicatrizar. E, mesmo que tentem escondê-las, isso não atenua o seu sofrimento.

As aparê
aparências são enganadoras

Quando vestimos uma tal armadura, não deixamos que os outros possam ver-nos tal como
somos.

Enquanto mecanismo de proteção, isso ajuda-nos a evitar as situações que receamos. Por
outro lado, com esta atitude, reprimimos as emoções que nos permitiriam libertar algum
do desconforto que sentimos.

Trata-se, na verdade, de uma atitude que não nos satisfaz, mas com a qual nos
contentamos, por medo de sermos uma vez mais prejudicados. Temos medo do que
sentimos, e recusamos ver a nossa fragilidade.

Deste modo, a máscara com a qual ocultamos o nosso desconforto vai-se tornando cada
vez mais espessa, porque aumenta a dissonância entre o que gostaríamos de mostrar e o
que realmente mostramos.

Talvez atuemos inconscientemente, mas o que é facto é que recorremos a máscaras para
evitarmos enfrentar certos problemas. E aquilo que nos cobre é também o que torna maior
a nossa ferida.
A gaiola em que nos fechamos para sobreviver é igualmente a corda que nos estrangula, a
grade que nos encerra, e não nos permite ser quem somos nem encontrar a porta de saída.

Esta atitude tem consequências pesadas. Escapar, ignorar, fugir, proteger-se, são meros
atalhos, mas não soluções reais para as dificuldades que sentimos.

Se nos escondermos por detrás de armaduras, perderemos a oportunidade de nos


afirmarmos, e de provarmos que temos a capacidade de lidar com o desafio. Embora
darmo-nos um tempo para refletirmos e nos recuperarmos seja uma atitude correta, não
devemos recorrer por sistema a esta estratégia.

Mais cedo ou mais tarde, vamos precisar de nos abrir às situações, e de enfrentar os riscos
que tínhamos vindo a evitar. É provável que, entretanto, tenhamos já amadurecido e
vejamos a realidade de uma perspetiva diferente. Teremos assim novos recursos à nossa
disposição e, acima de tudo, teremos crescido como pessoas.

Saindo da armadura

Ao fugir e ao escondermo-nos, aquilo que conseguimos é dar uma imagem distorcida do


que somos, e criar uma barreira à expressão das nossas emoções. Seria melhor exteriorizá-
-las. Talvez nos surpreendamos com o resultado…

Raquel Lemos Rodríguez

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