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O XADREZ COMO POSSIBILIDADE DE MELHOR

COMPREENDER A REALIDADE: UM RELATO DE


EXPERIÊNCIA

Eduardo Ribeiro Albuquerque

EIXO 2 - Formação de Professores - Grupo de trabalho 8 - Escola, juventude e


projetos de vida: o futuro não está escrito!

Resumo
O presente relato de experiência procurou mostrar o desenvolvimento de um projeto de
xadrez realizado em uma escola de ensino fundamental na cidade de São Lourenço do
Sul/RS, em parceria com o Centro de Atenção Psicossocial Infantil. Teve como objetivo
proporcionar uma atividade lúdica, de lazer, que servisse como meio de proteção da
saúde mental dos alunos e que pudesse ajudá-los a compreenderem melhor sua realidade
de vida. Como método aplicado, procurou-se trabalhar os fundamentos do jogo de
xadrez, dentro da ótica de transpor o conhecimento ensinado pelo jogo comparando-os
com os acontecimentos do cotidiano do aluno. Como resultado os alunos puderam, por
meio dos ensinamentos do jogo de xadrez, dialogar, expor seus sentimentos, entender
melhor suas realidades de vida. Utilizando o método de transposição de conhecimento,
foi possível dar condições para que o próprio aluno pudesse refletir e procurar resolver
seus problemas mais imediatos. Portanto, o projeto mesmo tendo pouco tempo de
vigência, atingiu os objetivos propostos.

Palavras-chave: Jogo de Xadrez. Transposição do conhecimento. Processo. Ensino.


Aprendizado.

________________

1
Mestrando em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação (PPGEDU) da
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e da Missões URI-Campus de
Frederico Westphalen-RS. Especialista em Educação Física Escola pela Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM). Especialista em Saúde Mental Coletiva pela Escola de
Saúde Pública de Porto Alegre-RS. E-mail: eribeiroalbuquerque@gmail.com.
Contextualizações iniciais
O presente relato visa elucidar o desenvolvimento e implicações de um projeto
de xadrez realizado em uma escola de ensino fundamental situada em um bairro
populoso, com aproximadamente cinco mil habitantes, na cidade de São Lourenço do
Sul/RS. Esse projeto foi proposto pelo residente multiprofissional de Educação Física,
em conjunto com o Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi), e foi uma das
atividades obrigatórias para obtenção do título de Especialista em Saúde Mental
Coletiva pela Escola de Saúde Pública de Porto Alegre.
Durante a jornada percorrida como residente multiprofissional em saúde mental
coletiva, entre março de 2108 até fevereiro de 2020, pude aprender muito com os
professores, tutores, preceptores, colegas de residência, médicos, gestores públicos e
equipe multiprofissional. Cito todos esses profissionais, pois durante todo o período da
residência, na forma de rodízio, passei por todos os serviços de saúde mental no
município e conheci por dentro como funciona a dinâmica e o fluxo de trabalho de cada
um deles. Não esquecendo de citar, e dando destaque primordial, aprendi muito com os
usuários dos serviços por onde passei, aprendi com essas pessoas, principalmente, a
despir-me de preconceitos que trazia arraigados comigo.
Ao chegar à cidade de São Lourenço do Sul, eu profissional de educação física e
mais quatro residentes multiprofissionais (enfermeira, psicóloga, assistente social e
terapeuta ocupacional), fomos divididos em dois grupos, sendo o primeiro grupo
composto pelo profissional de educação física, enfermeira e assistente social e o
segundo grupo pela terapeuta ocupacional e psicóloga. Fomos lotados em nosso
primeiro ano em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS-
AD) e no CAPS Nossa Casa (CAPS tipo I). Durante um dos turnos uma das equipes
ficava em um dos CAPS e a outra equipe ficava no outro, havendo alternância das
equipes entre os turnos. No segundo ano de residência fomos lotados em um turno no
CAPSi e no outro turno passamos por setores como: Hospital Municipal, Setor de
Geração de Rendas, Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Secretaria Municipal de
Saúde.
Logo que cheguei ao CAPS-AD e CAPS Nossa Casa uma de minhas ideias foi
montar um grupo de xadrez com os usuários, com a intenção de replicar o êxito que tive
em outrora em trabalhar com o xadrez na escola, com povos originários, jovens em
vulnerabilidade social e jovens com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A ideia foi
muito bem-vinda por todos que compunham a equipe de trabalho, porém o público-alvo
era totalmente diferente dos quais já havia trabalhado. Foi detectado, mediante reunião
de equipe multidisciplinar e leitura de laudos médicos, que devido ao comprometimento
cognitivo, altos índices de intolerância a frustrações, enfermidades, transtornos, vícios
entre outras questões, trabalhar o xadrez da maneira que costumava a trabalhar seria
algo muito distante de ser alcançado. Assim, foi organizado uma proposta na
perspectiva lúdica, com regras flexibilizadas e minijogos, buscando oportunizar uma
nova experiência aos usuários. Dessa forma, se procurou ao menos, possibilitar uma
nova vivência aos usuários, levando sempre em consideração a sua condição e
necessidades.

A partir da necessidade surge a ideia


Após um breve período de trabalho, eu e algumas de minhas colegas residentes,
começamos a perceber que a cidade não possuía muitos atrativos para público jovem.
Tal especulação começou a virar questionamento, e a partir de pesquisas informais,
começamos cada vez mais a ter certeza sobre a hipótese que tínhamos levantado. (Falta
de atrativos para público jovem). No entanto, não poderíamos levar adiante nossos
questionamentos apenas com indagações e hipóteses. Foi nesse momento que resolvi
fazer meu trabalho de conclusão de residência sobre a tal necessidade que tínhamos
observado ao longo do primeiro ano de residência, que fora a falta de
programas/projetos públicos de esporte lazer, números de profissionais de educação
física que trabalhassem com saúde preventiva e quantitativos de espaços públicos em
condições e/ou com potencial uso para prática de esporte e lazer. Projeto de Conclusão
de Residência (TCR) foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Escola de
Saúde Pública de Porto Alegre/RS. Sob o número de registro CAAE
19346719.0.0000.5312. Número do parecer 3.548.814.
Para a constatação ou não da hipótese levantada, foi elaborado requerimentos de
pedido de informações, embasadas na Lei 12.527/11 (Lei de acesso à informação) e
endereçados às respectivas Secretarias da Educação, Secretaria da Saúde e
Coordenadoria do Desporto. Todos os requerimentos tiveram a anuência do chefe do
executivo municipal. As respostas dos gestores vieram por meio do requerimento de
pedido de informação assinado, confirmando aquilo que já havíamos presenciado na
prática. Não havia nenhum programa/projeto vigente de esporte e lazer permanente no
município, que oportunizasse ações de promoção e educação em saúde preventiva para
os jovens.
Segundo a Lei 8.080/90 que dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Bem como o que diz na Lei 1.216/01, que
dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e
redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Pode-se perceber que tanto a Lei
8.080 que versa sobre condições para a promoção, proteção, e recuperação da saúde.
Assim como a Lei 1.216/01, que em seu artigo 4º que apresenta como finalidade a
reinserção social do paciente em seu meio, eram ações que costumavam não ser muito
desenvolvidas no município.
Ao percebemos em um primeiro momento, e nos certificarmos em um segundo
momento, da inexistência de programas e/ou projetos voltados para promoção e/ou
reinserção social de jovens e usuários egressos do sistema de saúde mental, chega-se ao
seguinte tensionamento. A Lei Orgânica 8.080/90 preconiza a promoção, proteção e
recuperação da saúde, mas percebe-se a falta de projetos para tal finalidade. De mesma
forma, a falta desses programas/projetos/atividades de lazer públicos fora do âmbito de
um CAPS, dificulta a reinserção social do usuário egresso. A falta de atividades fora do
CAPS, que o egresso possa se envolver, minimiza as oportunidades dessas pessoas se
realocarem em sociedade, ficando a mercê da situação, atrelados às atividades
realizadas nos CAPS. Devido à escassez ou inexistência de programas/projetos públicos
que abarquem essa parcela da população, os egressos do sistema e os jovens que não
adentraram no sistema de saúde mental ficam sem opção de lazer, e de atividades que
podem contribuir para promoção e proteção da saúde tanto física como mental.
A Política Nacional de Promoção a Saúde (2017), versa sobre a promoção da
saúde seja nos espaços propícios para isso ou não. Embasado nessa política de
promoção a saúde, e devido à necessidade e a preocupação com o público jovem,
propus que o meu plano de ação do CAPSi fosse realizado fora dos muros do CAPSi.
Com vistas de fazer um trabalho preventivo e emancipatório com as crianças de uma
escola de um bairro vulnerável de São Lourenço do Sul. Em um primeiro momento
minha proposta não foi muito bem-vinda, pois até então, os planos de ação dos antigos
residentes que por lá passaram, tinham sido, exclusivamente, com os jovens atendidos
no CAPS, salvo algumas exceções.

Benefícios da prática do jogo de xadrez


A proposta visava apresentar o jogo de xadrez para crianças de 08 a 12 anos em
uma escola de um bairro com vulnerabilidade socioeconômica da cidade, com a
intenção de propor a eles/elas uma atividade lúdica, de lazer, que servisse como meio de
proteção da saúde mental dos alunos e que pudesse ajudá-los a compreenderem melhor
sua realidade de vida. Consequentemente, seriam trabalhados os ensinamentos do jogo
em paralelo com os acontecimentos do cotidiano de cada aluno. Assim, além de
aprenderem algo novo e desfrutarem de momentos de lazer, também aprenderiam algo
útil, que poderia ajudá-los a resolverem seus problemas. Os ensinamentos do xadrez
apresentam características que colocam os indivíduos que o pratica em diversas
situações com inúmeras possibilidades de jogadas, o que aproxima o jogo com a
realidade do cotidiano. (GLILLO, 2012, 2013).
De acordo com Almeida (2010), o jogo de xadrez se mostra capaz de contribuir
no processo de aprendizagem dos alunos, atuando diretamente na melhora da
concentração e na mudança de comportamento, o que, consequentemente, reflete na
aprendizagem, principalmente, quando se comparam os resultados obtidos após a
prática do xadrez.
Segundo Chaida, Oliveira e Pinto (2018), por meio do xadrez é possível
desenvolver a concentração, a percepção, bem como instigar o raciocínio lógico, não só
das crianças como de qualquer pessoa, indiferente da idade e condição social. Na
mesma perspectiva, o xadrez proporciona, por intermédio de seus ensinamentos, a busca
de superação do próprio indivíduo, atuando no meio social das pessoas que o praticam,
incentivando os participantes com seu exemplo de resiliência e superação (SILVA
2008; SILVA; GRUMA 2002; SACRISTÁN, 2000).
Já é um consenso de que a prática do xadrez traz inúmeros benefícios a seus
praticantes. Pois o jogo envolve terapia, arte, ciência e cultura, o que o torna uma
atividade multidisciplinar. Assim, o jogo de xadrez é utilizado como uma ferramenta,
que visa o desenvolvimento de um conjunto de capacidades como, enriquecimento da
memória, agilidade de pensamento e segurança na tomada de decisões. Além de ter
relação direta com o raciocínio lógico, organização, sistematização, autocontrole e
autoconfiança. (SILVA, 2014).

Início do projeto
Após muito dialogar acerca da importância de fazer um trabalho preventivo fora
dos muros do CAPSi, foi permitido que o projeto fosse realizado. Durante o mesmo
período que atuava no CAPSi, no turno inverso atuava na Unidade Básica de Saúde no
mesmo bairro que pretenderia realizar o projeto. Alguns familiares dos alunos da escola
costumavam procurar atendimento na UBS, outros eram usuários de um dos CAPS da
cidade, dessa maneira foi mais fácil estabelecer um vínculo, tanto com os pais, quanto
com as crianças.
Ao chegar à escola escolhida para realização do projeto, fui muito bem
recepcionado pela diretora e equipe pedagógica. Após apresentar a proposta de realizar
um projeto de xadrez na escola, antes mesmo de terminar minha explanação as
professoras aderiram à ideia e deram todo suporte necessário para que o trabalho fosse
realizado. As informações sobre o projeto foram explicadas em sala de aula para os
alunos, foi colocado cartazes informativos na escola e disponibilizado número do
telefone e e-mail para contato. Foi entregue para os alunos que tinham o interesse de
participar do projeto de xadrez, um termo de autorização e compromisso, que os
responsáveis e o aluno deveriam assinar e entregar na coordenação da escola. As aulas
aconteciam duas vezes por semana nas segundas e quartas-feiras no turno oposto das
aulas, cada encontro tinha aproximadamente duas horas.
Quando o projeto começou a procura foi pequena. Na primeira semana de aula
apenas três alunos apareceram, dois meninos e uma menina, porém a cada encontro o
número aumentava. No segundo encontro cinco alunos compareceram, três meninos e
duas meninas, na segunda semana no terceiro encontro, compareceram nove alunos,
sendo cinco meninas e quatro meninos. Ao término do primeiro mês, o grupo era
composto por aproximadamente trinta alunos/alunas. Para que todos pudessem ter as
mesmas condições de aprendizado, sempre que chegava um aluno novo o conteúdo
anterior era retomado, dessa maneira, os alunos mais antigos tinham a oportunidade de
massificar o conhecimento e/ou tirar dúvidas a respeito de assuntos que não tivessem
entendido. Também era permitido e incentivado que os alunos mais antigos auxiliassem
os alunos mais novos, dessa forma, ambos aprenderiam juntos.

Desenvolvimento do projeto
Após o primeiro mês de projeto os alunos já eram detentores de certo
conhecimento enxadrístico, os alunos sabiam o nome das peças, distribuição de origem
no tabuleiro, movimentos e objetivo do jogo. A partir desse momento, e sempre levando
em consideração o entendimento de cada aluno, começou-se a transmitir conhecimentos
mais complexos em relação à troca peças (valores das peças), vantagem posicional e
dinâmica de jogo. Para facilitar o aprendizado, na maioria das vezes, procurava-se
comparar a intenção de jogada, ou a jogada propriamente dita com algo do cotidiano
dos alunos. Algo como superioridade e inferioridade numérica, vista nos esportes
coletivos, oposição ao rei, era comparado com a marcação individual do handebol, o
“roque” (movimento especial do rei e torre) era comparado ao castelo do rei ou ao muro
ou cerca da casa dos alunos. Dessa maneira, procurava-se transpor o conhecimento
enxadrístico para outras atividades do cotidiano deles, assim o aprendizado, além de ser
facilitado se tornava algo mais palpável, significativo para o aluno. Em estudos
realizados por Bransford, Brown e Cocking (2000), que versam sobre a ciência da
aprendizagem, salientam, que para o aluno possa desenvolver uma competência em
qualquer área de investigação, ele deve ter:

Uma profunda base de conhecimento factual, b) compreender fatos e ideias


no contexto de um quadro conceitual e c) organizar o conhecimento de modo
a facilitar sua recuperação e aplicação. Isso significa que além de reter a
informação, o aprendiz necessita ter um papel ativo para significar e
compreender essa informação segundo conhecimentos prévios, construir
novos conhecimentos, e saber aplicá-los em situações concretas.
(BRANSFORD, BROWN E COCKING, 2000, p. 74,75).

Dando continuidade as aulas, devido à proximidade entre alunos, familiares,


professores e colaboradores, assuntos mais particulares começaram a surgir. Sem que
houvesse exposição de ninguém, continuou-se a trabalhar o jogo de xadrez dentro da
perspectiva de transpor o conhecimento construído, a partir das situações do jogo de
xadrez com os problemas do cotidiano dos alunos. (violência, negligência, descaso,
dificuldade de aprendizado entre outras situações).
Para entender um pouco da realidade de cada aluno, foi necessário se ater ao
background de cada um deles. A partir do que se pode observar em relação às ações do
aluno, tanto pelo que o aluno falava ou demostrava, quanto pelos argumentos dos
familiares e professores. Pode-se perceber, que muito do que o aluno apresentava nas
aulas, era reflexo de uma condição de vida deturpada no passado. Após entender um
pouco do histórico de cada aluno, buscou-se coletivamente e de maneira individual,
possibilitar que o aluno vislumbre um futuro positivo, um foreground favorável, mesmo
em um contexto social desfavorável.
Para uma melhor elucidação dos conceitos tratados, o background de um
indivíduo se refere às vivências que estão, de algum modo, congeladas no passado. É
necessário levar em consideração o background dos alunos, para tentar entender suas
ações no presente e perspectivas de futuro. (TESSARO, BERNARDI, 2019). Já o
foreground é definido por Skovsmose na primeira definição do conceito em (1994),
como sendo as possibilidades que o contexto disponibiliza aos indivíduos para que as
perceba e as tome como sendo suas. Assim, o foreground, segundo o autor, estaria
relacionado aos motivos que geram a aprendizagem, ou seja, os indivíduos aprendem se
tiverem motivos para isso.
Ao aproximar os ensinamentos do jogo de xadrez com acontecimentos do dia-
dia do aluno, isso desperta o interesse do aprendiz, tanto por ser algo familiar, quanto
por ser um desafio, apresentado de maneira incerta, desconhecida (problemas
enxadrísticos) presente na dinâmica do jogo. Durante o jogo, o praticante se defronta
com problemas que estão distantes de sua compreensão, e procura, por meio da
experiência, da lógica e de tentativas solucioná-los. Percebe-se que de modo
inconsciente, que o praticante está a exercitar uma capacidade inata do ser humano que
é a busca pela sobrevivência e da melhor solução possível, dentro de sua capacidade,
para resolver seus problemas mais imediatos. (ALBUQUERQUE 2018).

Resultados e potencialidades
- Como resultados alcançados com o desenvolvimento do projeto de xadrez na
escola, pôde-se constatar alguns aspectos positivos dessa iniciativa. Houve interesse e
apoio dos profissionais da escola em aceitar a aplicação do projeto, percebendo a
importância para o desenvolvimento de capacidades cognitivo-emocionais e como
elemento de proteção para saúde mental das crianças.
- Os alunos gostaram de aprender o jogo, procuram por meios próprios, no
celular, notebook, baixar aplicativos de xadrez para jogarem nas horas de lazer.
Também, procuraram livros, literaturas e sites na internet para aprimorar seu jogo, além
de agirem como difusores do jogo de xadrez no seu meio social (comunidade)
ensinando irmãos, pais, primos e amigos.
- Gestores do CAPSi e alguns colegas de trabalho, que em um primeiro
momento, estavam resistentes com a ideia da realização de um trabalho de prevenção
fora da instituição do CAPS, perceberam e reconheceram a importância da iniciativa da
realização de trabalhos de cunho preventivo e não somente de recuperação e/ou redução
de danos.
- No final de três meses de projeto, um torneio de xadrez foi realizado com os
alunos da escola. Participaram do torneio 40 crianças com idades entre 8 e 12 anos.
Todos receberam premiações de participação, alguns brindes e um certificado de
participação do evento, assinado pela Secretária Municipal de Saúde.

Limitações encontradas
Mesmo com os pontos positivos exaltados por todos os agentes públicos
envolvidos, não houve empenho para que o projeto tivesse continuidade. Dessa maneira,
pode-se concluir, que há certa incoerência a respeito sobre que é dito, quando
comparado os resultados apresentados e com aquilo que é realizado por parte dos
gestores públicos. É difícil entender o motivo de não dar continuidade a um projeto que
apresentou vários resultados positivos e que não teve custo para o erário público. Tal
situação leva a crer, que, independentemente do resultado ou do objetivo alcançado,
determinadas ações que são de interesse público, não são de interesse político, e tanto
faz se elas existirem der certo ou fracassarem.

Sugestões
Projetos de educação/saúde na escola ou comunidade que se tenha a certificação
de resultados positivos é imprescindível que alguém faça registros das ações, métodos e
resultados do projeto. Dessa maneira, é possível apresentar o resultado das ações que
vinham sendo realizadas e solicitar a gestores públicos, condições suficientes para dar
continuidade ao trabalho que vinha dando bons resultados. A participação da
comunidade é fundamental tanto na hora de fazer as reivindicações junto aos órgãos
públicos, quanto na construção, desenvolvimento e execução do projeto. Pais, alunos,
professores têm muito mais chances de terem suas solicitações atendidas se dialogarem
e caminharem juntos pelo mesmo propósito.

Conclusão
O presente relato mostrou o motivo, elaboração, desenvolvimento, resultados,
potencialidades e limitações de um projeto de xadrez, desenvolvido em uma escola de
ensino fundamental de um bairro pobre e populoso da cidade de São Lourenço do Sul.
Para a elaboração e desenvolvimento do projeto muitas foram as dificuldades,
principalmente, a pressão para que o projeto fosse realizado dentro do CAPS. Porém,
em nenhum momento surgiu o pensamento de desistir, ou de que o projeto não daria
certo. O sentimento que o projeto teria êxito, logo na primeira semana começou a ser
percebido por cada aluno, professor e colaborador envolvidos, todos começaram a
acreditar na potencialidade do projeto. Mesmo diante das dificuldades trazidas pelos
alunos, foi possível construir um ambiente harmonioso, de aprendizado e de muitas
trocas de experiências. O projeto teve apenas a duração de três meses, mas foi o
suficiente para passar uma mensagem que, com certeza, os alunos e as pessoas que
presenciaram esses momentos a entenderam. “Apesar das dificuldades, se não nos
isentarmos de nossas responsabilidades e não desistirmos, coisas boas virão”.
Entretanto, o relato também mostra, que cada pessoa e/ou ente e/ou órgão público deve
fazer o que lhe compete, caso uma das partes não cumpra com o seu papel, as ideias se
tornam muito difíceis de serem desenvolvidas na prática.
É com imensa satisfação que concluo esse relato e posso compartilhar com
vocês um pouco da experiência que vivi em ter participado deste projeto de xadrez.
Aprendi muito com cada aluno que tive a felicidade de conhecer e me sinto honrado de
ter contribuído no processo evolutivo destas crianças.

CHESS AS A POSSIBILITY OF BETTER UNDERSTANDING REALITY: AN


EXPERIENCE REPORT

Abstract
The present experience report sought to show the development of a chess project carried
out in an elementary school in the city of São Lourenço do Sul/RS. This project was
carried out in partnership with the Child Psychosocial Care Center. It aimed to provide a
healthy, leisure activity that could serve as a means of protecting the students' mental
health and that could help them to better understand their reality of life. As an applied
method, we tried to work on the fundamentals of the game of chess, from the
perspective of transposing the knowledge taught by the game, comparing them with the
events of the student's daily life. As a result, students were able, through the teachings
of the game of chess, to dialogue, expose their feelings, better understand their reality of
life. Using the knowledge transfer method, it was possible to provide conditions for the
student himself to reflect and seek to solve his most immediate problems. Therefore, the
project, even with a short period of validity, fulfilled what was proposed.

Keywords: Chess Game. Knowledge transfer. Process. Teaching. Apprenticeship.


Referências

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