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FACULDADE DO MARANHÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

MARCIANE DA SILVA SANTOS

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: a formação do professor no processo de ensino e


aprendizagem nos anos iniciais do ensino fundamental

São Luís
2022
MARCIANE DA SILVA SANTOS

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: a formação do professor no processo de ensino e


aprendizagem nos anos iniciais do ensino fundamental

Monografia apresentada ao Curso de


Pedagogia da Faculdade do Maranhão,
para obtenção do grau de licenciatura em
Pedagogia.

Orientadora: Wilma Mendonça Batista

São Luís
2022
Santos, Marciane da Silva.

Educação inclusiva: a formação do professor no processo de ensino e


aprendizagem nos anos iniciais do ensino fundamental. / Marciane da Silva
Santos. – São Luís - MA, 2022.

69f.: il.
Impresso por computador (fotocópia).
Orientadora: Profa. Wilma Mendonça Batista.

Monografia (Graduação em Pedagogia) – Curso de Pedagogia,


Faculdade do Maranhão, 2022.

1. Educação inclusiva. 2. Integração. 3. Pedagogia. 4. Prática docente.


5. Criança. I. Título.

CDU 376.13

Catalogação na fonte elaborada pela bibliotecária


Sharlene Seguins - CRB 13-779
MARCIANE DA SILVA SANTOS

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: a formação do professor no processo de ensino e


aprendizagem nos anos iniciais do ensino fundamental

Monografia apresentada ao Curso de


Pedagogia da Faculdade do Maranhão,
para obtenção do grau de licenciatura em
Pedagogia.

Aprovada em: / /

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________
Wilma Mendonça Batista (Orientadora):
Faculdade do Maranhão

_______________________________________________________
1º Examinador

________________________________________________________
2º Examinador
AGRADECIMENTOS

À minha família, pelo incentivo e apoio nessa difícil tarefa.


Aos meus pais, Márcia e Marcos, por estarem sempre ao meu lado, dando-
me forças e auxiliando-me durante toda a graduação.
Ao Vinícius, meu namorado que sempre me ajudou com suas palavras de
incentivo.
Às minhas amigas, Luzianny e Rayssa, por sempre me ajudar e pelo apoio
durante essa caminhada.
À minha orientadora, Wilma Batista, por auxiliar-me e pelo conhecimento
que irei levar para toda a vida.
Agradeço a Deus, por abençoar-me e dar-me forças durante toda a
graduação.
RESUMO

A Educação Inclusiva surgiu a partir de movimentos internacionais e começou a se


concretizar em diversos locais do mundo, a princípio nos Estados Unidos, Europa e
Canadá. A escola inclusiva torna-se um convite permanente à reflexão quanto à
questão pedagógica, intervenções desenvolvidas junto à escola, exigindo uma
revisão das concepções do ensino, da aprendizagem e até da avaliação, onde,
geralmente, emergem os mecanismos de exclusão. Deve-se introduzir a inclusão
prática no currículo escolar, não apenas de alunos com determinadas deficiências
ou transtornos, pois é obrigação da escola elaborar um currículo apropriado para
qualquer aluno que demonstre dificuldades específicas, isto é, todos possuem o
direito à inclusão. As escolas brasileiras têm enfrentado grandes dificuldades, como
a escassez de recursos e falta de preparo dos professores, o que pode comprometer
a permanência das crianças com deficiência na educação. É necessário que o
professor esteja disposto para lidar com quaisquer dificuldades que surjam. Sua
prática educacional deve ser adequada e ele deve está disponível para acolher os
alunos e suas necessidades. Diante disso, o estudo em questão possui o objetivo de
discorrer acerca da Educação Inclusiva e a formação do professor no processo de
ensino aprendizagem nos anos iniciais do ensino fundamental. Autores como
Januzzi (2015), Mendes (2018), Beyer (2018), Pontes (2019), Rodrigues (2020),
dentre outros, formam a base principal para a concretização da presente
monografia, uma vez que serviram de marco teórico para as pesquisas e
recolhimento das informações utilizadas no decorrer do presente estudo. A
metodologia utilizada para a concretização do presente estudo caracteriza-se como
bibliográfica, em que foram escolhidas contribuições teóricas capazes de servir
como base para o desenvolvimento da temática: artigos, monografias, teses e
websites.

Palavras-chave: educação inclusiva; integração; pedagogia; prática docente;


criança.
ABSTRACT

Inclusive education emerged from international movements and began to take place
in different parts of the world, initially in the United States, Europe and Canada. The
inclusive school becomes a permanent invitation to reflect on the pedagogical issue,
interventions developed together with the school, demanding a review of the
concepts of teaching, learning and even evaluation, where the mechanisms of
exclusion usually emerge. Practical inclusion should be introduced into the school
curriculum, not only for students with a particular disability or disorder, but it is the
school's obligation to develop an appropriate curriculum for any student who
demonstrates specific difficulties, that is, everyone has the right to inclusion. Brazilian
schools have faced great difficulties such as the scarcity of resources and lack of
preparation of teachers, which could compromise the permanence of children with
disabilities in education. The teacher needs to be willing to deal with any difficulties
that arise. Your educational practice must adjust and prepare to welcome students
and their needs. Therefore, the study in question has the objective of discussing
inclusive education and teacher training in the teaching-learning process in the early
years of elementary school. Authors such as Januzzi (2015), Mendes (2018), Beyer
(2018), Pontes (2019), Rodrigues (2020), among others, were the main basis for the
realization of this monograph, since they served as a theoretical framework for the
research and collection of information used in the course of this study. The
methodology used to carry out this study is characterized by being bibliographic, in
which studies were collected that served as a basis for the development of the
theme, such as works, articles, monographs, theses and websites.

Keywords: inclusive education; integration; pedagogy; teaching practice; child.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 7
2 A EDUCAÇÃO E O SEU PAPEL EM DESENVOLVER A INCLUSÃO........ 9
2.1 A escola inclusiva........................................................................................ 9
2.2 A integração de alunos com deficiência na escola nos anos iniciais.... 20
3 O PAPEL DO DOCENTE.............................................................................. 29
3.1 O papel do professor no processo de 29
inclusão........................................
3.2 Práticas pedagógicas para promover a inclusão..................................... 37
4 DESAFIOS ENFRENTADOS NO PROCESSO DE INCLUSÃO................... 49
4.1 A incidência de crianças autistas nas escolas: a importância da
inclusão........................................................................................................ 50
5 CAMINHOS PARA DESENVOLVER UMA EDUCAÇÃO INCLUSIVA......... 56
5.1 Mecanismos para a educação inclusiva.................................................... 56
5.2 O papel do gestor escolar para o desenvolvimento da inclusão............ 62
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 66
7

1 INTRODUÇÃO

A inclusão é um conjunto de mecanismos e ações que objetiva integrar à


sociedade indivíduos, historicamente, marginalizados. Segundo Bartalotti (2006),
enquanto o indivíduo se encontra ajustado às normas, anonimamente, é socialmente
aceito. Contudo, é suficiente que pratique qualquer transgressão ou contraía
qualquer indício de anormalidade, para que seja acusado de desviante. Com base
na perspectiva histórico-social do indivíduo portador de deficiência, o presente
estudo perpassa por uma ótica clínico-patológica, observando as transformações da
própria sociedade, onde, a princípio, adere-se a uma pedagogia ortopédica que
intenta “normalizar” tais indivíduos e este trabalho busca analisar o processo de
inclusão educacional, levando em consideração a necessidade de capacitação do
pedagogo frente à inclusão. (PONTES; GOMES, 2019).
Afirma-se que a Educação Inclusiva proporciona ao meio educacional novos
desafios, sendo essencial atualizar o olhar, práticas e objetivos de ensino e
aprendizagem. Com isso, qual o papel do professor no processo de inclusão,
sobretudo nos anos iniciais? Quando se assevera que a concepção mecanicista
rege o sistema educacional vigente, discriminando manifestamente os normais e
deficientes, no ensino regular e no especial, bem como em cada uma das disciplinas
estudadas na escola, nota-se que este fato é agravatório para a renovação dos
ambientes escolares em espaços inclusivos. (CARVALHO, 2020).
Tal afirmativa pode ser notada quando novas condutas educacionais
precisam ser estruturadas para que o aprender escolar cative os discentes e os
ensinem a lidar com os desafios da vida. Hodiernamente, sabe-se que a escola não
deve ser um campo neutro, mas, sim, constituir-se num campo democrático, político
na vida de todos. Entretanto, apenas admitir a matrícula de educandos com
deficiência é insuficiente, deve-se trabalhar em defesa do desenvolvimento de todos
os alunos. (MENEZES; SANTOS, 2019).
Assim, destaca-se que a inclusão no contexto educacional nos anos iniciais
se caracteriza como um fator essencial, sendo o pedagogo o instrumento principal
para a concretização de uma realidade mais inclusiva no ambiente escolar. Diante
disso, o estudo em questão possui o objetivo de discorrer acerca da Educação
Inclusiva e a formação do professor no processo de ensino-aprendizagem nos anos
iniciais do ensino fundamental.
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Nota-se que tal estudo se revela de extrema necessidade, uma vez que são
escassas as pesquisas que efetivam análises acerca da importância, não somente
da inclusão, mas da formação do profissional da educação que proporciona o ensino
nas escolas brasileiras, sendo uma temática essencial tanto para o contexto social
quanto, sobretudo, para a realidade acadêmica.
Como forma de construir um estudo sólido e bem fundamentado, as seções
seguiram a seguinte proposta e abordagem: na primeira seção: “A educação e seu
papel de desenvolver a inclusão”, serão abordados acerca do surgimento e
caracterização geral da escola inclusiva no Brasil, bem como a importância da
integração dos alunos com deficiência nos anos iniciais da escola. Na seção dois: “O
papel do docente”, será destacado, sobretudo, a importância do protagonismo do
professor frente à necessidade de inclusão, indicando e analisando práticas
pedagógicas como instrumento de integração educacional entre os alunos.
Na terceira seção: “Desafios enfrentados no processo de inclusão”, será
discutido num aspecto geral – os obstáculos enfrentados para integração dos
alunos, sobretudo, das crianças autistas, que é uma realidade que urge por debates
acadêmicos.
Por fim, na sessão 4: “Caminhos para desenvolver a Educação Inclusiva”,
serão indicados mecanismos para que a Educação Inclusiva seja uma realidade,
bem como o papel do gestor para o desenvolvimento da inclusão.
Autores como Januzzi (2015), Mendes (2018), Beyer (2018), Pontes (2019),
Rodrigues (2020), dentre outros, formam a base principal para a concretização da
presente monografia, uma vez que servem de marco teórico para a pesquisa e
recolhimento das informações utilizadas no decorrer do presente estudo.
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2 A EDUCAÇÃO E O SEU PAPEL EM DESENVOLVER A INCLUSÃO

Este capítulo fez-se um estudo sobre a escola inclusiva e a Integração de


alunos com deficiência na escola nos anos iniciais

2.1 A escola inclusiva

No decorrer do século XX, houve diversas iniciativas referentes a indivíduos


portadores de deficiência, entretanto, estas se consolidaram de fato na década de
1970, pois, pela primeira vez, as pessoas com deficiência lutavam em prol de causa
própria, reivindicando direitos. Se, até esse momento, as pessoas com
necessidades especiais foram ocultadas pela história, mantidas inertes,
imobilizadas, alienadas, marginalizadas das decisões político-administrativas
referentes ao seu processo de desenvolvimento, atualmente, constata-se indícios de
mudança. Existe uma parcela significativa desse grupo que entende a relevância,
assim como a necessidade de reivindicar seus direitos, cientes das
responsabilidades do Estado, e guardiões da observância da legislação atual que
versa especialmente sobre as pessoas com necessidades específicas. (BEYER,
2018).
A Educação Inclusiva surgiu a partir de movimentos internacionais e
começou a se concretizar em diversos locais do mundo, a princípio, nos Estados
Unidos, Europa e Canadá. No início, a Educação Inclusiva não ganhou muita
credibilidade em outros lugares do mundo, mas aos poucos foi sendo bem aceita
pela sociedade. Temos, hoje, no Brasil, a Lei nº 13.146 de 6 de julho de 2015 – Lei
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com
Deficiência). É direito do portador de deficiência a inclusão do mesmo nas escolas. A
Lei enfatiza que as instituições de ensino devem assegurar e promover, em
condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais pela
pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania, sem exceções.
(MAZZOTTA, 2016).
Diversos fatores contribuíram para o crescimento e a aceitação da Educação
Inclusiva, sendo um dos fatores o final da Segunda Guerra Mundial, onde muitos
soldados feridos durante a guerra ficaram com alguma deficiência. Neste momento
histórico, o governo acreditava que uma vez reabilitados, os soldados voltariam a
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produzir; assim, a sociedade começou a acreditar na capacidade intelectual das


pessoas com necessidades especiais. Contudo, somente em 1975 tornou-se pública
a Lei 94.142, nos Estados Unidos, que versa sobre a Educação Inclusiva, defendida
pela educação especial. A referida legislação foi resultado de muitos movimentos
sociais de pais e familiares de alunos com necessidades especiais, que
reivindicavam o acesso de seus filhos com necessidades educacionais especiais às
escolas de qualidade. (FÁVERO; PANTOJA; MANTOAN, 2017).
Desta forma, os movimentos em favor de contribuir com a inclusão
ampliaram a preocupação com a defesa dos princípios básicos e toda aceitação das
pessoas com necessidades especiais.
Para Pinheiro (2017), os movimentos sociais cresceram na América do
Norte, ganhando força em toda Europa, devido às mudanças geopolíticas ocorridas
nos últimos 40 anos do século XX. No geral, os movimentos a favor da inclusão
tinham como prioridade o reconhecimento da diversidade e o multiculturalismo como
aspectos essenciais do ser humano. Em 1990 foi realizado o primeiro Congresso de
Educação, em Jamtien, na Tailândia. Este evento teve como objetivo a erradicação
do analfabetismo e a universalização do ensino fundamental, estabelecendo
objetivos e compromissos oficiais do poder público perante a comunidade
internacional.
Diante disso, profissionais mobilizaram-se com o propósito de promover a
educação para todos, com um olhar sensível, examinando as mudanças
fundamentais e políticas necessárias para desenvolver a abordagem da Educação
Inclusiva, preparando as escolas para atender toda a sociedade, sobretudo, os
indivíduos com necessidades especiais. Em 1994, na cidade de Barcelona, na
Espanha, realizou-se a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas
Especiais: acesso a qualidade. Participaram desse evento 92 (noventa e dois)
representantes governamentais e 25 (vinte e cinco) organizações internacionais.
(SASSAKI, 2020).
Vale ressaltar que é notório reconhecer que a proposta de Educação
Inclusiva partiu da declaração de Salamanca que proclamou o direito de todos à
educação, independentemente, das diferenças pessoais. No entanto, a formulação e
a implementação de políticas com relação à integração e inclusão de pessoas com
necessidades especiais têm sido inspiradas por uma série de documentos contendo
declarações, recomendações e normas jurídicas internacionais e nacionais que
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tratam da temática da deficiência. No cenário brasileiro, a Educação Inclusiva


começou a ser discutida em 1970, levando os governantes a pensarem sobre
instituições públicas e privadas, órgãos federais e estaduais de ensino como
organizações que deveriam atender a população com necessidades especiais.
(BARRETO, 2017).
Assim como nos demais países, a educação especial no Brasil foi marcada
por muita luta e organização, porém, a inclusão só ganhou espaço a partir da
Declaração de Salamanca em 1994. A Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988 tornou a educação um direito assegurado para todos,
independentemente, de qualquer situação. O Art. 206 da CF estabelece que o
ensino precisa ser ministrado baseado na igualdade de condições para o acesso e
permanência na escola. Sobre a Educação Inclusiva, a CF em seu Art. 208 deixa
claro que as pessoas com necessidades especiais devem receber educação,
preferencialmente, na rede regular de ensino. (MAZZOTTA, 2016).
Reforçando o cenário da Educação Inclusiva no Brasil, a LDB reafirma o
compromisso com a educação de qualidade para todos, devendo ser plena a
integração dessas pessoas com necessidades especiais em todas as áreas da
sociedade. No entanto, esta diretriz ainda não provocou uma mudança significativa
na realidade escolar, pois é essencial que todas as crianças, jovens e adultos com
necessidades especiais sejam acolhidas em escolas regulares e incluídas no seu
sistema educacional. (MENEZES; SANTOS, 2019).
A concretização da escola inclusiva baseia-se na defesa de princípios e
valores éticos, nos ideais de cidadania e justiça, para todos, em contraposição aos
sistemas hierarquizados de inferiorização e desigualdade.
Para Dechichi (2019, p. 36), inclusão é:

Um processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir em


seus sistemas sociais gerais pessoas com necessidades especiais e,
simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papeis na
sociedade. [...]. Incluir é trocar, entender, respeitar, valorizar, lutar
contra exclusão, transpor barreiras que a sociedade criou para as
pessoas. É oferecer o desenvolvimento da autonomia, por meio da
colaboração de pensamentos e formulação de juízo de valor, de
modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes
circunstâncias da vida.

O debate sobre a inclusão educacional de pessoas com deficiência resgata


uma questão essencial à constituição de toda a sociedade que se diz avançada: a
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forma como o ser humano vê e trabalha com as diferenças. Na medida em que


avançam as formulações teóricas e o desenvolvimento conceitual sobre os
processos de ensinar e de aprender, motivando estudos de investigação na área da
educação, toda comunidade escolar é chamada a reconhecer e considerar a
diversidade. Mesmo assim, o respeito para com a diferença na escola ainda é
exercício pouco praticado e muitos são os mecanismos dos quais esta tem se
utilizado para ofuscar as expressões da diferença em seu cotidiano. (FÁVERO;
PANTOJA; MANTOAN, 2017).
A Educação Inclusiva é uma força renovadora na escola, e para Baptista e
Beyer (2016), em seu artigo inclusão escolar, ela amplia a participação dos
estudantes nos estabelecimentos de ensino regular. Trata-se de uma ampla
reestruturação da cultura, da nossa práxis e das políticas vigentes na escola. É a
reconstrução do ensino regular que, embasada neste novo paradigma educacional,
respeita a diversidade de forma humanística, democrática e percebe o sujeito
aprendente a partir de sua singularidade, tendo como objetivo principal, contribuir de
forma a promover a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal para que cada um
se construa como um ser global.
Apesar das iniciativas acanhadas da comunidade escolar e da sociedade em
geral, é possível adequarmos a escola para um novo tempo. Precisamos estar
imbuídos de boa vontade e compromisso, enfrentarmos com segurança e otimismo
este desafio, enxergarmos a clareza e obviedade ética da proposta inclusiva, e
contribuirmos para o desmantelamento dessa máquina escolar “enferrujada”. Sabe-
se que, dentro da escola, os alunos que têm dificuldades para aprender são vistos
com outros olhos, por isso, são diferentes. Há os que não conseguem se adequar ao
regime disciplinar e também são diferentes. (PONTES, 2019).
A escola inclusiva ainda tem um longo caminho a percorrer no Brasil.
Segundo Gandin (2018), falar em educação de inclusão implica em pensar numa
escola onde os alunos recebam oportunidades educacionais adequadas às suas
habilidades e necessidades; em pensar numa escola da qual todos fazem parte, em
que todos são aceitos, ajudam e são ajudados pelos professores, pelos colegas e
pelos membros da comunidade, independentemente, do talento, deficiência, origem
socioeconômica ou cultural. Uma escola de inclusão só existe na medida em que
aceitamos que é preciso tirar proveito das diferenças.
Carvalho (2020) observa que são vários os benefícios da inclusão:
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a) Benefícios para todos os alunos, na medida em que, nas salas de aula,


todas as crianças se enriquecem por terem oportunidade de aprender
umas com as outras, aprendem a cuidar umas das outras e a conquistar
atitudes, habilidades e valores necessários para a sociedade apoiar a
inclusão de todos os cidadãos;
b) Benefícios para todos os professores, na medida em que eles têm a
oportunidade de planejar e conduzir a educação como parte de uma
equipe cooperativa, melhoram suas habilidades profissionais e mantêm-
se informados das mudanças que ocorrem em suas áreas e garantem sua
participação nas tomadas de decisões;
c) Benefícios para toda a sociedade, na medida em que a razão mais
importante do ensino inclusivo é o valor social da igualdade, pois se
ensina aos alunos que, apesar das diferenças, possuem direitos iguais. A
inclusão reforça a ideia de que as diferenças devem ser aceitas e
respeitadas. A questão da inclusão não é um direito que os alunos
precisam conquistar. Isto é discriminação. O ensino inclusivo é um direito
básico e, na escola inclusive, a igualdade é respeitada e promovida como
um valor na sociedade e os resultados visíveis são os da paz social e os
da cooperação. À escola inclusiva cabe a superação das experiências e
padrões do passado, ou seja, da segregação e da desigualdade. A ideia
tradicional de que pessoas deficientes poderiam ser ajudadas em escolas
e instituições especializadas, ambientes socialmente segregados, só
serviu para fortalecer os estigmas sociais e a rejeição.

Conforme Dechichi (2019), depois de alertar para o fato de que, mais que o
aluno, é o conceito homogeneizador da escola tradicional que deve ser mudado,
define o conceito de Educação Inclusiva como “o desenvolvimento de uma educação
apropriada e de alta qualidade para alunos com necessidades especiais na escola
regular”. A questão coloca-se na forma como a escola interage com a diferença.
Tentativas anteriores, não necessariamente em ordem de tempo dão à dimensão
dessa afirmação:
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Na escola tradicional, a diferença é proscrita para a escola especial.


A escola integrativa procura responder à diferença desde que ela
seja legitimada por um parecer médico-psicológico, ou seja, desde
que seja uma deficiência no sentido tradicional. A escola inclusiva
procura responder, de forma apropriada e com alta qualidade, à
diferença em todas as formas que ela possa assumir. (DECHICHI,
2019, p. 25).

Evidentemente, quando se fala em escola inclusiva, não se fala apenas das


unidades que se arriscam a receber alunos com Necessidades Educacionais
Especiais, mas de todo o sistema que, também na prática, deveria ser inclusivo,
dispor de recursos materiais e humanos para o atendimento conveniente dos alunos
que demandam esses serviços. A proposta de Educação Inclusiva possibilita uma
educação que aceita, respeita e promove as diferenças, acreditando na
possibilidade de aprendizagem, independentemente, das dificuldades que possam
surgir durante este processo, das condições físicas, emocionais, sociais, linguísticas,
ritmos de aprendizagem, entre outros. (MAZZOTTA, 2016).
Nesse sentido, a escola inclusiva torna-se um convite permanente à reflexão
quanto à questão pedagógica, intervenções desenvolvidas junto à escola, exigindo
uma revisão das concepções do ensino, da aprendizagem e até da avaliação, onde,
geralmente, emergem os mecanismos da exclusão. Acredita-se que incluir alunos
diferente-deficientes na classe comum do ensino regular seja viável, mas, conforme
Lima, Mello e Massoni (2016), isso só acontece quando se conhece a complexidade
de tal processo, o qual requer muito investimento e comprometimento,
principalmente dos órgãos governamentais (recursos orçamentários). Igualmente, se
fazem necessários muitos estudos, pesquisas para ampliar o conhecimento,
desenvolver e testar formas que viabilizem a verdadeira inclusão escolar.
Com relação ao tema da inclusão, os documentos legais em vigência do
Brasil e em outros países da América e Europa apontam para a ideia da convivência
dos alunos com necessidades especiais com todos os demais alunos do ensino
fundamental, em classes denominadas “regulares” ou “normais”. A inclusão é um
programa a ser instalado nos estabelecimentos de ensino a longo prazo. Não
corresponde a uma simples transferência de alunos de uma escola especial para
uma escola regular, de um professor especializado para um professor do ensino
regular. O programa de inclusão vai impulsionar a escola para uma reorganização.
(BARRETO, 2017).
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A escola necessitará ser diversificada o suficiente para que possa maximizar


as oportunidades de aprendizagem dos alunos com necessidades educativas
especiais e aproximar a convivência de alunos com deficiências ou dificuldades de
aprendizagem do grupo de alunos considerados sem impedimentos para a
aprendizagem, com prioridade para os agrupamentos a partir da faixa etária. De
acordo com Mendes (2018), o todo é sempre mais que a soma das partes. O próprio
aluno com dificuldades de aprendizagem poderá ter desempenhos diferenciados
quando trabalha em grupo, situação em que cada elemento tem uma função ou
papel a desempenhar nesse pequeno coletivo, e quando trabalha individualmente. A
articulação do particular e do coletivo, da dificuldade do potencial, da inclusão e da
exclusão faz parte do cotidiano escolar, pela qual o professor tem responsabilidade.
Segundo Moriña (2015), podem-se incluir as crianças com atraso na
escolarização: as crianças com dificuldades escolares não permanentes, com
“simples” atrasos ou disfunção na fala, com menor possibilidade de atenção
concentrada nas atividades escolares, com dificuldades de relacionamento com os
colegas, bem como aquelas que não participam das atividades e as que apresentam
condutas agressivas.
Conforme Rodrigues (2020), não restam dúvidas de que a inclusão é um
desafio, já que se trata de um novo paradigma de pensamento e de ação, pois trata
da inclusão de todos os indivíduos em uma sociedade na qual a diversidade deve se
tornar uma norma e não uma exceção. O caminho não é, certamente, um dos mais
fáceis. Mudanças dessa natureza não se fazem sem resistências, mas é o único
caminho para uma prática social verdadeiramente democrática.
A Educação Inclusiva apresenta um novo paradigma educacional. Segundo
Gandin (2018), esse tipo de educação é uma nova forma de trabalhar com o aluno,
devendo ser aprendida por toda a comunidade escolar. Nesse sentido, está disposto
na Declaração de Salamanca (ONU,1994, p. 4) que:

O desafio que confronta a escola inclusiva é no que diz respeito ao


desenvolvimento de uma pedagogia centrada na criança e capaz de
bem sucedidamente educar todas as crianças, incluindo aquelas que
possuam desvantagens severas. O mérito de tais escolas não reside
somente no fato de que elas sejam capazes de prover uma educação
de alta qualidade a todas as crianças: o estabelecimento de tais
escolas é um passo crucial no sentido de modificar atitudes
discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras e de desenvolver
uma sociedade inclusiva.
16

De acordo com Carvalho (2020), a Educação Inclusiva impõe uma nova


realidade para as escolas que devem se dedicar à reelaboração do saber tradicional,
construído por décadas sem as preocupações devidas com aqueles que exigem
métodos especiais de aprendizagem. Assim, a defasagem entre a realidade
apresentada na rede escolar e os ideais pretendidos pela Declaração de Salamanca,
bem como pelas diretrizes curriculares da educação nacional, compromete
decisivamente o pleno desenvolvimento das práticas educativas voltadas às
crianças com necessidades especiais, comprometendo, assim, a inclusão desses
alunos.
Nas práticas pedagógicas baseadas no construtivismo, segundo Menezes e
Santos (2019), é fundamental considerar que a construção do conhecimento objetivo
deve passar por diversos níveis de reestruturação. É função do professor levar as
crianças a perceber as contradições, desequilibrar-se e buscar superar essas
contradições, ultrapassando, assim, sua antiga forma de conceber o conhecimento.
As contradições citadas pela autora referem-se às diferenças entre o que é
considerado normal e o que é considerado “anormal”, ou seja, tudo aquilo ou aquele
que foge aos padrões de normalidade e, como tal, merecem um olhar diferenciado e
acolhedor por parte de toda a comunidade escolar.
De acordo com Prieto (2016), a Educação Inclusiva está relacionada às
práticas de inclusão de todos os tipos de alunos sem que, para tanto, sejam
considerados os seus talentos, suas deficiências, origem socioeconômica ou
aspectos culturais. Nesse sentido, ambientes e estruturas escolares capazes de
satisfazer às necessidades de todos os alunos devem ser construídos, por meio da
dedicação de profissionais competentes e qualificados.
Para Pinheiro (2017), nos ambientes de salas de aulas inclusivas, observa-
se um crescimento mútuo, em que as crianças enriquecem suas experiências por ter
a oportunidade de aprender umas com as outras, cuidando e dispensando maior
atenção umas às outras, onde são desenvolvidas as atitudes, as habilidades e os
valores necessários para a promoção da inclusão. Num ambiente em que esses
preceitos são praticados, é comum o estabelecimento de relações baseadas no
respeito às diferenças, proporcionando a formação de crianças mais sensíveis e
humanizadas capazes de compartilhar suas experiências de vida para o crescimento
e desenvolvimento de todos.
17

Todavia, muitas lutas foram necessárias, novas leis para que outras fossem
observadas. Na década de 1990, surgiram novas resoluções internacionais a favor
da mesma causa. Dentre as diversas resoluções, a Declaração de Salamanca, de
1997, é de notabilíssima relevância, dispondo que todas as instituições escolares
deveriam descobrir uma forma de receber e incluir todas as crianças,
independentemente, de suas condições sociais, intelectuais, emocionais e físicas.
(BEYER, 2018).
Nesse ínterim, várias propostas legislativas, estatutos e leis municipais,
estaduais e federais surgiram em consonância com essa tendência mundial, até
atingir o estado atual, em que se dispõe de uma Política Nacional de Educação
Especial, que propõe fornecer apoio técnico-pedagógico a essas pessoas, assim
como aos educadores que trabalham com esses alunos. A efetivação da escola
inclusiva se fundamenta na defesa de princípios e valores éticos, nas concepções de
cidadania e justiça, para todos, em contraste aos sistemas hierarquizados de
inferioridade e desigualdade.
Para Baptista e Beyer (2016, p. 18), inclusão é:

Um processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir em


seus sistemas sociais gerais pessoas com necessidades especiais e,
simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papeis na
sociedade. [...] Incluir é trocar, entender, respeitar, valorizar, lutar
contra exclusão, transpor barreiras que a sociedade criou para as
pessoas. É oferecer o desenvolvimento da autonomia, por meio da
colaboração de pensamentos e formulação de juízo de valor, de
modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes
circunstâncias da vida.

A discussão acerca da inclusão educacional de indivíduos deficientes retoma


um ponto crucial à composição de toda sociedade que se denomina avançada: o
modo como o ser humano enxerga e trabalha com as diferenças. À proporção em
que evoluem as formulações teóricas e o desenvolvimento conceitual a respeito dos
processos de ensino e aprendizagem, estimulando pesquisas investigativas no
âmbito da educação, toda a comunidade escolar é convocada a reconhecer e
estimar a diversidade. (MENDES, 2019).
Ainda assim, o respeito às diferenças é parcamente exercido na escola, e
diversos são os instrumentos que esta tem adotado para ocultar as manifestações
da diferença em seu cotidiano. A Educação Inclusiva constitui um aspecto renovador
na escola e, conforme aduz Rodrigues (2020), possibilita ampliar a atuação dos
18

discentes nas instituições de ensino regular. Refere-se a uma extensa reconstrução


da cultura, da práxis e das políticas em vigência nas escolas. Trata-se da
reestruturação do ensino regular que, fundado neste novo modelo educacional,
respeita a diversidade e, democraticamente, enxerga o indivíduo aprendente a partir
de sua especificidade, possuindo como objetivo fundamental, colaborar de modo
que favoreça o aprendizado e o desenvolvimento individuais para que cada um se
construa como um ser global.
Não obstante as tímidas iniciativas da comunidade escolar e da sociedade,
pode-se ajustar a escola a um novo estágio. Precisa-se estar incutido de disposição
e compromisso, combater com convicção e positividade este desafio, vislumbrar a
nitidez e a incontestabilidade ética da proposta inclusive e colaborar para a
derrocada dessa máquina escolar obsoleta. É sabido que no âmbito escolar, os
alunos que possuem dificuldades de aprendizagem são vistos de outra forma,
portanto, são diferentes. Existem aqueles incapazes de se simpatizar com o regime
disciplinar e, igualmente, são diferentes. (BARRETO, 2017).
A escola inclusiva ainda é incipiente no Brasil. Para Dechichi (2019), a
educação de inclusão requer conceber um ambiente escolar em que os alunos
recebam oportunidades educacionais compatíveis com as suas necessidades e
habilidades; conceber uma escola que integra todos, em que todos são aceitos,
auxiliam e são auxiliados pela comunidade escolar e pela sociedade,
independentemente, da aptidão, deficiência, condição socioeconômica ou cultural. A
escola inclusiva existe apenas quando se admite que é necessário aproveitar as
diferenças. Segundo Smith e Strick (2018), vários são os benefícios da inclusão:

a) Benefícios para todos os alunos, à medida que, nas classes, todos os


educandos se desenvolvem em razão da oportunidade do aprendizado
interpessoal, do cuidado mútuo e de adquirir atitudes, habilidades e
valores necessários para a sociedade defender a inclusão de todos os
cidadãos;
b) Benefícios para todos os professores, à medida que possuem a
oportunidade de elaborar e nortear a educação como integrante de uma
equipe cooperativa, aperfeiçoam suas habilidades profissionais e
informam-se das transformações ocorridas em suas áreas e asseguram
seu envolvimento no processo decisório;
19

c) Benefícios para toda a sociedade, posto que o valor social da igualdade


constitui a razão mais relevante do ensino inclusivo, pois ensina aos
alunos que, embora haja diferenças, todos possuem direitos iguais. A
aceitação e respeito das diferenças são reforçados através da inclusão. A
inclusão não deve ser um direito a ser conquistado pelos alunos, isto
constitui discriminação. O ensino inclusivo é um direito básico e, na
escola inclusive, a igualdade é respeitada e fomentada como um valor da
sociedade e os resultados manifestos consistem na paz social e
cooperação. Compete à escola inclusiva a superação das velhas
experiências e padrões, isto é, da segregação e da desigualdade.

A noção tradicional de que indivíduos deficientes poderiam ser auxiliados em


escolas e instituições especializadas, ambientes socialmente segregados, apenas
reforçou estigmas sociais e a rejeição. Pontes (2019) refere que a concepção
homogeneizadora da escola tradicional deve ser alterada. O autor conceitua a
Educação Inclusiva como a estruturação de uma educação compatível e de alta
qualidade aos educandos com necessidades específicas na escola regular. A
questão remete ao modo como a escola interage com a diferença.
Inequivocamente, a escola inclusiva não se limita a instituições que recebem
discentes com necessidades educacionais especiais, abrange ainda todo o sistema
que, efetivamente, deveria ser inclusivo, ter recursos materiais e humanos para o
devido acolhimento dos alunos que demandam esses serviços. O projeto de
Educação Inclusiva permite uma educação que admite, respeita e estimula as
diferenças, crendo na possibilidade de aprendizado independentemente de
eventuais dificuldades, das condições sociais, linguísticas, emocionais, físicas,
ritmos de aprendizado etc. (SASSAKI, 2020).
Neste prisma, a escola inclusiva vem a ser um estímulo permanente à
reflexão a respeito da questão pedagógica, ações elaboradas juntamente à escola,
requerendo uma retificação dos conceitos de ensino, aprendizado e até da
avaliação, onde, normalmente, surgem os mecanismos exclusivos. Crê-se na
viabilidade da inclusão de alunos diferentes/deficientes na classe comum do ensino,
entretanto, Baptista e Beyer (2016) destaca que tão só se fizer presente a
complexidade desse processo, o qual demanda alto investimento e engajamento,
sobretudo das entidades governamentais (recursos orçamentários). De igual modo,
20

exige-se bastante estudo, investigação para aprimorar o conhecimento, desenvolver


e ensaiar novos modos que viabilizem a efetiva inclusão escolar.

2.2 A integração de alunos com deficiência na escola nos anos iniciais

Antes de adentrar no assunto principal do presente tópico, fundamental se


faz diferenciar a educação especial da Educação Inclusiva. A educação voltada para
portadores de quaisquer deficiências é denominada de educação especial, devido
suas necessidades, as quais exigem que o sistema ofereça tratamento especial,
como se encontra explícito na LDB. A educação especial é considerada como uma
modalidade de ensino destinada a alunos com deficiências, sendo: deficiência física,
sensorial, mental ou múltipla, características específicas como altas habilidades,
superdotação ou talentos. (MENEZES; SANTOS, 2019).
No geral, a Educação especial é um ramo da educação que se ocupa do
atendimento e educação de pessoas com deficiência em instituições especializadas,
como por exemplo: escolas para surdos, cegos ou para atender pessoas com
deficiência intelectual. A educação especial, no Brasil, instituiu-se e expandiu-se por
meio de instituições privadas de caráter filantrópico, a partir da iniciativa de
familiares de indivíduos deficientes. Esta modalidade teve seu início no período
Colonial em 1600, com a criação de uma instituição particular especializada na área
de deficiência física, junto à Santa Casa de Misericórdia, em São Paulo. A Educação
Inclusiva é resultante de uma política de justiça social que alcança alunos com
necessidades especiais, como está explícito na Declaração de Salamanca. Para
Fávero, Pantoja e Mantoan (2017, p. 41):

O princípio fundamental desta linha de ação é de que as escolas


devem acolher todas as crianças independentemente de suas
condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou
outras. Devem acolher crianças com deficiência e crianças bem-
dotadas, crianças que vivem nas ruas e que trabalham, crianças de
minorias linguística, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos
ou zonas desfavoráveis ou marginalizadas.

A inclusão é uma provocação, onde a intenção é melhorar a qualidade do


ensino das escolas, atingindo a todos que fracassam em suas salas de aula. O
termo Educação Inclusiva conjectura uma escola capaz de atender a diversidade
total das necessidades dos alunos nas escolas regulares. Dessa maneira, a inclusão
21

pressupõe uma escola que se ajuste a todos os alunos, em vez de esperar que um
determinado aluno com necessidades especiais se ajuste à escola. De acordo com
Moriña (2015), a escola tem um compromisso insubstituível: introduzir o aluno no
mundo social, cultural e científico, sendo um direito incondicional de todo o ser
humano, independente de padrões de normalidade estabelecidos pela sociedade ou
pré-requisitos impostos pela escola. Portanto, é importante destacarmos que a
educação especial e inclusiva carregam as mesmas propostas educacionais, onde a
prioridade é a escolarização de alunos com deficiências e suas peculiaridades
individuais.
As duas primam pelo bem-estar dos educandos e, o mais importante, insere
os mesmos na sociedade. De uma forma geral, para a construção de uma sociedade
inclusive, é necessário que todos os cidadãos tenham preocupação e cuidado com a
linguagem ao lidar com pessoas com necessidades especiais, uma vez que, é por
meio da linguagem que estabelecemos aceitação, respeito ou preconceito,
discriminação e até mesmo rejeição em relação às pessoas ou grupos de pessoas,
conforme suas necessidades. Para Pinheiro (2017), para falar ou escrever,
construtivamente, numa perspectiva inclusiva sobre qualquer assunto de cunho
humano, é indispensável conhecer e usar corretamente os termos técnicos, pois a
terminologia correta é especialmente importante para não abordamos assuntos que
envolvem a inclusão de acordo com a tradição, ou seja, de modo preconceituoso,
estigmatizante ou marcado por estereótipos.
A educação é o ato que permite o desenvolvimento da capacidade das
crianças, transmitindo valores e práticas culturais que serão aplicados durante toda
a sua vida. Com a promulgação da Constituição de 1988, a educação se tornou um
direito de todas as crianças. Isto posto, outro preceito nacional tem garantido a
educação infantil, a Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional que, conforme
os artigos 29 e 30, diz que a educação deve ser oferecida em creches para crianças
de zero a três anos, o que constitui a primeira fase da educação básica, e em pré-
escolas para as de quatro a seis anos de idade. A educação é um direito de todos.
Contudo, a realização desse processo está sujeita a uma política educacional que
inclua de fato todos os alunos na escola, independentemente do tipo de deficiência
ou transtorno. (RODRIGUES, 2020).
A Lei nº 10.172, de 09 de janeiro de 2001, que estabeleceu o Plano Nacional
de Educação, versa que a inclusão dos portadores de deficiência deve ocorrer no
22

sistema regular de ensino. A educação especial, enquanto gênero de educação


escolar, deverá ser incrementada sistematicamente nos diversos níveis de ensino.
Com efeito, é legalmente previsto que os educadores incluam os alunos, porém, é
evidente que problemas surgirão na inserção do estudante autista na sala de aula,
dado que vários profissionais não dispõem de formação adequada para atuar com
tais alunos. (PRIETO, 2016).
Dentre as problemáticas encontradas pelo educador, estão a linguagem do
aluno, compreensão, agressividade, o receio por parte do professor, questões
relativas às práticas pedagógicas, a adaptação do espaço e escassez de recursos
para promover um melhor ensino. No que concerne às dificuldades, o docente
precisa incluir os alunos, de modo a proporcionar oportunidade igualmente às
fornecidas aos demais, para que as crianças autistas sejam aceitas não apenas pela
turma, mas pela sociedade em geral. (BEYER, 2018).
Contudo, a inclusão não se restringe à inserção nas escolas regulares,
envolve ainda a busca pela valorização desses alunos, mesmo com suas limitações,
e respeito à diversidade. Outrossim, é importante que as escolas desenvolvam
atividades pedagógicas apropriadas às necessidades dos alunos. Atualmente,
compreende-se o desenvolvimento das habilidades e aprendizado da criança
autista, na sociedade requer a sua inserção na escola, tendo acesso à Educação
Inclusiva. Porém, em razão da formação do educador, como discorrido
anteriormente, não sendo específica, este não atende às expectativas ao atuar com
um autista. De acordo com Carvalho (2020, p. 15):

A escola para se tornar inclusiva, deve acolher todos os seus alunos,


independentemente de suas condições sociais, emocionais, físicas,
intelectuais, linguísticas, entre outras. Ela deve ter como princípio
básico desenvolver uma pedagogia capaz de educar e incluir todos
aqueles com necessidades educacionais especiais e também os que
apresentam dificuldades temporárias ou permanentes, pois a
inclusão não se aplica apenas aos alunos que apresentam algum tipo
de deficiência.

Deve-se introduzir a inclusão prática no currículo escolar, não contemplando


apenas alunos com determinada deficiência ou transtorno, pois é obrigação da
escola elaborar um currículo apropriado para qualquer aluno que demonstre
dificuldades específicas, isto é, todos possuem o direito à inclusão. Na
contemporaneidade, notam-se as escolas afirmarem que incluem todos os alunos,
23

contudo, não se atentam ao fato de que a inclusão clama por mudanças. Alterar a
prática, a linguagem, reconhecer que a diversidade é positiva para o aprendizado de
todos e adotar recursos aptos a auxiliar o aprendizado são questões necessárias.
(MAZZOTTA, 2016).
É necessário que o professor esteja disposto para lidar com quaisquer
dificuldades que surjam. Sua prática educacional deve ser ajustada e preparada
para acolher os alunos e suas necessidades. O professor deve está sempre se
reciclando, não se limitando aos conteúdos abordados na graduação, mas também
buscar mediante leituras e especializações, novos conhecimentos para trabalhar
com as crianças e não se surpreender quando da necessidade e lecionar em uma
turma com um aluno autista. De acordo com Prieto (2016, p. 41):

A proposta inclusiva da Educação (um direito assegurado) tem por


fim conscientizar os (as) professores (as) sobre as bases filosóficas,
políticas educacionais, jurídicas, éticas responsáveis pela formação
de competências do profissional que participa ativamente dos
processos de integração, desenvolvimento e inserção da pessoa
deficiente na vida produtiva em sociedade, evidenciar o direito legal
mediante dever do Estado com a educação; e garantir, conforme
determina a Constituição da República Federativa do Brasil no seu
artigo 208, inciso III, o atendimento educacional especializado aos
portadores de deficiências, preferencialmente na rede regular de
ensino.

Dessa maneira, por meio desta perspectiva, percebe-se que apesar da


educação ser um direito de todos, a inclusão ainda não é uma realidade
predominante nas escolas, isto é, grande parte das instituições de ensino não está
apta para trabalhar com as diferenças. Assim, para que a inclusão seja uma
realidade, é preciso mudanças e união entre a escola e a sociedade. Para
Fernández (2021, p. 36):

Há na educação inclusiva a introdução de outro olhar. Uma maneira


nova de se ver, ver os outros e ver a educação. Para incluir todas as
pessoas, a sociedade deve ser modificada com base no
entendimento de que é ela que precisa ser capaz de atender às
necessidades de seus membros. Assim sendo, inclusão significa a
modificação da sociedade como pré-requisito para a pessoa com
necessidades especiais buscar seu desenvolvimento e exercer sua
cidadania.

Diante disso, nota-se que a escola e o coletivo devem caminhar juntos para
garantir a inclusão em qualquer ambiente, bem como está sempre buscando novas
24

formas de incluir as crianças, de forma que haja a cooperação mútua para um


mundo melhor e com respeito. Destaca-se que, na década de 90, ocorreram
diversas modificações na política educacional Brasileira. Nessa época, iniciou-se o
movimento da inclusão escolar que acarretou em novas perspectivas no campo da
educação especial. Dechichi (2019, p. 19) enfatiza que nos anos 90:

A Educação Especial tinha como orientação o documento intitulado


Política Nacional de Educação Especial (1994), o qual apresentava
como fundamentos a Constituição Federal (1988), a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação (Lei 4.024/61), o Plano Decenal de Educação
para Todos (1993) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990).

Além disso, os pesquisadores destacam que a proposição política naquela


ocasião, para todo o âmbito educacional, baseava-se nos princípios da democracia,
da liberdade e do respeito à dignidade. Dechichi (2019) comenta que, nesse
período, fora realizada a Conferência Mundial sobre Educação para Todos, cujas
prioridades foram definidas para a educação nos países subdesenvolvidos. De
acordo com Smith e Strick (2018), foram debatidas na Conferência Mundial de
Educação para Todos (1990) as necessidades básicas de aprendizado.
O foco da discussão educacional do Terceiro Mundo se moveu da
alfabetização para se concentrar na universalização da educação básica. No tocante
à educação especial, ressalta-se que é necessário adotar medidas que assegurem a
igualdade de acesso à educação aos portadores de todo e qualquer tipo de
deficiência, como parte integrante do sistema educacional. (BARRETO, 2017).
No entanto, a Constituição Federal de 1988 apresenta como um dos direitos
fundamentais a promoção do bem de todos, sem distinção de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, prevendo, ainda, em seus
artigos, a educação como garantia fundamental. Em 1994, a elaboração da
Declaração de Salamanca veio a alterar a conjuntura da educação mundial, sendo
produzida na Espanha, na cidade de Salamanca. Menezes e Santos (2019) explica
que essa resolução foi desenvolvida para indicar aos países a necessidade de
políticas públicas e educacionais que venham a atender todos de forma igualitária.
Esse documento destaca também a real necessidade da inclusão educativa dos
indivíduos que apresentem quaisquer necessidades educacionais especiais.
(SASSAKI, 2020).
25

Destarte, em 1994, a Declaração de Salamanca se torna influente na


concepção das políticas públicas da Educação Inclusiva. Segundo a resolução, o
princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todos os alunos aprendam
juntos, sempre que possível, sem distinção de eventuais dificuldades ou diferenças
que apresentem. (RODRIGUES, 2020).
Ademais, o documento enfatiza que a escola e o projeto político pedagógico
precisam se adaptar às necessidades do aluno. No contexto nacional, com vistas à
Educação Inclusiva, tem-se a Política Nacional da Educação Especial, que destaca
o processo de democratização da educação que revela a antítese inclusão/exclusão:
quando o acesso é universalizado pelos sistemas de ensino, continuam excluindo
pessoas e grupos considerados divergentes dos padrões homogeneizadores da
escola. Além disso, essa política aborda a classificação de alunos e o valor da
diversidade, esclarecendo que:

As definições do público alvo devem ser contextualizadas e não se


esgotam na mera categorização e especificações atribuídas a um
quadro de deficiência, transtornos, distúrbios e aptidões. Considera-
se que as pessoas se modificam continuamente transformando o
contexto no qual se inserem. Esse dinamismo exige uma atuação
pedagógica voltada para alterar a situação de exclusão, enfatizando
a importância de ambientes heterogêneos que promovam a
aprendizagem de todos os alunos. (SASSAKI, 2020, p. 63).

Portanto, a potencialização do processo de aprendizado não requer a


distinção de indivíduos inseridos no âmbito escolar. Por sua vez, o acesso à
educação é um direito previsto em lei, contudo, faz-se necessária a observância
disso por parte dos responsáveis legais, dado que todos possuem o direito a uma
Educação Inclusiva e ao ensino público e gratuito. Este direito está consagrado no
artigo 208 da Carta Magna, o qual dispõe que os indivíduos portadores de
necessidades especiais possuem o direito à educação, preferencialmente, no ensino
regular. (JANUZZI, 2015). Dessa forma, as pessoas com deficiência devem ser
incluídas no ensino regular ainda na educação infantil:

[...] onde se desenvolvem as bases necessárias para a construção


do conhecimento e seu desenvolvimento global. Nessa etapa, o
lúdico, o acesso às formas diferenciadas de comunicação, a riqueza
de estímulos nos aspectos físicos, emocionais, cognitivos,
psicomotores e sociais e a convivência com as diferenças favorecem
as relações interpessoais, o respeito e a valorização da criança.
(JANUZZI, 2015, p. 36).
26

Para que ocorra a aprendizagem das crianças da melhor forma possível,


além do envolvimento do ambiente escolar e sociedade, é fundamental também que
a escola disponha de ambientes e condições aptas a essa realidade, assim como
afirma Gandin (2018, p. 61):

Os sistemas de ensino devem organizar as condições de acesso aos


espaços, aos recursos pedagógicos e a comunicação que favoreçam
a promoção da aprendizagem e a valorização das diferenças, de
forma a atender as necessidades educacionais de todos os alunos.

Além disso, Baptista e Beyer (2016, p. 48) enfatiza que: “A formação dos
profissionais da educação possibilitará a construção de conhecimento para práticas
educacionais que propiciem o desenvolvimento sóciocognitivo dos estudantes com
transtorno do espectro autista”.
Nesse sentido, Pontes (2019) afirma que é de fundamental importância que
os professores possuam à sua disposição mecanismos aptos para atender as
necessidades apresentadas pelos alunos. Outrossim, é essencial que os
educadores possuam formação e preparação adequada para lidar com os diferentes
tipos de alunos e com quaisquer necessidades que estes venham a apresentar, uma
vez que:
As escolas com propostas inclusivas devem reconhecer e responder
às diversas dificuldades de seus alunos, acomodando os diferentes
estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação de
qualidade para todos mediante currículos apropriados, modificações
organizacionais, estratégias de ensino, recursos e parcerias com as
comunidades. A inclusão exige da escola novos posicionamentos
que implicam num esforço de atualização e reestruturação das
condições atuais, para que o ensino se modernize e para que os
professores se aperfeiçoem, adequando as ações pedagógicas à
diversidade dos aprendizes. (PONTES, 2019, p. 63).

As escolas brasileiras têm enfrentado grandes dificuldades para incluir


alunos com deficiência na educação: como por exemplo, a escassez de recursos e
falta de preparo dos professores, o que pode significar obstáculos à permanência
das crianças com deficiência na educação. Contudo, como afirma Prieto (2016), a
ausência de recursos de acessibilidade nem sempre se relaciona ao aspecto
financeiro, visto que o docente pode recorrer a recursos simples e assegurar o
acesso de seu aluno ao aprendizado.
Segundo Pinheiro (2017), quando os professores chamam atenção para
suas dificuldades e necessidades quanto ao meio em que trabalham, podem
27

também destacar a sua condição de isolamento profissional. Entretanto, tem


ocorrido um crescimento das matrículas no ensino regular. Para esse autor, a
democratização da gestão e a Educação Inclusiva estão intrinsecamente ligadas e
uma escola inclusiva precisa ser, sobretudo, uma escola democrática.
O levantamento escolar indica que, em 1998, aproximadamente 200 mil
alunos estavam matriculados na educação básica, com somente 13% em classes
comuns. Em 2014, esse número saltou para cerca de 900 mil alunos matriculados,
sendo 79% em turmas comuns. O número de alunos que vão às escolas no ensino
regular tem aumentado, porém o fato de termos muitos alunos no ensino regular não
significa que a inclusão está ocorrendo em todas as escolas e que a aprendizagem
está sendo absorvida por todos os alunos. Atualmente, a Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, denominada Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
dispõe em seu artigo 59 que devem ser garantidos currículos, métodos, recursos e
organização específicos para atender às necessidades dos alunos nos sistemas de
ensino. (BEYER, 2018).
Portanto, quando crianças com alguma deficiência frequentam as
instituições de ensino devem possuir à disposição materiais adequados, caso
necessário, professores auxiliares, oportunidade de participação para
desenvolvimento de seu potencial, condições apropriadas de estudo e acolhimento
igual ao oferecido a qualquer outro aluno. De acordo com Carvalho (2020, p. 53):

Em 1999 o Decreto nº 3.298, que regulamenta a Lei nº 7.853-89, ao


dispor sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência, define a educação especial como uma
modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino,
enfatizando a atuação complementar da educação especial ao
ensino regular.

Outrossim, é direito dessas crianças a participação no Atendimento


Educacional Especializado (AEE), no qual, assevera Tolezani (2010), os professores
devem atuar em parceria com o professor da classe comum para traçar as
estratégias pedagógicas que promovam o acesso da criança portadora de
deficiência ao currículo e sua interação no grupo, entre outras ações, para favorecer
a inclusão deste estudante. Lima, Mello e Massoni (2016) esclarece que a
organização da educação se baseou, historicamente, no atendimento educativo
substitutivo ao ensino comum, revelando distintas compreensões, termos e
28

categorias que motivaram a criação de instituições especializadas, escolas especiais


e classes especiais.
Na ótica inclusiva, conforme o documento: “Planejando a próxima década:
Conhecendo as 20 metas do Plano Nacional de Educação”, a proposta
pedagógica da escola regular abarca a educação especial, de forma a proporcionar
o atendimento escolar e o atendimento educacional especializado complementar ou
suplementar aos alunos portadores de deficiência, com transtornos globais do
desenvolvimento, com altas habilidades ou superdotados. Para que o acesso e a
permanência desses alunos sejam concretizados, de acordo com a Lei nº 13.005, de
25 de junho de 2014, é preciso:

Manter e ampliar programas suplementares que promovam a


acessibilidade nas instituições públicas, para garantir o acesso e a
permanência dos (as) alunos (as) com deficiência por meio da
adequação arquitetônica, da oferta de transporte acessível e da
disponibilidade de material didático próprio e de recursos de
tecnologia assistiva, assegurando, ainda, no contexto escolar, em
todas as etapas, níveis e modalidades de ensino, a identificação dos
(as) alunos (as) com altas habilidades ou superdotação. (FÁVERO;
PANTOJA; MANTOAN, 2017, p. 68):

O empenho para que se concretize o legítimo acesso à educação para todos


os alunos amparados pela educação especial na rede de ensino pública deve ser
grande. O Censo Escolar da Educação Básica de 2013 aponta que 78,8% das
matrículas daquele ano correspondiam às classes comuns, ao passo que, em 2007,
este índice era de 62,7%. Constata-se que os sistemas de ensino estão valorizando
a diversidade e atuando juntos para que haja a inclusão. Contudo, é preciso
continuar assegurando essa inclusão em todos os níveis educacionais.
(FERNÁNDEZ, 2021).
29

3 O PAPEL DO DOCENTE

Neste capítulo abordou-se o papel do professor no processo de inclusão e a


práticas pedagógicas para promover a inclusão.

3.1 O papel do professor no processo de inclusão

Primeiramente, devemos ressaltar o verdadeiro significado de inclusão que


nada mais é do que a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro como ele
é e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós.
A Educação Inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção: o estudante com
deficiência física, o que tem comprometimento mental, os superdotados, as minorias
e a criança que é discriminada por qualquer outro motivo. Para Beyer (2018, p. 73):

Nessa linha de raciocínio, o trabalho inclusivo é orientado pela ideia


de que todos os alunos podem aprender, de acordo com o tempo e o
jeito que lhes são idiossincráticos. A extensão, a profundidade e a
forma de adaptar as atividades constituem-se em desafios para o
professor inclusivo trabalhar com os conteúdos.

A escola tem que ser o reflexo da vida do lado de fora. O grande ganho,
para todos, é viver a experiência da diferença. Se os estudantes não passam por
isso na infância, mais tarde terão muita dificuldade de vencer os preconceitos. A
inclusão possibilita aos que são discriminados pela deficiência, pela classe social ou
pela cor que, por direito, ocupem o seu espaço na sociedade. Se isso não ocorrer,
essas pessoas serão sempre dependentes e terão uma vida cidadã pela metade.
Você não pode ter um lugar no mundo sem considerar o do outro, valorizando o que
ele é e o que ele pode ser. Além disso, para nós, professores, o maior ganho está
em garantir a todos o direito à educação.

Educação inclusiva é o conjunto de princípios e procedimentos


implementados pelos sistemas de ensino para adequar a realidade
das escolas à realidade do alunado que, por sua vez, deve
representar toda a diversidade humana. Nenhum tipo de aluno
poderá ser rejeitado pelas escolas. As escolas passam a ser
chamadas inclusivas no momento em que decidem aprender com os
alunos o que deve ser eliminado, modificado, substituído ou
acrescentado nas seis áreas de acessibilidade, a fim de que cada
aluno possa aprender pelo seu estilo de aprendizagem e com o uso
de todas as suas múltiplas inteligências. (JANUZZI, 2015, p. 18).
30

O maior problema é que as redes de ensino e as escolas não cumprem a lei.


A nossa Constituição garante desde 1988 o acesso a todos ao Ensino Fundamental,
sendo que alunos com necessidades especiais devem receber atendimento
especializado preferencialmente na escola, que não substitui o ensino regular. Há
outra questão, um movimento de resistência que tenta impedir a inclusão de
caminhar: a força corporativa de instituições especializadas, principalmente em
deficiência mental. (SASSAKI, 2020).
Além de fazer adaptações físicas, a escola precisa oferecer atendimento
educacional especializado paralelamente às aulas regulares, de preferência no
mesmo local. Assim, uma criança cega, por exemplo, assiste às aulas com os
colegas que enxergam e, no contra turno, treina mobilidade, locomoção, uso da
linguagem braile e de instrumentos como o soroban, para fazer contas. Tudo isso
ajuda na sua integração dentro e fora da escola

Quando uma professora diz “não quero esse menino em minha sala”,
podemos interpretar sua recusa como má-vontade, medo, pouca
colaboração [...], ou como a tradução do desejo de contribuir para o
sucesso na aprendizagem do aluno, para qual se sente
desqualificada. (RODRIGUES, 2020, p. 63).

O desenvolvimento do aprendizado decorre das relações sociais e


familiares, condições orgânicas, culturais, estímulos e experiências de cada
indivíduo. Sage (2019) entende que a psicopedagogia visa compreender a
complexidade dos diversos aspectos contidos no processo de aprendizagem. Assim,
aquele que atua na psicopedagogia, o psicopedagogo, possui em sua formação o
conhecimento e a capacidade para analisar como decorre o processo de
aprendizado de um dado indivíduo e se há algo que possa influir nesse processo.
Para Smith e e Strick (2018), a escola ideal consiste naquela capaz de
associar dois aspectos complementares: os atributos emotivos, psicológicos e físicos
da criança com o ideal de educação que a família tenciona conferir à criança. Dessa
forma é possível associar ensino lúdico com exigência, visando cada vez mais a
individualização no ensino-aprendizagem, ou seja, buscar o valor e a individualidade
do aluno.
Nota-se que a escola inclusiva tende a esse critério por propiciar a
convergência à diversidade, expondo, de fato, ao professor e ao aluno as diferenças.
Com o surgimento da inclusão, requer-se um olhar mais atento em face das
31

necessidades educacionais dos alunos, posto que, a partir de então, a escola não
cabe apenas aqueles que seguem um dado padrão, a escola deve ser de todos,
crianças com ou sem deficiências, com facilidades ou dificuldades, com performance
cognitiva baixa, média ou superior. Destarte, o psicopedagogo institucional atuará na
escola para fornecer assistência e orientações aos educandos, prevenir dificuldades
de aprendizado, desenvolver um trabalho de caráter psicopedagógico educacional
(não clínico) com os alunos, colaborando, desse modo, com a melhoria das
condições do processo de ensino-aprendizagem. (ALONSO, 2016).
Atualmente, as escolas demandam medidas menos pragmáticas, mas mais
multidisciplinares, que extrapolam os limites da sala de aula e atingem os arredores
da escola, seu corpo docente, famílias, comunidades e órgãos competentes. Estas
realidades são demonstradas aos alunos em processo de formação inicial. Os
estágios os introduzem nestas realidades, contudo, essa formação ainda é
inapropriada. (JANUZZI, 2015).
Em certos cursos, componentes curriculares que deveriam enfatizar mais
temas contemporâneos ainda são facultativos e, nesse cenário, a base do atual
educador será insuficiente em termos de segurança para lidar com a grande
diversidade presente na escola. Os professores, quando atuantes, encontram uma
sala de aula rica e diversa, quanto à heterogeneidade e à inclusão. Embora tenham
ocorrido grandes discussões e debates de alguns pontos inclusivos na formação dos
profissionais, a formação para trabalhar com indivíduos com deficiência ainda
fornece muita insegurança. (ALONSO, 2016).
Deve haver uma formação especializada que auxilie esses profissionais que
atuam em escolas inclusivas. Do contrário, a sala de aula terá um aluno especial
inserido, mas a inclusão não ocorrerá. Ante o registro de alguns profissionais,
Gandin (2018) apresenta uma realidade comum no âmbito educacional inclusivo
recente e expõe os vários tipos de esgotamento que afetam os professores,
atualmente, ao atuarem com vinte a trinta alunos em uma sala de aula e ainda se
preocupar com discente com necessidades especiais que lhe é entregue.
A autora reforça que, além da qualificação técnica e pedagógica, os
educadores precisam de apoio psicológico e uma boa relação com as famílias para
enfrentarem os desafios da inclusão. A grande ferramenta para o aprendizado na
formação do professor é a vida do aluno. O professor não deve se limitar às suas
particularidades, deve identificar também suas habilidades. As dificuldades
32

enfrentadas pelo aluno são interessantes, visto que com base nelas o professor
saberá qual a melhor forma de intervenção a ser adotada. Porém, conhecer as
habilidades do aluno é igualmente importante, dado que estas são as habilidades
que o professor usará para promover a inclusão do aluno. (ALONSO, 2016).
Com isso, percebe-se que tudo irá depender da formação que o professor
recebeu, pois é através dela que será garantido que este irá assumir seu papel de
forma eficiente.
Nesse sentido, Moriña (2015, p. 71) externa:

É preciso repensar a formação de professores especializados, a fim


de que estes sejam capazes de trabalhar em diferentes situações e
possam assumir um papel – chave nos programas de necessidades
educativas especiais. Deve ser adaptada uma formação inicial não
categorizada, abarcando todos os tipos de deficiência, antes de se
enveredar por uma formação especializada numa ou em mais áreas
relativas a deficiências específicas.

Os professores que lecionam em salas com alunos com autismo devem está
cientes de outros métodos pedagógicos e psicológicos para amparar qualquer
necessidade da criança. Para tanto, o professor não deve se sentir sozinho. A
relação família-escola é fundamental para o êxito e aprendizado do aluno com
Transtorno do Espectro Autista (TEA). Nesse sentido, a inclusão consiste na
participação de todos os indivíduos no processo de interação, fala e participação
social. Embora de caráter polissêmico, o uso do termo tem sido bem relacionado ao
ambiente escolar e será adotado neste sentido no presente estudo. (MAZZOTTA,
2016).
A inclusão é um fenômeno contemporâneo, sendo introduzido no Brasil na
década de 1990. Contudo, por seu sentido amplo, pode-se facilmente confundir com
a integração. Todavia, ao passo que a integração tutela com primazia o direito dos
portadores de deficiência, visando a inserção parcial e condicional destes, a inclusão
presume o direito de todos, sem nenhuma condição ou restrição. Portanto, deve-se
compreender a inclusão do autista no mesmo sentido. A inclusão do aluno com TEA
presume um processo de socialização, interação e que desenvolve as capacidades
do indivíduo, observando suas especificidades. Logo, este processo de inserção de
crianças com TEA nas turmas regulares promove uma quebra de paradigma nas
instituições de ensino conservadoras e tradicionais. Segundo Sage (2019, p. 78):
33

A inclusão escolar impõe uma escola em que todos os alunos estão


inseridos sem quaisquer condições pelas quais possam ser limitados
em seu direito de participar ativamente do processo escolar, segundo
suas capacidades, e sem que nenhuma delas possa ser motivo para
uma diferenciação que os excluirá das suas turmas.

Segundo a Declaração de Salamanca que traz a concepção de inclusão no


seu sentido holístico:
Inclusão e participação são essenciais à dignidade humana e ao
gozo e exercício dos direitos humanos. No campo da educação, tal
se reflete no desenvolvimento de estratégias que procuram
proporcionar uma equalização genuína de oportunidades. A
experiência em muitos países demonstra que a integração de
crianças e jovens com necessidades educacionais especiais é mais
eficazmente alcançada em escolas inclusivas que servem a todas as
crianças de uma comunidade. (SMITH; STRICK, 2018, p. 19):

A inclusão escolar dos discentes com TEA não se restringe ao aluno dentro
da escola, envolve ainda sua interação em um ambiente escolar que se organize e
se adapte às necessidades físicas do aluno, que, ao incluir esse aluno, gere novas
dimensões, posturas e atividades em todo corpo profissional da instituição e nas
comunidades escolares. Para Mendes (2018, p. 26):

Para haver inclusão é necessário que haja aprendizagem, e isso traz


a necessidade de rever os nossos conceitos sobre currículo. Este
não pode se resumir às experiências acadêmicas, mas se ampliar
para todas as experiências que favoreçam o desenvolvimento dos
alunos normais ou especiais. Sendo assim, as atividades de vida
diária podem se constituir em currículo e em alguns casos, talvez
sejam “os conteúdos” que serão ensinados.

As opiniões sobre a inclusão escolar divergem, contudo, geram a mesma


opinião: as escolas precisam estar preparadas para acolher e ensinar os alunos.
Para tanto, os professores devem ser qualificados e cientes de sua participação
junto à escola para a promoção da inclusão. Ele é o elo principal que fará com que o
aluno deixe a condição do anonimato, da incapacidade, para revelar suas
potencialidades. De acordo com Lima, Mello e Massoni (2016, p. 185):

Os currículos devem adaptar-se às necessidades da criança e não


vice-versa. As escolas, portanto, terão de fornecer oportunidades
curriculares que correspondam às crianças com capacidades e
interesses distintos. As crianças com necessidades especiais devem
receber apoio pedagógico suplementar no contexto do currículo
regular e não um currículo diferente. O princípio orientador será o de
fornecer toda a mesma educação, proporcionando assistência e os
apoios suplementares aos que deles necessitem.
34

A inclusão escolar, por ser legalmente prevista, faz-se necessária a todos.


Deste modo, a criança com TEA ao ser inserida na turma regular poderá interagir
com as outras crianças e, assim, desenvolver sua linguagem, melhorar sua
convivência social, dado que a escola constituirá sua primeira experiência enquanto
sociedade. A escola, em parceria com os pais, deve se comprometer na luta para
incluir a criança na convivência escolar. Os professores, junto a todo o corpo
profissional da escola, devem se atentar às necessidades desses alunos, buscando
sempre a melhor forma de fornecer-lhes amparo para promover a sensação de
segurança e fazê-los entender que são capazes de desenvolver suas
potencialidades. (BARRETO, 2017).
Ao inserir a criança com autismo, os educadores adotarão uma metodologia
de ensino baseada no prisma do desenvolvimento da linguagem, no qual esse aluno
passará a ser reforçado a aprender de modo diferenciado dos demais, sempre que
necessário, e isso requer boa formação do professor e que este disponha de
ferramentas aptas para a ministração de aulas ao aluno com TEA na mesma classe
do aluno regular.
Segundo Pinheiro (2017, p. 38):

A interação entre o professor e seu aluno é fundamental. No caso de


crianças com TEA nem sempre o professor vê atitudes que
demonstram uma ação de reciprocidade vinda de seu aluno [...] após
a identificação de tal interesse, o professor organiza em seu contexto
o ambiente para a aprendizagem, as motivações precisam ser
trabalhadas por meio de conteúdos e materiais diversos, valorizando
toda ação realizada por seu aluno, por meio da sua mediação.

O trabalho educativo se inicia na relação com o outro, visando a construção


desse sujeito que se desenvolve através da cultura, da linguagem e da mediação.
Para o indivíduo com TEA, o reconhecimento e a interação devem acontecer
conforme suas possibilidades. As crianças com TEA devem está inseridas na escola
e participar de toda a programação disponível. Para tanto, o currículo deve se
adequar, no intuito de promover a legítima inclusão escolar. Estas adequações
devem ocorrer de modo que o aluno com TEA perceba-se incentivado a querer
participar das atividades em grupo e se relacionar com os demais alunos. (BEYER,
2018).
A Le nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, denominada Lei do Autismo, é
fruto de uma luta vencida pela mãe de um autista, Berenice Piana, que enfrentou
35

diversas dificuldades e vivenciou muita discriminação ao tentar incluir seu filho no


meio escolar. Berenice, mesmo sem o auxílio de outras pessoas, estudou sozinha
sobre o caso e elaborou um projeto que foi transformado em lei que foi sancionada
em 2012. Entre todos os benéficos fornecidos por essa lei às pessoas com TEA,
destaca-se o direito a um acompanhamento especializado. Em seu artigo 2, o
diploma legal dispõe que, se provada a necessidade, caberá à pessoa autista,
incluída nas classes comuns de ensino regular, o acompanhante especializado.
Carvalho (2020, p. 55) fortalece essa veemência do acompanhamento especializado
junto ao aluno com TEA, quando destaca:

Enquanto o aluno com autismo não adquire a autonomia necessária,


é importante que ele permaneça sob o auxílio de um profissional
capacitado ou um psicopedagogo para que dê suporte ao professor
em sala de aula. Na escola inclusiva, é demasiadamente difícil para
um único educador atender a uma classe inteira com diferentes
níveis educacionais e, ainda, propiciar uma educação inclusiva
adequada. Tudo o que for construído no ambiente escolar deverá
possuir o gene da qualidade.

Em alguns estados brasileiros, adota-se o termo “cuidador”, cujo objetivo é


acompanhar o aluno, ajudando o educador, de forma a implementar as adequações
necessárias. Constituiria um trabalho provisório ao estudante com TEA, enquanto
adquire sua autonoma no âmbito escolar. De certo modo, este acompanhamento
proporciona aos educadores um amparo muito grande, posto que é complicado para
um único professor atender a uma classe inteira com diversos níveis, como afirma
(SAGE, 2019).
No cenário brasileiro, em que as turmas nas escolas regulares possuem
grande número de alunos, esse acompanhamento fornece uma sensação de
segurança aos pais, pois, assim, acreditam que seus filhos estão sendo auxiliados
quando precisam de ajuda para superar suas dificuldades na nova sociedade em
que estão inseridos. Para o professor também representa um amparo importante.
Para Fávero, Pantoja e Mantoan (2017, p. 85):

O aluno com autismo não é incapaz de aprender, mas possui uma


forma peculiar de responder aos estímulos, culminando por trazer-lhe
um comportamento diferenciado, que pode ser responsável tanto por
grandes angústias como por grandes descobertas, dependendo da
ajuda que ele receber.
36

Não obstante, a demanda da inclusão chega ao ambiente escolar antes da


qualificação do educador, o que tem sido contornado através da capacitação do
profissional, mediante programas de formação continuada. Em contrapartida, o
papel do Acompanhante Especializado ou cuidador não tem sido devidamente visto.
Segundo Pontes (2019), o Acompanhante Especializado é o profissional
especializado no tema ou com formação em psicopedagogia, logo, resta limitado o
número de pessoas aptas ao cargo.
Contudo, no Brasil, grande parte dos cuidadores detém formação
incompatível com a função a ser desempenhada. Em geral, são pessoas sem
especialização ou graduação na área. De acordo com dados obtidos em estágios
curriculares, na Paraíba, a maioria possui somente o ensino médio. Para compensar
esta formação, as redes de ensino promovem formação em serviço, oferecida pelo
Estado ou órgão responsável. (JANUZZI, 2015).
Tal desqualificação do Acompanhante Especializado diverge do disposto na
legislação pátria, sobretudo, do que dispõe a Lei nº9394/96 (LDB), em seu artigo 59:
institui que os sistemas de ensino garantirão currículos, métodos, técnicas, recursos
educativos e organização específica, para atender as necessidades de alunos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação. Ademais, o diploma prevê ainda a necessidade de professores com
especialização compatível em nível médio ou superior para atendimento
especializado, assim como professores do ensino regular qualificados para a
integração desses alunos nas classes comuns. (FERNÁNDEZ, 2021).
Existem muitos obstáculos que impedem que a política de inclusão aconteça
plenamente em nosso cotidiano, entre os tais, encontra-se o despreparo dos
professores do ensino regular para permitir que a inclusão aconteça em suas salas
de aulas. No geral, as salas de aulas são repletas de alunos com os mais variados
problemas sociais, disciplinares e de aprendizagem. O professor é uma figura
indispensável no processo de ensino e aprendizagem. De acordo com as diretrizes
para a formação de professores da educação básica, o papel do professor é educar
para o exercício da cidadania e, para tanto, este precisa assumir e saber lidar com a
diversidade existente entre os alunos. (SASSAKI, 2020).
Contudo, muitas vezes, observa-se nas escolas professores que não estão
aptos para ensinar. Nesse sentido, Menezes e Santos (2019) destaca que nem
sempre o professor está preparado para atuar de forma interdisciplinar, relacionando
37

o conteúdo com a realidade dos alunos, ou seja, contextualizando. Dessa forma, é


necessário que o professor estabeleça estratégias para desmistificar toda a
complexidade que envolve a ciência, uma vez que, o ensino tradicional não
proporciona uma abrangência significativa dos conceitos, tornando assim ainda mais
complexo ser professor, principalmente, quando participam de sua realidade escolar
crianças, adolescentes ou adultos com necessidades especiais.
O papel do professor é conhecer seus alunos, procurando as alternativas
pedagógicas que melhor possam atender às suas peculiaridades e necessidades no
processo de construção do conhecimento, tendo em vista a necessidade de educar
para a heterogeneidade. Assim, cabe aos profissionais da educação apresentar
novas metodologias de ensino integradas, ser dispostos e dedicar tempo e
criatividade aos alunos. Sage (2019) enfatiza ainda a necessidade de capacitação
por parte dos professores, tendo em vista que apenas a formação inicial não é
suficiente para que possam participar adequadamente do dinamismo da educação.
Compreender os níveis de aprendizagem dos alunos é fundamental, pois cada aluno
possui um desenvolvimento diferente, além de suas necessidades individuais e,
como afirma Gandin (2018), os educadores e educadoras devem assumir a
ingenuidade do educando para poder com eles superar as dificuldades de inclusão.
De uma forma geral, é preciso preparar todos os professores, para se obter
sucesso na inclusão, por meio de um processo de inserção progressiva. Entretanto,
os professores só poderão adotar um comportamento inclusivo se forem
adequadamente equipados, se sua formação for aperfeiçoada, se lhes forem dados
meios de avaliar seus alunos e elaborar objetivos pedagógicos e contarem com uma
orientação eficiente nessa mudança de postura, a fim de que possam adquirir novas
competências. (MENDES, 2019).

3.2 Práticas pedagógicas para promover a inclusão

Em função das várias problemáticas enfrentadas no desenvolvimento do


autismo, têm-se alguns dos modos para incluir no contexto escolar, a exemplo de
métodos, tais como o Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficits
Relacionados à Comunicação (TEACCH), que tem sido aplicado no Brasil. Em 1964,
fora estabelecido um projeto para atender indivíduos com autismo e outros distúrbios
no desenvolvimento. O método TEACCH se baseia em mais de duas décadas de
38

experiência no Programa Estadual para Tratamento e Educação para Autistas e


Crianças com Deficiências relacionadas à Comunicação. Visa atender às
necessidades cotidianas dos autistas, para promover uma melhor qualidade de vida.
Para Barreto (2017, p. 28):

O método TEACCH utiliza uma avaliação denominada PEP-R (Perfil


Psicoeducacional Revisado) para avaliar as crianças e determinar
seus pontos fortes e de maior interesse, e suas dificuldades, e, a
partir desses pontos, montar um programa individualizado. O
TEACCH se baseia na adaptação do ambiente para facilitar a
compreensão da criança em relação a seu local de trabalho e ao que
se espera dele. Por meio da organização do ambiente e das tarefas
de cada aluno, o TEACCH visa desenvolvimento da independência
do aluno de forma que ele precise do professor para o aprendizado
de atividades novas, mas possibilitando-lhe ocupar grande parte de
seu tempo de forma independente.

Dessa maneira, o método tem o objetivo de oferecer aos autistas


instrumentos de adaptação no ambiente em que convivem. No entanto, é necessário
analisar as crianças de maneira individual, pois estas podem apresentar o mesmo
diagnóstico, mas suas dificuldades podem ser distintas. Segundo Baptista e Beyer
(2016, p. 75):
A criança autista exprime melhor a percepção visual do que a
percepção auditiva durante as estimulações, responde a ela
positivamente quando estimulada em ambientes organizados, ou
seja, o funcionamento comportamental adaptativo do autista é
consideravelmente melhor em condições estruturadas.

Deste modo, enaltecerá não somente os pontos positivos do autista, mas


também promoverá ainda o desenvolvimento de suas habilidades de comunicação,
interação social e competências. O método auxilia os pais e responsáveis,
contribuindo com suas necessidades e atendimentos. Convém destacar que há
exigências permanentes dos pais nesse processo, pois devem também organizar o
espaço em casa, proporcionando maior segurança à criança. Na hipótese de
alterações na escola, em casa ou outro ambiente frequentado pela criança, estas
devem ocorrer de forma gradativa e adaptativa. (RODRIGUES, 2020).
Outro método que produz bons resultados, quando aplicado em crianças
com autismo, visando mudar o comportamento, é a Análise Comportamental
Aplicada (ABA). Destaca-se por eduzir sua prática da teoria Behaviorista, isto é, nela
a interação entre o meio, o comportamento e aprendizado é observada, analisada e
esclarecida. Em 1938, a obra intitulada: “O comportamento dos Organismos”, de
39

autoria de B.F. Skinner, apresenta uma grande descoberta do Comportamento


Operante, a qual sugere mudanças e auxilia no aprendizado, mediante o estímulo
reforçado que resulta em uma probabilidade aumentada de que aquele
comportamento ocorra no futuro. (SMITH; STRICK , 2018).
O Comportamento Operante permite encorajar uma reação quando se
oferece um estímulo após esta reação. Assim, o método ABA trabalha com crianças
autistas para que estas consigam interagir com o meio social, a partir de um
planejamento apropriado compreendendo todos os lugares de convivência dessa
criança. Pinheiro (2017) afirma que o método ABA consiste em um tratamento
comportamental indutivo, isto é, novas habilidades não potencializadas, a partir de
um processo que é desenvolvido em etapas, juntamente com a criança.
Deste modo, as habilidades são desenvolvidas individualmente, de modo
integrado a uma indicação ou instrução. Os responsáveis pela construção dessas
habilidades são orientados por uma série de instruções, cujo objetivo é lapidar os
comportamentos considerados apropriados e funcionais, tais como os
comportamentos agressivos, para então promover mudanças nas condutas
inapropriadas. Neste processo, cabe à família proporcionar incentivos à criança para
que ela se adeque ao novo contexto. O rastreamento do êxito do método sobre o
comportamento do aluno requer constantes observações e exames. (SAGE, 2019).
O profissional responsável deve preparar registros concisos e minuciosos,
para então juntar informações e identificar se as habilidades desejadas estão
progredindo. Entretanto, o método ABA deve ser conduzido por profissionais da área
de análise comportamental com experiência supervisionada e prática no método
ABA para alunos autistas. O aprendizado de alunos com TEA pode ser facilitado
com alguns métodos e instrumentos desenvolvidos, ensejando, assim, o seu
processo inclusivo. (FERNÁNDEZ, 2021).
Apesar de que, a princípio, tais recursos não foram desenvolvidos para a
escola regular, não há impedimentos para sua aplicação em benefício da inclusão
de alunos com TEA nas salas regulares. Neste estudo, destaca-se o TEACCH, o
PECS e o ABA. O ABA, sigla para Análise Aplicada do Comportamento, refere-se a
um método que consiste na mudança de comportamentos inapropriados para
comportamentos funcionais positivos. Conforme Lima, Mello e Massoni (2016, p.
190): “Isso envolve criar oportunidades para que a criança possa aprender e praticar
40

habilidades por meio de incentivos ou reforços positivos, ou seja, premiá-la e elogiá-


la a cada comportamento realizado de forma adequada”.
O ABA, quando aplicado e caso a recompensa seja utilizada corretamente,
há uma tendência da criança com TEA de repetir a resposta. A repetição é um fator
importante nessa abordagem. Recorrendo à mesma lógica, comportamentos
negativos, como a teimosia, não são recompensados, para que não sejam
enaltecidos e reforçados. Assim, tende-se a suprimir o comportamento negativo,
pois não atinge o objetivo. O método TEACCH (Treatment and Education of Autistic
and related Communication-handicapped Children) é uma abordagem que requer
toda a estruturação do espaço em benefício do aprendizado. Para Carvalho (2020,
p. 57):
É um modelo de intervenção que, através de uma “estrutura externa,
organização de espaço, materiais e atividades, permite que as
crianças do espectro autista criem mentalmente “estruturas internas,
transformando-as em” estratégias”, para que possam crescer e se
desenvolver.

O sistema de comunicação por troca de figuras, ou PECS, constitui outro


modelo de intervenção que usa a troca de figura para proporcionar o entendimento e
estimular as respostas. Aplicado como tratamento psicoterápico, esta abordagem
visa ao estímulo da criança mediante atividades que redesenham posturas para que
o cérebro se reorganize para novas aprendizagens, isto é, é um modelo voltado para
incentivar a criança a aprender, empregando recursos que a criança se sinta
confortável para exercê-las. Este tratamento engloba uma gama de exercícios,
desde atividades básicas como uma simples ida ao banheiro. Neste método, a
criança em tratamento oferece ao professor ou responsável a figura correspondente
à ação desejada, viabilizando a comunicação entre ambos. (SAWAIA, 2019).
Assim, é necessário o preparado apropriado do ambiente, de modo que
atenda a todos os alunos, deficientes ou não. O preparo deve considerar toda a
diversidade da demanda escolar da instituição. A segunda questão a ser analisada é
a função do professor. Este, provavelmente, constitui o ponto nevrálgico da
educação. O empenho do professor associado ao seu interesse em pesquisar e
estudar sobre a diversidade presente em sua turma, buscando continuamente o
aperfeiçoamento de sua conduta, pode ser de grande valor na vida de uma criança.
Cabe ao professor induzir na criança a curiosidade em aprender, é ele quem oferece
41

diferentes metodologias, de modo a contemplar as diversas necessidades de cada


criança. Segundo Alonso (2016, p. 10):

Não há como falar em inclusão sem mencionar o papel do professor.


É necessário que ele tenha condições de trabalhar com a inclusão e
na inclusão. Será infrutífero para o educador aprender sobre
dificuldades de aprendizagem e modos de intervenção
psicopedagógica se não conseguir incluir o aluno. E como fazer a
inclusão? Primeiro, sem rótulos e, depois, com ações de qualidade
[...].

Caso o professor se atente à aprendizagem de seu aluno, dificilmente este


não aprenderá, pois o educador investigará os mais diferentes modos para que ele
aprenda e descansará somente quando isso ocorrer. Portanto, a inclusão é
altamente ensejada pelo exercício correto por parte do professor, pois, caso este
cumpra precisamente sua função, a criança será efetivamente incluída e não será
lesada por estar ali, mas não aprender de fato. (MENEZES; SANTOS, 2019).
Dentre as ações mais relevantes a serem adotadas na escola inclusiva são a
conscientização do educador de sua função na sala de aula e o comprometimento
com o cuidar e o educar em uma perspectiva acolhedora orientada ao aluno,
buscando sempre novos sentidos e possiblidades variadas de aprendizagem. O
docente deve entender que cada aluno aprende de uma forma distinta e que nem
todo o conteúdo ensinado será totalmente aproveitado. Quando o professor crê no
ser humano enquanto indivíduo único e capaz, ele impulsiona o êxito de todos os
seus alunos, pois confia no potencial de cada um e tende a ensinar a partir deste,
deixando a aprendizagem muito mais proveitosa e aprazível. (MAZZOTTA, 2016).
A convivência com autistas é desafiadora, já que compreender suas
necessidades particulares não é fácil para os participantes desse processo.
Igualmente, na educação, quando uma criança demonstra alguma dificuldade e
necessidade específica, os professores tendem a se distanciar dela por razões
diversas. No tocante ao espectro autista, a ausência de habilidade social é uma
barreira que amplia esse distanciamento. (RODRIGUES, 2020).
A análise do Comportamento foi usada amplamente na clínica como Terapia
AB (ABA Therapy). É considerada uma abordagem da psicologia que também pode
ser usada no tratamento de pacientes autistas. A ABA tem origem no campo do
Behaviorismo, nos estudos de Skinner, e é conhecida como uma ciência que
42

“observa, analisa e explica a associação entre o ambiente, o comportamento


humano e a aprendizagem". (BEYER, 2018, p. 48).
Consequentemente, algum comportamento do aluno com autismo logo
emerge e é realizada uma análise sobre ele que pode ser resumida em uma
intervenção para mudar esse comportamento. As técnicas de modificação de
comportamento têm se mostrado bastante eficazes no tratamento, especialmente,
em casos mais graves de autismo. Para um analista comportamental, ser terapeuta
significa atuar como educador, pois o tratamento envolve um processo de ensino-
aprendizagem ou reaprendizagem abrangente e estruturado. (FÁVERO; PANTOJA;
MANTOAN, 2017).
Contudo, compete ao educador a articulação para que o aluno possa ter
acesso à inclusão e ao conhecimento. Ainda que a escola não seja apta a lidar com
todos os desafios e que os pais devem buscar ajuda de outros especialistas, sabe-
se que ele deve desempenhar seu papel de ensinar. Para o aluno autista, a escola é
o ponto norteador, visto que neste espaço a criança será incentivada a aperfeiçoar
seu desenvolvimento e suas habilidades e é no âmbito escolar que ela deverá
aprender a conviver e se relacionar com indivíduos que não integram a sua família.
(SASSAKI, 2020).
O ingresso na escola é um momento muito importante para qualquer
criança. A escola se torna o espaço de socialização, pois o aluno com autismo
apresenta dificuldade nessa dimensão e, portanto, a escola deve auxiliar o aluno
incentive-o à socialização. Esse é o primeiro aspecto em que a escola contribui com
os autistas. Acerca dessa interação, Moriña (2015, p. 69) destaca que:

O processo de inclusão escolar das pessoas com TEA deve


acontecer por meio de práticas pedagógicas voltadas ao cotidiano
dos alunos, tendo por base suas experiências e ações do dia a dia,
para a promoção do desenvolvimento da criança como pessoa e não
como deficiente. Para isso, além do que simplesmente colocá-las
dentro do espaço escolar, é preciso proporcionar uma aprendizagem
significativa, baseada em suas potencialidades e práticas cotidianas.

A rotina escolar é ainda outro ponto relevante que auxilia no


desenvolvimento de crianças com autismo. As pessoas autistas, usualmente,
apresentam apego à rotina, assim, as normas usuais do ambiente escolar podem
ensejar o convívio e adequação. Inicialmente, atividades que envolvam autonomia
possuem maior relevância do que aprender a ler e escrever. Exercícios como cuidar
43

de si, de seus objetos, de seu corpo, alimentar-se, realizar tarefas básicas


cotidianas, como despejo correto do lixo, antecedem atividades acadêmicas.
(FERNÁNDEZ, 2021).
Cumpre esclarecer que, na educação, não há modelos, mas adaptações que
permitem o aprendizado. Portanto, o movimento inicial vem da família, ao buscar
compreender a relevância da escola na vida da criança e a necessidade de
matriculá-la. Visitar a escola, reconhecer todo o espaço físico, os funcionários, a
comunidade escolar e o corpo docente são ações básicas que proporcionam maior
tranquilidade ao entregar a criança aos cuidados da instituição. Após a matrícula, é
preciso ainda acompanhar a criança em uma visita até a escola, sobretudo a sala
em que irá estudar. (SAGE, 2019).
Gandin (2018) aduz que o educador deve ainda preparar a turma antes do
ingresso da criança com autismo, abordando sobre diversidade e respeito e expor
que o novo colega precisa da assistência e cooperação de todos. Legalmente, a
criança autista possui um acompanhante, contudo, isso não pode se tornar um
impedimento, ao contrário, essa figura tem o papel de auxiliar a criança, gerando
possiblidades de aprendizado e desenvolvimento.
O acompanhante deve compreender a autonomia da criança nas tarefas em
que for possível e que sua presença ali se limita aos casos em que ela necessite de
ajuda, como por exemplo, ir ao banheiro, quando não, instruir a criança a executar
tais atividades sozinha. Ainda que inexistam modelos prontos, podem-se adotar
algumas medidas para melhorar a interação dos autistas no ambiente escolar e
diminuir as problemáticas relacionadas ao aprendizado. A seguir, alguns desses
pontos são apresentados. (BARRETO, 2017).
O preparo do ambiente: a sala de aula deve ser planejada para a
diversidade de seus discentes, logo, se existe um aluno com autismo que recusa
muita informação visual, repugna cores vibrantes, a sala deve ser planejada
observando tais aspectos. O ambiente com cores claras, com pouca informação
visual, o mais tranquilo possível é propício. Sawaia (2019) enfatiza ainda a
relevância do ambiente quando esclarece a sua natureza simples, composto por
pequenos grupos de crianças, no qual o professor define suas metas clara e
explicitamente.
Partir do interesse da criança: sabe-se que é inexequível preparar um plano
de aula para cada criança, contudo, podem-se introduzir adequações no plano para
44

que os conteúdos e objetivos contemplem a todos. Devem-se valorizar as crianças


autistas para que elas se interessem pelo aprendizado.
Nesse sentido, Pinheiro (2017, p. 40) aponta:

Quando nos referimos a crianças com autismo, é importante sempre


estarmos atentos à suas preferências. Se ela gosta de copiar e
desenhar, podemos, por meio disso, direcioná-las a atividades
complementares. Precisamos encontrar uma forma de ativar as
possibilidades de aprender, utilizando os recursos disponíveis.

Logo, pode-se afirmar que se deve partir do interesse da criança e não do


que foi planejado para o restante da turma. A título de exemplo, grande parte dos
autistas possui interesse fixo em certos objetos, assim, o educador precisa partir do
interesse da criança para ajustar o plano de forma que a criança autista também
aprenda. Talvez ela não aprenda tudo ou aprenda bem pouco, porém,
gradativamente, com muito incentivo, ela progredirá cada vez mais. (ALONSO,
2016).
Períodos curtos: devem-se destinar períodos de atividades curtos para
alunos autistas, visto que não se concentram por muito tempo em uma única
atividade, portanto, o plano deve ser diversificado e repleto de atividades simples e
curtas. (SAGE, 2019).
Frases diretas: pessoas com autismo possuem dificuldades em entender
metáforas, assim, o educador deve ser direto, esclarecido, claro e sucinto. De
preferência, sua fala deve ser sustentada por alguma figura, visto que são bastante
visuais, assim, haverá uma maior compreensão. Não adianta utilizar ditados
populares na comunicação com a criança, pois, dificilmente, compreenderá.
(MENDES, 2019).
Desenvolvimento de rotina: preferencialmente, o educador deve criar uma
rotina com a turma, o que deve ser esquematizado e exposto no mural da sala. Por
exemplo, se para a segunda-feira há uma programação específica, o professor pode
usar lustrações para que os alunos possam acompanhar as atividades a ser
realizadas naquele dia. Tais ilustrações podem ser coladas em mural antes da aula.
(ALONSO, 2016).
As ilustrações podem ser constituídas por uma imagem de crianças lendo
livros com a legenda “biblioteca”, outra imagem ao lado com crianças de jaleco em
um laboratório de ciências com a legenda “Ciências”, uma terceira com crianças
45

lanchando com a legenda “intervalo”, outra de crianças praticando esportes com a


legenda “Educação Física” e uma última imagem de crianças com a mochila nas
costas com a legenda “saída”. Esses desenhos das atividades do cotidiano facilitam
a organização mental dos alunos, pois são fixos em rotinas e melhor compreendem
quando estas são relacionadas a ilustrações. Em razão dessa fixação por rotinas,
mudanças podem causar grande desconforto aos autistas. A respeito disso, Pontes
(2019, p. 70) escrevem:

Diante daquilo que é apresentado ao autista como novidade, mesmo


sendo indiscutivelmente necessário para a sua aprendizagem, é
preciso ter cautela. O que é novo pode lhe gerar angústia e repulsa,
por não compreender o motivo de tal imposição, pois tem uma
síndrome comprometedora de sua função simbólica, agravante de
alterações em sua comunicação. Deve ser evidenciado pelo
profissional o respeito à individualidade dessa pessoa, aceitando
seus limites e propondo estratégias para a superação das barreiras
apresentadas, incentivando o desenvolvimento e o crescimento de
seu potencial global.

Com isso, profissionais da educação qualificados, preparados e em


crescente busca de aprimoramento, são fundamentais na aprendizagem das
crianças. Sobre isso, Baptista e Beyer (2016, p. 39) afirma que:

Está previsto, assim, que na formação inicial, durante a graduação,


todos os futuros professores da Educação Básica devem
desenvolver competências para atuar também com alunos que
apresentem necessidades especiais, em qualquer etapa ou
modalidade de ensino, na perspectiva de se efetivar a educação
inclusiva.

Um educador que não procura se qualificar com base na exigência de seus


educandos não consegue alcançar o objetivo da educação. Como ensinar uma
criança autista sem nem ao menos saber do que se trata o autismo? Assim, o
professor deve manter-se em uma busca, análise e estudo contínuos, aperfeiçoando
seus conhecimentos sobre as particularidades de seus alunos. (STAINBACK, S.;
STAINBACK, W., 2019).
Portanto, o docente deve se manter em um processo de formação
continuada, compreendendo o caráter dinâmico do processo de formação, sempre
buscando novas formas de conhecimento. Todo professor deve ter o desejo de
buscar conhecimento e uma formação com base nas particularidades de cada aluno,
particularidades estas que englobam crianças com dificuldade de aprendizado,
46

patologias, transtornos, deficiências e toda diversidade que uma sala de aula


agrupa. Logo, é preciso que o professor possua formação e preparo adequados,
visando proporcionar um ensino de excelência a todos os seus alunos, sem
distinção. (JANUZZI, 2015).
Por fim, deve-se relembrar que a parceria família-escola é fundamental no
aprendizado das crianças autistas, visto que os eventos da escola precisam
continuar em casa, e isso é possível apenas quando os pais compreendem a
importância da educação na vida de seus filhos. Para todo aluno, a relação família-
escola se faz necessária. (SAWAIA, 2019).
Os pais interessados na vida escolar de seus filhos incentivam-os e
motivam-os na continuidade e empenho em seus estudos. Escola e família devem
caminhar lado a lado, evitando discordâncias quanto ao ambiente escolar e
ambiente familiar. Assim, a família e a escola devem se conhecer bem, para
trabalhar em conjunto.
Nesse sentido, Carvalho (2020, p. 60) enfatiza:

A escola está inserida na educação entre a família e a sociedade,


onde se adquire princípios e regras estabelecidas para o convívio.
Ainda que seja normal existir em qualquer aluno posturas
comportamentais diferentes em casa e na escola, no autismo, isto
poderá trazer grande prejuízo. Por isso, é necessário que os pais e
os profissionais da escola trabalhem da mesma forma,
estabelecendo os mesmos princípios que permitirão uma articulação
harmoniosa na educação.

Assim, a educação de qualquer criança não está exclusivamente ligada ao


aspecto escolar. Quando os pais notam tal realidade e passam a adotar medidas de
aprimoramento na vida dos filhos, tudo se modifica, pois a articulação entre escola e
família começa a surtir efeito. Com isso, assim como afirma Mazzotta (2016, p. 48),
pais e professores devem sempre ter em mente que:

[...] para que o aprendizado seja eficaz, é fundamental que haja


palavras de incentivo e elogios sempre, bem como premiações
quando ela conseguir realizar avanços, mesmo que pequenos.
Críticas e expressões de reprovação estão proibidas nessa fase! A
criança nunca pode associar o aprendizado a algo aversivo, mas sim
a algo prazeroso e positivo. É claro que não existe uma fórmula
mágica no trato com alunos com autismo. Tudo requer tempo,
persistência e muita dedicação.
47

Esses são alguns aspectos essenciais para que o autista se desenvolva de


forma mais eficiente no cenário escolar. Entretanto, sabe-se que não existe uma
receita pronta para que as crianças neurotípicas aprendam, isso não é diferente com
os autistas. Sobre isso, Mendes (2018, p. 39) aponta:

A educação para a aquisição de habilidades acadêmicas é também


uma educação social, que deve partir dos interesses e carências do
aluno, não sendo tratada no seu déficit, mas principalmente na sua
singularidade como ser humano.

Igualmente, as crianças que não apresentam o transtorno possuem suas


particularidades e singularidades que variam conforme a pessoa. Podem-se
conceber meios que ensejam de certo modo o ensino e o aprendizado do aluno com
autismo, mediante práticas específicas que valorizam suas capacidades, refletindo
nos meios e nas possiblidades antes mesmo de se pensar no espectro autista.
(ALONSO, 2016).
O princípio da inclusão consiste no reconhecimento da necessidade de
caminhar rumo à escola para todos, um lugar que inclua todos os alunos e responda
às necessidades individuais de cada aluno. A Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96
reafirma o direito de acesso e permanência de todos os alunos nas escolas de
ensino regular. A escola se torna inclusiva quando distingue a diversidade que
constitui sua demanda de alunos e responde com eficiência pedagógica à realidade
dos educandos. Para responder às necessidades de cada aluno, condição essencial
na prática educacional inclusiva, as instituições de ensino precisam se adequar aos
diferentes elementos curriculares, de forma a atender as peculiaridades de todos os
alunos. (STAINBACK, S.; STAINBACK, W., 2019).
Nesse pressuposto, é essencial criar alternativas, adotando estratégias
diferenciadas e adequando a ação educativa às maneiras peculiares dos alunos,
sempre considerando que o processo de ensino e de aprendizagem implica atender
à diversificação de necessidades dos alunos na escola e contextualizar com a
realidade dos mesmos. Para Beyer (2018), a inclusão não prevê a utilização de
práticas de ensino escolar específicas para deficiência e/ou dificuldade de aprender,
mas sim permite que educandos aprendam dentro dos seus limites. Neste sentido,
os professores precisam conhecer os limites de cada um para explorar
convenientemente as possibilidades existentes de um ensino de qualidade.
48

A realidade da Educação Inclusiva ainda é difícil para ser abordada em


muitas escolas, uma vez que carrega uma gama de precariedades, entre as quais as
estatísticas de pessoas com necessidades especiais que frequentam as escolas,
considerando que muitas crianças, adolescentes e adultos apresentam deficiências,
mas não apresentam laudos médicos que comprovem. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 10% da população
mundial apresenta algum tipo de necessidades especiais de diversas ordens, sendo
as principais: visuais, auditivas, físicas, mentais, múltiplas, distúrbios de conduta e,
também, superdotação ou altas habilidades. (BARRETO, 2017).
Para o Brasil, a estimativa é que existam cerca de 15 milhões de pessoas
com necessidades especiais. É notório que numa comparação entre a legislação e a
realidade educacional, a inclusão dos alunos com necessidades educacionais
especiais no ensino regular não se concretizou da forma desejada, pois a proposta
de educação atual ainda não oferece condições totalmente satisfatórias para ser
considerada inteiramente inclusiva. Neste pressuposto, é necessária uma maior
competência profissional, educação continuada voltada para os professores,
projetos educacionais mais elaborados, uma maior gama de possibilidades de
recursos educacionais e estruturas adequadas. (RODRIGUES, 2020).
No geral, para que a Educação Inclusiva seja de fato inclusiva e de
qualidade torna-se essencial a organização e propostas de desenvolvimento e
estratégias elaboradas de intervenção que facilitem a implementação desta
proposta. Vale destacar, que não existem modelos pedagógicos prontos para a
Educação Inclusiva, nem mesmo diretrizes que possam dá conta de uma
transformação radical da escola tradicional, mas é primordial que cada escola,
turma, professor, indivíduo dentro de uma instituição seja visto por suas
especificidades e sabe-se que todos estão inseridos em diferentes realidades.
(FERNÁNDEZ, 2021).
Neste contexto, é plausível o estabelecimento de adaptações que possam
contribuir de forma simples e prática com as diversas dificuldades enfrentadas nas
instituições de ensino quando a temática é a inclusão, sendo primordial que os
profissionais envolvidos neste processo encarem os desafios para contribuir com o
espaço escolar, educação de qualidade e com a política de inclusão disponível na
legislação. (SAWAIA, 2019).
49

4 DESAFIOS ENFRENTADOS NO PROCESSO DE INCLUSÃO

São muitos os desafios encontrados na Educação Inclusiva, uma educação


de qualidade para todos. Podemos dizer que o primeiro desafio é o preconceito
existente na sociedade, mas que aos poucos vem diminuindo. Para Sawaia (2019, p.
91):
O desafio é construir e pôr em prática no ambiente escolar uma
pedagogia que consiga ser comum e válida para todos os alunos das
classes escolar, capaz de atender os alunos cujas situações
pessoais características de aprendizagem requeiram uma pedagogia
diferenciada. Tudo isto sem demarcações, preconceitos ou atitudes
nutridoras dos indesejados estigmas.

Para Pontes (2019), pessoas com necessidades especiais mencionam que o


maior desafio é o sentimento de rejeição, explícita ou mascarada sob a forma de
tolerância. Esclarecimentos acerca do sentido e significado da inclusão têm sido
outro desafio, considerando os equívocos e as omissões a respeito. O conceito de
Educação Inclusiva deve ser amplamente divulgado para que a sociedade adquira
esse conhecimento e perca essa ideia preconceituosa. A falta de verbas para uma
escola adaptada à inclusão vem sendo outro desafio da Educação Inclusiva.
De acordo com as necessidades educacionais especiais de cada criança, a
escola deve ter, entre muitos outros materiais, rampas, computadores específicos e
individualizados e mobiliários para a sala de aula. Outra dificuldade que alguns
professores que já trabalham com a Educação Inclusiva apontam é a demora no
diagnóstico da criança ou a falta dele, onde o professor (a) deve experimentar todos
os recursos para descobrir qual o melhor para a adaptação do aluno. (FÁVERO;
PANTOJA; MANTOAN, 2017).
Stainback, S. e Stainback, W. (2019) assinalam que um ensino de qualidade
para crianças com necessidades especiais, na perspectiva de uma Educação
Inclusiva, envolve pelo menos, dois tipos de formação profissional docente:
professores “generalistas” do ensino regular, com um mínimo de conhecimento e
prática sobre alunado diversificado; e professores “especialistas” nas diferentes
“necessidades educacionais especiais”, quer seja para atendimento a essa
população, quer seja para apoio ao trabalho realizado pelos profissionais de classes
regulares que integrem esses alunos. Numerosos e complexos são os desafios
existentes, que não param por aí.
50

Mas, diante deles, nossa atitude deve ser de luta para buscar as parcerias,
trocar ideias e reunir experiências. Portanto, o trabalho docente com portadores de
necessidades educativas especiais na contemporaneidade deve combinar estes dois
aspectos, o profissional e o intelectual, e para isso se impõe o desenvolvimento da
capacidade de reelaborar conhecimentos. Desta maneira, durante a formação inicial,
outras competências precisam ser trabalhadas como a elaboração, a definição, a
reinterpretação de currículos e programas que propiciam a profissionalização,
valorização e identificação do docente. (SASSAKI, 2020).
O movimento pela sociedade inclusiva é internacional, e o Brasil está
engajado nele, o que é no mínimo apropriado, já que temos cerca de 15 milhões de
deficientes, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cuja grande maioria
está provavelmente aguardando a oportunidade de participar da vida em sociedade,
como é seu direito. Assim, necessitamos de uma nova escola que aprenda a refletir
criticamente e a pesquisar. Uma escola que não tenha medo de se arriscar, com
coragem suficiente para criar e questionar o que está estabelecido, em busca de
rumos inovadores, e em resposta às necessidades de inclusão. (ALONSO, 2016).
Então, como atuar numa escola inclusiva? Compreendendo o aluno portador
de necessidades educativas especiais e respeitando-o na sua diferença,
reconhecendo-o como uma pessoa que tem determinado tipo de limitação (e,
embora as dele sejam de consequências geralmente mais difíceis, todos têm
limitações) e levando em consideração que todos também possuem seus pontos
fortes. Para isso, é necessário que se abandonem os rótulos, as classificações,
procurando levar em conta as possibilidades e necessidades impostas pelas
limitações que a deficiência lhe traz. Vale lembrar que o movimento de Educação
Inclusiva, frente à realidade educacional brasileira, deve, ainda, neste início, nesta
fase de transição, ser visto como um grande avanço, quando recomenda a matrícula
do aluno portador de necessidades especiais. (STAINBACK, S.; STAINBACK, W.,
2019).

4.1 A incidência de crianças autistas nas escolas: a importância da inclusão

A ida da criança autista para a escola regular é um momento de tensão tanto


para a família quanto para a instituição. Nesta ocasião, família e corpo docente se
questionam a respeito da inclusão dessas crianças, visto que a escola requer
51

adaptações. Gandin (2018) afirma que o acolhimento de alunos portadores de


deficiência, sobretudo com transtornos invasivos do desenvolvimento, é um desafio
que as escolas lidam cotidianamente, pois presume adotar adaptações ambientais,
curriculares e metodológicas. Todavia, esta é uma tarefa complexa, haja vista que a
efetiva inclusão escolar requer o compromisso de todas as partes, isto é, alunos,
docentes, diretor, pais, comunidade, em suma, todos que atuam na vida escolar
direta ou indiretamente.
Baptista e Beyer (2016) afirmam que a garantia do acesso exige assegurar a
permanência com qualidade.
Portanto, faz-se fundamental concentrar-se nas potencialidades de cada
aluno, é preciso que o professor passe a sensação de segurança e confiança para
ele, para que, então, aprenda de fato. Ademais, o ensino de qualidade requer um
currículo adaptado, de modo a gerar alterações organizacionais, estratégias de
ensino e uso de recursos etc. (STAINBACK, S.; STAINBACK, W., 2019).
Pinheiro (2017) leciona que o currículo consiste na efetivação, em viabilizar
os desígnios previstos no projeto pedagógico, havendo vários conceitos de currículo:
grupo de disciplinas, resultados de aprendizado pretendido, experiências que devem
ser oferecidas aos alunos, princípios orientadores da prática, seleção e organização
da cultura. No entanto, quando se pensa em currículo, o foco deve sempre partir da
realidade de cada criança, seja ela com TID (Transtornos Invasivos do
Desenvolvimento) ou não, pois:

Pensar numa proposta curricular vai além dos conteúdos. Ou são os


conteúdos mais importantes que o processo educativo? Ao educador
faz-se necessário observar a real necessidade do aprendente autista
e como esse currículo vai ajudá-lo no seu desenvolvimento cognitivo.
(PINHEIRO, 2017, p. 102).

Destarte, quando da ida da criança à escola, os educadores devem estar


cientes de que não devem se restringir a lecionar os conteúdos escolares para a
criança, devem ainda estimular sua autonomia, tornando-a capaz de desenvolver
atividades diárias sozinha, pois, frequentemente, os pais executam atividades que
as crianças poderiam realizar por si só. Como exemplo de currículo importante para
incentivo da independência da criança, tem-se o Currículo Funcional Natural, cujo
principal objetivo, conforme Januzzi (2015, p. 89), é proporcionar ao aluno a sua
52

autonomia e produtividade, tornando-o também mais aceito socialmente. Porém, é


preciso determinar o que é funcional, e isso depende de diversos fatores, pois:

Aquela habilidade que pode ser considerada funcional numa


determinada comunidade, poderá não ser em outra. Portanto, ao
eleger-se os objetivos funcionais para ensinar, é necessário ter em
mente aquilo que a pessoa portadora de deficiência necessita
aprender para ser exitosa e aceitável em seu meio, como qualquer
outra dessa mesma comunidade.

Presumindo que é preciso saber o que cada criança necessita aprender, faz-
se igualmente importante a contínua análise e avaliação do currículo elaborado
durante o processo de ensino-aprendizado. Assim, será possível que o professor
avalie o aluno em seus progressos e dificuldades. Entretanto, para que o professor
concretize essa relação sobre o que e como ensinar o educando com autismo, é
preciso formação apropriada, caso contrário, a metodologia adotada em sala não
auxiliará na conquista do objetivo pretendido, que é o aprendizado. (SAWAIA, 2019).
Esse é um sério entrave observado nas escolas, haja vista que os
educadores não estão capacitados para atuar com essas crianças, pela falta de
formação. Conforme Moriña (2015), os currículos dos cursos superiores, as
informações sobre autismo são escassas e antiquadas, somado a isso, tem-se o fato
da pouca literatura e grande parte dos artigos são estrangeiros e traduzidos, bem
como as experiências nesta área. A inclusão das crianças com autismo na escola
regular, precisa de atenção de todos os envolvidos, como citado anteriormente.
Dessa maneira:
Para que a escola possa promover a inclusão do autista é necessário
que os profissionais que nela atuam tenham uma formação
especializada, que lhes permita conhecer as características e as
possibilidades de atuação destas crianças. Tal conhecimento deveria
ser efetivado no processo de formação desses profissionais,
sobretudo dos professores que atuam no ensino fundamental.
(MORIÑA, 2015, p. 16).

Ao educador, cabe conscientizar-se que o efetivo aprendizado por parte do


aluno autista requer mudar suas crenças e posturas, pois toda criança tem
capacidade de aprender, basta uma visão sensata para quais potenciais esta possui,
assim, pode-se concentrar em suas aptidões. Ademais, é necessário que a criança
com TEA se relacione com outras crianças, já que, segundo Lima, Mello e Massoni
(2016), superar os déficits de comunicação e interação social desses alunos exige a
ampliação gradativa das experiências socializadoras, possibilitando a construção de
53

novos conhecimentos e comportamentos”. As autoras destacam também que


permitir às crianças autistas o convívio com outras crianças da mesma faixa etária,
estimula suas habilidades interativas, evitando o isolamento contínuo. Por fim, a
convivência de um aluno com autismo no ensino regular beneficiará o seu
desenvolvimento e de seus pares. Porém, Carvalho (2020, p. 61) alerta que:

Quando não há ambiente apropriado e condições adequadas à


inclusão, a possibilidade de ganhos no desenvolvimento cede lugar
ao prejuízo para todas as crianças. Isso aponta para a necessidade
de reestruturação geral do sistema social e escolar para que a
inclusão se efetive.

Outro aspecto a ser considerado em relação às crianças autistas é a rotina.


Conforme Stainback, S. e Stainback, W. (2019), a mudança da rotina pode gerar um
comportamento agressivo, em que a criança se nega a prosseguir enquanto não se
regresse ao padrão inicial. Ademais, a rotina é um fator fundamental para que estas
crianças possam se organizar no espaço e tempo e consigam aprender. Fávero,
Pantoja e Mantoan (2017) cita que, em conjunto com as técnicas adotadas em sala,
a rotina é um ponto central na educação do autista, a qual não deve ser quebrada,
pois qualquer alteração pode impactar no comportamento da criança.
Mendes (2018) afirma que a efetiva inclusão escolar do aluno com autismo
requer considerar qual a sua necessidade, para então, promover as adequações
necessárias na sala de aula. Assim, é importante o estreitamento da relação entre o
aluno autista e o professor, que o professor solicite aos colegas atenção a barulhos
ou sons específicos, muitas vezes incômodos para o autista e que a criança tenha
acesso a orientações do que acontecerá na rotina mediante informação visual.
Partindo do pressuposto que a memória do autista seja voltada para o visual, é
necessário que:
[...] o educador em suas técnicas, valorize este lado, fazendo com
que o aluno observe cores, tamanhos, espessuras, animais,
pessoas. Por outro lado, a sala de aula deve ter pouca estimulação
visual para que a criança não desvie sua atenção da atividade em
andamento. O ambiente educacional deve ser calmo e agradável,
para que os movimentos estereotipados dos alunos não alterem.
(MENDES, 2018, p. 36).

A manutenção da atenção dos alunos no decorrer da aula requer que o


professor adote métodos educativos que objetivem de fato incluir a criança autista e
concretizar o seu processo de ensino-aprendizado, logo, diversos estudos são
54

conduzidos acerca de métodos distintos. Sassaki (2020) refere que o PECS, sigla
em inglês para Picture Exchange Communication System, é um método em que a
criança pode desempenhar um papel ativo usando velcro ou adesivos para apontar
o começo, mudanças ou término das atividades. Esta abordagem enseja a
comunicação e a compreensão quando atividade e símbolos são relacionados. Isso
uma vez que o método PECS se vale de cartões e desenhos em que a criança pode
se expressar, pois relaciona a imagem com o que deseja.
Atualmente, um dos maiores desafios é oferecer uma educação para todos,
sem distinção, além de garantir um trabalho educacional estruturado e adequado
para amparar as Necessidades Educacionais Especiais dos alunos. Nesse ponto,
Sawaia (2019) aduz que quando um aluno demonstra maiores dificuldades de
aprendizado do conteúdo previsto no currículo em comparação aos demais alunos
da sua idade, ele possui necessidades educacionais especiais, necessitando, assim,
de caminhos alternativos para atingir esta aprendizagem”. Menezes e Santos (2019)
destaca que o docente, no processo educacional, deve saber desenvolver a
independência, a criatividade e a comunicação dos alunos, e, por sua vez, vir a ser o
gerador de seu próprio saber.
Destarte, o estudante com autismo possui diferentes características que
afetam sua interação com outras pessoas e até mesmo sua linguagem, requerendo,
assim, auxílio em seu processo de ensino-aprendizado. Dessa forma, o provimento
de escolarização para todos, sob o prisma da inserção dos alunos com
Necessidades Educacionais Especiais na escola regular tem ocorrido
gradativamente. Neste ponto, deve-se estender os direitos educativos à pessoa
autista, como consagrado na Lei Maior do Brasil, a Constituição Federal, em seu
artigo 205, no que se refere à educação como um direito de todos, assim como no
artigo 206, inciso I, que institui condições igualitárias de acesso e permanência na
escola. (MAZZOTTA, 2016).
Tais direitos são igualmente dispostos na Lei nº 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seus
artigos 58 e 59, que fornecem arcabouço jurídico para que o ensino da pessoa
portadora de deficiência, e que possua necessidades educacionais especiais, seja
preferencialmente fornecido no ensino regular, assim como em decretos e
resoluções. Ademais, há garantias prescritas no artigo 1º, parágrafo 2º, da Lei nº
12.764, de 27 de dezembro de 2012, que institui a Política Nacional de Proteção dos
55

Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA), prevendo o acesso à


educação com as adequações pertinentes que prevejam suas necessidades.
(BEYER, 2018).
56

5 CAMINHOS PARA DESENVOLVER UMA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Nesta seção aborda-se o mecanismo para a educação inclusiva, bem como


o papel do gestor escolar para o desenvolvimento da inclusão.

5.1 Mecanismos para a educação inclusiva

O caminho é longo e repleto de desafios, mas estes devem ser superados a


cada passo. Os professores podem ser comparados a alavancas dos processos da
inclusão, cuja meta consiste principalmente em transformar a intenção em ação,
atendendo desta forma, os alunos com deficiências na classe regular. Na última
década, uma vasta literatura sobre o tema contribuiu para o avanço das propostas
iniciais, sendo que estas apontam para a importância da formação docente, uma vez
que o professor depara-se com classes superlotadas e alunos com problemas de
aprendizagem. Nesse sentido, Dechichi (2019, p. 16) diz que:

Na escola todos são atores, mas os professores são atores de


"primeiro plano" e, consequentemente, devem-se intensificar os
esforços para que lhes sejam garantidas as orientações necessárias
ao exercício da profissão docente e que, por outro lado, os
professores tomem consciência da sua própria profissionalidade em
termos individuais e coletivos.

Quando se aborda a formação dos professores, convém considerar que a


segregação, o preconceito e a discriminação, que acompanham e determinam
historicamente o fracasso escolar dos alunos portadores de necessidades especiais,
não terão resolução somente com o ato de colocar as crianças autistas nas classes
regulares. Um exemplo é que, quando um professor percebe-se fragilizado ao lidar
com assuntos dos quais se sente despreparado, ele se vale da resistência. Com
isso, ao invés de um aliado para o alcance das propostas, ele acaba determinando,
muitas vezes, uma inclusão superficial, aparente, configurando-se em uma forma
cruel de exclusão. (BARRETO, 2017).
Para Pinheiro (2017), a inclusão pode ser definida como um modelo de
educação que propõe escolas onde todos possam participar e sejam recebidos
como membros valiosos das mesmas. Trata-se de uma filosofia e prática educativa
que pretende melhorar a aprendizagem e participação ativa de todo o alunado em
um contexto educativo comum. A Educação Inclusiva é um processo inacabado que
57

desafia a qualquer situação de exclusão, procurando mecanismos para eliminar as


barreiras que obstaculizam uma educação para todos.
Segundo Januzzi (2015), essa proposta de educação também implicará em
uma nova postura da escola, que deverá propor, no projeto pedagógico, no
currículo, na metodologia de ensino, na avaliação e na atitude dos educadores,
ações que verdadeiramente favoreçam a integração social e a opção dos agentes
educativos por práticas heterogêneas e atentas à diversidade existente na escola.
Além dessa interação, muito importante para o fomento das aprendizagens
recíprocas, esse processo busca uma pedagogia que se amplie frente às diferenças
do alunado. É um novo paradigma que desponta em defesa da ideia de viver a
igualdade na diferença, integrar na diversidade.
O desafio, conforme Stainback, S. e Stainback, W. (2019) é construir e pôr
em prática no ambiente escolar uma pedagogia que consiga ser comum ou válida
para todos os alunos da classe escolar, porém capaz de atender os alunos cujas
situações pessoais e características de aprendizagem requeiram uma pedagogia
diferenciada. Tudo isto sem demarcações, preconceitos ou atitudes alimentadoras
dos indesejáveis estigmas.
É necessário desenvolver na comunidade escolar, uma conscientização
crescente acerca dos direitos de cada um. Atribui-se aos professores, de acordo
com Carvalho (2020), um novo papel de atores sociais responsáveis em sua
autonomia, críticos em seu pensamento, exigentes em sua profissionalização. Ao
mesmo tempo, impõe-se uma nova forma de gestão, em que os dirigentes escolares
assumam uma liderança mobilizadora de vontades e ideias partilhadas e efetiva
gestão de serviços e recursos.

Cabe à escola encontrar respostas educativas para as necessidades


de seus alunos, e nesta busca de respostas para atender à
diversidade, o processo pedagógico fica, com certeza, mais rico,
propiciando uma melhor qualidade de educação para todos. São
dessa forma que todos se beneficiam da educação inclusiva, que
todos se enriquecem: alunos, professores, família e comunidade.
(CARVALHO, 2020, p. 45).

Pode-se considerar que a inclusão é um tema relativamente recente, pois,


há algumas décadas, as pessoas que atualmente necessitam de métodos especiais
de aprendizagem, eram consideradas inválidas e inúteis tanto para a sociedade e
principalmente para o mercado de trabalho. De acordo com a Organização das
58

Nações Unidas, o processo de formação das pessoas com necessidades


educacionais especiais deve ocorrer num ambiente de inclusão, ou seja, nas
instituições de educação regulares. Para tanto, é necessário que essas instituições
incluam em seus planejamentos, em suas estruturas administrativas e em suas
práticas pedagógicas sistemas que garantam a inclusão a partir das adaptações na
infraestrutura de acesso e no próprio sistema de ensino. Sob a perspectiva da
Organização das Nações Unidas, acerca da educação para as pessoas com
necessidades especiais, a organização considera que:

Os Estados Membros devem adotar políticas que reconheçam os


direitos das pessoas portadoras de deficiência à igualdade de
oportunidades na educação com relação aos demais. A educação
das pessoas portadoras de deficiência deve-se dar, na medida do
possível, dentro do sistema escolar geral. A responsabilidade pela
sua educação deve ser incumbência das autoridades da educação e
as leis referentes à educação obrigatória devem incluir as crianças
portadoras de todo tipo de deficiência, inclusive as mais gravemente
incapacitadas. (FERNÁNDEZ, 2021, p. 58).

O Brasil foi um dos países que contribuíram com o processo de elaboração


da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. De acordo com a
Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, o
artigo 24 da referida convenção, trata da educação, definindo que:

Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com


deficiência à educação. Para efetivar esse direito sem discriminação
e com base na igualdade de oportunidades, os Estados Partes
assegurarão sistema educacional inclusivo em todos os níveis, bem
como o aprendizado ao longo de toda a vida, com os seguintes
objetivos: a. O pleno desenvolvimento do potencial humano e do
senso de dignidade e autoestima, além do fortalecimento do respeito
pelos direitos humanos, pelas liberdades fundamentais e pela
diversidade humana; b. O máximo desenvolvimento possível da
personalidade, dos talentos e da criatividade das pessoas com
deficiência, assim como de suas habilidades físicas e intelectuais; c.
A participação efetiva das pessoas com deficiência em uma
sociedade livre. (RODRIGUES, 2020, p. 110).

O que se pode observar é que as organizações internacionais de direitos


humanos, com o apoio de países signatários, vêm se preocupando cada vez mais
com a inclusão das pessoas com deficiências nos diversos ambientes da vida
cotidiana, como forma de garantir-lhes os direitos indispensáveis ao pleno exercício
da cidadania. Outro instrumento relevante na luta contra a discriminação dessas
pessoas foi a publicação do Decreto nº 3.956 de 8 de outubro de 2001, que
59

promulgou a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de


Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. O referido Decreto
estabelece em seu Artigo III que para alcançar os objetivos da convenção, o Estado
brasileiro se compromete a (MENDES, 2019):

Art. III - Tomar as medidas de caráter legislativo, social, educacional,


trabalhista, ou de qualquer outra natureza, que sejam necessárias
para eliminar a discriminação contra as pessoas portadoras de
deficiência e proporcionar a sua plena integração à sociedade.
(BRASIL, 2001, p. 1).

Para tanto, o Estado e a sociedade civil devem participar conjuntamente dos


esforços para a eliminação de quaisquer tipos de discriminação e promover a
inclusão das pessoas com deficiências, desde as adaptações infraestruturais que
garantam a acessibilidade dessas pessoas aos espaços públicos e privados até a
garantia da inclusão nas escolas regulares. (SAWAIA, 2019).
De acordo com Dechichi (2019), os pais têm um papel fundamental no
processo de estimulação das crianças com necessidades educacionais especiais. É
com esse auxílio e com muita dedicação que essas crianças conseguirão superar os
obstáculos e se incluírem tanto na educação regular quanto no convívio social.
Ainda considerando a visão do autor, o mesmo considera que ao nascer, a criança
com algum tipo de deficiência já se encontra numa situação de limitação, o que se
agrava quando essa criança se insere no ambiente escolar. Esse momento
representa inicialmente uma ruptura da criança com a sua família e depois a sua
inserção na vida escolar e social.
Esse processo de ruptura e inclusão dessa criança em ambientes diversos
daquele que ela está acostumada pode gerar traumas, insegurança, medo, enfim, a
criança enfrentará o desconhecido que, dependendo do ambiente, poderá ser hostil
ou receptivo, de acordo com o grau de aceitabilidade das diferenças. Retomando as
disposições do Decreto nº 3.956/2001, verifica-se que existe um forte apelo no
sentido de se promover a acessibilidade aos ambientes públicos e também privados
das pessoas com deficiências. Essas medidas fazem parte dos esforços para
promover a inclusão e minimizar a sensação de inutilidade das pessoas com
deficiências para que elas possam se inserir e se envolver socialmente,
culturalmente e educacionalmente. (SANT’ANA, 2018).
60

Na prática educativa, a questão da inadaptação não está relacionada


apenas às pessoas com necessidades educacionais especiais, mas também aos
demais alunos que não conseguem desenvolver suas atividades cognitivas
conforme os padrões estabelecidos pelos currículos. Nesse sentido, equipes
especializadas devem saber identificar e analisar caso a caso para que se possa
definir os métodos mais adequados aos alunos da educação especial. Esse trabalho
de identificação do tipo de deficiência é essencial para que os pais possam ser
orientados, para se estabelecer quais as técnicas pedagógicas a serem adotadas no
processo de ensino-aprendizagem, para que se possa evitar a negligência tanto dos
familiares quanto dos profissionais da educação que lidam com essas crianças e,
por fim, estimular o desenvolvimento psicomotor das mesmas. (ALONSO, 2016).
As deficiências possuem caráter temporário intermitente ou permanente.
Atualmente, convencionou-se que seria mais adequado substituir o termo deficiência
por Necessidades Especiais por ser menos pejorativo. De acordo com Baptista e
Beyer (2016), o termo deficiência soa desagradável e tem origem na condição
atípica de determinadas pessoas, as quais sofrem preconceitos e enfrentam grandes
dificuldades para se inserirem na vida social e profissional. Dessa forma, geralmente
são usurpadas de seus direitos que são os mesmos garantidos ao restante da
sociedade.
As pessoas com necessidades especiais além de possuírem as limitações
comuns a todos os seres humanos apresentam ainda as limitações decorrentes dos
seus problemas cognitivos, o que as colocam numa posição de completa
desvantagem com relação às pessoas consideradas ‘normais’. Nesse sentido, o
processo de inclusão exige uma série de adaptações nas infra e superestruturas
sociais e de acesso dessas pessoas como forma de garantir o acolhimento e a
integração, garantindo-lhes a cidadania e todos os direitos constitucionais. A história
da educação especial que, atualmente, designamos de inclusiva, passou pelas fases
de exclusão e segregação institucional, em seguida, pelas fases de integração e
inclusão propriamente ditas. Uma definição muito bem sintetizada é apresentada por
Mendes (2018, p. 32), que diz:
61

[...] historicamente existem quatro estágios de desenvolvimento das


atitudes em relação às Crianças excepcionais. Primeiramente, na era
pré-cristã, tendia-se a negligenciar e maltratar os deficientes. Num
segundo estágio, com a difusão do cristianismo, passou-se a
protegê-los e compadecer-se deles. Num terceiro período, nos séc.
XVIII e XIX, foram fundadas instituições para oferecer-lhes uma
educação à parte. Um último estágio situa-se no séc. XX, quando se
observa um movimento que tende a aceitar as pessoas deficientes e
a integrá-las, tanto quanto possível.

As pessoas com necessidades especiais, num primeiro momento, eram


simplesmente excluídas dos ambientes social e familiar sendo segregadas em
instituições que as acolhiam, mas que não assistiam essas pessoas de forma
adequada. Na fase de segregação institucional, portanto, as crianças com
deficiências eram levadas a instituições que trabalhavam voluntariamente
autorizadas pelo governo, entretanto, sem o menor apoio deste. (SAWAIA, 2019).
Eram instituições cristãs que se proliferaram e passaram a cuidar dessas
pessoas com a assistência da Igreja. A fase de integração se deu nos séculos XVIII
e XIX, momento em que começaram a surgir as primeiras classes para educação
especial nas escolas regulares. Entretanto, foi um momento em que foram tecidas
muitas críticas devido à inserção de pessoas com necessidades especiais no
ambiente da escola regular que não possuía infraestrutura adequada, nem um
currículo adequado às exigências da educação especial, nem mesmo um quadro de
professores capacitados, sem falar na falta de materiais didáticos apropriados.
(BARRETO, 2017).
Ainda hoje, pode ser observada a falta de infraestrutura, de adequação
curricular e também a falta de profissionais capacitados, que não conseguem
trabalhar as diferenças no ambiente de sala de aula. Não se pode ‘jogar’ uma
criança com necessidades educacionais especiais numa sala de aula do ensino
regular e esperar que ela acompanhe o restante da turma, pois isso não ocorrerá em
momento algum. É preciso trabalhar métodos diferentes para pessoas diferentes, o
que é uma tarefa humanamente impossível. A fase atual da inclusão pode ser
considerada como uma fase de mudanças e adaptações das perspectivas
educacionais e também dos métodos e técnicas tradicionais de ensino. (JANUZZI,
2015).
Segundo Pontes (2019), a inclusão escolar abraça as crianças com
necessidades educacionais especiais, porém, vai muito além dessa prática, pois
62

para ser considerada inclusiva, a escola deve qualificar seus professores para
tratarem com as diferenças, preparar seus alunos ‘normais’ para recepcionarem as
crianças especiais, o pessoal da administração deve saber lidar com situações
diversas como a discriminação, enfim, o sucesso da inclusão exige que toda a
comunidade escolar se esforce e trabalhe com a mente aberta e sem quaisquer
preconceitos.
Na perspectiva de Fernández (2021), uma escola para ser verdadeiramente
inclusiva deve oferecer toda uma gama de suporte para os alunos especiais,
professores, administração, que vai desde as adequações na estrutura, passando
pelas adaptações dos currículos, aceitabilidade, mobiliários, materiais didáticos
adequados, enfim, uma série de aspectos que possibilitem a inclusão dos alunos
especiais, promovendo a diversidade, que é fator indispensável para o crescimento
dos alunos. Apesar da autora descrever uma escola inclusiva ideal, o que se
percebe na prática é que essa escola perfeita no que se refere à inclusão,
infelizmente ainda está longe de ser alcançada devido a uma realidade que se
manifesta na falta de investimentos do Estado para o aperfeiçoamento das
estruturas e qualificação de professores para lidarem com os alunos especiais.

5.2 O papel do gestor escolar para o desenvolvimento da inclusão

Pinheiro (2017) faz uma análise entre o gestor escolar e a Educação


Inclusiva, e reconhece que a prática dessa educação requer alterações importantes
nos sistemas de ensino e nas escolas. Para o autor, os gestores escolares são
muito importantes neste processo, pois lideram e mantêm a estabilidade do sistema.
Segundo ele, as mudanças necessárias para a construção da escola inclusiva
envolvem vários níveis do sistema administrativo: secretarias de educação,
organização das escolas e procedimentos didáticos em sala de aula. Sendo assim, o
papel do diretor é de importância vital em cada nível, e diferentes níveis de pessoal
administrativo estão envolvidos.
Conforme Gandin (2018), o primeiro passo é construir uma comunidade
inclusiva que englobe o planejamento e o desenvolvimento curricular, o segundo é
ter uma equipe preparada para trabalhar de maneira cooperativa e compartilhar seus
saberes, o terceiro passo está na criação de dispositivos de comunicação entre a
63

comunidade e a escola, e o quarto passo seria ter mais tempo disponível para refletir
sobre a prática desenvolvida.

O papel do diretor em provocar mudanças necessárias do sistema


em cada nível (o setor escolar central, a escola e cada turma) é
essencialmente um papel de facilitação. A mudança não pode ser
legislada ou obrigada a existir. O medo da mudança não pode ser
ignorado. O diretor pode ajudar os outros a encararem o medo,
encorajar as tentativas de novos comportamentos e reforçar os
esforços rumo ao objetivo da inclusão. (GANDIN, 2018, p. 125).

O gestor escolar deve incentivar as potencialidades possíveis. Para Pinheiro


(2017), a participação é a construção em conjunto. No processo participativo, todos
têm algo a dizer. Para obter-se êxito na proposta de uma Educação Inclusiva, é
necessário o envolvimento de todos os membros da equipe escolar no planejamento
dos programas a serem implementados. Docentes, diretores e funcionários
desempenham papeis específicos, mas precisam agir coletivamente para que a
inclusão escolar seja efetivada nas escolas.
A autora citada acima afirma que cabe aos gestores escolares tomar as
providências de caráter administrativo, necessárias à implementação do projeto de
Educação Inclusiva. (PINHEIRO, 2017).
Diante da orientação inclusiva, as funções do gestor escolar incluem a
definição dos objetivos da instituição, o estímulo à capacitação de professores, o
fortalecimento de apoio às interações e a processos que se compatibilizem com a
filosofia da escola. O gestor escolar deve entender o conhecimento como um
processo de construção e não como um produto. Daí a escola vir a ser um lugar de
ampliação do saber que o aluno trás de casa. (MENEZES; SANTOS, 2019).
A escola precisa prover meios para que o aluno consiga vencer as suas
limitações e ampliar sua capacidade de comunicação e de vivência em sociedade.
Diante do exposto, pensamos que o gestor escolar não deve intimidar-se com os
problemas que surgirão no seu trilhar, são dificuldades que com muito cuidado e
convicção vão sendo acompanhadas. Baptista e Beyer (2016) afirma que os
gestores devem concentrar esforços para efetivar a proposta de Educação Inclusiva,
que no Brasil, só será realidade quando as informações, os recursos, os sucessos e
as adaptações inter-relacionarem as esferas federais, estaduais e municipais,
proporcionando um relacionamento intenso entre União, Estados e municípios.
64

Acredita-se que hoje os gestores devem ser profissionais comprometidos em


atender às diversidades dentro de suas singularidades, buscando a formação
integral do indivíduo, apto a exercer cidadania. Cabe aos gestores acompanharem e
proporcionarem de perto o desenvolvimento integral dos educandos, buscando
promover, por um lado, as conquistas individuais e coletivas e, por outro lado,
trabalhar com o conhecimento das diferenças individuais e o respeito por elas por
meio de discussões, reflexões, interação com a família, comunidade, corpo docente
e os demais no processo educativo. (SAWAIA, 2019).
Mendes (2018) aponta alguns dos caminhos para a construção da escola
inclusiva: valorização profissional dos professores, aperfeiçoamento das escolas e
do pessoal docente, utilização dos professores das classes especiais, trabalho em
equipe, adaptações curriculares. Em suas palavras:

As escolas inclusivas são escolas para todos, implicando num


sistema educacional que reconheça e atenda as diferenças
individuais, respeitando as necessidades de qualquer dos alunos.
Sob essa ótica, não apenas portadores de deficiência seriam
ajudados e sim todos os alunos que, por inúmeras causas,
endógenas ou exógenas, temporárias ou permanentes, apresentem
dificuldades de aprendizagem ou no desenvolvimento. (MENDES,
2018, p. 129).

Ao bom administrador compete envolver o grupo que dirige não só na


execução, mas também no planejamento ou programação e na avaliação das
atividades desenvolvidas. Sua posição enquanto líder influência todas as pessoas
que gere na escola, sendo que a sua versatilidade e sua habilidade irão direcionar a
qualidade e o desempenho do seu pessoal. Neste cenário, a escola torna-se
responsável por todos educandos e não apenas por alunos regulares ou os ditos
“especiais”, integrando-os ao trabalho com especialistas e toda a equipe. É
importante ressaltar que o novo traz receios, e o gestor deve está atento a este
temor, encorajando todos os participantes do processo de inclusão a buscar novas
práticas, apoiando o corpo docente para a aquisição de uma atitude inclusiva,
respeitando sempre a individualidade de cada um. A UNESCO, através da
Declaração de Salamanca afirma:
65

Administradores locais e diretores de escolas podem ter um papel


significativo quanto a fazer com que as escolas respondam mais às
crianças com necessidades educacionais especiais desde que a eles
sejam fornecidos a devida autonomia e adequado treinamento para
que possam fazê-lo. [...] Uma administração escolar bem sucedida
depende de um envolvimento ativo e reativo de professores, e do
pessoal, e do desenvolvimento de cooperação efetiva, e de trabalho
em grupo no sentido de atender as necessidades dos estudantes.
(RODRIGUES, 2020, p. 11).

Lima, Mello e Massoni (2016) afirma ser um desafio ao exercício da


profissão do diretor a proposta de Educação Inclusiva, pois este profissional não é
um técnico (no sentido de aplicar técnicas normalizadas e previamente conhecidas),
um funcionário (que executa funções enquadradas por uma cadeia hierárquica
previamente definida). A profissão de gestor escolar exige imensa versatilidade,
dado que se lhe pede que aja com grande autonomia e seja capaz de delinear e
desenvolver planos de intervenção com condições muito diferentes.
66

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim como abordado ao longo do estudo, na educação, não há modelos,


mas adaptações que permitem o aprendizado. Portanto, o movimento inicial vem da
família, ao buscar compreender a relevância da escola na vida da criança e a
necessidade de matriculá-la. Visitar a escola, reconhecer todo o espaço físico, os
funcionários, a comunidade escolar e corpo docente são ações básicas que
proporcionam maior tranquilidade aos pais ao entregarem a criança aos cuidados da
instituição. Um educador que não procura se qualificar com base nas exigências de
seus educandos não consegue alcançar o objetivo da educação.
Pode-se considerar que a inclusão é um tema relativamente recente, pois,
há algumas décadas, as pessoas que atualmente necessitam de métodos especiais
de aprendizagem, eram consideradas inválidas e inúteis tanto para a sociedade e
principalmente para o mercado de trabalho. De acordo com a Organização das
Nações Unidas, o processo de formação das pessoas com necessidades
educacionais especiais deve ocorrer num ambiente de inclusão, ou seja, nas
instituições de educação regulares. Para tanto, é necessário que essas instituições
incluam em seus planejamentos, em suas estruturas administrativas e em suas
práticas pedagógicas sistemas que garantam a inclusão a partir das adaptações na
infraestrutura de acesso e no próprio sistema de ensino.
A Educação Inclusiva é uma força renovadora na escola, e para Baptista e
BEYER (2016), em seu artigo inclusão escolar, ela amplia a participação dos
estudantes nos estabelecimentos de ensino regular. Trata-se de uma ampla
reestruturação da cultura, da nossa práxis e das políticas vigentes na escola. É a
reconstrução do ensino regular que, embasada neste novo paradigma educacional,
respeita a diversidade de forma humanística, democrática e percebe o sujeito
aprendente a partir de sua singularidade, tendo como objetivo principal, contribuir de
forma que promova a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal para que cada um
se construa como um ser global.
67

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