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10/09/2023, 02:08 John Locke: quem foi, filosofia, livros - Brasil Escola

John Locke
John Locke contribuiu com teorias acerca do entendimento humano e também sobre o
pensamento político.

John Locke foi um dos filósofos mais influentes da Modernidade e propôs uma teoria de conhecimento que defendia o
empirismo. Suas investigações sobre como a mente adquire conhecimento resultaram no estabelecimento de limites para
o papel da razão e estiveram relacionadas com teorias científicas da época.

Embora seja descrito como uma pessoa de personalidade calma, teve envolvimento na oposição ao absolutismo inglês e
seus argumentos voltaram-se para a defesa da liberdade individual. Sua principal contribuição, como pensador político,
está expressa na relação entre governantes e governados: a obediência só é devida mediante a proteção dos direitos
naturais.

Leia também: Filosofia Moderna: o período da história da filosofia em que se destacou o empirismo

Biografia de John Locke


John Locke nasceu em 1632, no condado de Somerset (Inglaterra). É o primogênito de John e Agnes Locke, ambos de
orientação puritana, sendo a família completada pelo irmão, Thomas. O alinhamento de seu pai às tendências
parlamentaristas, associado aos ideais calvinistas, que estava em contraste com o poder monárquico absolutista instituído
na época, influenciou a educação desse pensador, o que pode ser manifestamente observado em seus escritos.

Apesar de sua família não ser considerada abastada, esse pensador teve acesso a duas grandes instituições
educacionais da época. Atribui-se a admissão de John Locke no prestigioso colégio londrino Westminster, em 1647, a
Alexander Popham, que lutou ao lado de seu pai na guerra civil de 1642 contra as forças do rei Carlos I. A disposição do
jovem para os estudos é demonstrada pela conquista de uma bolsa de estudos, em 1650, o que já o encaminharia para
continuar sua formação na Christ Church, renomada faculdade associada à Universidade de Oxford, aos 20 anos de
idade.

Apesar das críticas ao ensino predominantemente aristotélico em Oxford, foi nessa instituição que entrou em contato
com a filosofia de René Descartes e começou amizade com o cientista Robert Boyle. Começou a se aproximar, assim, da
Filosofia Natural, que valorizava a experiência, e não o conhecimento livresco, isto é, que provém unicamente dos livros.
Embora tenha concluído o curso superior em 1656, permaneceu associado à universidade e lecionou por alguns anos.
Concluiu também o curso de medicina, em 1674, após ser influenciado pelo médico Thomas Sydenham e participar de
visitas a seus pacientes.

Em 1666, um encontro ocasional mudou a vida do filósofo. Ao atender prontamente o pedido de Lord Ashley (aquele que
viria a se tornar o primeiro conde de Shaftesbury), feito por meio de um amigo, suas habilidades impressionaram
positivamente e logo começaram uma amizade. Já com 35 anos, John Locke começou a trabalhar para esse famoso
personagem político, vindo a morar em sua residência, a Exeter House, onde esteve em contato com vários personagens
políticos e intelectuais. Era não apenas seu secretário, pesquisador e amigo, mas também seu médico. Sua proximidade,
entretanto, acabaria por implicá-lo em dificuldades políticas.

Em 1674, Anthony Ashley Cooper perdeu seu cargo político, chegando a ficar preso pouco tempo depois, período no qual
John Locke esteve na França. Os eventos que levaram conde de Shaftesbury a ficar novamente preso e depois fugir para a
Holanda, em 1682, estavam relacionados com suspeitas de que a vinda do rei Jaime II, que era católico, significaria o
retorno do absolutismo. A proximidade de John Locke com o conde e outras pessoas envolvidas no plano de assassinar
os reis na Rye House fez com que ele se exilasse na Holanda.

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Anthony Ashley Cooper, o primeiro conde de Shaftesbury.

Em seu exílio, que durou cerca de cinco anos, leu o livro de Isaac Newton, Principia Mathematica, físico com o qual fez
amizade após retornar para a Inglaterra, em 1689, após a Revolução Gloriosa. Foi a partir desse momento que começou a
publicar suas principais obras, que já haviam sido escritas há muitos anos. Esteve, até poucos anos antes de morrer (em
1704), envolvido com questões políticas e com sua produção intelectual. Escreveu muitas defesas de sua Carta sobre a
tolerância (1689), publicou A Razoabilidade do Cristianismo (1695) e um escrito com ideias sobre a educação de sua época.

“[O] cuidado da salvação das almas de modo algum pode pertencer ao magistrado civil; porque,
mesmo se a autoridade das leis e a força das penalidades fossem capazes de converter o espírito dos
homens, ainda assim isso em nada ajudaria para a salvação das almas. Pois se houvesse apenas
uma religião verdadeira, uma única via para o céu, que esperança haveria que a maioria dos homens
a alcançasse, se os mortais fossem obrigados a ignorar os ditames de sua própria razão e
consciência, e cegamente aceitarem as doutrinas impostas por seu príncipe, e cultuar Deus na
maneira formulada pelas leis de seu país?” |1|

Leia também: Racionalismo – a contraposição filosófica ao empirismo de Locke

O problema do conhecimento para Locke


Conta-se que a proposta da investigação feita em Acerca do Entendimento Humano surgiu em uma conversa na Exeter
House, em meados de 1971. Embora utilizemos o entendimento para conhecer, em poucas ocasiões tomamos nossas
faculdades mentais como alvo da nossa investigação. Implementar qualquer estudo que ultrapasse nossas capacidades de
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Por ser um defensor do conhecimento a partir da experiência – isto é, do empirismo –, John Locke iniciou sua investigação
com uma crítica à possibilidade de os seres humanos terem ideias inatas. Se algumas dessas ideias estivessem
presentes já desde o nosso nascimento, conseguiríamos percebê-las em muitas crianças e teríamos acordo universal
quanto a elas, o que não ocorre.

“Suponhamos, pois, que a mente é, como dissemos, um papel em branco, desprovida de todos os
caracteres, sem nenhuma idéia; como ela será suprida? [...] A isso respondo, numa palavra: da
experiência. Todo o nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio
conhecimento. Empregada tanto nos objetos sensíveis externos como nas operações internas de
nossas mentes, que são por nós mesmos percebidas e refletidas, nossa observação supre nossos
entendimentos com todos os materiais do pensamento.” |2|

A palavra ‘ideia’ não é usada no sentido em que geralmente a empregamos e significa qualquer conteúdo de que a mente
possa se ocupar. O filósofo propõe, então, que as ideias sejam adquiridas por meio da experiência, tendo origem na
sensação, na reflexão ou por uma operação conjunta de ambas – sendo a sensação a fonte primária.

Dessa forma, a origem delas seria completamente externa, isto é, a mente humana não pode criá-las ou destruí-las. John
Locke propõe, assim, a famosa analogia de que somos como uma folha em branco ao nascer. Faz-nos inclusive um
desafio: seríamos capazes de imaginar um gosto que jamais passou pelo nosso paladar ou aroma que nunca tivéssemos
cheirado?

Ao analisar a sensação ou a reflexão, chega à conclusão de que as ideias são divididas em simples e complexas. Ao
tomarmos um lírio em nossas mãos, somos capazes de distinguir seu odor e a brancura de suas pétalas. De modo passivo,
esses elementos são percebidos distintamente e não se confundem. As ideias simples são, assim, a base do nosso
conhecimento. As operações mentais, em todo caso, ultrapassam o que é recebido pela percepção e criam as ideias
complexas, momento no qual a mente adquire sentido ativo.

Tudo o que a mente pode pensar, então, teria, em última instância, uma origem empírica. A definição de John Locke sobre
conhecimento está diretamente relacionada com a sua concepção de ideia. Poderíamos até usar a imaginação para
associar ideias ou acreditar que algumas delas estejam associadas, mas o que determina o conhecimento é a percepção
de desacordo ou discordância entre nossas ideias.

A clareza entre essas percepções determina graus de conhecimento. O grau intuitivo seria aquele em que há percepção
imediata; o demonstrativo, o que depende de outras ideias para intermediar o raciocínio; e o sensitivo, o que indicamos o
que há no mundo exterior.

É relevante mencionar, ainda, que o filósofo enfatizou a importância da memória na explicação do conhecimento. Enquanto
o conhecimento atual seria a percepção que se faz presentemente; o conhecimento habitual é aquele que depende da
memória, uma vez que a percepção ocorreu em um momento anterior, sem prejuízo para sua garantia.

Veja também: Senso comum – pensamento adquirido pela observação e repetição

O pensamento político para Locke


A instabilidade política na segunda metade do século XVII na Inglaterra, especialmente com a sucessão do rei Carlos II,
foram os eventos que marcaram a escrita de Dois tratados sobre o governo civil. Publicado anonimamente após o
retorno de John Locke da Holanda, essa obra deve ser estudada em sua totalidade, e não como dois escritos separados.
Enquanto o primeiro tratado consiste em uma recusa ao absolutismo, em uma crítica direta à proposta do direito divino de
Robert Filmer, o segundo inicia uma argumentação a favor do governo civil nos moldes das teorias do contrato social.
É válido observar que a questão da liberdade pode ser observada nesses dois tratados.

Os defensores do absolutismo, em geral, postularam que o poder dos monarcas era concedido por Deus. Essa teoria
retomava concepções medievais e concedia aos reis um poder inquestionável por forças terrenas. John Locke dedicou-se a
retomar os argumentos expostos em Patriarcha, escrito em meados da década de 30 no século XVII e publicado em 1680,
vindo não apenas a refutá-los por meio da razão, mas a indicar também que não possuíam o suporte bíblico que seu autor
defendia.

Enquanto Robert Filmer entendeu Adão como o primeiro monarca a quem foi concedido o poder sobre a terra, poder esse
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em especial a questão da herança desse poder, o que seguiria para um questionamento da autoridade dos reis sobre seus
súditos.

É no segundo tratado que é apresentada a descrição do estado de natureza como uma situação na qual as pessoas
estivessem em iguais condições de liberdade e igualdade. Essa descrição, que contrasta em grande parte com a
interpretação proposta por Thomas Hobbes, é esclarecida pelo papel da lei de natureza. Essa seria como uma instância
moral da conduta humana, já que instituía a proibição de prejudicar seu semelhante. Como criações divinas, todos os seres
humanos seriam igualmente racionais, pois todos foram providos uniformemente com as mesmas faculdades, e não seria
razoável supor que houvesse subordinação de um ser humano a outro ou molestamentos entre as pessoas, uma vez que
todos seriam livres e independentes.

Hobbes também considerou o estado da natureza e o contrato social em sua filosofia, porém com viés
diferente do que foi defendido por Locke.

O filósofo admite que uma crítica razoável seria questionar o que ocorre quando as pessoas julgam as próprias causas: não
estariam elas propensas a privilegiar a si e aos que lhe são próximos? John Locke afirma que o governo civil é a solução
para as dificuldades que se instalam no estado de natureza, mas o acordo que funda a comunidade política não deveria
surgir como consequência dessas questões.

O pensador apresenta um pensamento aparentemente simples, mas profundo: é apenas o pacto com o consentimento de
todos que faz com que as pessoas se organizem em uma comunidade política, isto é, há vários pactos que se formam
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estabelecidas como resultado desse pacto. Sem o consentimento universal, as leis seriam questionadas, o que representa
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uma desaprovação da autoridade estabelecida.

Um dos objetivos em tornar-se membro de uma comunidade política seria ter seus direitos naturais preservados, como o
direito à viva, à liberdade e à propriedade. O pacto permitiria uma imparcialidade que não seria possível no estado de
natureza, garantindo esses direitos. O filósofo afirmou, ainda, que quando o governo não presa pela garantia desses
direitos, a rebelião é legítima, pois ocorre a violação da lei de natureza.

"Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme dissemos, se é senhor absoluto da própria
pessoa e posses, igual ao maior e a ninguém sujeito, por que abrirá ele mão dessa liberdade, por que
abandonará o seu império e sujeitar-se-á ao domínio e controle de qualquer outro poder? Ao que é
óbvio, responder que, embora no estado de natureza tenha tal direito, a fruição do mesmo é muito
incerta e está constantemente exposta à invasão de terceiros porque, sendo todos reis tanto quanto
ele, [...] a fruição da propriedade que possui nesse estado é muito insegura, muito arriscada." |3|

Suas observações sobre o direito de propriedade apresentam uma interessante solução. John Locke propôs que o
homem modifica a natureza por meio de seu trabalho, fazendo com que o resultado de seu esforço se torne sua
propriedade. Embora tudo o mais seja comum a todos, o trabalho transforma o que é coletivo em propriedade particular.
Essa solução está, ainda, em ressonância com a lei natural, uma vez que o objetivo do trabalho não seria a acumulação
mesquinha, mas o benefício para a humanidade. Apropriar-se além das necessidades causaria prejuízo aos demais.

Acesse também: Formas de governo – modo como um governo organiza seus poderes

Observações de John Locke sobre a educação


Em Alguns Pensamentos Sobre a Educação, publicado originalmente em 1693, Locke propõe reflexões de como
estimular as crianças a desenvolverem a razão. A educação deveria ser tanto da mente quanto do corpo, indicando que o
aprendizado exigiria dedicação. Em todo caso, há recomendações para que o ensino não seja maçante, uma vez que o
tutor não se resumiria apenas a ensinar conteúdos, mas também a motivar o gosto pelo estudo.

Deve-se observar que esses pensamentos traduziam-se como recomendações à educação das crianças da parcela mais
abastada da sociedade, os burgueses, mas isso não desmerece a relevância de suas observações. Jean-Jaques
Rousseau apresentou uma crítica a essa proposta, já que, em sua concepção, a criança deveria ser observada em seu
desenvolvimento natural, livre das coerções sociais.

“É pois a virtude, e apenas a virtude, a única coisa difícil e essencial na educação, e não uma
petulância atrevida ou qualquer ligeiro progresso na arte de sair-se bem. [...] Este é o bem sólido e
substancial que o preceptor deve converter em objecto das suas leituras e das suas conversas. Que a
educação empregue toda a sua arte e todas as suas forças a enriquecer o espírito, que atinja esse
objectivo e que não cesse até que o jovem sinta que este bem é um verdadeiro prazer e coloque nele
a sua força, a sua glória e a sua alegria.” |4|

Notas

|1| LOCKE, John. Carta acerca da tolerância. Tradução de Anoar Aiex. In: LOCKE, John. LOCKE, 2ª ed. São
Paulo: Abril Cultural, 1978a. p. 1-29.

|2| _____. Ensaio acerca do entendimento humano. Tradução de Anoar Aiex. In: LOCKE, John. LOCKE, 2ª ed. São
Paulo: Abril Cultural, 1978c. p. 133-344.

|3| _____. Segundo tratado sobre o governo. Tradução de E. Jacy Monteiro. In: LOCKE, John. LOCKE, 2ª ed. São
Paulo: Abril Cultural, 1978b. p. 31-131.

|4|_____. Alguns Pensamentos Sobre a Educação. Tradução de Madalena Requixa. Coimbra: Edições
Almedina, 2012.

Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/john-locke.htm

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