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A VIVÊNCIA DOS MITOS E ARQUÉTIPOS EM BIODANÇA *

1 – Introdução
A dança fez parte da vida do homem desde os períodos mais
remotos. Figuras encontradas nas paredes de cavernas que datam de
mais de 5000 anos, tais como as existentes no Piauí, no Parque
Nacional da Serra da Capivara, representam cenas de danças. Na Pré-
história o homem começa a se agrupar em cidades, cada uma com sua
própria divindade protetora, a quem era preciso agradar através de
danças e rituais para garantir uma boa colheita. (MAGALHÃES, 2005)
(JUSTAMAND, 2011)
Roger Garaudy, filósofo francês, fala da dança como uma
forma de estar no mundo retomando a noção antiga das danças
primitivas, das danças órficas e das danças dionisíacas. O filósofo afirma
que a dança transcende a arte passando a ser um modo de viver para
todos os povos, em todos os tempos. Relaciona a dança à magia, à
religião, ao trabalho, à festa, ao amor. A dança fez parte dos rituais de
guerra e de paz, das cerimônias de casamento, dos funerais e das
celebrações de colheita. (GARAUDY, 1973)
Rolando Toro, psicólogo, poeta, pintor e estudioso chileno,
criador do sistema Biodança, ao estudar as manifestações antropológicas nas
danças primitivas, compreendeu aspectos desconhecidos da alma humana
associados ao vínculo primordial com a natureza, à experiência de fusão e ao
processo evolutivo da consciência cósmica. Toro percebeu que a dança integra
o ser humano consigo mesmo, com os seus semelhantes e com as forças da
natureza. (TORO, 2005)
Ao criar ou descobrir a Biodança, como preferia, Rolando
Toro criou vários exercícios que possuem antecedentes arcaicos, ou seja,
remontam a danças e cerimônias que possuem aspectos universais comuns.
Toro criou os exercícios de Biodança baseado nos
movimentos naturais do ser humano e nos gestos ligados aos costumes sociais
e nos gestos arquetípicos. O criador da Biodança esclarece, referindo-se a
estes gestos: “Tais gestos e movimentos, se realizados com uma única música
que intensifique a cenestesia estimulada pelas categorias motoras em ação,
tornam-se danças, dentro da concepção original da dança como movimento de
vida.” (TORO, 2005)
Os exercícios de Biodança deflagram vivências integradoras que
evocam nos participantes conteúdos primordiais que se estruturam sobre o
princípio que orienta a vida no universo, princípio que Rolando Toro chamou de
biocêntrico. As vivências têm sua representação fisiológica no sistema límbico-
hipotalâmico, centro regulador das emoções e dos instintos. Ao induzir
vivências, Biodança ativa a memória arquetípica humana promovendo
integração entre o organismo biológico e a estrutura cultural. (FREIRE, 2012)
Esta integração dos potenciais humanos, referida por Freire, se
expressa através de linhas de vivência quais sejam: vitalidade, sexualidade,
criatividade, afetividade e transcendência. Subjacente a estas linhas se
encontram os instintos ou pulsões biológicas respectivamente de conservação,
sexual, exploratório, gregário e de fusão. (TORO, IBF)
A vivência em Biodança acessa e movimenta os conteúdos
arquetípicos do inconsciente através do gesto e da dança. O participante “entra
em contato com a energia do arquétipo, criando uma dança que expressa o
seu inconsciente, ativando o psíquico e o físico e tendo como resultado a
renovação orgânica, função estruturante que amplia os potenciais de cada
pessoa”. (ALVES, 2016)
A Biodança em sua concepção herda a sabedoria e a intuição
primordial dos povos antigos. Podemos encontrar a ressonância de vários
mitos e arquétipos que dão fundamento mítico às vivências de Biodança. Por
exemplo, o mito de Orfeu, relacionado ao poder da música, como indutora de
processos transformadores no ânimo dos humanos; a herança de Dionísio
lembra quando o homem era uno com a natureza, o prazer de viver, a
liberdade e o êxtase. E o mito de Deméter está relacionado à busca da
expansão da consciência e à unidade cósmica. (TORO, 2005)
Ao comentar a fundamentação arquetípica das vivências em
Biodança, o criador do sistema informa:

“C.J.Jung, em suas reflexões autobiográficas, auspiciava que o estudo dos mitos e


dos arquétipos do inconsciente coletivo, por ele realizado em nível teórico, alcançaria no
futuro uma dimensão corporal importante para a psicoterapia. Suas hipóteses estimularam-
me a experimentar os mitos e os arquétipos das religiões cósmicas para obter a integração

pessoal, uma idéia que se revelou extremamente fecunda”. (TORO, 2005, pg 67)

Ao longo da minha formação em Biodança e mesmo antes,


quando tive oportunidade de realizar algumas dessas extensões e
vivências, foi despertando em mim o desejo de aprofundar-me mais nesse
conhecimento fascinante e por isso o escolhi como tema do meu trabalho
de conclusão.
O objetivo desta obra-síntese é conhecer um pouco mais
sobre o aspecto mítico e arquetípico da Biodança. Para isso faremos uma
síntese de algumas vivências e extensões que trabalham mais diretamente
com mitos e arquétipos, sem esquecer que na verdade, esse aspecto
permeia toda a Biodança. Falaremos um pouco sobre a fundamentação
teórica de cada uma delas, descreveremos a metodologia e ilustraremos
cada uma delas com o relato, esclarecimento ou depoimento de
facilitadores que comentaram o seu trabalho com mitos e arquétipos,
através de uma entrevista onde generosamente compartilharam comigo as
reflexões que fazem a respeito destas vivências.
Em suma, daremos nesse trabalho uma visão geral dessas
vivências, cientes de quão amplos são o tema e a obra de Rolando Toro e
da impossibilidade de esgotá-los em apenas uma revisão.
Das extensões que escolhemos para estudar, talvez a mais
conhecida seja o Projeto Minotauro, criado por Rolando Toro. Por meio
do mito do labirinto de Teseu, o participante é conduzido a um processo
de autocura dentro de um continente estruturado. (TORO, 1988) Toro diz
numa fala poética sobre o Projeto Minotauro:

“É a reconciliação do instinto com a inteligência, a reabilitação da sabedoria


instintiva. Apolo e Dionísio, que pareciam irreconciliáveis, encontram-se depois de 2500
anos numa cerimonia de integração.” (TORO,1988)

Outra extensão escolhida foi a Roda das Deusas, baseada


nos arquétipos das deusas gregas Afrodite, Demeter, Hera, Atena,
Perséfone e Ártemis, vindas da Antiguidade mas muito presentes no
inconsciente de mulheres e homens contemporâneos.
Escolhemos também a extensão em Biodança: Identidade e os
Quatro elementos, representações simbólicas de aspectos da alma
humana. E ainda Dançando o I Ching, extensão na qual o participante
faz uma consulta ao I Ching – O Livro das Mutações, tendo como base o
I Ching Flor de Ameixeira.
A Dança dos Quatro Animais, que possuem a peculiaridade de
serem arquétipos psicomotores, também será incluída neste trabalho.
Para melhor apreendermos os aspectos vivenciais mais
importantes nessas extensões fizemos uma entrevista com alguns
facilitadores que trabalham com estas extensões e vivências. O objetivo
desta entrevista foi sabermos como as vivências com mitos e
arquétipos influenciam na transmutação e evolução dos participantes,
qual o nível de evolução das linhas de vivência e a integração
alcançada nas três dimensões, além de relatos e impressões pessoais
relativos ao tema. Para nós, essa é a parte mais interessante deste
trabalho, trazendo uma “vivacidade” dada pelo relato pessoal.
Na parte final de três dessas vivências coloquei um pequeno
relato pessoal meu, sendo eles um desafio do Projeto Minotauro, a
Dança do Tigre e de uma vivência de Dançando o I Ching. Com esses
relatos quis dar uma contribuição pessoal de como essas vivências
contribuem para experiências de integração e evolução.
Na primeira parte do presente trabalho revisaremos os
conceitos pertinentes ao tema, para que a fundamentação das
vivências seja melhor compreendida. O primeiro deles é o conceito de
Mito.

2- Conceitos de Mito
O primeiro conceito fundamental para a compreensão da
vivência com mitos e arquétipos em Biodança, tema do presente
trabalho, é o conceito de Mito que será elucidado a partir da definição
de diversos autores.
Mircea Eliade, especialista no estudo das religiões define
assim o mito:

O mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no


tempo primordial, o tempo fabuloso do “princípio”. Em outros termos, o mito narra
como, graças à façanha dos Entes Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja
uma realidade total, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie
vegetal, um comportamento humano, uma instituição. (ELIADE, 1972, pg 19)

Para o antropólogo Claude Levy-Strauss o mito é a história de


um povo, é a identidade primeira e mais profunda de uma coletividade
que se quer explicar. Um mito refere-se sempre a acontecimentos
passados antes da criação do mundo ou durante as primeiras idades.
(LEVY-STRAUSS apud BASQUES, 2011)
Basques, em seu artigo Claude Levy-Strauss e o Mito da
Mitologia esclarece que para Claude Levy-Strauss, o valor intrínseco
atribuído ao mito provém de que estes acontecimentos, que se imagina
ocorridos em um dado momento no tempo, formam também uma
estrutura permanente, que se refere simultaneamente ao passado, ao
presente e ao futuro. (LEVY-STRAUSS apud BASQUES, 2011)
Os conceitos de Eliade e Levy-Strauss são corroborados por
Antonio Sarpe quando afirma que,

Os mitos falam de acontecimentos extraordinários que aconteceram num


tempo anterior ao tempo histórico, o tempo dos Deuses. O mesmo arquétipo está
presente em diferentes mitos, um exemplo é o arquétipo da morte e renascimento:
Cristo, Shiva, Dionísio e Osíris, cujo mito é completamente diferente e conta uma
história diversa. (SARPE, 2015 pg 42)

Toro chama a atenção para o que chamou de extraordinária


proposta de Levy-Strauss na qual o pensamento mítico e o pensamento
científico moderno representam simplesmente “dois níveis estratégicos,
nos quais a natureza se faz acessível à investigação científica”. (TORO,
1988 pg 43)
Já o mitólogo e antropólogo americano Joseph Campbell fala
sobre a mitologia dessa bela forma poética: “A mitologia é a canção do
universo – música que nós dançamos mesmo quando não somos capazes de
reconhecer a melodia”. Para Campbell, mitos são aquilo que os seres humanos
têm em comum, são histórias de nossa busca da verdade, de sentido, através
dos tempos, ”são metáforas da potencialidade espiritual do ser humano.”
(CAMPBELL 1990 pg 24)
A partir destas definições, vai-se evidenciando a relação entre
mitos e arquétipos, sendo os mitos uma forma de expressão destes.

3– Conceitos de Arquétipo
Para compreendermos a relação entre mitos e arquétipos e sua
relação com a Biodança, veremos como surgiu o termo arquétipo bem como
suas definições.
Utilizado por Jung pela primeira vez em 1919, em Londres, no
simpósio Instinto e Inconsciente, o termo arquétipo já era conhecido da filosofia
e suas origens remontam até Platão. Do grego arkhé, que significa primeiro,
antigo, regente, original e typos, também oriundo do grego, que significa marca,
impressão, molde ou modelo, o termo arquétipo exprime a ideia de um molde,
marca ou modelo original. (MORAES, 2010)
Jung elaborou o conceito de arquétipo a partir da observação de
muitos temas repetidos em mitologias, contos de fada e nos sonhos e fantasias
de seus pacientes. Ele observou que as imagens que apareciam se
relacionavam principalmente com situações comuns da existência humana tais
como o nascimento, a iniciação social, o relacionamento sexual e afetivo e
situações de perdas, entre outros. Existem assim tantos arquétipos quantas
são as situações típicas da existência humana, formando um substrato
psíquico comum a toda humanidade. (SERBENA, 2010)
Para Sarpe, a identidade humana possui ressonância ontológica,
buscando a totalidade do Ser e os arquétipos têm a função de ajudar nessa
busca: “Os arquétipos são o mapa, para e de onde vamos buscar os núcleos
de expressão mais integradores do humano, mais profundos, mais amplos do
humano.” (SARPE, 2015 pg 42)
Rolando Toro observou em seus estudos que o homem sempre
realizou gestos arquetípicos que aparecem em pinturas e esculturas de todas
as épocas. São gestos que expressam adoração, sentimento de maternidade,
intimidade ou que se referem a atividades arcaicas ligadas à natureza, como a
agricultura. Selecionou alguns desses gestos arquetípicos – capazes de induzir
vivências profundas e transcendentes - e os chamou de Posições Geratrizes de
Dança. (TORO, 2005)

4 - Estratos do Inconsciente
Os gestos arquetípicos referidos por Rolando Toro residem na
parte inconsciente do psiquismo humano. Originado do latim inconscious
significa genericamente aquilo que não é consciente. Dentro do Modelo Teórico
da Biodança encontramos os quatro estratos do inconsciente: o inconsciente
pessoal, o inconsciente coletivo, o inconsciente vital e o inconsciente
numinoso.
Veremos uma pequena conceituação de cada um deles e como a
Biodança se relaciona com esses estratos do inconsciente.
4 - 1 Inconsciente Pessoal
Ponto central da psicanálise criada por Freud,
neurologista vienense no fim do século XIX e primeira metade do
século XX. Freud localiza o inconsciente como um lugar
psíquico, com conteúdos, mecanismos e uma energia específica.
Parte arcaica do psiquismo, formado na primeira infância, os
conteúdos inconscientes são acessados através da livre
associação de ideias, dos atos falhos, dos sonhos e através dos
sintomas psíquicos. (CORDEIRO, 2014)
Para Toro, o inconsciente pessoal possui dimensão
biográfica e se nutre da memória dos fatos vividos principalmente
na infância. “Gerado no encontro das tendências genéticas com
os fatores ambientais, pode ter o seu potencial estimulado ou
inibido.” (TORO, 2005).
4 - 2 Inconsciente Coletivo
O conceito de inconsciente coletivo proposto por Jung amplia
a ideia do psiquismo e do inconsciente pessoal passando a incluir
uma camada constituída de estruturas e imagens comuns a toda a
humanidade - os arquétipos - que se manifestam nos sonhos, mitos,
religiões e contos de fadas. (SERBENA, 2010)
Segundo Ferreira o inconsciente coletivo transcende a esfera
do individual e do atual relacionando-se com o universal e o arcaico.
Os conteúdos do inconsciente coletivo remetem-nos aos primórdios
da civilização e nos falam da história da humanidade. (...) “Como
fundamenta a psique humana, é comum a todos os homens,
rompendo as barreiras socioculturais e raciais.” (FERREIRA, 1997
pg 49)
Através do processo de individuação, o inconsciente coletivo
objetiva revelar o Self – o si mesmo. O acesso ao inconsciente
coletivo de dá pela análise do repertório arquetípico do paciente, por
meio da expressão artística e dos sonhos dirigidos. As cerimônias
de aplicação dos mitos propostas pela Biodança se encaixam nessa
via de acesso. (TORO, 2005)
4-3 Inconsciente Vital
Rolando Toro fala-nos de um psiquismo biológico talvez
mais profundo que o inconsciente coletivo:

O Inconsciente Vital inventei-o a partir dos novos estudos da biologia


onde se descobriu um objetivo nas células. As células se comportam
com um objetivo especial (...) alguns tecidos, algumas células para não
serem devoradas por macrófagos utilizam toda uma inteligência
diferente (...) um psiquismo biológico que talvez seja mais profundo que
o Inconsciente Coletivo. (TORO apud FERREIRA, 1997)

Toro explica como se dá a expressão do inconsciente vital


e quais as vias de acesso a ele:

O Inconsciente Vital se expressa pelo humor endógeno, pelo bem-estar


cenestésico, pelo estado geral de saúde, pelas reações de
imunossupressão frente às perdas, pelas reações alérgicas e pela
capacidade de cicatrização dos tecidos. As vias de acesso ao
inconsciente vital são: a alimentação, as brincadeiras, o bom-humor e
as risadas; as carícias e o erotismo; a ligação com a natureza; os
banhos de mar; os banhos de argila; a massagem; as vivências da
Biodança em geral e, particularmente, as de regressão mediante o
transe na água. (TORO, 2005)

Falando do inconsciente vital, Antonio Sarpe cita Rolando Toro


em uma frase bastante reveladora: “Ser antes de tudo um bom animal”.
(...) “Ter raízes na terra. Não há separação corpo-alma. É a unidade
perfeita, é a totalidade.” E Sarpe conclui dizendo que o inconsciente vital
é essencial para que se possa integrar a identidade. (SARPE, 2015 pg
43)
4 - 4 Inconsciente Numinoso

Criado pelo teólogo Rudolff Otto em 1917, quando da


publicação do seu livro O Sagrado e utilizado vinte anos depois por
Jung, o termo numinoso vem do latim numen e significa divindade.
Numinoso qualifica algo que é sagrado ou divino. Jung percebeu
que uma disponibilidade prévia para confiar em um poder
transcendente, era condição prévia para a experiência do numinoso.
O numinoso não pode ser conquistado, o individuo pode somente
abrir-se para ele. (CECCON; HOLANDA, 2012)
Rolando Toro chamou de Inconsciente Numinoso o estrato
mais profundo de inconsciente humano. E declara num dos seus textos
mais emocionados e emocionantes:

O inconsciente numinoso consiste em um conjunto de potenciais de


extraordinária diferenciação e refinamento, que constitui o poder de excelência do
humano. Esses potenciais são os mais reprimidos de todas as manifestações
humanas. Seu conjunto constitui o Homem Eterno. O numinoso se relaciona com a
graça, com o criativo, com o eterno. O numinoso gera o amor, a poesia, a percepção
do maravilhoso e a coragem de viver. O inconsciente numinoso nos dá acesso a um
sentimento de intimidade, ao amor sem fronteiras e à criação como revelação da
beleza e do mistério. (TORO, 2008)

Para Rolando o Inconsciente Numinoso é uma proposta


ontocosmológica que busca o desenvolvimento de quatro grandes
potenciais:
Íntasis: Profunda conexão consigo mesmo. Conectar-se com a
sacralidade da vida, com a nossa essência de vida.
Coragem de Viver: Dissolver os medos que nos impedem de
conectar com o maravilhoso.
Iluminação: Capacidade de ver a luz do outro a partir da minha
própria luz.
Amor: Sentimento supremo da grandeza humana. (TORO, 2008)
O Inconsciente Numinoso foi a última contribuição de Rolando
Toro para o Modelo Teórico da Biodança. Com seu imenso amor pela
humanidade ele conclui:

Penso que tudo que dá dignidade ao ser humano vem do inconsciente


numinoso. (...) Homens de todos os povos, em maior ou menor grau, têm a
possibilidade de liberar sua energia numinosa.
Nossa cultura voltada para a morte tem gerado condições para tornar o ser
humano insignificante. Dessa forma é fácil explorá-lo, desqualifica-lo e assassiná-lo em
guerras. (TORO, 2008)

Rolando Toro redefiniu o conceito de vivência como a experiência


vivida com grande intensidade por um indivíduo, no momento presente,
envolvendo as funções cenestésicas, viscerais e emocionais. (TORO, 2005)
As vivências mobilizam as quatro dimensões do inconsciente: o
pessoal, na integração corporal, em danças de integração motora, nos
exercícios segmentares, nas danças de integração dos três centros, nos
caminhares, etc; o coletivo, no contato com o arcaico, nas vivências das
Posições Geratrizes, na dança dos Quatro Animais, Quatro Elementos, etc; o
vital, no acesso à inteligência do psiquismo biológico e nas reações
bioquímicas do organismo, através de vivências de comunicação e encontro,
nas vivências de acariciamento e erotismo, na regressão pelo transe, nos
jogos de alegria e nas reações sinestésicas de prazer. (ALVES, 2016)
No inconsciente Numinoso, Rolando Toro propôs exercícios para a
coragem de enfrentar o caos, a opressão e o sofrimento. Para Toro, “Coragem
é a capacidade de desafiar a própria sombra. Entrar no misterioso âmbito de
nossas dores e de nossas frustrações, investigar na penumbra para acender a
luz. Para prosperarmos no projeto sagrado, devemos entrar na grande obra, na
arca da salvação que é o amor.”. (Toro, 2008)

. 5 – Biodança – Uma Vivência Arquetípica

A sessão de Biodança é um espaço ritualizado que proporciona


aos participantes um ambiente protegido e enriquecido. A música, a luz
controlada, a privacidade, a presença de um facilitador proporcionam a este
espaço funcionar como um útero protetor capaz de abrigar a entrega a estados
regressivos.
Segundo Sanclair Lemos, através dos símbolos e rituais podemos
alcançar certos níveis de conexão arquetípica, que não nos seriam
acessíveis por outros meios. “Nesse sentido, nos utilizamos das
cerimonias arquetípicas e dos ritos como meio para alcançar um estado
pleno de conexão que se situa além do símbolo.” (LEMOS, 2013)
Myrthes Gonzales relaciona a dimensão arquetípica da Biodança
ao nível de profundidade alcançado pela vivência e lembra que a
vivência arquetípica nos conecta com um conhecimento ancestral,
transcendendo a vivência pessoal.

“Todos os trabalhos de Biodanza têm uma dimensão ritual e mítica. Sem


entrar nesta dimensão não se alcança a profundidade do trabalho. Quando fazemos
uma roda para iniciar o trabalho já estamos fazendo um ritual e acessando um
arquétipo. Por isso que vamos referir a vivencia como tempo mítico. Portanto a
dimensão arquetípica perpassa toda a Biodanza”.
“A potência da Biodanza é acessar o arquétipo em nível psicomotor.”
“Os mitos e os arquétipos são a tradução de um imprinting profundo na
vivência de nosso processo de humanização. Não foi fácil para nossa espécie
sobreviver e se adaptar às condições ambientais que mudaram muitas vezes ao longo
de nossa história.”
“Portanto quando dançamos um arquétipo tocamos num conhecimento
ancestral. Temos acesso a uma memória que vai além de nossa vivência pessoal. O
arquétipo traz a vivacidade da experiência vivida por nossos antepassados no tempo
em que não havia uma divisão entre sagrado e profano.”
“Necessitamos dos mitos e dos arquétipos para reencontrar a sacralidade da

vida.” (ANEXO1)
Betania Moura chama atenção para a conexão alcançada com o
divino, mediada pela vivência mítica e arquetípica e destaca a
corporeidade expressada com beleza e mistério, integrando o sagrado e
o profano.

“O mito pela sua essência metafórica desempenha a função de mediar a


comunicação dos homens com os deuses e deusas, com as forças da natureza, com a
nossa ancestralidade e com o sagrado. A vivência de um mito ou arquétipo
proporciona uma conexão com o que há de mais antigo em nós - o nosso corpo. Ao
dançar um mito, contamos a nossa história de vida tecida por muitas imagens e
arquétipos que pertencem à humanidade e que se corporificam nos movimentos e
gestos pessoais e coletivos e na conexão com o movimento do Universo. O mito se
torna vivo na dança, numa corporeidade que se expressa com beleza e mistério, o real
e o imaginário, o profano e o sagrado. Durante a vivência, o participante se identifica

com a narrativa mítica , dando-lhe um novo significado de vida.”(ANEXO 2)

Ruth Cavalcante fala da sua experiência como facilitadora de


Biodança e reflete sobre o resultado dessas vivências arquetípicas no
fortalecimento da identidade dos participantes e da sua capacidade de
vinculação nos três níveis:

”Desde a origem da civilização, o ser humano busca maneiras de ter


acesso a sua realidade essencial, e vê no mundo dos mitos uma das formas para alcançar a
vivência suprema. Rolando Toro que nos presenteou com a metodologia da Biodança, apontou
um caminho para nos conduzir ao nosso significado existencial através da sessão nos grupos
regulares e, mais intensamente, através de extensões onde aprofundamos essas vivências. Ao
longo de mais de três décadas como facilitadora de Biodança, optei por algumas com as quais
tenho mais afinidade e me sinto em condições de formar outros facilitadores através de
projetos como ‘A identidade e os quatro elementos’, ‘Projeto Minotauro,’ ‘A Árvore dos Desejos’
e, esporadicamente, ‘Dançar o I Ching’. Todos oferecem possibilidades de profundas
transformações com vivências dos símbolos arquetípicos representados pelos Mitos. Observo
que, ao renovar o Mito, por meio das vivências, que são verdadeiros desafios, o participante
apropria-se da sabedoria ancestral de sua própria vida obtendo como resultado a sua
identidade fortalecida e capacidade de vinculação com a sua espécie, com sua comunidade e o
com todo vivente.” (ANEXO 3)

Maria Lúcia Pessoa fala sobre o resultado da vivência na vida


das pessoas e da sua experiência de facilitadora em relação ao aspecto
cerimonial da Biodança:
“A vivência, como é compreendida em Biodanza, tem como principal resultado na
vida das pessoas levá-las a encontrar os recursos internos para uma vida mais plena e feliz. As
posições geratrizes, por exemplo, são um caminho importante para a vivencia dos arquétipos.
Cada mito tem seu potencial de abertura, seus símbolos são convites à auto expressão e
oferecem instrumentos de auto-observação também. Sendo assim recriar um ambiente de
cerimonia onde o rito possibilita um contato íntimo e profundo de cada participante com sua
identidade tem sido um forte estímulo na minha jornada profissional em Biodanza.” (ANEXO
4)

Ruth Cavalcante também identifica na estrutura ritualística e


arquetípica da vivência mítica em Biodança, a possibilidade de integração do
participante por meio do contato íntimo deste com o aspecto divino da sua
identidade e da renovação existencial alcançada:

“Como as vivências acontecem dentro de uma estrutura arquetípica e ritualística


que privilegia o Mito, o participante acessa memórias arcaicas que facilitam a conexão com a
totalidade cósmica. Como seres de relações que somos consegue a integração pessoal em
contato com sua essência, com o aspecto divino de si mesmo que é sua Identidade. O
participante é iniciado em si mesmo, nos mistérios do mundo, nos segredos do universo e
retorna renovado ressignificando seu momento existencial.” (ANEXO 3)

Avançando em sua reflexão Ruth Cavalcante, explica como se dá no


participante a conexão com o sentido de plenitude existencial através da
vivência arquetípica:

“Quando introduzimos o Mito e o arquétipo como linguagem metafórica, estamos


oferecendo uma forma de representação de fatos ou personagens criados pelo próprio
participante que traz como registro o nível da percepção de seus ancestrais. E é o movimento-
dança que nos move para sentirmos nossa abundância interna e para sentirmos a vida plena
em nós, nos outros e em tudo que se move. O Milton Nascimento já nos anuncia que ‘tudo que
move é sagrado’. E o Rolando na ‘carta ao professor de Biodança’, seu último documento
escrito dois dias antes de ‘partir para as estrelas’ afirma: ‘A natureza essencial do humano é a
eterna celebração da vida. Esta condição lhe revela uma visão iluminada sobre si mesmo e
sobre o mundo”. (ANEXO 3)
7- Mitos e Arquétipos em Biodança
A partir de agora vamos fazer uma síntese de cada extensão e/ou
vivência com mitos e arquétipos em Biodança. Escolhemos alguns deles por
motivo de disponibilidade de material para estudo e acesso a facilitadores que
se dispusessem a colaborar participando da entrevista que elaboramos para
um melhor esclarecimento da parte vivencial, coração deste trabalho. No
entanto existem muitos outros que não foram contemplados nesta revisão tais
como: Missão Argonauta, O Retorno de Dionísio, Biodança e Tarot, O
Pressentimento do Anjo ,O Círculo dos Arquétipos, etc.
Vamos começar com o Projeto Minotauro, chamado por Rolando
Toro de uma poética dos instintos...

7.1 Projeto Minotauro


Encontramo-nos, cada um de nós, em várias fases da vida em um
labirinto existencial e temos que escolher constantemente um caminho a
seguir. Algumas vezes o fazemos com serenidade, em outras o medo pode ser
paralisante.
O labirinto é um arquétipo tão antigo quanto a mente humana e está
presente em representações de várias culturas. Para Rolando Toro, criador do
Projeto Minotauro, “o labirinto é o símbolo do misterioso universo onde habitam
nossas fantasias inconscientes, nossos desejos inconfessáveis, nossos medos
e repressões e, também, nossa selvagem inocência.” (TORO, 1988)
Inspirado nos ritos de iniciação em especial na tradição dos mistérios de
Elêusis, da Grécia antiga, Rolando Toro propôs a vivência do mito em que
Teseu, com a ajuda de Ariadne, penetra no labirinto e mata o Minotauro. “Para
ele, os ‘ritos de iniciação’ propiciam uma mudança radical da visão do mundo e
da própria vida, constituindo-se na oportunidade de renascimento para uma
nova condição humana a partir da coragem de enfrentar o mistério de si
mesmo”. (FREIRE, 1994) (TORO, 1988)
Para Toro, a nova abordagem do mito utilizada no Projeto Minotauro
converte o símbolo universal em realidade existencial. “A utilização de
'desafios', num contexto mítico, torna o participante protagonista de seu próprio
processo de crescimento e o restitui à grandeza humana”. (TORO, 1988)
De acordo com Toro, o Minotauro representa arquetipicamente o
conjunto dos instintos – sabedoria da espécie que zela pela conservação da
vida – então, matar o Minotauro, como no mito original, significaria uma ação
antivida. Toro explica o trajeto percorrido da vivência do mito do Minotauro:

Durante a vivência do Minotauro percorre-se o caminho que vai do mito à experiência


real, do símbolo ao drama concreto, do arquétipo à existência. Durante essa cerimônia de
transmutação o mito atualiza-se na vivência, nutrindo-se com as variáveis presentes na
situação atual. (TORO, 1988 pg 43)

Sabemos que o medo é uma emoção que tem a função biológica de


preservação da vida, ligada às respostas de luta e fuga. Entretanto, devido à
influência da cultura, muitas vezes essa função protetora se torna uma emoção
paralisante que nos impede de crescer. No Projeto Minotauro, o participante
enfrenta os seus medos, dentro de um contexto mítico e protegido pelo grupo.
Rolando Toro chamou de Árvore dos Medos a rede sistêmica dos medos
humanos, sendo o medo básico, o medo de perder a identidade. Deste provém
os quatro grandes medos de segunda ordem: medo de viver, medo do amor,
medo do primordial e medo de expressar os próprios potenciais. (TORO, 1988)
O Projeto Minotauro tem como finalidade proporcionar aos participantes
a vivência da própria coragem para enfrentar a vida. Predomina o clima de
cerimônia e a cada participante é oferecida a oportunidade de enfrentar um
desafio, que contará com toda a atenção e ajuda do grupo. O facilitador propõe
os desafios baseado no esquema da árvore dos medos de cada participante,
feita na fase inicial da vivência. (FREIRE, 1994)
Os desafios enfrentados em grupo propiciam o fortalecimento dos
vínculos, a restauração da autoestima, a revitalização e a identificação com a
espécie. Ao final dos desafios ocorre a integração da energia vital e a conexão
com a singularidade. (SANTOS, 2015)
Dentro do Modelo Teórico, o Projeto Minotauro localiza-se no polo da
Regressão. Toro descreve assim a vivência:

“Durante os desafios, ao se entrar no labirinto vai-se ao encontro do mais arcaico e


visceral da personalidade para entrar em contato com o conflito. A cerimônia é uma viagem ao
visceral, um ato de regressão a estruturas primais e de integração à fonte instintiva da
identidade”. (TORO, 1988)

Para Toro, a coragem de enfrentar a situação limite proposta ao


participante do Projeto Minotauro, induz a Identidade a buscar recursos de
força e coragem.

Quando entramos no reino do medo, entramos também em contato com a


nossa identidade, como se a iminente ameaça de destruição a tornasse mais forte e a
obrigasse a buscar suas reservas de invulnerabilidade. Existe uma tensa relação entre o medo
do caos e a coragem de viver. A existência se nos oferece, assim, como um permanente
desafio.” (TORO, 1988)

Para Maria Lúcia Pessoa, o Projeto Minotauro apresenta uma


metodologia para a descoberta da própria identidade. A vivência do labirinto
propõe o contato com nossos instintos, com a força primordial que existe em
nós. Para tanto, utiliza um mito da Grécia Antiga e um ritual contemporâneo,
onde o labirinto simboliza o caminho interior, a busca por si mesmo. ”Caminhar
pelos labirintos integrando instinto e razão, emoção e sensibilidade, força e
delicadeza configura um estilo de vida consequente e harmonioso.” (SANTOS,
2015)
O facilitador e o grupo funcionam como o Fio de Ariadne que conduz
o participante do desafio no seu percurso no labirinto, proporcionando o
continente afetivo necessário para o enfrentamento e superação dos medos
básicos que ameaçam a identidade.

Desafio: Caminhar no Labirinto do Amor – Relato de Vivência

. 23 de Novembro de 2014. Maratona da Escola - Modelo Teórico com


Maria Lúcia Pessoa. Era a noite de Sábado, quando geralmente fazíamos as
vivências de maior aprofundamento. Maria Lúcia pergunta: Quem deseja
caminhar no labirinto do amor?
Aceitei o desafio e não foi fácil. Nos primeiros momentos da minha
caminhada no labirinto senti muito medo da solidão e uma dor profunda. Senti
angústia e taquicardia. As paredes formadas pelos amigos me oprimiam, eu
desejava sair e caminhar livremente. Não lembro se havia música.
Aos poucos procuro uma saída e as paredes se movimentam já não
como opressão e sim como continente e proteção. Saio e caminho mais forte e
com mais coragem para viver o amor.
Foi uma vivência onde diluí muitas dores, enfrentei o medo da
solidão que me trazia tristeza naquele momento.
Enfrentar o medo e olha-lo nos olhos me deixou mais forte e mais
corajosa. Dei um salto. Cresci.
Hoje, quando esse mesmo medo me visita, olho para ele com
serenidade, tomo consciência de que ele existe e que faz parte da vida.
Contudo não permito que ele me paralise nem que me impeça de buscar
vínculos nutritivos e amorosos. Considero que a minha consciência se
expandiu a partir dessa vivência me levando a avançar na minha caminhada.

7.2 Identidade e os Quatro Elementos


Dize-me qual é o teu infinito e eu saberei o
sentido do teu universo; é o infinito do mar ou do céu, é o infinito da terra
profunda ou da fogueira? (Gaston Bachelar) obs: Epígrafe
Segundo a teoria cosmogônica do filósofo grego pré-socrático
Empédocles, tudo que existe no universo é formado por quatro elementos
principais: água, terra, fogo e ar.
Esses quatro elementos eram considerados permanentes e combinados
em diferentes proporções, produziriam as substâncias complexas mutáveis que
encontramos no mundo. Segundo essa teoria essas substâncias eram unidas
pelo amor e separadas pelo ódio. Toda substância composta seria temporal,
somente os quatro elementos, juntamente com amor e ódio, seriam eternos.
(FREIRE, 1994)
O simbolismo arquetípico dos quatro elementos foi pesquisada por
Jung e Gaston Bachelard e revela uma abordagem de grande importância
sobre a identidade humana.
Cada um de nós tem componentes dos quatro elementos em diferentes
proporções. Quando um ou mais desses elementos encontra-se sem
expressão, enfrentamos dificuldades para atingir a integração existencial.
Os quatro elementos representam categorias psicológicas, com suas
características, seus potenciais, sua luz e sua sombra. Quando algum ou mais de
um destes elementos encontra-se inibido ou em excesso a pessoa sente dificuldade
em alguma área da sua vida. ( CAVALCANTE, 1998)
O trabalho de Identidade e os Quatro Elementos proposto em Biodança,
pode revelar a estrutura de cada participante através do movimento corporal,
mostrando pela dança, o elemento inibido, o elemento luz e os elementos
medianos. A vivência arquetípica dos quatro elementos se propõe a
potencializar a expressão do elemento que está bloqueado mediante danças e
cerimônias vivenciais, de modo a promover a integração do indivíduo.
(BAPTISTA, 2008)
As categorias psicológicas relacionadas aos quatro elementos os
dividem em dois grupos: Fogo e Ar são “ativos”, extrovertidos, expansivos,
construtores e transformadores – são Yang na filosofia chinesa. Terra e água
são ”passivos” intuitivos, imaginativos, ponderados, cautelosos, introspectivos,
receptivos – são Yin. (CAVALCANTE, 1998)

7.2.1 - Fogo – Yang – corpo mental - energia alta e rápida


São características do elemento Fogo, capacidade de ação, paixão,
atividade transformadora, fusão, intensidade, energia vital, erotismo,
iluminação, calor. (CAVALCANTE, 1998)
Os problemas afetivos e eróticos podem ser atribuídos em parte pela
falta do elemento Fogo na composição do caráter. O comportamento e as
atitudes destas pessoas são desprovidos de energia e não conseguem
“acender” afetos profundos. (BAPTISTA, 2008)
7.2.2 - Água – Yin – corpo emocional - energia concentrada e lenta
Adaptação inteligente, maleabilidade, fluidez, dissolução das
dificuldades, doçura, profundidade nas relações, pragmatismo, emoção,
capacidade de fusão, sensibilidade e vulnerabilidade, compaixão,
sensualidade, capacidade de sentir prazer, são algumas das características do
elemento Água. (CAVALCANTE, 1998)
As pessoas a quem faltam traços de Água em sua composição não
conseguem dissolver as dificuldades e não tem fluidez para desviar dos
obstáculos, faltando-lhes a capacidade adaptativa. (BAPTISTA, 2008)

7.2.3 - Terra – Yin – corpo físico – energia concentrada e lenta


Estabilidade, gravidade, realismo, consistência, autovalorização e
autossuficiência, inconsciente e instintos atuantes, praticidade, capacidade de
organização, persistência, constância, fertilidade, produtividade, paciência e
autodisciplina, objetividade e raciocínio prático são algumas das características
do elemento Terra. (CAVALCANTE, 1998)
As pessoas que têm o componente Terra acentuadamente presente no
seu caráter são realistas e práticas, porém falta-lhes leveza interior para
idealizar seus caminhos e realizar seus sonhos. (BATISTA, 2008)

7.2.4 - Ar – Yang – corpo mental/espiritual - energia alta e rápida


Sublimação, leveza, expansividade, atividade criadora, ligação
com o espiritual e o divino, inspiração, imaginação, sonho, agilidade,
capacidade de adaptação, curiosidade, idealização das coisas imateriais,
impulsividade, sentimentos artísticos, tendência à distração, preferência por
mudanças subjetivas, mente clara, visual, racionalidade, imparcialidade e
objetividade, lucidez, independência, autonomia e equilíbrio são traços
marcantes do elemento Ar. (CAVALCANTE, 1998)
A dificuldade de sonhar e transcender está ligada em parte à
inibição do elemento Ar, responsável pela leveza frente à vida e a busca por
grandes aspirações. (BAPTISTA, 2008)
A partir dessa visão arquetípica, Biodança propõe cerimônias de
contato e celebração com os quatro elementos, separadamente e com a
participação de todo o grupo. Cada participante será convidado a dançar a
expressão de um ou mais elementos, ou a associação de alguns dos
elementos, de modo a integrá-los em sua vida. (FREIRE, 1994)
Esta extensão – Identidade e os Quatro elementos é estruturada em
módulos. No primeiro módulo, a vivência inicia-se com uma breve exposição e
diálogo sobre os quatro elementos. A seguir ocorre a sessão na qual os
participantes dançam os quatro elementos para que o facilitador tenha a
percepção do processo de vinculação de cada participante com os quatro
elementos. A seguir é preenchido o Tetragrama no qual os elementos se
encontram associados às linhas de vivência correspondentes. (CAVALCANTE,
1998)
Após a elaboração do Tetragrama e identificado o elemento mais
inibido, o participante é convidado pelo facilitador a tomar parte da cerimônia
deste elemento. O participante dança o seu elemento e é recebido com
abraços ao finalizar a sua dança. (CAVALCANTE, 1998)
Neste módulo os participantes podem realizar trabalhos de
expressão artística, daquele elemento que mais lhe tocou, tais como a escrita
de poemas, pinturas e desenhos.(CAVALCANTE,1998)
No segundo módulo são realizadas vivências e cerimonias de fusão
e integração dos quatro elementos, em contato com a natureza. Neste módulo,
os elementos deverão ser vivenciados coletivamente. Vivências com argila e
Biodança aquática têm lugar neste momento. Na última sessão deste módulo é
realizada intimidade verbal e finalizado com a vivência de despedida.
(CAVALCANTE, 1998)
Para Betania Moura, “A Dança dos Quatro Elementos possibilita a
conexão profunda com a natureza, a expressão das características
psicológicas de cada elemento e a sua presença na vida de cada um”. (ANEXO
2)

7 – 3 A Roda das Deusas


Durante o matriarcado, período marcado pelo arquétipo da
Grande Mãe, o feminino tinha seu lugar de destaque. Com a ascensão das
religiões monoteístas, entrou-se na era do patriarcado de modo definitivo e
progressivamente, os valores associados ao feminino, ligados ao princípio de
Eros, que são a receptividade, a passividade, a disciplina e a subjetividade,
perderam espaço na sociedade. Já os valores associados ao masculino, ao
princípio do Logos, tais como discriminar, impor regras e limites de maneira
rígida, agir e relacionar-se de forma impessoal foram supervalorizados.
(WOOLGER, 1987)
Apesar da perda de espaço na sociedade dos valores femininos,
principalmente quando da emergência das religiões judaico-cristãs, dos
avanços tecnológicos e do apogeu de um tempo que tenta destruir os seus
mitos, a presença desses arquétipos pode ser percebida em todos os setores
da sociedade, em todas as situações em que se manifestam os valores
maternais, criativos, sensíveis e eróticas do espírito. (WOOLGER, 1987, p. 19).
Na cultura grega, o princípio da Grande Mãe se dissolveu na
diversidade de deusas e a despeito de todo um sistema de repressão em torno
do feminino, as deusas gregas sobreviveram no universo dos mitos, através da
literatura, da arte e da astrologia. (WOOLGER, 1994 Pg. 18)
De acordo com Ribeiro, o despertar desses arquétipos na
psique da mulher contemporânea, promove uma mudança de mentalidade e de
comportamento que implica em um novo entendimento da masculinidade e da
feminilidade nas relações entre os sexos e nas atitudes socioculturais.
(RIBEIRO, 2010)
A extensão A Roda das Deusas criada pela didata Betania
Moura (Fortaleza/CE) em 2012, trabalha com as deusas míticas da Grécia
Antiga, arquétipos femininos presentes no inconsciente coletivo ocidental.
O objetivo da vivência é entrar em conexão com o poder
transformador da energia das deusas e com as potencialidades divinas
presentes em cada um e cada uma de nós: a fertilidade, o amor, o poder, a
sabedoria, a liberdade e a espiritualidade oriundas da Grande-Mãe, a deusa-
GAIA. Fortalecer a identidade, dentro das cinco linhas de vivência da
Biodança: vitalidade, sexualidade, criatividade, afetividade e transcendência e
celebrar a vida em sua beleza e sacralidade. (MOURA, 2012)
A metodologia utilizada são vivências de Biodança, vivências
transpessoais, experiências de renascimento e rituais de vínculo. (MOURA,
2012)
Betania Moura define a extensão de Biodança A Roda das
Deusas como “uma proposta de desenvolvimento humano que tem como base
a mitologia grega, o universo mítico e seus significados. É voltada para a
expressão do feminino e do masculino representados por cada deusa. Dentro
desse princípio, seis deusas gregas são convidadas a dançar o seu mito numa
grande roda de celebração da vida: Deméter, Afrodite, Perséfone, Hera,
Artêmis e Atena.” (MOURA, 2012)
Na parte seguinte do presente trabalho vamos conhecer um
pouco mais de cada uma delas, seus pontos fortes e fracos e relacionar como
esses arquétipos se fazem presentes no psiquismo de mulheres e homens
contemporâneos.

ARTÊMIS
Artêmis, a mais popular e antiga Deusa da mitologia grega, cuja
palavra-chave é natureza, tem grande empatia com a Terra e com os seres
vivos. Autossuficiente, solitária, convicta de sua feminilidade, devido à sua forte
ligação com a mãe Leto, encontra o equilíbrio de masculinidade e feminilidade
em seu próprio interior. (COSTA, 2016)
A mulher - Artêmis é prática, atlética e aventureira; aprecia a cultura
física, a solidão, a vida ao ar livre e os animais; dedica-se à proteção do meio
ambiente, aos estilos de vida alternativos e às comunidades de mulheres.
(WOOLGER, 1987)
Sua dor é a dificuldade de se relacionar afetivamente, pois tende a
se fechar ao amor por prezar muito a sua liberdade. Sofre pela dor da
alienação na sociedade convencional e pelo afastamento do mundo natural, da
fauna e da flora. (COSTA, 2016)
ATENA
Atena, filha de Zeus, Deus supremo do Olimpo, é a Deusa da
Sabedoria. Nasceu da cabeça de seu pai, já adulta e inteiramente armada. Foi
a única habitante do Olimpo sem uma verdadeira mãe, o que a deixou sem
referência de feminilidade da figura materna. Sua energia se encontrava
predominantemente na cabeça, desconsiderando e negando sua realidade
corporal. Agressividade, racionalidade e autoridade são qualidades masculinas
que já tinha integradas dentro de si, o que eliminava qualquer tipo de busca de
um homem para seu relacionamento afetivo. (COSTA, 2016)
A mulher – Atena busca a realização profissional numa carreira,
envolvendo-se com educação, cultura intelectual, justiça social e com política.
(WOOLGER, 1987)
Por ser extremamente competitiva, acaba afastando as pessoas, mas
no fundo se sente frágil e vulnerável por trás da couraça e da armadura que
sustenta. Dificuldade com o corpo em relação à feminilidade e à maternidade.
(COSTA, 2016)

DEMÉTER
Deméter, a Deusa da Vida, da maternidade, mãe de todos nós. Filha
de Cronos e Reia, nunca parecia se cansar ou pensar em si mesma.
Realizava-se tendo como princípio norteador de sua vida a maternidade.
Generosa, dedicada, acalentadora, confortadora, vivendo para cuidar do outro.
Doava-se tão completamente que até se perdia no outro. Relacionava -se com
a terra e a natureza vegetativa como forças vivas e necessárias para nosso
alimento. Compreendia todos os instintos básicos que fazem parte da natureza
animal e corporal. (COSTA, 2016)
A mulher- Deméter é uma verdadeira mãe-terra que gosta de estar
grávida, de amamentar e de cuidar de crianças; está envolvida com todos os
aspectos do nascimento e com os ciclos reprodutivos da mulher. (WOOLGER,
1987)
Sente raiva e desnorteamento quando os filhos já não ficam junto a ela, o
que a faz sentir que perdeu o centro emocional de sua vida. Por doar-se
demais e nunca pensar em si mesma, vai até o limite de suas forças e faz-se
de vítima quando os filhos crescem por sentir-se “abandonada” por eles.
(COSTA, 2016)

AFRODITE
Filha de Gaia – a mãe Terra e Ouranos – o Pai Celeste, Afrodite
nasceu no mar, do membro de seu pai que fora decepado por Cronos, um dos
seus irmãos. Gregos e romanos adoravam-na por sua beleza, ternura e
sensualidade. Brilhava sobre a cultura grega, abençoando-a com as artes da
escultura, poesia e música. Fazer contato com Afrodite é fazer contato com o
prazer, é desobstruir o controle materialista da mente e permitir que a
sensualidade possa tocar o espírito. É ser corpo sem culpa de crescer, de
mudar, de envelhecer, de acabar e de continuar amando. (COSTA, 2016)
A mulher- Afrodite está voltada principalmente para relacionamentos
humanos, sexualidade, romance, beleza e para as artes. (WOOLGER, 1987)
Pode se colocar em situações de superficialidade e desvalorização ao
se identificar somente com seu corpo. (COSTA, 2016)

Hera, a esposa de Zeus, era co-governante no Olimpo, onde


partilhava o poder com o chefe dos deuses. Envolvia-se em ciúmes e brigas
conjugais por motivo das infidelidades de Zeus com outras deusas e com
mortais. Parceria e poder eram suas principais preocupações. Queria ser livre
como o marido e ser uma força propulsora e poderosa no mundo. Por ser
ambiciosa, autoritária e muito controladora, utilizava seu poder para diminuir
ou manipular pessoas ou situações. (COSTA, 2016)
A mulher- Hera se ocupa do casamento, da convivência com o
homem e, quando são líderes ou governantes, de questões ligadas ao poder.
(WOOLGER, 1987)
Sua maior dor era o seu ódio ao marido por não ser respeitada e
viverem em constante guerra entre si. (COSTA, 2016)

PERSÉFONE
Perséfone, a Deusa do Mundo Avernal, filha única de Deméter, foi
arrastada por Hades, que surgiu do Mundo Avernal para raptá-la e casar-se
com ela. Acabou fazendo um trato com Hades para permanecer parte do ano
com sua mãe já como uma deusa madura, que conhecia a sexualidade, a
morte e a separação. Aprendeu a viver no mundo da vida e da luz
representado pela mãe e no mundo das sombras e da morte, representado por
Hades. Rege o mundo sutil, a ligação entre consciente e inconsciente,
estabelece vínculos profundos, ligação com processos de morte e
renascimento. É sensível, visionária e intuitiva. (COSTA, 2016)
A mulher – Perséfone é mediúnica e atraída pelo mundo espiritual,
pelo oculto, pelas experiências místicas e visionárias, e pelas questões ligadas
à morte. (WOOLGER, 1987)
Sua dor é a dificuldade de se tornar independente, ficando sempre
emocionalmente imatura. Tem a tendência a ficar sempre menina, com laços
de dependência emocional e financeira com a família ou com o parceiro, por ter
dificuldade de perceber o seu próprio poder. Seu desafio é sacrificar a menina
frágil e tornar-se mulher independente. (COSTA, 2016)
De acordo com Betania Moura, a Roda das Deusas é estruturada em
dois módulos. A vivência propõe aos participantes dançar esses arquétipos
femininos com o objetivo de integrá-los e equilibrar essas forças psíquicas.
(MOURA, 2012)
No primeiro módulo todas as pessoas participantes da vivência,
dançam todas as deusas para identificar qual a deusa que rege a sua vida e
qual a que está adormecida. No segundo módulo, cada pessoa dança a deusa
que necessita potencializar. Entre um módulo e outro, a facilitadora faz um
momento de reflexão com cada participante para ouvir a história da construção
do feminino e do masculino dentro de si para então definir a deusa que será
dançada. (MOURA, 2012).
Para Betania Moura, ao dançar os arquétipos das deusas gregas
nessa extensão, os participantes têm a oportunidade de transcender valores e
crenças opressoras e alcançar maior liberdade frente à vida:

“A Roda das Deusas oferece a oportunidade de entrar em contato com o universo


mítico pleno de imagens arquetípicas presentes nas mulheres e nos homens, fonte de padrões
emocionais, mentais e comportamentais. Cada deusa possui a dimensão do masculino e
feminino dentro de nós e a presença dessa dimensão é influenciada pela cultura, em especial,
o patriarcado e todo o seu sistema de opressão. Dançar a deusa significa reconhecer e
ressignificar o masculino e o feminino dentro de nós e libertar-se dos valores e crenças que

negam o amor e a vida.” (Anexo 2)

7.4 Biodança e I Ching


Escrito pelos sábios da antiga China há mais de 4500 anos, o I
Ching- o livro das mutações - contém os símbolos que representam todas as
relações existentes entre o Céu, o Homem e a Terra. Raiz do Taoísmo e do
Confucionismo, o I Ching influenciou toda a cultura do Extremo Oriente e
originou centenas de escolas de oráculos, estratégia, medicina, artes marciais
e alquimia. Como Tratado Divinatório o I Ching abrange várias escolas e
tradições com diferentes técnicas e recursos de interpretação e formas de
consulta. (WILHELM, 2006)
No I Ching é sugerida a concepção de que a totalidade do mundo dos
fenômenos baseia-se na polarização das energias. Assim, o criativo e o
receptivo, a unidade e a duplicidade, a luz e a sombra, o positivo e o negativo,
o masculino e o feminino são fenômenos que produzem toda alternância e
transformação. Haveria um princípio de relação universal e harmônica entre o
microcosmo e o macrocosmo. (REIS, 2009)
Maria Luiza Appy escreveu sobre o I Ching, baseada em texto de
Rolando Toro: “Tem sido usado como oráculo desde a antiguidade.
Fundamenta-se na observação das leis da natureza e da vida, e na perfeita
interação das forças do Céu com as da Terra, ou seja, das forças espirituais e
materiais presentes no universo. A leitura do I Ching implica uma mudança na
maneira de olhar o mundo: requer grande humildade e disposição para
renunciar à nossa lógica ocidental, ao nosso raciocínio linear e à ciência
analítica, e para abrir espaço para uma visão poética da criação, como uma
rede infinita, onde tudo é interdependente”. (APPY, 2013)
Rolando Toro propôs a aproximação de Biodança com o I Ching , a que
chamou de Dançar o I Ching. Em seu texto introdutório nos diz:

Se a dança é a expressão mais essencial da identidade, nela estão inscritos os sinais


do passado e do futuro. É possível, portanto, dançar para invocar um significado
salvador ou para conjurar as forças do caos que nos atormentam. Ao fazer as
perguntas essenciais sobre a própria existência, o Oráculo chinês, denominado I Ching,
dá sua a resposta com palavras, mas também pode ser dada através de uma dança.
Neste caso, a resposta se recebe com emoção global, como revelação cenestésica.
Dançar a própria existência é devolver ao cosmos, através do movimento, a intensa
resposta. O anagrama se decifra no rito da dança. O sentido interior da pergunta se
encarna. A dança é o ato perfeito de sincronicidade com as formas da vida. (TORO,
19... apud REIS)

Para Ismênia Reis, quando dançamos os Hexagramas contribuímos


para a incorporação da sabedoria do oráculo através da vivência. ”Nesse
projeto, vamos recorrer ao Oráculo para favorecer a vivência de que
necessitamos para nossa evolução ou aperfeiçoamento de acordo com a
situação existencial abordada pelo participante.” (REIS, 2009)

Ismenia Reis ressalta que conforme o próprio Oráculo, a música e a


dança têm grande influência sobre as nossas emoções e possuem uma
dimensão sagrada:
A música tem o poder de dissolver as tensões do coração e a violência
de emoções sombrias O entusiasmo do coração se manifesta
espontaneamente no som do canto, na dança e no movimento rítmico do
corpo. (...) A música era considerada como algo sério e sagrado, que purificava
os sentimentos humanos (Hexagrama 16 Yu /Entusiasmo)

Segundo Ismenia Reis, a vivência de Biodança e I Ching está


estruturada da seguinte forma: Num primeiro momento o facilitar dá uma breve
informação sobre o I Ching, seguido de um ritual de reverência e
agradecimento. Após uma reflexão sobre o que deseja consultar o participante
elabora a sua pergunta com a maior clareza possível. A partir dessa pergunta a
resposta é obtida através do método Flor de Ameixeira. (REIS, 2016)
A seguir os participantes dançam os hexagramas que obtiveram como
resposta à sua consulta ao oráculo, alternadas com outros exercícios de
Biodança propostos para a harmonização do grupo. (REIS, 2016)
Ismênia Reis (PI) e Aziz Santos (MA), facilitadores que trabalham com
essa extensão avaliam assim a intensidade alcançada pela dimensão corporal
e emocional da vivência:

“Um dos aspectos que mais nos chamou a atenção, desde a primeira
experiência, foi justamente a intensidade da vivência, o comprometimento
corporal e emocional do participante ao dançar a resposta do Oráculo. Inclusive
pessoas com pouca experiência em Biodança nos surpreenderam, como
também exercícios simples, como um caminhar sinérgico, se transformaram
em uma dança de expressão intensa.”(Anexo 5)

Sobre a transmutação proposta pela Biodança e a integração nos três


níveis, vivenciados nesta extensão, Ismenia Reis e Aziz Santos esclarecem:

“Em primeiro lugar, a própria vivência de Biodança,


independentemente do conteúdo simbólico do I Ching, promove por si essa
integração. Em segundo lugar, consideramos a interferência da situação
existencial do participante, que é o tema de sua consulta. A vivência parte de
uma situação concreta, que, na maioria das vezes, leva ao sofrimento o
desafiante. Aliada a essa situação, existe o desejo de superação, de
transformação dessa realidade gerando um compromisso profundo de quem
faz a consulta.”
“Assim, o participante dança a partir de uma necessidade concreta,
uma situação existencial particular, dança essa que é proposta por Biodança a
partir de uma solução apontada pelo Oráculo.”
“Dança-se, portanto, um caminho de libertação.”
Há um terceiro fator a considerar, que para nós, permanece misterioso:
a interferência das energias cósmicas no momento da dança. Talvez, a
explicação possa ser dada pela Energia do Coração, que é não-local ou livre
dos limites de espaço e tempo conforme os conhecemos. Ela está em toda
parte ao mesmo tempo, o que significa que entrar em sintonia com essa
energia não é tanto uma questão de “transmitir ou receber”, mas de
“estabelecer conexão” consigo e com a Totalidade Cósmica.
Depoimentos nos dão conta de que o dançarino não se considerava
capaz de vivenciar o desafio, mas descobria, na própria dança uma energia
nova, que o conduzia em sua dança.
Assim aliadas, Biodança, a proposta do I Ching e a entrega do
participante, podem intensificar essa transmutação de que nos fala Rolando
Toro.
Considerando os três níveis de integração, estes estão presentes já na
situação inicial do consulente, pois como nos diz o I Ching e o próprio Princípio
Biocêntrico, tudo está conectado. Mas podemos esclarecer melhor: toda
situação existencial envolve o ser, o outro / os outros e a totalidade. Em
“Dançando o I Ching” segue-se a orientação da estrutura de uma vivência de
Biodança, em que se consideram os três níveis de conexão. As danças dos
desafiantes ora tendem mais a uma conexão consigo mesmo, ora com o outro,
ora com a totalidade, dependente da necessidade de quem dança e de sua
situação existencial.” (ANEXO 5)

Já a renovação orgânica e existencial para Maria Ismenia e Aziz Santos


se dá na progressividade da Biodança, podendo ser intensificado nas
extensões:
“É um processo que se dá gradualmente em Biodança. Nossa
experiência é eventual, não há uma sequência de vivências que nos garanta
um acompanhamento dos envolvidos. Entretanto, temos percebido, em alguns
casos, mudanças de estilos de vida ou fortalecimento da caminhada de
pessoas em busca de realizar seus objetivos.
Segundo pensamos, o processo de evolução que se dá através da
Biodança, essa e outras extensões devem e podem ser usadas para
intensificar a caminhada. A evolução gradual se dá através de Biodança em si.”
(Anexo 5)
Ismênia Reis comenta sobre o que possibilita a aproximação entre
Biodança e I Ching: “Tal qual o I Ching, para Biodança, a vida é movimento, e
esse movimento será tanto harmônico quanto maior for a integração do ser
humano com as leis que preservam a vida e a fazem evoluir.” (REIS, 2016)

Dançando o I Ching – Relato de Vivência

Maio de 2013. Era noite já... Havíamos feito a nossa consulta ao I


Ching previamente, como prevê a metodologia da Extensão. Tínhamos feito
vivências de integração do grupo e a minha expectativa da resposta do oráculo
era grande; eu havia perguntado sobre uma questão amorosa que me
mobilizava bastante na época.
Ismênia revela a resposta do I Ching – Hexagrama Entusiasmo. O
resumo era 4 - Entusiasmo (16) – (Trovão sobre Terra) - É favorável
conquistar uma posição e pôr os exércitos em marcha. As palavras-chave
foram ordem, decisão e participação.
A segunda linha do Livro das Mutações foi muito favorável e
apontava para firmeza e persistência. “Firme como uma rocha”.
A linha de Transição apontava 10 – Dificuldade (39) – (Água
sobre Montanha) – O conselho do oráculo foi para identificar, internamente, a
origem da dificuldade e enfrentá-la com a ajuda de alguém. As palavras –
chave foram retidão, suavidade e reflexão.
O Hexagrama do Futuro, o que aponta para a evolução da questão
foi 20 – Liberação (40) – (Trovão sobre Água) – A dificuldade começa a
desaparecer. Alívio de tensão. Aqui as palavras - chave foram equilíbrio,
movimento suave e rápido.
Lembro que essa resposta encontrou ressonância interna, no meu
coração. Chegara a hora de dançar o Hexagrama, dançar a minha resposta, o
meu momento. A música foi Maybe God is trying to tell you something, uma
linda canção gospel americana que me despertou muita emoção. Ouço a
música e me entrego à alegria e à confiança de que tudo iria dar certo. Os
movimentos são soltos, eu vibro com os olhos brilhantes dos amigos que estão
em volta dando continente. Até hoje ainda me emociono ao evocar essa
vivência.
Posso afirmar que essa vivência me trouxe mais confiança em
mim mesma e ajudou a potencializar a minha capacidade de amar e mudar o
que não me satisfaz.

7.5 Identidade e os Quatro Animais


Baseada nos arquétipos do tigre, do hipopótamo, da serpente e da
garça, a dança da tetralogia dos animais em Biodança, objetiva a conexão com
o animal interior, desenvolvendo e equilibrando a força de cada animal no
participante.
Essa vivência mobiliza arquétipos psicomotores e revela a
percepção da pessoa quanto ao seu movimento corporal e existencial, a
maneira como ela atua no mundo. Estas danças simbolizam as forças da
natureza e evocam possibilidades instintivo-motoras de extraordinário efeito
revitalizador. (ALVES, 2016)
Nesta vivência são realizadas cerimônias de incorporação do
arquétipo dos quatro animais da tetralogia: o tigre, a serpente, o hipopótamo e
a garça. A energia vital relacionada à cada animal, que se encontra bloqueada
ou inibida, é liberada através de danças específicas para que sejam integradas
à vida cotidiana do participante .Para Antonio Sarpe, estes arquétipos possuem
a característica de possuírem uma localização corporal.
Por serem arquétipos psicomotores têm localização concreta e muito bem
localizada. O hipopótamo está na barriga, a serpente está na pélvis. A garça, no peito, é
cardiorrespiratório, pulmonar, a liberdade do ar. O tigre está nas costas e se prolonga para os
braços. (SARPE, 2015)

A tetralogia zoológica usada em Biodanza representa quatro linhas


psicológicas e de conduta muito importantes para a identidade. (BONFIM,
2016)
Nos grupos regulares trabalha-se com a Identidade e os Quatro
Animais como arquétipos psicomotores altamente diferenciados. Pode-se fazer
uma sequência de aulas, onde cada dia o exercício central será um animal,
aprofundando nas suas características, aspecto psicomotor e projeção
existencial. Nas maratonas de aprofundamento – com metodologia própria,
esse desenvolvimento ganha uma dimensão de transmutação alquímica. Para
isso há uma formação especial do facilitador. (SANTOS, 2009)
Em relação ao modelo teórico da Biodança, cada animal tem uma
posição em um dos polos, como veremos a seguir, bem como suas principais
características:
Tigre: Encontra-se no polo da consciência intensificada e representa a
poética dos instintos, a assertividade, o instinto de luta e fuga, a energia
radiante do guerreiro, o ímpeto, a capacidade de manter-se alerta e defender o
seu território, a força, a potência e a possibilidade de estabelecer limites. A
dança do Tigre encontra-se nas linhas de vivência da vitalidade e da
criatividade. O objetivo é desenvolver a auto-confiança, a coragem e a
agressividade. (SANTOS, 2009)
Existencialmente dançar o tigre significa reconhecer a capacidade de
enfrentamento e transformação de ações destrutivas ou auto-destrutivas em
expressão criadora. O efeito regulador se dá pela harmonia motora e pelo
desenvolvimento de categorias de movimento como agilidade, potência,
equilíbrio e sinuosidade. (SANTOS, 2009)
Hipopótamo: Encontra-se no polo da Regressão e na linha de
vivência da afetividade. (SANTOS, 2009) Representa o prazer, a fraternidade, a
entrega, a dissolução, a capacidade de desfrutar a vida e o instinto gregário.
(BONFIM, 2016)
No nível existencial simboliza a entrega num nível mais profundo.
Convida ao prazer de viver e desperta ternura e solidariedade com a espécie.
Como efeito regulador temos a calma e a tranquilidade trazidos pelo
sentimento de pertinência e a regularização do sono. (SANTOS, 2009)

Serpente: Em relação ao Modelo Teórico encontra-se no polo do


Potencial Genético e nas linhas de vivência da vitalidade e da sexualidade.
Simboliza a conexão com o originário e a força evolutiva A dança da
serpente objetiva despertar a sensualidade, o erotismo e a habilidade de
atrair o objeto do desejo. (SANTOS, 2009)
A serpente está dentro do homem, é o instinto que nos dá
motivação vital. Está relacionada à intuição, à sedução, atenção
concentrada, sinuosidade, harmonia, flexibilidade, voracidade, magnetismo.
(BONFIM, 2016)
Existencialmente ocorre a intensificação dos processos de
mudança, a consciência dos ciclos vitais, a renovação da maneira de ser,
pensar, sentir e agir. Potencializa a expressão da sexualidade. (SANTOS,
2009)
Garça: No Modelo Teórico da Biodança, encontra-se no Polo da
Integração, a Graça. Quanto à linha de vivência, está na linha da
criatividade. A dança da Garça objetiva despertar a leveza, a graça e a
visão de altura. O significado existencial é o vôo existencial, a liberdade.
Tem efeito regulador na integração corpo-mente-espírito, leveza e
autonomia. A dança da Garça objetiva despertar a leveza, a graça e a visão
de altura. O significado existencial é o vôo existencial, a liberdade. Tem
efeito regulador na integração corpo-mente-espírito, leveza e autonomia.
(SANTOS, 2009)
Simboliza o vôo existencial, a leveza, a autonomia, a liberdade, a
graça, harmonia, a expansão, a sensibilidade e a suavidade. (BONFIM,
2016)
Para Betania Moura, “A Dança dos Quatro Animais permite a
conexão com o que há de selvagem dentro de nós - a nossa natureza
animal - e a capacidade de expressá-la em harmonia com as nossas ações,
relacionamentos, movimentos de vida”. (Anexo 2)
A Dança do Tigre – Relato de Vivência

Foi na maratona da Escola – A Vivência com Alícia Robado


em março de 2014. No Sábado à noite Alícia me propôs fazer a dança do
Tigre. Sentí o meu coração bater forte com a ansiedade; já havia tentado
dançar esse animal antes, contudo sempre terminava com um sentimento
de frustração porque não conseguia me conectar com a energia dele.
Começa a música do Pink Floyd – Have a Cigar – eu adoro
essa canção e começo a dança-la com movimentos lentos, mas me sinto
tremer por dentro. Ainda é só um gatinho. Alícia sente a minha dificuldade e
coloca um “tigre” homem para dançar comigo, o Júlio. Olho para ele e
quase sorrio. Ele me olha sério, continuamos. Daí um tempinho, outro “tigre”
o Jorge Cateb, entra. Ainda continua difícil, não marco meu território direito
e eles avançam. Meus movimentos começam a adquirir um pouco mais de
tônus e a voz se insinua, mas ainda sai com dificuldade. Alícia chama outro
“tigre”, o Aziz. Aos poucos vou conseguindo me conectar com a energia do
Tigre, começo a colocar a voz e os movimentos marcam o meu espaço, me
defendo, coloco limites aos avanços deles os atacando também. Vai se
dissipando a angústia e começo a gostar de estar ali naquela dança. Sinto a
amorosidade de Alícia e do grupo torcendo por mim.
Sentí que dei um passo adiante no sentido de fortalecimento
da minha identidade, expressão e capacidade vivencial. Contribuiu muito
para isso a atitude da facilitadora, sempre incentivando com o seu olhar
amoroso. A atitude do grupo dando continente também foi muito importante.
No olhar de cada um senti o empurrãozinho que falava para expressar a
força, a capacidade de colocar limites e até mesmo a beleza dos
movimentos do tigre.
Essa vivência representou para mim um salto evolutivo. Tenho
certeza que o conceito de Transtase se aplica aqui, principalmente no
indicador coragem de inovar e mudar. Sem dúvida, dançar o Tigre me
trouxe coragem para fazer as mudanças necessárias para viver de forma
mais autêntica, integrada e feliz.
8 – Vivência: Caminho para a Evolução
A Biodança objetiva a integração afetiva do ser humano, a
renovação orgânica e a reaprendizagem das ‘funções originárias de vida’. A
sua metodologia é vivencial e promove a expressão da identidade e maior nível
de vinculação do indivíduo consigo mesmo, com o outro e com a totalidade. As
vivências acontecem dentro de um espaço ritualístico e cerimonial.
Após revermos a metodologia e aplicação das vivências e
extensões que mais diretamente utilizam os mitos e arquétipos em Biodança,
podemos afirmar que a Biodança possui um caráter arquetípico, atualizando na
vivência, a memória ancestral que habita nosso inconsciente coletivo.
Um dos objetivos da Biodança é a renovação orgânica e
existencial. Na vivência dos mitos e arquétipos este processo pode ser
observado nos participantes, segundo Betania Moura através de vários
mecanismos.

A renovação orgânica se dá, em primeira mão, pelos mecanismos de


autorregulação e progressividade nas vivências que levam a uma mudança no estilo de viver. A
renovação existencial acontece pelo fortalecimento dos vínculos, pela valorização da presença
do outro na vida e pela conexão com a natureza e com os movimentos do Universo. Nos
relatos e nos movimentos na dança é possível observar as pessoas vivenciando o corpo com
mais prazer e vivacidade e a expressão do ser com mais autenticidade, harmonia e beleza.”

(ANEXO 2)

Este ponto de vista é corroborado por Maria Lúcia Pessoa, que


avalia que a renovação orgânica e existencial pode ser constatado “pelo
conteúdo do relato das vivencias e pelos indicadores de cada uma das linhas
de vivencia. O movimento integrado e harmonioso, expressividade, presença
de emoções, fluidez das ações.” (ANEXO 4)
Maria Ismenia e Aziz Santos avaliam que o processo de
renovação orgânica e existencial se dá pela progressividade da própria
Biodança.

“Esse é um processo que se dá gradualmente em Biodança. Nossa experiência é


eventual, não há uma sequência de vivências que nos garanta um acompanhamento dos
envolvidos. Entretanto, temos percebido, em alguns casos, mudanças de estilos de vida ou
fortalecimento da caminhada de pessoas em busca de realizar seus objetivos.” (ANEXO 5)

A progressividade da Biodança ressaltada por Maria Ismenia e Aziz


Santos é observada por Myrthes Gonzales que chama a atenção para o fato de
que as extensões aceleram um processo que é próprio de toda a Biodança,
havendo maior benefíco quando há a continuidade favorecida pela participação
em um grupo regular.

“Todo o processo de Biodanza provoca renovação orgânica e existencial. As


extensões são o ápice deste processo. Elas não têm tanta eficácia quando se realizam de
forma isolada. O maior benefício vem quando a pessoa frequenta um grupo semanal e realiza
extensões de forma esporádica. Nestas condições, quando o participante faz a extensão tem
uma notável aceleração em seu processo de desenvolvimento.” (ANEXO 1)

Para Ruth Cavalcante, a vivência arquetípica permite que entremos


em contato com nossas fantasias inconscientes, com nossos sonhos e desejos
em busca de plenitude e felicidade. Para ela, a vivência dessas extensões nos
permite acessar esse ‘misterioso universo’. Ruth destaca que nessa busca, as
interrogações de Rolando Toro sugeridas no “Projeto Existencial” passam a ser
uma constante e exige de nós um posicionamento. Ela detalha e comenta
sobre os três núcleos do ‘Projeto Existencial’ proposto por Rolando Toro:
1° Núcleo-Onde quero viver:
A busca do útero, do ninho que nos conduz ao eterno retorno à procura de
nossas origens. A coragem de pormos limites à violência, aos ambientes e
pessoas tóxicas, sem perdermos a compaixão.
2° Núcleo- Com quem quero viver:
A comunhão com a espécie, o compromisso afetivo, o amor pleno para
amarmos e sermos amados. A convivência harmoniosa pelo prazer de
estarmos junto, de entrarmos em intimidade, sacralizando a relação com o
outro na ternura e no vínculo.
3° Núcleo- O que quero fazer:
Adquirir mais confiança em mim mesmo para criar minha própria existência
e contribuir para a construção de um mundo melhor com meu trabalho e minha
ação. Saber qual a minha vocação, ouvir a voz que me vem de dentro, o
chamado divino. Vivendo tudo isso se torna clara a definição do criador da
Biodança: (ANEXO 3)
E conclui com a definição de Biodança dada por Rolando Toro: “Um
sistema de integração afetiva, de renovação orgânica e reaprendizagem das
funções originárias da vida”. (ANEXO 3)
Quanto ao nível de evolução dos participantes dessas vivências e
extensões baseado nas linhas de vivência, os facilitadores entrevistados
utilizam várias maneiras para observar essas mudanças.
Maria Ismenia e Aziz Santos afirmam que “a expressão dos
potenciais genéticos se percebe de imediato durante a dança. (...) a evolução
se dá gradualmente com as vivências continuadas nas sessões de Biodança.
As extensões são momentos de intensificação.(ANEXO 5)
Betania Moura observa que a evolução dos participantes, “é um
processo particular, que varia de pessoa para pessoa, no momento existencial
de cada um. Em relação aos trabalhos com mitos, é possível observar uma
ampliação da consciência, da percepção e conexão com o sagrado, de maior
sensibilidade frente à vida”.(ANEXO 2)
Para Myrthes Gonzales o facilitador não mensura este processo de
evolução, para ela é mais importante “sentir” o participante numa ressonância
afetiva e sensível:

“Um facilitador não faz uma análise segmentada deste processo. Não podemos
confundir a organização teórica do material observado com a observação em si. No meu caso
busco mais que observar, sentir os participantes, em ressonância empática. Desta forma
percebo o bem estar, ou a comoção emocional que se dá quando encontramos coisas que
temos que mudar em nossas vidas, ainda a alegria de descobrir-se em potenciais
anteriormente adormecidos. Sei que isto pode ser explicado através da formação de novas
sinapses, com a ampliação da percepção e consciência. Mas não utilizo nenhum instrumento
de mensuração, poderia criar um, mas confio mais na sensibilidade de minha percepção. Isto é
o suficiente para realizar meu trabalho e ter certeza de sua eficácia.” (ANEXO 1)
Ruth Cavacante observa no participante destas vivências e extensões,
mudanças significativas no que diz respeito à maior integração e crescimento
do potencial de amor e entrega:

“Dentro do ritmo e auto-regulação de cada participante, percebo que ocorrem


mudanças significativas ao final do processo de vivências nessas extensões. Ocorre o
abandono da percepção fragmentada de si e da realidade para uma percepção integrada de si,
da espécie e do universo. A ampliação ou expansão da consciência atua sobre o corpo, os
sentimentos e auto-regulação intra-orgânica e percebo de forma mais clara minha consciência
natural, social e cósmica.”
“As linhas de vivências despertam potencialidades inerentes à vida em geral. Considero
que o resultado mais perceptível é a busca de comunicação e entrega amorosa e sincera num
abrir-se à intimidade. O prazer de viver com intensidade cada instante que a vida me oferece. A
coragem de estabelecer vínculos afetivos intensos, desenvolvendo assim a inteligência afetiva”.
(ANEXO 3)

Maria Lúcia Pessoa constata os níveis evolutivos de primeira,


segunda e terceira ordem, referindo-se à participação nos grupos semanais:

“As mudanças de primeira ordem são mais rápidas de se conseguir, às vezes após
um ou dois anos de prática do grupo semanal há harmonia e expressão razoável das’ linhas de
vivencia’. Já o segundo e terceiro nível – vivencia de autorregulação sistêmica e vivência do

Princípio Biocêntrico nas ações do cotidiano requer mais prática e integração.” (ANEXO 4)

Monica Filizolla percebe mudanças positivas nos participantes das


vivências, o que as leva a maior nível de vitalidade e prazer. “À medida que a
pessoa está mais motivada para fazer suas mudanças, mais vital ela se
torna, com mais prazer na vida isso se torna visível em seus movimentos.
É um nível de presença que se sente, se sabe a partir de dentro.” Em
relação à integração entre as dimensões da vivência ela fala da
progressividade e da possibilidade de cada pessoa:

“Depende do que se está trabalhando, da abertura e tempo de vivência de cada


participante, da condução do trabalho, da progressividade, pois cada participante vivencia
dentro de suas possibilidades. O nível de integração depende de todos estes fatores. É um
processo que vai se ampliando à medida que a pessoa se permite ir mais adiante.” (ANEXO 6)
9 – Conclusão

Quero concluir esta obra-síntese com as declarações pessoais obtidas


através da entrevista que realizei com esses facilitadores que tão
generosamente compartilharam comigo as suas vivências de longos anos de
trabalho com o Sistema Biodança, uma grande dádiva para a humanidade nos
presenteada por Rolando Toro, cientista e poeta. Como disse alguém, o poeta
que bailou a ciência.
Ismênia Reis e Aziz Santos referindo-se a extensão Dançando o I
Ching dizem:

“Para nós essa experiência é muito válida, na medida em que ajuda participantes de
Biodança a superar desafios de sua existência ou a se harmonizar com situações que não
podem transformar”.
“Válida, também, por oferecer respostas que nós, como facilitadores limitados, não
temos condições de oferecer. O Oráculo, em sua sabedoria cósmica, aponta caminhos que
nós, como facilitadores, tentamos traduzir, usando a linguagem de Biodança, isto é: a

dança.”(ANEXO 5)

Betania Moura ressalta o salto evolutivo dado pelos participantes


dessas extensões e vivências e a necessidade de ampliar esse universo mítico
dentro da Biodança, incorporando mitos e arquétipos de várias culturas.

”Quero ressaltar o salto evolutivo vivenciado pelas pessoas que participam


desses trabalhos na busca pelo autoconhecimento. Creio que os facilitadores devem ampliar
esse universo mítico nos grupos de Biodança pela sua riqueza, profundidade e força
transformadora. Precisamos conhecer e viver os mitos de várias culturas – América Profunda,
Ocidente, Oriente, África – os seus significados, ensinamentos, forças espirituais. Desse modo,
poderemos oferecer uma maior diversidade de projetos voltados para o fortalecimento da
identidade humana, para a nossa conexão com as tradições dos povos de todo o planeta,

como participantes únicos e UM do Universo.” (ANEXO 2)

Myrthes Gonzales, toca na importância que têm os mitos e arquétipos


como herança ancestral no longo caminho percorrido pela humanidade ao
longo de sua evolução e vê os mitos e arquétipos como um meio para nos
reconectarmos ao sagrado.

“Os mitos e os arquétipos são a tradução de um imprinting profundo na vivência de


nosso processo de humanização. Não foi fácil para nossa espécie sobreviver e se adaptar as
condições ambientais que mudaram muitas vezes ao longo de nossa história.”
“Portanto quando dançamos um arquétipo tocamos num conhecimento ancestral.
Temos acesso a uma memória que vai além de nossa vivência pessoal. O arquétipo traz a
vivacidade da experiência vivida por nossos antepassados no tempo em que não havia uma
divisão entre sagrado e profano.”
“Necessitamos dos mitos e dos arquétipos para reencontrar a sacralidade da vida.”

(ANEXO 1)

Ruth Cavalcante nos fala da dimensão coletiva do mito e da sua


importância no sentido de estabelecer conexões nas coletividades humanas,
por meio do fortalecimento da identidade do indivíduo dada pelo sentido de
pertencimento a uma comunidade.

“Tanto na Biodança quanto na Educação Biocêntrica, consideramos a


importância dos rituais coerentes com o Princípio Biocêntrico, onde ambas se fundamentam.
Percebemos que os rituais oferecidos por estas extensões nos levam a assumir a aventura de
entrarmos em contato com nossas forças primordiais, dando sentido e celebrando a vida.
Dentro do ritual está o mito que tem uma dimensão de coletividade e liberdade não como
finalidade de manter uma cultura, um costume ou um hábito e sim garantir conexões. Desde o
ritual mais simples ao mais complexo, o objetivo é garantir o sentido de pertencer a uma
coletividade, mantendo a identidade fortalecida pelo reconhecimento que a comunidade lhe

confere.” (ANEXO 3)

Maria Lúcia Pessoa ressalta que o objetivo da vivência em


Biodança é levar as pessoas a buscar internamente seus próprios recursos
para a obtenção da plenitude e da felicidade. E comenta a importância do
aspecto cerimonial e ritualístico da vivência dos mitos e arquétipos para o
contato do participante com sua identidade:
“A vivência, como é compreendida em Biodanza, tem como principal resultado na
vida das pessoas levá-las a encontrar os recursos internos para uma vida mais plena e feliz. As
posições geratrizes, por exemplo, são um caminho importante para a vivencia dos arquétipos.
Cada mito tem seu potencial de abertura, seus símbolos são convites à auto expressão e
oferecem instrumentos de auto-observação também. Sendo assim recriar um ambiente de
cerimonia onde o rito possibilita um contato íntimo e profundo de cada participante com sua

identidade tem sido um forte estímulo na minha jornada profissional em Biodanza.” (ANEXO
4)

A participação do aluno de Biodança nessas extensões e vivências é


importante fator motivador segundo Monica Fillizola.

“Todo aluno de Biodanza deveria passar por estes processos que são muitos
transformadores. A mudança alcançada é rápida e motivadora para que a pessoa continue nos
grupos regulares.” (ANEXO 6)

OBS: Ainda falta a minha própria conclusão, estou escrevendo

10 – ANEXO 1 Questionário

11 - Referências Bibliográficas

1 - MAGALHÃES, Marta Claus. A dança e sua característica sagrada. Exist Arte.[periódico


online], v. 1, n. 1, p. 1-4, 2005.

2 - JUSTAMAND, Michel. Corpos em evidência: cenas corpóreas antropomorfas rupestres


em São Raimundo Nonato (PI). Cordis: Revista Eletrônica de História Social da Cidade. ISSN
2176-4174, n. 7, 2011.

3 - GAURADY, Roger. Dançar a Vida. Ed.Nova Fronteira – 1973

4 - TORO, Rolando. Biodanza. 2ª Ed. São Paulo: Olavobras, 2005

5 - REIS, Alice Casanova dos. A Dança da Vida: A Experiência Estética da Biodança. São
Paulo.2012 (Tese)
6 - TORO, Rolando. Curso de Formação Docente em Biodança. Apostila da IBF (A
Vivência)

7 - ALVES, Kátia. Arquétipo e Biodanza: Uma possibilidade Alquímica. Disponível em


http://biodanzabhgp.blogspot.com.br/p/biodanza.html

8 - TORO, Rolando. Projeto Minotauro. Ed.Vozes. 1988

9 - ELIADE, Mircea. Mito e realidade. 3ª. Edição. Perspectiva, 1991.

10 - BASQUES, Messias. Claude Levy-Strauss e o Mito da Mitologia. Revista Brasileira de


Ciências Sociais. Vol. 27 Nº 79

11 - CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. Ed.Palas Atena. São Paulo. 1990

12 - SARPE, Antonio. A Pedagogia dos Arquétipos. Revista Pensamento Biocêntrico.


Pelotas. Nº 23. Jan/Jun 2015. Pg.41/60

13 - MORAES, Fabrício Fonseca. Arquétipo e Representações Arquetípicas. Disponivel


em https://psiqueobjetiva.worpress.com.2010/05/21

14 - SERBENA, Carlos Augusto. Considerações sobre o inconsciente: mito, símbolo e


arquétipo na psicologia analítica. Revista da Abordagem Gestáltica, v. 16, n. 1, p. 76-82, 2010.

15 - CORDEIRO, Everton Fernandes. O Inconsciente em Sigmund Freud.Psicologia. pt,


2010.

16 - FERREIRA, José Hamilton. De Corpo e Alma. Relações entre a Psicologia Analítica


de Jung e o Sistema Biodança. Editora Olavobrás, 1997.

17 - CECCON, Rodrigo Pereira; HOLANDA, Adriano Furtado. Interlocução entre Rudolf


Otto, Carl Gustav Jung e Victor White. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 64, n. 1, 2012.

18 - LEMOS, Sanclair. A Vivência de Transcendência. 2ª Ed. Santa Maria. 2013

19 - FREIRE, Isa. Oficina das Emoções: A Vivência do Mito na Biodança. 1994


(Monografia)

20 - SANTOS, Maria Lúcia Pessoa. Labirinto: Desafiando os Medos Existenciais. 2ªEd.


Belo Horizonte. 2015

21 - CAVALCANTE, Ruth. Os Quatro Elementos. (Apostila)

22 - BAPTISTA, Estanislau. Identidade e os Quatro Elementos. Disponível em


universidadedelideres.com.br/conhecimentos/02.html

23 - WOOLGER, J.B; WOOLGER, R.J. A Deusa Interior. Círculo do Livro. 1987

24 - RIBEIRO, Maria Goretti. O arquétipo da deusa na vida, na cultura e na arte


literária. Revista Graphos, v. 10, n. 1, 2010.
25 - MOURA, Betania. A Roda das Deusas – Texto Informativo. 2016

26 - COSTA, Eliane. Disponível em http://www.elianecostacoaching.com/vida-


integral/a-roda-das-deusas/2016

27 - WILHELM, Richard. I Ching: o livro das mutações. São Paulo: Pensamento, 2006. p.
3-8.

28 - PEREIRA, Maria Ismenia Reis. Dançar o I Ching. Disponível em http://


biodancapiaiu.com.br/2009

29 - APPY, Maria Luiza. I Ching o Livro das Mutações Elaborado por M.Luiza Appy,
com base em textos do I Ching de Rolando Toro. 2013
Toro:http://www.ilcerchiodellavita.it/Marlise_Brasile.pdf

30 - TORO, Rolando. Dançar o I Ching. (ano?)

31 – PEREIRA, Maria Ismenia Reis. Dançando o I Ching: Expressando a Sabedoria


Ancestral. (Palestra no CONASAS –Congresso Nacional de Sabedoria Ancestral) 2016

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