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28/08/23, 21:55 Limitações constitucionais ao poder de tributar

Limitações constitucionais ao poder de tributar


Prof. Gabriel Quintanilha

Descrição A limitação ao poder de tributar e o amparo do ordenamento jurídico ao


contribuinte em face do controle do fisco.

Propósito O conhecimento das limitações ao poder de tributar permite ao


operador do Direito compreender o alcance e as restrições da
autoridade estatal no exercício da atividade tributária. Ele ainda
possibilita detectar os mecanismos previstos no ordenamento jurídico
que promovem segurança nas relações entre o contribuinte e o Estado.

Preparação Antes de iniciar os estudos deste conteúdo, tenha em mãos a


Constituição Federal e o Código Tributário Nacional.

Objetivos

Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3

Princípios Imunidades Os efeitos da


constitucionais tributação
Reconhecer as imunidades
tributários advindas das garantias
Analisar os efeitos e a
constitucionais.
necessidade da tributação.
Identificar os princípios
norteadores da tributação
e as limitações deles
decorrentes.

Introdução
As limitações ao poder de tributar ocorrem de diversas formas em nosso
ordenamento jurídico por meio de princípios, imunidades e regras de
competência que visam estabilizar as relações e atrair segurança jurídica. O
Direito Tributário como um todo se revela um sistema que pretende apontar
os limites do poder estatal no exercício da atividade tributária.

Mais adiante, identificaremos nos princípios constitucionais a ordem geral


sobre a atividade tributária e veremos como a Constituição Federal cuidou
para que o poder estatal não atuasse de forma a invadir a propriedade
privada. Além disso, será possível, por intermédio das imunidades, observar
algumas hipóteses de não incidência de impostos.

Por fim, vamos esclarecer que, embora limitada, a atividade tributária


realizada pelo Estado é essencial para a manutenção da máquina estatal.

1 - Princípios constitucionais tributários

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Ao final deste módulo, esperamos que você identifique os princípios norteadores da tributação e as
limitações deles decorrentes.

Distinção entre os tipos de normas


Antes de adentrarmos o estudo dos princípios constitucionais relacionados ao
Direito Tributário, é de extrema necessidade compreendermos os diversos tipos
de normas descritos em nosso ordenamento jurídico. Essa compreensão é
possível a partir de sua estrutura. Devemos considerar a existência de normas
regras, normas de colisão e, finalmente, princípios.

Atenção!

Normas regras são aquelas que descrevem e estabelecem um padrão de


conduta, regulando determinadas ações e comportamentos, e ordenando uma
ação ou omissão quanto à prática de um ato concreto.

Assim, podemos considerar que a norma constitucional que dispõe que os


Estados detêm a competência para instituir impostos sobre a propriedade de
veículos automotores é uma norma regra.

Os conflitos entre normas regras são resolvidos pela análise da validade e


aplicação ao caso concreto mediante verificação dos critérios cronológicos
(segundo os quais a lei posterior vem a revogar aquela anteriormente ativa) e
pelo critério da especialidade (que determina que a norma especial terá
incidência face a uma norma de conteúdo geral).

Considere a hipótese da cobrança de


um tributo feita judicialmente.
Naturalmente, essa cobrança será
realizada por meio da execução. É
bem verdade que o processo de
execução já está previsto no Código
de Processo Civil como regra geral,
porém, para fins de cobranças de
crédito tributário, temos uma lei
específica que fará a regência desse
procedimento — a Lei de Execução
Fiscal. Assim, a norma especialmente
criada para a execução de créditos
tributários irá incidir nesse caso,
passando à frente da norma geral e
mais abrangente.

Quanto aos princípios, devemos observar que são normas que objetivam a
promoção de valores. Via de regra, eles possuem um grau de elasticidade e
aplicabilidade sobre os casos concretos, logo, determinam uma ótica pela qual
devem ser analisadas as situações e os padrões de conduta.

Temos aqui um exemplo claro de


norma princípio: a necessidade de
promover a cobrança dos tributos de
acordo com a capacidade
contributiva. Também podemos
observar a proibição de tratamento
desigual para aqueles que se
encontram em igualdade de
condições. É nessa linha de
pensamento que há o desenho da
regra que se constrói a partir da
observância dos princípios.

O conflito entre princípios será solucionado a partir da ponderação de interesses,


ou seja, ao se analisar o caso concreto, o princípio que possuir maior peso será
aplicado em detrimento daquele que, dentro da situação hipotética, não se revela
razoável. Conflitos entre princípios ocorrem diariamente e estão presentes no
cotidiano. Podemos observar, por exemplo, o contínuo conflito entre a
privacidade e a necessidade de informação.

Por fim, as normas de colisão servirão de baliza para a orientação do operador


do Direito na aplicabilidade das regras e princípios, além da adequação de sua
funcionalidade em um determinado caso concreto. Assim, é por meio delas que
notamos a validade, a aplicabilidade e a consistência. Proporcionalidade e
razoabilidade são exemplos de normas de colisão. Elas não se aplicam
isoladamente, mas, sim, a partir da adequação da imposição de uma norma, de
sua extensão e de seus efeitos. Nos tribunais é comum observarmos decisões
que dispõem “valores de indenização adequados aos critérios da razoabilidade e
proporcionalidade”.

É nítido que o dever de indenizar é a regra, mas deverão


incidir sobre ela os critérios de razoabilidade e
proporcionalidade, a fim de que sua aplicação tenha justa
medida sobre a conduta, sendo proporcional ao dano e
razoável para compensar a infringência a uma regra de
conduta.

Compreendido o que são princípios, podemos entrar nos estudos daqueles que
regem o Direito Tributário.

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Introdução aos princípios constitucionais


tributários
Como apresentado de forma geral, princípio é uma norma que orienta e direciona
o operador do Direito na aplicação das regras, suscetível à ponderação. Por meio
dos princípios não serão reveladas proibições à tributação, porém será possível,
a partir de uma análise na ótica principiológica, reconhecer limitações à
atividade tributária/fiscal do Estado, haja vista que tais princípios existem para a
proteção do contribuinte contra os excessos e abusos do fisco. Algumas vezes,
o Direito se mostra como um instrumento de proteção não somente no âmbito
das relações privadas e entre iguais, mas também contra o arbítrio do poder
público, se revelando um instrumento de proteção do contribuinte perante o
Estado.

No campo do Direito Tributário,


devemos prestar especial atenção aos
princípios, visto que, em matéria
tributária, os consideraremos
essencialmente como regras,
delimitadas pela Constituição Federal
e com certa redução do grau de
elasticidade marcante da norma
princípio. Adiantando o que vem a
seguir, e tomando como exemplo a
Legalidade Tributária alocada no art.
150, inciso I, da Constituição Federal, é
a norma princípio que determina que a
criação do tributo ocorre mediante lei,
não admitindo flexibilização desse
conceito, sob pena de ser evidenciada
uma inconstitucionalidade de forma.

Princípio da legalidade

video_library A legalidade tributária e suas exceções


O professor Gabriel Quintanilha discorre no vídeo a seguir sobre a legalidade
tributária e suas exceções.

Utilizado como exemplo da exceção da funcionalidade padrão dos princípios, o


princípio da legalidade é norma que irá gerar os alicerces do Direito Tributário,
como uma espécie de garantia constitucional contra a criação e a modificação
de tributo por ato normativo que não seja a lei e possua sua correspondente
força.

Relembrando
Lembremos que uma lei é aprovada por meio do processo legislativo, no qual,
segundo a ótica constitucional, há manifestação democrática que trará
legitimidade de interesse na elaboração daquela regra que figurará dentro do
ordenamento jurídico, uma vez que ela será elaborada pelo povo, por intermédio
de seus representantes eleitos.

A necessidade de ver a atividade


tributária prevista em lei não é algo
contemporâneo, pois já se cogitava
que a tributação só viria mediante o
reconhecimento promovido pelos
anseios populares desde a Magna
Carta de 1215, assinada pelo Rei João
da Inglaterra (também conhecido
como João Sem-Terra), a qual
estabelecia que a aprovação dos
súditos era condição para se exigir um
tributo.

Avançando nos estudos, temos definido que, pelo princípio da


legalidade, o tributo somente poderá ser instituído por lei.

Semelhante condição ocorrerá com os elementos que são necessários para sua
incidência, revelando a tipicidade tributária. Esta última não permite a invasão de
critérios subjetivos graças à disposição do art. 97 do Código Tributário Nacional.
Todo esse contexto visa à atribuição da máxima segurança jurídica nas relações
tributárias, visto que a instituição e extinção, a majoração e redução, o fato
gerador, a alíquota e base de cálculo, as penalidades e também as hipóteses de
exclusão, suspensão e extinção estão todos, em regra, previstos em lei.

Evidenciar a tipicidade tributária é assumir que o poder de tributar não parte de


discricionariedade do fisco, mas sim de ato vinculado, uma vez que operado o

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enquadramento na previsão legal, a incidência do tributo também será operada.
A vontade da sociedade estará representada na lei e, de igual modo, até onde o
contrato social converge para a aceitação da tributação.

Em que pese toda essa exposição, devemos observar que a regra é:

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Criação Extinção Red

No entanto, a Emenda Constitucional nº 32/2001 passou a prever a possibilidade


de utilização de medida provisória em matéria tributária.

Saiba mais

Segundo a legislação constitucional, medida provisória é uma espécie normativa


de caráter precário, cabível nos casos de urgência e relevância, além de ter força
de lei.

Uma de suas características é a inversão do procedimento legislativo, pois sua


aprovação para conversão em lei ordinária ocorre em momento posterior à sua
entrada em vigor e à consequente produção de efeitos jurídicos.

Vale ressaltar que haverá a participação do povo nesse


processo, contudo, isso se dará em momento posterior à
entrada em vigor do ato normativo.

Diante de todo esse cenário acerca da medida provisória, o Supremo Tribunal


Federal consolidou entendimento no sentido de que esse tipo de artifício jurídico,
justamente por possuir força de lei, é instrumento hábil para tratar, como se lei
fosse, sobre matéria tributária.

Legitimidade, ao primeiro exame, da


instituição de tributos por medida
provisória com força de lei, e, ainda, do
cometimento da fiscalização de
contribuições previdenciárias à Secretária
da Receita Federal.

(BRASIL, 2010)

Portanto, conseguimos, com toda a clareza, observar que, por meio de medida
provisória, é possível a criação, a majoração, a redução e a extinção de tributos.
A questão que vem a impactar é se há algum limite para a atuação do poder
público em matéria tributária mediante a utilização de medidas provisórias.

A esse questionamento devemos


responder tranquilamente que sim,
visto que, embora possua força de lei,
a medida provisória jamais poderá
invadir as matérias que possuem
reserva de lei complementar. Os
assuntos destinados à lei
complementar não poderão ser
regulados por lei ordinária. É daí que
decorre a incompatibilidade, visto que
a medida provisória possui força
equivalente à lei ordinária, não
podendo preencher as necessidades
formais daquilo que a Constituição
cuidou de reservar à lei complementar.

Evidentemente, se utilizado ato normativo diverso daquele previsto como típico e


capaz de alterar as disposições tributárias, certamente estaremos diante de uma
inconstitucionalidade.

Em se tratando da reserva de lei complementar, devemos ter em mente que a


reserva ocorre para quatro situações, para as quais não serão admitidas a
utilização de outra espécie de ato normativo.

São elas:

arrow_drop_down Normas gerais de


Direito Tributário

Previstas no art. 146, inciso


III, da Constituição Federal.

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arrow_drop_down Instituição de
Empréstimo
Compulsório

Acostado no art. 148 da


Constituição Federal.

arrow_drop_down Instituição do imposto


sobre grandes fortunas

Elencado no art. 153, inciso


VII, da Constituição Federal.

arrow_drop_down Exercício da
competência residual

Conforme inteligência do
art. 154, inciso I, da
Constituição Federal.

Exceções ao princípio da legalidade


Trabalhar com o Direito brasileiro é assumir a certeza de que para todo conjunto
de regras há exceções, e o princípio da legalidade não escapará da verdade
dessa afirmação. Em geral, devemos ter muito nítida a ideia de que a criação e a
extinção dos tributos deverão ocorrer por lei ou medida provisória. De outra
maneira, quando o assunto for alíquotas e base de cálculo de algum tributo, a
exceção se fará presente.

Vamos conhecer essas exceções a seguir:

Primeira exceção expand_more

A primeira exceção à legalidade estará presente nos impostos


extrafiscais da União, já que o § 1º do art. 153 da Constituição Federal
permite a alteração das suas alíquotas por meio de ato do poder
executivo. São impostos extrafiscais da União: Imposto sobre Importação
(II), Imposto sobre Exportação (IE), Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Essa característica extrafiscal permite uma intervenção rápida e ágil para
atendimento dos anseios econômicos do Estado, daí a necessidade
dessa flexibilidade para que, a depender da conveniência, seja possível a
alteração das alíquotas a fim de satisfazer uma necessidade econômica.

Segunda exceção expand_more

Vamos verificar uma segunda exceção na CIDE combustíveis, na qual a


redução e o restabelecimento de alíquotas não se submetem à
legalidade.

Devemos chamar a atenção para o fato de que a liberação da utilização


da lei em sentido formal não acarreta a possibilidade de o poder público
praticar as alíquotas na forma como bem entender. Haverá sempre uma
limitação legal fixando os limites. No caso da CIDE combustíveis,
teremos o art. 5º da Lei nº 10.336/2001 para definir as alíquotas e, no
caso do Imposto de Importação, a Lei nº 3.244/57 nos dará um limite
máximo e mínimo para que seja operada a majoração e a redução das
alíquotas.

Terceira exceção expand_more

A terceira exceção se encontra no âmbito das alíquotas interestaduais do


ICMS. Nesse caso, a fixação da alíquota ocorre mediante resolução do
Senado Federal, como forma de evitar guerra fiscal entre os estados da
federação. A exceção pode ser observada no art. 155, § 2º, inciso IV da
Constituição Federal.

Quarta exceção expand_more

Dentro do ICMS ainda encontraremos uma quarta exceção, tratando da


alíquota do ICMS sobre combustíveis e prevista no art. 155, § 4º, inciso IV

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da Constituição Federal, no qual as alíquotas são definidas mediante
deliberação dos Estados e do Distrito Federal.

Quinta exceção expand_more

Uma quinta exceção estará relacionada não a alíquotas, mas à base de


cálculo de tributos. Essa exceção tratará de possibilitar que a atualização
da base de cálculo dos tributos em conformidade com os índices oficiais
de correção não se revele como majoração de tributo, razão pela qual
prescinde de lei, a teor do que dispõe o art. 97, § 2º do Código Tributário
Nacional e da Súmula 160 do Superior Tribunal de Justiça.

“É inconstitucional a majoração do IPTU sem edição de lei em sentido


formal, vedada a atualização, por ato do Executivo, em percentual
superior aos índices oficiais.“(BRASIL, 1966).

Desse modo, fica claro que, para fins de atualização da base de cálculo,
não é necessária lei, desde que a atualização ocorra por índices oficiais,
de modo a não acarretar majoração, somente atualização.

Sexta exceção expand_more

A sexta exceção está relacionada ao prazo para pagar o tributo. Ao


observarmos o art. 96 do Código Tributário Nacional, podemos verificar
que a expressão “legislação tributária” compreende as leis, as
convenções internacionais, os tratados, os decretos e as normas
complementares. Por sua vez, o art. 160 do Código Tributário Nacional
regula a situação para a qual a “legislação tributária” não fixa tempo para
o pagamento, ocasião em que ocorrerá o vencimento após 30 dias da
notificação de lançamento. Devemos observar que, ao prevermos
“legislação tributária”, estaremos dispensados da utilização de lei em
sentido formal.

O entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal é no sentido de


que o prazo para efetuar o recolhimento do tributo também irá se operar
na forma da legislação tributária, logo, não será exigida lei propriamente
dita.

“Não se compreendendo no campo reservado à lei a definição de


vencimento das obrigações tributárias, legítimo o Decreto nº
34.677/1992, que modificou a data de vencimento do ICMS.
Improcedência da alegação no sentido de infringência ao princípio da
anterioridade e da vedação de delegação legislativa.” (BRASIL, 1997).

Sétima exceção expand_more

A sétima exceção, e também a última que iremos abordar neste material,


está relacionada às obrigações tributárias acessórias. A criação das
obrigações acessórias prescinde de lei em sentido formal, visto que o art.
113, § 2º do Código Tributário Nacional faz menção a “legislação
tributária”. Assim, desde logo podemos consignar que, em se tratando de
obrigação principal, a lei é imprescindível, ao passo que a obrigação
acessória prescinde de lei propriamente dita e pode ser regulamentada
pela legislação tributária, que compreenderá as leis, os tratados e as
convenções internacionais, os decretos e as normas complementares
que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas a
eles pertinentes.

Importante dizer que a inobservância da obrigação acessória atrairá a


multa, sendo penalidade que deve estar prevista em lei, como dispõe o
art. 97, inciso V do Código Tributário Nacional.

Princípio da isonomia e capacidade


contributiva
Tratar de isonomia dentro do cenário brasileiro requer uma maior imersão
quanto à forma de proporcionar a igualdade.

De modo objetivo, podemos dizer que temos dois tipos de igualdade:

Igualdade formal Igualdade material


Essa estará compreendida em uma Já a igualdade material representará,
visão na qual a aplicação dos direitos na verdade, um tratamento desigual à
e deveres estará descrita de forma medida que, devido às suas
igual para todos, sem nenhuma individualidades, os sujeitos se
análise subjetiva quanto às desigualam.
características do indivíduo em
questão.

Rui Barbosa já trabalhava com a ideia de uma igualdade material, ou seja, a


necessidade de se tratar os desiguais na medida de suas desigualdades, com o

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objetivo de se alcançar, ao final, uma igualdade real.

O Direito Tributário não se afasta dessa ideia de proporcionar uma igualdade


material, concedendo tratamento diferenciado ao contribuinte ao analisar a sua
capacidade contributiva e sua riqueza, aproximando, dessa forma, o Direito da
equidade. Encontramos o princípio da isonomia no art. 150, inciso II, da
Constituição Federal, que, de maneira categórica, veda o tratamento diferenciado
em razão de cargo ou função exercida pelo contribuinte. Logo, não é possível
beneficiar um indivíduo em razão de uma função ou um cargo.

No entanto, evidenciado que um


indivíduo se encontra em situação
desigual perante os demais, é possível
a concessão de benefícios fiscais para
que alcance o seu desenvolvimento,
atingindo em ultima ratio o desejo
constitucional de igualdade de
condições.

Não é por menos que poderemos ver que o princípio da capacidade contributiva
terá elo indissociável com o princípio da isonomia, pois, mediante a união
desses dois princípios, haverá perfeita harmonização do desejo constitucional
de trazer uma efetiva igualdade material, ajustando as condições de
desenvolvimento. Em outras palavras, o Estado atua diretamente para que a
tributação seja compatível com a capacidade econômica e com o potencial de
contribuição do indivíduo.

Podemos concluir que os benefícios fiscais, em homenagem


à capacidade contributiva e à isonomia, serão destinados aos
necessitados.

Exemplo

Um exemplo claro de tratamento diferenciado para fins de alcançar o melhor


desenvolvimento e competitividade é a política do Simples Nacional, que objetiva
dar condições negociais e redução do tempo gasto com as obrigações
acessórias.

Progressividade
A progressividade é um princípio que guarda relação direta com a capacidade
contributiva. Na verdade, ela é um instrumento de sua efetivação, implicando
alterações diretas na cobrança dos tributos com o objetivo de alinhar a realidade
patrimonial e financeira do contribuinte com a prestação devida ao Estado. Logo,
em decorrência da progressividade, será possível a modificação das alíquotas
em função da dimensão da base de cálculo.

De forma clara, encontraremos a


progressividade sendo operada no
Imposto de Renda, haja vista que a
cobrança do imposto guarda relação
direta com a riqueza do contribuinte.
Entendendo que a base de cálculo do
imposto é a renda, quanto maior ela
for, maior será a alíquota aplicável.

Atenção!
A progressividade é obrigatória no Imposto de Renda, por determinação do art.
153, § 2º da Constituição Federal.

O Imposto Territorial Rural também


será submetido de forma obrigatória.
A progressividade nesse imposto se
opera com a finalidade de adequar a
utilização da propriedade à função
social, garantindo que a destinação do
bem imóvel seja cumprida. Assim,
quanto melhor e mais adequada a
função social da propriedade rural,
menor deverá ser a cobrança do
imposto.

A contrario sensu, quanto mais afastada da função social, maior será a cobrança
do imposto, a fim de compelir o proprietário a adequar a sua utilização para os
fins a que se destina. Fazemos um adendo especial para a compreensão da
função social da propriedade rural, pois, naturalmente, os imóveis rurais têm
uma predisposição à plantação, cultivo e produção. Assim, podemos dizer que
uma das formas de dar função social ao imóvel é utilizá-lo para produção rural.

Com relação ao Imposto Predial e


Territorial Urbano, devemos observar
que a progressividade é facultativa,
isso em razão da previsão contida no
art. 182, § 4º, inciso II e art. 156, § 1º
da Constituição Federal. Nesse
sentido, facultativamente, poderá ser
prevista a progressividade para o
Imposto Predial e Territorial Urbano de
acordo com a lei municipal que o
determine, podendo extrair a base do
valor, da utilização e adequação à

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função social e pela localização do
imóvel.

Convém apontar que o Supremo Tribunal Federal possui orientação para que
todos os impostos se submetam à capacidade contributiva sem distinção por
classificação (real ou pessoal), uma vez que o princípio é um dos alicerces do
sistema tributário brasileiro.

Saiba mais
É com esse fundamento que o Supremo admite a progressividade, braço da
capacidade contributiva, incidir sobre o Imposto Transmissão Causa Mortis e
Doação, mesmo que a Constituição Federal não tenha previsto de forma
expressa a aplicação do princípio a esse tipo de imposto.

Chegamos à conclusão de que todo tributo, sempre que possível, observará a


capacidade contributiva do contribuinte. Vale acrescentar que isso se dará
independentemente da origem da renda que aumentará a capacidade de
suportar a tributação, quer esse aumento patrimonial seja lícito ou ilícito. Em
decorrência da regra da pecunia non olet (o dinheiro não tem cheiro), ela será
considerada para majoração do tributo. Essa indiferença quanto à origem da
renda é oriunda da previsão legal do art. 118 do Código Tributário Nacional.

Proporcionalidade
A proporcionalidade é um instrumento da capacidade contributiva que visa a
uma razoabilidade na tributação, de forma que a atividade fiscal não implique
excesso capaz de gerar o confisco patrimonial do contribuinte.

Logo, proporcional é a atividade fiscal tributária que não será


excessiva para acarretar a ruína do contribuinte e nem tão
ínfima que desconsidere a riqueza e a capacidade de
contribuição.

As sanções e penalidades estarão em consonância com a proporcionalidade


imposta, de modo que a punição não fuja da razoabilidade e não acarrete o
confisco dos bens do contribuinte.

Tomando como exemplo as taxas, que


se prestam a remunerar um serviço
específico e divisível, podemos pensar
que a proporcionalidade implica
diretamente a justa adequação entre o
custo efetivo do serviço
prestado/posto à disposição e a
cobrança do tributo propriamente dito.
Com isso, na proporcionalidade, as
alíquotas são fixas e as bases de
cálculo são variáveis.

Seletividade
A seletividade é o princípio que coordenará a proporção de incidência de um
tributo sobre um produto considerado vital para o contribuinte. Não é por menos
que é chamada seletividade, pois está relacionada à essencialidade do produto.

A atração do tributo e a variação das alíquotas observará o papel que aquele


produto cumpre na sociedade, considerando o quão indispensável ele é para a
comunidade.

Vejamos a seguir como funciona:

close

Quanto mais essencial o produto, menor deverá Por outro lado, quanto ma
ser a tributação sobre ele. dispensabilidade de um p
carga tributária e as alíquo
sobre ele.

Exemplo
Um bom exemplo dos efeitos da seletividade por essencialidade é a tributação
do cigarro, uma vez que ele é visto como um produto não essencial, supérfluo e
que poderá onerar o poder público em razão das consequências de seu uso. Por
todos esses motivos, o cigarro recebe uma tributação mais elevada.

A seletividade em razão da essencialidade é de aplicação obrigatória ao imposto


sobre produtos industrializados, como determina o art. 153, § 3º, inciso I da
Constituição Federal.

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Uma polêmica em relação à seletividade recai sobre o caráter subjetivo que
envolve a medida da essencialidade. Ora, em um país de proporções
continentais, chegar a um consenso sobre o que é produto essencial e o que é
dispensável nos parece um trabalho árduo. Os costumes, as necessidades e o
consumo de uma região nem sempre serão os mesmos que os de outra, logo,
eleger o que são produtos essenciais se torna determinação legal que, ao fim,
não cumprirá de forma plena a sua função.

Uniformidade geográfica

A uniformidade é um princípio que decorre diretamente da isonomia, estando


previsto no art. 151, inciso I, da Constituição Federal, e determina que a
tributação deve ser uniforme em todo o país. Por decorrer diretamente do
princípio da isonomia, que, como já exposto, objetiva uma condição de igualdade
material, não se espera que a uniformidade geográfica determine uma tributação
idêntica em todo o território nacional, mas, sim, que ela corra de modo a garantir
a igualdade de condições e o desenvolvimento em todo o Estado brasileiro. É
nesse sentido que há a possibilidade de tratamento diferenciado, inclusive
mediante concessão de benefícios fiscais, para as regiões menos desenvolvidas
e carentes de investimentos.

Resumindo
Em suma, será possibilitada a concessão de benefícios fiscais a uma
determinada região com vistas a possibilitar o seu desenvolvimento e a atração
de investimentos para fins de estimular a economia.

A tributação é elemento para o próprio desenvolvimento das atividades do país,


sendo assim, o exercício da atividade fiscal pode ser utilizado como instrumento
de redução das desigualdades entre as regiões.

Impossibilidade de tratamento
diferenciado em razão do destino ou
procedência
No exercício do poder de tributar, o Estado não pode apresentar tratamento
diferente em razão do destino ou origem do serviço ou do bem. A vedação a
esse tipo de discriminação tem amparo constitucional no art. 152 da
Constituição Federal, que expõe a impossibilidade de os entes federados
tratarem de forma diversa, no exercício da atividade tributária, bens ou serviços
em razão da procedência ou do local para o qual se destinam.

Logo, a isonomia tributária não


suporta o tratamento discriminatório e
não ampara o tratamento desigual por
mera questão de origem ou destino. O
local em que se situa um
estabelecimento/fornecedor de
serviços não pode servir de motivo
para imposição de uma tributação
mais vultosa.

Princípio da irretroatividade
Como regra, o princípio determina a impossibilidade de a lei tributária retroagir
para alcançar fatos geradores do passado. O efeito dessa ótica principiológica é
tornar a atividade tributária previsível e dotada de segurança jurídica, de modo
que as leis novas, que tenham previsão de um fato gerador novo, não venham a
retroagir para alcançar os atos praticados pelo contribuinte no passado. Nesse
sentido, estaríamos privilegiando a anterioridade da lei tributária.

A hipótese de incidência do tributo necessita que a definição do fato gerador


seja anterior à prática do fato juridicamente relevante que deu ensejo à aplicação
do tributo, de forma que aquela conduta que se adequa ao fato gerador, desde
que praticada antes da vigência da lei que instituiu o tributo, é juridicamente
irrelevante para fins de incidência tributária e para o cumprimento da obrigação
principal.

A previsão legal se encontra alocada


no art. 150, inciso III, da Constituição
Federal, garantindo a produção de
efeitos prospectivos, não abrangendo
os fatos do passado, protegendo o
contribuinte e garantindo a segurança
jurídica.

É importante destacar que a regra da irretroatividade admite


exceções que se afastam um pouco das regras de
retroatividade de outros ramos do Direito. As hipóteses de
retroatividade trabalhadas no Direito Tributário funcionarão
para o contribuinte de modo a favorecer também o fisco.

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Retroatividade a fatos pretéritos por


motivos interpretativos
Nesta hipótese de retroatividade, não haverá nenhuma possibilidade de
aplicação de lei inovadora aos fatos pretéritos. Serão passíveis de retroatividade
os casos nos quais a lei for expressamente interpretativa. O Código Tributário
Nacional, no art. 106, caput, inciso I, traz a seguinte conclusão:

A lei aplica-se a ato ou fato pretérito em


qualquer caso, quando seja expressamente
interpretativa, excluída a aplicação de
penalidade à infração dos dispositivos
interpretados.

(BRASIL, 1966).

Podemos, por exemplo, pensar na hipótese de enquadramento de um produto,


quando houver divergência em sua natureza, para fins da aplicação da alíquota
do imposto de importação. A jurisprudência a seguir define melhor a questão:

[...] 5. O ADN 28/94 não ‘instituiu’ ou


‘majorou’ tributo, tendo apenas conferido
interpretação técnica sobre quais
mercadorias afinal estariam contidas nas
expressões controversas, fixando sentido
interpretativo quando dispôs que aparelho
celular (corpo único enquadrável à alíquota
20%) difere de sistemas de transceptores
(alíquota de 0%) e, assim, fê-lo em
observância ao sistema normativo, pois se
interpretar é extrair o sentido e o alcance
do preceito, tal norma interpretativa pode
retroagir para alcançar fato pretérito.

(BRASIL, 2010).

A retroatividade também opera efeitos quando a lei atribui penalidade mais


branda ou quando se antevê que uma conduta deixou de ser prevista como
infração tributária. Atente para a palavra “penalidade” que acabamos de
mencionar, pois, desse modo, em caso de redução de alíquotas, a retroatividade
não será aplicada, sendo válida, para este último caso, a lei vigente quando foi
realizado o lançamento do tributo.

Também deve ser observado que as hipóteses de retroatividade não podem ferir
a coisa julgada no âmbito do Poder Judiciário.

Retroatividade pró-fisco
O art. 144, § 1º do Código Tributário Nacional traz outras hipóteses de
possibilidade de que a lei nova produza efeitos para situações passadas. A
hipótese ventilada no dispositivo supramencionado está relacionada ao aumento
dos poderes de controle do fisco, além do aumento das garantias e privilégios do
crédito tributário. O objetivo é claro: aumentar a possibilidade de satisfação do
crédito tributário e alcançar maior eficácia na apuração de créditos a serem
perseguidos.

Vejamos:

arrow_forward

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Em caso de ampliação da capacidade de Por outro lado, a retroativi


fiscalização, a retroatividade estará limitada ao garantias e privilégios do
prazo decadencial para que o crédito seja ser evidenciada na hipóte
constituído, garantindo a estabilidade das de uma determinada emp
relações e a segurança jurídica, e afastando a tributários.
perpetuação da persecução fiscal.

A lei de falências prevê que o crédito tributário se encontre na quarta posição da


ordem de pagamentos. Entretanto, se uma nova lei vem para alterar essa
posição, atribuindo maior privilégio e realocando o crédito tributário à frente dos
demais, essa nova forma prevista em lei irá retroagir.

Princípio da anterioridade de exercício


O exercício da atividade tributária e a capacidade do contribuinte para suportar a
tributação requer um mínimo de estabilidade e previsibilidade. Essas são as
condições para que exista segurança jurídica nas relações tributárias e seja
possível ao contribuinte se preparar para a cobrança dos tributos.

Com essa finalidade, a Constituição


Federal traz em seu art. 150, inciso III,
o princípio da anterioridade clássica,
ou, como também é conhecido,
anterioridade de exercício. Por esse
princípio temos que a criação ou
majoração de um tributo somente
poderá ser exigido no próximo
exercício financeiro. Dessa forma,
haverá segurança para o contribuinte e
perfeita adequação ao princípio da
não surpresa, evitando a imposição de
uma carga tributária acima daquilo
que se havia preparado para suportar.

O exercício financeiro é anual e coincide com o calendário civil. Assim, afirmar


que a cobrança dos tributos criados ou majorados somente será exigível no
exercício financeiro seguinte leva à compreensão de que, no próximo ano, a
majoração e os novos tributos são perfeitamente exigíveis.

Nota-se que a alteração de prazo para recolher obrigação


tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade, por
força da Súmula Vinculante 50.

Cabe ressaltar que a substituição de índices para correção monetária, via de


regra, não implica a majoração de tributo. Desse modo, a substituição produzirá
efeitos imediatos, visto que sua finalidade é recomposição de perdas, não sendo
submetida a proteção da anterioridade de exercício. No entanto, caso esse
indexador venha de fato a representar majoração do tributo, por extrapolar aquilo
que se tem como atualização e recomposição, teremos a necessidade de
aplicação da anterioridade de exercício.

Atenção!
Convém mencionar que o art. 150, § 1º, da Constituição Federal, prevê impostos
que não se submetem ao princípio da anterioridade, estando incluídos, entre
eles, o Imposto sobre Importação, o Imposto sobre Exportação, o Imposto sobre
Operações Financeiras e o Imposto sobre Produtos Industrializados.

Princípio da noventena
Como podemos observar, a não surpresa é garantida pela Constituição Federal,
de modo a possibilitar ao cidadão a capacidade de suportar a carga tributária
mediante previsibilidade e estabilidade na exigibilidade das obrigações
tributárias.

Em razão da forma como se apresenta a anterioridade, isto é, a possibilidade de


exigir a majoração ou o tributo criado no exercício financeiro seguinte, o princípio
da não surpresa não estaria integralmente protegido. De igual modo, a
segurança jurídica do contribuinte não estaria completamente satisfeita.

Esse é um problema de fácil


constatação. Imagine se a hipótese da
criação ou da majoração do tributo
ocorresse em dezembro. Aplicando
tão somente a anterioridade de
exercício, o contribuinte deveria
proceder o recolhimento do tributo
imediatamente em janeiro, ou seja, no
próximo mês, sem nenhuma
previsibilidade e preparo para que
suportasse o encargo tributário.

Nesse contexto, surge a noventena, que tem como objetivo estabelecer uma
anterioridade mínima para exigibilidade no novo tributo ou daquele que sofreu a
majoração. Logo, se estabelece, no art. 150, inciso III, alínea “c”, que, entre a

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criação ou majoração, deve haver um período mínimo para que passe a ser
exigível.

As exceções ao princípio da
noventena constam do empréstimo
compulsório em caso de guerra ou
calamidade pública, Imposto sobre
Importação, Imposto sobre
Exportação, Imposto de Renda,
Imposto sobre Operação Financeira e
Impostos Extraordinários em caso de
Guerra. Tais exceções existem dada a
característica extrafiscal para
intervenção rápida na economia a fim
de solucionar distorções.

Princípio do não confisco


A proteção do contribuinte perante a estipulação de tributos exorbitantes
decorre do princípio do não confisco. Ele funcionará como uma vedação à
cobrança de tributos, de modo a proteger a dignidade da pessoa humana, visto
que a intervenção do fisco seria tão forte que promoveria uma injusta
apropriação da propriedade, bens e valores do cidadão.

A atividade do fisco deve sempre guardar o preceito de razoabilidade. Assim, a


tributação deve ser moderada e proporcional à capacidade de suportabilidade do
contribuinte em face dos tributos que contra ele militam.

Desse modo, temos como confiscatório o tributo desproporcional que não só


atinge, mas fere o patrimônio do contribuinte sem nenhuma preocupação com
sua capacidade de suportar os tributos e de contribuição. Convém mencionar
que o não confisco se estenderá também às multas, em homenagem à
proporcionalidade das sanções.

Trata-se de uma limitação constitucional


ao poder de tributar que veda a invasão ao
mínimo existencial. No entanto, o conceito
de confisco fica a cargo do Poder
Judiciário, como aplicador da lei ao caso
concreto, por se tratar de um conceito
jurídico indeterminado.

(QUINTANILHA, 2021, p. 109)

Convém ressaltar que a análise para fins de verificação do confisco deve ser
operada mediante a visão da carga tributária global e não sobre um tributo
específico, de modo a evidenciar se há invasão do Estado, de forma injusta, no
patrimônio do contribuinte.

Princípio da vedação à isenção


heterônoma
A vedação à isenção heterônoma visa à proteção do federalismo, garantindo a
autodeterminação dos entes federados e protegendo-os de invasão na
competência tributária de cada membro da federação. Pelo princípio, fica vedada
a atribuição de isenções ou outros benefícios fiscais no âmbito da atuação de
outro ente federado, de forma a garantir que não ocorra interferência de um
membro da federação em outro, prejudicando a sua arrecadação e
independência.

Embora exista essa vedação, o Supremo Tribunal Federal possui orientação no


sentido de que é possível que a União, por meio da celebração de acordos
internacionais e tratados, venha a conceder benefícios fiscais em tributos que
não estejam no âmbito da sua competência.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Determinada municipalidade, com objetivo de acelerar o recebimento dos


valores de certos tributos em seus cofres, publicou uma lei que alterava a
data de recolhimento do referido tributo. Constava na lei, de forma expressa,
que ela passaria a produzir efeitos imediatamente.

De acordo com o enunciado, assinale a afirmativa correta à luz da


Constituição Federal:

Segundo a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro


A (LINDB), a lei é válida, mas apenas poderia entrar em vigor 45
(quarenta e cinco) dias após a sua publicação.

A lei é inconstitucional, uma vez que não respeitou o princípio


B
da anterioridade.

A lei é constitucional, uma vez que, nessa hipótese, não se


C
sujeita ao princípio da anterioridade.

A lei é válida, mas só poderia vigorar 90 (noventa) dias após a


D
sua publicação.

E A lei é inconstitucional por ferir o princípio da noventena.

Parabéns! A alternativa C está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cdiv%20cla
paragraph'%3EA%20anterioridade%20e%20a%20noventena%20s%C3%A3o%20princ%C3%ADpios%20constitucionais%20tribut%C3%A1rios%20dispostos%2C%20respectivam

Questão 2

Determinado estado da Federação publicou, em julho de 2015, a Lei nº


123/2015, que majorou o valor das multas e das alíquotas de ICMS. Em
fevereiro de 2016, em procedimento de fiscalização, aquele estado constatou
que determinado contribuinte, em operações realizadas em outubro de 2014,
não recolheu o ICMS devido. Por causa disso, foi efetuado o lançamento
tributário contra o contribuinte, exigindo-lhe o ICMS não pago e a multa

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decorrente do inadimplemento.

O lançamento em questão só estará correto se

A as multas e alíquotas forem as previstas na Lei nº 123/2015.

as alíquotas forem as previstas na Lei nº 123/2015 e as


B multas forem aquelas previstas na lei vigente na ocasião do
fato gerador.

as multas e as alíquotas forem as previstas na lei vigente na


C
ocasião do fato gerador.

as multas forem as previstas na Lei nº 123/2015 e as


D alíquotas forem aquelas previstas na lei vigente na ocasião do
fato gerador.

houver aplicação da lei vigente no momento do lançamento


E
do tributo.

Parabéns! A alternativa C está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EAs%20hip%C3%B3teses%20apresentadas%20n%C3%A3o%20s%C3%A3o%20pass%C3%ADveis%20de%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20da%20retroatividade.%2

2 - Imunidades
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as imunidades advindas das garantias
constitucionais.

video_library O que são as imunidades tributárias?


Você sabe o que são as imunidades tributárias? Neste vídeo, o professor Gabriel
Quintanilha discorre sobre o que é a imunidade, diferenciando-a da isenção e
tratando da imunidade recíproca.

Imunidades
Apresentando-se como forma de limitação constitucional ao poder de tributar,
imunidades são hipóteses de não incidência tributária, qualificadas e
constitucionalmente descritas. Nas imunidades, encontramos a certeza da não
incidência do tributo.

Analisar o art. 150, inciso VI da Constituição Federal nos conduz à ideia de que o
constituinte originário buscou assegurar ao contribuinte a proteção dos direitos
fundamentais, preceituando a defesa de direitos inerentes à dignidade e ao
desenvolvimento humano. A exemplo disso, a alínea “d” tutela a atividade
intelectual e informativa, protegendo livros, jornais e periódicos da incidência de
impostos e tornando-os mais acessíveis.

As imunidades são conceituadas como


hipóteses de não incidência
constitucionalmente qualificadas. São
verdadeiras garantias constitucionais que
refletem o Estado Democrático de Direito e

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seus objetivos, como promover o bem de
todos.

(QUINTANILHA, 2021, p. 119)

Atenção!
É importante destacar que não deve haver confusão entre o instituto da
imunidade com o da isenção. Podemos iniciar a separação entre os institutos a
partir de seu próprio conceito, visto que na imunidade teremos uma limitação ao
poder de tributar que impõe uma incompetência de ordem absoluta, na qual o
ente nem sequer poderá instituir o tributo sobre aquela situação
constitucionalmente tutelada.

Por outro lado, a isenção pode ser visualizada como dispensa do tributo que é
devido ou mesmo uma suspensão de eficácia da norma que o impõe. Assim,
nesta segunda situação, uma norma especial que regulará a isenção trará a
suspensão da eficácia da aplicação do tributo. A isenção estará prevista na
ordem infraconstitucional, ao passo que a imunidade será hipótese de não
incidência qualificada na Constituição Federal, independente do nome
apresentado pelo constituinte. A questão do nome eleito pelo constituinte,
abordado no parágrafo anterior, é relevante, visto que por vezes o constituinte
falará em isenção quando tecnicamente a hipótese é de imunidade/não
incidência.

A título de exemplo, o art. 195, § 7º, da


Constituição Federal aduz: “São
isentas de contribuição para a
seguridade social as entidades
beneficentes de assistência social que
atendam às exigências estabelecidas
em lei.” Observe que embora seja
usada no texto a palavra isenção, a
técnica leva a concluir que se trata de
hipótese de não incidência.

A imunidade tributária deve ser encarada de forma ampla e extensiva em razão


de seu objetivo prioritário de assegurar garantias fundamentais do contribuinte.

As principais imunidades se encontram alocadas no art. 150, inciso VI, da


Constituição Federal, e essas são destinadas, especificamente, aos impostos.
Porém, existem outras imunidades previstas ao longo do texto constitucional.

Exemplo
Citamos, como exemplo, aquela descrita no art. 5º, inciso XXXIV, da Constituição
Federal que cuidará da imunidade ao pagamento de qualquer taxa para o
exercício do direito de petição.

Encontraremos no corpo constitucional a imunidade para afastar a incidência de


contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico das receitas
provenientes de exportação, de acordo com art. 149, § 2º, inciso I da
Constituição Federal. Vale informar que, para exportação, também
encontraremos imunidade para afastar incidência de ICMS e IPI,
respectivamente, nos artigos 155, § 2º, inciso X, alínea “a” e 153, § 3º, inciso III,
ambos da Constituição Federal.

Também deve ser considerado que as imunidades não irão dispensar o


cumprimento das obrigações acessórias e das multas provenientes de seu
descumprimento.

Imunidade recíproca
Ao observar o art. 150, inciso VI, alínea “a” da Constituição Federal, encontramos
a imunidade recíproca, que irá cuidar de impedir a incidência de impostos sobre
patrimônio, renda e serviços entre os entes da Federação. Essa imunidade
protege o pacto federativo, com a manutenção da isonomia e da autonomia que
deve existir.

Exemplo
Pelo princípio, podemos exemplificar a impossibilidade de o estado cobrar IPVA
do município e da União. Também não seria possível o município cobrar IPTU da
União e do estado.

A criação do preceito da imunidade recíproca tem origem nos Estados Unidos,


em 1819, com o caso Culloch v. Maryland, quando foi concebido o entendimento
de que os estados não poderiam opor tributos perante os outros entes estaduais
e a União.

No Brasil, a imunidade ampara tão somente a não incidência


de impostos relacionados a patrimônio, renda e serviços.

A finalidade da imunidade traz a sua característica extensão, dessa forma, não


trará amparo somente à pessoa política, mas também às suas fundações e
autarquias instituídas pelo poder público.

“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é


vedado à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios:
[...]
VI – instituir impostos sobre:

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a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
[...]

§ 2º – A vedação do inciso VI, "a", é extensiva às autarquias e às fundações


instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à
renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas
decorrentes.

§ 3º – As vedações do inciso VI, “a”, e do parágrafo anterior não se aplicam ao


patrimônio, à renda e aos serviços, relacionados com exploração de atividades
econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou
em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário,
nem exonera o promitente comprador da obrigação de pagar imposto
relativamente ao bem imóvel.” (BRASIL, 1988).

É importante observar que as pessoas


jurídicas que atuam em
competitividade com o particular não
serão seguradas da imunidade
recíproca, haja vista que, se assim
fosse, teríamos uma discrepância na
competitividade e essas pessoas
jurídicas poderiam ofertar condições
mais favoráveis, ferindo diretamente a
livre concorrência.

Comentário
Uma ressalva a esse entendimento está para as empresas em situação de
monopólio, como a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), que não
está em competição com particulares. Desse modo, ela pode receber amparo da
imunidade.

Convém mencionar que a imunidade está prevista somente para os tributos


diretos, ou seja, aqueles tributos os quais o ente federado está na condição de
contribuinte de direito. Quanto aos tributos diretos, decorrentes da condição de
contribuinte de fato, não lhes resta amparo pela imunidade.

Observação importante deve ser feita


com relação à OAB e às caixas de
assistência ao advogado. A OAB, em
razão de sua natureza sui generis,
aliada à sua função constitucional de
defesa do Estado Democrático de
Direito, estará amparada pela
imunidade recíproca. Já as caixas de
assistência ao advogado acabam
sendo amparadas em razão de
consubstanciar parte integrante da
Ordem dos Advogados.

Imunidade dos templos de qualquer culto

Tratar a imunidade dos templos religiosos significa garantir e amparar a própria


liberdade de culto, a liberdade religiosa. A imunidade se destina aos impostos
que viriam a afetar o patrimônio, a renda e os serviços dos templos quando
relacionados à sua atividade essencial.

Como visa assegurar a liberdade religiosa, e essa é tida como espécie de direito
individual articulado na Constituição Federal, a imunidade abraçará todo e
qualquer templo, independentemente da religião, da sua estrutura, se majoritária
ou minoritária, bastando que o templo exista como pessoa jurídica devidamente
registrada.

Em que pese o texto trazer a


disposição “templo”, a imunidade será
aplicada à instituição religiosa para
garantir seu funcionamento e
operação. Por essa razão, a atividade
sem fins lucrativos, relacionada à sua
atividade (a prática da fé) estará
tutelada pela imunidade. Assim, a
imunidade alcançará os veículos, os
imóveis, as doações e os serviços
prestados.

Quanto aos imóveis, ainda que alugados a terceiros, estes estarão sob o manto
da imunidade tributária se os rendimentos provenientes da locação forem
comprovadamente revertidos para a finalidade religiosa. Tal entendimento se
encontra fixado no enunciado da Súmula Vinculante 52:

Ainda quando alugado a terceiros,


permanece imune ao IPTU o imóvel
pertencente a qualquer das entidades
referidas pelo art. 150, VI, c, da CF, desde
que o valor dos aluguéis seja aplicado nas
atividades para as quais tais entidades
foram constituídas.

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(BRASIL, 2015)

Chamamos a atenção para o fato de que os imóveis utilizados para moradia dos
membros/líderes religiosos estarão amparados pela imunidade.

Direito Tributário. IPTU. Imunidade.


Instituições religiosas. Imóveis. Templo e
residência de membros.
Constitucionalidade. Precedentes.

1. O fato de os imóveis estarem sendo


utilizados como escritório e residência de
membros da entidade não afasta a
imunidade prevista no art. 150, VI, c, § 4º
da Constituição Federal.

(BRASIL, 2016)

Também são protegidos os cemitérios que representam parte da entidade


religiosa, desde que não possuam o fim de lucrar.

Assim, temos que a imunidade estará


disponível a todas as religiões. Resta
analisar o entendimento do Supremo
Tribunal Federal com relação à
maçonaria. O Supremo Tribunal
Federal possui entendimento quanto à
impossibilidade de aplicar a
imunidade à maçonaria em
decorrência da relação associativa e
não religiosa. Enquanto a religião
possui o sentimento de acolhimento e
livre ingresso, estando aberta a todos,
a maçonaria possui uma estrutura de
associação, cujo acesso é restrito aos
convidados. Logo, dadas essas
características, essa benesse
constitucional não estaria disponível à
maçonaria.

Imunidade de partidos políticos,


entidades sindicais, instituições de
educação e entidades de assistência
social sem fins lucrativos
A imunidade de partidos políticos, entidades sindicais, instituições de educação
e entidades de assistência social sem fins lucrativos tem amparo na
Constituição Federal, mais precisamente no art. 150, inciso VI, alínea “c” e § 4º
da Carta, impossibilitando a incidência de impostos sobre essas pessoas com
relação a patrimônio, renda e serviços.

Com a mesma ideia dos templos religiosos, o amparo da imunidade está ligado
à atividade desempenhada pelas pessoas descritas no art. 150, inciso VI, alínea
“c” da Constituição Federal. O motivo de o constituinte originário eleger essas
entidades para gozar da imunidade reside na contribuição que elas dão ao
Estado, produzindo aquilo que é tido como parte do mínimo existencial.

Vejamos dois outros cenários:

Partidos políticos Entidades sindicais


De fácil constatação, a eleição dos Com relação à imunidade das
partidos políticos visa proteger a entidades sindicais, é necessário
sua contribuição com a destacar que o alvo é o sindicato
democracia brasileira, dos trabalhadores. O fundamento
possibilitando o pluralismo político se encontra na necessidade de
resguardado na Constituição garantir o hipossuficiente.
Federal.

Comentário
Não é demais lembrar que o amparo da imunidade se dará com relação às
atividades essenciais e constitucionais.

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As instituições de educação e de
assistência social alcançadas pela
imunidade são aquelas que não
possuam como finalidade o lucro.

É necessário dizer que a sua atividade


não precisa ser gratuita. Manter a
imunidade decorre da aplicação dos
resultados positivos em investimentos
para o funcionamento da instituição.

Logo, a repartição dos resultados


entre os membros é o que irá
descaracterizar aquilo que chamamos
de “sem fins lucrativos”.

Para todas as pessoas enquadradas no art. 150, inciso VI, alínea “c” da
Constituição Federal é obrigatório o atendimento aos requisitos descritos em lei
complementar para que possam gozar da imunidade. O art. 14 do Código
Tributário Nacional aduz que, para a manutenção da imunidade, é necessário
impossibilitar a divisão do patrimônio ou renda a qualquer título entre os
dirigentes e a aplicação das receitas deve ser realizada no Brasil, bem como
devem as instituições se manter em dia com as obrigações acessórias.

Imunidade de livros, jornais, periódicos e


papel para impressão
A presente imunidade, prevista no art. 150, inciso VI, alínea “d” da Constituição
Federal tem por objetivo a difusão e estímulo do pensamento e da cultura,
mediante a previsão de hipóteses de não incidência de impostos relacionados a
patrimônio, renda e serviços referentes a livros, jornais, periódicos e ao papel
destinado à sua produção.

Dica
Ao recair sobre coisas, podemos classificar a imunidade como objetiva, desse
modo, não irá proteger o editor. A imunidade irá alcançar os impostos
relacionados à mercadoria, portanto, serão afastados impostos como II, IE e
ICMS.

O Supremo Tribunal Federal entende


que qualquer papel destinado à
impressão é alcançado pela
imunidade. Sendo assim, dentro do
amparo da imunidade estaria até
mesmo o papel fotográfico.

Pela Súmula 657 do STF, os insumos


equiparados ao papel estarão no
alcance da imunidade tributária,
incluindo o material para produção da
capa.

No entanto, quanto aos insumos, o


posicionamento é restritivo, não
abarcando todos aqueles relacionados
à fabricação do livro.

Destaca-se que o livro eletrônico estará alcançado pela imunidade estudada e o


fundamento se encontra na própria razão da imunidade. Se o seu papel
fundamental é a propagação da cultura e do pensamento, a finalidade estará
atendida, independentemente se o livro é físico ou eletrônico. Também é
necessário consignar que o leitor de livros digitais/eletrônicos (e-reader)
receberá a imunidade igualmente, desde que o aparelho tenha como finalidade
única possibilitar a leitura dos livros digitais. Assim, se o aparelho é
multifunções, estará excluído da imunidade, como dispõe a Súmula Vinculante
57 do STF.

Outros itens que têm amparo pela imunidade são álbuns de figurinhas e listas
telefônicas, em virtude do caráter de livro ilustrado do primeiro e do viés
informativo do segundo.

Imunidade musical
O Direito Tributário recebeu a imunidade musical em 2013, por meio da Emenda
Constitucional 75. Da mesma forma que se opera diante das demais hipóteses, a
não incidência se dá com relação a impostos vinculados a patrimônio, renda e
serviços das obras musicais e literomusicais dos artistas do Brasil e produzidas
no país, sendo possibilitada ainda às produções estrangeiras executadas por
músicos brasileiros.

A imunidade irá alcançar somente a produção das mídias eletrônicas, de modo


que não serão alcançadas as etapas de produção industrial das mídias físicas,
ou seja, a produção do disco para leitura por dispositivo de leitura óptica não
estará no campo de operação da imunidade. Por outro lado, a fabricação de long
plays (LPs) está compreendidas na imunidade, uma vez que não representam
mídias ópticas a laser.

Ainda pendente de julgamento no Supremo Tribunal Federal e com repercussão

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geral reconhecida está a questão da aplicabilidade da imunidade aos vinis de
artistas brasileiros quando importados.

A proteção do mercado fonográfico do


Brasil contra a pirataria é o objetivo
principal da imunidade. Assim, a
oferta de melhores condições partiria
da melhora do ambiente negocial,
possibilitando a redução de custos de
produção nacional e difundindo a
cultura brasileira.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

O Estado Y lavrou auto de infração em face da pessoa jurídica PJ para


cobrança de créditos de Impostos sobre a Circulação de Mercadorias e
Prestação de Serviços (ICMS), decorrentes da produção e venda de livros
eletrônicos. Adicionalmente aos créditos de ICMS, o Estado Y cobrou o
pagamento de multa em decorrência do descumprimento de obrigação
acessória legalmente prevista.

Tendo isso em vista, assinale a afirmativa correta:

Há imunidade tributária em relação aos livros eletrônicos; por


A outro lado, é incorreta a cobrança da multa pelo
descumprimento da obrigação acessória.

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28/08/23, 21:55 Limitações constitucionais ao poder de tributar
Há imunidade tributária em relação aos livros eletrônicos; no
B entanto, tendo em vista a previsão legal, é correta a cobrança
de multa pelo descumprimento da obrigação acessória.

É correta a cobrança do ICMS, uma vez que a imunidade


tributária somente abrange o papel destinado à impressão de
C livros, jornais e periódicos; da mesma forma, é correta a
cobrança de multa pelo descumprimento da obrigação
acessória, em vista da previsão legal.

É correta a cobrança do ICMS, uma vez que a imunidade


tributária somente abrange o papel destinado à impressão de
D
livros, jornais e periódicos; no entanto, é incorreta a cobrança
da multa pelo descumprimento da obrigação acessória.

A imunidade tributária alcança não somente as obrigações


E principais, mas também desobriga o cumprimento da
obrigação principal.

Parabéns! A alternativa B está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EO%20magistrado%2C%20ao%20enfrentar%20a%20dial%C3%A9tica%20entre%20o%20problema%20e%20a%20falta%20e%2Fou%20desatualiza%C3%A7%C3%A

Questão 2

O reitor de uma faculdade privada sem fins lucrativos (cujas receitas,


inclusive seus eventuais superávits, são integralmente reinvestidas no
estabelecimento de ensino) deseja saber se está correta a cobrança de
impostos efetuada pelo fisco, que negou a pretendida imunidade tributária
sob o argumento de que a instituição de ensino privada auferia lucros.

Sobre a atuação do fisco nessa situação, assinale a afirmativa correta:

O fisco agiu corretamente, pois a imunidade tributária apenas


A
alcança instituições de ensino que não sejam superavitárias.

O fisco agiu corretamente, pois a imunidade tributária apenas


B
alcança instituições públicas de ensino.

O fisco não agiu corretamente, pois não há impedimento à


C
distribuição de lucro pelo estabelecimento de ensino imune.

O fisco não agiu corretamente, pois, para que seja concedida


D tal imunidade, a instituição não precisa ser deficitária, desde
que o superávit seja revertido para suas finalidades.

O fisco agiu de forma correta, pois não há imunidade para a


E
pessoa indicada.

Parabéns! A alternativa D está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EAs%20institui%C3%A7%C3%B5es%20de%20educa%C3%A7%C3%A3o%20e%20de%20assist%C3%AAncia%20social%20alcan%C3%A7adas%20pela%20imunida

3 - Os efeitos da tributação
Ao final deste módulo, você será capaz de analisar os efeitos e a necessidade da tributação.

video_library O dever fundamental de pagar tributos

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28/08/23, 21:55 Limitações constitucionais ao poder de tributar

Neste vídeo, o professor Gabriel Quintanilha discorre sobre o dever fundamental


de pagar tributos, nos fornecendo uma compreensão inicial sobre tal dever,
facilitando assim o entendimento do módulo.

O dever fundamental de pagar tributos


Se de um lado tratamos das imunidades, de outro devemos ter em mente que
pensar o desenvolvimento de um Estado passa pela necessidade de criar
mecanismos que possibilitem arrecadação de receita. Afinal, o Estado é a
própria lavratura de um contrato social que organizará a forma de convivência da
sociedade para que se alcance a ordem social. Nesse sentido, temos diversas
teorias de como esse contrato social deve ser aplicado no Estado formado. Para
alguns, mais intervencionistas, e para outros, mais liberais.

Fato é que independentemente da teoria adotada para sua


formação, a fim de garantir a ordem, o Estado precisa ter
receita para entregar aos seus integrantes aquilo que a
sociedade espera.

O Brasil adota um formato de Estado


Democrático de Direito com viés
garantidor.

Temos por natureza um Estado que


visa à implementação de muitas
garantias e à concessão de muitos
direitos, porém, para efetivar a
prestação que o constituinte estipulou,
os cidadãos precisam participar. No
fim, não é o Estado que possui a
riqueza. A riqueza de um país é
proveniente do povo que, por meio de
suas contribuições, forma um sistema
mutualista para que seja entregue
aquilo que é tido como mínimo
existencial.

O mínimo existencial deve estar contido dentro daquilo que se tem por reserva
do possível, e, por sua vez, a reserva do possível é aquilo que o Estado está
capacitado a entregar dentro do seu orçamento.

Diante desse cenário, o Direito Tributário tem o objetivo de regular a relação


entre o Estado e o contribuinte, protegendo este último dos avanços e arbítrios
estatais para que a obtenção de receita não venha a ferir o patrimônio do
particular, que, pela Constituição, tem a propriedade privada e os seus bens
protegidos.

Fundamento
O dever de pagar tributos possui fundamento no objetivo constitucional de se
alcançar o bem comum, afinal, é um dos princípios fundamentais da República
Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana e ainda constitui objetivo
desta república a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, que
almeja a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais e
regionais, promovendo o bem de todos e garantindo, assim, o desenvolvimento
nacional (art. 1º e 3º da Constituição Federal). Por meio do recolhimento dos
tributos se busca a entrega desses anseios do Estado brasileiro, produzindo
receita.

A receita pode ser dividida em duas formas:

Receita originária Receita derivada


Aquela que decorre diretamente da Proveniente dos tributos, também
exploração estatal dos seus próprios compreende as multas e as
bens. penalidades.

Ainda sobre as receitas derivadas, estas são oriundas da capacidade do Estado


em retirar do contribuinte parte de seu patrimônio para execução de seus
objetivos e formar o sistema mutual para prover a todos o bem comum.

Com o cenário de desestatização, cada vez mais o Estado se afasta da atuação


na economia, de forma a consolidar ainda mais a receita derivada como sua
principal fonte de custeio. O Estado brasileiro se propõe a suportar um alto
número de obrigações, e isso acaba por gerar a necessidade de avançar com a
tributação, visto que a arrecadação de receita originária passa a ser ínfima ante a
baixa atuação do poder público na economia.

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28/08/23, 21:55 Limitações constitucionais ao poder de tributar
Pagar tributos é dever de todo
cidadão, estando submetido à
obrigação de pagar o tributo pelo fato
de viver em sociedade e desfrutar dos
serviços que o Estado entrega, bem
como dos direitos fundamentais que o
Estado lhe assegura na Constituição.
O direito possui um preço, a
contraprestação do direito
corresponde aos deveres a eles
correspondentes e a eles submetidos
como forma de financiamento. A
própria liberdade é direito que
demanda um financiamento em vista
da necessidade de garantir a
segurança na liberdade.

A tributação, embora necessária, deve ser justa e eficiente. O poder estatal de


tributar e o dever fundamental do contribuinte pagar os tributos devem seguir em
compatibilidade com o direito individual de propriedade do contribuinte e sua
capacidade de suportar os tributos e, por outro lado, a capacidade de tributar do
Estado deve estar limitada pela razoabilidade e proporcionalidade para que não
avance tanto sobre o patrimônio do cidadão de modo a lhe confiscar.

A receita proveniente dos tributos é um dos combustíveis da máquina pública,


que realizará o consumo para chegar até o lugar almejado pelo constituinte.

Nota-se que, à medida que há a obrigação para o contribuinte,


há a obrigação do Estado em implementar as
contraprestações que fundamentam a cobrança do tributo.

Assim, o Direito Tributário é o ramo que irá atuar para equilibrar e limitar a
atuação do Estado/fisco em face do contribuinte, que será o sujeito passivo da
relação tributária.

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28/08/23, 21:55 Limitações constitucionais ao poder de tributar

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

A relação que todo cidadão tem para com o Estado de pagar tributos é

A um dever.

B uma faculdade.

C uma obrigação subsidiária.

D uma obrigação irrestrita.

E uma obrigação de não fazer.

Parabéns! A alternativa A está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EPara%20que%20o%20Estado%20mantenha%20suas%20atividades%20e%20possa%20exercer%20suas%20fun%C3%A7%C3%B5es%20e%20miss%C3%B5es%2

Questão 2

Com relação ao poder estatal de tributar, assinale a alternativa correta:

Não é preciso respeitar a capacidade do contribuinte de


A
suportar os tributos.

A capacidade de tributar do Estado deve ser limitada para que


B não avance tanto sobre o patrimônio do cidadão de modo a
lhe confiscar.

O direito individual da propriedade decai com o poder de


C
tributação do Estado.

A capacidade de tributar do Estado não está limitada aos


D
princípios de razoabilidade e proporcionalidade.

O direito individual à propriedade não tem relevância em sede


de tributação, porque o princípio da solidariedade impõe que
E
os contribuintes devam arcar com qualquer imposição
tributária do Estado.

Parabéns! A alternativa B está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EO%20princ%C3%ADpio%20constitucional%20da%20veda%C3%A7%C3%A3o%20ao%20confisco%20preconiza%20que%20%C3%A9%20vedada%20a%20utiliza%

Considerações finais
Como vimos ao longo do conteúdo, os princípios constitucionais tributários irão
nortear a atividade do fisco, garantindo estabilidade nas relações tributárias e
impedindo alterações que impactem a segurança jurídica e a capacidade
contributiva dos contribuintes, prevendo ainda metodologia que permite adequar
a tributação para a proteção do Estado e de seus anseios econômicos.

Além disso, foi possível esclarecer as hipóteses de imunidade e seu campo de


atuação, bem como a finalidade que cada uma possui. Por fim, é possível
reconhecer a tributação como elemento que possibilita o funcionamento do
Estado.

headset Podcast

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28/08/23, 21:55 Limitações constitucionais ao poder de tributar

Vamos acompanhar agora o professor Gabriel Quintanilha, que fala sobre os


princípios mais relevantes que geram limitações ao poder de tributar, bem como
sobre imunidades, seu conceito e as principais espécies.

Explore +
Veja como Vidal Infante aborda a questão da tributação no livro Limites ao
poder de tributar no marco atual da Constituição Brasileira, publicado em
2016 pela Editora CRV.

Para aprofundar seus conhecimentos sobre Direito Tributário, leia o livro


homônimo de Ricardo Alexandre, publicado pela Editora Juspodivm em
2021.

Referências
AMARO, L. Direito Tributário Brasileiro. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

BRASIL. Código Tributário Nacional. Lei nº 5.172 de 25 de outubro de 1966.


Consultado na internet em: 13 out. 2021.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de


outubro de 1988. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº 160. 1996. Consultado na


internet em: 16 out. 2021.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Jurisprudência. 1997. Consultado na internet


em: 11 out. 2021.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula Vinculante nº 52. 2015. Consultado


na internet em: 16 out. 2021.

BRASIL. Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Jurisprudência. 2010.


Consultado na internet em: 14 out. 2021.

CARVALHO, P. de B. Curso de Direito Tributário. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

QUINTANILHA, G. S. Manual de Direito Tributário – vol. único. Rio de Janeiro:


Método, 2021.

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