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DIREITOS HUMANOS

META 02

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DIREITOS HUMANOS – META 02

SUMÁRIO

DIREITOS HUMANOS – META 02 ............................................................................................................... 5

RESUMO DA DOUTRINA ............................................................................................................................5


1. INTRODUÇÃO E TEORIA GERAL .................................................................................................................5
1.1 Conceito ...........................................................................................................................................................5
1.2 Direitos Humanos X Direito Humanitário .....................................................................................7
1.3 Direitos Humanos X Direitos do Homem ............................................................................................9
1.4. Direitos Humanos X Direitos Fundamentais .....................................................................................9
2. FONTES DOS DIREITOS HUMANOS.................................................................................................10
3. FUNDAMENTAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS .................................................................................10
3.1 Jusnaturalismo ..................................................................................................................................10
3.2 Positivismo ........................................................................................................................................12
Os direitos humanos se fundamentam em uma ordem superior, universal, imutável e
inderrogável; ........................................................................................................................................................13
4. SURGIMENTO DOS LIMITES CONTRA O ABUSO DO PODER ESTATAL E O INÍCIO DA
PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS .................................................................15
5. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS .................................................................................16
5.1 Historicidade ...............................................................................................................................................16
5.2 Universalidade ............................................................................................................................................17
5.3 Limitabilidade....................................................................................................................................20
5.4 Irrenunciabilidade ............................................................................................................................20
5.5 Inalienabilidade ..........................................................................................................................................21
5.6 Imprescritibilidade ...........................................................................................................................21
5.7 Vedação ao retrocesso .............................................................................................................................21
5.8 Essencialidade ............................................................................................................................................23
5.9 Inerência.............................................................................................................................................23
5.10 Inter-relacionaridade ..............................................................................................................................24
5.11 Interdependência ....................................................................................................................................24
6. DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS ................................................................................................24
6.1 Introdução ....................................................................................................................................................24
6.2 1ª Dimensão (liberdade) .................................................................................................................25
6.3 2ª Dimensão (igualdade) ................................................................................................................25

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6.4 3ª Dimensão (fraternidade) ....................................................................................................................26


6.5 4ª Dimensão (solidariedade) ..................................................................................................................27
6.6 5ª Dimensão (esperança) ...............................................................................................................27
6.7 Quadro sinóptico – Segundo Paulo Bonavides ...............................................................................28
7. APLICABILIDADE DAS NORMAS SOBRE DIREITOS HUMANOS .................................................28
8. INTERPRETAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ..............................................................................29
8.1 Aspectos gerais ................................................................................................................................29
8.2 Métodos para interpretação dos direitos humanos .................................................................31
8.3 Conflito entre direitos humanos ...........................................................................................................32
9. EFICÁCIA DOS DIRETOS HUMANOS ...............................................................................................42
9.1 Eficácia dos direitos humanos nas relações entre particulares .............................................43
QUESTÕES PROPOSTAS ..................................................................................................................................44

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DIREITOS HUMANOS – META 02

DIREITOS HUMANOS – META 02

TEMAS DO DIA

[DIREITOS HUMANOS]

Fontes internacionais de proteção dos direitos humanos. O regime objetivo dos tratados de

direitos humanos. Características das normas internacionais de direitos humanos.

Multiculturalismo. Relativismo. Gramáticas diferenciadas de direitos. Abertura dos direitos

humanos. Garantismo jurídico. Direitos humanos e superioridade normativa. Eficácia dos

direitos humanos nas relações entre particulares. Interseccionalidade e os direitos humanos.

Aplicabilidade das normas sobre direitos humanos. Direitos humanos e seu caráter erga

omnes. Exigibilidade dos direitos humanos. As dimensões subjetiva e objetiva dos direitos

humanos. Interpretação dos direitos humanos. Limitabilidade dos direitos humanos.

Restrições dos direitos humanos e suas espécies. Conteúdo essencial dos direitos humanos.

RESUMO DA DOUTRINA

1. INTRODUÇÃO E TEORIA GERAL

1.1 Conceito

A definição da noção de direitos humanos é objeto de polêmica. Há muitas acepções de

direitos humanos. Segundo Gregorio Robles, a questão não só não é pacífica, como também é

influenciada por pontos de vista de cunho político e ideológico.

No entanto, é possível sintetizar os Direitos Humanos como o conjunto de direitos que

concretiza e materializa a dignidade humana.

Para Portela, direitos humanos são aqueles direitos essenciais para que o ser

humano seja tratado com a dignidade que lhe é inerente e aos quais fazem

jus todos os membros da espécie humana, sem distinções.

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André de Carvalho Ramos define direitos humanos como um conjunto de

direitos considerado indispensável para uma vida humana pautada na

liberdade, igualdade e dignidade. Os direitos humanos são, em suma, todos

os direitos essenciais e indispensáveis à vida digna, não havendo um rol

predefinido.

A expressão direitos humanos representa o conjunto das atividades realizadas de maneira

consciente, com o objetivo de assegurar ao homem a dignidade e evitar que passe por

sofrimentos. Esta é a opinião de Carlos Santiago Niño, no livro Ethics of Human Rights.

Para chegar a esta concepção contemporânea, no entanto, o homem precisou percorrer um

longo caminho de lutas, até entre irmãos, quase sempre causadas pelo desejo do lucro ou do poder.

Por isso mesmo é que se tornou uma convenção moderna considerar que somente em nações

democráticas é possível existirem os direitos humanos, porque um governo autoritário transforma-

se muito facilmente em opressor.

A concepção contemporânea de direitos humanos é recente: foi internacionalmente

estabelecida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, pouco depois da Segunda

Guerra Mundial, quando o homem se horrorizou com as crueldades cometidas pelos partidários do

nazismo.

A Edição da Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948: marco da universalidade e

inerência dos direitos humanos.

Os três primeiros artigos da Declaração sintetizam o que se considera fundamental para a

humanidade:

• Que todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos, são dotadas de

razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade;

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• Que toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos

na Declaração, sem distinção de qualquer espécie (raça, cor, sexo, língua, religião, opinião

política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer

outra condição); e

• Que toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Essa declaração foi ratificada pela Declaração dos Direitos Humanos de Viena, em 1993.

Nessa conferência mundial, os direitos humanos e as liberdades fundamentais foram declarados

direitos naturais de todos os seres humanos.

A Declaração de Viena avançou, em relação à Declaração Universal, ao definir que a proteção

e promoção dos direitos humanos são responsabilidades primordiais dos Governos. Mais do que isso,

as normas de direito internacional de proteção aos direitos humanos consideram que todas as

pessoas devem ter seus direitos protegidos, não podendo haver qualquer distinção entre nacionais

e estrangeiros (Castilho, 2011).

1.2 Direitos Humanos X Direito Humanitário

É o conhecido direito da guerra. Possui objeto distinto dos direitos humanos. Mesmo num

conflito bélico entre países, existem princípios éticos mínimos que devem ser seguidos. São exemplos

as seguintes condutas: não matar nem maltratar os militares postos fora de combate (feridos) nem

os prisioneiros; não bombardear a população civil; resgatar os náufragos, entre outros.

Tem origem nas Convenções de Genebra, sendo a primeira assinada em 22 de agosto de

1864 unicamente por potências europeias, e destinada a melhorar a sorte dos militares feridos nos

exércitos em campanha. Afirma-se que a origem se vincula ao livro de Jean Henri Dunant (Un

Souvenir de Solférino), no qual relatou como organizou, durante a batalha de Solferino de junho de

1859 entre os exércitos austríacos e franco-piemonteses, os serviços de pronto-socorro para os

soldados feridos de ambos os lados.

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Na primeira metade do século XX, a Convenção de Genebra de 1864 foi revista, com a

finalidade de se estenderem seus princípios aos conflitos marítimos (Convenção de Haia de 1907) e

aos prisioneiros de guerra (Convenção de Genebra de 1929). Em 1925, outra Convenção, também

assinada em Genebra, proibiu a utilização, durante a guerra, de gases asfixiantes ou tóxicos, bem

como de armas bacteriológicas. As convenções sobre soldados feridos e prisioneiros de guerra foram

revistas e consolidadas em três convenções celebradas em Genebra em 1949, sob os auspícios da

Comissão Internacional da Cruz Vermelha. Na mesma ocasião, foi celebrada uma quarta convenção,

tendo por objeto a proteção da população civil em caso de guerra (Comparato, 2017).

Cumpre observar que, de acordo com a Carta da ONU, deve-se buscar a solução pacífica das

controvérsias (preâmbulo, arts. 1° e 2°, entre outros). Em 17 de fevereiro de 1863, Jean Henri Dunant,

conhecido por Henri Dunant ou Henry Dunant, e outros quatro cidadãos genebrinos criaram o Comité

Internacional de Ajuda aos Feridos, também conhecido como Comité dos Cinco, com o objetivo de

promover a criação de sociedades nacionais de socorro e propor a elaboração de um tratado

internacional.

Este comité logo recebeu um novo nome, Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV),

derivado do símbolo utilizado como forma de proteção aos feridos e enfermos cruz vermelha sobre

fundo branco -, sendo, como alguns dizem, uma homenagem à Suíça por ser o inverso da bandeira

suíça. Em 1863, estabeleceu-se a primeira sociedade nacional na Bélgica e posteriormente na Prússia

(1864) e na Holanda (1866). Estas e outras sociedades adotam o nome de Cruz Vermelha e, nos

países islâmicos, Crescente Vermelho. Em 2005, foi adotado um símbolo universal e sem conotações

religiosas: um cristal vermelho sobre fundo branco. De acordo com o CICV, o cristal vermelho não

tem a intenção de possuir qualquer significado religioso, étnico, racional, religioso ou político"

(Almeida, 2009).

Desse modo, a Cruz Vermelha Internacional é considerada uma organização não

governamental que tem por objetivo conceder aos países necessitados ajuda humanitária (no

mínimo médica). Não tem natureza jurídica de organização internacional, sendo regida

exclusivamente pelo Código Civil suíço. Os locais onde a Cruz Vermelha estiver instalada serão

considerados territórios neutros, não podendo ser atacados.


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Na medida em que os países entendem que mesmo na guerra existem direitos que devem ser

protegidos para além de sua proteção interna, e ratificam as Convenções de Genebra, autorizam a

limitação de sua soberania territorial em prol da proteção dos direitos dos seres humanos.

Entende-se haver uma limitação do domínio reservado do Estado. Desse modo, os Estados

relativizam a teoria da jurisdição doméstica e os direitos humanos estabelecem um patamar mínimo

de proteção dos direitos dos seres humanos. Portanto, pode-se afirmar que os direitos humanos

interferem no funcionamento interno dos Estados.

1.3 Direitos Humanos X Direitos do Homem

No período da revolução francesa a ideia de direitos do Homem era literalmente para os

Homens, sem igualdade de gênero. Hoje a expressão é utilizada muitas vezes como sinônimo de

direitos humanos. No entanto, não podemos confundi-las:

• Direitos Humanos – são aqueles direitos indispensáveis à uma vida digna, previstos em

normas internacionais;

• Direitos do Homem – referem-se aos direitos naturais, aqueles inatos ao homem, que não

dependem de previsão na ordem jurídica positiva, e que decorrem da razão divina ou da razão

humana (estão relacionados com o jusnaturalismo).

Da mesma forma a expressão direitos civis (Civil Rights), também é utilizada como sinônimo

de direitos humanos.

1.4. Direitos Humanos X Direitos Fundamentais

Os direitos humanos são antologicamente similares aos direitos fundamentais, tendo em vista

que possuem o mesmo conteúdo, porém, com eles não se confundem.

• Direitos humanos – concretizam a dignidade humana no plano internacional;

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• Direitos fundamentais – materializam a dignidade humana no plano interno. Ou seja:

são aqueles positivados nas constituições dos Estados (ex: artigo 5º da CF/88).

2. FONTES DOS DIREITOS HUMANOS

As fontes se dividem em duas classes:

FONTES MATERIAIS FONTES FORMAIS

São iguais às fontes do DIP1 (tratados,

São os fatos sociais e deias políticas. costumes, jurisprudência, doutrina, resoluções,

soft law, etc.).

3. FUNDAMENTAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Os direitos humanos ganharam importância e relevância no século XX, já estando

incorporados ao pensamento jurídico do século XXI. Os doutrinadores sustentam que o Fundamento

e a justificativa dos direitos humanos estariam ligados ao positivismo ou ao jusnaturalismo (Almeida,

2009).

Há 2 correntes principais acerca do fundamento dos Direitos Humanos:

• Corrente Jusnaturalista;

• Corrente Juspositivista.

3.1 Jusnaturalismo

Nasce jusnaturalista. Como afirma Comparato, “a compreensão da dignidade suprema da

pessoa humana e de seus direitos, no curso da história, tem sido, em grande parte, o fruto da dor

física e do sofrimento moral”. Grandes pensadores, anteriores ao cristianismo, já haviam considerado

a igualdade entre os seres humanos, a par das diferenças de sexo, raça, religião, costumes e etc.

✓ Kant – Ideia de dignidade. Homem como fim e não como meio.

1 Vide material de Direito Internacional.


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✓ Cristianismo: Igualdade perante Deus.

O Prof. Fábio Konder Comparato, fazendo uma análise histórica dessa evolução, aponta que

foi no período axial que os grandes princípios, os enunciados e as diretrizes fundamentais da vida,

até hoje considerados em vigor, foram estabelecidos.

Inclusive, foi nesse período que nasceu a ideia de igualdade entre os seres humanos: “é a

partir do período axial que o ser humano passa a ser considerado, pela primeira vez na História, em

sua igualdade essencial, como ser dotado de liberdade e razão, não obstante as múltiplas diferenças

de sexo, raça, religião ou costumes sociais. Lançavam-se, assim, os fundamentos intelectuais para a

compreensão da pessoa humana e para a afirmação de direitos universais, porque a ela inerentes”.

Na sequência, podemos destacar o Cristianismo, que em muito contribuiu para o

estabelecimento da igualdade entre os homens. O Cristianismo, sem dúvida, no plano divino, pregava

a igualdade de todos os seres humanos, considerando-os filhos de Deus, apesar de, na prática,

admitir desigualdades em contradição com a mensagem evangélica.

Para o Jusnaturalismo, todas essas ideias precursoras de limitação ao poder e de emancipação

da pessoa humana como titular de direitos inerentes, resultaram na concepção de que a Pessoa

Humana é fundamento absoluto, atemporal e global desses direitos.

A pessoa é a mesma em todos os lugares e, considerando as diversidades culturais, deve ser

tratada igualmente, de forma justa e solidária. Ressalta-se a dignidade inerente a todo e qualquer ser

humano como a razão máxima do Direito e da Sociedade, devendo ser resguardada e cultivada por

estes.

Os direitos humanos seriam, assim, o conjunto de condições, garantias e comportamentos,

capazes de assegurar a característica essencial do homem, a sua dignidade, de forma a conceder a

todos, sempre, o cumprimento das necessidades inseridas em sua condição de pessoa humana.

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Dessa forma, esses direitos não são criados pelos homens ou pelos Estados, eles são

preexistentes ao Direito, restando a este apenas “declará-lo”, nunca os constituir.

3.2 Positivismo

A ideia positivista sobre direitos humanos, apresentada por Norberto Bobbio, afirma a

inexistência de um direito absoluto para esses “direitos”, já que a dogmática jurídica se caracteriza

pela historicidade, sendo o Direito passível de constantes modificações, advindas da sociedade,

cultura, moral, economia, que se alteram dia após dia. Não se pode dar, assim, um fundamento

eterno para algo que necessariamente sofrerá modificações.

Um preceito só pode ser considerado jurídico quando nele estiver presente o caráter

repressivo, que lhe concede eficácia, como bem ressaltava Hans Kelsen. Se a Ordem Jurídica nada

pode fazer para assegurar o cumprimento desses preceitos, eles não podem ser denominados

“direito”, pois são meras expectativas de conduta, meras expressões de boas intenções que orientam

a ação para um futuro indeterminado, incerto.

Portanto, para os positivistas, a ausência de coercibilidade dos direitos naturais lhe retira a

própria natureza de “direitos”, devendo os direitos humanos passar por um processo de

positivação.

Atualmente, porém, há uma tendência à “positivação” dos direitos humanos, de forma a

inseri-los nas Constituições Estatais, através da criação de novos mecanismos para garanti-los, além

da difusão de sua regulação por meio de mecanismos internacionais, como os Tratados e Convenções

Internacionais de Direitos Humanos.

Com isso, já se pode falar num conceito positivo de “direitos humanos, que seriam os “direitos

fundamentais”, assegurados ao indivíduo através da regulamentação e aplicação desses direitos,

tanto no campo estatal como no campo supra-estatal.

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Obs.: Parte da doutrina defende existir ainda uma 3ª corrente acerca do fundamento dos direitos

humanos: Jusinternacionalismo.

A corrente Jus Internacionalista afirma que o fundamento dos direitos humanos é o próprio

Direito Internacional.

Para essa corrente, se o direito estiver previsto na ordem internacional, já pode ser

caracterizado como uma norma de direitos humanos, não havendo necessidade de estar positivado

na ordem jurídica interna do Estado.

TEORIA JUSNATURALISTA TEORIA POSITIVISTA TEORIA

(PRINCIPAL) JUSINTERNACIONALISTA

Os direitos humanos se Alicerça tais direitos na ordem o fundamento dos direitos

fundamentam em uma jurídica posta, pelo que humanos é o próprio Direito

ordem superior, universal, somente seriam reconhecidos Internacional

imutável e inderrogável; como direitos humanos aqueles

positivados

Destaque-se que sobre o tema direitos humanos, existem três marcos históricos

fundamentais: o iluminismo, a Revolução Francesa e o término da II Guerra Mundial.

No iluminismo foi ressaltada a razão, o espírito crítico e a fé na ciência. Esse movimento

procurou compreender a essência das coisas e das pessoas, observar o homem natural, e desse modo

chegar às origens da humanidade. São pensadores renomados de tal período: John Locke (Tratado

sobre o governo - 1689), Jean-Jacques Rousseau (Contrato social - 1762), Thomas Hobbes (O

Leviatã - 1651) e Charles-Louis de Secondat - Montesquieu (O espírito das leis - 1748).

Impulsionadas pelo iluminismo foram elaboradas as primeiras declarações de direitos

humanos, destacando-se a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 26 de agosto de

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1789, redigida após a Revolução Francesa, a qual teve como marco histórico a queda da Bastilha,

em 14 de julho de 1789.

Immanuel Kant (Crítica da razão pura - 1781, A doutrina do direito, A doutrina da virtude e

seu Ensaio filosófico sobre a paz perpétua - 1795), por meio do racionalismo, delineou o Estado como

um instrumento de produção de leis, por meio de seus cidadãos, sendo a liberdade o principal

fundamento para se estabelecer e valorizar a figura da pessoa humana, devendo-se atentar para a

moralidade, a dignidade e a paz perpétua.

A Revolução Francesa fez nascer os ideais representativos dos direitos humanos, quais sejam

a igualdade, a liberdade e a fraternidade.

Por fim, com o final da II Guerra Mundial, os homens se conscientizaram da necessidade de

não se permitir que seres humanos novamente sofressem aquelas atrocidades cometidas pelos

nazistas. A barbárie do totalitarismo significou a ruptura do paradigma dos direitos humanos, por

meio da negação do valor da pessoa humana como valor-fonte do direito (Piovesan, 2019).

Posteriormente houve a criação da Organização das Nações Unidas e a declaração de

inúmeros tratados internacionais de direitos humanos, como a Declaração Universal dos Direitos

Humanos, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, entre outros.

Verifica-se o desenvolvimento do sistema internacional de proteção dos direitos humanos,

que é o maior legado da chamada "era dos direitos" (Piovesan, 2019). Em uma visão contemporânea,

José Joaquim Gomes Canotilho afirma:

"Os direitos humanos articulados com o relevante papel das organizações

internacionais fornecem um enquadramento razoável para o

constitucionalismo global. O constitucionalismo global compreende não

apenas o clássico paradigma das relações horizontais entre Estados, mas o

novo paradigma centrado nas relações Estado/povo, na emergência de um

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Direito Internacional dos Direitos Humanos e na tendencial elevação da

dignidade humana a pressuposto ineliminável de todos os

constitucionalismos. Por isso, o Poder Constituinte dos Estados e,

consequentemente, das respectivas Constituições nacionais está hoje cada

vez mais vinculado a princípios e regras de direito internacional. É como se o

Direito Internacional fosse transformado em parâmetro de validade das

próprias Constituições nacionais (cujas normas passam a ser consideradas

nulas se violadoras das normas do jus cogens internacional). O Poder

Constituinte soberano criador de Constituições está hoje longe de ser um

sistema autónomo que gravita em torno da soberania do Estado" (Direito

constitucional e teoria da constituição, p. 1.217).

Movimento histórico de proteção do homem e dados conexos importantes:

ILUMINISMO Valorização do homem, da crítica, da ciência do

homem (antropocentrismo).

REVOLUÇÃO FRANCESA Declaração de direitos do homem e do cidadão (1789).

(REVOLUÇÃO LIBERAL) Aprovada pelo Parlamento Francês.

FIM DA 2ª GUERRA MUNDIAL Criação da ONU (1945) e intensificação da criação dos

tratados internacionais dos direitos humanos. Início da

efetiva internacionalização dos direitos humanos.

4. SURGIMENTO DOS LIMITES CONTRA O ABUSO DO PODER ESTATAL E O INÍCIO DA


PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

✓ Paz Westfália – 1648 – Consolidação da ideia da soberania estatal. Marco Inicial do direito

internacional;

✓ 1679 – Halmas Corpus Act – limite à perseguição de pessoas. Mais Bill of Right;

✓ 1776 – Declaração de direitos da Virgínia;

✓ 1785 – Kant – Metafísica dos costumes;


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✓ 1787 – Constituição Americana;

✓ 1789 – Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão;

✓ 1791- 10 emendas à Constituição Americana;

✓ 1848 – Manifesto Comunista (Direitos sociais);

O segundo período é marcado pelo início da universalização dos direitos humanos;

✓ 1864 – Convenção de Genebra – Direito Humanitário Cruz Vermelha (primeiro

antecedente);

✓ 1890 – Combate ao tráfico internacional de escravos;

✓ 1945 – Carta da ONU – Carta de São Francisco;

✓ 1948 – Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH);

✓ 1950 – Convenção Europeia de Direitos Humanos;

✓ 1966 - Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP) e Pacto Internacional de

direitos econômicos, sociais e culturais (PIDESC);

✓ 1969 – Convenção Interamericana de Direitos Humanos. Pacto de São José da Costa Rica.

No início do direito internacional (1648 – Paz de Westfália) os Estados eram sujeitos de

direitos internacionais. A partir de 1945 o indivíduo passa a ser sujeito de direitos.

Com a potencialização da proteção internacional e, cada vez mais, a capacidade dos

organismos internacionais de proteção imporem sanções aos Estados, a doutrina já começa a falar

em uma “soberania mitigada”, que decorre da submissão à organismos internacionais.

5. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS

5.1 Historicidade

Os direitos humanos foram construídos ao longo da história, ao longo do tempo. Possuem

antecedentes fáticos. A proteção dos direitos humanos, como vimos acima, são fruto de uma

evolução histórica, fruto de uma emancipação evolutiva, que foi ganhando espaçado com a mudança

de perspectiva da sociedade, ou seja, a sociedade foi acrescentando novas necessidades à ideia de

direito mínimo para uma vida com dignidade. De toda forma, não temos um único momento histórico

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DIREITOS HUMANOS – META 02

que indique o nascimento da proteção dos direitos humanos, essas conquistas foram paulatinas na

história da humanidade.

5.2 Universalidade

“Todo e qualquer ser humano é sujeito ativo desses direitos, podendo

pleiteá-los em qualquer foro nacional ou internacional (parágrafo 5 da

Declaração e Programa de Ação de Viena de 1993).”

São destinados a todos os seres humanos. Constituem uma preocupação generalizada da

raça humana. Ou seja: é possível dizer que os direitos humanos/direitos fundamentais são oponíveis

a todos, independentemente de quaisquer condições e, são universais, pois, representam a

possibilidade do indivíduo pleitear seus interesses perante instâncias externas em caso de

insatisfação quanto aos mecanismos internos. Ex: Cortes e Tribunais Internacionais.

Um debate muito importante até hoje é discutir até que ponto os direitos humanos devem ser

universais, visto que o direito que está ligado ao essencial para uma vida digna pode variar a

depender da cultura de um povo. Daí surge o debate entre o universalismo (universalidade dos

direitos humanos independem da cultura local) e o relativismo cultura (limitação cultural ao

universalismo).

5.2.1 Universalismo x Relativismo cultural (Piovesan, 2019)

O debate entre os universalistas e os relativistas culturais retoma o dilema a respeito dos

fundamentos dos direitos humanos: por que temos direitos? As normas de direitos humanos podem

ter um sentido universal ou são culturalmente relativas?

• Para os universalistas – os direitos humanos decorrem da dignidade humana, na

qualidade de valor intrínseco à condição humana. Defende-se, nessa perspectiva, o mínimo

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ético irredutível — ainda que se possa discutir o alcance desse “mínimo ético” e dos direitos

nele compreendidos.

• Para os relativistas – a noção de direitos está estritamente relacionada ao sistema

político, econômico, cultural, social e moral vigente em determinada sociedade.

Cada cultura possui seu próprio discurso acerca dos direitos fundamentais, que está

relacionado às específicas circunstâncias culturais e históricas de cada sociedade. Não há moral

universal, já que a história do mundo é a história de uma pluralidade de culturas. Há uma pluralidade

de culturas no mundo, e essas culturas produzem seus próprios valores. Na crítica dos relativistas,

os universalistas invocam a visão hegemônica da cultura eurocêntrica ocidental, na prática de um

canibalismo cultural. Já para os universalistas, os relativistas, em nome da cultura, buscam acobertar

graves violações a direitos humanos. Ademais, complementam, as culturas não são homogêneas,

tampouco compõem uma unidade coerente; mas são complexas, variáveis, múltiplas, fluidas e não

estáticas. São criações humanas e não destino.

Para Jack Donnelly, há diversas correntes relativistas: “No extremo, há o que nós

denominamos de relativismo cultural radical, que concebe a cultura como a única fonte de validade

de um direito ou regra moral. (...) Um forte relativismo cultural acredita que a cultura é a principal

fonte de validade de um direito ou regra moral. (...) Um relativismo cultural fraco, por sua vez, sustenta

que a cultura pode ser uma importante fonte de validade de um direito ou regra moral”.

Para dialogar com Jack Donnelly, poder-se-ia sustentar a existência de diversos graus de

universalismos, a depender do alcance do “mínimo ético irredutível”. No entanto, a defesa, por si só,

desse mínimo ético, independentemente de seu alcance, apontará à corrente universalista — seja a

um universalismo radical, forte ou fraco.

Neste debate, destaca-se a visão de Boaventura de Souza Santos, em defesa de uma

concepção multicultural de direitos humanos, inspirada no diálogo entre as culturas, a compor um

multiculturalismo emancipatório. Para Boaventura, “os direitos humanos têm que ser

reconceptualizados como multiculturais. O multiculturalismo, tal como eu o entendo, é precondição

de uma relação equilibrada e mutuamente potenciadora entre a competência global e a legitimidade


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local, que constituem os dois atributos de uma política contra-hegemônica de direitos humanos no

nosso tempo”.

Prossegue o autor defendendo a necessidade de superar o debate sobre universalismo e

relativismo cultural, a partir da transformação cosmopolita dos direitos humanos. Na medida em que

todas as culturas possuem concepções distintas de dignidade humana, mas são incompletas, haver-

se-ia que aumentar a consciência dessas incompletudes culturais mútuas, como pressuposto para

um diálogo intercultural. A construção de uma concepção multicultural dos direitos humanos

decorreria desse diálogo intercultural.

No mesmo sentido, Joaquín Herrera Flores sustenta um universalismo de confluência, ou

seja, um universalismo de ponto de chegada e não de ponto de partida. Em suas palavras: “nossa

visão complexa dos direitos baseia-se em uma racionalidade de resistência. Uma racionalidade que

não nega que é possível chegar a uma síntese universal das diferentes opções relativas a direitos. (...)

O que negamos é considerar o universal como um ponto de partida ou um campo de desencontros.

Ao universal há que se chegar — universalismo de chegada ou de confluência — depois (não antes

de) um processo conflitivo, discursivo de diálogo (...). Falamos de entrecruzamento e não de uma

mera superposição de propostas”.

Em direção similar, Bhikhu Parekh defende um universalismo pluralista, não etnocêntrico,

baseado no diálogo intercultural. Afirma o autor: “O objetivo de um diálogo intercultural é alcançar

um catálogo de valores que tenha a concordância de todos os participantes. A preocupação não deve

ser descobrir valores, uma vez que os mesmos não têm fundamento objetivo, mas sim buscar um

consenso em torno deles (...) valores dependem de decisão coletiva. Como não podem ser

racionalmente demonstrados, devem ser objeto de um consenso racionalmente defensável (...). É

possível e necessário desenvolver um catálogo de valores universais não etnocêntricos, por meio de

um diálogo intercultural aberto, no qual os participantes decidam quais os valores a serem

respeitados. (...) Essa posição poderia ser classificada como um universalismo pluralista”.

A respeito do diálogo entre as culturas, merecem menção as reflexões de Amartya Sen sobre

direitos humanos e valores asiáticos, particularmente pela crítica feita a interpretações autoritárias
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desses valores e pela defesa de que as culturas asiáticas (com destaque ao Budismo) enfatizam a

importância da liberdade e da tolerância. Menção também há que ser feita às reflexões de Abdullah

Ahmed An-na’im, ao tratar dos direitos humanos no mundo islâmico com base em uma nova

interpretação do islamismo e da sharia.

Acredita-se, de igual modo, que a abertura do diálogo entre as culturas, com respeito à

diversidade e com base no reconhecimento do outro, como ser pleno de dignidade e direitos, é

condição para a celebração de uma cultura dos direitos humanos, inspirada pela observância do

“mínimo ético irredutível”, alcançado por um universalismo de confluência. Para tanto, essencial é o

potencial emancipatório e transformador do diálogo, em que o vértice não seja mais marcado pela

ideia do choque entre civilizações (“clashof civilizations”), mas pela ideia do diálogo entre civilizações

(“dialogue Among civilizations”).

5.3 Limitabilidade

Os direitos fundamentais não são absolutos: isso quer dizer que, por vezes, dois direitos

fundamentais podem chocar-se. Chama-se conflito positivo. São várias as escolas doutrinárias de

interpretação.

Apesar dessa limitabilidade inerente a natureza dos direitos humanos, a doutrina sustenta

que a vedação à tortura e ao racismo são proteções absolutas.

No Brasil, é possível limitar o direito de reunião nos casos de estado de defesa e de estado de

sítio (arts. 136 e 139 da CF/88, respectivamente).

Sobre o tema, importante é a Súmula 683 do STF: "O limite de idade para a inscrição em concurso

público só se legitima em face do art. 7°, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela

natureza das atribuições do cargo a ser preenchido".

5.4 Irrenunciabilidade

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Diferentemente do que ocorre com os direitos subjetivos em geral, os direitos humanos têm

como característica básica a irrenunciabilidade, que se traduz na ideia de que a autorização de seu

titular não justifica ou convalida qualquer violação do seu conteúdo.

Obs: O STF admite, excepcionalmente, a renúncia temporária de direitos que não atingem/ferem

a dignidade da pessoa humana de forma flagrante.

5.5 Inalienabilidade

Os direitos humanos são inalienáveis, na medida em que não permitem a sua desinvestidura

por parte do titular, não podendo ser transferidos ou cedidos (onerosa ou gratuitamente) a outrem,

ainda que com o consentimento do agente. Por isso, são indisponíveis e inegociáveis.

5.6 Imprescritibilidade

São os direitos humanos imprescritíveis, não se esgotando com o passar do tempo e podendo

ser a qualquer tempo vindicados, não se justificando a perda do seu exercício pelo advento da

prescrição.

Em outras palavras, os direitos humanos não se perdem ou divagam no tempo, salvo as

limitações expressamente impostas por tratados internacionais que preveem procedimentos perante

cortes ou instâncias internacionais.

5.7 Vedação ao retrocesso

Os direitos humanos devem sempre (e cada vez mais) agregar algo de novo e melhor ao ser

humano, não podendo o Estado proteger menos do que já protegia anteriormente. Ou seja, os

Estados estão proibidos de retroceder em matéria de proteção dos direitos humanos. Assim, se uma

norma posterior revoga ou nulifica uma norma anterior mais benéfica, essa norma posterior é inválida

por violar o princípio internacional da vedação do retrocesso (igualmente conhecido como princípio

da “proibição de regresso”, do “não retorno” ou “efeito cliquet”).


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Os tratados internacionais de direitos humanos, da mesma forma que as leis internas, também

não podem impor restrições que diminuam ou nulifiquem direitos já anteriormente assegurados,

tanto no plano interno quanto na própria órbita internacional. Nesse sentido, vários tratados de

direitos humanos já contêm cláusulas a prever que nenhuma de suas disposições “pode ser

interpretada no sentido de limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade que possam

ser reconhecidos em virtude de leis de qualquer dos Estados-partes ou em virtude de Convenções

em que seja parte um dos referidos Estados”, tal como faz o art. 29, “b”, da Convenção Americana

sobre Direitos Humanos de 1969.

Destaque-se que há várias manifestações no STF sobre esse princípio, especialmente do Min.

Celso de Mello, para quem “o princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos

fundamentais de caráter social, que sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão

ou pela formação social em que ele vive” (STF, ARE n.º 639.337 AgR/SP, 2.ª Turma, Rel. Min. Celso

de Mello, j. 23.08.2011, DJe 15.09.2011.).

“EFEITO CLIQUET” OU Consiste na vedação da eliminação da concretização já alcançada na

PRINCÍPIO DO NÃO proteção de algum direito, admitindo-se somente aprimoramentos e

RETORNO DA acréscimos.

CONCRETIZAÇÃO

Consiste na preservação do mínimo já concretizado dos direitos

fundamentais, impedindo o retrocesso, que poderia ser realizado pela

ENTRECHMENT OU supressão normativa ou ainda pelo amesquiamento ou diminuição de

ENTRINCHEIRAMENTO suas prestações à coletividade.

Este é proibido por ofensa ao ato jurídico perfeito, à coisa julgada e ao

PROTEÇÃO CONTRA direito adquirido. Difere da vedação do retrocesso, que proíbe a

EFEITOS supressão ou diminuição da satisfação de um dos direitos humanos.

RETROATIVOS

1. Estado Democrático de Direito;

FUNDAMENTOS DA 2. Dignidade da pessoa humana;

CONSTITUIÇÃO
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BRASILEIRA PARA A 3. Aplicabilidade imediata das normas definidoras de direitos

PROIBIÇÃO AO fundamentais;

RETROCESSO 4. Proteção da confiança e segurança jurídica;

5. Cláusula pétrea prevista no art. 60, §4º, IV.

CONDIÇÕES PARA

QUE EVENTUAL 1. Que haja justificativa também de estatura jusfundamental;

DIMINUIÇÃO NA 2. Que tal diminuição supere o crivo da proporcionalidade;

PROTEÇÃO 3. Que seja preservado o núcleo essencial do direito envolvido.

NORMATIVA OU

FÁTICA DE UM

DIREITO SEJA

PERMITIDA

5.8 Essencialidade

Os direitos humanos são essenciais por natureza, tendo por conteúdo os valores supremos

do ser humano e a prevalência da dignidade humana (conteúdo material), revelando-se essenciais,

também, pela sua especial posição normativa (conteúdo formal), permitindo-se a revelação de outros

direitos fundamentais fora do rol de direitos expresso nos textos constitucionais.

5.9 Inerência

Os direitos humanos pertencem a todos os indivíduos pela simples circunstância de serem

pessoas humanas. Em suma, basta a condição de ser pessoa humana. É a qualidade de

pertencimento desses direitos a todos os membros da espécie humana, sem qualquer distinção.

Ou seja: Os direitos humanos são inerentes ou inatos (naturalmente ligados) aos seres

humanos.

Lembrando: A Edição da Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948: marco da

universalidade e inerência dos direitos humanos.

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5.10 Inter-relacionaridade

(Parágrafo 5 da Declaração e Programa de Ação de Viena de 1993): os direitos humanos e

os sistemas de proteção se inter-relacionam, possibilitando às pessoas escolher entre o mecanismo

de proteção global ou regional, pois não há hierarquia entre eles.

5.11 Interdependência

(Parágrafo 5 da Declaração e Programa de Ação de Viena de 1993): os direitos humanos

estão vinculados uns aos outros.

Características mais cobradas em concursos:

 Universalidade

 Indivisibilidade

 Interdependência

 Inter- relacionaridade

 Imprescritibilidade

 Historicidade

 Vedação do retrocesso (efeito vedação do regresso ou efeito cliquet ampliativo dos

direitos humanos)

 imutabilidade.

6. DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS

6.1 Introdução

Na atualidade, os doutrinadores mais requeridos em concursos públicos classificam os

direitos vinculados aos seres humanos da primeira à terceira geração. Há, porém, quem entenda

existir uma quarta e uma quinta geração de direitos.


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Cumpre destacar que se trata de uma divisão meramente acadêmica, pois os direitos dos

seres humanos não devem ser divididos em gerações ou dimensões estanques. Tais gerações apenas

retratam a valorização de determinados direitos em momentos históricos distintos.

No tocante à terminologia, preferível adotar a expressão “dimensões”, em detrimento da

expressão “gerações”, afastando a ideia de substituição de uns direitos por outros.

6.2 1ª Dimensão (liberdade)

Tem origem nas revoluções liberais, destacando-se os seguintes documentos:

• Magna Carta de 1215

• Bill of Rights

• Declaração do Bom Povo do Estado da Virgínia

• Habeas Corpus Act (1679)

• Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão

No Brasil:

• Constituição do Império (1824)

• Constituição da República (1891

São os direitos e garantias individuais e políticos clássicos que tem no indivíduo o centro de

proteção (liberdades públicas: direito à vida, à liberdade, à expressão e à locomoção).

Representam um limite na atuação do Estado, ou seja: não mate, não prenda, entre outras

atividades constritivas.

6.3 2ª Dimensão (igualdade)

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São os direitos sociais, económicos e culturais que valorizam grupos de indivíduos, tais como

os trabalhadores e aposentados (direito ao trabalho, ao seguro social, à subsistência, amparo à

doença, à velhice, entre outros).

Espera-se, em regra, uma ação positiva por parte do Estado viabilizando tais direitos. Surgem

em virtude dos excessos da revolução industrial, que consistiu em um conjunto de mudanças

tecnológicas com profundo impacto no processo produtivo em nível económico e social. Iniciada na

Inglaterra, em meados do século XVIII, expandiu-se pelo mundo a partir do século XIX. Além disso,

houve a omissão do Estado liberal, ou seja, o Estado interfere de modo mínimo na sociedade.

Destacam-se:

• Constituição Mexicana de 1917

• Declaração Russa dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado de 1918

• Constituição Alemã de 1919 (Weimar)

• Criação da Organização Internacional do Trabalho (1919)

• Tratado de Versalhes

Apesar dos direitos sociais possuírem, em regra, uma natureza positiva, alguns direitos sociais

possuem natureza negativa, como o direito de greve. Portanto, cuidado na prova.

6.4 3ª Dimensão (fraternidade)

São conhecidos por direitos de fraternidade ou solidariedade e abrangem a paz universal, um

meio ambiente equilibrado, entre outros direitos difusos. Desse modo busca-se proteger um número

indeterminado e indeterminável de pessoas.

São enfatizados após a Segunda Guerra Mundial, principalmente com a criação da

Organização das Nações Unidas (1945) e a internacionalização dos direitos humanos.

Esquematizando:

✓ 1945 – Fim da II guerra mundial e criação da ONU;


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✓ Direitos Transindividuais;

✓ Direitos Difusos e coletivos;

✓ Universalidade dos Direitos humanos oponíveis a todos.

6.5 4ª Dimensão (solidariedade)

Por sua vez, a quarta geração de direitos humanos resulta da globalização dos direitos

fundamentais, de sua expansão e de sua abertura além fronteiras.

Segundo Bonavides, seriam exemplos dos direitos de quarta geração:

• Direito à democracia (no caso, a democracia direta);

• Direito à informação;

• Direito do pluralismo, deles dependendo a concretização da sociedade aberta do

futuro, em sua dimensão de máxima universalidade, para a qual parece o mundo

inclinar-se no plano de todas as relações de convivência (Mazzuoli, 2018).

6.6 5ª Dimensão (esperança)

Por fim, atualmente já se fala numa quinta geração de direitos humanos, fundada na

concepção da paz no âmbito da normatividade jurídica, a qual configura “um dos mais notáveis

progressos já alcançados pela teoria dos direitos fundamentais”.

Em estudo sobre o tema, Bonavides critica Vasak por ter inserido o direito à paz no rol dos

direitos da terceira geração (fraternidade), o fazendo, segundo a crítica, de modo incompleto e

lacunoso, além do que Vasak não teria desenvolvido as razões que a elevam à categoria de norma,

motivo pelo qual tal direito caiu “em um esquecimento injusto por obra talvez da menção ligeira,

superficial, um tanto vaga, perdida entre os direitos da terceira dimensão”.

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A ideia a ser seguida, segundo Bonavides, seria trasladar a paz das regiões da metafísica, da

utopia e dos sonhos para a esfera da positividade jurídica, inserindo-a em norma “do novo direito

constitucional que ora se desenha: o direito constitucional do gênero humano”.

Daí, em suma, o direito à paz representar nova geração (dimensão) dos direitos humanos

a envolver todas as dimensões anteriores, coroando o espírito de concórdia necessário ao porvir da

humanidade e ao futuro do planeta.

Assim, como exemplos de Direitos de 5ª Geração, teríamos:

• Direito à paz;

• Segurança Internacional.

6.7 Quadro sinóptico – Segundo Paulo Bonavides

7. APLICABILIDADE DAS NORMAS SOBRE DIREITOS HUMANOS

a) Direitos civis e políticos: aplicabilidade imediata.

b) Direitos econômicos, sociais e culturais: realização progressiva.


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c) Soft law: expressão utilizada no âmbito do Direito Internacional Público para se referir a

textos desprovidos de caráter vinculante aos Estados signatários (não criam obrigações

jurídicas). Regra geral, textos de soft law são denominados “declarações” ou

“recomendações”.

8. INTERPRETAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

8.1 Aspectos gerais

Todas as normas em vigor no Estado, sejam internas ou internacionais, devem ser

interpretadas “conforme” os direitos humanos, sem qualquer exceção. Assim, v.g., quer seja a

Constituição do Estado (norma interna) ou um tratado internacional de comércio (norma

internacional) em vigor nesse mesmo Estado, ambas as normas devem ser interpretadas

“conforme” as diretrizes dos direitos humanos contemporâneos previstas em tratados ou em

costumes internacionais, a fim de encontrar a melhor solução para o direito da pessoa em um dado

caso concreto (Mazzuoli, 2018).

Nesse sentido, a interpretação conforme os direitos humanos, consiste na escolha, pelo

intérprete, quando a norma impugnada admite várias interpretações possíveis, de uma que a

compatibilize com os direitos humanos. Com base nessa interpretação, os direitos humanos influem

em todo o Direito e nos atos dos agentes públicos e privados, concretizando seu efeito irradiante

que os transformam no centro dos valores de um ordenamento.

A interpretação, conforme os direitos humanos, é complexa, fruto da interdependência e

indivisibilidade dos direitos humanos, já que a compreensão e aplicação de uma norma de direitos

humanos são feitas levando-se em consideração os demais direitos atingidos. Por isso, os direitos

humanos são direitos prima facie, isto é, asseguram em um primeiro momento posições jurídicas

que, posteriormente, podem sofrer restrições pela incidência de direitos titularizados por outros

indivíduos (Ramos, 2017).

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As regras tradicionais de interpretação são insuficientes no campo dos direitos humanos, já

que as normas nesta matéria são redigidas de forma aberta, repletas de conceitos indeterminados e

interdependentes e com riscos de colisão. Consequentemente, a interpretação é indispensável para

que se possa precisar e delimitar os direitos humanos. As razões para a importância da interpretação

dos direitos humanos, segundo ACR, são as seguintes:

1) Superioridade normativa, pois não há outras normas superiores às quais pode o intérprete

buscar auxílio;

2) Força expansiva, que acarreta a jusfundamentalização do Direito, fazendo com que todas

as facetas da vida social sejam atingidas pelos direitos humanos.

A função da interpretação é concretizar os direitos humanos por meio de procedimento

fundamentado, com argumentos racionais e embasados, que poderá ser coerentemente repetido

em situações idênticas, gerando previsibilidade jurídica e evitando o arbítrio e decisionismo do

intérprete-juiz. A estrutura principiológica dos direitos humanos gera vários resultados possíveis em

temas com valores morais contrastantes. Não há certo ou errado: chega-se a uma conclusão que

deve atender a uma “reserva de consistência” em sentido amplo (Peter Häberle).

Aplicada à seara dos direitos humanos, a reserva de consistência em sentido amplo exige que

a interpretação seja:

1) transparente e sincera, evitando a adoção de uma decisão prévia e o uso da retórica da

“dignidade humana” como mera forma de justificação da decisão já tomada;

2) abrangente e plural, não excluindo nenhum dado empírico ou saberes não jurídicos,

tornando indispensável a participação de terceiros, como amicus curiae;

3) consistente em sentido estrito, mostrando que os resultados práticos da decisão são

compatíveis com os dados empíricos apreciados e com o texto normativo original;

4) coerente, podendo ser aplicada a outros temas similares, evitando as contradições que

levam à insegurança jurídica.

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A adoção de um modelo aberto de processo de interpretação jusfundamental permite que os

julgadores possam ter mais elementos para a tomada de decisão.

8.2 Métodos para interpretação dos direitos humanos

Em relação à interpretação dos Direitos Humanos, podemos citar alguns importantes

métodos bastante utilizados:

a) Princípio/critério da máxima efetividade;

b) Interpretação pro homine;

c) Primazia da norma mais favorável.

a) Critério da Máxima Efetividade

O critério da máxima efetividade exige que a interpretação de determinado direito conduza

ao maior proveito do seu titular, com o menor sacrifício imposto aos titulares dos demais direitos em

colisão. Implica a aplicabilidade direta, pela qual os direitos humanos previstos na Constituição e

nos tratados podem incidir diretamente aos casos concretos, bem como conduz à aplicabilidade

imediata, que prevê que os direitos humanos incidem nos casos concretos, sem qualquer lapso

temporal.

b) Interpretação Pro Homine

A interpretação pro homine exige que, diante de um conflito entre normas ou entre

interpretações da norma, a interpretação dos direitos humanos seja sempre aquela mais favorável

ao indivíduo. Implica em reconhecer a superioridade das normas de direitos humanos, exigindo, no

caso concreto, a aplicação da norma que dê posição mais favorável ao indivíduo.

c) Princípio da Prevalência da Norma Mais Favorável

O princípio da prevalência da norma mais favorável ao indivíduo defende a escolha, no caso

de conflito de normas (nacionais ou internacionais), daquela que seja mais benéfica ao indivíduo. Não

importa a origem, mas sim o resultado: benefício ao indivíduo. O princípio sofre desgaste profundo
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pelo reconhecimento da existência da interdependência e colisão aparente entre os direitos, o que

faz ser impossível a adoção desse critério no ambiente do século XXI no qual há vários direitos (de

titulares distintos) em colisão.

Os três métodos são encontrados em várias decisões judiciais, inclusive no Supremo Tribunal

Federal. Para o Min. Celso de Mello:

Os magistrados e Tribunais, no exercício de sua atividade interpretativa,

especialmente no âmbito dos tratados internacionais de direitos humanos,

devem observar um princípio hermenêutico básico (tal como aquele

proclamado no art. 29 da Convenção Americana de Direitos Humanos),

consistente em atribuir primazia à norma que se revele mais favorável à

pessoa humana, em ordem a dispensar-lhe a mais ampla proteção jurídica. O

Poder Judiciário, nesse processo hermenêutico que prestigia o critério da

norma mais favorável (que tanto pode ser aquela prevista no tratado

internacional como a que se acha positivada no próprio direito interno do

Estado), deverá extrair a máxima eficácia das declarações internacionais e

das proclamações constitucionais de direitos, como forma de viabilizar o

acesso dos indivíduos e dos grupos sociais, notadamente os mais

vulneráveis, a sistemas institucionalizados de proteção aos direitos

fundamentais da pessoa humana, sob pena de a liberdade, a tolerância e o

respeito à alteridade humana tornarem-se palavras vãs. Aplicação, ao caso,

do art. 7º, n. 7, c/c o art. 29, ambos da Convenção Americana de Direitos

Humanos (Pacto de São José da Costa Rica): um caso típico de primazia da

regra mais favorável à proteção efetiva do ser humano (HC 91.361, Rel.

Min. Celso de Mello, julgamento em 23-9-2008, Segunda Turma, DJE de

6-2- 2009).

8.3 Conflito entre direitos humanos

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A força expansiva dos direitos humanos consiste no fenômeno pelo qual os direitos humanos

contaminam as mais diversas facetas do ordenamento jurídico. Essa verdadeira

jusfundamentalização do direito, inclusive atingindo relações entre particulares (eficácia horizontal

de direitos humanos), gera conflito aparente entre direitos de titulares diversos, exigindo do

intérprete sólida argumentação jurídica sobre os motivos da prevalência de um direito em detrimento

de outro, em determinada situação.

Os direitos humanos encontram seus limites tanto na sua redação original quanto na interação

com os demais direitos. Não existem direitos absolutos, porque os direitos humanos convivem com

os demais direitos previstos na Constituição e nos tratados internacionais.

Podemos classificar a colisão de direitos em dois tipos diversos:

(1) Colisão de direitos (ou colisão de direitos em sentido estrito): é constatada quando o

exercício de um determinado direito prejudica o exercício de outro direito do mesmo titular ou

de titular diverso.

▪ Do ponto de vista subjetivo - essas colisões podem envolver direitos do mesmo titular ou de

titulares diferentes. Nos casos em que o titular dos direitos é a mesma pessoa, existe a

concorrência de direitos.

▪ Do ponto de vista objetivo - as colisões podem envolver direitos idênticos ou de diferentes

espécies.

(2) Colisão de direitos em sentido amplo - consiste no exercício de um direito que conflita ou

interfere no cumprimento de um dever de proteção de um direito qualquer por parte do

Estado.

Há duas teorias que buscam solucionar a colisão de direitos:

1. Teoria Interna
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Os conflitos são superados pela determinação do verdadeiro conteúdo dos direitos envolvidos. Trata-

se de fórmula de superação dos conflitos aparentes entre direitos humanos, mediante o uso da

interpretação sistemática e finalística, que determinaria o verdadeiro conteúdo dos direitos

envolvidos e a adequação desse conteúdo à situação fática analisada.

Para a teoria interna, há limites internos a todo direito, quer estejam traçados

expressamente no texto da norma (direito fundamental traz, em seu texto, a própria ressalva que o

excluí da aplicação no caso concreto), quer sejam imanentes ou inerentes a determinado direito, o

que faz com que não seja possível um direito colidir com outro (trata-se do poder do intérprete de

reconhecer qual é a estrutura e finalidades do uso de determinado direito, delimitando-o).

Desse modo, a teoria interna nega os conflitos entre direitos humanos: “o direito cessa onde

o abuso começa”.

Resultado do uso da teoria interna: ou a situação fática é albergada no âmbito de incidência

de um direito humano, ou não o é e consequentemente não há direito algum a ser invocado.

Crítica à teoria interna: dificuldade do intérprete em delimitar, racionalmente, o conteúdo dos

direitos em análise, tornando-se um critério arbitrário.

No STF, há precedentes nos quais está clara a ideia de combate às

pseudocolisões ou falsas colisões de direitos, como se vê na seguinte

decisão do Min. Gilmar Mendes: “Assinale-se que a ideia de conflito ou de

colisão de direitos individuais comporta temperamentos. É que nem tudo que

se pratica no suposto exercício de determinado direito encontra abrigo no seu

âmbito de proteção. Destarte, muitas questões tratadas como relações

conflituosas de direitos individuais configuram conflitos aparentes, uma vez

que as práticas controvertidas desbordam da proteção oferecida pelo direito

fundamental em que se pretende buscar abrigo” (Extradição n. 896, Rel. Min.

Carlos Velloso, decisão monocrática proferida pelo Min. Presidente Gilmar

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Mendes, julgamento em 11-7-2008, DJE de 5-8-2008, grifo não consta do

original). No caso Ellwanger no Supremo Tribunal Federal, apesar de muitos

votos terem feito referência à proporcionalidade (teoria externa, como será

visto abaixo), constou do acórdão passagem típica de uma teoria interna, ao

se defender que “O direito à livre expressão não pode abrigar, em sua

abrangência, manifestações de conteúdo imoral que implicam ilicitude penal.

(...) O preceito fundamental de liberdade de expressão não consagra o “direito

à incitação ao racismo”, dado que um direito individual não pode constituir-

se em salvaguarda de condutas ilícitas, como sucede com os delitos contra a

honra” (HC 82.424, Rel. p/ o ac. Min. Presidente Maurício Corrêa, julgamento

em 17-9-2003, Plenário, DJ de 19-3-2004).

2. Teoria Externa

Adota a separação entre conteúdo do direito e limites que lhe são impostos do exterior,

oriundos de outros direitos. Visa à superação dos conflitos entre direitos dividindo o processo de

interpretação em dois momentos:

a) Delimitação do direito prima facie envolvido (identificação sobre se o direito o direito

aparentemente incide sobre a situação fática);

b) Investigação sobre a existência de limites justificáveis impostos por outros direitos, de

modo a impedir que o direito aparente (ou prima facie) seja considerado um direito

definitivo.

A justificação se dá pelo critério da proporcionalidade, que é, portanto, a chave mestra da

teoria externa, pois garante racionalidade e controle da argumentação jurídica que será desenvolvida

para estabelecer os limites externos de um direito e afastá-lo da regência de determinada situação

fática. São nos casos difíceis (hard cases) que a insuficiência da teoria interna se apresenta. A

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adoção da teoria externa nestes casos resulta em maior transparência do raciocínio jurídico do

intérprete.

Crítica: inflação de conflitos sujeitos ao Poder Judiciário, resultando em aumento da

imprevisibilidade e insegurança jurídica sem maior controle da decisão (a depender da

ponderação), bem como maior déficit democrático, uma vez que o Poder Judiciário ditaria a última

interpretação.

A resposta à crítica reside no reconhecimento da inevitabilidade dos conflitos de direitos

humanos.

Vamos compreender um pouco mais sobre o princípio da proporcionalidade?

1. Conceito e Facetas da Proporcionalidade

O Princípio da proporcionalidade consiste na aferição da idoneidade, necessidade e equilíbrio

da intervenção estatal em determinado direito fundamental, e tem fundamento em diversos

dispositivos:

✓ Implícitos na CF/88, na visão da doutrina e dos precedentes do STF, embora não haja consenso;

✓ Estado Democrático de Direito;

✓ Devido processo legal;

✓ Dignidade humana e direitos fundamentais;

✓ Princípio da isonomia;

✓ Direitos e garantias decorrentes do regime e dos princípios da Constituição.

O princípio da proporcionalidade é utilizado em três situações típicas:

i) Existência de lei ou ato administrativo que, ao incidir sobre determinado direito, o

restrinja;

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ii) Existência de lei ou ato administrativo que, ao incidir sobre determinado direito, não o

proteja adequadamente;

iii) Existência de decisão judicial que, em conflito de direitos humanos, opta pela

prevalência de um direito, limitando outro.

Originalmente, a proporcionalidade foi utilizada para combater os excessos das restrições a

direitos, isto é, como instrumento de fiscalização da ação excessivamente limitadora dos atos

estatais, sendo considerado o “limite dos limites” ou proibição de excesso (Übermassverbot).

Contudo, atualmente, a proporcionalidade ganha a faceta de promoção de direitos, pela

qual são fiscalizados os atos estatais excessivamente insuficientes para promover um direito

(exemplo: direitos sociais), gerando a proibição de proteção suficiente (untermassberbot).

A proporcionalidade também ganha a faceta da ponderação em conflito de direitos, pela

qual é utilizada pelo intérprete para fazer prevalecer um direito, restringindo outro.

Como realçado pelo Min. Gilmar Mendes, em seu voto no Caso Ellwanger: “(...)

o princípio da proporcionalidade alcança as denominadas colisões de bens,

valores ou princípios constitucionais. Nesse contexto, as exigências do

princípio da proporcionalidade representam um método geral para a

solução de conflito” (Voto do Min. Gilmar Mendes, HC 82.424, Rel. p/ o ac.

Min. Presidente Maurício Corrêa, julgamento em 17-9-2003, Plenário, DJ de

19-3-2004).

Segundo (Ramos, 2017), é plenamente admissível a ponderação de 2º grau, uma vez que o

Poder Constituinte não consegue esgotar a regência expressa de todas as hipóteses de colisão entre

os direitos fundamentais. Apesar de, neste caso, a regra de colisão já ter sido previamente

estabelecida na Constituição (e o constituinte ter ponderado a limitação dos direitos em colisão),

submete-se essa regra a uma nova ponderação.


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2. Elementos da proporcionalidade:

1) Adequação das medidas estatais à realização dos fins propostos - examina-se se a

decisão normativa restritiva de um determinado direito fundamental resulta, em abstrato,

na realização do objetivo perseguido;

2) Necessidade das medidas - busca-se detectar se a decisão normativa é indispensável ou

se existe outra decisão passível de ser tomada que resulte na mesma finalidade almejada,

mas que seja menos maléfica ao direito em análise;

3) Proporcionalidade em sentido estrito - ponderação (ou equilíbrio) entre a finalidade

perseguida e os meios adotados para sua consecução, mediante avaliação da relação

custo-benefício da decisão normativa avaliada.

ATENÇÃO! PROIBIÇÃO DA PROTEÇÃO DEFICIENTE:

A proibição da proteção insuficiente é o sentido positivo do critério da proporcionalidade: o

critério não é apenas controle das restrições a direitos, mas também controle da promoção a direitos.

Decorre do reconhecimento dos deveres de proteção, fruto da dimensão objetiva dos direitos

humanos. A proibição da proteção insuficiente também utiliza os mesmos três elementos da

proporcionalidade.

3. Proporcionalidade e razoabilidade

Segundo as lições de (Ramos, 2017), o princípio da razoabilidade no campo dos direitos

humanos consiste na exigência de verificação da legitimidade dos fins perseguidos por uma lei ou

ato administrativo que regulamente ou restrinja o exercício desses direitos, além da compatibilidade

entre o meio empregado pela norma e os fins visados.

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A origem desse instituto é norte-americana, sendo extraído da cláusula do devido processo

legal. Conforme lição de Luís Roberto Barroso, o princípio do devido processo legal, nos Estados

Unidos, extrapolou o caráter estritamente processual (procedural due process), gerando uma

segunda faceta, de cunho substantivo (substantive due process), que se tornou fundamento do

princípio da razoabilidade das leis e atos administrativos. O princípio da razoabilidade estabelece o

controle do arbítrio dos Poderes Legislativo e Executivo e é “por seu intermédio que se procede ao

exame de razoabilidade (reasonableness) e de racionalidade (rationality) das normas jurídicas e dos

atos do Poder Público em geral”.

Em resumo, para Barroso, o “princípio da razoabilidade é um parâmetro de valoração dos

atos do Poder Público para aferir se eles estão informados pelo valor superior inerente a todo

ordenamento jurídico: a justiça” (Barroso, 2001).

A doutrina brasileira se divide em duas principais correntes:

• 1ª corrente - Há aqueles que defendem equivalência entre os conceitos de

proporcionalidade e razoabilidade, uma vez que ambos têm como fundamento o

chamado “devido processo legal substancial”, sendo institutos idênticos com

terminologia diferente apenas. Essa é a posição de vários precedentes do Supremo

Tribunal Federal, como se vê no seguinte trecho de acórdão do STF:

à luz do princípio da proporcionalidade ou da razoabilidade, se impõe evitar a

afronta à dignidade pessoal que, nas circunstâncias, a sua participação na

perícia substantivaria (HC 76.060, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento

em 313-1998, Primeira Turma, DJ de 15-5-1998).

• 2ª corrente: há aqueles que diferenciam razoabilidade e proporcionalidade, enfatizando

que a razoabilidade representa apenas um dos elementos do critério da proporcionalidade

(elemento adequação), sendo este mais amplo. Para Virgílio Afonso da Silva, a regra da

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proporcionalidade é mais ampla do que a regra da razoabilidade, pois não se esgota no

exame da compatibilidade entre meios e fins (adequação). (Silva, 2002)

4. Inconstitucionalidade e proporcionalidade

A análise da proporcionalidade de uma lei pode levar a conclusões precipitadas, visto que a

proporcionalidade é princípio constitucional implícito que decorre do devido processo legal. Ao

estudar o critério da proporcionalidade, há o risco de se considerar que a ofensa à proporcionalidade

gera, em si, a invalidade de determinada norma. Por exemplo, no plano da avaliação da

constitucionalidade de uma lei ou ato normativo, existiria o seguinte raciocínio: uma lei é

desproporcional e considerando que a proporcionalidade é cláusula implícita no devido processo

legal substancial (art. 5º, LIV), consequentemente a lei referida seria inconstitucional porque violou o

referido inciso LIV do art. 5º. (Ramos, 2017).

Ocorre que esse raciocínio impede que se perceba que a proporcionalidade é um critério,

mera ferramenta na aplicação das normas. Nessa linha e voltando ao exemplo anterior, veremos

que o raciocínio correto é diferente: a lei tratou de modo desproporcional determinado direito ou valor

constitucional; por violar esse direito específico (tratado de modo desproporcional) é que a referida

lei é inconstitucional.

A diferença é sutil e não afeta a conclusão (“a lei é inconstitucional”), mas há a grande

vantagem de se dar transparência e exigir do julgador que explicite qual é o direito que foi tratado de

modo desproporcional e porque esse tratamento previsto pela lei foi considerado desproporcional.

Tratar a proporcionalidade como um critério ou método de avaliação tem a imensa vantagem de

exigir dos julgadores uma exposição clara e consistente da argumentação jurídica que levou a

prevalência de um direito ou valor constitucional, não bastando afirmar que é “desproporcional” e por

isso inconstitucional por si só.

Essa discussão tem tido repercussão no STF, tendo o Min. Eros Grau sustentado: “Eu pediria

ao Tribunal que dissesse: há uma ofensa a tal ou qual preceito constitucional.

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Singelamente, sem explicitar que há uma ofensa ao tal princípio da proporcionalidade, que

nem é princípio; é uma pauta, é um método de avaliação da ofensa, ou não, da Constituição. (...) Nós

não estamos julgando segundo a proporcionalidade, mas eventualmente dizendo que, por não ser

proporcional em relação à liberdade, à afirmação da igualdade, por exemplo, julgamos

inconstitucional. Mas a inconstitucionalidade está referida não à proporcionalidade ou à

razoabilidade, porém a direito fundamental que tenha sido violado pelo texto” (passagem da

intervenção oral – sem direito a voto – do Min. Eros Grau na ADI 855, Rel. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes,

julgamento em 6-3-2008, Plenário, DJE de 27-3-2009).

Por fim, é possível notar que o STF adotou a Teoria Externa em vários precedentes, com o

intuito de solucionar choques de direito. Veja no voto do Min. Gilmar Mendes:

“Há referências na concepção constitucional presente, que prevê a ampla

defesa (art. 5º, LV, CF/1988), sopesada com a garantia de uma razoável

duração do processo (art. 5º, LXXVIII, redação da EC 45, de 8-12-2004). É

com base na ponderação entre os dois valores acima identificados que a

decisão de primeira instância admitia que uma mera cota de “apelo” seria

suficiente para devolver a Juízo superior a matéria discutida. A presunção não

se concretizou, na medida em que não se admitiu que a cota “apelo” fosse

suficiente para instrumentalizar as razões de recurso, em prejuízo da

autarquia, e da autoridade da decisão desafiada” (AI 529.733, voto do Rel.

Min. Gilmar Mendes, julgamento em 17-10-2006, Segunda Turma, DJ de 1º-

12-2006). Ou ainda no voto da Min. Cármen Lúcia, que “a ponderação dos

princípios constitucionais revelaria que as decisões que autorizaram a

importação de pneus usados ou remoldados teriam afrontado os preceitos

constitucionais da saúde e do meio ambiente ecologicamente equilibrado

e, especificamente, os princípios que se expressam nos arts. 170, I e VI, e

seu parágrafo único, 196 e 225, todos da CF” (ADPF 101, Rel. Min. Cármen

Lúcia, julgamento em 11-3-2009, Plenário, Informativo n. 538). Finalmente,

a Min. Ellen Gracie sustentou a legitimidade da imposição de condições

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judiciais (alternativas à prisão processual), uma vez que “não há direito

absoluto à liberdade de ir e vir (CF, art. 5º, XV) e, portanto, existem situações

em que se faz necessária a ponderação dos interesses em conflito na

apreciação do caso concreto” (HC 94.147, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento

em 27-5-2008, Segunda Turma, DJE de 13-6-2008).

9. EFICÁCIA DOS DIRETOS HUMANOS

A eficácia pode ser entendida como a qualidade ou capacidade da norma fundamental

produzir efeitos. A efetivação é a concretização da norma no meio social. A eficácia dos direitos

humanos, assim como dos direitos fundamentais, pode ser classificada, majoritariamente, em duas

espécies: vertical e horizontal.

A eficácia vertical indica que as normas fundamentais são destinadas ao Estado. Geram uma

relação jurídico-constitucional entre a pessoa física ou jurídica (sujeito de direito) e os poderes

Legislativo, Executivo e Judiciário, os quais estão vinculados ao respeito às normas constitucionais,

independentemente de regulamentação por norma infraconstitucional (é uma relação imperativa -

dever de obedecer).

A eficácia horizontal refere-se à aplicabilidade direta dos direitos fundamentais nas relações

privadas, (nas relações entre particulares as normas fundamentais também podem ser utilizadas para

a solução das lides). No caso concreto, deve-se realizar a ponderação de princípios fundamentais

para a concessão do direito, por exemplo, intimidade versus dano moral, entre outros.

Parte da doutrina sustenta ainda a existência de uma eficácia diagonal, que consistiria na

invocação de direitos nas relações entre os particulares nas quais uma das partes ostenta

vulnerabilidade, fazendo nascer uma prevalência de determinado direito de um particular sobre o

outro, por exemplo, nas relações envolvendo crianças, pessoas com deficiência, trabalhadores,

consumidores etc. A eficácia diagonal é um subtipo da eficácia horizontal, acrescida do peso maior

dado a um dos direitos em conflito.

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Vamos esquematizar?

EFICÁCIA VERTICAL EFICÁCIA HORIZONTAL EFICÁZIA DIAGONAL

A aplicação dos direitos A aplicação dos direitos Há hipossuficiência de uma

fundamentais às relações fundamentais às relações das partes. É uma relação

entre Estado e particulares, entre os próprios entre particulares onde não

a relação de subordinação particulares. há uma igualdade fática.

que o particular tem com o

Estado.

9.1 Eficácia dos direitos humanos nas relações entre particulares

Teorias:

• TEORIA DA CONVERGÊNCIA ESTATISTA: qualquer agressão a direitos fundamentais, mesmo

que no âmbito das relações privadas deve sempre ser respeitada pelo Estado.

• TEORIA DA STATE ACTION: não admite a aplicação dos Direitos Humanos nas relações entre

particulares (teoria da ineficácia dos Direitos Humanos entre particulares).

• TEORIA DA EFICÁCIA INDIRETA E MEDIATA: exige a necessidade de uma lei para que os

Direitos Humanos sejam aplicados na realização dos atos jurídicos entre pessoas e entes

privados.

• TEORIA DA EFICÁCIA DIRETA E IMEDIATA: os Direitos Humanos se aplicam obrigatoriamente

e diretamente na realização dos atos jurídicos entre pessoas e entes privados (adotada no Brasil).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Ramos, A. d. (2017). Curso de Direitos Humanos. São Paulo : Saraiva.

QUESTÕES PROPOSTAS

1 - MPT - 2020 - MPT - Procurador do Trabalho


Acerca da interpretação dos Direitos Humanos, assinale a alternativa INCORRETA:

A) Os Estados têm consciência que, em determinados casos, é impossível traduzir o teor da


norma internacional de maneira correta para outro idioma ou que acontecem falhas na tradução que
alteram o sentido do texto original aprovado. Por isso, os Estados Partes declaram o(s) idioma(s) que
reconhecem como vinculantes ou são textos autênticos. Logo, a versão em português que o
legislador brasileiro aprovou nem sempre pode ser utilizada, em âmbito internacional, como base
interpretativa.
B) Os termos dos tratados de Direitos Humanos devem ser interpretados de forma autônoma
quanto às definições feitas por instituições nacionais. Isso significa, por exemplo, que se o tratado
internacional traz o termo “propriedade”, a proteção dos Direitos Humanos no plano internacional
pode não seguir necessariamente a exegese interna a respeito do termo, dada pelo Estado Parte.
C) A metodologia geral da interpretação dos tratados internacionais é aplicável aos tratados de
Direitos Humanos e adota os seguintes critérios: a boa-fé como princípio geral da interpretação; o
teor (interpretação gramatical); o contexto (interpretação sistemática); e o objetivo e a finalidade
(interpretação teleológica).
D) O princípio da efetividade diz que o conteúdo das normas “abertas” dos tratados de Direitos
Humanos deve ser concretizado pelos Estados Partes, não obstante cada aplicador legal, de acordo
com a realidade interna, goze naturalmente da prerrogativa de ponderar, entre duas ou mais opções
de interpretações possíveis, qual o grau a ser nacionalmente adotado para a promoção prática dos
Direitos Humanos no momento da aplicação, legando, nesse contexto, interpretação mais ampliativa
ou mais restritiva.

COMENTÁRIOS
A, B, C, D e E- A interpretação de um direito deve ser feita de modo a assegurar o maior proveito
ao seu titular, impondo o menor sacrifício possível aos titulares dos outros direitos em colisão
(Ramos). Veja o que afirmou o STF, quando do julgamento do RE n. 466.343:

“O Poder Judiciário, nesse processo hermenêutico que prestigia o critério da norma mais
favorável (que tanto pode ser aquela prevista no tratado internacional como a que se acha
positivada no próprio direito interno do Estado), deverá extrair a máxima eficácia das declarações
internacionais e das proclamações constitucionais de direitos, como forma de viabilizar o acesso
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dos indivíduos e dos grupos sociais, notadamente os mais vulneráveis, a sistemas


institucionalizados de proteção aos direitos fundamentais da pessoa humana [...]”.

Portanto, é errado afirmar que a interpretação poderá ser mais restritiva.

LETRA D

2. PGR - 2022 - PGR - Procurador da República


EM RELAÇÃO À TEORIA DAS GERAÇÕES DOS DIREITOS HUMANOS, É CORRETO AFIRMAR
QUE:

A) Os chamados direitos sociais, entre os quais o direito à educação, previdência e saúde, são
considerados direitos humanos de primeira geração.
B) Atualmente acha-se descartada a possibilidade de falar-se em direitos humanos de quarta
geração, diante da teoria da inexauribilidade dos direitos humanos.
C) Os direitos humanos de terceira geração, tipicamente de titularidade coletiva, são também
denominados direitos de solidariedade.
D) A teoria geracional dos direitos humanos não encontra guarida na jurisprudência dos Tribunais
Superiores.

COMENTÁRIOS
A, B, C, D e E- Terceira geração: são os direitos que não protegem interesses individuais, mas que
transcendem a órbita dos indivíduos para alcançar a coletividade (direitos transindividuais ou
supraindividuais). Os direitos de terceira geração têm como valor-fonte a solidariedade,
a fraternidade. São os direitos difusos e os coletivos.

LETRA C

3. CESPE / CEBRASPE - 2022 - MPE-SE - Promotor de Justiça Substituto


No que concerne ao caso Favela Nova Brasília, ao dever de respeitar e garantir os direitos humanos
e ao Ministério Público, assinale a opção correta.

A) O dever de proteção (respect) e garantia (assure to respect) foi consagrado pioneiramente na


Corte Interamericana de Direitos Humanos a partir do caso Velásquez Rodriguez versus Honduras.
B) Segundo a Corte Interamericana de Direitos Humanos, as expressões “autos de resistência” e
“resistência seguida de morte” devem ser empregadas pelos agentes policiais para permitir o
controle externo do Ministério Público em relação a suas atividades.
C) Sendo entendimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, é possível a polícia civil
investigar crimes praticados por seus agentes, desde que o faça por meio das suas corregedorias.
D) As medidas para assegurar o gozo e exercício dos direitos são denominadas negativas e podem
ser classificadas em gerais (as destinadas à população em geral) e especiais (as destinadas a grupos
e pessoas em situação de vulnerabilidade).
E) A compreensão atual da Corte Interamericana de Direitos Humanos em relação ao dever de
proteção e garantia leva em conta a violação autônoma da cláusula.
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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITOS HUMANOS – META 02

COMENTÁRIOS
A- Velásquez vs Honduras é o célebre caso que versou sobre o dever de proteção e garantia.

B- a Corte determinou que "o conceito de “oposição” ou “resistência” à atuação policial deve ser
abolido.

C- Em verdade, no Caso Favela Nova Brasília vs Brasil, a Corte registrou que a polícia civil não deve
investigar crimes prarticados pelos seus agentes.

D- Essas medidas são dúplices: negativas E positivas. Pois, além da vertente negativa (não fazer),
o Estado deve promover medidas positivas (de fazer) para garanti-las.

E- Não é autônoma.

LETRA A

4- CESPE / CEBRASPE - 2022 - MPE-SE - Promotor de Justiça Substituto


No que se refere ao caso Povo Indígena Xucuru e seus Membros, assinale a opção correta.

A) A decisão foi contrária à adoção do instituto do indigenato, utilizando-se como parâmetro a teoria
do marco temporal, observando-se, assim, a reserva feita pelo Brasil para aderir à Convenção
Americana de Direitos Humanos.
B) Na fundamentação da sentença, não foram consideradas a Convenção n.º 169 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) nem a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos
Indígenas.
C) Na decisão, foi reconhecida a propriedade individual dos territórios indígenas, de acordo com a
Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica).
D) A propriedade coletiva é reconhecida pelo sistema interamericano para as comunidades negras
tradicionais (quilombolas), mas não para os indígenas.
E) O sistema interamericano interpretou, de forma extensiva, o direito de propriedade em relação aos
povos indígenas, levando em consideração, entre outras características, a imemorialidade.

COMENTÁRIOS
A, B, C, D e E- Sobre a imemorialidade:
Interpretação extensiva do art. 21 da CADH e reconhecimento da relação imemorial das
comunidades indígenas e seus territórios:

“Entre os povos indígenas e tribais existe uma tradição comunitária sobre uma forma comunal da
propriedade coletiva da terra, no sentido de que a posse desta não se centra em um indivíduo,
mas no grupo e sua comunidade. Essas noções de domínio e da posse sobre as terras não
necessariamente correspondem à concepção clássica de propriedade, mas a Corte estabeleceu
que merecem igual proteção do art. 21 da CADH. (...) Ao se desconhecer o direito ancestral dos
membros das comunidades indígenas sobre seus territórios, se poderia afetar outros direitos

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PRÉ-EDITAL AFT
DIREITOS HUMANOS – META 02

básicos, como o direito à identidade cultural e à própria sobrevivência das comunidades indígenas
e seus membros”.

LETRA E

5- CESPE / CEBRASPE - 2022 - TJ-MA - Juiz Substituto de Entrância Inicial


Os direitos sociais expressamente previstos na Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948)
incluem

I a organização sindical.
II férias remuneradas periódicas.
III proteção em face da automação.
IV limitação razoável das horas de trabalho.
V proteção contra o desemprego.

Estão certos apenas os itens

A) I, III e IV.
B) II e III.
C) III, IV e V.
D) I, II, III e V.
E) I, II, IV e V.

COMENTÁRIOS
A, B, C, D e E- DUDH, Artigo 23

1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e
favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.

4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus
interesses.

Artigo 24

Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de
trabalho e a férias remuneradas periódicas.

A proteção contra a automação encontra guarida apenas na CF/88, no art. 7°, XXVII.

LETRA E

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