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CURSO PARA A PROVA OBJETIVA

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DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS
MATERIAL COMPLEMENTAR

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DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

1. BREVE HISTÓRICO DAS AÇÕES COLETIVAS

As ações coletivas ingressaram no sistema processual brasileiro com a promul-


gação da Lei da Ação Popular (Lei 4.717/65), tendo sido o primeiro instrumento sistemático
voltado à tutela de alguns interesses coletivos em Juízo.

Duas grandes alterações se verificaram no sistema processual: a) a legitimação


ativa, porquanto o art. 1º legitimou o cidadão a defender, em nome próprio, os direitos de
toda coletividade, por meio de substituição processual; b) a coisa julgada, que foi ampliada,
pelo art. 18, que lhe atribuiu efeito erga omnes. Por outro lado, julgada improcedente por
deficiência ou insuficiência de provas, qualquer cidadão poderia propor novamente a ação,
desde que com fundamento em prova nova, caracterizando o que ficou conhecido por coisa
julgada secuncum eventum probationis.

Posteriormente, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), trou-


xe a previsão de responsabilidade civil dos agentes poluidores do meio ambiente, atribuin-
do ao Ministério Público a legitimidade para postular a ação em defesa do meio ambiente
(art. 14§ 1º).

Todavia, foi com a Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/85) que a tutela dos direitos
coletivos passou a ser difundida e ter sua importância reconhecida, incorporando ao orde-
namento jurídico institutos processuais coletivos, conforme veremos adiante, que começa-
ram a propiciar uma tutela efetiva.

Por último, o Código de Defesa do Consumidor trouxe novas regras, específicas


e inovadoras para a tramitação dos processos coletivos, alterando profundamente a Lei de
Ação Civil Pública e criando, efetivamente, um microssistema de tutela coletiva.

A doutrina identifica três fases evolutivas da tutela coletiva: 1) Primeira fase ou


“fase da absoluta predominância individualista da tutela jurídica”, em que os interesses
da coletividade eram visualizados apenas no direito penal e no direito administrativo; 2)
Segunda fase ou “fase da proteção fragmentária dos direitos transindividuais” ou “fase da
proteção taxativa dos direitos coletivos”, em que passaram a ser tutelados apenas algumas
espécies de direitos coletivos, como por exemplo o patrimônio público, pela Lei de Ação
Popular e a responsabilização por dano ambiental, pela Lei de Política Nacional do Meio
Ambiente; 3) Terceira fase ou “fase da tutela jurídica integral, irrestrita e ampla” ou “fase da
tutela jurídica coletiva holística”, havendo a possibilidade de defesa de qualquer interesse
ou direito transindividual processualmente.
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2. DEFINIÇÕES E TERMINOLOGIAS.

2.1. Interesses transindividuais: objeto do direito coletivo.

Tais interesses são denominados trasindividuais, supraindividuais ou metaindi-


viduais por pertencerem a grupos, classes ou categorias mais ou menos extensas de pes-
soas, por vezes indetermináveis, e, em alguns casos, não serem passíveis de apropriação e
disposição individual, dada a sua indivisibilidade.

2.1.1. Interesses difusos - art. 81, I, do CDC

*Características:

a) Indivisibilidade do objeto: a ameaça ou lesão ao direito de um de seus titulares


configura igual ofensa ao direito de todos os demais, e o afastamento da ameaça ou a repa-
ração do dano causado a um dos titulares beneficia igualmente e a um só tempo todos os
demais titulares;

b) Situação de fato em comum: seus titulares estão agregados em função de uma


situação fática homogênea;

c) Indeterminabilidade dos titulares: seus titulares são indeterminados e indeter-


mináveis, entre os quais inexiste vínculo jurídico ou fático preciso.

2.1.2. Interesses coletivos em sentido estrito – art. 81, II, do CDC

*Características:

a) Indivisibilidade do objeto;

b) Relação jurídica em comum: seus titulares têm em comum uma relação jurídi-
ca que os une entre si, ou que une cada um deles com a parte contrária. Importante ressaltar
que tal relação é preexistente à relação jurídica que surge após a lesão ou ameaça de lesão
ao interesse comum.

c) Determinabilidade dos titulares: em razão da relação jurídica existente entre os


titulares do direito coletivo, ou deles com a parte contrária, é possível determiná-los, identi-
ficá-los.

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2.1.3. Interesses individuais homogêneos – art. 81, III, do CDC

*Características:

a) Divisibilidade do objeto: a lesão sofrida por cada titular pode ser reparada na
proporção da respectiva ofensa;

b) Origem comum (situação fática ou jurídica comum): essa comunhão de origem


não significa que os direitos tenham se originado de um único fato, ocorrido ao mesmo tem-
po e no mesmo lugar.

c) Determinabilidade dos titulares: pois tratam-se de direitos subjetivos indivi-


duais.

d) Recomendabilidade de tratamento conjunto em razão da utilidade coletiva


dessa tutela.

Como forma de facilitar a diferenciação, destaca-se quadro sinótico elaborado


pelo Professor Mazzilli:

Interesses Grupo Objeto Origem


Difusos indeterminável indivisível Situação de fato
Coletivos determinável indivisível Relação jurídica
Ind. homog determinável divisível Origem comum

2.2. Tutela coletiva de direitos X Tutela de direitos coletivos: a questão sobre a abrangên-
cia do gênero dos direitos coletivos em sentido amplo.

Teori Zavascki diferenciava a tutela de direitos coletivos da tutela coletiva de di-


reitos. Aquela se refere à tutela dos direitos difusos e coletivos, e esta, dos direitos indi-
viduais homogêneos. O jurista não admite que os direitos individuais homogêneos sejam
espécie de direito coletivo lato sensu, gênero que, em sua opinião, só engloba os direitos
difusos e os direitos coletivos em sentido estrito.

Mazilli, por sua vez, partindo da premissa de que, do ponto de vista processual,
a principal característica dos interesses transindividuais é a possibilidade de que o acesso
individual dos lesados à Justiça seja substituído por um acesso coletivo, considera que, em
sentido lato, os direitos individuais homogêneos não deixam de ser também interesses co-
letivos.

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2.3. Interesses essencialmente coletivos X interesses acidentalmente coletivos.

Tendo em vista a semelhança entre os interesses difusos e coletivos em sentido


estrito (principalmente por força da indivisibilidade do objeto), alguns autores os denomi-
nam interesses essencialmente coletivos por apresentarem uma transindividualidade real
(material).

Por outro lado, os interesses individuais homogêneos apresentam uma transin-


dividualidade meramente formal, razão pela qual são denominados interesses acidental-
mente coletivos.
Obs: Classificação do Processo Coletivo

A doutrina classifica o processo coletivo:

a) quanto ao sujeito:
a.1) Processo coletivo ativo: aquele em que a coletividade é parte autora;
a.2) Processo coletivo passivo: aqui a coletividade é parte ré. Há divergência dou-
trinária quanto a este ponto. A corrente minoritária defende a inexistência dessa possibili-
dade, diante ausência de previsão legal para tanto. Para a maioria da doutrina, é possível
o processo coletivo passivo a partir de uma interpretação do sistema coletivo. Para quem
defende esta corrente, cita como exemplo de legitimados passivos os sindicatos e as asso-
ciações.
a.2) Processo Coletivo ativo e passivo: neste caso, a coletividade está nos dois
pólos da ação.

b) quanto ao objeto:
b.1) Processo coletivo especial: trata-se das ações de controle abstrato de consti-
tucionalidade (ADPF, ADI, ADC).
b.2) Processo coletivo comum: são as ações que tem como objetivo a tutela dos
direito difusos, coletivos e individuais homogêneos não abarcadas pelo controle abstrato
de constitucionalidade, tais como ACP, Ação Popular, Ação de Improbidade Administrativa.

c) Ações Pseudo- Coletivas: são ações que apesar de ajuizadas como de caráter
coletivo, não possuem direitos metaindividuais como objeto, em verdade, o que se tem é
uma pluralidade de pretensões em uma mesma demanda.

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3. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

3.1. Princípios do Direito Processual Coletivo Comum.

3.1.1. Princípio do acesso à justiça.

Para viabilizar o efetivo acesso à justiça dos titulares de direitos transindividuais,


a relação processual foi sensivelmente modificada, sobretudo no tocante à legitimidade
ativa, admitindo-se que determinadas pessoas ou entes compareçam em juízo, em nome
próprio, na defesa de direito alheio (legitimação extraordinária).

3.1.2. Princípio da universalidade da jurisdição.

Trata-se de princípio diretamente relacionado com o postulado anterior, tendo


em vista a necessidade de ampliar o acesso à justiça à um número muito maior de pessoas
e de causas.

3.1.3. Princípios da participação no processo e pelo processo.

Participar no processo é ter assegurado o direito ao contraditório. Participar pelo


processo, consiste em utilizá-lo para influir nos destinos da nação e do Estado, ou seja, em-
pregá-lo com vistas ao seu escopo político.

No processo coletivo destaca-se sobremaneira a participação pelo processo, na


medida em que há ampliação de legitimados para a defesa de causas coletivas, inclusive
outorgando ao cidadão a legitimidade para fiscalizar a coisa pública.

3.1.4. Princípio da economia processual.

O processo coletivo potencializa o alcance desse princípio, eis que possibilita de-
cidir, num único processo, questões que, relegadas aos métodos convencionais, restariam
pulverizadas numa infinidade de ações individuais.

3.1.5. Princípio do interesse jurisdicional no conhecimento do mérito.

No âmbito do processo coletivo é ainda mais necessário o abandono do formalis-


mo excessivo, com vistas à pacificação social dos conflitos de massa, o que justifica a maior
contundência do princípio da instrumentalidade das formas.

Consigne-se que, dada a relevância atual desse princípio, o Anteprojeto do Códi-


go Brasileiro de Processos Coletivos arrola entre os princípios da tutela jurisdicional coleti-
va a “instrumentalidade das formas” e a “flexibilização da técnica processual”.
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3.1.6. Princípio da máxima prioridade jurisdicional da tutela coletiva.

Considerando que, em regra, o interesse social prevalece sobre os direitos indivi-


duais, a prioridade de julgamento dos feitos coletivos é recomendável para evitar a prolife-
ração dos processos individuais e, por conseguinte, a prolação de decisões contraditórias.

3.1.7. Princípio da disponibilidade motivada da ação coletiva (Princípio da indisponibilidade


mitigada)

Dada a relevância social dos interesses objeto das ações coletivas, delas não se
pode desistir sem um justo motivo, tampouco simplesmente abandoná-las. Por força deste
princípio, a desistência infundada ou o abandono da ação coletiva demandam a assunção
do polo ativo pelo Ministério Público ou por outro legitimado. É o que dispõe o art. 5º, § 3º,
da LACP e art. 9º, da LAP.

Isso ocorre pois o interesse público é indisponível. Assim, o o processo não per-
tence ao autor coletivo, mas à coletividade.

Por outro lado, sendo fundada a desistência, os juiz pode extinguir o processo
acolhendo os fundamentos.

3.1.8. Princípio da não taxatividade da ação coletiva.

É possível o manejo da ação civil pública para a defesa de qualquer interesse di-
fuso ou coletivo, bem como quaisquer espécies de direitos individuais homogêneos.

3.1.9. Princípio do máximo benefício da tutela jurisdicional coletiva comum.

O objetivo desse postulado é potencializar os efeitos benéficos da tutela jurisdi-


cional, a fim de que uma única sentença beneficie um número expressivo de interessados,
otimizando a pacificação dos conflitos sociais, e evitando a proliferação de demandas indi-
viduais na fase de conhecimento.

Tal princípio relaciona-se à extensão ou transporte in utilibus da coisa julgada


coletiva, assegurado pelo art. 103, § 3º, do CDC.

3.1.10. Princípio da máxima amplitude do processo coletivo.

Para a defesa de interesses coletivos em sentido amplo são cabíveis todas as es-
pécies de ações (conhecimento ou execução), procedimentos, provimentos (declaratório,
condenatório, constitutivo ou mandamental), e tutelas provisórias (cautelares, antecipadas
ou de evidência).
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3.1.11. Princípio da obrigatoriedade da execução coletiva pelo Ministério Público.

No processo coletivo comum, caso o autor deixe de executar a sentença, o Minis-


tério Público é obrigado a fazê-lo, tendo em vista a relevância social dos interesses objeto
das ações coletivas.

No caso da ação civil pública, tal obrigação só incide depois do trânsito em jul-
gado (LACP, art. 15). Já na hipótese de ação popular, a obrigação existirá tanto em relação
à execução definitiva (sentença transitada em julgado), como em relação à execução provi-
sória (com a ressalva de que, nas ações populares, apenas a sentença de segunda instância
é passível de execução provisória, conforme o art. 16 da LAP). Por analogia, tais regras apli-
cam-se também às sentenças homologatórias de acordos judiciais.

3.1.12. Princípio da ampla divulgação da demanda.

A divulgação da demanda coletiva deve ser suficientemente ampla para levar a


existência da ação ao conhecimento de todas as vítimas ou sucessores que poderiam ser
beneficiados pela eventual extensão da coisa julgada coletiva. Para tanto, a divulgação deve
ser suficientemente ampla a fim de levar a existência da ação coletiva ao conhecimento de
todas as vítimas ou sucessores que poderiam ser beneficiados a fim de que:

• aqueles que já propuseram suas ações individuais possam optar tempestiva-


mente por suspendê-las enquanto aguardam o desfecho da coletiva, (art. 104 do CDC) ou
desistir de suas ações individuais (art. 22, § 1.º do LMS); trata-se de condição para que pos-
sam beneficiar-se da eventual sentença coletiva favorável;

• aqueles que ainda não propuseram suas ações individuais possam optar por
aguardar o desfecho da ação coletiva.

3.1.13. Princípio da informação aos órgãos legitimados.

Qualquer pessoa pode – e o servidor público deve – levar ao conhecimento dos


órgãos legitimados para ajuizar uma ação coletiva a ocorrência de fatos que possam moti-
vá-la.

3.1.14. Princípio da maior coincidência entre o direito e sua realização.

Ante a indisponibilidade material ou processual dos direitos coletivos em sentido


amplo, este princípio preconiza a prioridade da tutela específica da obrigação em detrimen-
to de outras formas de reparação do direito lesado.

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3.1.15. Princípio da integração entre a LACP e o CDC.

A LACP e o CDC contemplam as normas processuais de caráter genérico do mi-


crossistema processual coletivo, razão pela qual suas disposições devem ser aplicadas de
forma integrada.

Obs: Tutela das ações coletivas

- Preventiva:
- Inibitória: o ilícito ainda não ocorreu e pretende-se com essa tutela que ele
não ocorra;
- De remoção do ilícito: o ato ilícito já ocorreu, mas o dano ainda ocorreu ou
ocorreu ainda sem intensidade, podendo ser evitado ou diminuído.

- Ressarcitória: nesta o ilícito e o dano já ocorreram. Esta desdobras-se em duas:


- Específica: o que e pretende é o cumprimento da obrigação específica, como
por exemplo o replantio de árvores já desmatadas;
- Genérica: quando não for possível o cumprimento da obrigação, esta será
convertida em perdas e danos. Aqui pode se falar em dano material ou dano moral coletivo.

3.2. Condições da ação.

3.2.1. Legitimidade ad causam.

3.2.1.1. Legitimidade ativa.

Consoante o disposto no artigo 5º da LACP, tem legitimidade para propor ação


civil pública:
I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de econo-
mia mista;
V - a associação que, concomitantemente:
• esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei ci-
vil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patri-
mônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem
econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étni-
cos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turís-
tico e paisagístico.
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Conclui-se, portanto, que o nosso sistema é misto ou pluralista, pois tanto entes
público quanto privados estão legitimados a agir na defesa de interesses coletivos em sen-
tido amplo.

Além disso, trata-se de legitimidade concorrente, porque não foi deferida exclu-
sivamente a determinado ente, e disjuntiva, pois a formação de litisconsórcio entre os legi-
timados é meramente facultativa.

3.2.1.1.2. Natureza jurídica.

De modo geral, entende-se que a legitimidade para a defesa de direitos difusos,


coletivos ou individuais homogêneos é extraordinária, na forma de substituição processual,
ressalvadas as associações que, segundo o STF, a partir da interpretação do artigo 5º, inciso
XXI da Constituição, atuam como representantes processuais de seus filiados (RE 193503).

No tocante ao ajuizamento de ações coletivas para a defesa de interesses difusos


e coletivos em sentido estrito, parcela da doutrina entende que se trata de legitimação or-
dinária, porquanto os legitimados também são titulares do direito discutido em juízo, além
de buscarem a restauração da ordem jurídica.

Ainda, há quem entenda tratar-se de legitimação autônoma para a condução do


processo, tendo em vista que a legitimidade extraordinária pressupõe substituído certo, o
que não ocorre nas ações coletivas em que os titulares do direito são indetermináveis.

ATENÇÃO: Ações pseudocoletivas: embora propostas por um único legitimado extraordinário,


na verdade são pleiteados, específica e concretamente, direitos individuais de inúmeros subs-
tituídos, caracterizando uma pluralidade de pretensões equiparável ao litisconsórcio multitu-
dinário.

3.2.1.1.3. Representatividade Adequada: controle ope legis e ope judicis

Representatividade adequada é saber se o legitimado poderá tutelar adequada-


mente os direitos materiais coletivos postos na causa, substituindo os titulares dos direitos.

Existem dois sistemas de aferição da representatividade adequada. O sistema


ope legis, preponderante no Brasil e adotado pela LACP, exige que a adequação seja pre-
viamente determinada em lei, sendo que somente o legislador, e não o juiz, poderá prever
requisitos para a legitimação. No Brasil, o sistema ope legis determina o critério objetivo da
pertinência temática como forma de controle da adequada representação. Já o sistema ope
judicis, preponderante nos Estados Unidos, reconhece ao juiz o poder-dever de verificar a
adequada representação, sendo que nestes casos o controle ocorre in concreto, em decisão
fundamentada, segundo critérios não taxativos indicados na lei. `ˆÌi`ÊÜˆÌ ÊÌ iÊ`i“œÊÛiÀȜ˜ÊœvÊ
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Importante: a posição majoritária na doutrina e no STJ entende que há necessi-
dade de relevância social para a defesa de direitos individuais homogêneos pelo MP. Segun-
do Hermes Zanetti Jr., trata-se de uma manifestação do sistema da representação adequa-
da ope judicis, porquanto ocorre in concreto.

3.2.1.1.3. Ministério Público.

Apesar de prescindível a comprovação de pertinência temática, é mister verificar,


em cada caso, se a defesa dos interesses discutidos na demanda é compatível com o perfil
constitucional do órgão ministerial. Nesse contexto, o Ministério Público tem legitimidade
para defender qualquer interesse difuso, pois inegável a sua relevância social.

Por outro lado, no tocante aos direitos coletivos em sentido estrito e individuais
homogêneos, a atuação do parquet está adstrita aos interesses indisponíveis ou afetos à
coletividade. A relevância social pode ser objetiva (decorrente da própria natureza dos va-
lores e bens em questão, tal como a dignidade humana, a saúde, a educação, etc.) ou subje-
tiva (em razão da qualidade especial dos titulares – um grupo de idosos ou de crianças por
exemplo).

Embora a atuação do Ministério Público não esteja vinculada à respectiva Justi-


ça, na prática, os Ministérios Públicos Estaduais têm restringido a sua atuação às Justiças
Estaduais, ao passo que o Ministério Público Federal tem se limitado a atuar na seara fede-
ral, nas hipóteses previstas no artigo 109 da Constituição Federal. Neste aspecto, ressalvam-
-se apenas as ações propostas em litisconsórcio formado por membros de ramos diversos.

3.2.1.1.4. Defensoria Pública.

O artigo 5º, inciso II da lei 8429/92 incluiu expressamente a Defensoria Pública


entre os entes legitimados à propositura de ações coletivas, tal como o Código de Defesa do
Consumidor e outros diplomas normativos.

Nos termos do artigo 134 da Constituição Federal:

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à


função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e
instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orienta-
ção jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos
os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos,
de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso
LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal.

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Ante sua função institucional, é mister que a Defensoria atue em prol dos neces-
sitados, mas nada impede que, em virtude da natureza difusa do direito tutelado, a coletivi-
dade substituída também seja composta por pessoas não necessitadas. Assim, consoante o
entendimento dos Tribunais Superiores, a Defensoria Pública detém legitimidade para pro-
por ação civil pública em defesa de qualquer interesse difuso e, em relação aos interesses
coletivos em sentido estrito e individuais homogêneos, quando o grupo de lesados incluir
titulares necessitados, ainda que nem todos ostentem tal condição (STF, ADI 3943).

3.2.1.1.5. Entes da Administração Direta.

Apesar de prescindível a comprovação de pertinência temática, há que se verifi-


car, em cada caso concreto, se existe conexão entre as competências, os serviços, as ativida-
des ou o patrimônio do ente, e a causa de pedir e o pedido formulados na ação. A doutrina
interpreta essa vinculação como interesse processual (interesse de agir).

3.2.1.1.6. Entes da Administração Indireta.

Ao contrário dos entes da Administração direta, a legitimação das autarquias,


fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista está condicionada à com-
provação de pertinência temática. Apesar de a lei exigir tal requisito apenas em relação às
associações, a atuação dos entes da Administração indireta está adstrita às finalidades para
as quais foram criadas, por força do princípio da especialidade. Portanto, a propositura de
ação civil pública pressupõe adequação entre o objeto da demanda e as funções institucio-
nais da entidade autora.

3.2.1.1.7. Fundações privadas.

A LACP cita o vocábulo “fundação” no inciso pertinente a outros entes da Admi-


nistração Indireta, mas não se refere expressamente às fundações públicas ou privadas. Por
essa razão, o STJ já se manifestou pela legitimidade de fundação privada para a propositura
de ação civil pública (AR 497).

3.2.1.1.8. Ordem dos Advogados do Brasil.

A Ordem dos Advogados do Brasil não figura como legitimada à propositura de


ação civil pública no rol da Lei 7347/85. Porém, o Estatuto da OAB confere ao Conselho Fe-
deral e aos respectivos Conselhos Seccionais a prerrogativa de ajuizar ações coletivas desti-
nadas à defesa dos interesses que lhes são afetos (artigos 54, inciso XIV e 57 da Lei 8906/94).

Na qualidade de entidade de classe, a OAB detém legitimidade para defender, via


ação civil pública, os interesses coletivos em sentido estrito e individuais homogêneos dos
advogados a ela filiados. Quanto aos interesses difusos, apesar da divergência doutrinária e
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jurisprudencial, prevalece o entendimento pela legitimidade da Ordem, quando o grupo de
lesados incluir titulares advogados, ainda que nem todos ostentem tal condição.

3.2.1.1.9. Entes despersonalizados.

O CDC, em seu artigo 82, inciso III outorgou às entidades e órgãos da Administra-
ção Direta ou Indireta, ainda que sem personalidade jurídica, a legitimidade para propor
ações coletivas.

Tendo em vista a reciprocidade existente entre as normas da LACP e do CDC, não


apenas os entes administrativos despersonalizados de defesa dos consumidores, mas tam-
bém os voltados à defesa de outros interesses transindividuais, tem legitimidade para a
propositura de ação civil pública, desde que comprovada a pertinência temática.

3.2.1.1.10. Associações civis.

Para que as associações civis possam ajuizar ações civis públicas elas precisam
preencher dois requisitos (art. 5º, V, “a” e “b” da Lei 7.347/85 e art. 82, IV do CDC):

„„ Pré-constituição há pelo menos 1 ano;


„„ Pertinência temática: a finalidade institucional da associação deve
corresponder ao objeto da ação.

O STF já entendeu que para defender interesses individuais homogêneos, a au-


torização estatutária conferida à associação não é suficiente para legitimar a sua atuação
em juízo na defesa do interesse de seus filiados. Assim, para cada ação a ser proposta na
defesa dos interesses individuais homogêneos, é indispensável que os filiados autorizem
de forma expressa a específica a demanda, conforme manda o art. 5º, XXI, da CR (STF, RE
573.232/SC/2014, Inf. 746 do STF).

Art. 5º. (...).


XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas,
têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudi-
cialmente;

hh Como exceção a essa regra dos direitos individuais homogêneos, teríamos o


caso do mandado de segurança coletivo, em que a Súmula 629 do STF dispensa autoriza-
ção dos associados.

Súmula 629 do STF: A impetração de mandado de segurança coletivo


por entidade de classe em favor dos associados independe da auto-
rização destes.
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Como decorrência desse entendimento do STF, o STJ passou a entender que a as-
sociação não tem legitimidade ativa para defender os interesses dos associados que vie-
rem a se agregar somente após o ajuizamento da ação de conhecimento, já que eles não
conferiram autorização para que a associação agisse em nome deles (STJ, REsp 1.468.734/
SP/2016, Inf. 579 do STJ).

Entretanto, o próprio STJ começou a proferir algumas decisões entendendo que


as associações possuem legitimidade para defesa dos direitos e dos interesses coletivos
ou individuais homogêneos, independentemente de autorização expressa dos associa-
dos (STJ. 2ª Turma. REsp 1796185/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/03/2019).

Em recentes julgados, a 3ª Turma do STJ entendeu que por se tratar de substitui-


ção processual, as associações não necessitam de autorização expressa de seus associados
para ajuizamento de ações civis públicas que tutelem direitos difusos, coletivos e indivi-
duais homogêneos (STJ, 3ª Turma, REsp 1649087/RS/2018 e REsp 1.719.820/MG/2019).

De acordo com o STJ, a decisão do STF no RE 573.232/SC/2014, que exigiu auto-


rização expressa dos associados, aplica-se apenas para ações coletivas que corram sob o
rito ordinário, as quais tratam apenas de direitos individuais dos associados¸ sem qualquer
índole coletiva (não são direitos difusos, coletivos ou individuais ou homogêneos).

Para sistematizar esse entendimento da 3º Turma do STJ, podemos afirmar que:

„„ Exige-se autorização expressa dos associados, quando a associação for pro-


por ação coletiva de rito ordinário, na defesa dos interesses de seus associados (aqui não
são direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos, mas apenas direitos dos associa-
dos).

„„ Não se exige autorização expressa dos associados, quando as associações


forem ajuizar ação civil pública na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais ho-
mogêneos. Nesse caso, a associação atua como substituta processual, dispensando auto-
rização expressa dos associados.

3.2.1.1.11. Partidos políticos.

Prevalece o entendimento no sentido de que os partidos políticos constituem es-


pécie do gênero associação e, como tal, detém legitimidade para a propositura de ação civil
pública, dispensada, contudo, a comprovação de pertinência temática, dada a sua abran-
gência programática.

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3.2.1.1.12. Sindicatos.

A legitimidade dos sindicatos para a defesa dos interesses coletivos e individuais


da categoria decorre do artigo 8º, inciso III da Constituição Federal. Não obstante, as entida-
des sindicais tem personalidade associativa e, como tal, sua legitimação para a propositura
de ação civil pública também tem assento na Lei 7347/85.

Outrossim, a legitimidade dos sindicatos não está adstrita à defesa dos seus filia-
dos, mas abrange os integrantes de toda a categoria representada. Além disso, a entidade
sindical atua em juízo na qualidade de substituto processual, de sorte que, consoante o
entendimento do STF, a propositura da demanda independe de autorização específica dos
substituídos (RE 193503).

Em razão do Sindicato ser uma espécie de associação, sua legitimidade para a


ação civil pública também tem assento na LACP e no CDC, aplicando-se as mesmas regras
de representatividade adequada (constituição na forma da lei, pré-constituição, pertinên-
cia temática) exigidas das entidades associativas.

O requisito da “constituição na forma da lei”, que condiciona a legitimidade ativa


dos sindicatos, prescinde do registro do sindicato no Ministério do Trabalho, já que, para o
surgimento de personalidade jurídica de tais entidades, basta o registro do seu ato consti-
tutivo no Cartório de Pessoas Jurídicas.

3.2.1.1.13. Legitimidade ativa subsidiária.

Denomina-se legitimidade ativa subsidiária a hipótese prevista no artigo 5º, § 3º


da LACP, de forma que, em caso de desistência infundada ou abandono da ação pela as-
sociação autora, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa. É
subsidiária porque quem assume o polo ativo o faz em substituição ao autor original.

Se o magistrado discordar da recusa do membro do Ministério Público em assu-


mir a titularidade da ação, deverá, em analogia ao disposto no artigo 9º da LACP, remeter os
autos ao Conselho Superior. Por outro lado, qualquer outro legitimado, inclusive o Ministé-
rio Público, pode desistir da demanda coletiva, comprovado justo motivo para tanto.

Sobre o tema, destaca-se trecho do livro de Mazzilli, especialmente por este abor-
dar o posicionamento do Conselho Superior do Ministério Público Paulista:

Nos raros casos em que se justifique a desistência de ação civil públi-


ca pelo membro do Ministério Público, deverá ele, analogicamente,
ter a cautela de, antes de lançá-la nos autos, remeter sua manifes-
tação fundamentada ao Conselho Superior da instituição, para ho-
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mologar-se ou rejeitar-se sua promoção. Essa exigência é tanto mais
necessária quando a ação tenha sido proposta em razão de recusa de
arquivamento de inquérito civil ou de peças de informação. Não tem
sido esse, porém, o entendimento do Conselho Superior do Ministé-
rio Público Paulista, desde a vigência da LACP. O colegiado tem en-
tendido que os incidentes ocorridos na ação civil pública ou coletiva
devem ser contrastados apenas pelo juiz, como no caso de transa-
ção ou desistência. Parece-nos, entretanto, que essa solução coloca
o juiz na posição de discutir com o autor sobre a conveniência de não
transacionar ou de não desistir, o que compromete a imparcialidade
do julgador. [...]” p. 474

3.2.1.2. Legitimidade passiva.

Qualquer pessoa física ou jurídica, responsável pelo dano, efetivo ou potencial, a


direitos coletivos em sentido amplo, pode figurar como réu em ação civil pública, inclusive
entes sem personalidade jurídica, quando dotados de personalidade judiciária.

3.2.1.2.1. Legitimação extraordinária passiva.

A princípio, todos os entes legitimados à propositura de ação civil pública po-


deriam figurar como réus em demandas da mesma espécie. Todavia, a denominada ação
coletiva passiva é objeto controvérsia doutrinária, destacando-se duas correntes, a saber:

a) Favorável: o artigo 5º, § 2º da LACP faculta aos legitimados habilitarem-se


como litisconsortes de “qualquer das partes”, inclusive do réu. Mister, porém, neste caso,
que o juiz analise a representatividade adequada do réu, tal como ocorre no modelo das
class actions norte-americanas.

b) Desfavorável: a substituição processual é instituto excepcional e as normas


que regem a ação coletiva autorizam a legitimação extraordinária somente no polo ativo.
Entendimento em sentido contrário é incompatível com o regime da coisa julgada coletiva,
bem como viola os postulados constitucionais do contraditório, da ampla defesa e do devi-
do processo legal. Ressalvam-se, apenas, as hipóteses de embargos à execução, embargos
de terceiro, ação rescisória e ação anulatória de compromisso de ajustamento de conduta.

ATENÇÃO: de acordo com a última corrente não é cabível reconvenção em sede de ação
civil pública, pois a substituição somente é admitida no polo ativo, ao passo que a recon-
venção pressupõe que o autor-reconvindo esteja legalmente autorizado à defesa em nome
próprio de interesses alheios no polo passivo.

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3.2.2. Interesse processual.

Considerando o binômio necessidade-adequação, a reparação do dano ou a ado-


ção de medidas destinadas e evitá-lo, afasta a necessidade de provimento jurisdicional para
satisfazer a pretensão e, portanto, o interesse processual.

ATENÇÃO: Falta ao autor interesse processual para a propositura de ação civil pública des-
tinada a impugnar atos jurisdicionais típicos. Isso porque os pronunciamentos judiciais
dessa natureza podem ser impugnados pela via recursal própria, ou através das ações au-
tônomas de impugnação, tais como o mandado de segurança e a ação rescisória.

Todavia, os atos expedidos pelo Poder Judiciário no exercício de função admi-


nistrativa, por sua vez, são atos judiciais atípicos e, nessa qualidade, podem ser objeto de
ação popular, desde que presentes os demais pressupostos caracterizadores do interesse
processual.

3.2.3. Observações importantes.

3.2.3.1. Controle de constitucionalidade.

A argüição de inconstitucionalidade no bojo de uma ação civil pública somente é


admissível em caráter incidental, ou seja, como causa de pedir, sob pena de usurpação da
competência do STF, tendo em vista os efeitos erga omnes da coisa julgada coletiva.

3.2.3.2. Questões tributárias, contribuições previdenciárias, FGTS e outros fundos.

Dispõe o artigo 1º, parágrafo único da LACP:

Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que en-
volvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucio-
nal cujos beneficiários podem ser individualmente determinados.

Sem embargo, o STF reconheceu que o Ministério Público tem legitimidade para
propor ação civil pública visando à anulação de benefícios fiscais em defesa dos interesses
de todos os cidadãos, no tocante à integridade do erário e à higidez do processo de arreca-
dação tributária, valores de natureza metaindividual (RE 576155). Ademais, a vedação legal
não abrange tarifas ou preços públicos, pois não tem natureza tributária e envolvem rela-
ções de consumo.

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3.3. Elementos da ação.

3.3.1. Partes.

A questão sobre quem pode ser parte em uma ação civil pública foi tratada no
item sobre legitimidade ad causam.

3.3.2. Causa de pedir.

Na ação civil pública, não é preciso descrever a situação fático-jurídica peculiar a


cada um dos interessados, pois o que caracteriza os interesses coletivos em sentido amplo
são as circunstâncias comuns a todos os titulares.

3.3.3. Pedido.

3.3.3.1. Objeto imediato.

Por força do princípio da máxima amplitude do processo coletivo, para a defesa


de interesses transindividuais são cabíveis todas as espécies de ações (conhecimento ou
execução), procedimentos, provimentos (declaratório, condenatório, constitutivo ou man-
damental), e tutelas provisórias (cautelares, antecipadas ou de evidência).

3.3.3.2. Objeto mediato.

Qualquer bem que pode ser objeto de interesses coletivos em sentido amplo,
pode ser objeto mediato do pedido formulado em sede de ação civil pública.

Para fins de determinação do pedido mediato, deve-se considerar o bem da vida


particularizado na petição inicial e não a mera identidade de gênero. Especificamente nas
ações coletivas que versem sobre interesses individuais homogêneos, o pedido, e conse-
quentemente, eventual sentença condenatória será sempre genérico (artigo 95 do CDC).

3.4. Competência.

3.4.1. Competência originária nos tribunais de superposição.

A Constituição não prevê, expressamente, nenhuma hipótese que autorize o STJ


a processar e julgar, originariamente, ações civis públicas. Já o STF será originariamente
competente para tanto nas seguintes hipóteses:

a) litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado,


o Distrito Federal ou o Território (artigo 102, I, e da CF);
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b) causas e conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou
entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta (artigo 102,
I, f da CF);

c) ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente


interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam
impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados (artigo 102, I, n da CF) e;

d) ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do


Ministério Público (artigo 102, I, r da CF);

De outro lado, embora exista previsão constitucional de competência originária


do STF e do STJ para processar e julgar determinadas ações penais, não existe foro por prer-
rogativa de função nas ações civis públicas.

3.4.2. Competência de jurisdição.

Eleitoral
(matérias relacionadas ao processo eleitoral, com ajuizamento anterior à di-
plomação);

Trabalhista
(art. 14 da CF): causas em que se discuta relação de trabalho e o direito de greve
Tribunais de Superposição (STF e STJ);

Justiça Comum (competência residual);


Justiça Especial
Estadual e Distrital (residual em relação à Justiça Federal);

Federal
(artigo 109 da CF, especialmente incisos I e XI).

3.4.2.1. A presença do Ministério Público Federal e a questão da competência.

A simples presença do Ministério Público Federal no polo ativo tem o condão de


atribuir a competência à Justiça Federal? A esse respeito, destacam-se dois entendimentos,
a saber:

a) O MPF é um órgão da União, de forma que, figurando como parte na relação


processual, caberá à Justiça Federal apreciar a demanda;

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b) A presença do MPF no polo ativo não é suficiente para fixar a competência da
Justiça Federal, pois, por força dos princípios da unidade e indivisibilidade, a atuação dos
diversos ramos do Ministério Público não está vinculada à respectiva Justiça.

Há decisões dos Tribunais Superiores, antigas, é bem verdade, que encampa a


primeira corrente.

3.4.3. Competência territorial.

Conjugando as regras previstas no artigo 2º da LACP e 93 do CDC, bem como dis-


posições específicas da legislação especial, temos:

EXTENSÃO DO DANO COMPETÊNCIA


LOCAL (um único ou poucos foros, ainda
Qualquer dos foros atingidos
que em dois Estados vizinhos)
REGIONAL (muitos foros de um único
Estado, sem abranger todo o território Foro da capital do Estado
Estadual)
REGIONAL (vários Estados, e, eventual-
Foros das capitais dos Estados atingidos
mente, o Distrito Federal, sem abranger
e foro do Distrito Federal (se atingido)
todo o território nacional)
Foros das capitais de quaisquer dos Es-
NACIONAL (todo o território nacional)
tados atingidos e foro do Distrito Federal
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO Local da ação ou omissão
ADOLESCENTE (artigo 209 do ECA)
Foro do domicílio do idoso
ESTATUTO DO IDOSO
(artigo 80 do Estatuto do Idoso)

Trata-se de competência determinada pelo local do dano, mas qualificada pela


LACP com funcional. Portanto, a competência estabelecida nas regras citadas é absoluta e
insuscetível de prorrogação por causas voluntárias (não oposição de exceção de incompe-
tência, eleição de foro), mas prorrogável por causas legais (conexão e continência).

No tocante à continência, importante observar o enunciado da Súmula 489 do


STJ, de sorte que, verificada a identidade parcial, devem ser reunidas na Justiça Federal as
ações civis públicas propostas nesta e na Justiça Estadual.

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3.4.3.1. Juizados Especiais Cíveis Federais.

O artigo 3º, § 1º, inciso I da Lei 10259/01 exclui expressamente da competência


dos Juizados Especiais Federais as demandas sobre interesses difusos, coletivos em sentido
estrito e individuais homogêneos. Ressalte-se que, tal vedação diz respeito às ações coleti-
vas e não às demandas individuais acerca destes direitos.

3.4.3.2. Juizados Especiais Cíveis Estaduais.

Apesar da inexistência de vedação legal expressa, os Juizados se destinam às


causas cíveis de menor complexidade, cujo valor não seja superior à 40 (quarenta) salá-
rios-mínimos. Além disso, não podem figurar como parte no procedimento sumaríssimo as
pessoas jurídicas de direito público.

Por tais razões, o Fórum Nacional de Juizados Especiais realizado em 2009, edi-
tou o Enunciado 32, com a seguinte redação:

Não são admissíveis as ações coletivas nos Juizados Especiais Cíveis.

No tocante aos Juizados Especiais da Fazenda Pública, por força de disposição


legal expressa, não se admite a veiculação, nesses juízos, de demandas sobre interesses
difusos e coletivos (artigo 2º, § 1º, I da Lei 12153/09).

3.5. Litisconsórcio, intervenção de terceiros e oposição.

3.5.1. Litisconsórcio e assistência.

3.5.1.1. Litisconsórcio ativo de colegitimados.

A legitimidade para a propositura de ação civil pública é disjuntiva, mas nada


impede que dois ou mais colegitimados ajuízem a demanda em conjunto. Trata-se de listis-
consórcio facultativo e unitário.

Consoante o disposto no artigo 5º, § 2º da LACP:

Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas


nos termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer
das partes.

Parte da doutrina entende que o nosso sistema processual não admite a forma-
ção de litisconsórcio ulterior facultativo, salvo no caso de litisconsórcio necessário. Sob tal
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premissa, a hipótese prevista no dispositivo acima reproduzido, por contemplar interven-
ção facultativa no processo, não seria de litisconsórcio, mas de assistência litisconsorcial.

Outros, embora admitam o litisconsórcio facultativo ulterior, distinguem-no da


assistência litisconsorcial, sustentando que, naquele, o interveniente tem legitimidade para
ajuizar ação com o mesmo objeto litigioso da proposta pelo assistido; ao contrário, na assis-
tência litisconsorcial, apesar de possuir relação jurídica com a parte contrária, o assistente
não tem legitimidade para propor ação com objeto litigioso idêntico ao do assistido. Logo,
sob tal ponto de vista, o dispositivo legal citado representa hipótese de litisconsórcio.

3.5.1.2. Litisconsórcio ativo entre Ministérios Públicos.

A formação de litisconsórcio facultativo entre membros do Ministério Público de


diferentes ramos decorre de disposição legal expressa. Nesse sentido dispõe o artigo 5º, §
5º da Lei 7347/85:
Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos
da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses
e direitos de que cuida esta lei.

Porém, a validade do aludido dispositivo legal é controvertida na doutrina. Con-


tra tal possibilidade, argumenta-se que o Ministério Público é uma instituição una e indivi-
sível e que a atuação de cada ramo está vinculada à respectiva Justiça. Em sentido oposto,
alega-se que o princípio da unidade se verifica dentro de cada um dos ramos da instituição,
bem como que a sua atuação não está vinculada à respectiva Justiça.

Os Tribunais Superiores, por sua vez, admitem a atuação conjunta de membros


pertencentes a ramos diversos da instituição, tendo em vista o princípio da unidade. Ressal-
te-se, todavia, que, consoante o entendimento do STJ, a complexidade da causa, por si só,
não justifica a formação de litisconsórcio ativo entre membros do Ministério Público Esta-
dual e Federal, que pressupõe a comprovação de alguma razão específica para tanto.

Isso porque, a formação desnecessária do litisconsórcio poderá, ao final, com-


prometer as finalidades do instituto (economia processual e efetividade da jurisdição), re-
sultando, por exemplo, em procrastinação do feito pela necessidade de intimação pessoal
de cada membro do órgão ministerial, que dispõe de prazo específico para manifestação
(REsp 1254428).

3.5.1.3. Litisconsórcio, assistência simples e litisconsorcial de não colegitimados.

Não há impedimento à assistência simples de não colegitimados no polo ativo ou


passivo. Igualmente, é possível o litisconsórcio e a assistência litisconsorcial no polo passi-
vo. A controvérsia, portanto, reside no polo ativo. Vejamos:
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LITISCONSÓRCIO E ASSISTÊNCIA
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
LITISCONSORCIAL DE NÃO
PARA A DEFESA DE:
COLEGITIMADOS NO POLO ATIVO
Regra: impossíveis, pois: 1) a lei só admite litisconsórcio
no caso de colegitimados ou de interesses individuais ho-
Interesses difusos
mogêneos; 2) haveria risco de tumulto processual, pelo
grande afluxo de novos sujeitos processuais.
Exceção doutrinária: possível o litisconsórcio somente ao
cidadão, nos casos em que também lhe for possível ajuizar
ação popular com idêntico objeto ou conexa.
Impossíveis, pois: 1) a lei só admite litisconsórcio no caso
de colegitimados ou de interesses individuais homogê-
neos; 2) haveria risco de tumulto processual, pelo grande
Interesses coletivos
afluxo de novos sujeitos processuais.
em sentido estrito
Obs.: não se aplica a exceção doutrinária, pois os cidadão
não tem legitimidade para defender interesses coletivos
em sede de ação popular.
Interesses individuais
Possíveis para os indivíduos lesados
homogêneos

3.5.1.4. Facultatividade do litisconsórcio passivo em ações ambientais.

Considerando que a responsabilidade dos poluidores é solidária, a formação de


litisconsórcio entre eles, nas ações destinadas à reparação dos danos ambientais, é mera-
mente facultativa.

3.5.2. Denunciação da lide.

O STJ e a doutrina majoritária não admitem denunciação da lide nas ações civis
públicas fundadas na responsabilidade objetiva do réu, tendo em vista que a introdução
da responsabilidade subjetiva de terceiro na discussão tende a procrastinar a conclusão do
processo, violando os princípios da celeridade e economia processual.

Importante consignar que o indeferimento da denunciação da lide não traz des-


vantagem alguma ao denunciante, já que poderá buscar seu eventual direito de regresso
em ação autônoma, tal como autoriza o art. 125, § 1º, do CPC.

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3.5.3. Chamamento ao processo.

Tal espécie de intervenção de terceiro também não é admitida nas ações civis pú-
blicas fundadas na responsabilidade objetiva do réu, pelos mesmos motivos que vedada a
denunciação da lide, ressalvada, tão somente, a possibilidade de chamamento ao processo
da seguradora nas ações de responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços (artigo
101, II do CDC).

3.5.4. Oposição.

No Novo CPC, a oposição não constitui mais espécie de intervenção de terceiros


e sim procedimento especial (artigos 682 a 686). De qualquer forma, o autor da ação civil
pública é legitimado extraordinário e, como tal, sua atuação está restrita ao polo ativo da
demanda.

3.6. Conexão, continência e litispendência.

3.6.1. Relação entre demandas coletivas e ações individuais.

3.6.1.1. Identidade total.

Não há litispendência ou coisa julgada entre demandas coletivas e ações indivi-


duais, pois as partes sempre serão formalmente diversas. Além disso, nas ações coletivas o
pedido é genérico.

3.6.1.2. Identidade parcial.

Pode haver conexão entre demandas coletivas e ações individuais por identida-
de da causa de pedir. Neste caso, a ação individual deve ser suspensa até o julgamento do
processo coletivo.

3.6.2. Relação entre demandas coletivas.

3.6.2.1. Identidade total.

Pode haver litispendência ou coisa julgada entre demandas coletivas (a depen-


der do fundamento da improcedência da primeira ação). Neste caso, tratando-se da mesma
parte formal, a primeira ação deve ser extinta sem resolução de mérito ou, sendo as partes
formais diferentes, reunidas para julgamento conjunto.

Consigne-se que a competência de foro da ação civil pública, de natureza absolu-


ta (funcional), não pode ser alterada pela prevenção do juízo onde tramita a ação individual.
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Com frequência, ainda que haja essa identidade parcial, a reunião entre ações
coletivas e individuais torna-se impossível ou inoportuna.

Não sendo possível ou conveniente a reunião das ações individuais à coletiva, e,


caso os lesados não suspendam, sponte propria, suas ações individuais é possível ao Magis-
trado suspendê-lo de ofício.

3.6.2.2. Identidade parcial.

Pode haver conexão ou continência entre demandas coletivas e ações individuais


por identidade da causa de pedir ou do pedido. Neste caso, uma das ações deve ser suspen-
sa ou reunidas para julgamento conjunto.

3.7. Inquérito civil e procedimento preparatório.

Dispõe o artigo 8º, § 1º da LACP:

O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquéri-


to civil, ou requisitar, de qualquer organismo público ou particular,
certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar,
o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.

ATENÇÃO: Em razão do disposto no artigo 105-A da Lei 9504/97, o Procurador-Geral da Re-


pública editou a portaria 499/2014, instituindo e regulamentando o Procedimento Prepa-
ratório Eleitoral (PPE), para ser utilizado pelo Ministério Público na investigação de ilícitos
eleitorais, no lugar do inquérito civil.

3.7.1. Finalidades.

PROCEDIMENTO PREPARATÓRIO INQUÉRITO CIVIL


Fornecer ao membro do Ministério Pú-
Fornecer ao membro do Ministério Pú- blico subsídios para a formação de seu
blico subsídios para a formação de seu convencimento sobre a necessidade ou
convencimento sobre a necessidade não de tutelar determinados interesses
ou não de instaurar um inquérito civil e transindividuais, e identificar os meios
sobre sua atribuição para instaurá-lo. adequados para tanto (judiciais ou ex-
trajudiciais)

Assim dispõe a Resolução nº 23 do Conselho Nacional do Ministério Público:

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Art. 1º O inquérito civil, de natureza unilateral e facultativa, será ins-
taurado para apurar fato que possa autorizar a tutela dos interesses
ou direitos a cargo do Ministério Público nos termos da legislação
aplicável, servindo como preparação para o exercício das atribui-
ções inerentes às suas funções institucionais.
parágrafo único. O inquérito civil não é condição de procedibilida-
de para o ajuizamento das ações a cargo do Ministério Público, nem
para a realização das demais medidas de sua atribuição própria.

3.7.1. Efeitos da instauração do Inquérito Civil

a) interrupção da decadência – art. 26, §2º, do CDC


b) a possibilidade de expedição de requisições e notificações, bem como condu-
ção coercitiva em caso de não comparecimento – art. 129, VI da CF/88; art. 26, I da
Lei Orgânica do Ministério Público
c) possibilidade de requisição de perícias e informações, de entes públicos ou
particulares, em prazo não inferior a dez dias - art. 8º, §1º, LACP; art. 6º da Lei
7.853/89; art. 223 do ECA
d) possibilidade de surgimento de responsabilidade civil do Estado/União para
indenizar o investigado pelos prejuízos sofridos em razão da instauração e de-
senvolvimento do IC que se mostrou temerário ou motivado por má-fé, causando
prejuízo ao investigado.

3.7.2. Instauração.

Possui atribuição para instaurar o inquérito civil ou o procedimento preparatório


o órgão do Ministério Público competente para ajuizar a futura ação civil pública. Em regra,
esta atribuição é conferida a um membro que oficie perante órgãos judiciários de primeira
instância, ressalvadas duas exceções:

a) Ação civil pública de competência originária do STF: Procurador-Geral da Re-


pública (artigo 46, parágrafo único, inciso III da LC 75/93);

b) Ação civil pública em face do Governador do Estado, do Presidente da Assem-


bléia Legislativa ou dos Presidentes de Tribunais: Procurador-Geral de Justiça do respectivo
Estado (artigo 29, inciso III da Lei 8625/93).

3.7.3. Arquivamento.

Diante da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil pública,


o Ministério Público deve promover o arquivamento do inquérito civil e demais peças de
informação e remeter os autos ao respectivo Conselho Superior. Nesse sentido dispõe o
artigo 9º da LACP: `ˆÌi`ÊÜˆÌ ÊÌ iÊ`i“œÊÛiÀȜ˜ÊœvÊ
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Art. 9º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligên-
cias, se convencer da inexistência de fundamento para a propositura
da ação civil, promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil
ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente.
§ 1º Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arqui-
vadas serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no
prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério Público.
§ 2º Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público,
seja homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento, pode-
rão as associações legitimadas apresentar razões escritas ou docu-
mentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou anexados às
peças de informação.
§ 3º A promoção de arquivamento será submetida a exame e delibe-
ração do Conselho Superior do Ministério Público, conforme dispu-
ser o seu Regimento.
§ 4º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de ar-
quivamento, designará, desde logo, outro órgão do Ministério Públi-
co para o ajuizamento da ação.

Em sentido amplo, todos os elementos de convicção colacionados pelo Ministé-


rio Público em um procedimento investigatório distinto do inquérito civil são peças de infor-
mação. Portanto, o arquivamento do procedimento preparatório também deve ser subme-
tido à homologação do Conselho Superior.

O arquivamento implícito é incompatível com o princípio da obrigatoriedade,


razão pela qual se a medida (judicial ou extrajudicial) adotada pelo Ministério Público con-
templar apenas parte dos fatos investigados em sede de inquérito civil, aqueles que não
foram objeto de ação civil pública ou compromisso de ajustamento de conduta devem ser
arquivados e submetidos à revisão do órgão superior.

ATENÇÃO: o arquivamento do inquérito civil ou do procedimento preparatório promovido


pelo Procurador-Geral da República não se submete à homologação de órgão revisor. Dife-
rentemente, a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, aplicável aos Ministérios Públicos
Estaduais, não isenta os arquivamentos promovidos pelos Procuradores-Gerais de Justiça da
necessidade de revisão perante os respectivos Conselhos Superiores.

3.7.4. Princípio da publicidade X sigilo.

Em regra, os atos praticados no inquérito civil e no procedimento preparatório


são regidos pelo princípio da publicidade, portanto, nada obsta que o membro do Minis-
tério Público preste informações, inclusive aos meios de comunicação social, acerca das
providências adotadas para a apuração de fatos em teses ilícitos, vedada tão somente a
emissão ou antecipação de juízos de valor a respeito de apurações ainda não concluídas.
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Excepcionalmente, a publicidade pode ser restringida nas hipóteses de sigilo le-
gal, em prol do êxito das investigações ou quando indispensável à segurança da sociedade
ou do Estado (artigo 5º, XXXIII da CF). Contudo, ainda que decretado o sigilo, o advogado
constituído tem direito de acesso aos autos do inquérito civil, relativamente aos elementos
documentados referentes ao investigado (Súmula Vinculante nº 14).

O artigo 7º, da resolução nº 23 do CNMP, assim dispõe:

[...]
§7º Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procura-
ção para o exercício dos direitos de que trata o § 6º.(Acrescido pela
Resolução nº 161, de 21 de fevereiro de 2017)
§ 8º O presidente do inquérito civil poderá delimitar, de modo fun-
damentado, o acesso do defensor à identificação do(s) representan-
te(s) e aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-
mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco
de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das
diligências.(Acrescido pela Resolução nº 161, de 21 de fevereiro de
2017)

3.7.5. Princípio inquisitivo, contraditório e ampla defesa.

A ausência de contraditório e ampla defesa são características dos procedimen-


tos investigatórios, de natureza inquisitiva, tal como o inquérito civil e o procedimento pre-
paratório.

Porém, nada obsta que a autoridade responsável pelo procedimento admita o


exercício do contraditório na prática de alguns atos investigatórios, pois, desde que não
comprometa o resultado da investigação, tal permissão pode reforçar o valor probatório do
ato.

3.7.6. Valor probatório.

Em decorrência da natureza inquisitiva, os elementos de informação coligidos


no inquérito civil e no procedimento preparatório tem valor probatório relativo. Ademais,
eventuais irregularidades na produção da prova não configuram nulidade processual, pois
tratam-se de procedimentos administrativos e informais que sequer constituem condição
de procedibilidade ou pressuposto processual da ação civil pública.

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3.8. Autocomposição.

3.8.1. Autocomposição extrajudicial: Compromisso de Ajustamento de Conduta.

3.8.1.1. Legitimação.

De acordo com o disposto no artigo 5º, § 6º da Lei 7347/85:

Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados


compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais,
mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extraju-
dicial.

A expressão “órgãos públicos” constante do aludido dispositivo legal deve ser in-
terpretada no sentido de entes públicos, de forma a abranger não somente os órgãos, que, a
rigor, não detém personalidade jurídica, mas também as instituições, a exemplo do Ministé-
rio Público, e as pessoas jurídicas de direito público. Nesse contexto, autarquias e fundações
públicas tem legitimidade para celebrar Compromisso de Ajustamento de Conduta.

Ao contrário, a legitimação das empresas públicas e sociedades de economia mis-


ta é controvertida na doutrina, tendo em vista possuírem personalidade jurídica de direito
privado. Por essa razão, prevalece o entendimento de que somente as empresas estatais
prestadoras de serviços públicos podem figurar como tomadoras do compromisso extraju-
dicial, pois, nessa qualidade, equiparam-se aos entes dotados de personalidade jurídica de
direito público.

3.8.1.2. Natureza jurídica.

Apesar da controvérsia doutrinária, prevalece o entendimento de que o Compro-


misso de Ajustamento de Conduta não tem natureza jurídica de transação. Isso porque, o
tomador não é titular do interesse em questão e, portanto, o compromisso não envolve con-
cessões mútuas de direito material. Além disso, os interesses coletivos tem natureza tran-
sindividual e não pertencem ao gênero dos direitos patrimoniais de caráter privado.

Seja uma espécie de acordo, seja um ato administrativo negocial, não há dúvida
sobre o caráter bilateral do compromisso que, por tal razão, está sujeito às mesmas condi-
ções de existência, validade e eficácia dos negócios jurídicos em geral.

3.8.1.3. Objeto.

Embora o compromissário faça concessões em relação ao direito material con-


trovertido, o tomador não pode abdicar, ainda que parcialmente, do seu conteúdo, pois não
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é o titular do interesse em questão. Logo, o compromisso deve versar apenas sobre o modo,
lugar e tempo no qual o dano ao interesse transindividual deve ser reparado, ou a ameaça
afastada, em sua integralidade.

As obrigações constantes do termo de compromisso podem ser de fazer, de não


fazer, de entregar coisa ou de pagar. Tais obrigações têm de ser certas quanto a sua existên-
cia, e determinadas quanto ao seu objeto, sem o que não seriam exequíveis.

3.8.1.4. Cominações.

Conforme se infere da leitura do artigo 5º, § 6º da Lei 7347/85 citado acima, o


Compromisso de Ajustamento de Conduta deve estabelecer medidas coercitivas adequa-
das e suficientes para desestimular o descumprimento das obrigações.

Assim, considerando as peculiaridades de cada caso concreto, podem ser fixa-


das sanções pecuniárias com periodicidades diversas ou, ainda, obrigações de fazer ou não
fazer. Todavia, apesar da relevância da cominação, a ausência de previsão de multa comi-
natória não acarreta a nulidade do compromisso. Neste caso, o próprio juiz pode fixá-la
quando apresentado o título para execução (artigo 814 do CPC).

3.8.1.5. Compromisso de ajustamento celebrado no âmbito de inquérito civil ou procedimento


preparatório.

Celebrado o compromisso, antes mesmo de cumpridas as obrigações pactuadas,


o inquérito civil ou o procedimento preparatório deverá ser arquivado pelo membro que
o presidir e remetido ao Conselho Superior para homologação. Já no caso do MP-SP e do
MP-BA, celebrado o termo de ajustamento, e antes mesmo de cumpridas as obrigações nele
pactuadas, o IC ou o PPIC será arquivado pelo membro que o presidir, e seus autos, de-
pois de cientificados os interessados acerca de tal arquivamento, serão remetidos ao CSMP.
Entendendo que as cláusulas do termo de compromisso são suficientes para resguardar o
interesse transindividual a que se visa proteger, o órgão revisor homologará o arquivamen-
to do IC ou do PPIC. Depois dessa homologação, os autos do procedimento retornarão ao
órgão do MP que tomou o termo de compromisso, e ele notificará o compromissário para
que cumpra as obrigações avençadas, bem como fiscalizará tal cumprimento, executando-o
judicialmente, se necessário for.

3.8.1.6. Complementação, impugnação e novação.

O Compromisso de Ajustamento de Conduta constitui garantia mínima em favor


da coletividade de lesados, nunca limitação máxima da responsabilidade do infrator. Por-
tanto, a princípio, tendo em vista a legitimidade concorrente para a propositura de ação ci-
vil pública e a garantia constitucional da inafastabilidade da jurisdição, qualquer legitimado
pode ajuizar demanda relacionada ao mesmo fato objeto do compromisso. `ˆÌi`ÊÜˆÌ ÊÌ iÊ`i“œÊÛiÀȜ˜ÊœvÊ
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Todavia, quando o compromisso é suficiente para a satisfação do direito tutelado
falta interesse processual para o ajuizamento de ação civil pública ao tomador e aos demais
legitimados. Logo, a propositura da demanda está condicionada à insuficiência ou invalida-
de do acordo extrajudicial no que tange à tutela integral do interesse transindividual visado.

Segundo o Professor Mazzilli:

Naturalmente, se o compromisso de ajustamento de conduta não re-


solveu todos os aspectos investigados no inquérito civil, será caso de
arquivamento parcial deste último; o inquérito civil deverá prosse-
guir em relação aos demais pontos sobre os quais não houve acordo.
Em caso de o termo de ajuste de conduta não resolver no todo o pro-
blema investigado no inquérito civil, mas as diligências já estarem
completas, será o caso de propor-se ação civil pública em relação
aos pontos não cobertos pelo compromisso de ajustamento. P. 573

3.8.1.7. Execução.

Embora a legitimidade para a celebração de Compromisso de Ajustamento de


Conduta seja conferida apenas aos entes públicos, qualquer dos legitimados à propositura
de ação civil pública em defesa dos interesses versados no acordo extrajudicial poderá exe-
cutá-lo.

Com efeito, entendimento em sentido contrário comprometeria demasiadamen-


te a eficácia da tutela coletiva, de sorte que existente o título, qualquer legitimado pode
promover-lhe a execução, tal como se verifica em relação à sentença proferida em sede de
ação civil pública (artigo 15 da Lei 7347/85). Portanto, quando celebrado por entidade da
Administração direta, o Ministério Público ou qualquer outro legitimado detém legitimida-
de para promover a execução do compromisso.

3.8.2. Autocomposição judicial.

Ao contrário do Compromisso de Ajustamento de Conduta, a celebração de acor-


do judicial não é privativa dos órgãos públicos legitimados à propositura da ação civil pú-
blica.

Após a homologação, litisconsortes, assistentes litisconsorciais e o Ministério Pú-


blico na qualidade de fiscal da ordem jurídica podem impugnar o acordo pela via recursal
própria. Igual direito detém o colegitimado que não atuou como parte no processo e, even-
tualmente, o cidadão ou indivíduo lesado que poderiam ter atuado como assistentes litis-
consorciais.
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3.9. Sentenças coletivas.

Se não foi possível obstar o dano ou o inadimplemento contratual através da


adoção de medidas preventivas, será cabível a tutela ressarcitória, voltada à sua reparação.
Neste caso, tem prioridade a tutela específica da obrigação, tendo em vista a indisponibili-
dade material do direito.

Portanto, somente quando inviável a reprodução da situação anterior à lesão é


cabível a tutela ressarcitória pelo equivalente em dinheiro, salvo tratando-se de obrigação
de pagar quantia certa, pois, neste caso, a entrega do numerário não representa a resolução
da obrigação em perdas e danos, mas a própria tutela específica.

ATENÇÃO: Por força do princípio da inafastabilidade da jurisdição, tendo em vista o direito


à tutela jurisdicional adequada e efetiva, prevalece o entendimento no sentido de que, a
partir do Novo CPC, é possível exigir imediatamente do réu o pagamento das multas comi-
nadas liminarmente. Apesar do disposto no artigo 12, § 2º da LACP, a concessão de efetiva
prevenção e reparação judicial pressupõe a disponibilização de medidas liminares eficazes
e, para tanto, exigíveis de imediato.

A sentença proferida em sede de ação civil pública é recorrível via apelação, sem
prejuízo do pedido de suspensão da execução do pronunciamento judicial não transitado
em julgado, na forma prevista no artigo 12 da LACP.

3.10. Coisa julgada coletiva.

O regime da coisa julgada coletiva é ditado pelo artigos 103 e 104 do CDC, asso-
ciados aos polêmicos artigos 16 da LACP e 2º-A da Lei 9494/97. Em resumo, temos:

Interesses
Interesses Interesses
individuais
difusos coletivos
homogêneos
Coisa julgada Coisa julgada ultra
Procedência Coisa julgada erga omnes
erga omnes partes
Improcedência Há coisa julgada em relação
Coisa julgada Coisa julgada ultra
por pretensão aos colegitimados, mas não
erga omnes partes
infundada erga omnes (não impede que
Improcedência as vítimas que não atuaram
Não há coisa Não há coisa como litisconsortes busquem
por insuficiên-
julgada julgada a reparação individual)
cia de provas

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3.10.1. Coisa julgada material secundum eventum litis e secundum eventum probationes.

Na ação civil pública destinada à defesa de qualquer interesse transindividual, a


existência de coisa julgada erga omnes ou ultra partes está condicionada à procedência ou
improcedência da demanda (secundum eventum litis).

Além disso, exclusivamente nas ações civis públicas destinadas à defesa de in-
teresses difusos e coletivos em sentido estrito, a coisa julgada material das sentenças de
improcedência depende do seu fundamento (secundum eventum probationes).

Ainda, nas ações civis públicas destinadas à defesa de interesses individuais ho-
mogêneos, a coisa julgada material é secundum eventum litis, mas não é secundum eventum
probationes.

3.10.2. Transporte in utilibus da coisa julgada coletiva.

O transporte in utilibus da coisa julgada consiste na possibilidade de extensão


dos efeitos da sentença coletiva em favor de pretensões individuais não deduzidas no pro-
cesso, a depender do estágio procedimental das demandas:

a) Trânsito em julgado da sentença coletiva antes da propositura da ação indivi-


dual: basta que a vítima proceda à liquidação e execução do título;

b) Ação individual e ação coletiva em andamento: a vítima deve requerer, no pra-


zo de 30 dias, a contar da ciência da existência da ação coletiva, a suspensão do processo
individual;

ATENÇÃO: O STJ admite a suspensão de ofício dos processos individuais, tendo em vista os
princípios da economia processual, celeridade e harmonização dos julgados.

c) Trânsito em julgado da sentença individual antes da sentença coletiva: preva-


lece a coisa julgada individual.

3.10.3. Transporte in utilibus da coisa penal.

O aproveitamento da coisa julgada penal depende da espécie de crime pratica-


do. Em resumo, temos:

a) Crimes praticados em face de coletividades abstratas: aplica-se o regime da


coisa julgada coletiva, de forma que a sentença penal de improcedência, em nenhuma hi-
pótese, prejudicará o direito à indenização das vítimas. Se procedente, basta a liquidação e
execução da sentença penal condenatória no juízo cível; `ˆÌi`ÊÜˆÌ ÊÌ iÊ`i“œÊÛiÀȜ˜ÊœvÊ
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b) Crimes praticados contra vítimas determinadas: aplica-se o regime da coisa
julgada individual, de forma que a sentença penal absolutória fundada na inexistência do
fato ou da autoria prejudica o direito à indenização das vítimas no juízo cível.

3.10.4. Limites territoriais e subjetivos da coisa julgada.

Tratemos, agora, de dois dos mais controvertidos dispositivos relacionados à coi-


sa julgada nas ações civis públicas. O primeiro deles é o art. 16 da LACP:

Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites
da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for
julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que
qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico funda-
mento, valendo-se de nova prova.

A polêmica diz respeito à primeira parte desse artigo, que foi alterada pela MP
1.570/1997 (posteriormente convertida na Lei 9.494/1997), responsável pela inclusão da fra-
se “nos limites da competência territorial do órgão prolator”.

O segundo dispositivo controvertido é o art. 2.º-A da Lei 9.494/1997, acrescido a


essa lei por uma medida provisória (MP 1.984):

Art. 2.º-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo pro-


posta por entidade associativa, na defesa dos interesses e direitos
dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos que tenham,
na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência
territorial do órgão prolator.
Parágrafo único. Nas ações coletivas propostas contra a União, os
Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas autarquias e funda-
ções, a petição inicial deverá obrigatoriamente estar instruída com a
ata da assembleia da entidade associativa que a autorizou, acompa-
nhada da relação nominal dos seus associados e indicação dos res-
pectivos endereços.

No que se refere ao parágrafo único, interessa-nos aqui apenas a sua segunda


parte, a saber, a necessidade de que a petição inicial venha instruída pela relação nominal
dos associados e indicação dos respectivos endereços. O objetivo é permitir o controle dos
efeitos subjetivos da futura coisa julgada, pois, nos termos do caput, a coisa julgada abran-
gerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âm-
bito da competência territorial do órgão prolator.

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Ambos os dispositivos (art. 16 da LACP e art. 2.º-A da Lei 9.494/1997) foram obra
da atuação legislativa do Poder Executivo Federal, que, ao que tudo indica, legislou em cau-
sa própria. Com efeito, considerando que a Fazenda Pública (não raro em litisconsórcio com
o Presidente da República) é assídua frequentadora do polo passivo em ações coletivas,
o propósito teria sido o de enfraquecer tal instrumento jurídico, restringindo a eficácia da
sentença de procedência aos lesados que residam na comarca, seção ou subseção do juiz
prolator. As inovações foram alvo de ácidas críticas por significativa parcela da doutrina.
Em suma, aponta-se que as novidades incorrem em confusão conceitual, são ineficazes e
inconstitucionais:

a) da confusão conceitual: as normas confundiram a amplitude da coisa julgada


com jurisdição e competência. O território (comarca, seção, subseção) onde um fato ocor-
reu ou poderá ocorrer é apenas um critério para a definição do juízo competente. Uma vez,
porém, verificado qual órgão é competente segundo esse critério, os efeitos da sentença
por ele prolatada não são limitados pelo território, mas apenas pelo objeto litigioso (causa
de pedir + pedido):

b) da ineficácia:

b.1) em razão da natureza indivisível dos interesses essencialmente coletivos: a


sentença de mérito não tem o condão de alterar as características inerentes à natureza do
direito por ela tutelado. Nas ações civis públicas em que se resguardem relações jurídicas
essencialmente coletivas (direitos difusos ou coletivos), a sentença de procedência tutelará
tais objetos segundo sua natureza: se são indivisíveis, e pertencentes a uma coletividade
indeterminável (difusos) ou determinável (coletivos) de titulares, os efeitos da sentença al-
cançarão os titulares de tais direitos onde quer que residam. Sendo a coisa julgada uma
qualidade desses efeitos, não há como tratá-la diferentemente, limitando-a a determina-
do território. Aceitar tal possibilidade importaria em admitir “uma estranha sentença, com
duas qualidades: seria válida, eficaz, e imutável em determinado território, mas seria válida,
eficaz e mutável fora desse território;

b.2) em razão de o art. 16 de a LACP ser incompatível com o tratamento dos inte-
resses individuais homogêneos do CDC: a tutela coletiva dos interesses individuais homo-
gêneos foi criada pelo CDC. A LACP somente cuidava dos direitos difusos e coletivos. O CDC
disciplinou a coisa julgada das ações coletivas de interesses individuais homogêneos de
forma distinta daquela como a LACP tratava a coisa julgada dos direitos difusos e coletivos.
Esta, conforme se infere do art. 16 da LACP em sua redação original, é secundum eventum
probationis. Aquela, nos termos do art. 103, III, do CDC, é apenas secundum eventum litis.

A LACP somente se aplica às ações reguladas no CDC “naquilo que não contrariar
suas disposições” (CDC, art. 90). A inovação do art. 16 da LACP é francamente contrária à
disciplina dos efeitos da coisa julgada dos interesses individuais homogêneos do CDC, pois
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este não impôs nenhuma limitação territorial aos interesses individuais homogêneos. Com
efeito, segundo o CDC, a coisa julgada nas ações coletivas em prol de interesses individuais
homogêneos é erga omnes, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores (art. 103, III).
Logo, a limitação introduzida no art. 16 da LACP pela Lei 9.494/1997 não seria aplicável aos
interesses individuais homogêneos;

b.3) em razão da competência territorial dada pelo art. 93, II, do CDC: por força
do art. 93, II, do CDC, aplicável à LACP por força do art. 21 desta lei, nos danos de âmbito
regional ou nacional a competência territorial é do juiz da capital do Estado ou do Distrito
Federal. Em outras palavras: nesses casos, o âmbito de competência territorial desses ór-
gãos judiciários não é a comarca, seção ou subseção judiciária onde eles se situam, mas
toda a região do dano ou ameaça, ou todo o território nacional, se a lesão ou ameaça for de
âmbito nacional. Assim, por exemplo, no caso de dano de âmbito nacional, ainda que uma
ação seja proposta na capital do Estado do Acre, um cidadão residente no Rio Grande do Sul
poderá ser por ela beneficiado, pois estará dentro do âmbito da competência territorial do
órgão prolator da sentença.

c) da inconstitucionalidade:

c.1) Violação ao princípio da igualdade: cidadãos vitimados pelo mesmo fato le-
sivo poderão receber do Poder Judiciário tratamento distinto, conforme uma ação civil pú-
blica por ele motivada seja, em um determinado foro, julgada procedente, e, em um outro,
improcedente;

c.2) Violação ao devido processo legal no aspecto substantivo: o Executivo Fede-


ral infringiu os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade e, portanto, ao princípio
do devido processo legal no seu aspecto substantivo. A irrazoabilidade e a desproporcio-
nalidade decorrem de que o Presidente da República, visando restringir a eficácia de ações
costumeiramente frequentadas pela Fazenda Pública e até mesmo por ele, deu azo a sen-
tenças judiciais conflitantes, desprezou, a um só tempo, o princípio da igualdade e o princí-
pio da segurança jurídica, e, ao fragmentar a tutela dos direitos transindividuais em várias
ações coletivas, agiu em detrimento do princípio da economia processual, que havia sido
aprimorado pelo microssistema resultante da integração CDC + LACP.

No STJ, vinha prevalecendo o entendimento de que a sentença, na ação civil pú-


blica, nos termos do art 16 da LACP, faz coisa julgada apenas nos limites da competência
territorial do órgão prolator. Esse entendimento foi revisto por sua Corte Especial, para afir-
mar a possibilidade de o beneficiário ajuizar a execução individual no foro de seu domicílio,
diverso do foro da sentença coletiva, sob – dentre outros – o argumento de que os efeitos
e a eficácia da sentença não estão circunscritos a lindes geográficos, mas aos limites obje-
tivos e subjetivos do que foi decidido, levando-se em conta, para tanto, sempre a extensão
do dano e a qualidade dos interesses metaindividuais postos em juízo (arts. 468, 472 e 474,
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CPC, e 93 e 103, CDC). Em seu voto, o relator reconhece a confusão conceitual do art. 16
(entre coisa julgada e competência territorial), e observa que restringir os efeitos da coisa
julgada ao foro do juízo da sentença esvaziaria a utilidade prática da ação coletiva, já que,
na hipótese de dano nacional ou regional, apenas os habitantes do Distrito Federal ou da
capital estadual onde ajuizada a ação seriam beneficiados por uma sentença de procedên-
cia. Sem embargo, a questão ainda não estava pacificada, uma vez que, posteriormente a
tal julgamento, a 2.ª Turma do STJ, invocando o caput do art. 2.-A da Lei 9.494/1997, no caso
de ações civis públicas movidas por associações (aqui incluídos os sindicatos), continua res-
tringindo os efeitos da sentença aos substituídos que residam, à data da propositura da
ação, nos limites territoriais do órgão prolator. Apesar disso, a mesma 2.ª Turma, ao menos
em relação aos sindicatos, não tem condicionado os efeitos subjetivos da sentença à apre-
sentação de lista e autorizações de associados, prevista no parágrafo único do mesmo art.
2.º-A, já que a legitimidade dos sindicatos para representar a categoria profissional emerge
da CF, sem limitações.

A matéria foi objeto de questionamento na segunda fase do penúltimo concurso


para ingresso na carreira do MPMG, que trazia o seguinte enunciado: “O Ministério Público
de Minas Gerais, por seu Órgão de Execução com atuação na defesa do consumidor de Belo
Horizonte, obteve tutela provisória de evidência no bojo de ação civil pública manejada
contra instituição financeira de grande porte, na qual se questiona a cobrança de seguros
não solicitados ou autorizados por clientes, na fatura do cartão de crédito. Considerando
haver o Parquet comprovado que a prática abusiva afeta consumidores de diversas unida-
des da federação, determinou o Juiz, entre outras medidas, que a instituição financeira se
abstivesse de efetuar cobrança relativa a seguros de qualquer espécie não solicitados ou au-
torizados pelos clientes em todo o território nacional, cominando elevada multa pecuniária
para o caso de descumprimento. O requerido interpôs então o agravo de instrumento, no
qual invocou a norma do artigo 16 da Lei n.º 7.347/85, pretendendo que a decisão fique
restrita aos consumidores residentes em Belo Horizonte, tendo-se em vista que a referida
norma estabelece que, verbis, “a sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por
insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação
com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova”. Indaga-se: a tese recursal merece ser
acolhida pelo Tribunal de Justiça? Justifique.”

O espelho de resposta divulgado:

A tese recursal não merece ser acolhida pelos seguintes motivos: 1) O artigo 16
da Lei n.º 7.347/85 não tem como limitar territorialmente a eficácia da decisão proferida na
ação civil pública, uma vez que referida norma regulou apenas e tão somente o fenômeno
da coisa julgada, que é absolutamente distinto da eficácia da sentença, conforme estabe-
leceu o Superior Tribunal de Justiça (REsp 411.529 - SP e REsp 1.243.386 - RS). Ainda que o
objetivo do legislador, ao alterar o art. 16 da LACP, fosse o de efetivamente limitar a eficácia
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da sentença ao território em que seria competente o juiz que a prolatou, ao dizer que “a
sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão
prolator”, restou apenas definido que a sentença, em que pese estenda seus efeitos a todo o
território nacional, não poderá ser questionada em nenhuma demanda futura a ser decidi-
da dentro da base territorial mencionada na lei. Segundo Hugo Nigro Mazzilli, “na alteração
procedida em 1997 ao art. 16 da LACP, o legislador confundiu limites da coisa julgada (a imu-
tabilidade erga omnes da sentença, ou seja, seus limites subjetivos, atinentes às pessoas
atingidas pela imutabilidade) com competência territorial (que nada tem a ver com a imu-
tabilidade da sentença, dentro ou fora da competência do juiz prolator, até porque, na ação
civil pública, a competência sequer é territorial, e sim funcional)” (MAZZILLI, Hugo Nigro. A
defesas dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural,
patrimônio público e outros interesses. 26ª ed., São Paulo: Editora Saraiva, 2013, p. 527). 2)
A regra de competência é ineficaz à luz da regra do artigo 93 da Lei n.º 8.078/90 (Código de
Defesa do Consumidor), aplicável à luz do microssistema do processo coletivo, que estabe-
lece expressamente que a competência para julgamento dos danos de âmbito nacional ou
regional é do juízo da capital dos Estados ou no Distrito Federal, de modo a abranger todo o
território nacional, quando este for o juízo da capital do Estado. De igual modo, o artigo 103
do mesmo diploma legal disciplina expressamente os efeitos da coisa julgada nos proces-
sos coletivos, e não contém a restrição trazida pela modificação do artigo 16 da Lei da Ação
Civil Pública. Embora não sejam preponderantes, já que o Plenário do Supremo Tribunal
Federal, em sede de cautelar, na ADI-MC 1.576/DF entendeu pela constitucionalidade da
nova redação do artigo 16 da Lei da Ação Civil Pública, considerou ainda o examinador, para
fins de pontuação, as seguintes críticas que a doutrina faz ao artigo 16 da Lei da Ação Civil
Pública: a) ofensa aos princípios constitucionais da isonomia e do acesso à jurisdição; b)
empecilho à proteção dos direitos coletivos em juízo; c) prejuízo à economia processual; d)
indivisibilidade do objeto da tutela jurisdicional coletiva (art. 81, parágrafo único do CDC).

No julgamento da Corte Especial do STJ, em 2016, decidiu-se que a eficácia das


decisões proferidas em ações civis públicas coletivas NÃO deve ficar limitada ao território
da competência do órgão jurisdicional que prolatou a decisão.
STJ. Corte Especial. EREsp 1134957/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 24/10/2016.

Vejamos a ementa abaixo:

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. PROCESSUAL CIVIL. ART. 16 DA LEI DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


AÇÃO COLETIVA. LIMITAÇÃO APRIORÍSTICA DA EFICÁCIA DA DECISÃO À COMPETÊNCIA TER-
RITORIAL DO ÓRGÃO JUDICANTE. DESCONFORMIDADE COM O ENTENDIMENTO FIRMADO
PELA CORTE ESPECIAL DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA EM JULGAMENTO DE RECURSO
REPETITIVO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA (RESP N.º 1.243.887/PR, REL. MIN. LUÍS
FELIPE SALOMÃO). DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL DEMONSTRADO. EMBARGOS DE DIVERGÊN-
CIA ACOLHIDOS. 1. No julgamento do recurso especial repetitivo (representativo de con-
trovérsia) n.º 1.243.887/PR, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, a Corte Especial do Superior
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Tribunal de Justiça, ao analisar a regra prevista no art. 16 da Lei n.º 7.347/85, primeira
parte, consignou ser indevido limitar, aprioristicamente, a eficácia de decisões proferidas
em ações civis públicas coletivas ao território da competência do órgão judicante. 2. Em-
bargos de divergência acolhidos para restabelecer o acórdão de fls. 2.418-2.425 (volume 11),
no ponto em que afastou a limitação territorial prevista no art. 16 da Lei n.º 7.347/85. Pros-
seguindo no julgamento, após o voto-vista da Sra. Ministra Nancy Andrighi acompanhando
o voto da Sra. Ministra Relatora, no que foi acompanhada pelos Srs. Ministros Humberto
Martins, Maria Thereza de Assis Moura, Herman Benjamin, Jorge Mussi, Luis Felipe Salomão
e Benedito Gonçalves, e os votos dos Srs. Ministros Napoleão Nunes Maia Filho e Raul Araú-
jo conhecendo dos embargos de divergência e negando-lhes provimento, a Corte Especial,
por maioria, conhecer dos embargos de divergência e dar-lhes provimento, nos termos do
voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Humberto Martins, Maria
Thereza de Assis Moura, Herman Benjamin, Jorge Mussi, Luis Felipe Salomão e Benedito
Gonçalves votaram com a Sra. Ministra Relatora. Vencidos os Srs. Ministros Napoleão Nunes
Maia Filho e Raul Araújo. Não participaram do julgamento os Srs. Ministros Og Fernandes e
Mauro Campbell Marques. Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Francisco Falcão e
João Otávio de Noronha. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Felix Fischer.
(STJ - EREsp 1134957 / SP 2013/0051952-7, Relator: Ministra LAURITA VAZ (1120), Data do
Julgamento: 24/10/2016, Data da Publicação: 30/11/2016, CE - CORTE ESPECIAL)

3.11. Liquidação e execução de sentenças.

3.11.1. Direitos Difusos e Coletivos.

Tratando-se de ação civil pública em prol de direitos difusos e coletivos, o seu


autor da ação coletiva poderá promover a execução da respectiva sentença condenatória
ou homologatória de acordo judicial.

• Caso o autor seja o Ministério Público, ele não só poderá, como deverá realizar
a execução da sentença, em razão do princípio da obrigatoriedade.

Caso o autor não seja o Ministério Público, e não executar a respectiva sentença
após 60 dias do trânsito em julgado haverá duas possibilidades (art. 15 da LACP):

→ Qualquer legitimado poderá promovê-la;


→ O Ministério Público deverá promovê-la.

Art. 15. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sentença


condenatória, sem que a associação autora lhe promova a execução,
deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual iniciativa aos de-
mais legitimados.
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• Embora o art. 15 da LACP fale em apenas “associação” é pacífico o entendimen-
to de que ela se aplica a qualquer colegitimado que não realize a execução da sentença.

A execução deverá ser feita no mesmo juízo que decidiu a causa no primeiro grau
de jurisdição (art. 516, I, do CPC/2015).

O procedimento da execução irá depender se a obrigação é de fazer ou não fazer


ou se é obrigação de entregar coisa ou se é obrigação de dar.

• Obrigação de fazer ou não fazer → caso seja situação de obrigação de fazer ou


não fazer, o juiz poderá se valer de medidas sub-rogatórias (medidas de apoio) ou das me-
didas coercitivas (meios de coerção, medidas de coação).

Na execução por meios sub-rogatórios, o próprio Judiciário atua diretamente,


no lugar do executado, para entregar ao exequente o bem da vida assegurado na sentença.
Por isso, é conhecido como execução direta.

→ Ex: medida de busca a apreensão.

O art. 84, §5º, do CDC traz um rol exemplificativo de medidas que o juiz pode to-
mar em sub-rogação à atuação do executado:

Art. 84. (...).


§ 5° Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático
equivalente, poderá o juiz determinar as medidas necessárias, tais
como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimen-
to de obra, impedimento de atividade nociva, além de requisição de
força policial.

Por outro lado, nas medidas coercitivas, o Judiciário atua indiretamente, ten-
tando forçar que o executado cumpra a sentença. Dessa forma, trata-se de execução indi-
reta.

→ Ex: fixação de astreintes. Essa multa não tem caráter ressarcitório, mas coercitivo.

• A multa pode ser imposta a requerimento da parte ou de ofício pelo juiz.

A multa diária, imposta liminarmente, embora possa ser cobrada desde o dia
em que houver configurado o descumprimento, ela só será exigível a partir do trânsito
em julgado (art. 12, §2º, da Lei 7.347/85).

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Art. 12. (...).
§ 2º A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o
trânsito em julgado da decisão favorável ao autor, mas será devida
desde o dia em que se houver configurado o descumprimento.

Os valores pagos a título de multa (seja liminar, seja fixada na sentença), em re-
gra, serão revertidos aos fundos federal ou estaduais de reparação dos interesses difusos
lesados (art. 13 da Lei 7.347/85).

• As exceções ficam por conta do ECA, em que os valores da multa serão destina-
dos ao fundo gerido pelo Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo
Município (art. 214) e no caso do Estatuto do Idoso, que será remetido do Fundo do Idoso,
ou, onde ele ainda não houver sido instituído, ao Fundo Municipal de Assistência Social,
ficando seus valores vinculados ao atendimento do idoso (art. 84 do Estatuto do Idoso).

• Obrigação de entrega da coisa → a obrigação de entregar coisa segue o disposto


no art. 538 do CPC/2015.

• Obrigação de pagar → a execução da sentença versando sobre obrigação de


pagar quantia certa será regida, contra particulares, pelo disposto no arts. 523 a 527 do
CPC/2015. Caso seja execução contra a Fazenda seguirá as regras dos arts. 534 e 535 do
CPC/2015.

No caso de direitos difusos, como os titulares desses direitos são indeterminá-


veis, seria inviável destinar-lhes o produto da execução. Assim, o valor da condenação será
destinado a um fundo federal ou estadual, voltado à reparação dos interesses lesados.

• Também caberá a execução individual em ações que versem sobre direitos di-
fusos ou coletivos, conforme já demonstrado (transporte in utilibus da coisa julgada).

→ Ex: MP ingressou com ação contra a empresa que poluiu um rio. Nesse caso,
pode o pescador se beneficiar da sentença e já entrar com a liquidação e execução.

3.11.2. Direitos Individuais Homogêneos.

3.11.2.1. Liquidação e Execução Individual:

No caso de ação civil pública que tutela direitos individuais homogêneos, o juiz
deverá proferir sentença condenatória genérica (art. 95 do CDC).

Art. 95. Em caso de procedência do pedido, a condenação será gené-


rica, fixando a responsabilidade do réu pelos danos causados.
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A referida sentença reconhece a responsabilidade do réu e, em consequência, o
seu dever de indenizar. Esses aspectos (responsabilidade do réu e dever de indenizar) se
tornam imutáveis com o trânsito em julgado da sentença condenatória.

Dessa forma, após o trânsito em julgado de uma sentença condenatória em ação


coletiva de direitos individuais homogêneos, cada vítima, por meio do seu representante,
poderá pleitear a liquidação e a execução individual.

Nessa situação, cada um deverá provar o nexo de causalidade entre a conduta


do réu e o dano individualmente sofrido. Nessa ação individual, também será definido o
valor da sua indenização. Assim, enquanto nas liquidações em geral há mera discussão do
valor devido, na liquidação decorrente de sentença coletiva condenatória genérica tam-
bém se discute o nexo de causalidade entre a conduta apurada na ação coletiva e o dano
individualmente sofrido.

Por esse motivo, a liquidação das sentenças coletivas é conhecida como liqui-
dação imprópria, já que além do valor, deve-se demonstrar também a condição de vítima,
isto é, demonstrar a existência de nexo de causalidade.

Em suma, na liquidação imprópria, ao se tratar de direitos individuais indispo-


níveis, deverá a vítima demonstrar:

→ A qualidade de vítima (nexo de causalidade);


→ A extensão do seu prejuízo individual (quantum debeatur).

• Por exigir esses dois requisitos, em regra, é necessária a prova de fatos novos, mo-
tivo pelo qual a liquidação será feita pelo procedimento comum (art. 509, II, do CPC/2015).

A liquidação individual, além de ter como fundamento uma sentença genérica


proferida em ação coletiva de direitos individuais homogêneos, também pode ter como
fundamento uma sentença condenatória proferida em ação para tutela de direitos difusos
ou coletivos, já que nessas ações, a sentença de procedência possui eficácia erga omnes
em prol da coletividade (direitos difusos) ou ultra partes, em prol de um grupo, classe ou
categoria (direitos coletivos) (transporte in utilibus da coisa julgada).

• Lembrar da discussão que há na doutrina se a há necessidade de pedido ex-


presso ou não. Há, portanto, conforme dito anteriormente, transporte in utilibus da coisa
julgada, também nas ações que versem sobre direitos difusos e coletivos.

A liquidação poderá ser efetuada pela própria vítima ou por um dos legitimados
para ação coletiva. Dessa forma, a liquidação pode ser individual (execução individual),
quando promovida pela vítima, ou coletiva (execução coletiva), quando promovida por um
dos legitimados do art. 82 do CDC, mas que será feita em favor das vítimas (art. 97 do CDC).
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Art. 97. A liquidação e a execução de sentença poderão ser promovi-
das pela vítima e seus sucessores, assim como pelos legitimados de
que trata o art. 82.

• Execução individual → feita pela própria vítima;


• Execução coletiva → feito pelo colegitimado, mas em favor da vítima.

Entretanto, ao contrário do que ocorre em relação às sentenças condenatórias


em dinheiro por lesões a interesses difusos ou coletivos, a indenização nas sentenças con-
denatórias de reparação aos interesses individuais homogêneos será destinada preferen-
cialmente às vítimas ou seus sucessores (art. 97 do CDC).

• O STJ entende que a liquidação individual tem preferência sobre a liquidação


coletiva (STJ, REsp 869.583/DF).

Com relação à competência para a execução, o art. 98, §2º, I, do CDC apenas disse
que será competente para a execução o juízo da liquidação da sentença ou da ação con-
denatória, no caso de execução individual. Dessa forma, o STJ tem aplicado por analogia
o art. 101, I, do CDC, que estabelece a competência do foro do domicílio do autor. Assim,
segundo o STJ, para a liquidação e execução individual, esta poderá ser formulada no foro
do domicílio do beneficiário, já que os efeitos e eficácia da sentença não estão circunscri-
tos aos limites geográficos do órgão prolator (STJ, REsp 1.243.887/PR/2011, REsp 1.098.242/
GO/2010 e CC 96.682/RJ/2010).

Portanto, em suma, para as ações individuais de liquidação e execução, a vítima


poderá optar pelo juízo da condenação ou propô-la no foro de sua residência.

• Não compete originariamente ao STF processar e julgar a execução individual


de sentenças genéricas de perfil coletivo, inclusive aquelas proferidas em mandado de se-
gurança coletivo, as quais devem ser executadas no juízo de 1ª instância (STF, Pet. 6.076/
DF/2017, Inf. 862 do STF).

→ Ex: servidores do Ministério da Saúde ingressaram com mandado de segurança


coletivo no STF, contra acórdão do TCU, que havia cessado o pagamento de determinado
benefício.

O STF deu razão aos servidores e determinou que a União voltasse a pagar o be-
nefício.

Nesse caso, quando cada servidor for executar a União para o pagamento do be-
nefício, a ação deve ser proposta na 1ª instância e não no STF, que apenas decidiu o mérito
do mandado de segurança coletivo.
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A jurisprudência consolidou entendimento de que o prazo prescricional para a
liquidação e execução da sentença condenatória é de 5 anos, por analogia ao art. 21 da
Lei 4.717/65 (STJ, REsp 673.380/RS/2005 e REsp 1.275.540/PR/2013). Esse prazo conta-se do
trânsito em julgado da sentença condenatória.

Art. 21. A ação prevista nesta lei prescreve em 5 (cinco) anos.

Súmula 150 do STF → prescreve a execução no mesmo prazo da pres-


crição da ação.

O STJ entende que esse prazo prescricional de 5 anos para realizar a liquidação e
execução da sentença coletiva conta-se do trânsito em julgado da sentença coletiva, inde-
pendentemente da publicação de editais convocando eventuais beneficiários (STJ, REsp
1.388.000/PR/2016, Inf. 580 do STJ). Assim, para o STJ, o disposto no art. 94 do CDC que de-
termina a publicação de edital em órgãos oficiais aplica-se apenas para que interessados in-
tervenham na fase de conhecimento, não havendo essa exigência para a fase de execução.

3.11.2.2. Liquidação e Execução Coletiva:

Em se tratando de direitos individuais homogêneos, a liquidação e execução


podem ser individuais quando feita pela vítima ou seus sucessores (conforme vimos no
tópico acima). Entretanto, ela também poderá ser liquidação e execução coletiva, quando
os legitimados para a ação coletiva realizarem a liquidação e execução de uma sentença
proferida em ação civil pública que defenda direitos individuais homogêneos.

• O STJ entende que a liquidação individual tem preferência sobre a liquidação


coletiva (STJ, REsp 869.583/DF).

Assim como na liquidação e execução de sentença relativa a direitos difusos e


coletivos, no caso da liquidação e execução coletiva de sentença relativa a direitos indi-
viduais homogêneos, não haverá a instauração de um novo processo, sendo apenas mais
uma fase do processo coletivo originário.

Uma vez terminada a fase de liquidação coletiva, se as vítimas ou seus sucesso-


res não promoverem suas execuções individualmente, poderá ocorrer a execução coletiva,
prevista no art. 98 do CDC. Nessa situação, a execução abrangerá as vítimas cujas indeni-
zações já tiverem sido fixadas em sentença de liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de
outras execuções.

É como se um colegitimado estivesse realizando a execução em nome de cada


uma das vítimas individuais.
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Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos legi-
timados de que trata o art. 82, abrangendo as vítimas cujas indeniza-
ções já tiveram sido fixadas em sentença de liquidação, sem prejuízo
do ajuizamento de outras execuções.

3.11.2.3. Fluid Recovery:

O fluid recovery ocorre nas situações em que há liquidação subsidiária, que ocor-
re quando decorre o prazo de um ano sem habilitação de interessados em número compatí-
vel com a gravidade do dano (art. 100 do CDC).

Art. 100. Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interes-


sados em número compatível com a gravidade do dano, poderão os
legitimados do art. 82 promover a liquidação e execução da indeni-
zação devida.
Parágrafo único. O produto da indenização devida reverterá para o
fundo criado pela Lei n.° 7.347, de 24 de julho de 1985.

O fluid recovery é utilizado quando se tratar de direitos individuais homogêneos,


na situação em que nem todos os lesados promovem a suas respectivas execuções indi-
viduais e nem pediram para que fosse efetuada uma execução coletiva, situação que não
ocorre o que o art. 100 do CDC chama de “habilitação de interessados em número compatí-
vel com a gravidade do dano”.

Nessa hipótese, em razão da inércia das vítimas (que muitas vezes nem sabem
que foram lesionadas), o causador do dano será obrigado a pagar por todo o dano. Entre-
tanto, ao invés de ser destinado aos lesados, esse valor será revertido ao fundo de reconsti-
tuição dos direitos difusos, criado pela LACP (art. 100, parágrafo único, do CDC).

Por essa razão, diz-se que a reparação é fluída (fluid recovery), já que o valor ar-
recadado não se reverte concreta e individualmente para cada uma das vítimas, mas sim
de forma fluída e difusamente, destinando os valores a toda coletividade através do fundo
de direitos difusos.

Dessa forma, a reparação fluída (fluid recovery) é utilizada nas seguintes situações:

→ Os beneficiários do dano não são identificáveis;

→ O prejuízo é individualmente irrelevante, mas globalmente relevante;

→ Quando não há habilitação dos beneficiários.


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Assim, quando se tratar de direitos individuais homogêneos, a legitimidade do
Ministério Público (ou de outro legitimado) para execução surgirá após o prazo de 1 ano do
trânsito em julgado, se não houver habilitação de interessados em número compatível com
a gravidade do dano (art. 100 do CDC).

Nessa situação, o valor arrecadado será destinado ao Fundo de Defesa de Direi-


tos Difusos, previsto no art. 13 da LACP.

Isso ocorre, pois, por alguma razão, as vítimas se desinteressaram pelo cumpri-
mento individual da sentença, retornando a legitimidade para os entes públicos previstos
no art. 5º da Lei 7.347/85 e art. 82 do CDC. Isso evita que a sentença se torne inócua, evitan-
do que o causador do dano seja liberado do pagamento de indenizações.

Antes de se instaurar a liquidação subsidiária, há necessidade de publicação de


edital, por analogia ao art. 94 do CDC, para que se tenha início a contagem do prazo de 1
ano para habilitação dos interessados (STJ, REsp 869.583/DF/2012).

Esse prazo de 1 ano é decadencial. Assim, ultrapassados esse 1 ano, a vítima


não poderá executar seu crédito individual e nada mais poderá fazer. Caso assim não fos-
se, o devedor seria obrigado a pagar mais do que o valor do dano por ele gerado, já que, em
tese, no valor que ele pagou está englobado o valor que ele causou a todas as vítimas.

→ Ex: uma empresa lesou 1.000 vítimas. Dessas, após 1 ano do trânsito em julga-
do, 400 já ajuizaram execuções individuais e 600 já solicitaram que um colegitimado promo-
va a execução coletiva. Nessa situação não haverá fluid recovery, pois todo o valor executa-
do irá para as vítimas.

→ Ex2: uma empresa lesou 1.000 vítimas. Dessas, após 1 ano do trânsito em jul-
gado, 300 já ajuizaram execuções individuais, 500 já solicitaram a colegitimado que prova a
execução coletiva e 200 vítimas permaneceram inertes. Nesse caso, 800 vítimas serão res-
sarcidas por meio da execução (seja ela individual ou coletiva), mas 200 delas nada recebe-
rão, havendo o fluid recovery, que será destinado ao fundo de direitos difusos.

• A Lei 7.913/89, que regula a ação civil pública de proteção dos direitos indivi-
duais homogêneos dos investidores lesados no mercado de valores imobiliários, dispõe
que o valor da condenação ficará depositado em uma conta remunerada, à disposição do
juízo, até que o investidor, convocado mediante edital, habilite-se ao recebimento da par-
cela que lhe couber (art. 2º, §1º, da Lei 7.913/89). Nesse caso, o prazo antes de se realizar o
fluid recovery é de 2 anos, contados da publicação do edital convocatório. Ademais, passa-
do esse prazo de 2 anos, caso o valor não tenha sido reclamado, ocorrerá o fluid recovery,
sendo o valor destinado ao fundo de direitos difusos previsto no art. 13 da LACP.
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O art. 99, caput, do CDC estabelece prioridade dos créditos relativos a direitos
individuais homogêneos em relação aos créditos relativos aos direitos difusos e coletivos.
Assim, se um mesmo fato gerar danos difusos, coletivos e individuais homogêneos, terão
prioridade na execução, aqueles valores decorrentes dos direitos individuais homogêneos.

Para assegurar essa prioridade, a destinação dos valores revertidos ao fundo de


direitos difusos ficará sustada enquanto pendentes de segundo grau as ações de indeni-
zação pelos danos individuais, salvo se o patrimônio do devedor for manifestamente sufi-
ciente para responder pela integralidade de dívidas (art. 99, parágrafo único, do CDC).

Art. 99. Em caso de concurso de créditos decorrentes de condenação


prevista na Lei n.° 7.347, de 24 de julho de 1985 e de indenizações pe-
los prejuízos individuais resultantes do mesmo evento danoso, estas
terão preferência no pagamento.
Parágrafo único. Para efeito do disposto neste artigo, a destinação
da importância recolhida ao fundo criado pela Lei n° 7.347 de 24 de
julho de 1985, ficará sustada enquanto pendentes de decisão de se-
gundo grau as ações de indenização pelos danos individuais, salvo
na hipótese de o patrimônio do devedor ser manifestamente sufi-
ciente para responder pela integralidade das dívidas.

3.12. Custas processuais e ônus da sucumbência.

A isenção de custas e despesas processuais previstas nos artigos 18 da LACP e


87 do CDC beneficia somente aos autores da demanda, a fim de facilitar o acesso à justiça
coletiva. Portanto, na hipótese de procedência da ação, a parte vencida (réu) arcará com
todas as custas e despesas processuais, inclusive honorários advocatícios. Igual sistemática
aplica-se ao autor, nas hipóteses de litigância de má-fé.

ATENÇÃO: a execução de individual de sentença coletiva pela própria vítima pressupõe o


pagamento antecipado das respectivas despesas processuais, tendo em vista a tutela de
interesse eminentemente privado nesta fase.

3.13. Prescrição.

Ante a ausência de disposição legal expressa na LACP e no CDC, aplica-se, analo-


gicamente, a prescrição quinquenal da ação popular, que integra o microssistema proces-
sual coletivo ao lado da ação civil pública. Ressalvam-se, apenas a pretensão de ressarci-
mento ao erário e reparação de danos ambientais, imprescritíveis.

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ATENÇÃO: o despacho que determina a citação nas ações coletivas destinadas à defesa de
interesses individuais homogêneos interrompe a prescrição em favor de todos os lesados,
pois, do contrário, as vítima teriam que adotar atitudes incompatíveis com os objetivos do
processo coletivo para tal finalidade (habilitar-se como litisconsortes na ação coletiva ou
ajuizar demandas individuais).

3.14. Reexame Necessário:

Segundo o STJ, nas ações civis públicas deverá ser aplicado o reexame necessá-
rio, com fundamento na aplicação analógica do art. 19 da Lei de Ação Popular (Lei 4.717/65):

Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência


da ação está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo
efeito senão depois de confirmada pelo tribunal; da que julgar a
ação procedente caberá apelação, com efeito suspensivo.

Além do mais, em razão da aplicação subsidiária do CPC, aplica-se também o


disposto no art. 496, I, do CPC/2015 às ações civis públicas, quando se tratar de decisão
proferida contra a União, os Estados, Distrito Federal e Municípios e suas respectivas
autarquias e fundações de direito público.

• A Lei 7.853/89 que dispõe sobre o apoio às pessoas com necessidades especiais,
estabelece em seu art. 4º, §1º, que a sentença que concluir pela carência ou improcedência
da ação fica sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal.

O STJ entende que não se admite o cabimento de reexame necessário, nas


ações coletivas que versem sobre direitos individuais homogêneos (STJ, REsp 1.374.232/
ES/2017). Segundo o STJ, o fundamento da remessa necessária reside na precaução com
litígios que envolvam bens jurídicos relevantes. Como os direitos individuais não são
propriamente coletivos (há na verdade a tutela coletiva de direitos), não se deve utilizar de
um instrumento colocado no ordenamento para tutelar interesses sociais.

Assim, temos que:

→ A remessa necessária se aplica às ações coletivas que versem sobre direitos


difusos e coletivos;

→ A remessa necessária não se aplica às ações que versem sobre direitos


individuais homogêneos.

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• A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação de
improbidade administrativa está sujeita ao reexame necessário previsto no art. 19 da Lei
de Ação Popular (Lei 4.717/65) (STJ, EREsp 1.220.667/MG/2017, Inf. 607 do STJ).

• O STJ mudou de entendimento, pois antes entendia que não cabia reexame
necessário nas ações de improbidade por ausência de previsão legal.

• Se a ação de improbidade administrativa for julgada improcedente haverá


necessidade de remessa necessária independentemente do valor da sucumbência (STJ,
AgInt no REsp 1.379.659/DF/2017).

• AÇÃO POPULAR.

4.1. Condiçoes da ação.

4.1.1. Legitimidade ad causam.

4.1.1.1. Legitimidade ativa.

A ação popular constitui importante instrumento de democracia participativa e


garantia fundamental prevista no artigo 5º, inciso LXXIII da Constituição Federal:

Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que


vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que
o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e
ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprova-
da má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.

Conforme se infere da leitura do aludido dispositivo constitucional, tem legitimi-


dade para propor ação popular qualquer cidadão, assim considerado o nacional em pleno
gozo dos direitos políticos. Portanto, a titularidade de capacidade eleitora ativa (direito de
votar) é suficiente para tanto, dispensada, pois a capacidade eleitoral passiva (direito de ser
votado).

A prova da cidadania, para ingresso em juízo, faz-se com o título de eleitor ou


documento equivalente, mas não é necessário que o cidadão esteja inscrito como tal no
mesmo Município onde ajuizará a ação popular (artigo 1º, § 3º da LAP). Ainda que menor
de 18 (dezoito) anos (pode ser eleitor pessoa maior de 16 anos), a propositura da demanda
independe de assistência do autor por seus pais ou responsáveis.

Prevalece o entendimento de que a legitimidade para propositura de ação popu-


lar é extraordinária, na forma de substituição processual. Há quem entenda, outrossim, tra-
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ta-se de legitimação ordinária, pois o cidadão, enquanto membro da coletividade, também
é titular do direito discutido em juízo.

4.1.1.2. Legitimidade passiva.

De acordo com o disposto no artigo 6º da LAP:

Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e


as entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários
ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado
ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado
oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.

A ação popular tem natureza predominantemente desconstitutiva ou declarató-


ria negativa, de sorte que o pedido principal consiste na invalidação do ato contrário ao in-
teresse tutelado. Porém, quando necessário, seja para fins de reparação do dano, seja para
afastar o risco de lesão, poderá ser formulado pedido condenatório.

No tocante ao pedido de invalidação, é obrigatória a inclusão no pólo passivo de


todas as autoridades que contribuíram para a formação do ato e os seus beneficiários dire-
tos, porquanto produzirá como efeito a recondução ao status quo ante de todas as partes.
Trata-se, no caso, de litisconsórcio necessário e unitário.

Por outro lado, no tocante ao pedido condenatório, tendo em vista a respon-


sabilidade solidária das autoridades que contribuíram para a formação do ato e os seus
beneficiários diretos, o autor pode demandar apenas aqueles que dispuserem de recursos
financeiros suficientes para promover a reparação do dano. Trata-se, pois, de litisconsórcio
facultativo e simples.

ATENÇÃO: a aprovação das contas pelo Tribunal de Contas não induz à inclusão dos seus mem-
bros no polo passivo da ação popular, pois não atuam na formação dos atos controlados que,
tampouco dependem para serem eficazes, da ratificação desses órgãos.

4.1.2. Interesse processual.

Como dito, a ação popular tem natureza predominantemente desconstitutiva ou


declaratória negativa, de sorte que o pedido principal consiste na invalidação do ato contrá-
rio ao interesse tutelado. Apesar de prescindível a existência de dano atual, é indispensável,
ao menos a existência de um ato capaz de gerar dano.

Em outras palavras, considerando que a ação popular sempre deve veicular pe-
dido declaratório de nulidade, falta ao autor interesse processual se ainda não existe atoÊÌ aiÊ`i“œÊÛiÀȜ˜ÊœvÊ
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ser invalidado. Se o ato lesivo ainda não foi praticado, os legitimados podem propor ação
civil pública, em caráter preventivo, a fim de evitar a sua prática. Pela via da ação popular,
contudo, isso não é possível.

4.2. Elementos da ação.

4.2.1. Partes.

A questão sobre quem pode ser parte em uma ação popular foi tratada no item
sobre legitimidade ad causam.

4.2.2. Causa de pedir.

O pedido de invalidação pode recair sobre atos administrativos praticados pelo:

a) Poder Executivo e outros entes públicos;

b) Ministério Público;

c) Poder Legislativo (atos normativos de efeitos concretos sem a forma de lei e;

d) Poder Judiciário (atos judiciais atípicos).

ATENÇÃO: prevalece o entendimento pela possibilidade de invalidação de atos


administrativos discricionários, praticados em conformidade com a lei, mas contrários à
moralidade administrativa, que constitui, por si só, fundamento constitucional para a pro-
positura da demanda.

O êxito da ação popular pressupõe a descrição do ato que se pretende invalidar e


sua lesividade ao interesse tutelado, ressalvados os atos previstos no artigo 4º da LAP, cuja
lesividade é presumida, sendo suficiente, neste caso, a demonstração do dano, efetivo ou
potencial, ao direito objeto da demanda.

ATENÇÃO: prevalece o entendimento de que a ilegalidade do ato não constitui pressupos-


to necessário para o ajuizamento da ação popular. É suficiente para tanto que o ato seja
lesivo à moralidade administrativa, ao meio ambiente, ao patrimônio público, histórico
ou cultural.

4.2.3. Pedido.

A ação popular tem natureza predominantemente desconstitutiva ou declarató-


ria negativa, de sorte que o pedido principal consiste na invalidação do ato contrário ao in-
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teresse tutelado. Porém, quando necessário, seja para fins de reparação do dano, seja para
afastar o risco de lesão, poderá ser formulado pedido condenatório de qualquer espécie
(obrigação de fazer, não fazer, entregar ou pagar quantia certa).

ATENÇÃO: o ajuizamento da ação popular pressupõe, ao menos, a existência de um ato


lesivo, embora prescindível o dano efetivo ao interesse tutelado. Nesse contexto, tendo
em vista o princípio da inafastabilidade da jurisdição, é admissível, em sede de ação po-
pular, pedido declaratório de nulidade em caráter preventivo, ou seja, após a prática do
ato, mas antes da ocorrência do dano, cumulado, se for o caso, com pedido condenatório
em obrigação de fazer ou não fazer.
Com efeito, seria contraproducente exigir a ocorrência de dano efetivo para a propositura
da demanda, sobretudo em matéria ambiental, onde a tutela preventiva tem importante
função instrumental, dada a dificuldade de reparação integral dos danos causados ao
meio ambiente.

4.3. Competência.

A Constituição não prevê, expressamente, nenhuma hipótese que autorize o STJ


a processar e julgar, originariamente, ações populares. Já o STF será originariamente com-
petente para tanto nas seguintes hipóteses:

c) ações em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamen-


te interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem este-
jam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados (artigo 102, I, n da CF) e;

d) ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do


Ministério Público (artigo 102, I, r da CF).

Consoante o disposto no artigo 5º da LAP:

Art. 5º Conforme a origem do ato impugnado, é competente para co-


nhecer da ação, processá-la e julgá-la o juiz que, de acordo com a
organização judiciária de cada Estado, o for para as causas que inte-
ressem à União, ao Distrito Federal, ao Estado ou ao Município.
§ 1º Para fins de competência, equiparam-se atos da União, do Dis-
trito Federal, do Estado ou dos Municípios os atos das pessoas cria-
das ou mantidas por essas pessoas jurídicas de direito público, bem
como os atos das sociedades de que elas sejam acionistas e os das
pessoas ou entidades por elas subvencionadas ou em relação às
quais tenham interesse patrimonial.
§ 2º Quando o pleito interessar simultaneamente à União e a qual-
quer outra pessoas ou entidade, será competente o juiz das`ˆÌi`Ê܈Ì
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da União, se houver; quando interessar simultaneamente ao Estado
e ao Município, será competente o juiz das causas do Estado, se hou-
ver.
§ 3º A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas
as ações, que forem posteriormente intentadas contra as mesmas
partes e sob os mesmos fundamentos.
§ 4º Na defesa do patrimônio público caberá a suspensão liminar do
ato lesivo impugnado.

Todavia, é preciso fazer algumas ressalvas acerca do aludido dispositivo legal, à


luz da Constituição Federal. Em primeiro lugar, a competência da Justiça Federal é determi-
nada pelo artigo 109 da Constituição e não pelas normas de organização judiciária de cada
Estado. Em segundo lugar, o mero interesse patrimonial da União não é determinante para
fixar a competência da Justiça Federal; é mister que a União atue como parte, assistente ou
opoente e tenha interesse jurídico na demanda.

No tocante à competência territorial:

a) Se a União for ré: aplica-se a regra prevista no artigo 109, § 2º da Constituição,


de forma que a ação pode ser proposta no foro de domicílio do autor, no local do ato ou fato,
onde situada a coisa ou no Distrito Federal;

b) Se a União for autora: aplicam-se as regras de competência da ação civil pública.

4.4. Conexão, continência e litispendência.

Além do exposto no item 2.6 acerca das hipóteses de conexão, continência e litis-
pendência entre ações coletivas e individuais, prevalece o entendimento no sentido de ser
possível a conexão entre ação popular e mandado de segurança coletivo. Parte da doutrina,
no entanto, rechaça tal possibilidade considerando que a ação popular destina-se apenas
à defesa de interesses difusos, ao passo que o MS coletivo tutela exclusivamente direitos
coletivos em sentido estrito e individuais homogêneos.

4.5. Particularidades procedimentais.

4.5.1. Liminares.

Na ação popular, a liminar pode ser concedida independentemente de oitiva pré-


via do representante judicial da Fazenda Pública, uma vez que o artigo 2º da Lei 8437/92
somente se refere à ação civil pública e ao mandado de segurança coletivo.

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As ações populares, quando em defesa do patrimônio público, não são ajuizadas
contra o Poder Público, mas em face dele, e, muitas vezes, em seu favor, pois visa à recom-
posição do patrimônio da entidade lesada. Portanto, não incide, no caso, a proibição de
conceder liminares contra atos do Poder Público, prevista no artigo 1º da Lei 8437/97.

4.5.2. Possíveis atitudes para a entidade cujo ato é impugnado.

A pessoa jurídica de direito público ou privado, cujo ato seja objeto de impugna-
ção, pode optar por alguma das seguintes atitudes processuais:

a) Contestar o pedido;

b) Abster-se de contestar o pedido, caso em que não incide a presunção de vera-


cidade dos fatos decorrente da revelia;

c) Atuar ao lado do autor, quando tal postura se afigure útil ao interesse público.

Tal possibilidade é denominada pela doutrina de despolarização do processo ou


intervenção móvel.

4.6. Atuação do Ministério Público.

Nos termos do artigo 6º, § 4º da LAP, o Ministério Público, obrigatoriamente, atua-


rá como fiscal da ordem jurídica nas ações populares. Como tal, a instituição não pode sus-
tentar, no mérito, a validade do ato impugnado, ou a ausência de responsabilidade dos seus
autores. Porém, nada impede a alegação de questão processual contrária aos interesses do
autor ou o pedido de improcedência da demanda.

Além disso, o Ministério Público exerce importante função de órgão ativador da


prova e auxiliar do autor, para que a instrução probatória seja concluída com celeridade,
bem como para que as requisições de documentos sejam atendidas no prazo legal.

Não obstante, o Ministério Público atua como sucessor do autor, em caso de de-
sistência ou abandono infundado da causa (artigo 9º da LAP), pode interpor recursos em
face das decisões contrárias ao autor (artigo 19, § 2º da LAP) e promover a execução, caso o
autor não o faça no prazo de 60 (sessenta) dias (artigo 16 da LAP).

4.7. Sentença e coisa julgada.

A sentença que concluir pela carência ou improcedência da ação popular está


sujeita à reexame necessário, por força de disposição legal expressa constante do artigo
19 da LAP. Por outro lado, a sentença de procedência é recorrível via apelação, com efeito
suspensivo. `ˆÌi`ÊÜˆÌ ÊÌ iÊ`i“œÊÛiÀȜ˜ÊœvÊ
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No tocante à formação de coisa julgada material, dispõe o artigo 18 da LAP:

Art. 18. A sentença terá eficácia de coisa julgada oponível “erga om-
nes”, exceto no caso de haver sido a ação julgada improcedente por
deficiência de prova; neste caso, qualquer cidadão poderá intentar
outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

Trata-se, pois de coisa julgada secundum eventum litis e secundum eventum pro-
bationes, tal como se dá nas ações civis públicas destinadas à defesa de interesses difusos e
coletivos em sentido estrito.

4.8. Liquidação e execução da sentença.

Tem legitimidade para promover a execução da sentença proferida em sede de


ação popular:

a) o autor;

b) terceiros: outros cidadãos e as entidades previstas no artigo 1º da LAP, ainda


que tenham figurado no polo passivo da demanda (artigo 17 da LAP);

c) subsidiariamente, o Ministério Público, se o autor ou terceiros não promove-


rem a execução no prazo de 60 (sessenta) dias (artigo 16 da LAP).

Lembrando que a execução provisória só é possível após a condenação em se-


gunda instância, pois o recurso de apelação tem efeito suspensivo.

5. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO.

Consoante o disposto no artigo 21 da Lei 12016/09, o mandado de segurança co-


letivo destina-se à defesa de direitos coletivos em sentido estrito e individuais homogêneos.
Não obstante, parcela significativa da doutrina sustenta a possibilidade de impetração do
mandamus em favor de direitos difusos, tendo em vista que a garantia constitucional em
análise não pode ser interpretada restritivamente.

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5.1. Condições da ação.

5.1.1. Legitimidade ad causam.

5.1.1.1. Legitimidade ativa.

5.1.1.1.1 Partidos políticos.

Conforme se infere do artigo 21 da LMS, os partidos políticos tem legitimidade


para impetrar MS coletivo em defesa de seus interesses legítimos, relacionados aos seus
integrantes ou à finalidade partidária.

A necessidade de pertinência temática é objeto de controvérsia doutrinária. A


finalidade partidária, por sua vez, compreende não apenas os interesses relativos aos fins
institucionais e programáticos de cada partido, mas também as finalidades inerentes a toda
e qualquer agremiação partidária em função de sua missão constitucional (autenticidade
do sistema representativo e defesa dos direitos fundamentais).

5.1.1.1.2. Organizações sindicais, entidades de classe e associações.

Ao contrário da ação civil pública, o requisito da pré-constituição não pode ser


dispensado para fins de impetração de MS coletivo, pois, neste caso, decorre da própria
Constituição, que não estabelece qualquer ressalva neste sentido.

ATENÇÃO: consoante o entendimento do STJ, associações de entes políticos (ex.: associa-


ções de Municípios) não tem legitimidade para defender judicialmente o interesse de seus
associados, nem mesmo via MS coletivo (REsp 141733).

5.1.1.1.3. Outros legitimados.

Enquanto garantia constitucional fundamental, o MS coletivo não comporta in-


terpretação restritiva. Por essa razão, parte da doutrina entende que também detém legiti-
midade para impetrar o mandamus todos os colegitimados previstos na LACP e no CDC para
a propositura de ações coletivas destinadas à defesa de qualquer interesse transindividual.

Além disso, a legitimidade do Ministério Público e da Defensoria Pública decorre,


sobretudo, da vocação constitucional de tais instituições para a defesa de interesses coleti-
vos em sentido amplo.

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5.1.1.2. Legitimidade passiva.

Predomina na doutrina o entendimento de que a autoridade coatora não é ré no


mandado de segurança, mas sim a pessoa jurídica à qual esteja vinculada.

5.1.2. Interesse processual.

De acordo com a súmula 266 do STF, não cabe mandado de segurança contra lei
em tese. Isto significa que a simples entrada em vigor de uma lei não configura, por si só,
lesão ou ameaça a direito do administrado, caracterizadora do interesse processual neces-
sário para a impetração do mandamus. Não há óbice, porém, ao manejo de mandado de
segurança contra normas de efeitos concretos.

5.1.3. Possibilidade jurídica do pedido.

Nos termos do artigo 5º da LMS, é vedada a impetração de mandado de seguran-


ça quando se tratar:

I - de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensi-


vo, independentemente de caução;
II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;
III - de decisão judicial transitada em julgado.

Além das vedações expressas, não é cabível a impetração de MS em face de atos


interna corporis do Poder Legislativo e, segundo a literalidade da lei, para a defesa de inte-
resses difusos (ressalvada corrente doutrinária em sentido contrário).

5.2. Elementos da ação.

5.2.1. Partes.

A questão sobre quem pode impetrar MS coletivo foi tratada no item sobre legiti-
midade ad causam.

5.2.2. Causa de pedir.

O impetrante deve descrever ao ato impugnado, em que consiste a ilegalidade


ou abuso de poder, a lesão ou os fatos que indicam a ameaça de lesão e o direito líquido e
certo, não amparável por habeas corpus ou habeas data.

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5.2.3. Pedido.

O mandando de segurança tem natureza mandamental, portanto, o provimento


jurisdicional postulado consiste em uma ordem judicial.

5.3. Competência.

A competência para fins de impetração de mandado de segurança é definida con-


forme a qualidade da autoridade coatora ou a natureza do cargo ocupado.

Assim, compete ao STF:

a) processar e julgar originariamente o mandado de segurança e o habeas


data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do
próprio Supremo Tribunal Federal (artigo 102, I, d);

b) julgar, em sede de recurso ordinário o mandado de segurança decidido em


única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão (artigo 102, II, a);

E ao STJ:

a) processar e julgar originariamente os mandados de segurança contra ato de


Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do pró-
prio Tribunal (artigo 105, I, b);

b) julgar, em sede de recurso ordinário, os mandados de segurança decididos em


única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distri-
to Federal e Territórios, quando denegatória a decisão (artigo 105, II, b);

ATENÇÃO: competência originária para julgar MS impetrado pela União, por entidade
autárquica ou empresa pública federal – contra ato de autoridade que detém foro por
prerrogativa de função perante o Tribunal de Justiça: prevalece a competência da Justiça
Federal que tem assento constitucional, através do respectivo TRF, por força do princípio
da hierarquia.

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5.4. Particularidades procedimentais.

5.4.1. Liminares.

De acordo com o disposto no artigo 7º, § 2º da LMS:

Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compen-
sação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens pro-
venientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores
públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou
pagamento de qualquer natureza.

Especialmente no tocante ao MS coletivo, a concessão de liminar pressupõe a


oitiva prévia do representante judicial da pessoa jurídica de direito público interessada (ar-
tigo 22, § 2º da LMS).

5.4.2. Desistência.

No MS coletivo, a extensão dos efeitos da coisa julgada pressupõe a desistência


do mandamus individual no prazo de 30 (trinta) dias, contados da ciência da impetração.

5.5. Sentença e meios de impugnação.

O julgamento do mandado de segurança pode resultar na prolação de uma sen-


tença terminativa ou resolutiva do mérito (procedência ou improcedência).

ATENÇÃO: prevalece na doutrina e na jurisprudência o entendimento de que a ausência


de direito líquido e certo (ou seja, de prova pré-constituída acerca da existência do direito
invocado) conduz à extinção do processo sem resolução do mérito.

As sentenças denegatórias de indeferimento da inicial são recorríveis via:

a) apelação: se proferidas pelo juiz;

b) agravo, se proferidas pelo relator.

As demais sentenças denegatórias são recorríveis via:

a) apelação sem efeito suspensivo, se proferidas pelo juiz;

b) recurso ordinário para o STF ou STJ, conforme o caso.


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As sentenças de procedência, além de sujeitas ao reexame necessário, são recor-
ríveis via:

a) apelação sem efeito suspensivo, se proferidas pelo juiz;

b) recurso extraordinário ou especial, conforme o caso.

5.6. Coisa julgada.

Dispõe o artigo 22 da LMS:

Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa


julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria substi-
tuídos pelo impetrante.

Não se aplica, no caso, as restrições constantes do artigo 16 da LACP e 2º-A da


Lei 9494/97. Com efeito, ao referir-se ao “grupo ou categoria substituídos pelo impetrante”
o dispositivo legal compreende a totalidade dos titulares do direito objeto do mandamus,
associados ou não ao autor.

Em resumo, temos:

Interesses Interesses Interesses


difusos coletivos individuais homogêneos

Coisa julgada erga Coisa julgada ultra


Procedência Coisa julgada erga omnes
omnes partes
Há coisa julgada em relação
aos colegitimados, mas não
Denegatória
Coisa julgada erga Coisa julgada ultra erga omnes (não impede que
por pretensão
omnes partes as vítimas que não atuaram
infundada
como litisconsortes busquem
a reparação individual)

Denegatória
Não há coisa Não há coisa Não há coisa julgada (inexis-
por insuficiência
julgada julgada tência de líquido e certo)
de provas

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