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PM-RN (Oficial de Saúde-Médico-Clínica
Médica) Conhecimentos Específicos -
2022 (Pós-Edital)
Autor:
Ricardo Humberto de Miranda
Félix
12 de Fevereiro de 2022
Sumário
Apresentação............................................................................... 2
Questões Gastroenterologia....................................................... 3
Doenças Hepáticas...........................................................................9
Doenças Intestinais.........................................................................17
Doenças Hepáticas.........................................................................53
Doenças Intestinais.........................................................................95
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PM-RN (Oficial de Saúde-Médico-Clínica Médica) Conhecimentos Específicos - 2022 (Pós-Edital)
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APRESENTAÇÃO
Bons estudos!!
QUESTÕES DE GASTROENTEROLOGIA
1. (FCC/TRT9 – 2013)
(B) o metoclopramida é agente terapêutico ideal, já que não causa discinesia tardia.
(C) as taxas de remissão após 5 anos são muito superiores com tratamento cirúrgico, comparado
ao clínico.
(E) O epitélio escamoso distal do esôfago é substituído por epitélio colunar intestinal.
3. (IBFC/DPME-SP – 2014)
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PM-RN (Oficial de Saúde-Médico-Clínica Médica) Conhecimentos Específicos - 2022 (Pós-Edital)
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(B) Gastrite
4. (FCC/TRE-AM – 2003)
(A) acalasia.
(C) esclerodermia.
5. (VUNESP/EBSERH-UFU-HCU – 2020)
(A) Embora presente no antro e no corpo, o H. pylori é mais comumente encontrado no corpo
do estômago, onde existem as condições ideais para sua sobrevivência.
(B) Na gastrite de antro, ocorre secreção de ácido diminuída, e ela pode estar associada à
atrofia.
(C) O H. pylori, maior fator causal da gastrite crônica, tem um longo período latente de infecção
subclínica, durante o qual causa inflamação e dano da mucosa.
(D) Embora o H. pylori tenha sido encontrado na biópsia, é improvável que a lesão gástrica do
paciente esteja associada à infecção por esta bactéria.
(E) O paciente não apresentava critérios de gravidade, na avaliação inicial, e a endoscopia não
deveria ter sido realizada. Não há necessidade de tratamento antibiótico dessa bactéria, no
presente momento.
6. (FCC/TRF3 – 2007)
Os mecanismos pelos quais a infecção crônica pelo H. Pylori contribui para a formação de
úlcera duodenal incluem os relatados abaixo, EXCETO
Paciente do sexo masculino, 38 anos, com história de dor epigástrica, realiza endoscopia
digestiva alta que revela a presença de úlcera duodenal. A presença de Helicobacer pylori é
comprovada por biópsia.
(A) A claritromicina deve ser utilizada em todas as linhas de tratamento, pois apresenta baixos
índices de resistência.
(B) Para o tratamento de primeira linha é recomendada terapêutica dupla, incluindo um inibidor
de bomba de prótons.
(C) O tratamento sequencial com amoxicilina e levofloxacino, cinco dias cada, pode ser uma
opção de segunda linha quando não há resposta a um esquema triplo inicial.
(D) Nos pacientes com exposição anterior aos macrolídeos, a terapia incluindo subsalicilato de
bismuto por 14 dias pode ser recomendada.
(E) Para um segundo tratamento, pode ser usado o mesmo esquema antibiótico já prescrito
anteriormente, por período mais prolongado.
8. (CONSULPLAN/TRF2 – 2017)
9. (FCC/TRE-SP – 2017)
Dado o risco de malignidade, quando são encontradas úlceras gástricas e/ou duodenais
durante uma endoscopia, habitualmente, recomenda-se biopsiar
(C) Início imediato inibidor da bomba de prótons e transfusão de plasma fresco congelado, para
controle hemorrágico, e programação de endoscopia digestiva alta.
(D) Início de infusão de inibidores da bomba de prótons em infusão contínua para estabilização
da acidez gástrica e tratamento do H. pylori, sendo endoscopia digestiva alta em segundo plano
em razão de histórico prévio e falta de aderência do paciente.
(E) Reposição volêmica para estabilização hemodinâmica, solicitação de preparo para transfusão
sanguínea e solicitação de endoscopia digestiva alta de urgência.
(C) Atletas.
(A) a dor por obstrução calculosa do ducto cístico costuma ser constante, embora chamada de
"cólica" (dor intermitente) biliar.
(D) uma vesícula completamente cheia de cálculos facilita a identificação destes pela
ultrassonografia.
(E) a tomografia computadorizada é mais sensível que a ultrassonografia para detecção de litíase
na vesícula.
(A) litotrícia.
A colecistite geralmente é causada por obstrução do ducto cístico por um ou mais cálculos.
Sobre a colecistite, assinale a alternativa correta.
(B) III, II e I.
(C) I, II e III.
(A) A incidência de casos sintomáticos e com icterícia aumenta com a idade do paciente ao
diagnóstico
(B) Homens que fazem sexo com homens e usuários de drogas injetáveis não estão entre os
grupos de risco para esta infecção
(C) Quando a infecção é resolvida, o anti-HAV IgM desaparece após 4 a 12 meses, mas o anti-
HAV IgG persiste durante a vida e confere proteção definitiva contra a infecção
(D) Como a infecção pelo HAV é em geral autolimitada, nenhum tratamento antiviral específico é
necessário
(A) Susceptível
Existe uma ordem para a interpretação dos marcadores virais da hepatite B com a qual
chega-se ao diagnóstico do paciente no momento. No entanto, existem algumas situações
especiais, como a presença de mutações. Assinale a situação mais compatível com um
indivíduo portador de hepatite B com mutação da região pré-core em replicação:
(A) HBsAg positivo; HBeAg positivo; Anti-HBe negativo; Anti-HBs positivo; e, DNA-HBV em altos
níveis.
(B) HBsAg positivo; HBeAg positivo; Anti-HBe negativo; Anti-HBs negativo; e, DNA-HBV em
altos níveis.
(C) HBsAg positivo; HBeAg negativo; Anti-HBe positivo; Anti-HBs negativo; e, DNA-HBV em
altos níveis.
(D) HBsAg negativo; HBeAg negativo; Anti-HBe positivo; Anti-HBs positivo; e, DNA-HBV em
altos níveis.
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Um paciente do sexo masculino, branco, de trinta e seis anos de idade, com diagnóstico de
linfoma não-Hodgkin B, compareceu ao hospital apresentando indicação de quimioterapia
com R-CHOP (rituximab, ciclofosfamida, doxorubicina, vincristina e prednisolona). Ele tinha
antecedente de hepatite B sem complicações e sem comorbidades e não possuía histórico
familiar de doenças oncológicas. Ao exame físico não foram constatadas alterações
sugestivas de doença hepática crônica. Os resultados dos exames mostraram alanina
aminotransferase de 24 U/L, bilirrubina total de 0,5 mg/dL e plaquetas de 284.000/mm3. O
antígeno de superfície (HBsAg), o Anti-HBC (IGG) e o Anti-HBe foram positivos e o HBeAg
foi negativo. O HBV-DNA (determinação quantitativa do vírus da hepatite B) foi indetectável.
Os demais exames laboratoriais estavam dentro da normalidade.
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(B) crioglobulinemia.
(D) linfoma.
(A) elbasvir/grazoprevir
(B) glecaprevir/pibrentasvir
(C) sofosbuvir/ledipasvir
(D) velpastavir/alfapeginerferona
(E) alfapeginterferona/ribavirina
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(A) o risco de desenvolvimento de cirrose hepática aumenta com o grau de ingesta alcoólica,
sendo a cirrose mais prevalente quando o consumo é maior que 20g de álcool ao dia.
(B) a característica clínica da hepatite alcoólica é o início agudo de icterícia. Outros sintomas são
febre, ascite e diminuição da musculatura proximal. Encefalopatia ocorre somente em estágios
avançados nos pacientes com cirrose documentada.
(C) a hepatite aguda é caracterizada por elevação de transaminases, sendo a relação TGP/TGO
maior que 2.
(D) fazem parte dos diagnósticos diferenciais de hepatite aguda alcoólica: esteato-hepatite não
alcoólica, hepatites virais agudas ou crônicas, doença hepática induzida por drogas, doença de
Wilson, Hepatite autoimune, deficiência de alfa 1 antitripsina, colangite, carcinoma
hepatocelular.
(E) se recomenda a retirada gradual da ingesta de álcool em casos de hepatite aguda, devido ao
risco de desenvolvimento de delirium tremens e síndrome de abstinência alcoólica.
A seguir são descritas causas de cirrose hepáticas, exceto pelo que se lê na alternativa:
(C) Galactosemia.
(D) Hepatite A, B e C.
Paciente feminino, 53 anos, procura atendimento médico com queixa de fraqueza, mal estar
e distensão abdominal de início há pelo menos 2 semanas. É portadora de hepatite C.
Durante a avaliação inicial, foi submetida à paracentese diagnóstica. O gradiente a lbumina
soro-ascite (GASA) foi de 1,3. O que é correto afirmar considerando esse resultado?
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Homem, 56 anos, hepatopata crônico secundário a etilismo, vem por dor, febre e aumento
do volume abdominal há 2 dias. Ao exame físico, regular estado geral, ictérico 2+/4, afebril,
PA 90 x 50 mmHg, aparelho respiratório sem alterações, ritmo cardíaco regular, frequência
cardíaca de 112 bpm, volumosa ascite, com dor difusa à palpação abdominal. Realizada
paracentese diagnóstica com 1 200 células, 65% polimorfonucleares e 35 %
linfomononucleares.
(D) melhora clínica com medidas que diminuem a produção e absorção de amônia.
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(D) Lavagem intestinal com clister glicerinado, hidratação com albumina humana e alta após
melhora do nível de consciência.
(E) Hidratação parenteral, lactulose por sonda enteral e rastreio infeccioso, incluindo paracentese
para investigar peritonite bacteriana espontânea.
(A) interferon.
(C) betabloqueador.
(D) octreotide.
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Dos abaixo, o paciente que com maior probabilidade receberá terlipressina, é o que
apresenta
Um homem de 50 anos foi admitido no pronto-socorro com dor em faixa no andar superior
do abdome e vários episódios de vômitos há 1 dia. Amilase = 2.400U/L e USG abdominal
que mostrava colelitíase sem dilatação da via biliar. Apresentava taquipneia, taquica rdia,
hipotensão, com T = 37,5°C. Leucograma = 12.500/mm3 sem desvio; PCR = 16; creatinina =
2,2mg/dL e bilirrubina total = 2,8mg/mL com BD = 2mg/mL e BI = 0,8mg/mL; gasometria:
pH = 7,35; HCO3 = 16mmHg e BE = -5. É correto afirmar que:
(D) A apresentação clínica pode ser justificada pela síndrome da resposta inflamatória sistêmica.
Diante da suspeita clínica de febre tifóide o exame de escolha para confirmar o diagnóstico,
na primeira semana de evolução da doença, é:
(A) urocultura.
(B) hemocultura.
(D) coprocultura.
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Sobre a infecção por Ascaris lumbricoides no homem, analise as sentenças abaixo e assinale
V (verdadeira) ou F (falsa). A seguir, assinale a alternativa que contém a sequência correta,
de cima para baixo.
(A) F, V, V
(B) V, V, V
(C) V, F, F
(D) F, F, F
(E) F, V, F
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Considere um paciente que apresenta uma parasitose cujo ciclo evolutivo está exposto na
figura abaixo.
(A) Praziquantel.
(B) Piperazina.
(C) Secnidazol.
(D) Ivemectina.
(E) Anfotericina B.
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(D) o tratamento deve ser feito exclusivamente com vancomicina por via oral.
(E) o tratamento deve ser feito com o uso conjunto de vancomicina e metronidazol.
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(A) dieta isenta de glúten, temporariamente, até que a mucosa intestinal se restabeleça, quando
o glúten poderá ser progressivamente reintroduzido.
(D) dieta isenta de lactose, temporariamente, até que a mucosa intestinal se restabeleça, quando
a lactose poderá ser progressivamente reintroduzida.
A diarreia aguda (DA) é uma alteração do hábito intestinal com diminuição da consistência
das fezes. Sobre o assunto, assinale a alternativa correta.
(A) Diabetes e amiloidose são causas de diarreia não infecciosas, decorrente da neuropatia
autonômica.
(B) A DA é uma queixa frequente no pronto-socorro sendo que 20% são causadas por ingestão
de água e alimentos contaminados por micro-organismos patogênicos.
(E) A diarreia alta é caracterizada por pequeno volume, alta frequência, acompanhada de puxo,
urgência, tenesmo, muco, pus e sangue.
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(D) Shigella.
(E) Salmonella.
(C) VIPoma
Das abaixo, a característica clínica que fala contra a hipótese diagnóstica de síndrome do
intestino irritável é
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(A) Melena é definida como a passagem de sangue vermelho vivo pelo reto, com ou sem fezes.
(E) A úlcera péptica gastroduodenal é uma causa de hemorragia digestiva alta que pode simular
uma HDB.
Com relação à escolha de método adequado para a detecção precoce de câncer de cólon,
assinale a opção correta.
(A) O preparo prévio é dispensável ao paciente para a realização da colonografia por tomografia
computadorizada.
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(B) Pacientes com histórico de angina que estejam assintomáticos e façam uso de aspirina
podem ser submetidos à colonoscopia sem a suspensão desse medicamento.
(C) Dado a baixa probabilidade de uma perfuração ou hemorragia grave em uma colonoscopia,
é desnecessário que o paciente seja informado do risco do procedimento.
(D) A realização da colonoscopia resulta em maior redução da mortalidade por detecção precoce
de câncer do cólon que a pesquisa de sangue oculto nas fezes do paciente.
(A) A retocolite ulcerativa envolve principalmente intestino grosso e mucosas orais e anal, sendo
comum o histórico de úlceras anais e orais.
(B) A doença de Crohn pode acometer apenas íleo terminal, justificando a respectiva
apresentação com diarreia sanguinolenta, perda de peso secundária, síndrome desabsortiva e
dor abdominal, tipo cólica crônica.
(D) A colectomia profilática deve ser indicada em pacientes jovens em início de doença,
evitando, assim, complicações futuras.
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(A) acometimento retal na grande maioria daqueles que apresentam inflamação do cólon.
(B) capacidade de acometer o trato gastrointestinal desde a boca até a região perianal.
(D) apresentar-se em cerca da metade dos casos com acometimento do íleo e cólon.
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1A 2E 3A 4A 5C 6C 7D 8D 9A 10 E
11 D 12 A 13 D 14 D 15 B 16 B 17 E 18 C 19 A 20 A
21 E 22 C 23 D 24 D 25 D 26 E 27 D 28 E 29 D 30 D
31 D 32 E 33 C 34 B 35 B 36 D 37 A 38 C 39 C 40 C
41 A 42 C 43 C 44 C 45 E 46 B 47 B 48 C 49 A 50 A
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1. (FCC/TRT9 – 2013)
(B) o metoclopramida é agente terapêutico ideal, já que não causa discinesia tardia.
(C) as taxas de remissão após 5 anos são muito superiores com tratamento cirúrgico, comparado
ao clínico.
Comentário:
Os sintomas clássicos da doença são pirose e regurgitação. Outros sintomas incluem disfagia,
dor torácica, sensação de globus, odinofagia, sintomas extra-esofágicos (por exemplo, tosse
crônica, rouquidão, chiado no peito) e, com pouca freqüência, náusea. Complicações da DRGE
podem surgir mesmo em pacientes que não apresentam sintomas esofágicos típicos. Essas
complicações podem ser esofágicas (por exemplo, esôfago de Barrett, estenose esofágica,
adenocarcinoma esofágico) ou extra-esofágica (por exemplo, laringite crônica, exacerbação da
asma).
O diagnóstico de DRGE pode basear-se apenas em sintomas clínicos em pacientes com sintomas
clássicos, como azia e/ou regurgitação. 40 a 90% dos pacientes apresentam boa resposta
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sintomática aos inibidores da bomba de prótons (IBP), porém esta não é critério diagnóstico.
Alguns pacientes podem necessitar de avaliação adicional se tiverem sinais de alarme, fatores de
risco para o esôfago de Barrett ou alguma evidência de anormalidade em exames de imagem
prévios. A endoscopia digestiva alta (EDA) não é necessária para fazer o diagnóstico de DRGE,
mas é fundamental na avaliação adicional.
A EDA pode ser normal em até 70% dos pacientes com DRGE não tratados. (alternativa A
correta) Em contraste com a esofagite infecciosa e induzida por medicamentos, que tendem a
estar no esôfago proximal, as ulcerações observadas na esofagite péptica são geralmente
irregulares ou lineares, múltiplas, e estão no esôfago distal. (alternativa E errada) As biópsias
devem visar quaisquer áreas suspeitas de metaplasia, displasia ou, na ausência de anormalidades
visuais, mucosa normal para avaliação de esofagite eosinofílica.
A manometria também pode ser útil em pacientes com dor torácica e/ou disfagia e EDA normal,
especialmente para excluir um distúrbio de motilidade esofágica. Também é usado para avaliar a
função peristáltica antes da cirurgia antirrefluxo para DRGE.
Inicia-se com dose-padrão de IBP uma vez ao dia por oito semanas com melhora da esofagite
em 86% dos casos. (alternativa B errada) Pacientes com esofagite erosiva grave (classificação de
Los Angeles Grau C e D) na EDA inicial devem ser submetidos a um novo exame após um curso
de dois meses de tratamento com IBP para avaliar a cicatrização e descartar o esôfago de
Barrett.
A cirurgia antirrefluxo é reservada para pacientes que necessitam de altas doses de IBP para
controle de queixas, sintomas persistentes comprovados de DRGE ou lesão da mucosa
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Gabarito: A
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(E) O epitélio escamoso distal do esôfago é substituído por epitélio colunar intestinal.
Comentário:
O esôfago de Barrett (EB) é a condição na qual um epitélio colunar metaplásico que possui
características gástricas e intestinais substitui o epitélio escamoso estratificado que normalmente
reveste o esôfago distal. A condição se desenvolve como consequência da doença crônica do
DRGE e predispõe ao desenvolvimento de adenocarcinoma do esôfago, chegando a 4-8% de
risco anual em caso de displasia de alto grau. (alternativa E correta)
Embora o risco de desenvolver câncer de esôfago seja aumentado pelo menos 30 vezes acima
do da população em geral, o risco absoluto de desenvolver câncer para um paciente com
esôfago de Barrett não displásico é baixo.
Qualquer alteração visível de mucosa deve ser ressecada, por exemplo, presença de nódulos. O
habitual é realizar biópsia em quatro quadrantes, com distância de 2cm entre si. Porém, na
presença de displasia, essa distância deve ser de 1cm. Opções a ablação endoscópica são
terapia fotodinâmica, crioterapia em spray e esofagectomia. (alternativa C errada)
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Gabarito: E
3. (IBFC/DPME-SP – 2014)
(B) Gastrite
Comentário:
Dispepsia é definida como uma dor persistente ou recorrente e/ou desconforto epigástrico. A
prevalência é de 10 a 30% em todo mundo e aproximadamente 25% dos pacientes com
dispepsia têm uma causa orgânica subjacente. No entanto, até 75% dos pacientes apresentam
dispepsia funcional (idiopática ou não ulcerosa) sem causa subjacente na avaliação diagnóstica.
(alternativa A correta)
EDA com pesquisa de H. pylori deve ser realizada em pacientes dispépticos com mais de 40
anos, não responsivos a IBPs, bloqueadores H2 ou pró-cinéticos, e pacientes com sinais de
alarme. Após o exame é possível classificar os pacientes em três grupos: 1) dispepsia orgânica,
naqueles em que há alterações endoscópicas (ex: úlcera péptica); 2) dispepsia funcional, em que
não há alterações e pesquisa de H. pylori é negativa; 3) pacientes sem alterações endoscópicas e
diagnóstico de H. pylori. Nestes o tratamento deve ser realizado. Em caso de melhora, fecha-se
o diagnóstico de dispepsia associado a H. pylori. Caso não, é considerado dispepsia funcional
(75% dos casos).
A dispepsia funcional é confirmada pelos critérios abaixo e pode ser classificada em duas
grandes síndromes: Síndrome de desconforto pós-prandial e Síndrome de dor epigástrica.
• Dispepsia recorrente nos últimos três meses e que iniciaram há pelo menos seis meses;
• Presença de um ou mais sintomas: plenitude pós-prandial, saciedade precoce,
epigastralgia, queimação;
• Ausência de lesão estrutural na EDA que justifiquem os sintomas.
Gabarito: A
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4. (FCC/TRE-AM – 2003)
(A) acalasia.
(C) esclerodermia.
Comentário:
As principais manifestações clínicas são disfagia para sólidos (91%) e líquidos (85%) e
regurgitação de alimentos não digeridos ou saliva (76 a 91%) Em torno de 85% dos pacientes
têm dificuldade em arrotar, o que pode ser devido a um defeito no relaxamento do esfíncter
esofágico superior. Dor torácica subesternal e azia ocorrem em aproximadamente 40 a 60% dos
pacientes.
Acalasia deve ser suspeitada nos seguintes pacientes: disfagia para sólidos e líquidos; azia que
não responde a uma tentativa de terapia com IBP; alimentos retidos no esôfago na EDA;
resistência excepcionalmente aumentada à passagem de um endoscópio pela junção
esofagogástrica - JGE (essa região deve ser biopsiada para excluir neoplasia). A manometria
esofágica é necessária para estabelecer o diagnóstico. Os achados diagnósticos manométricos
são relaxamento incompleto do esfíncter esofágico inferior (EEI) e aperistalse nos dois terços
distais do esôfago. Esofagograma com bário pode ser realizado para avaliar o esvaziamento
esofágico e a morfologia da JGE.
O tratamento da acalasia visa diminuir a pressão de repouso no EEI até um nível em que o
esfíncter já não impede a passagem do material ingerido. Isto pode ser conseguido por ruptura
mecânica das fibras musculares do EIE (por exemplo, dilatação pneumática, miotomia cirúrgica
ou miotomia endoscópica por via oral) ou por redução farmacológica na pressão do EEI (por
exemplo, injeção de toxina botulínica, nitratos orais, bloqueadores dos canais de cálcio).
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Gabarito: A
5. (VUNESP/EBSERH-UFU-HCU – 2020)
(A) Embora presente no antro e no corpo, o H. pylori é mais comumente encontrado no corpo
do estômago, onde existem as condições ideais para sua sobrevivência.
(B) Na gastrite de antro, ocorre secreção de ácido diminuída, e ela pode estar associada à
atrofia.
(C) O H. pylori, maior fator causal da gastrite crônica, tem um longo período latente de infecção
subclínica, durante o qual causa inflamação e dano da mucosa.
(D) Embora o H. pylori tenha sido encontrado na biópsia, é improvável que a lesão gástrica do
paciente esteja associada à infecção por esta bactéria.
(E) O paciente não apresentava critérios de gravidade, na avaliação inicial, e a endoscopia não
deveria ter sido realizada. Não há necessidade de tratamento antibiótico dessa bactéria, no
presente momento.
Comentário:
Embora existam várias hipóteses em relação ao papel da infecção por Helicobacter pylori na
patogênese da dispepsia funcional, o mecanismo permanece incerto. H. pylori pode causar
disfunção do músculo liso devido à indução de uma resposta inflamatória ou pelo início de uma
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Atualmente, a estratégia de teste e tratamento é recomendada para pacientes com idade <40
anos com dispepsia ainda não diagnosticada com H. Pylori e sem sinais alarmantes. O teste de
escolha para diagnóstico e controle de tratamento é o 13C-UBT. Com isso, poupa-se o paciente
da EDA.
Por ora, não há evidências consistentes de uma associação entre H. pylori e DRGE, parecendo
haver um efeito protetivo quanto ao aparecimento de esôfago de Barret e adenocarcinoma de
esôfago distal. Além disso, a erradicação bacteriana não leva ao aparecimento de sintomas de
DRGE. Para que o H. pylori exerça um efeito patogênico direto na DRGE, ele deve ter um
impacto sobre um desses determinantes primários da doença. Contudo:
A maioria dos pacientes com úlcera duodenal (UD) está infectada com H. pylori, chegando a
mais de 93% em algumas populações (China). Nos Estados Unidos e parte da Europa o H. pylori
esteve ausente em quase 30% dos pacientes com UD, havendo significativo uso de AINEs nesses
pacientes.
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Apenas 10 a 15% dos pacientes com infecção por H. pylori desenvolvem doença ulcerosa,
sugerindo que outros fatores são provavelmente importantes para determinar o resultado da
infecção. Um desses fatores é a cepa bacteriana: apenas as cepas com o gene A (cagA)
associado à citotoxina, coexpressam a citotoxina vacuolante (VacA), uma toxina que provoca
lesão celular in vitro. Aproximadamente 85 a 100% dos pacientes com UD têm cepas CagA +,
em comparação com 30 a 60% dos pacientes infectados que não desenvolvem úlceras.
Infecção por H. pylori ainda está associada anemia por deficiência de ferro, púrpura
trombocitopênica idiopática e deficiência de vitamina B12. Anemia ferropriva de origem obscura
tem indicação de tratamento da bactéria. Tal informação é decorrente de três metanálise que
demonstraram aumento da hemoglobina e ferritina após erradicação do H. pylori, tanto em
adultos, quanto em crianças.
Dentre os testes não invasivos para o diagnóstico de infecção por H. Pylori, o teste respiratório
com 13C-ureia (13C-UBT) é considerado padrão-ouro, com excelente precisão, baixo custo e
fácil execução. É considerada a primeira escolha para o controle da erradicação da bactéria e
implementação da estratégia de teste e tratamento.
O teste do antígeno fecal por ELISA é outra boa opção quando 13C-UBT não está disponível. Foi
validado para o diagnóstico inicial de infecção e terapia de erradicação em adultos, e sua
sensibilidade e especificidade são superiores a 92%.
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Entre os testes invasivos, ou seja, para pacientes com indicação de EDA, pode-se realizar teste
rápido de urease, que é barato, rápido, fácil de executar e altamente preciso para o diagnóstico
inicial de H. Pylori. Na maioria dos casos, a especificidade e sensibilidade são aproximadamente
95% e 87-95%, respectivamente. É necessário a coleta de uma biópsia do antro e do corpo
gástrico para aumentar a precisão do teste.
O uso de IBP pode levar a falso-positivos nos testes 13C-UBT, teste do antígeno fecal e teste da
uréase (não influencia no resultado da sorologia) devendo ser suspenso 14 dias antes da
realização do exame. Já os antibióticos e sais de bismuto, devem ser descontinuados, quatro
semanas antes.
De acordo com o 4º Consenso Brasileiro de H. pylori a pesquisa da bactéria deve ser feita de
quatro a seis semanas após o término do tratamento de erradicação. O teste respiratório com
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C-ureia e o teste de antígeno fecal com anticorpo monoclonal possuem alta sensibilidade e
não são invasivos, sendo os métodos de escolha. A avaliação histológica invasiva é uma
alternativa. O teste rápido da urease não é recomendado, após erradicação, pela baixa
sensibilidade (em torno de 60%).
A terapia tripla com combinação de IBP, amoxicilina e claritromicina por 14 dias é recomendada
como de primeira linha. Há tratamentos alternativos com terapia quádrupla com bismuto (IBP,
bismuto, tetraciclina e metronidazol por 10 a 14 dias) ou terapia concomitante (IBP, amoxicilina,
claritromicina e metronidazol ou tinidazol por 14 dias).
Na verdade, a escolha do regime inicial de antibióticos para tratamento do H. pylori deve ser
guiada pela presença de alergia à penicilina e de fatores de risco para resistência a macrolídeos.
Estes fatores são:
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A bactéria pode ser detectada no antro e no corpo do estômago na maioria dos pacientes
infectados. A frequência aproximada da localização do H. pylori dentro do estômago é a
seguinte:
Os dois primeiros padrões estão associados à infecção clássica por H. pylori, enquanto o último
padrão está associado à infecção, modificada pelo uso de IBP ou atrofia acentuada e metaplasia
intestinal. (alternativa A errada) A história natural usual da gastrite por H. pylori é de um estágio
precoce da infecção antral predominante, com apenas envolvimento mínimo do corpo. Esse
estágio está associado à liberação exagerada de gastrina e à redução da liberação de
somatostatina, muitas vezes precipitando um aumento na secreção ácida, o suficiente para
causar UD em alguns pacientes. (alternativa B errada)
Desta forma, os pacientes, nos quais a colonização por H. pylori é mais intensa no corpo
gástrico, podem diferir daqueles com infecção predominante no antro. As UD são
tipicamente associadas com gastrite antral predominante, pouca ou nenhuma atrofia e
secreção ácida normal ou aumentada. Em contraste, as úlceras gástricas e o câncer gástrico
são tipicamente associados com gastrite extensa, metaplasia intestinal disseminada e
secreção ácida gástrica baixa ou normal.
37
Gabarito: C
6. (FCC/TRF3 – 2007)
Os mecanismos pelos quais a infecção crônica pelo H. Pylori contribui para a formação de
úlcera duodenal incluem os relatados abaixo, EXCETO
Comentário:
A maioria dos pacientes com úlcera duodenal (UD) está infectada com H. pylori, chegando a
mais de 93% em algumas populações (China). Nos Estados Unidos e parte da Europa o H. pylori
esteve ausente em quase 30% dos pacientes com UD, havendo significativo uso de
antiinflamatórias não esteróides (AINEs) nesses pacientes.
38
39
alimento e à noite (entre cerca de 23:00 e 02:00), quando o padrão circadiano de secreção ácida
é máximo.
Pacientes com úlcera péptica, e principalmente úlceras do canal pilórico, podem apresentar
sintomas provocados por alimentos devido à sensibilização visceral e dismotilidade
gastroduodenal. Esses sintomas incluem dor epigástrica que piora com a alimentação, arrotos
pós-prandiais e plenitude epigástrica, saciedade precoce, intolerância a alimentos gordurosos,
náusea e vômitos ocasionais.
Gabarito: C
Paciente do sexo masculino, 38 anos, com história de dor epigástrica, realiza endoscopia
digestiva alta que revela a presença de úlcera duodenal. A presença de Helicobacer pylori é
comprovada por biópsia.
(A) A claritromicina deve ser utilizada em todas as linhas de tratamento, pois apresenta baixos
índices de resistência.
(B) Para o tratamento de primeira linha é recomendada terapêutica dupla, incluindo um inibidor
de bomba de prótons.
(C) O tratamento sequencial com amoxicilina e levofloxacino, cinco dias cada, pode ser uma
opção de segunda linha quando não há resposta a um esquema triplo inicial.
(D) Nos pacientes com exposição anterior aos macrolídeos, a terapia incluindo subsalicilato de
bismuto por 14 dias pode ser recomendada.
(E) Para um segundo tratamento, pode ser usado o mesmo esquema antibiótico já prescrito
anteriormente, por período mais prolongado.
Comentário:
Destacam-se o Esomeprazol e o Rabeprazol como os IBPs mais efetivos nos esquemas utilizados
em nosso meio, nos tratamentos de erradicação, em dose plena, de doze em doze horas. Essa
recomendação vem do fato dessas drogas possuírem meia vida e potência maiores, já que no
Brasil é alto o número de pacientes metabolizadores rápidos dos IBPs.
40
Na verdade, a escolha do regime inicial de antibióticos para tratamento do H. pylori deve ser
guiada pela presença de alergia à penicilina e de fatores de risco para resistência a macrolídeos.
Estes fatores são: (alternativa A errada)
o 2) IBP dose plena 12/12 horas + subcitrato de bismuto coloidal 240 mg 12/12 horas
+ tetraciclina 500 mg 6/6 horas (ou doxicilina 100 mg 12/12 horas) + metronidazol
400 mg 8/8 horas
Duração do tratamento: 10 a 14 dias (alternativa D correta)
• Alérgicos a penicilina:
o 1) IBP dose plena 12/12 horas + claritromicina 500 mg 12/12 horas + levofloxacina
500 mg 24/24 horas.
Duração do tratamento: 14 dias
o 2) IBP dose plena 12/12 horas + tetraciclina 500 mg 6/6 horas (ou doxiciclina 100
mg 12/12 horas) + metronidazol 400 mg 8/8 horas + subcitrato de bismuto coloidal
240 mg 12/12 horas.
Duração do tratamento: 14 dias
o 2) IBP dose plena 12/12 horas + subcitrato de bismuto coloidal 240 mg 12/12 horas
+ tetraciclina 500 mg 6/6 horas (ou doxiciclina 100 mg 12/12 horas) + metronidazol
400 mg 8/8 horas.
Duração do tratamento: 10 a 14 dias
o 3) IBP dose plena 12/12 horas + amoxicilina 1000 mg 12/12 horas + furazolidona
200 mg 12/12 horas + subcitrato de bismuto coloidal 240 mg 12/12 horas.
41
o 4) IBP dose plena 12/12 horas + subcitrato de bismuto coloidal 240 mg 12/12 horas
+ levofloxacina 500 mg 24/24 horas + amoxicilina 500 mg 12/12 horas.
Duração do tratamento: 14 dias
Os inibidores da bomba de prótons (IBP) inibem a HK-ATPase, a etapa final da secreção de ácido
gástrico pelas células parietais. Dentre os efeitos colaterais corriqueiros têm-se cefaleia e queixas
gastrintestinais (dor abdominal, flatulência, náuseas, xerostomia, diarreia). Edema periférico é
reação rara (<1%) do esomeprazol.
• Embora seja plausível uma associação entre IBPs e fraturas ósseas, a causalidade não foi
estabelecida. Os IBPs podem diminuir a absorção de cálcio insolúvel em água (por
exemplo, carbonato de cálcio). Quando a suplementação de cálcio é necessária em
pacientes que tomam IBPs, usamos suplementos de cálcio que não requerem ácido para
absorção, como citrato de cálcio.
• Os IBPs podem causar nefrite intersticial aguda. O uso de IBP também foi associado a um
risco aumentado de doença renal crônica incidente (DRC), progressão da DRC e doença
renal em estágio terminal.
• Existem dados conflitantes sobre a associação entre uso de IBP e risco de demência e
pneumonia. Também não está claro se o uso de IBP está associado a um risco aumentado
de morte.
Gabarito: D
8. (CONSULPLAN/TRF2 – 2017)
42
Comentário:
A classificação histológica de Lauren é muito cobrada em concursos. Ela divide o câncer gástrico
em dois tipos histológicos:
43
Gabarito: D
9. (FCC/TRE-SP – 2017)
Dado o risco de malignidade, quando são encontradas úlceras gástricas e/ou duodenais
durante uma endoscopia, habitualmente, recomenda-se biopsiar
Comentário:
A endoscopia digestiva alta (EDA) é o teste diagnóstico mais preciso para a doença ulcerosa
péptica, com sensibilidade de aproximadamente 90%. As úlceras gástricas e duodenais benignas
têm bordas lisas, regulares e arredondadas, com uma base de úlcera lisa, muitas vezes
preenchida com exsudato. Algumas características endoscópicas que sugerem que uma úlcera
pode ser maligna incluem:
Todas as úlceras com características malignas devem ser biopsiadas. A biópsia de rotina de
úlceras duodenais de aparência benigna não é recomendada, pois é improvável que sejam
malignas. Se possível, obtêm-se biópsias de quatro quadrantes da úlcera. A citologia adiciona
pouco ao rendimento diagnóstico e não é recomendada rotineiramente.
Nos Estados Unidos, não é necessário fazer biópsia de pequenas úlceras antrais em indivíduos
jovens que tomam AINEs. Em outras partes do mundo com alta incidência de câncer gástrico, a
44
biópsia de todas as úlceras gástricas pode ser razoável; outros especialistas não fazem biópsia
de úlceras gástricas se a história do paciente e as características demográficas sugerirem um
baixo risco de câncer gástrico (por exemplo, um paciente jovem com histórico de uso de AINES
e uma úlcera antral plana e rasa).
Gabarito: A
(C) Início imediato inibidor da bomba de prótons e transfusão de plasma fresco congelado, para
controle hemorrágico, e programação de endoscopia digestiva alta.
(D) Início de infusão de inibidores da bomba de prótons em infusão contínua para estabilização
da acidez gástrica e tratamento do H. pylori, sendo endoscopia digestiva alta em segundo plano
em razão de histórico prévio e falta de aderência do paciente.
(E) Reposição volêmica para estabilização hemodinâmica, solicitação de preparo para transfusão
sanguínea e solicitação de endoscopia digestiva alta de urgência.
Comentário:
45
úlcera. A causa primária da maioria das UD é a infecção por H. pylori, sendo a hipersecreção
gástrica, uma consequência desta.
No ambiente hospitalar se destacam as úlceras de stress (fundo e corpo gástrico),
especialmente em pacientes em ventilação mecânica, coagulopatias, trauma crânio
encefálico (úlcera de Cushing), queimaduras extensas (úlceras de Curling). Causas pouco
usuais incluem: medicações (acetominofen, bifosfonatos, coticoides, clopidogrel, sirolimus,
espironolactona, inibidores da recaptação de serotonina - IRS), além de outras doenças como
gastrinoma, mastocitose sistêmica, síndrome carcinoide, doenças mieloproliferativas.
As principais complicações associadas às úlceras pépticas são (em ordem descrescente):
• Hemorragia: mais comum em idosos e usuários de AINES. Corresponde a 73% das
complicações.
• Perfuração: corresponde a 2 a 10% de todas as complicações. São mais comuns nas
lesões pré-pilóricas, seguidas das lesões de bulbo duodenal.
• Obstrução: corresponde a menos de 5% das complicações, sendo decorrente de
ulceração pilórica e duodenal.
Em usuários de AINES, incluindo AAS, há o risco de 1 a 4%/ano de desenvolver complicações.
Vários fatores influenciam o risco de UD nesses pacientes, sendo o mais importante o
antecedente de úlcera ou complicações desta. Outros fatores incluem a dose, duração da
terapia, idade avançada do paciente (geralmente acima de 75 anos), co-terapia com drogas
que aumentam a toxicidade e comorbidade, especialmente com doença cardiovascular
(esteróides, anticoagulantes, IRS e alendronato).
Úlcera péptica é a causa mais frequente de hemorragia digestiva alta – HDA não-varicosa (55%),
enquanto as varizes esofagogástricas correspondem a 15% dos casos (hemorragia varicosa).
Outras causas incluem malformações arteriovenosas (6%), rotura de Mallory-Weiss (5%), tumores
(4%), lesão de Dieulafoy (1%). Nessa revisão vamos focar na HDA não-varicosa.
46
Epinefrina não deve ser usada isoladamente, devendo ser combinada a uma segunda
modalidade. (alternativa E correta)
Resumidamente, pacientes Forrest I a IIa têm indicação de terapia combinada. Pacientes IIb, o
coágulo deve ser removido para identificação de vaso visível por trás dele. Em caso positivo,
deve ser tratado com IBP em alta dose. Caso não seja possível deslocar o coágulo, tratar
presumindo a existência de vaso visível. Pacientes IIc e III têm indicação apenas de tratamento
medicamentoso.
Uma segunda endoscopia de rotina após a hemostasia não é indicada e deve ser realizada
ambulatorialmente. Pacientes com sangramento maciço tem indicação cirúrgica ou devem
realizar embolização via angiografia. As úlceras em pequena curvatura gástrica ou em parede
posterior bulbar são de maior risco em razão de grandes vasos nessa localização. O uso de
análogos de somatostatina (octreotide e vapreotide) reduz o fluxo sanguíneo esplâncnico,
diminui secreção ácida e apresenta efeitos citoprotetores gástricos, porém não é usado de
rotina, sendo mais indicado no contexto de hemorragia varicosa.
O escore de Rockall avalia o risco de ressangramento de HDA não varicosa. Quando seu valor é
zero, o risco é de 5% e caso seja igual a oito, o ressangramento ocorre em 40% dos pacientes. O
escore utiliza várias variáveis clínicas em sua composição. Observe:
Variável 0 1 2 3
Idade <60 60-79 >80
PAS >100 >100 <100
FC <100 >100 >100
Insuficiência renal,
Comorbidades Ausentes Ausentes IC, coronariopata hepática ou neoplasia
disseminada
Diagnóstico Mallory-Weiss Outros Neoplasia TGI
Nenhum ou
Sangue, vaso sangrante,
Estigma pontos
coágulo aderido
escuros
Gabarito: E
47
(C) Atletas.
Comentário:
Fatores de proteção: estatinas, ácido ascórbico, consumo de café, alimentos ricos em proteínas
vegetais, nozes, lipídios mono e polinsaturados.
48
A maioria dos pacientes são assintomáticos, podendo evoluir cólica biliar clássica (15 a 25% dos
assintomáticos após 10 a 15 anos de evolução) ou complicações como colecistite aguda,
coledocolitíase (com ou sem colangite), pancreatite biliar, íleo biliar e síndrome de Mirizzi.
Gabarito: D
(A) a dor por obstrução calculosa do ducto cístico costuma ser constante, embora chamada de
"cólica" (dor intermitente) biliar.
(D) uma vesícula completamente cheia de cálculos facilita a identificação destes pela
ultrassonografia.
(E) a tomografia computadorizada é mais sensível que a ultrassonografia para detecção de litíase
na vesícula.
Comentário:
Normalmente, a dor tem um padrão e um tempo característicos. Comer uma refeição gordurosa
é um gatilho comum para a contração da vesícula biliar, e muitos pacientes relatam dor pós-
prandial. No entanto, uma associação com as refeições não é universal e, em uma proporção
significativa de pacientes, a dor é noturna. Não é exacerbado pelo movimento e não é aliviado
por cócoras, movimentos intestinais ou passagem de flatulência. A dor geralmente dura pelo
49
menos 30 minutos, estabilizando em uma hora. A dor começa então a diminuir, com um ataque
completo durando menos de seis horas.
A cólica biliar é geralmente causada pela contração da vesícula biliar em resposta à estimulação
hormonal ou neural, forçando uma pedra contra a saída da vesícula biliar ou abertura do ducto
cístico, levando ao aumento da pressão intra-vesícula biliar. Esse aumento de pressão resulta em
dor. À medida que a vesícula biliar se relaxa, as pedras muitas vezes recuam do ducto cístico e a
dor diminui lentamente.
A cólica biliar é uma dor visceral e não há sinais peritoneais porque a vesícula biliar não está
inflamada. No entanto, guarda voluntária pode ser encontrada dependendo da gravidade da
dor. Geralmente, os pacientes não apresentam febre ou taquicardia, o exame abdominal
geralmente é benigno e os resultados dos exames laboratoriais são normais. A freqüência de
ataques recorrentes é variável, variando de horas a anos, embora a maioria dos pacientes não
tenha sintomas diariamente.
Outros sintomas, além da cólica biliar, foram relatados, mas seu valor preditivo para colelitíase é
ruim. Sintomas atípicos incluem: eructações, plenitude após as refeições/saciedade precoce,
regurgitação, distensão abdominal, epigastralgia, náusea ou vômito, dor torácica e dor
abdominal inespecífica.
Gabarito: A
(A) litotrícia.
Comentário:
A colecistectomia profilática não é indicada para a maioria dos pacientes com cálculos biliares
assintomáticos. Os pacientes, geralmente, são mantidos em conduta expectante e
encaminhados para cirurgia se os sintomas se desenvolverem subsequentemente. Mesmo
pacientes com sintomas leves podem ser manejados com dieta menos gordurosa. No entanto, a
colecistectomia é indicada para pacientes com algumas particularidades:
50
A cirurgia fica reservada para pacientes sintomáticos (de preferência por via laparoscópica) com
redução de sintomas em 90% dos casos, além de prevenção de complicações (colecistite,
colecodocolitíase, colangite aguda, hidropsia de vesícula, Síndrome de Mirizzi e pancreatite
biliar.
O ácido ursodesoxicólico possui alto custo e pode ser usado em cálculos de colesterol menores
do que 5-10mm. Pode haver destruição desses, porém o uso da medicação deve ser por pelo
menos dois anos. Além disso, é necessário ter certeza de que a vesícula possui peristalse
adequada, o que pode ser confirmado por cintilografia ou colecistograma oral.
Gabarito: D
A colecistite geralmente é causada por obstrução do ducto cístico por um ou mais cálculos.
Sobre a colecistite, assinale a alternativa correta.
51
Comentário:
O termo colecistite refere-se à inflamação da vesícula biliar. A colecistite aguda refere-se a uma
síndrome de dor no quadrante superior direito, febre e leucocitose associada à inflamação da
vesícula biliar, que geralmente está relacionada à doença dos cálculos biliares.
Deve ser suspeitada em um paciente com dor no quadrante superior direito ou epigástrica, febre
e leucocitose. Um sinal de Murphy positivo no exame físico apóia o diagnóstico. Para verificar a
presença desse sinal, pede-se ao paciente que inspire profundamente enquanto o examinador
palpa a área da fossa da vesícula biliar logo abaixo da borda do fígado. Inspiração profunda faz
com que a vesícula biliar desça em direção e pressione os dedos examinadores, o que, em
pacientes com colecistite aguda, comumente leva ao aumento do desconforto. O sinal de
Murphy tem alta sensibilidade para colecistite aguda, mas não é específico.
Outra complicação da colelitíase é a colangite aguda, que ocorre devido a obstrução da via
biliar, seguido de sua infecção, usualmente por bactérias da flora intestinal. A causa obstrutiva
mais comum é a coledocolitíase, mas também pode ser decorrente de estenose cicatricial,
colangite esclerosante, cisto biliar e neoplasias.
52
O quadro clínico clássico consiste na tríade de Charcot: febre, icterícia e dor no hipocôndrio
direito. Se o paciente com a tríade evolui para hipotensão e alteração do nível de consciência,
tem-se a pêntade de Reynolds, que se configura na evolução do quadro séptico para sepse
grave/ choque séptico. O diagnóstico é auxiliado pela ultrassonografia de abdômen e
colangiopancreatografia retrógrada endoscópica ou colangiografia transcutânea (ambas também
podem ser terapêuticas).
A colecistite acalculosa é clinicamente idêntica à colecistite aguda, mas não está associada a
cálculos biliares e geralmente ocorre em pacientes gravemente enfermos. Resulta da estase da
vesícula biliar e isquemia, que então causam uma resposta inflamatória local na parede da
vesícula. A maioria dos pacientes tem múltiplos fatores de risco. É responsável por
aproximadamente 10% dos casos e está associado a altas taxas de morbidade e mortalidade.
Diversas situações clínicas estão associadas a coleciste acalculosa: Leucemia mielogênica aguda,
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, Estenose da ampola, Transplante de medula óssea,
Queimaduras, Ressuscitação cardiopulmonar, Parto, Cisto de colédoco, Embolia gordurosa,
Doença cardíaca coronariana, Obstrução do ducto cístico por cateter trans-hepático percutâneo
no ducto biliar, Diabetes Mellitus, Doença renal crônica em estágio final, Insuficiência cardíaca,
Hemobilia, Imunossupressão, Infecções, Trauma grave, Ventilação mecânica, medicamentos (por
exemplo, opiáceos, sunitinib), Metástases hepática, Múltiplas transfusões, Cirurgia não biliar,
Sepse/hipotensão, Nutrição parenteral total, Vasculite.
Gabarito: D
53
(B) III, II e I.
(C) I, II e III.
Comentário:
Várias bancas cobram o conhecimento sobre testes de função hepática e sua correlação
diagnóstica. Observe alguns detalhes dos principais testes:
54
As anormalidades nos testes de função hepática podem ser agrupadas em um dos vários
padrões: hepatocelular, colestática ou hiperbilirrubinemia isolada. Além disso, as anormalidades
podem ser agudas ou crônicas com base em se elas estiveram presentes por mais (crônicas) ou
menos (agudas) do que seis meses.
• Padrão hepatocelular:
o Elevação desproporcionada das aminotransferases séricas em comparação com a
fosfatase alcalina;
o A bilirrubina sérica pode estar elevada;
o Testes de função sintética podem ser anormais (albumina e tempo de
protrombina).
• Padrão colestático:
o Elevação desproporcionada da fosfatase alcalina em comparação com as
aminotransferases séricas;
o A bilirrubina sérica pode estar elevada;
o Testes de função sintética podem ser anormais.
• Hiperbilirrubinemia isolada: pacientes com hiperbilirrubinemia isolada apresentam níveis
elevados de bilirrubina com aminotransferases e fosfatase alcalina normais.
Como a bilirrubina sérica pode ser proeminentemente elevada tanto nas condições
hepatocelulares quanto colestáticas, não é necessariamente útil na diferenciação entre as
duas. As doenças hepatocelulares comuns associadas a uma bilirrubina e icterícia elevadas
incluem hepatite viral e tóxica (incluindo medicamentos, terapias à base de plantas e álcool) e
cirrose terminal por qualquer causa.
Testes anormais da função sintética podem ser observados tanto com a lesão hepatocelular
quanto com a colestase. Uma albumina baixa sugere um processo crônico, como cirrose ou
câncer, enquanto uma albumina normal sugere um processo mais agudo, como hepatite viral ou
coledocolitíase. Um tempo prolongado de protrombina indica deficiência de vitamina K devido a
icterícia prolongada e má absorção intestinal de vitamina K ou disfunção hepatocelular
significativa. O fracasso do tempo de protrombina para corrigir com administração parenteral de
vitamina K sugere lesão hepatocelular grave. Observe outras particularidades:
Relação entre AST e ALT: a maioria das causas de lesão hepatocelular está associada a um nível
sérico de AST inferior ao da ALT. Uma relação de AST para ALT de 2:1 ou maior é sugestiva
de doença hepática alcoólica (questão clássica de prova), particularmente no contexto de uma
gama-glutamil transpeptidase elevada.
55
Magnitude das elevações de AST e ALT: a magnitude das elevações de AST e ALT varia
dependendo da causa da lesão hepatocelular. Embora os valores possam variar em pacientes
individuais, os seguintes são padrões típicos de AST e ALT:
o Doença hepática gordurosa alcoólica: AST <8 vezes o limite superior do normal; ALT <5
vezes o limite superior do normal.
o Doença hepática gordurosa não alcoólica: AST e ALT <4 vezes o limite superior do
normal.
o Hepatite viral aguda ou hepatite relacionada à toxina com icterícia: AST e ALT> 25 vezes
o limite superior do normal.
o Hepatite isquêmica (hepatopatia isquêmica, fígado em choque, hepatite hipóxica): AST e
ALT> 50 vezes o limite superior do normal (além disso, a DHL é frequentemente
marcadamente elevada).
o Infecção pelo vírus da hepatite C crônica: ampla variabilidade, tipicamente normal a
menos de duas vezes o limite superior do normal, raramente mais de 10 vezes o limite
superior do normal.
o Infecção pelo vírus da hepatite B crónica: os níveis também variam; a AST e a ALT podem
ser normais, embora a maioria dos pacientes tenha elevações leves a moderadas
(aproximadamente o dobro do limite superior do normal); com exacerbações, os níveis
são mais de 10 vezes o limite superior do normal.
56
A ALT eleva-se mais que a AST, mas os valores absolutos têm pouca relação com a gravidade
clínica. Os níveis dessas enzimas elevam-se precocemente na fase prodrômica e seu pico tende
a aparecer antes da icterícia, com queda gradual, durante a fase de recuperação. A colúria
geralmente precede a icterícia. A hepatite A causa grandes elevações de transaminases na fase
aguda com risco de insuficiência hepática.
Gabarito: B
(A) A incidência de casos sintomáticos e com icterícia aumenta com a idade do paciente ao
diagnóstico
(B) Homens que fazem sexo com homens e usuários de drogas injetáveis não estão entre os
grupos de risco para esta infecção
(C) Quando a infecção é resolvida, o anti-HAV IgM desaparece após 4 a 12 meses, mas o anti-
HAV IgG persiste durante a vida e confere proteção definitiva contra a infecção
(D) Como a infecção pelo HAV é em geral autolimitada, nenhum tratamento antiviral específico é
necessário
Comentário:
A hepatite viral A acomete principalmente crianças, na faixa etária dos 5-14 anos. Sua
transmissão é pela via fecal-oral e apresenta quadro clínico inicial com manifestações flu-like. A
infecção pelo é geralmente autolimitada e não se torna crônica.
57
• Transfusão de sangue
• Uso de drogas ilícitas
Pode apresentar-se nas seguintes formas: assintomática (mais comum), sintomática clássica (três
fases: prodrômica, ictérica e de convalescença), colestática (padrão clínico-laboratorial
compatível com obstrução biliar), recidivante (dois ou mais ataques de hepatite aguda dentro de
dois a três meses) e fulminante (rara 0,3%). O período de incubação médio é de 28 dias
(podendo ser de cinco a cinquenta dias).
Os sintomas começam com início abrupto de náusea, vômito, anorexia, febre, mal-estar e dor
abdominal. Dentro de alguns dias a uma semana, aparece colúria e acolia fecal, seguido de
icterícia e prurido (40 a 70% dos casos). Os primeiros sinais e sintomas geralmente diminuem
quando a icterícia aparece, e a icterícia geralmente atinge seu pico em duas semanas. A doença
sintomática ocorre em mais de 70% dos adultos, porém é incomum em crianças com menos de 6
anos de idade. (alternativa A correta)
Indivíduos infectados são contagiosos durante o período de incubação e permanecem assim por
cerca de uma semana após a icterícia aparecer. O HAV se replica no fígado e é eliminado nas
fezes em altas concentrações de duas a três semanas antes para uma semana após o início da
doença clínica. A recuperação clínica ocorre em 3 a 4 semanas e a bioquímica é observada em
dois a três meses em 85% dos pacientes, e a recuperação completa é observada por seis meses
em quase todos os pacientes. (alternativa D correta)
Seu diagnóstico é feito a partir da sorologia Anti-HVA IgM positiva, que pode ser detectada
antes ou no momento da sintomatologia (mantém-se positiva por 3 a 6 meses). Já o Anti-HVA
IgG, surge logo após o aparecimento da IgM e pode permanecer positiva indefinidamente,
conferindo imunidade ao indivíduo. (alternativa C correta)
58
Gabarito: B
(A) Susceptível
Comentário:
promotoras centrais e a resposta à terapia com interferon. A maioria dos estudos são sobre os
genótipos B e C. Observe algumas particularidades:
• Distribuição geográfica:
o Genótipo A é encontrado principalmente no norte da Europa, na América do
Norte, na Índia e na África;
o Genótipo B e C são prevalentes na Ásia;
o Genótipo D é mais comum no sul da Europa, no Oriente Médio e na Índia;
o Genótipo E é restrito à África Ocidental;
o Genótipo F é encontrado na América Central e do Sul.
• Progressão de doença: o genótipo C parece ser o mais deletério, com vários estudos
demonstrando em relação ao genótico B: doença hepática mais ativa (maior prevalência
de HBeAg e menor taxa de soroconversão HBeAg espontânea), taxa mais rápida de
progressão para cirrose e hepatocarcinoma.
O vírus da hepatite B possui estrutura complexa, composto de DNA e diferentes antígenos. Está
presente em grandes concentrações nos fluidos corpóreos e sangue de pacientes HBeAg
positivos, e sua transmissão ocorre por via parenteral, através do contato com estes materiais. A
principal via de contaminação é a sexual, seguida pela transmissão perinatal, percutânea
(compartilhamento de agulhas), hemotransfusão e transplante de órgãos. A via sexual é uma
forma de transmissão importante nos dias de hoje, principalmente nos países desenvolvidos,
enquanto a transmissão perinatal (vertical), pode ocorrer devido à exposição do recém-nascido à
sangue ou líquido amniótico durante a passagem pelo canal vaginal ou por via transplacentária.
A amamentação não é contraindicada.
Se a mãe for HBeAg positivo, há cerca de 90% de chance de transmissão para os filhos, com
90% de chance de cronificação no futuro para a criança, enquanto, para adultos, qualquer que
seja a forma de contaminação, a chance de cronificação é inferior a 5%. ´
também pode ser indicada para reduzir o risco de transmissão (tenofovir). Bebês que
receberam imunoglobulina contra hepatite B (HBIG) e a primeira dose de vacina contra hepatite
B ao nascer podem ser amamentados.
Um assunto bastante recorrente e que causa muita confusão dentro do tema hepatites são os
marcadores sorológicos da hepatite B (HBV) e suas peculiaridades. Observe:
61
Tipicamente, durante a hepatite B aguda, o DNA viral pode ser detectado no sangue com o uso
de técnicas moleculares durante um período de um mês a partir da infecção. No entanto, por um
período de seis semanas, esses níveis serão relativamente baixos. Os picos de detecção para o
DNA do HBV e dos antígenos virais (HBeAg e HBsAg) acontecem após esse período de seis
semanas.
A presença dos antígenos virais é variável e, dependendo da fase da doença, eles poderão não
ser detectados. A primeira resposta humoral, normalmente, ocorre contra o antígeno core do
HBV (HBcAg) e os anticorpos IgM surgem precocemente (não estarão presentes na fase de
incubação). Mais tardiamente, surgem os anticorpos Anti-HBc IgG, que persistem por toda a
vida do paciente, independentemente do curso da infecção.
Entre 10 e 15 semanas após a infecção, os níveis séricos de ALT e AST começam a se elevar,
indicando dano hepático mediado por resposta a células T. Mais de 90% dos adultos infectados
conseguem reverter os sintomas e desenvolver anticorpos específicos contra os antígenos
HBeAg (anti-HBe) e HBsAg (anti-HBs) circulantes, que garantem proteção de longo prazo contra
a doença. Apesar da recuperação clínica, o DNA do HBV ainda pode ser detectado em níveis
basais e sua expressão é controlada pela imunidade humoral e celular.
Anticorpos específicos contra o HBV, juntamente com a pesquisa por antígenos e ácidos
nucleicos virais, são importantes indicadores para estágios específicos da doença. O anti-HBc
62
IgM é um marcador do início da infecção, enquanto que anticorpos específicos para o HBeAg e
para o HBsAg indicam uma resolução favorável para a infecção.
Estudos recentes mostram que a avaliação da carga viral do paciente e o marcador mais
informativo sobre a evolução da doença hepática causada pelo HBV. Os anticorpos anti-HBs são
neutralizantes e capazes de mediar imunidade preventiva, sendo induzidos pela vacinação. Os
anticorpos anti-HBc e anti-HBs persistem por longos períodos no individuo, sendo que o
anticorpo anti-HBs confere proteção contra o vírus.
Gabarito: E
Existe uma ordem para a interpretação dos marcadores virais da hepatite B com a qual
chega-se ao diagnóstico do paciente no momento. No entanto, existem algumas situações
especiais, como a presença de mutações. Assinale a situação mais compatível com um
indivíduo portador de hepatite B com mutação da região pré-core em replicação:
(A) HBsAg positivo; HBeAg positivo; Anti-HBe negativo; Anti-HBs positivo; e, DNA-HBV em altos
níveis.
(B) HBsAg positivo; HBeAg positivo; Anti-HBe negativo; Anti-HBs negativo; e, DNA-HBV em
altos níveis.
63
(C) HBsAg positivo; HBeAg negativo; Anti-HBe positivo; Anti-HBs negativo; e, DNA-HBV em
altos níveis.
(D) HBsAg negativo; HBeAg negativo; Anti-HBe positivo; Anti-HBs positivo; e, DNA-HBV em
altos níveis.
Comentário:
Outra minúcia em relação à hepatite B é saber diferenciar entre mutação na região pré-core e
mutante por escape.
A primeira consiste na mutação da região pré-core do DNA-HBV, que leva a uma falha na
expressão do antígeno "e" (HBeAg). Assim, pode ocorrer replicação viral com anti-HBe positivo
e HBeAg baixo, devendo ser feito a pesquisa quantitativa do HBV-DNA para detectar altos níveis
de carga viral. (alternativa C correta)
Para o mutante por escape, o vírus continua se replicando, com níveis positivos de HBsAg,
porém, sem neutralização pelo anti-HBs. O paciente apresenta sorologias HBsAg + e Anti-HBs +.
O vírus delta é um vírus de RNA incompleto, formado por um genoma e capsídeo próprios e
envelopado pelo antígeno do vírus B. Portanto, só existirá em pacientes já contaminados
conjuntamente com o vírus B. Sua transmissão se dá de forma parenteral e pode causar tanto
coinfecção, quando há infecção aguda pelo vírus B e pelo D, e superinfecção, onde os pacientes
que já possuem doença pelo vírus B são contaminados com o vírus D.
Gabarito: C
Um paciente do sexo masculino, branco, de trinta e seis anos de idade, com diagnóstico de
linfoma não-Hodgkin B, compareceu ao hospital apresentando indicação de quimioterapia
com R-CHOP (rituximab, ciclofosfamida, doxorubicina, vincristina e prednisolona). Ele tinha
64
Comentário:
Os objetivos da terapia antiviral são a supressão do DNA do HBV, a perda do HBeAg (em
pacientes que eram inicialmente positivos para o HBeAg) e a perda do HBsAg. Fique atento ao
tratamento nas fases aguda e crônica da hepatite B:
65
Gabarito: A
Comentário:
66
revisão e, portanto, é incapaz de corrigir os erros de cópia cometidos durante a replicação viral,
levando a mutações e diferentes genótipos.
Seu período de incubação vai de 7-8 semanas. De modo geral, a hepatite C aguda apresenta
evolução subclínica. A maioria dos casos têm apresentação assintomática e anictérica, o que
dificulta o diagnóstico. Sintomas podem estar presentes em apenas 20-30% dos pacientes e
geralmente são inespecíficos, tais como anorexia, astenia, mal-estar e dor abdominal. Uma
menor parte dos pacientes apresenta icterícia ou colúria. Casos de insuficiência hepática ou
casos fulminantes são raros.
A eliminação viral espontânea, após a infecção aguda pelo HCV, ocorre em 20% a 40% dos
casos. Alguns fatores do hospedeiro parecem estar associados à eliminação viral espontânea,
tais como idade inferior a 40 anos, sexo feminino, aparecimento de icterícia e fatores genéticos,
como polimorfismos.
A hepatite C é uma doença em que 80% dos casos agudos são assintomáticos. Diante disso, a
sua confirmação deve ser feita com a associação entre sorologia anti-HCV e um teste para
detecção direta do vírus. O anti-HCV é um marcador que indica apenas contato prévio com o
vírus, além de não permitir diferenciar entre uma infecção resolvida e uma infecção ativa. Já os
testes de ácidos nucléicos (ou testes moleculares) são utilizados para detectar o HCV-RNA
circulante no paciente (HCV-RNA PCR). (alternativa A correta)
O RNA do HCV pode ser identificado no soro ou plasma antes da presença do anti-HCV. A
presença do HCV-RNA pode ocorrer cerca de duas semanas após a exposição ao agente
infeccioso. A presença dos anticorpos anti-HCV é mais tardia e ocorre cerca de 30 a 60 dias após
a exposição ao vírus. Os níveis séricos do HCV-RNA aumentam rapidamente durante as primeiras
semanas, atingindo os valores máximos de 105 a 107 UI/mL imediatamente antes do pico dos
níveis séricos de aminotransferases, podendo coincidir com o início dos sintomas.
• Soroconversão recente (há menos de seis meses) e com documentação de anti-HCV não
reagente no início dos sintomas ou no momento da exposição, e anti-HCV reagente na
segunda dosagem, realizada com intervalo de 90 dias; OU
67
• Anti-HCV não reagente e detecção do HCV-RNA em até 90 dias após o início dos
sintomas ou a partir da data de exposição, quando esta for conhecida.
Gabarito: A
(B) crioglobulinemia.
(D) linfoma.
Comentário:
Gabarito: E
(A) elbasvir/grazoprevir
68
(B) glecaprevir/pibrentasvir
(C) sofosbuvir/ledipasvir
(D) velpastavir/alfapeginerferona
(E) alfapeginterferona/ribavirina
Comentário:
O tratamento está indicado para todos os pacientes nas formas aguda ou crônica. O objetivo da
terapia antiviral é erradicar o RNA do HCV, que é previsto pela obtenção de uma resposta
virológica sustentada (RVS), definida como um nível de RNA indetectável 12 semanas após a
conclusão de terapia, podendo ser considerada cura. A obtenção de um RVS tem sido associada
a reduções na mortalidade por todas as causas, morte relacionada ao fígado, necessidade de
transplante hepático, taxas de carcinoma hepatocelular e complicações relacionadas, mesmo
entre os pacientes com fibrose hepática avançada.
O tratamento dos casos crônicos atualmente envolve drogas recém-autorizadas pelo Ministério
da Saúde e vai depender do genótipo. Para pacientes co-infectados pelo HIV/HCV é geralmente
a mesma dos pacientes infectados apenas com o vírus da hepatite. Observe os esquemas
sugeridos nos principais genótipos:
69
Gabarito: C
(A) o risco de desenvolvimento de cirrose hepática aumenta com o grau de ingesta alcoólica,
sendo a cirrose mais prevalente quando o consumo é maior que 20g de álcool ao dia.
(B) a característica clínica da hepatite alcoólica é o início agudo de icterícia. Outros sintomas são
febre, ascite e diminuição da musculatura proximal. Encefalopatia ocorre somente em estágios
avançados nos pacientes com cirrose documentada.
(C) a hepatite aguda é caracterizada por elevação de transaminases, sendo a relação TGP/TGO
maior que 2.
(D) fazem parte dos diagnósticos diferenciais de hepatite aguda alcoólica: esteato-hepatite não
alcoólica, hepatites virais agudas ou crônicas, doença hepática induzida por drogas, doença de
Wilson, Hepatite autoimune, deficiência de alfa 1 antitripsina, colangite, carcinoma
hepatocelular.
(E) se recomenda a retirada gradual da ingesta de álcool em casos de hepatite aguda, devido ao
risco de desenvolvimento de delirium tremens e síndrome de abstinência alcoólica.
Comentário:
O consumo excessivo de álcool está associado a uma série de manifestações hepáticas, incluindo
doença hepática gordurosa alcoólica (com ou sem esteato-hepatite), hepatite alcoólica, cirrose e
carcinoma hepatocelular. Pacientes com uma ingestão de álcool de 30 ou mais gramas por dia
(uma bebida padrão contém 14 gramas de álcool) apresentam risco aumentado de cirrose,
embora a maioria dos pacientes não desenvolva cirrose apesar da ingestão excessiva de álcool
(prevalência pontual de 1% para aqueles que bebem 30 a 60 g por dia e 6% para aqueles que
bebem 120 g por dia). (alternativa A errada)
A quantidade de bebida alcoólica que coloca um indivíduo em risco de hepatite alcoólica não
é conhecida, mas a maioria dos pacientes tem uma história de uso “pesado” de álcool (mais
de 100 g/dia) por duas ou mais décadas. Os padrões de consumo podem variar: aumento
recente na ingestão de álcool em resposta a eventos estressantes, consumo pesado
intermitente (fins de semana) ou clandestino. Além disso, a hepatite alcoólica pode se
desenvolver em pacientes com histórias muito mais curtas de uso “pesado” de álcool.
70
• Sexo feminino (metade da ingesta masculina, pois possuem menos álcool desidrogenase
na mucosa gástrica);
• Obesidade;
• Desnutrição;
71
O diagnóstico preciso pode ser difícil em pacientes com doença hepática crônica, mas baseia-
se na epidemiologia, quadro clínico e laboratorial. Algumas pistas favorecem o diagnóstico:
início da icterícia nas oito semanas anteriores; consumo contínuo superior a 40 (feminino) ou
60 (masculino) g de álcool por dia durante seis meses ou mais, com menos de 60 dias de
abstinência antes do início da icterícia; TGO> 50, TGO/TGP> 1,5 vezes, e ambos valores <400
U/L; bilirrubina sérica (total)> 3 mg/dL; e confirmação da biópsia hepática em pacientes com
fatores de confusão.
Além disso, a estratificação deve ser baseada na gravidade avaliada por: função discriminante
de Maddrey> 32 e modelo para doença hepática em estágio final (MELD)> 20. O escore de
Maddrey usa uma fórmula matemática que inclui os valores do TP e bilirrubinas.
• Toxicidade do acetaminofeno;
• Lesão hepática induzida por drogas/reações idiossincráticas a medicamentos (incluindo
suplementos de ervas e drogas ilícitas);
• Esteatohepatite não alcoólica;
• Hepatite viral aguda (hepatite A, hepatite B, hepatite C, hepatite D, hepatite E, vírus do
herpes simplex, vírus de Epstein-Barr, citomegalovírus);
• Hepatite isquêmica;
• Síndrome de Budd-Chiari;
• Síndrome HELLP;
• Doença de Wilson;
• Hepatite autoimune;
• Deficiência de alfa-1 antitripsina;
• Hepatite induzida por toxinas (por exemplo, envenenamento por cogumelos,
tetracloreto de carbono).
Pacientes com escore de Maddrey superior a 32, MELD superior a 20, e/ou com encefalopatia
hepática se beneficiam com uso de prednisolona (40mg/dia por quatro semanas). Caso após
72
sete dias de corticoide não haja uma resposta clínica adequada, a medicação deve ser
suspensa. Um escore de Lille>0,45 deve ser usado para esta tomada de decisão (este
instrumento utiliza as variáveis idade, albumina, variações de bilirrubina, creatinina e TP no seu
cálculo). Contraindicações à prednisolona incluem: hemorragia digestiva, lesão renal aguda,
sepse e pancreatite aguda.
A pentoxifilina também é uma opção terapêutica (400mg 3xdia por quatro semanas), pois
atua inibindo a síntese de TNF e na prevenção de síndrome hepatorrenal. É indicado em casos
graves, em pacientes com contraindicação a prednisolona ou com falha terapêutica a esta.
Outras drogas foram investigadas para o tratamento da hepatite alcoólica grave, mas não é
claro se elas terão um papel no tratamento de rotina da hepatite alcoólica: acetilcisteína,
propiltiouracil, androgênios (oxandrolona).
Doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) refere-se à presença de esteatose hepática
quando não há outras causas de acúmulo secundário de gordura hepática (por exemplo,
consumo excessivo de álcool). O DHGNA pode evoluir para cirrose e é provavelmente uma
causa importante de cirrose criptogênica.
A maioria dos pacientes é assintomática, embora alguns pacientes com NASH possam se queixar
de fadiga, mal-estar e desconforto vago no abdome superior direito. Muitas vezes o diagnóstico
é acidental, com a descoberta de aminotransferases hepáticas elevadas ou esteatose hepática na
imagem abdominal. As elevações de transaminases são leves ou moderadas, embora níveis
normais não excluam a DHGNA.
73
Os achados radiológicos costumam ser suficientes para o diagnóstico de DHGNA, desde que
outras causas de esteatose hepática tenham sido excluídas. No entanto, a biópsia hepática pode
ser indicada se o diagnóstico não for claro ou para avaliar o grau de lesão hepática.
As aminotransferases séricas devem ser avaliadas a cada três e seis meses após os pacientes com
DHGNA implementarem intervenções no estilo de vida para perda de peso. Se não retornam
aos níveis normais com perda de peso ou se aumentam, deve-se buscar uma causa alternativa de
doença hepática.
Naqueles com NASH comprovado por biópsia, obtemos uma avaliação não invasiva da fibrose
avançada em um intervalo de tempo determinado pelo curso clínico:
• Para pacientes que não conseguiram perder pelo menos cinco a sete por cento do seu
peso corporal e/ou apresentam aminotransferases séricas elevadas, obtem-se uma
avaliação não invasiva a cada três anos.
• Para pacientes que atingem suas metas de perda de peso e têm aminotransferases séricas
normais, obtemos uma avaliação não invasiva a cada quatro anos.
Pacientes com cirrose relacionada ao NASH devem ser submetidos a triagem para carcinoma
hepatocelular.
Gabarito: D
74
A seguir são descritas causas de cirrose hepáticas, exceto pelo que se lê na alternativa:
(C) Galactosemia.
(D) Hepatite A, B e C.
Comentário:
Histologicamente, a cirrose hepática é definida como uma alteração difusa do fígado, em que a
arquitetura normal é substituída por nódulos regenerativos, separados por faixas de tecido
fibroso, que determina a diminuição das funções de síntese e excreção hepáticas, hipertensão
portal com anastomoses portossistêmicas e risco de carcinoma hepatocelular. Pode ser
consequência de vários fatores etiológicos, nomeadamente álcool, infecções virais, doenças
metabólicas, processos autoimunes ou patologia da via biliar. A hepatite A não cronifica e não
causa cirrose (alternativa D errada)
A insuficiência hepatocelular pode resultar de uma destruição súbita e maciça do fígado (como
nos casos de hepatite fulminante viral ou por drogas) ou, mais frequentemente, da agressão
progressiva dos hepatócitos, como na cirrose. De toda forma, há necessidade de acometimento
de 80 a 90% da capacidade funcional hepática para que ocorra falência do órgão. Várias são as
consequências clínicas como encefalopatia hepática, ascite, icterícia, coagulopatia, entre outros.
O escore MELD (Model for End-Stage Liver Disease) é um escore de gravidade desenvolvido e
validado prospectivamente que usa os valores laboratoriais de bilirrubina sérica, creatinina sérica
e a razão normalizada internacional (INR) para prever a sobrevida em três meses. Em pacientes
com cirrose, um aumento no escore MELD está associado ao aumento da gravidade da
disfunção hepática e ao aumento do risco de mortalidade em três meses. A partir de 2016, o
escore MELD-Na, incluiu o sódio sérico como um fator no cálculo do escore.
O MELD é usado para priorizar a alocação de fígados de doadores falecidos para transplante. O
escore MELD-Na pode aumentar ou diminuir enquanto os pacientes aguardam o transplante
hepático. Entretanto, existem algumas condições associadas à doença hepática crônica que
75
podem resultar em prejuízo na sobrevida, mas que não são diretamente explicadas no sistema
de pontuação MELD.
Algumas dessas condições foram designadas como exceções padrão do MELD e, como tal,
podem receber uma pontuação adicional nos pontos MELD. Essas incluem: carcinoma
hepatocelular, síndrome hepatopulmonar, hipertensão portopulmonar, polineuropatia amilóide
familiar, hiperoxalúria primária, fibrose cística, colangiocarcinoma hilar e trombose da artéria
hepática (que ocorre nos 14 dias após a cirurgia de transplante de fígado).
A desnutrição calórica protéica tem sido descrita em 50 a 100% dos pacientes com cirrose
descompensada e em pelo menos 20% com cirrose compensada. A desnutrição está associada a
uma série de complicações, incluindo o desenvolvimento de sangramento de varizes e ascite,
aumento da morbidade e mortalidade cirúrgica, sobrevida reduzida e (em alguns estudos)
agravam a função hepática.
• Anorexia, náuseas, encefalopatia, gastrite, ascite, uma dieta com restrição de sódio e
consumo de álcool em simultâneo podem contribuir para uma redução na ingestão
dietética.
76
Desta forma, não há mais a orientação de restrição proteica ou calórica nesses pacientes:
Gabarito: D
Paciente feminino, 53 anos, procura atendimento médico com queixa de fraqueza, mal estar
e distensão abdominal de início há pelo menos 2 semanas. É portadora de hepatite C.
Durante a avaliação inicial, foi submetida à paracentese diagnóstica. O gradiente a lbumina
soro-ascite (GASA) foi de 1,3. O que é correto afirmar considerando esse resultado?
Comentário:
77
Por esse motivo, é que o líquido ascítico na cirrose é pobre em proteínas (é como se fosse um
transudato oriundo da hipertensão portal). Além da baixa concentração de albumina, há pouca
imunoglobulina e fatores do complemento, o que facilita a migração transmural de bactérias do
intestino para cavidade peritoneal (E.coli, K. pneumoniae e S. pneumoniae são as bactérias mais
encontradas, responsáveis por 43%, 11% e 9% dos casos, respectivamente).
Um dos testes mais importantes na avaliação do líquido ascítico é o cálculo do gradiente soro-
ascite (GASA). Este é calculado, observando-se a diferença entre os níveis de albumina sérica e
do líquido ascético. GASA≥1,1 sugere que a etiologia da ascite é hipertensão portal. Entretanto,
causas cardíacas, como insuficiência cardíaca ou pericardite constrictiva, levam a ascite com alto
nível de proteína, o que também leva a GASA≥1,1. Observe a tabela abaixo: (alternativa D
correta)
Gabarito: D
Homem, 56 anos, hepatopata crônico secundário a etilismo, vem por dor, febre e aumento
do volume abdominal há 2 dias. Ao exame físico, regular estado geral, ictérico 2+/4, afebril,
PA 90 x 50 mmHg, aparelho respiratório sem alterações, ritmo cardíaco regular, frequência
cardíaca de 112 bpm, volumosa ascite, com dor difusa à palpação abdominal. Realizada
paracentese diagnóstica com 1 200 células, 65% polimorfonucleares e 35 %
linfomononucleares.
78
Comentário:
O quadro clínico de PBE costuma ser inespecífico e até 30% dos pacientes são assintomáticos.
Daí, a importância de realizar paracentese em todo cirrótico com ascite que se interna. Muitas
vezes, a PBE se manifesta, não pelos sintomas abdominais, mas através de piora de função renal
ou encefalopatia hepática. Os sintomas mais comuns são febre e dor abdominal.
Os principais fatores predisponentes são: doença hepática avançada (Child-Pugh C), proteínas
totais no líquido ascítico <1g/dl, hemorragia digestiva, infecção urinária, procedimentos
invasivos, PBE prévia (recorrência de 43% em seis meses, 70% em 12 meses e 75% em 48
meses).
79
Pacientes com PBE prévia tem indicação de profilaxia por tempo indeterminado. As drogas
utilizadas são norfloxacino 400mg/dia ou ciprofloxacino 750mg 1x/semana). A profilaxia também
é indicada em cirróticos com hemorragia digestiva, pois até 50% desses podem evoluir com PBE.
Neste caso, o antibiótico é utilizado por 7 dias.
Gabarito: E
(D) melhora clínica com medidas que diminuem a produção e absorção de amônia.
Comentário:
80
Evolução temporal: pode ser episódico, recorrente (surtos de EH que ocorre dentro de um
intervalo de tempo de seis meses ou menos) ou persistente (um padrão de alterações
comportamentais sempre presentes, intercaladas com episódios de encefalopatia hepática
evidente.
Os achados cognitivos em pacientes com EH variam de déficits sutis que não são aparentes sem
testes especializados (EH mínima), até achados mais evidentes, com prejuízos na atenção, tempo
de reação e memória operacional. Os casos graves podem evoluir para coma hepático. As
deficiências neuromusculares incluem bradicinesia, hiperreflexia, rigidez, mioclonia e asterixis.
Distúrbios no padrão diurno do sono (insônia e hipersonia) são manifestações iniciais comuns e
normalmente precedem outras alterações do estado mental ou sintomas neuromusculares. À
medida que a EH progride, os pacientes podem desenvolver alterações de humor (euforia ou
depressão), desorientação, comportamento inadequado, sonolência, confusão e inconsciência.
também podem estar presentes. Além disso, os pacientes apresentam muitos dos estigmas
físicos associados à disfunção hepática grave.
A abordagem inicial inclui lactulose ou lactitol. A dose de lactulose deve ser titulada para atingir
duas a três fezes amolecidas por dia. Para pacientes que não melhoraram dentro de 48 horas, a
rifaximina, antibiótico não absorvível, é uma alternativa razoável. A dose de rifaximina é 400 mg
por via oral três vezes ao dia ou 550 mg por via oral duas vezes ao dia. Como regra geral, os
antibióticos são adicionados à lactulose ou lactitol em vez de serem substituídos. A neomicina e
metronidazol são reservados para pacientes que são incapazes de tomar rifaximina .
Casos refratários podem ter benefícios com L-ornitina-L-aspartato, que estimula o metabolismo
da amônia, e com uso de aminoácidos de cadeia ramificada orais. Medidas como flumazenil,
sulfato de zinco, naloxone e benzoato de sódio possuem pouca evidência e não devem ser
usados. Em relação a dieta, sugere-se ingestão de 35-40 kcal/kg de peso ideal e consumo diário
de proteínas de 1,25-1,5 g/kg.
Gabarito: D
82
(D) Lavagem intestinal com clister glicerinado, hidratação com albumina humana e alta após
melhora do nível de consciência.
(E) Hidratação parenteral, lactulose por sonda enteral e rastreio infeccioso, incluindo paracentese
para investigar peritonite bacteriana espontânea.
Comentário:
Paciente cirrótico e com rebaixamento do nível de consciência, tem que se pensar em EH. Além
disso, apresenta ascite ao exame físico, sendo fundamental o rastreio de PBE, uma das grandes
causas desencadeadoras de EH.
Gabarito: E
(A) interferon.
(C) betabloqueador.
(D) octreotide.
Comentário:
83
Aproximadamente metade dos pacientes com cirrose têm varizes esofágicas e um terço de
todos os pacientes com varizes desenvolverá hemorragia varicosa. Outra causa importante de
sangramento é gastropatia hipertensiva levando a varizes gástricas.
O risco de hemorragia tem sido relacionado ao tamanho e aparência das varizes, bem como
ao grau de disfunção hepática. A taxa anual de um primeiro episódio de hemorragia entre
aqueles com varizes é de 12%, e cada episódio está associado a um risco de 15 a 20% de
mortalidade. Apenas 50% dos pacientes com hemorragia varicosa param de sangrar
espontaneamente; isso é bem diferente da taxa de cessação espontânea de mais de 90% em
pacientes com outras formas de hemorragia gastrointestinal alta.
A profilaxia primária visa a prevenir a hemorragia por varizes em pacientes com varizes
esofágicas que não têm história de sangramento. Já a profilaxia secundária inclui medidas
para prevenir a hemorragia em pacientes com história de sangramento por varizes.
A maioria dos pacientes com cirrose deve ser submetida à triagem endoscópica para varizes
esofágicas, de modo que a terapia profilática possa ser administrada àqueles com varizes com
maior risco de sangramento. Em pacientes com cirrose compensada que não apresentam
varizes, a triagem é repetida a cada dois ou três anos. Em pacientes com pequenas varizes, a
triagem é repetida a cada um a dois anos. Em pacientes com cirrose descompensada, a
endoscopia é repetida anualmente.
84
Gabarito: D
Dos abaixo, o paciente que com maior probabilidade receberá terlipressina, é o que
apresenta
Comentário:
A síndrome hepatorrenal é uma das muitas causas potenciais de lesão renal aguda em pacientes
com doença hepática aguda ou crônica. Os pacientes afetados geralmente têm hipertensão
portal devido a cirrose, hepatite alcoólica grave ou (menos frequentemente) tumores
metastáticos, mas também podem ter insuficiência hepática fulminante. A síndrome representa o
estágio final de uma sequência de reduções na perfusão renal induzida por uma lesão hepática
progressivamente mais grave. Seu diagnóstico está associado a um mau prognóstico.
85
O declínio da perfusão renal neste cenário está associado a reduções na taxa de filtração
glomerular (GFR), no volume urinário, na excreção de sódio (frequentemente a menos de 10
mEq/dia em cirrose avançada) e uma queda na pressão arterial média, apesar da vasoconstrição
renal intensa.
Gabarito: D
86
Um homem de 50 anos foi admitido no pronto-socorro com dor em faixa no andar superior
do abdome e vários episódios de vômitos há 1 dia. Amilase = 2.400U/L e USG abdominal
que mostrava colelitíase sem dilatação da via biliar. Apresentava taquipneia, taquicardia,
hipotensão, com T = 37,5°C. Leucograma = 12.500/mm3 sem desvio; PCR = 16; creatinina =
2,2mg/dL e bilirrubina total = 2,8mg/mL com BD = 2mg/mL e BI = 0,8mg/mL; gasometria:
pH = 7,35; HCO3 = 16mmHg e BE = -5. É correto afirmar que:
(D) A apresentação clínica pode ser justificada pela síndrome da resposta inflamatória sistêmica.
Comentário:
87
Embora o câncer de pâncreas seja uma causa rara de pancreatite aguda, deve-se suspeitar de
pacientes com pancreatite aguda com mais de 40 anos de idade, perda de peso inexplicável
antes do ataque de pancreatite aguda, início de diabetes recente ou histórico familiar de câncer
de pâncreas em parente de primeiro grau.
O quadro clínico inclui dor abdominal aguda e de forte intensidade, geralmente em faixa. Há
náuseas, vômitos e intolerância alimentar. Sinais clássicos ao exame físico são raros e incluem
sinal de Cullen (equimose periumbilical), Grey-Turner (equimose nos flancos) e sinal de Fox
(equimose em base de pênis). Indicam a presença de exsudato necrótico que seguem o
ligamento falciforme até a região umbilical, retroperitônio ou ligamento inguinal,
respectivamente.
A amilase sérica aumenta entre 6 e 12 horas após o início da pancreatite aguda. Essa tem meia-
vida curta de aproximadamente 10 horas (o diagnóstico pode não ser observado em pacientes
que apresentam mais 24 horas após o início da lesão) e, em ataques não complicados, retorna ao
normal dentro de três a cinco dias. A elevação da amilase sérica acima de três vezes o limite
superior do normal tem uma sensibilidade para o diagnóstico de pancreatite aguda de 67 a 83%
e uma especificidade de 85 a 98%.
Outros exames têm correlação prognóstica. A dosagem sérica da proteína C reativa (PCR) acima
de 150mg/dL nas primeiras 48 horas tem relação com pancreatite necro-hemorrágica, com
acurácia superior a 93%. A procalcitonina elevada tem maior especificidade e menor
sensibilidade que a PCR para diferenciar a gravidade da pancreatite.
88
A pancreatite pode ser classificada entre leve e grave. Na primeira há edema intersticial
pancreático (edematosa), que pode se estender pelo tecido peripancreático, podendo haver
necrose microscópica. Nos casos graves, há necrose pancreática e deve ser identificada
precocemente pelo risco de complicações, especialmente necrose infectada, e alto risco de
óbito.
Os critérios clássicos para indicar gravidade foram criados por Ranson, que sugerem pancreatite
grave quando há três ou mais pontos/critérios. Utilizam-se dados clínicos e laboratoriais.
Observe que há duas classificações dependendo se a etiologia é ou não biliar:
89
Pancreatite Biliar
Na admissão hospitalar Dentro de 48 horas da admissão
Idade > 70 anos Queda hematócrito > 10%
Leucocitose > 18.000/µL Aumento de ureia> 8mg/dl
Glicose > 220 mg/dL Cálcio sérico < 8mg/dl
DHL > 400 U/L Déficit de base < -5 mEq/L
AST > 250 U/L Sequestro de líquidos > 4l em 24 horas
Grau de inflamação
Grau A Pâncreas de aparência normal 0
Grau B Aumento focal ou difuso do pâncreas 1
Grau C Alterações peripancreáticas 2
Grau D Coleção líquida única 3
Grau E Duas ou mais coleções 4
Grau de necrose
Nenhuma 0
Um terço 2
Metade 4
Mais da metade 6
Por último, outra classificação de gravidade e mais atualizada é o escore de Atlanta, baseado na
presença de disfunções orgânicas.
Escore de Atlanta
Leve Ausência de falência orgânica e ausência de complicações locais ou à distância
Falência orgânica transitória (<48h de duração) ou presença de complicações
Moderada
locais e/ou à distância
Grave Falência orgânica persistente (≥48h de duração)
90
A necrose pancreática é a complicação local mais grave, podendo levar a síndrome da resposta
inflamatória sistêmica (SIRS) brutal. Inicialmente, a necrose é estéril com mortalidade de 10%.
Depois evolui para infecção, por translocação bacteriana. Se necrose em 30% do tecido a
mortalidade é quase nula; se necrose superior a 30%, a mortalidade é de 30%. Pode haver
formação de coleções fluidas, fístulas, hipertensão intraabdominal com síndrome compartimental
abdominal. A SIRS pode levar a comprometimento hemodinâmico com hipotensão/ choque,
lesão renal aguda e síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA). Complicações tardias
(4ª a 6ª semana) incluem formação de pseudocisto pancreático (coleção fluida, rica em suco
pancreático, delimitada por uma parede não-epitelizada com tecido de granulação e fibrose),
abscesso (infecção do pseudocisto).
O tratamento nos casos leves envolve reposição volêmica, correção de distúrbios eletrolíticos,
controle álgico e redução do estímulo à produção enzimática (jejum). Com a melhora laboratorial
e dos sintomas, retoma-se dieta líquida com evolução progressiva das consistências. No caso de
etiologia biliar, deve-se programar colecistectomia antes da alta (de preferência
videolaparoscópica) com colangiografia intraoperatória.
Nos casos graves, o paciente deve ser tratado em UTI, com todos os cuidados citados, além de
suporte hemodinâmico, ventilatório e nutricional (de preferência dieta enteral).
Antibioticoterapia profilática é controversa, sendo indicado nas necroses > 30%, utilizando-se
carbapenêmicos por 14 dias. Intervenção cirúrgica é necessária em torno de 22% dos pacientes
com necrosectomia e drenagem de pseudocisto ou abscesso. Desbridamento de necrose
infectada tem alta mortalidade, até 75%, devendo-se ser postergada (quando possível) para
quarta semana de doença, quando a necrose está mais bem delimitada e a SIRS é de menor
proporção.
Gabarito: D
91
Comentário:
A pancreatite aguda é uma resposta inflamatória aguda à lesão pancreática e geralmente não é
progressiva. Episódios recorrentes de pancreatite aguda podem levar à pancreatite crônica ao
longo do tempo. A pancreatite crônica e aguda pode ser distinguida por vários aspectos:
• A pancreatite crônica pode ser assintomática por longos períodos, pode apresentar uma
massa fibrótica ou pode haver sintomas de insuficiência pancreática sem dor. A
pancreatite aguda é quase sempre dolorosa.
• As concentrações séricas de amilase e lipase tendem a ser normais em pacientes com
pancreatite crônica, mas quase sempre são elevadas com doença aguda.
• Morfologicamente, a pancreatite crônica é uma doença focal irregular caracterizada por
um infiltrado mononuclear e fibrose. Em contraste, a pancreatite aguda difusamente
envolve uma grande parte do pâncreas inteiro com uma resposta inflamatória
predominantemente neutrofílica.
• Abuso de álcool (é a etiologia em 60% dos homens; além disso, 5 a 10% dos etilistas
pesados irão evoluir com a doença);
• Causas genéticas (mutações no gene da fibrose cística, pancreatite hereditária);
• Obstrução ductal (por exemplo, trauma, pseudocistos, cálculos, tumores);
• Pancreatite tropical (prevalente na Índia);
• Doenças sistêmicas, como LES, hipertrigliceridemia, hiperparatireoidismo;
• Pancreatite auto-imune.
92
A intolerância à glicose ocorre com alguma frequência na pancreatite crônica, mas o diabetes
mellitus geralmente ocorre tardiamente no curso da doença. Pacientes com doença calcificante
crônica e com história familiar de diabetes tipo 1 ou tipo 2 são mais susceptíveis. Geralmente há
necessidade de insulina, no entanto, é diferente do diabetes tipo 1 típico em que as células alfa
pancreáticas, que produzem o glucagon, também são afetadas. Como resultado, há um risco
aumentado de hipoglicemia, tanto relacionado ao tratamento quanto espontâneo. Cetoacidose
diabética e nefropatia são raros; neuropatia e retinopatia ocorrem mais frequentemente.
A pancreatite crônica também pode estar associada a uma variedade de complicações. Estes
incluem formação de pseudocisto, obstrução do ducto biliar ou do duodeno, ascite pancreática
ou derrame pleural, trombose da veia esplênica, pseudoaneurismas e câncer de pâncreas. Os
pacientes também podem desenvolver ataques agudos de pancreatite, particularmente
alcoólatras que continuam a beber.
O diagnóstico de pancreatite crônica pode ser um desafio, uma vez que estudos de laboratório
e exames de imagem podem ser normais. Em relação às manifestações clínicas, a clássica tríade
de calcificações pancreáticas, esteatorreia e diabetes mellitus, que sugere fortemente o
diagnóstico, geralmente é vista em conjunto apenas na doença tardia e muito avançada. O
diagnóstico é confirmado se houver calcificações no pâncreas em Rx, TC de abdômen ou USG
endoscópico, pancreatograma anormal revelando dilatação do ducto pancreático principal ou
dos ramos laterais ectásicos, ou um teste de funcional pancreático anormal (teste com
estimulação com secretina ou colecistoquinina).
93
A abstinência ao álcool pode, mas nem sempre, levar a uma melhora sintomática. Parece óbvio
que a redução do consumo também reduza a progressão da doença, porém essa informação
não é clara na literatura. Já em relação ao tabagismo, há evidências concretas de que esse seja
um fator de risco independente para a ocorrência da pancreatite crônica alcoólica e idiopática, e
que o mesmo acelera a progressão da doença nos indivíduos afetados, inclusive do
aparecimento de calcificações pancreáticas.
Outras abordagens especializadas para pacientes que continuam a ter dor incluem terapia
endoscópica, litotripsia extracorpórea por ondas de choque, bloqueio dos nervos celíacos e
cirurgia. Três abordagens cirúrgicas foram descritas: operações de descompressão/drenagem,
ressecções pancreáticas e procedimentos de desnervação. A escolha do procedimento é feita
com base no tamanho dos ductos pancreáticos e nas regiões do pâncreas envolvidas.
A intolerância à glicose ocorre com alguma frequência na pancreatite crônica, mas de detecção
de diabetes mellitus geralmente ocorre tardiamente no curso da doença. Um estudo de
hipoglicemiantes orais seguido por terapia com insulina, quando necessário, tem sido a linha de
tratamento nesses pacientes.
A maioria dos pseudocistos é assintomática. Eles podem, no entanto, produzir uma ampla gama
de manifestações clínicas, dependendo da localização e extensão da coleção de fluidos.
94
O diagnóstico é geralmente realizado pelo achado de uma coleção de líquido encapsulado intra
ou peripancreático na imagem em um paciente com histórico de pancreatite
crônica. Pseudocistos pancreáticos podem ser vistos no ultrassom transabdominal, mas a
tomografia computadorizada com contraste ou a ressonância magnética são normalmente
obtidas para confirmar o diagnóstico e classificar ainda mais a coleção de fluidos.
As indicações para drenagem incluem dor abdominal, calafrios, icterícia, saciedade precoce ou
febre. As opções de gerenciamento incluem imagens radiológicas com drenagem percutânea
por cateter, drenagem endoscópica e cirurgia.
Gabarito: E
95
Comentário:
A cólera é uma doença diarreica secretora aguda causada por cepas produtoras de toxinas da
bactéria gram-negativa Vibrio cholerae. A infecção é principalmente adquirida pela ingestão de
alimentos ou água contaminados, também podendo ocorrer transmissão direta de pessoa para
pessoa.
A cólera tem um período típico de incubação de um a dois dias. Embora os casos leves possam
ser clinicamente indistinguíveis de outras causas de doenças diarreicas, a perda profunda e
rápida de fluidos e eletrólitos marca a cólera grave como uma entidade clinicamente distinta
(perda hídrica pode chegar a 1 litro/h nos casos mais graves) (alternativa D errada) A diarréia
geralmente é indolor, sem tenesmo ou produtos patológicos, com aspecto de "água de arroz",
(normalmente tem um odor de peixe). (alternativa E errada) Em pacientes tratados com
reidratação adequada, a diarréia é mais intensa durante os dois primeiros dias e termina após
quatro a seis dias. A perda total de volume ao longo da doença pode atingir 100% do peso
corporal.
Os antibióticos podem encurtar a duração da diarreia, reduzir o volume das perdas de fezes em
até 50% e diminuir a duração da liberação de V. cholerae para um a dois dias. (alternativa C
correta) Desempenham um papel importante na interrupção de surtos de cólera. As opções
incluem macrolídeos, fluoroquinolonas e tetraciclinas.
As vacinas inativadas orais são indicadas em áreas endêmicas, em conjunto com outras
estratégias de prevenção e controle (medidas sanitárias). Têm eficácia de 53 a 67% na subtipo
Sanchol e de 78% na subtipo Dukoral. A proteção diminui rapidamente com eficácia inferior a
40% após cinco anos. (alternativa B errada)
Gabarito: C
Diante da suspeita clínica de febre tifóide o exame de escolha para confirmar o diagnóstico,
na primeira semana de evolução da doença, é:
(A) urocultura.
(B) hemocultura.
96
(D) coprocultura.
Comentário:
A Febre Tifoide (FT) é caracterizada por doença sistêmica grave com febre e dor abdominal. O
organismo classicamente responsável pela síndrome da FT é Salmonella entérica sorotipo Typhi
(S. typhi). Outros sorotipos de Salmonella, particularmente os sorotipos S. enterica Paratyphi A,
B ou C, podem causar uma síndrome similar. O início dos sintomas ocorrem 5 a 21 dias após a
ingestão do microrganismo causador em alimento ou água contaminados. Em geral, os inóculos
inferiores estão associados a maiores tempos de incubação. A maioria dos pacientes apresenta
dor abdominal, febre e calafrios.
• Hemocultura: maior sensibilidade nas duas primeiras semanas, podendo chegar a 90%, se
o sangue coletado for da medula óssea (alternativa B correta).
• Coprocultura/ urocultura: positividade a partir da segunda até quinta semana de doença.
97
Gabarito: B
Sobre a infecção por Ascaris lumbricoides no homem, analise as sentenças abaixo e assinale
V (verdadeira) ou F (falsa). A seguir, assinale a alternativa que contém a sequência correta,
de cima para baixo.
(A) F, V, V
(B) V, V, V
(C) V, F, F
(D) F, F, F
(E) F, V, F
98
Comentário:
A transmissão é feita pela ingestão dos ovos infectantes do parasita, procedentes do solo,
água ou alimentos contaminados com fezes humanas. O período de incubação dos ovos
férteis até o desenvolvimento da larva infectante, no meio exterior e em condições favoráveis,
é de aproximadamente 20 dias. O período pré-patente da infecção (desde a infecção com
ovos embrionados até a presença de ovos nas fezes do hospedeiro) é de 60 a 75 dias.
(afirmativa II correta)
• Albendazol (ovocida, larvicida e vermicida), 400mg/ dia, em dose única para adultos;
• Mebendazol, 100mg, 2 vezes ao dia, durante 3 dias consecutivos. Não é recomendado
seu uso em gestantes;
• Levamizol, 150mg, VO, em dose única para adultos.
migração da larva através dos pulmões pode causar hemorragia e pneumonite (síndrome de
Löefler). No sítio de penetração da larva ocorre dermatite maculopapulosa pruriginosa.
Os ovos contidos nas fezes são depositados no solo, onde se tornam embrionados. Em
condições favoráveis de umidade e temperatura, as larvas se desenvolvem até chegar ao 3º
estágio, tornando-se infectantes em um prazo de 7 a 10 dias. A infecção nos homens ocorre
quando essas larvas infectantes penetram na pele, geralmente pelos pés, causando
dermatite característica. As larvas dos ancilóstomos, após penetrarem pela pele, passam pelos
vasos linfáticos, ganham a corrente sanguínea e, nos pulmões, penetram nos alvéolos. Daí
migram para a traqueia e faringe, são deglutidas e chegam ao intestino delgado, onde se
fixam, atingindo a maturidade ao final de 6 a 7 semanas, passando a produzir milhares de
ovos por dia.
É comum a confusão entre ancilostomíase e larva migrans cutânea, causada pelo A. braziliense
ou A. caninum. Esses nematoides não amadurecem nos seres humanos. No ponto de entrada
da larva surge uma pápula pruriginosa que evolui para uma lesão serpentinforme com prurido
marcante (migração da larva). O tratamento é feito com tiabendazol tópico ou
albendazol/ivermectina.
100
Toxocaríase: doença causada pelo Toxocara canis, cujas larvas podem migrar através de
praticamente qualquer órgão (fígado, olhos, SNC, coração) e os sintomas estão associados à
reação do hospedeiro à presença das larvas. Não há desenvolvimento do verme adulto no
homem. A maioria das infecções causa sintomas leves ou passam despercebidos.
Os cães infestados eliminam os ovos nas fezes, contaminando o solo. Esses ao serem
ingeridos, liberam larvas que penetram na mucosa intestinal, atingem a circulação e os
capilares pulmonares. Após o ciclo pulmonar a larva atinge diversos órgãos, especialmente o
fígado, levando a uma reação inflamatória com eosinofilia importante. Nas formas
sintomáticas, há febre alta, hepatomegalia, hipergamaglobulinemia, podendo ocorrer
síndrome de Löefler.
Quadro típico de dor abdominal, diarreia, náuseas e vômitos não está presente e o
diagnóstico não é feito através do exame de fezes. É realizado por sorologia (ELISA).
Gabarito: B
Comentário:
101
As manifestações intestinais podem ser de média ou grande intensidade, com diarreia, dor
abdominal e flatulência, acompanhadas ou não de anorexia, náusea, vômitos e dor
epigástrica, que pode simular quadro de úlcera péptica. Os quadros de estrongiloidíase
grave (hiperinfecção), comuns em imunocomprometidos, em uso de corticóides ou
desnutridos, se caracterizam por febre, dor abdominal, anorexia, náuseas, vômitos,
diarreias profusas, manifestações pulmonares (tosse, dispneia e broncoespasmos e,
raramente, hemoptise e angústia respiratória). Podem, ainda, ocorrer infecções
secundárias, como meningite, endocardite, sepse e peritonite, mais frequentemente por
enterobactérias e fungos.
Após o tratamento é importante controle de cura com três exames parasitológicos de fezes,
após 7, 14 e 21 dias da medicação:
102
• Autoinfecção externa ou direta: do ânus para a cavidade oral, por meio dos dedos,
principalmente nas crianças, doentes mentais e adultos com precários hábitos de
higiene.
• Autoinfecção indireta: ovos presentes na poeira ou alimentos atingem o mesmo
hospedeiro que os eliminou.
• Heteroinfecção: os ovos presentes na poeira ou alimentos atingem um novo
hospedeiro.
• Retroinfecção: migração das larvas da região anal para as regiões superiores do
intestino grosso, chegando até o ceco, onde se tornam adultas.
• Autoinfecção interna: processo raro no qual as larvas eclodem ainda dentro do reto e
depois migram até o ceco, transformando-se em vermes adultos.
Gabarito: D
103
Considere um paciente que apresenta uma parasitose cujo ciclo evolutivo está exposto na
figura abaixo.
(A) Praziquantel.
(B) Piperazina.
(C) Secnidazol.
(D) Ivemectina.
(E) Anfotericina B.
Comentário:
104
Além das complicações decorrentes da fibrose hepática e hipertensão portal, pode ocorrer
cor pulmonale e glomerulonefrite (membranoproliferativa). Podem ocorrer associações com
infecções bacterianas (salmonelas, estafilococos) e virais (hepatites B e C). Pode haver
comprometimento do sistema nervoso central (mielite transversa) e de outros órgãos
secundários ao depósito ectópico de ovos.
105
O tratamento é feito com Praziquantel, dose única de 50mg/kg de peso para adultos. Como
segunda escolha, tem-se a Oxamniquina, também em dose única de 15mg/kg.
Contraindicações às medicações: gestação e amamentação; crianças menores de 2 anos;
insuficiência hepática grave; insuficiência renal ou outras situações graves de descompensação
clínica.
A bactéria pode translocar para a superfície do verme ou penetrar em seu intestino, levando a
um quadro de bacteremia persistente, caracterizada por febre irregular prolongada, perda de
peso e hepatoesplenomegalia, hipoalbuminemia e eosinofilia. De modo geral, o tratamento anti-
esquistossomótico, ao erradicar a helmintíase, faz cessar a septicemia e promove a cura da
salmonelose.
106
Tratamento:
Gabarito: A
Comentário:
Podem pode ocorrer formas intestinal e extra-intestinal da doença. O quadro clínico varia de
uma forma branda, caracterizada por desconforto abdominal leve ou moderado, com sangue
e/ou muco nas dejeções, até uma diarreia aguda e fulminante, de caráter sanguinolento ou
mucóide, acompanhada de febre e calafrios. Podem ou não ocorrer períodos de remissão. Em
casos graves, as formas trofozoíticas se disseminam pela corrente sanguínea, provocando
abcesso no fígado (com maior frequência), nos pulmões ou cérebro.
O tratamento da amebíase deve ser feito mesmo nos casos assintomáticos!! Entretanto, amebas
comensais não devem ser tratadas: E. dispar, E. coli, E. nana, E hartamanni, I. butschii.
1ª opção:
- Formas intestinais: Secnidazol - Adultos: 2g, em dose única (alternativa C correta). Deve ser
evitado no 1º trimestre da gravidez e durante a amamentação.
108
3ª opção - Tinidazol, 2g, VO, para adultos, após uma das refeições, durante 2 dias, para formas
intestinais.
cirúrgica aberta não é recomendada, exceto em casos graves, quando o abscesso é inacessível à
aspiração e não responde ao tratamento em até 4 dias.
A Giardia lamblia é um protozoário flagelado que existe na forma de cisto ou trofozoíta, capaz
de parasitar o intestino delgado. A principal forma de contaminação é fecal-oral: direta, pela
contaminação das mãos e consequente ingestão de cistos existentes em dejetos de pessoa
infectada; ou indireta, por meio da ingestão de água ou alimento contaminado.
Tratamento: Secnidazol: 2g, em dose única; Tinidazol: 2g, em dose única; Metronidazol: 250mg,
2 vezes ao dia, por 5 dias.
109
Gabarito: C
(D) o tratamento deve ser feito exclusivamente com vancomicina por via oral.
(E) o tratamento deve ser feito com o uso conjunto de vancomicina e metronidazol.
Comentário:
O C. difficile libera duas potentes exotoxinas que medeiam a colite e a diarréia: toxina A
("enterotoxina") e toxina B ("citotoxina"). O organismo não é invasivo e cepas não toxigênicas
não causam doença. Uma vez intracelular, as toxinas A e B inativam vias reguladoras envolvidas
na estrutura do citoesqueleto e transdução de sinal via trifosfato de guanosina. Este distúrbio
leva à retração celular e apoptose. Ambas as toxinas também destroem as junções estreitas
intercelulares.
Os níveis de toxina nas fezes correlacionam-se com a gravidade da doença. A toxina A causa
inflamação, levando à secreção intestinal, lesão da mucosa e inflamação ativando diretamente os
neutrófilos. A toxina B é essencial para a virulência de C. difficile e é aproximadamente 10 vezes
mais potente que a toxina A no dano à mucosa do cólon. Assim, cepas sem toxina A podem ser
tão virulentas quanto cepas com ambas as toxinas.
A infecção recorrente por C. difficile é definida pelo reaparecimento dos sintomas dentro de
duas a oito semanas após o tratamento adequado ter sido finalizado. Até 25% dos pacientes
experimentam infecção recorrente dentro de 30 dias de tratamento.
110
O uso de antibióticos é o fator de risco mais amplamente reconhecido e modificável para CPM.
Outros fatores incluem idade avançada, hospitalização e doença grave. Fatores adicionais de
risco incluem supressão do ácido gástrico, alimentação enteral, cirurgia gastrointestinal,
obesidade, quimioterapia, transplante de células-tronco hematopoiéticas, doença inflamatória
intestinal e cirrose.
Diarreia aquosa (≥3 fezes moles em 24 horas) é o sintoma cardinal do CPM. Outras manifestações
incluem dor no baixo ventre e cólicas, febre baixa, náusea e anorexia. A diarréia pode estar
associada a muco ou sangue oculto, mas a melena ou a hematoquezia são raras. Os sintomas
podem começar durante a antibioticoterapia ou até um mês após seu término. A maioria dos
casos ocorre dentro de duas semanas. Cerca de 5 a 10% dos pacientes não foram expostos a
antibióticos.
Em pacientes com diarreia aguda e fatores de risco, devem-se pesquisar as toxinas A e B nas
fezes ou a presença de C. difficile produtor de toxina por PCR ou coprocultura. Pacientes
assintomáticos não devem ser submetidas a exames, pois a presença do gene da toxina não
distingue os assintomáticos. Cerca de 1 a 3% das cepas só produzem toxina B, o que aumenta o
risco de falso-negativo se pesquisa isolada de toxina A.
111
O tratamento clássico inclui uso de metronidazol e vancomicina por via oral. Há polêmica na
literatura quanto à primeira opção de uso. Segundo o site uptodate a vancomicina é a droga de
escolha em todas as formas clínicas. Nos casos não graves (leucocitose < 15mil cel/ml e
creatinina <1,5 mg/dl) e nos graves (leucocitose > 15mil cel/ml e creatinina >1,5mg/dl) é usada
na dose 125mg 4xdia. Outra medicação utilizada é a Fidaxomicina 200mg, 2xdia, também por 10
dias. Metronidazol fica como opção na indisponibilidade dessas drogas, na dose de 500mg,
3xdia, por 10 dias.
Nas formas fulminantes utilizam-se Vancomicina 500 mg por via oral (ou via sonda enteral) 4xdia,
ASSOCIADO a Metronidazol 500 mg por via intravenosa a cada 8 horas. Se houver íleo
paralítico, a vancomicina retal pode ser administrada como um enema de retenção.
Voltando as alternativas:
112
produtor de toxina por PCR ou coprocultura. Além disso, cerca de 1 a 3% das cepas só
produzem toxina B, o que aumenta o risco de falso-negativo se pesquisa isolada de toxina A.
(B) o diagnóstico deve ser feito através de cultura do Clostridium difficile: a cultura isolada da
bactéria não tem sentido pois há portadores assintomáticos. A intenção da cultura é viabilizar a
pesquisa de bactéria produtora das toxinas patogênicas.
(D) o tratamento deve ser feito exclusivamente com vancomicina por via oral: como visto o
metronidazol e fidaxomicina também são opções terapêuticas.
(E) o tratamento deve ser feito com o uso conjunto de vancomicina e metronidazol: tratamento
associado de ambas as drogas só tem indicação nos casos de colite fulminante.
Gabarito: C
(A) dieta isenta de glúten, temporariamente, até que a mucosa intestinal se restabeleça, quando
o glúten poderá ser progressivamente reintroduzido.
(D) dieta isenta de lactose, temporariamente, até que a mucosa intestinal se restabeleça, quando
a lactose poderá ser progressivamente reintroduzida.
Comentário:
A doença celíaca é um distúrbio do intestino delgado, que ocorre por exposição ao glúten da
dieta. A frequente ocorrência intrafamiliar e a associação notavelmente próxima com os locus
113
dos genes HLA-DQ2 e/ou DQ8 fornecem a base de nossa compreensão atual da doença como
um distúrbio imunológico desencadeado por um agente ambiental (o componente gliadina do
glúten) em indivíduos predispostos.
• Forma clássica: mais comum em crianças pré-escolares com diarreia crônica, com fezes
volumosas, fétidas e flutuantes devido à esteatorréia e flatulência. Esses sintomas são
paralelos às consequências da má absorção, como falha de crescimento em crianças,
perda de peso, anemia grave, distúrbios neurológicos por deficiências de vitaminas do
complexo B e osteopenia por deficiência de vitamina D e cálcio.
• Forma atípica: é mais comum em adolescentes e adultos, em que as manifestações
intestinais são secundárias. Eles podem apresentar anemia, defeitos do esmalte dentário,
osteoporose, artrite, aumento das transaminases, sintomas neurológicos ou infertilidade.
No entanto, a maioria desses pacientes apresenta danos graves na mucosa e possui o
padrão de anticorpos específicos para celíacos.
• Forma assintomática (silenciosa): os pacientes são reconhecidos incidentalmente com base
em exames de anticorpos contra gliadina ou transglutaminase tecidual. Embora esses
pacientes exibam com muita frequência a remodelação arquitetônica característica da
mucosa intestinal observada na doença celíaca (isto é, hiperplasia da cripta e atrofia das
vilosidades), eles não apresentam sintomas clínicos. Frequentemente sintomas menores
(por exemplo, fadiga) só são percebidos após a introdução de uma dieta sem glúten.
Como visto na tabela, a pesquisa de anticorpo Antitransglutaminase IgA possui melhor custo
benefício. Se negativo, mas ainda há uma alta suspeita clínica deve-se realizar a dosagem de IgA
total (3% dos pacientes possuem deficiência seletiva de IgA).
114
Classicamente era realizada uma segunda biópsia intestinal, após 6-24 meses de dieta sem
glúten, para confirmação da normalização histológica. Atualmente, essa conduta é questionável,
reservando-se para casos duvidosos.
Outras manifestações clínicas estão associadas a DC como hipoesplenismo, nefropatia por IgA,
dermatite herpetiforme, deficiência seletiva de IgA, hemossiderose pulmonar idiopática. Além
disso, outras doenças autoimunes são comuns (como tireoidite, diabetes, pancreatite, miocardite
e Doença Inflamatória Intestinal) e há aumento do risco de neoplasias como adenocarcinoma de
jejuno e linfoma não-Hodgkin.
O tratamento de todos fenótipos de Doença Celíaca inclui uma dieta sem glúten e segue um
mneumônico:
• Consultar um nutricionista
• Educação sobre a doença
• Lifelong adherence to a gluten-free diet (dieta livre de glúten o resto da vida)
• Identificação e tratamento de deficiências nutricionais
• Acesso a grupos/associações da doença
• Continuidade de seguimento de longo prazo com equipe multidisciplinar
As principais fontes de glúten são o trigo, cevada e centeio. Há diversas opções inócuas para
variar o cardápio: arroz, milho, batata, mandioca, cará, trigo sarraceno, soja. A aveia é tolerada
por pacientes em remissão ou manifestações leves, com consumo limitado a 50-60g/dia.
Outras manifestações clínicas estão associadas a DC como hipoesplenismo, nefropatia por IgA,
dermatite herpetiforme, deficiência seletiva de IgA, hemossiderose pulmonar idiopática. Além
disso, outras doenças autoimunes são comuns (como tireoidite, diabetes, pancreatite, miocardite
e Doença Inflamatória Intestinal) e há aumento do risco de neoplasias como adenocarcinoma de
jejuno e linfoma não-Hodgkin.
115
Gabarito: C
A diarreia aguda (DA) é uma alteração do hábito intestinal com diminuição da consistência
das fezes. Sobre o assunto, assinale a alternativa correta.
(A) Diabetes e amiloidose são causas de diarreia não infecciosas, decorrente da neuropatia
autonômica.
(B) A DA é uma queixa frequente no pronto-socorro sendo que 20% são causadas por ingestão
de água e alimentos contaminados por micro-organismos patogênicos.
(E) A diarreia alta é caracterizada por pequeno volume, alta frequência, acompanhada de puxo,
urgência, tenesmo, muco, pus e sangue.
Comentário:
116
117
A maioria dos casos agudos são infecciosos e auto-limitados (90% são causadas por ingestão de
água e alimentos contaminados por micro-organismos patogênicos). (alternativa B errada) Os
principais agentes são: vírus (norovírus, rotavírus, adenovírus, astrovírus), bactérias (Salmonela,
Campylobacter, Shigella, E. coli enterotoxigênica, Clostridioides, Clostridium difficile),
protozoários (Criptosporidium, Giardia, Cyclospora, Entamoeba) e medicamentosa,
principalmente por antibióticos. Observe:
1) As gastroenterites virais: os vírus são a principal causa de diarreia aguda nos pronto-
socorro. Sua transmissão é por via fecal-oral, sendo o norovírus o primeiro lugar nas
diarreias dos adultos, seguido pelo rotavírus, causa de diarreia grave em crianças menores
de dois anos.
2) Gastroenterites bacterianas (revise comentário a seguir)
3) Medicamentosa: Os medicamentos mais utilizados na prática clínica e relacionados com
diarreia aguda são: clindamicina, ampicilina e cefalosporinas; nos anti-hipertensivos temos
os betabloqueadores e os diuréticos; nos antidepressivos a fluoxetina, entre outros.
• Diarreia abundante com desidratação (avaliada a partir do exame físico, com presença de
taquicardia, mucosa seca, oligúria, entre outros);
• Fezes francamente sanguinolentas;
• Febre;
• Ausência de melhora após 48 horas;
• Novos surtos na comunidade;
• Dor abdominal grave em pacientes acima de 50 anos;
• Idosos acima de 70 anos;
• Imunocomprometidos e pacientes com uso recente de antibióticos.
Caso tenhamos a presença de algum sinal de alarme, devemos solicitar os seguintes exames:
hemograma completo, bioquímica para investigar alteração de eletrólitos e exame das fezes:
pesquisa de leucócitos, coprocultura, pesquisa de trofozoítos e de sangue oculto. Agentes
antidiarreicos devem ser usados apenas nos casos de diarreia importante sem febre ou sem
sinais de disenteria. Agentes probióticos podem ser usados pois recuperam a flora intestinal.
(alternativa E errada)
118
Bebe normalmente,
Sedento, bebe Bebe pouco, incapaz de
Sede pode recusar
avidamente beber
líquidos
Taquicardia. Bradicardia
FC Normal Normal a aumentada
nos casos mais graves
Fraco, filiforme ou
Pulsos Normal Normal a diminuído
impalpável
Respiração Normal Normal a acelerada Profunda
Discretamente
Olhos Normais Muito profundos
profundos
Lágrimas Presente Diminuída Ausente
Boca e língua Úmidas Secas Ressecadas
Desaparece Desaparece em menos Desaparece em mais de
Sinal da prega
instantaneamente de 2 segundos 2 segundos
Tempo de
Normal Prolongado Prolongado, mínimo
enchimento capilar
Frias, moteadas,
Extremidades Quentes Frias
cianóticas
Débito urinário Normal a diminuído Diminuído Mínimo
Nos casos de desidratação grave, institui-se o Plano C: reposição rápida IV de 20ml/Kg de salina
isotônica de acordo com a melhora, em até 20 minutos, podendo repetir três vezes. Após, pode
ser instituído terapia de reidratação oral e o paciente retorna para o grupo B.
119
As diarreias crônicas podem ser de diversas etiologias e sua prevalência vai variar de acordo com
o nível socioeconômico do país. Nos países desenvolvidos, têm-se que as principais causas de
diarreia crônica são a Síndrome do Intestino Irritável, Retocolite Ulcerativa e Doença de Crohn,
além das síndromes disabsortivas, como a doença Celíaca. Já nos países em desenvolvimentos,
predominam as causas infecciosas, tendo como principal representante, as parasitoses.
Desta forma, pode-se dividir as causas de diarreia crônica nos seguintes grandes grupos: diarreia
por má absorção, diarreias inflamatórias, diarreias secretórias, por dismotilidade e as parasitoses.
1) No grupo das diarreias por má absorção, têm-se as três principais representantes, que
são a doença Celíaca, pancreatite crônica e a doença de Whipple, a seguir:
Gabarito: A
120
(D) Shigella.
(E) Salmonella.
Comentário:
A maioria dos casos agudos são infecciosos e auto-limitados. Os principais agentes são: vírus
(norovírus, rotavírus, adenovírus, astrovírus), bactérias (Salmonela, Campylobacter, Shigella, E.
coli enterotoxigênica, Clostridioides, Clostridium difficile), protozoários (Criptosporidium,
Giardia, Cyclospora, Entamoeba) e medicamentosa, principalmente por antibióticos. Observe:
1) As gastroenterites virais: os vírus são a principal causa de diarreia aguda nos pronto-
socorro. Sua transmissão é por via fecal-oral, sendo o norovírus o primeiro lugar nas
diarreias dos adultos, seguido pelo rotavírus, causa de diarreia grave em crianças menores
de dois anos.
2) Gastroenterites bacterianas:
121
122
O início repentino de náusea e vômito provavelmente ocorre devido à ingestão de uma toxina
pré-formada, como a enterotoxina por S. aureus ou toxina emética por B. cereus ou um irritante
químico. Gastroenterite causada por outros patógenos, principalmente vírus, também pode
apresentar vômito como sintoma predominante.
Após a ingestão de enterotoxina por S. aureus, náusea, vômito e cólicas abdominais geralmente
começam em uma a seis horas. Febre e/ou diarréia ocorrem em uma minoria de pacientes.
Como os sintomas são causados por uma toxina pré-formada, não há risco de disseminação de
pessoa para pessoa. O vômito e/ou alimentos podem ser testados para a enterotoxina, mas o
diagnóstico de intoxicação alimentar por S. aureus é clínico.
B. cereus também é capaz de produzir uma enterotoxina emética estável ao calor, geralmente
em alimentos ricos em amido, como o arroz. A enterotoxina emética pré-formada de B. cereus
causa um rápido (dentro de uma a seis horas) início de náusea e vômito profuso. A doença
geralmente é autolimitada, embora muito raramente esteja associada à necrose hepática aguda.
O diagnóstico é geralmente clínico; laboratórios de referência têm a capacidade de testar
alimentos ou vômitos quanto à toxina.
Gabarito: C
(C) VIPoma
123
Comentário:
Questão difícil!! Três detalhes chamam a atenção do caso clínico: a grande quantidade de fezes
(2kg em 72h), esteatorreia (>7g gordura/dia) e gap osmolar baixo (Gap osmolar fecal [290-
2x(Na+K)] → 290 – 2x140 → 290 – 280 → 10 mOsm/L).
O cálculo do Gap Osmolar fecal fornece uma estimativa de da contribuição de eletrólitos para a
retenção de água no lúmen intestinal. Valores abaixo de 50mOsm/L sugerem diarreia
secretória. Portanto, a resposta correta é VIPOMA ou cólera pancreática. (alternativa C correta)
Diarreias osmóticas apresentam gap osmolar fecal alto (>125mOsm/L) e quadros mistos
apresentam gap entre 50 e 124 mOsm/L.
VIPomas são tumores neuroendócrinos raros que secretam polipeptídeo intestinal vasoativo
(VIP). São diagnosticados, geralmente, entre 30 e 50 anos de idade em adultos e entre dois e
quatro anos de idade em crianças. VIPomas pancreáticos são geralmente solitários, com mais de
3 cm de diâmetro, e ocorrem na cauda do pâncreas em 75% dos pacientes. Aproximadamente
60 a 80% têm metastizado no momento do diagnóstico. Geralmente ocorrem como tumores
isolados, mas em 5% dos pacientes fazem parte da síndrome da neoplasia endócrina múltipla
tipo 1 (NEM1).
A síndrome VIPoma é caracterizada por diarréia aquosa que persiste mesmo durante o jejum. As
fezes são cor de chá, inodoras, com volumes superiores a 700 mL/dia. Em 70% dos pacientes, o
volume das fezes pode exceder 3000 mL em 24h, daí ser chamada de cólera pancreática. A dor
abdominal é leve ou ausente. Os sintomas associados incluem rubor, letargia, náusea, vômito,
fraqueza muscular e cãibras musculares. Achados laboratoriais comuns incluem hiperglicemia,
hipocalemia e hipercalcemia.
Gabarito: C
124
Das abaixo, a característica clínica que fala contra a hipótese diagnóstica de síndrome do
intestino irritável é
Comentário:
Síndrome do Intestino Irritável é uma doença funcional sem alteração estrutural, de caráter
multifatorial, que acomete principalmente mulheres de meia idade. O quadro clínico consiste em
dor abdominal, com mudança do padrão evacuatório para constipação ou diarreia. O
diagnóstico é de exclusão, feito a partir dos Critérios de Roma III, com dor ou desconforto
abdominal recorrente durando pelo menos 3 dias no mês, nos últimos 3 meses, associado com
duas ou mais das seguintes características: 1) melhora com a evacuação; 2) início associado à
mudança na frequência das evacuações; 3) início associado à mudança na forma das fezes. Não
há cura e o tratamento é feito com sintomáticos. Despertar noturno pelos sintomas não está
associado a este distúrbio.
Gabarito: C
(A) Melena é definida como a passagem de sangue vermelho vivo pelo reto, com ou sem fezes.
(E) A úlcera péptica gastroduodenal é uma causa de hemorragia digestiva alta que pode simular
uma HDB.
Comentário:
125
A hemorragia digestiva baixa (HDB) é definida como sangramento luminal distal ao ligamento
de Treitz (ponto onde termina o duodeno e se inicia o jejuno). Em crianças, a principal
etiologia é o divertículo de Merckel, seguido de pólipos juvenis e doença inflamatória
intestinal. Já em adultos, as etiologias variam de acordo com a idade e a referência utilizada.
O consenso é que diverticulose é a principal causa.
Segundo o site uptodate, em uma revisão de vários estudos amplos que incluíram 1559
pacientes com hematoquezia aguda, foram identificadas as seguintes fontes de sangramento:
(alternativa B e D erradas)
• Diverticulose - 5 a 42%
• Isquemia - 6 a 18%
• Anorretal (hemorróidas, fissuras anais, úlceras retais) - 6 a 16%
• Neoplasia (pólipos e câncer) - 3 a 11%
Em torno de 15% dos pacientes podem ter um quadro sugestivo de HDB, quando na verdade,
trata-se de HDA (exemplo: enterorragia volumosa secundária a uma UP). Da mesma forma,
um quadro de melena pode ser oriundo de um sangramento de cólon direito num paciente
com motilidade intestinal lenta. (alternativa E correta)
Fique atento aos sinais de hipovolemia: presença de taquicardia indica hipovolemia leve a
moderada, enquanto a presença de hipotensão ortostática indica perda de pelo menos 15%
da volemia. Já hipotensão arterial ou choque indica perda de 40%. Além disso, queda de
hematócrito superior a 08 pontos e necessidade de transfusão superior a dois concentrados
de hemácias indicam sangramento maciço. Toque retal deve ser realizado em todos os
pacientes (40% dos casos de câncer colorretal são palpáveis ao toque).
O tratamento inicial inclui ressuscitação volêmica com cristaloides. Plasma fresco congelado
ou plaquetas podem ser usados, se distúrbios da coagulação. A transfusão de concentrados
de hemácias está indicada se hemoglobina inferior a 7 g/dL. Em torno de 80-85% dos casos, o
sangramento cessa espontaneamente. A colonoscopia, além de diagnóstica, também é
terapêutica podendo ser empregada soluções esclerosantes, laser, eletrocoagulação. Casos
refratários são direcionados a cirurgia. (alternativa C errada)
126
• Melena: fezes de coloração preta, pastosas e com odor fétido. Resulta de HDA ou do
intestino delgado, embora possa ocorrer em sangramentos do cólon direito, se a
motilidade for lenta. (alternativa A errada)
• Enterorragia: passagem de sangue vermelho vivo pelo reto, com ou sem fezes.
• Hematoquezia: passagem de sangue junto com as fezes
Gabarito: E
Comentário:
Idoso com quadro típico de diverticulite aguda. Esta resulta de uma perfuração microscópica ou
macroscópica de um divertículo devido a inflamação diverticular e necrose focal. A prevalência
da diverticulose é dependente da idade, aumentando de menos de 20% aos 40 a 60% aos 60
anos. Nos países do ocidente predominam os divertículos do lado esquerdo do cólon, enquanto
na Ásia predominam no lado direito.
127
• Dieta: baixa ingestão de fibra e alta ingestão de gordura ou carne vermelha estão
associados a um risco aumentado de doença sintomática. Fibra alimentar e dieta
vegetariana podem reduzir a incidência da doença, diminuindo a inflamação intestinal e
alterando sua microbiota.
o Atenção: o consumo de nozes, milho e pipoca não está associado a um aumento no
risco de diverticulose, diverticulite ou sangramento diverticular. Além disso,
consumo de fibra não reduz sintomas em pacientes com doença sintomática não
complicada.
• Atividade física vigorosa parece reduzir o risco de diverticulite e sangramento diverticular.
• A obesidade tem sido associada a um aumento do risco de diverticulite e sangramento
diverticular.
• Tabagismo e etilismo: fumantes parecem estar em risco aumentado de diverticulite
perfurada e abscesso em comparação com não-fumantes. A cafeína e o álcool não estão
associados a um risco aumentado de doença sintomática.
• Vários medicamentos estão associados a um risco aumentado de diverticulite e
sangramento diverticular, incluindo antiinflamatórios não-esteróides, esteróides e
opiáceos. Em contraste, as estatinas podem estar associadas a um risco diminuído de
perfuração. Além disso, níveis mais altos de vitamina D têm sido associados a um risco
reduzido de hospitalização.
128
o Complicada:
▪ Abscesso: se ≥4cm realizar drenagem guiada por tomografia associado a
ATB. Programar cirurgia em 6-8 semanas.
▪ Fístula: correção cirúrgica após ATB e colonoscopia (excluir neoplasia ou
Doença de Crohn). Fístulas colo-vesicais podem cicatrizar de forma
espontânea. O melhor exame para diagnóstico é a tomografia de
abdômen.
▪ Peritonite/ obstrução intestinal recorrente: cirurgia de urgência (Hartmann).
Fique atento: Não existe uma nítida relação direta entre constipação intestinal e diverticulose!
129
Vários sinais clínicos auxiliam no diagnóstico. O sinal de Blumberg é classicamente descrito como
descompressão brusca dolorosa no ponto de McBurney. Observe outras manobras semiológicas
e sinais clínicos:
Vários diagnósticos diferenciais podem ser listados como: afecções ginecológicas (gravidez
ectópica rota, abscessos, torção ovariana, doença inflamatória pélvica (DIP), perfuração uterina,
miomatose), linfadenite mesentérica, apendagite epiploica, infarto omental, doença de Crohn,
diverticulite, litíase renal/ ureteral. Causas clínicas de dor abdominal também devem ser
pensadas como cetoacidose diabética, intoxicação por chumbo, porfiria intermitente aguda,
insuficiência supra-adrenal, uremia.
130
Exames laboratoriais, como hemograma podem sugerir perfuração (>20.000 cel/mm³ e desvio a
esquerda) e exames de imagem como tomografia (de preferência) e ultrassonografia auxiliam na
exclusão de diagnósticos diferenciais e para confirmação da afecção em casos duvidosos.
Gabarito: B
Com relação à escolha de método adequado para a detecção precoce de câncer de cólon,
assinale a opção correta.
(A) O preparo prévio é dispensável ao paciente para a realização da colonografia por tomografia
computadorizada.
(B) Pacientes com histórico de angina que estejam assintomáticos e façam uso de aspirina
podem ser submetidos à colonoscopia sem a suspensão desse medicamento.
(C) Dado a baixa probabilidade de uma perfuração ou hemorragia grave em uma colonoscopia,
é desnecessário que o paciente seja informado do risco do procedimento.
(D) A realização da colonoscopia resulta em maior redução da mortalidade por detecção precoce
de câncer do cólon que a pesquisa de sangue oculto nas fezes do paciente.
Comentário:
O câncer colorretal (CCR) é a terceira neoplasia mais comum em homens e mulheres no Brasil
(excluindo-se o câncer de pele não-melanoma). Mais de 95% dos casos correspondem ao
adenocarcinoma. Dentre os principais de fatores de risco tem-se:
131
• Atividade física;
• Dieta rica em vegetais e fibras;
• Uso de Anti-inflamatórios não-esteroides (AINES).
Nos tumores de cólon direito não há sintomas obstrutivos, já que esta região é mais calibrosa. Já
nos tumores de cólon esquerdo predomina alteração de hábito intestinal, com constipação e
fezes semissólidas. Nos tumores de reto há hematoquezia, constipação, tenesmo, eliminação de
muco e invasão de órgãos adjacentes.
Como a drenagem venosa do trato intestinal é pelo sistema porta, o primeiro local de
disseminação hematogênica geralmente é o fígado, seguido pelos pulmões, ossos e outros
locais, incluindo o cérebro. No entanto, os tumores que surgem no reto distal podem
metastatizar inicialmente para os pulmões, porque a veia retal inferior drena para a veia cava
inferior, em vez de entrar no sistema venoso porta.
O achado laboratorial clássico que leva a suspeita de CCR é a anemia por deficiência de ferro.
Não há papel diagnóstico para outros exames laboratoriais de rotina, incluindo testes de função
hepática, que não apresentam sensibilidade para a detecção de metástases hepáticas.
Uma variedade de marcadores séricos tem sido associada com o CCR, particularmente o
antígeno carcinoembrionário (CEA). No entanto, o CEA tem baixa capacidade de diagnóstico
para detectar o CCR primário devido à sobreposição significativa com doença benigna e baixa
sensibilidade para doença em estágio inicial. Uma metanálise concluiu que a sensibilidade
combinada do CEA para o diagnóstico de CCR foi de apenas 46% e especificidade de 89%.
Causas não relacionadas ao câncer de um CEA elevado incluem gastrite, úlcera péptica,
diverticulite, doença hepática, doença pulmonar obstrutiva crônica, diabetes e qualquer estado
inflamatório agudo ou crônico. Além disso, os níveis de CEA são significativamente mais altos em
fumantes de cigarros do que em não-fumantes.
O rastreio de câncer colorretal é indicado para pacientes acima de 50 anos, entretanto, em caso
de história familiar em parente de primeiro grau, o início do rastreio ocorre aos 40 anos ou 10
anos abaixo da menor idade em que um dos parentes desenvolveu câncer. Por exemplo, se o
pai do paciente teve câncer aos 54 anos o rastreamento deve iniciar aos 44 anos.
• Colonoscopia a cada dez anos, sendo esse o padrão (pode ser substituído por
colonoscopia virtual a cada cinco anos);
• Sangue oculto nas fezes uma vez a cada ano;
132
Enema baritado de duplo contraste a cada cinco anos: NÃO É MAIS INDICADO.
A taxa de morte por CCR evitadas em pacientes com mais de 40 anos (a cada 1000 pessoas) é
semelhante entre os testes diagnósticos, incluindo colonoscopia (22 a 24), sangue oculto (20 a
23) e exame imuno-histoquímico fecal (20 a 23). (alternativa D errada)
• Dieta: Os pacientes precisam consumir uma dieta com pouco resíduo ou líquidos claros
por pelo menos um dia antes da colonoscopia eletiva. Uma dieta com pouco resíduo é
pobre em fibras e os pacientes devem ser instruídos a evitar alimentos como frutas,
legumes e grãos integrais. Líquidos claros incluem água, caldo transparente, café ou chá
(sem leite), sorvetes, gelatina e sucos de frutas, como maçã, toranja e limonada. Líquidos
vermelhos podem ser confundidos com sangue no cólon ou podem obscurecer os
detalhes da mucosa e devem ser evitados.
Os pacientes normalmente não ingerem alimentos por via oral por quatro a oito horas
antes do procedimento (às vezes mais se houver suspeita ou atraso no esvaziamento
gástrico) e sem líquidos (exceto goles com medicamentos) por duas horas.
133
Os métodos mais utilizados na prática médica têm sido as lavagens ortógradas com
soluções de polietilenoglicol (PEG), manitol ou fosfato de sódio. O uso de enemas via
retal serve apenas para exames como a retossigmoidoscopia. Além disso, não há
recomendação da adição de enemas ao esquema de laxantes orais, pois não há evidência
de melhora/ potencialização do preparo e há redução na aceitação dos pacientes ao
exame. (alternativa E errada)
134
para uma pontuação total da escala de preparação do intestino de Boston, que varia de 0
(ruim) a 9 (excelente):
o Escore 0: cólon não preparado com mucosa não vista devido a fezes sólidas que
não podem ser removidas.
o Escore 1: parte da mucosa do segmento do cólon vista, mas outras áreas do
segmento do cólon não são bem vistas devido a manchas, fezes residuais e/ou
líquido opaco.
o Escore 2: Pequena quantidade de coloração residual, pequenos fragmentos de
fezes e/ou líquido opaco, mas a maioria das mucosas do segmento do cólon é bem
vista.
o Escore 3: mucosa inteira do segmento do cólon vista bem, sem coloração residual,
pequenos fragmentos de fezes e / ou líquido opaco.
Se o CTC mostrar uma lesão no cólon, será solicitada uma colonoscopia para uma avaliação mais
aprofundada. Não há estudos controlados sobre a eficácia do rastreamento da CTC na
incidência ou morte de CCR. Foi relatado que a sensibilidade da CTC para a detecção de
cânceres e adenomas ≥ 10 mm, com base em sete estudos, varia entre 67 e 94%, com
especificidade de 96 a 98%. A sensibilidade do CTC livre de laxante (que usa uma preparação
oral que marca as fezes para que possa ser limpa eletronicamente das imagens radiográficas) é
um pouco menor do que para o CTC com preparação intestinal laxante. Esses resultados
sugerem que a CTC é igualmente eficaz e pode sujeitar os pacientes a menos intervenções no
cólon.
135
• Adenomatosa
o Polipose Adenomatosa Familiar: síndrome de polipose mais comum com início
na adolescência atingindo ambos os sexos de forma igual. Sua patogênese está
associada ao gene APC mutado, o que leva a um não bloqueio do crescimento
celular e desenvolvimento de múltiplos pólipos.
Gabarito: B
136
(A) A retocolite ulcerativa envolve principalmente intestino grosso e mucosas orais e anal, sendo
comum o histórico de úlceras anais e orais.
(B) A doença de Crohn pode acometer apenas íleo terminal, justificando a respectiva
apresentação com diarreia sanguinolenta, perda de peso secundária, síndrome desabsortiva e
dor abdominal, tipo cólica crônica.
(D) A colectomia profilática deve ser indicada em pacientes jovens em início de doença,
evitando, assim, complicações futuras.
Comentário:
A doença inflamatória intestinal (DII) é composta por dois distúrbios principais: Retocolite
Ulcerativa (RCU) e Doença de Crohn (DC). Esses distúrbios têm características patológicas e
clínicas distintas e sobrepostas. Diversos fatores de risco são associados:
• Idade e sexo: entre 15 e 40 anos, com segundo pico entre 50 e 80 anos. Há uma discreta
predominância de DC em mulheres e de RCU em homens.
• Suscetibilidade genética: em 10 a 25% dos pacientes possuem história familiar de DII.
• Tabagismo: aumenta o risco de desenvolver DC e de exacerbações; em relação a RCU
ocorre o contrário: tabagismo parece ser protetor, inclusive com redução no risco de
agudização da doença.
• Dieta: antígenos alimentares são implicados como gatilhos para desencadear a resposta
imunológica, responsável pela DII. Há risco aumentado de desenvolver ambas, com dieta
rica em alimentos processados, fritos e açucarados. Além disso:
o Hipersensibilidade à proteína do leite de vaca na infância: associada a RCU.
o Consumo de açúcar refinado: associado a DC.
o Consumo a longo prazo de fibras alimentares: associada a uma diminuição do risco
de DC, mas não de RCU.
137
Doença de Crohn (DC): é caracterizada por inflamação transmural e por lesões saltatórias (áreas
de mucosa doente intercaladas com mucosa normal). A natureza inflamatória transmural da
doença pode levar a fibrose e estenoses, e a apresentações clínicas obstrutivas que não são
tipicamente vistas na colite ulcerativa. Mais comumente, a inflamação transmural resulta em
tratos sinusais, dando origem a microperfurações e fístulas. A DC pode envolver todo o trato
gastrointestinal da boca à área perianal. A área mais comumente afetada é o íleo e o cólon
proximal. Observe algumas estatísticas:
Retocolite ulcerativa (RCU): é uma condição inflamatória crônica caracterizada por episódios
reincidentes e remitentes de inflamação limitada à camada mucosa do cólon (pode acometer
submucosa, mas não atinge camada muscular). Quase invariavelmente envolve o reto e
tipicamente se estende de maneira proximal e contínua para envolver outras porções do cólon.
40 a 50% dos pacientes possuem doença limitada ao reto e sigmoide, enquanto 30 a 40%
possuem lesão além do sigmoide, mas poupando parte do intestino grosso. Já 20% apresentam
pancolite. (alternativa A errada)
A diarreia é uma apresentação comum em ambas as doenças, porém é flutuante por longos
períodos na DC e geralmente sem sangue visível. Já na RCU, a diarreia é frequente e de
pequeno volume, como resultado da inflamação retal. Os sintomas associados incluem dor
abdominal com cólica, urgência, tenesmo e incontinência. Pacientes com doença principalmente
distal podem ter constipação acompanhada por descarga frequente de sangue e muco. O
sangramento pode ser grave em até 10% dos pacientes na RCU. Hemorragia maciça ocorre em
138
até 3% dos pacientes com colite ulcerosa em algum momento do curso da doença e pode exigir
colectomia urgente.
Aproximadamente 20 a 30% dos pacientes com RCU exigirão colectomia (colectomia abdominal
total com ileostomia final) por complicações agudas ou por doenças medicamente intratáveis,
como por exemplo, perfuração do cólon, megacólon tóxico, hematoquezia grave com
instabilidade hemodinâmica.
139
Pacientes RCU podem desenvolver colite fulminante com mais de 10 evacuações por dia,
sangramento contínuo, dor abdominal, distensão e sintomas tóxicos agudos e graves, incluindo
febre e anorexia. Pacientes com colite fulminante têm alto risco de desenvolver megacólon
tóxico, pois o processo inflamatório se estende além da mucosa e envolve as camadas
musculares do cólon. Megacólon tóxico é caracterizado por diâmetro colônico ≥6 cm ou
diâmetro cecal> 9 cm e presença de toxicidade sistêmica. (alternativa E errada)
Gabarito: C
(A) acometimento retal na grande maioria daqueles que apresentam inflamação do cólon.
(B) capacidade de acometer o trato gastrointestinal desde a boca até a região perianal.
(D) apresentar-se em cerca da metade dos casos com acometimento do íleo e cólon.
Comentário:
Questão difícil, que exige conhecimento mais detalhado das manifestações clínicas da DC:
(A) acometimento retal na grande maioria daqueles que apresentam inflamação do cólon:
aproximadamente 20% têm doença limitada ao cólon. Em contraste com o envolvimento retal
em pacientes com RCU, metade dos pacientes com DC com colite tem preservação do reto.
(alternativa A errada)
(B) capacidade de acometer o trato gastrointestinal desde a boca até a região perianal:
aproximadamente 5 a 15% têm envolvimento predominante da boca ou área gastroduodenal,
enquanto menos pacientes têm envolvimento do esôfago e do intestino delgado proximal.
(alternativa B correta)
140
íleo distal, com um terço dos pacientes apresentando ileíte exclusivamente. (alternativa C
correta)
(D) apresentar-se em cerca da metade dos casos com acometimento do íleo e cólon:
aproximadamente 50% dos pacientes apresentam ileocolite. (alternativa D correta)
Gabarito: A
Comentário:
Essa questão é importante para estimular a revisão das manifestações extra-intestinais das DII,
que podem ter quadro clínico mais deletério que a doença de base. Estão presentes em um
terço dos pacientes.
Articulares:
• Artrite: forma periférica (apendicular) ocorre em 15-20% dos pacientes, sendo mais
comum da DC. Acomete grandes articulações, é assimétrica, poliarticular, migratória e
não destrutiva. Piora com as exacerbações da doença.
• Espondilite anquilosante: ocorre em 10% dos pacientes, sendo mais comum na DC. Pode
ser agressiva e incapacitante e há positividade do HLA-B27 em dois terços dos casos. A
atividade desta manifestação independe da atividade da DII e não regride com seu
tratamento.
• Sacroileite: presente em ambas as doenças em igual proporção. É simétrica e pode se
associar a espondilite. A atividade desta manifestação independe da atividade da DII.
141
Dermatológicas:
• Eritema nodoso: encontrado em 15% dos pacientes com DC e 10% nos pacientes com
RCU. Em geral, surge durante exacerbações da doença e podem se associar a artrite. De
forma geral, é mais comum em mulheres na segunda a quarta décadas, sendo estas mais
afetadas que os homens (de três a seis vezes).
• Pioderma gangrenoso: mais comum na RCU (até 12% dos pacientes). Podem ser únicas ou
múltiplas e atingir até 30cm. Geralmente desenvolvem-se durante as exarcebações e
estão associados a doença grave. Entretanto, podem ter evolução independente da
doença, podendo surgir anos antes dos sintomas gastrointestinais ou anos após a
colectomia.
Oculares:
◦ Uveíte: ocorre em 0,5 a 3% dos pacientes. Pode preceder o diagnóstico de DII e estar
associada a artrite axial e/ou periférica. É quatro vezes mais comum em mulheres do
que em homens. É insidioso no início e pode recorrer no olho contralateral. A uveíte
anterior pode produzir dor e vermelhidão; a uveíte posterior ou intermediária tem
maior probabilidade de ser indolor, mas está frequentemente associada a moscas
volantes e/ou algum grau de perda visual. A uveíte em pacientes com DII envolve mais
comumente o trato uveal posterior.
142
Hepatobiliares:
Urológicas:
• Mais comuns: cálculos, obstrução ureteral e fístulas, sendo mais comum na DC. Neste
grupo de 10 a 20% dos pacientes que são submetidos a ressecção ileal possuem cálculos
de oxalato, pois ocorre redução da absorção intestinal e aumento de excreção renal.
Atenção a calprotectina, que é uma proteína encontrada nas fezes com alta sensibilidade e
especificidade para Doença Inflamatória Intestinal.
Gabarito: A
143
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prof.ricardo_felix
144