Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Abstract
Resumen
Introdução
O Órgão de Choque
É fato que a literatura costuma referir-se ao “Órgão de Choque” como
aquele que adoece com frequência, o que recebe o impacto de uma vivência
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Assim, o autor sugere que seria melhor que cada um tomasse consciência
das necessidades do seu corpo, já que ignorar o que acontece e não respeitar os
limites pessoais possibilita a chegada da doença. “Se um sintoma lhe propicia
atenção e cuidado de outros, talvez haja algum outro modo de pedir atenção
e cuidado. Muitas vezes, quando esta segunda alternativa surge, o sintoma
melhora e desaparece” (p. 114), conclui o autor.
Stevens encerra, referindo-se aos diálogos entre as partes que favorecem
um melhor conhecimento sobre si, por tornar menos fragmentado e revelando
maior consciência de seu funcionamento, levando a pessoa a uma vida mais
centrada, simples e menos confusa. Assumindo responsabilidades pelo que
De acordo com Ivancko (1997), não se pode negar que existem algumas
semelhanças entre portadores de uma doença, porém outras pessoas com um
mesmo perfil psicológico não desenvolvem a mesma patologia.
Acredito que um perfil psicológico ou uma origem genética para as pato-
logias pode evocar alívio por não fazer parte do perfil mencionado ou não car-
regar consigo uma carga genética favorável à determinada doença. Para outros,
que possam ter um perfil semelhante ao direcionado a uma patologia ou uma
herança genética, tais possibilidades podem gerar medo ou uma sensação de
“condenação” diante da aparente impossibilidade de um destino a ser escolhido.
Por nossa herança cartesiana buscamos certezas e muitas vezes encon-
Quando dizemos que cada caso é individual, único e que apesar de ter
alguma semelhança com outros casos da mesma patologia, seja pelo fator
genético ou social, psicológico ou espiritual, físico ou químico, estamos con-
cordando com o autor acima, que ao expor a visão sistêmica, explica: “Embora
possamos discernir partes individuais em qualquer sistema, a natureza do todo
é sempre diferente da mera soma de suas partes” (p. 260).
E conclui que: “Reducionismo e holismo, análise e síntese, são enfoques
complementares que, usados em equilíbrio adequado, nos ajudam a chegar a
um conhecimento mais profundo da vida” (p. 261).
Para formarmos o conceito de órgão de choque, neste momento, pode-
mos dizer que em relação à eleição deste órgão, as causas são multifatoriais,
isto é, não se pode determinar exatamente quais fatores têm influência e em
que medida, para que um determinado órgão sofra os impactos na busca da
homeostase do indivíduo.
Faz-se necessário neste momento esclarecer sobre o conceito de homeos-
tase. Segundo Perls, 1977:
VOZES EM LETRAS:
Olhares da Gestalt – terapia para a situação de pandemia 209
está ocorrendo.
Além de denunciar a falha homeostática, podemos observar no órgão de
choque uma característica temporal, ou seja, se o órgão em questão denuncia
uma necessidade não satisfeita, não receberá mais impactos na medida em
que o organismo satisfizer essas necessidades.
O que ocorre é que alguns indivíduos satisfazem o processo homeostático
em horas, outros em meses e outros levam a vida toda sem se dar conta de
que essas necessidades existam ou que possam ser satisfeitas.
Assim, um órgão de choque pode ser “eleito” por horas, meses ou por
toda uma vida.
Em alguns casos o órgão de choque adoece ao ponto de ter que ser reti-
rado cirurgicamente. Nestes casos a energia que era canalizada ao órgão é
deslocada a um outro órgão, pois a necessidade daquele órgão, agora retirado,
não foi satisfeita, desta forma a energia será deslocada para outro órgão ou
manter-se-á no local da amputação.
Sheldrake (1995), estudando amputados e membros fantasmas, relata
que “O próprio corpo é organizado e invadido por campos. Assim como
os campos eletromagnético, gravitacional e de matéria quântica, os campos
morfogenéticos moldam seu desenvolvimento e mantém sua forma” (p. 119).
O que significa que amputar um órgão doente não altera o seu campo
energético sob o ponto de vista dos estudos de física quântica.
Processo semelhante também é percebido quando há supressão medica-
mentosa e ocorre o deslocamento de sintoma, assim, popularmente acredita-se
que houve uma cura, pois o sintoma inicial já não se apresenta, entretanto,
um “novo” sintoma aparece. O que ocorre é o órgão de choque ao sofrer um
“impedimento” em se manifestar canaliza essa energia a um outro órgão.
Neste aspecto, Vithoulkas, 1981, ressalta que:
Social Psicológico
Biológico Físico
Químico Espiritual
A Fenomenologia
Como é entendemos esse recado?
Na nossa abordagem, nós não interpretamos nada, nos utilizamos
da fenomenologia.
A fenomenologia vai dar os parâmetros para entendermos o funciona-
mento do órgão. Esse funcionamento é igual para mim, para você, para todos.
Por exemplo, todos nós temos um estômago que digere alimentos, que
produz suco gástrico e que depois envia o bolo alimentar para o intestino
VOZES EM LETRAS:
Olhares da Gestalt – terapia para a situação de pandemia 215
Temos um todo funcionando bem, com uma parte que precisa de uma
certa atenção, e que está mandando um recado para nós.
A fenomenologia é que vai direcionar o nosso olhar para dar o sentido do
sintoma para cada um, não existe um manual: – “ah, dói aqui então significa
tal coisa”. Não, cada um tem um significado para a sua dor.
O trabalho é mais profundo, cada um precisa entender para que aquele
sintoma está surgindo.
Eu tive um paciente que era maestro, que começou a ter tendinite, e por
causa disso ele não podia reger, estava com as articulações ficando endureci-
das e doloridas, inflamadas e um maestro sem poder reger o que pode fazer?
Tendo elegido essa figura, você vai tirá-la de dentro de você e colocar
no seu colo e abraçar.
Veja esse órgão, essa emoção, essa sensação, acolha-a para você ... olhe
para essa figura, escute-a, veja se existe alguma coisa que ela está me pedindo
e que você possa escutá-la e realizar esse desejo. O que essa dor, o que essa
sensação, o que esse sentimento está pedindo que você faça, que você se dê?
Escute...
Desse colo, dê um carinho e devolva ao lugar onde ela estava dentro de
você e coloque num lugar especial, preste atenção nos recados, veja o que
você precisa realizar para que essa parte seja ouvida, seja atendida, que ela te
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
deixe realizar alguma coisa que você não se deu conta que precisa.
Acolhimento, carinho, amor, força, sono, fome, todas as nossas neces-
sidades estão aí envolvidas.
Agora devolva esse órgão, essa emoção de volta ao seu corpo, faça-o
integrar a você fique aware dessa necessidade.
Volte a respirar... soltar com força, sinta como é bom trocar essa energia,
trocar com o meio. Soltar o gás carbônico, pegar o oxigênio, trocar com o
universo, e relaxar o corpo.
Agora comece a abrir os olhos e voltando.
Às vezes são cinco minutinhos que nos damos, para entrar em contato e
poder olhar, ficar aware, faz muita diferença porque sempre ficamos atentos
às necessidades dos outros.
Sempre precisamos estar atentos aos sinais que o corpo dá, porque ele avisa.
Avisa para parar e se você não para depois de tantos avisos ele te leva
para cama com algum problema maior, como se falasse: – agora você sossega
doente mesmo, mas vai parar.
Não precisamos agravar o nosso quadro, ficar um pouco mais atento aos
nossos cuidados pode impedir que a doença cresça como figura e gritar, para
chamar a atenção.
Precisamos de uns minutinhos só para saber como é que estamos, soltar
nossa musculatura, deixar se relaxar, porque a tensão não traz nada de bom,
é preciso relaxar, focar, para poder resolver nossas questões.
Somos cuidadores e nos esquecemos da mensagem da comissária de
bordo: – “Em caso de despressurização coloque a máscara em você e depois
socorra o outro”.
Normalmente, nós, cuidadores, na nossa vocação de cuidar do outro,
esquecemos de nós, mas temos que nos lembrar que somos o instrumento para
cuidar do outro e se nós não estivermos bem cuidados, não vamos conseguir
cuidar bem de ninguém.
“Eu vo-lo digo: é preciso ter um caos dentro
de si para dar à luz uma estrela cintilante”
(Friedrich Nietzsche).
218
Referências